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2016

- 12 - 15

Revista de Processo
2016
REPRO VOL. 260 (OUTUBRO 2016)
DIREITO JURISPRUDENCIAL

Direito Jurisprudencial

1. Segurança jurídica e isonomia como vetores argumentativos


para a aplicação dos precedentes judiciais

Legal security and isonomy as arguments to apply judicial


precedents
(Autores)

EDUARDO CAMBI

Pós-doutor em Direito pela Università degli Studi di Pavia (Itália). Doutor e mestre em Direito pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Professor da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) e da Universidade
Paranaense (Unipar). Coordenador do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF) do Ministério
Público do Paraná. Promotor de Justiça no Paraná. Assessor da Procuradoria-Geral de Justiça. Membro
colaborador da Comissão de Direitos Fundamentais do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
eduardocambi@hotmail.com

VINÍCIUS GONÇALVES ALMEIDA

Mestrando em Direito Processual Civil e Cidadania pela Universidade Paranaense. Advogado.


viniciusalmeida72@gmail.com

Sumário:

Introdução
1 A segurança jurídica dos precedentes judiciais
2 A isonomia como vetor argumentativo dos precedentes judiciais
3 Crítica da vinculação dos precedentes a partir da utilização da súmula impeditiva de recurso
4 A vinculação dos precedentes no novo Código de Processo Civil de Código de Processo Civil
Conclusão
Referências bibliográficas

Área do Direito: Processual

Resumo:

A segurança jurídica é um valor essencialmente relacionado ao Estado Democrático de Direito. Com a


superação dos positivismos filosófico e jurídico, o sistema jurídico necessita de uma revisão da
compreensão de segurança jurídica, tradicionalmente relacionada à aplicação pura e simples da lei. Entre
os elementos considerados nessa nova perspectiva, reside a noção de precedentes vinculantes, com
respeito à isonomia. A adoção de decisões firmadas em precedentes não afasta do julgador o ônus
argumentativo. Ele deve identificar no caso em julgamento os fundamentos fáticos do caso pretérito, como
exercício hermenêutico. O precedente judicial não pode representar apenas um método mecanizado e
automático de produção de decisões. Por isso, é necessário identificar alguns problemas na utilização dos
precedentes para extrair a maior racionalidade e efetividade possíveis do sistema processual.

Abstract:

The legal security is a essencial value related to the State of Law. With the overcoming of philosophical and
juridical positivism, the civil law systems require a review of the legal security understanding, traditionally
related to the law application. Among the elements considered in this new perspective, lies the notion of
binding precedent, with respect to equality. The adoption of decisions signed in precedents does not
remove the judge argumentative onus. He must identify in the case on trial the factual basis of the past
case as hermeneutic exercise. The precedent can not to represent only decisions automation. Therefore, we
must attention to some problems identified in the use of precedents for warning of the same risks facing
the new procedural parameter.

Palavra Chave: Processo Civil - Segurança jurídica - sonomia - Precedentes judiciais - Argumentação.
Keywords: Civil Procedure - Legal Security - Isonomy - Judicial Precedents - Argumentation.

Introdução

O respeito aos precedentes judiciais deve ser objeto de atenção pelo direito processual. Para além da
interação entre os sistemas jurídicos codificados e os sistemas consuetudinários, há de se considerar a
importância do tema, sob a ótica da isonomia e da segurança jurídicas, valores considerados essenciais
para o Direito Processual Civil funcionar como garantia do Estado Democrático de Direito.

A necessidade de assegurar a duração razoável do processo também está entre as preocupações do respeito
aos precedentes judiciais. Há tempos o direito brasileiro demonstra preocupação com o tema, o que se
comprova pelas mudanças constitucionais e legais que progressivamente vem privilegiando um sistema
próprio que leve em conta a estabilidade do sistema processual. Apenas a título exemplificativo, é possível
lembrar da EC 45/2004, entre as muitas reformas que proporcionou, inseriu no texto da Constituição
Federal as súmulas vinculantes (art. 103-A da CF/1988) e atribuiu efeito vinculante às decisões de
mérito proferidas pelo STF em ações diretas de inconstitucionalidade e ações declaratórias de
constitucionalidade (art. 102, § 2.º, da CF/1988). Além disso, foi criada a súmula impeditiva de
recursos, incluída no § 1.º no art. 518 do CPC/1973, pela Lei 11.276/2006.

