Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O que se tinha, nesta fase, é a loucura, imersa nos jogos de semelhanças entre o
micro e o macrocosmo da Renascença, como espelho da experiência trágica da
pequenez do homem diante da infinitude do universo, em sua proximidade
constante com a morte. É o que ilustram os quadros de Bosch, de Brueghel, de
Thierry Bouts e Dûrer ao mostrarem, não só a loucura mas a própria realidade do
mundo, absorvida no universo de imagens fantásticas, atravessado pela ameaça da
fome, da tentação, da fatalidade e das guerras.
Esta análise crítica não é libertadora, já que não existe exterioridade aos saberes
produzidos no curso da História. Portanto, não há um espaço de neutralidade no
qual o sujeito possa se posicionar, seja aquém ou além ao campo histórico de
embate dos saberes do qual emerge e que o atravessa. Assim, é impossível que
qualquer sujeito, no curso da História do Pensamento da Humanidade, se
desvincule liberadamente das tensões epistêmico-discursivas nas quais se encontra
imerso - produzido e produtor - nelas posicionado. Por outro lado, este tipo de
análise nos permite a reflexão estratégica de nossa posição na cartografia de tais
verdades e dizeres.
Assim, talvez seja possível evitarmos os efeitos, que nos parecem na prática,
deletérios, de cristalização do ser em aspectos personalistas, a partir de
pressupostos epistêmicos que atam discursivamente o sujeito psicológico a
enunciados de uma interioridade que o escraviza, na medida em que não leva em
conta a história dos discursos psicológicos, produtores de enunciados como o de
"personalidade, essência, sujeito, eu interior, eu fechado", dentre outros.