Tais mudanças constitucionais e processuais denotam a crescente valorização do fenômeno da


racionalização da jurisprudência. 1 Mesmo que os termos jurisprudência e precedentes não se
confundam, 2 sobre a base da efetividade da prestação jurisdicional, ambos se integram e reclamam
atenção às disposições do Código de Processo Civil de 2015. As reformas promovidas na vigência do Código
de Processo Civil de 1973 e as disposições do Código de Processo Civil de 2015 se servem dos precedentes
judiciais como técnica de agilização processual. 3 Porém, respeitar a tradição jurídica contida nos
precedentes judiciais não é uma preocupação nova, mas o novo Código de Processo Civil aposta na sua
efetivação para ampliar a proteção da segurança e da isonomia jurídicas.

Por isso, é preciso compreender o sentido da segurança jurídica, no contexto da superação dos paradigmas
do positivismo jurídico, e a forma de utilização dos precedentes judiciais nos sistemas jurídicos civilistas.
Também é importante salientar o princípio da isonomia como um vetor argumentativo dos precedentes
judiciais, para que se possa fazer a correta identificação com a inspiração fática pretérita, bem como a
confirmação de seus elementos nos casos futuros.
Há de se observar, ainda, a experiência da súmula impeditiva de recursos, que oferece resultados úteis ao
desenvolvimento do sistema brasileiro de precedentes, para, então, abordar as perspectivas apresentadas
pelo novo Código de Processo Civil sobre a aplicação dos precedentes judiciais, com atenção à técnica
argumentativa e ao dinamismo das relações sociais e jurídicas.

1. A segurança jurídica dos precedentes judiciais

O Direito deve se ocupar do justo equilíbrio nas relações sociais. O fenômeno jurídico tem natureza
histórica e cultural e responde pela solução de conflitos e pela pacificação social. 4 A organização de
critérios adequados para a atribuição de situações jurídicas (direitos, deveres, poderes, faculdades, ônus
etc.) entre os membros da sociedade deve ser realizada pelo Direito.

O Estado moderno não é um produto da natureza das coisas, mas uma construção jurídica, existente para o
gerenciamento de conflitos de interesses. 5 O Estado, ao assumir o monopólio da jurisdição, pretende
combater o arbítrio, a justiça privada e, assim, buscar a solução pacífica das controvérsias.

Por isso, é indispensável salientar a segurança como um valor relevante para a estruturação e o
funcionamento adequado da ordem jurídica. O Estado Democrático de Direito está sedimentado em uma
organização jurídica à qual todos – independentemente de classe ou posição social – devem se submeter, 6
e que se relaciona à justa expectativa dos demais participantes do sistema sobre o comportamento do outro
em conformidade às normas jurídicas.

A palavra “segurança” ganha sentido jurídico pelo art. 1.º da CF que institui o Estado Democrático de
Direito e é reforçada pelo art. 5.º da CF que coloca o direito à segurança como um direito
fundamental ao lado do direito à liberdade, à igualdade e à propriedade, que são valores sociais objetivos,
não meros estados psicológicos individuais. 7

O aspecto material da segurança jurídica traz consigo um estado de cognoscibilidade (que exige a adoção
de critérios e argumentos necessários à sua concretização), de confiabilidade (que exige que o Estado
cumpra a sua função planificadora e indutora das transformações sociais) e de calculabilidade (que
mitigam a indeterminação da linguagem e reforçam processos argumentativos de reconstrução de
sentidos, mesmo diante da impossibilidade de univocidade semântica de certos enunciados jurídicos). 8

É importante destacar que segurança jurídica e proteção da confiança são conceitos complementares. A
segurança jurídica está ligada aos elementos objetivos da ordem jurídica, voltados à garantia da
estabilidade jurídica, segurança de orientação e realização do direito. Já a proteção da confiança se
aproxima dos componentes subjetivos da segurança, como a previsibilidade dos indivíduos quanto aos
efeitos dos atos. 9

A estabilidade do sistema jurídico e a previsibilidade do comportamento de todos que a ele estão


submetidos são critérios que aproximam segurança jurídica e proteção da confiança da noção de
dignidade da pessoa humana. Por isso, o princípio da segurança jurídica, além de ser elemento conceitual
do Estado de Direito, acaba por ser uma projeção objetiva da dignidade humana. 10 Para a tutela integral
dessa dignidade, é indispensável erigir um patamar elementar de segurança e tranquilidade para que as
pessoas tenham confiança nas instituições sociais e estatais. Cabe ao Direito proporcionar a maior
estabilidade possível às posições jurídicas de cada membro da sociedade para prevenir ou, quando
necessário, dirimir os conflitos de interesses. 11 Assim, o Estado deve ser o primeiro a respeitar a ordem
jurídica, para assegurar o cumprimento das normas e o devido processo legal. Por exemplo, quando a
Administração Pública publica o edital de um concurso público, com número específico de vagas, o ato
administrativo que declara os candidatos aprovados no certame cria para o Estado o dever de nomeação e,
para os candidatos aprovados dentro do número de vagas prevista no edital, o portanto, o direito à
nomeação. 12 Isso porque o Estado-Administração deve respeito à segurança jurídica que traz consigo o
princípio da proteção da confiança, isto é, quando se publica um edital de concurso público, os cidadãos
que decidem se inscrever e participar do certame depositam sua confiança no Estado administrador, que
deve se pautar pela boa-fé, respeitando a confiança depositada nela por aqueles que se submetem às regras
de seleção para o preenchimento de vagas no serviço público.

Com efeito, o ordenamento jurídico deve definir situações e gerar clima de confiança e tranquilidade nas
pessoas e grupos quanto a seus direitos, deveres e obrigações, seja para exercê-los e cumpri-los
adequadamente, seja para poderem prever consequências do descumprimento próprio ou alheio. 13 Caso
contrário, não é possível promover a segurança jurídica, valor indispensável ao convívio social
harmonioso e civilizado.

Existe, porém, diferenças históricas na concepção de segurança jurídica entre as tradições jurídicas da civil
law e da common law, que influenciam na adoção de lógica argumentativa vinculada aos precedentes
judiciais. 14 O common law era composto por costumes, cujo nome deu origem ao common e fez com que as
decisões dos conflitos fossem neles baseados, embora, com o passar do tempo, as decisões passaram a ser
baseadas nelas mesmas (precedentes), e os costumes a ter valor jurídico apenas se encampados por um
precedente. 15 O stare decisis fundamenta a noção de segurança jurídica na tradição consuetudinária. 16
Sob tal perspectiva, a vinculação dos precedentes é o que oferece a confiabilidade e previsibilidade
necessária ao direito e ao processo. Por outro lado, a tradição da civil law, com suas origens nas leis
escritas, reforçada pela Revolução Francesa que concebeu a lei escrita como expressão da vontade da
Nação, mantém a segurança jurídica atrelada no direito legislado. 17

Entretanto, mesmo em sistemas civilistas, como o brasileiro, a concepção de segurança jurídica atrelada à
confiabilidade das leis apresenta desgaste considerável. Os paradigmas do positivismo jurídico, como a
identidade quase plena entre direito e norma, a completude do ordenamento jurídico, a estatalidade do
Direito e o formalismo, que confunde a validade da norma à sua adequação de procedimento, e não de
conteúdo, 18 mostram-se padrões desgastados pelas teorias mais modernas.

Portanto, a superação histórica do jusnaturalismo e o fracasso político do positivismo abriram caminho


para um conjunto amplo, e ainda inacabado, de reflexões acerca do Direito, sua função social e a
hermenêutica jurídica. 19 A interpretação e aplicação do ordenamento jurídico precisam ser inspiradas por
uma teoria de justiça, mas não podem comportar voluntarismos ou personalismos, sobretudo os
judiciais. 20

Nesse novo paradigma em construção, busca-se a reaproximação dialética entre o Direito e a Filosofia. 21 O
chamado neopositivismo procura romper com os dogmas positivistas, sugerindo uma forma de
interpretação e aplicação do direito firmada na Constituição, para a superação do legalismo, do formalismo
jurídico e processual, da rejeição do império do silogismo judicial e a maior efetivação da tutela
jurisdicional. 22

No entanto, as alterações epistemológicas, trazidas pelo neopositivismo, devem ser recebidas com cautela,
porque amplia as margens de liberdade dos juízes ao analisarem os casos concretos. Afinal, não haveria
segurança jurídica com a regência do direito pela convicção pura dos julgadores. 23 Por isso, a reconstrução
do modelo de segurança jurídica em sistemas da civil law exige atenção quando se invoca o precedente
judicial como técnica de uniformização jurídica.

O adequado exercício da jurisdição constitucional é indispensável à manutenção do Estado Democrático de


Direito. Sempre que as normas jurídicas não sejam atendidas espontaneamente, é necessário a
identificação, a declaração e a garantia de efetividade ao que fora disposto. 24 A estabilidade processual é
alcançada quando a tutela jurisdicional opera de maneira isonômica e razoavelmente previsível. Há
segurança jurídica nas relações processuais quando se oferece uma expectativa válida aos jurisdicionados
sobre os possíveis resultados da atividade jurisdicional.

A decisão judicial deve traduzir a teoria da norma à realidade concreta. Em outras palavras, julgar é
valorar um fato do passado como justo ou injusto, como lícito ou ilícito, segundo o critério de julgamento
fornecido pelo direito vigente, enunciando-se, em consequência, a regra jurídica concreta destinada a valer
como disciplina do caso em exame. 25 A estabilização do sentido a ser atribuído às normas jurídicas é o que
confere segurança ao Direito, firmando-se entendimentos uniformes sobre as situações jurídicas e
harmonizando as formas aos conteúdos.

Nas relações processuais, o direito fundamental à segurança jurídica compreende o direito à certeza, à
estabilidade, à confiabilidade e à efetividade das situações jurídicas processuais, para que se obtenha não
apenas a segurança no processo, mas também a segurança pelo processo, o que confere respeito e
legitimidade às decisões e aos precedentes judiciais. 26 Aliás, o processo manuseado com segurança em sua
estrutura lógica e formal seria inútil sem que houvesse segurança pelo processo, ou seja, a segurança no
resultado da prestação jurisdicional pretendida. Por isso, com reverência à segurança jurídica, à equidade
e à necessidade de coerência da ordem jurídica, o provimento jurisdicional deve harmonizar-se aos
precedentes judiciais. 27

A argumentação jurídica que não considera os precedentes judiciais não contribui para a estabilidade e a
segurança das relações jurídicas. 28 O sistema de precedentes afasta a ocorrência da jurisprudência
lotérica 29 e evita a ocorrência de julgamentos contraditórios, em prejuízo dos jurisdicionados. 30 A
exigência pelo tratamento congruente de casos similares é o que fundamenta a justiça como qualidade
formal, e é o que deve motivar a utilização dos precedentes judiciais. 31 É certo que essa convicção torna
necessária a abordagem da isonomia como elemento metodológico essencial à construção de um sistema
de precedentes obrigatórios.

2. A isonomia como vetor argumentativo dos precedentes judiciais

A institucionalização do Estado Democrático de Direito, que permite o uso legítimo da força, 32 está
firmada no art. 1.º da CF/1988. Assim, o sistema jurídico deve ser aplicado em conformidade com os
parâmetros jurídicos e democráticos, indicadores para as transformações sociais plasmadas na
Constituição Federal.

O Estado Moderno, ao buscar a proteção jurídica de todos, para evitar o uso arbitrário da violência, que
conduziria ao caos generalizado, precisa assegurar a segurança e a igualdade jurídicas para minimizar os
conflitos de interesses, favorecer a distribuição equitativa dos direitos e atenuar as relações de poder e
dominação.

Por isso, é indispensável a construção de um sistema processual inspirado em valores constitucionais que
permitam aos jurisdicionados, de fato, acessarem aos direitos que lhes são garantidos pelo ordenamento
jurídico. As transformações sociais, fundadas nos valores éticos e emancipatórios contidos no texto
constitucional, exigem que o processo seja pensado sob o parâmetro de uma cidadania plena, ativa e
solidária. 33

A construção do sistema processual que faça jus ao caráter institucional democrático tem seu fundamento
mais elementar no princípio do devido processo legal (art. 5.º, LIV, da CF/1988), sobre o qual se
erigem os demais princípios processuais. 34 A sistemática da Constituição atribui ao devido processo legal a
insígnia de garantia-síntese do direito ao justo processo, composto de meios e de resultados a serem,
minimante, assegurados para que a justiça seja efetivada.

As dimensões subjetiva e objetiva do devido processo legal vinculam tanto os particulares, que se sujeitam
ao monopólio da jurisdição, quanto o Estado, cujos interesses não pode se sobrepor à vontade soberana da
Constituição. Uma vez que o processo pode produzir efeitos concretos nas relações sociais, a sua condução
pelo viés republicano e democrático é indispensável para se respeitar tanto o rol dos direitos e deveres
fundamentais quanto para cumprir o princípio da separação harmônica e independente dos poderes. 35

A soma das garantias processuais de proteção aos interesses individuais e coletivos (como as da
inafastabilidade da jurisdição, do juiz natural, da isonomia, do contraditório e da ampla defesa), que
limitam o poder do Estado na atividade jurisdicional, tem como resultado o devido processo legal.

A garantia do devido processo legal está assentada no princípio da isonomia, em que um dos corolários é o
respeito aos precedentes judiciais. A observância dos precedentes é um meio de efetivação da igualdade, ao
se garantir as justas expectativas de segurança jurídica, incidentes ao comportamento estável e uniforme
dos juízes e dos tribunais frente a aplicação das normas jurídicas.

A diferença entre dignidade e ruína do ordenamento jurídico depende da coerência com que ele é
aplicado. 36 Os jurisdicionados não podem ficar desprotegidos contra os voluntarismos judiciais. Por isso, é
indispensável o cumprimento estrito do dever constitucional de motivação das decisões (art. 93, IX, da
CF; art. 489 do CPC), 37 sendo indispensável a busca por patamares razoáveis de congruência entre os
entendimentos sobre determinados argumentos ou fatos jurídicos. A consolidação de uniformidade, em
caminho regular e duradouro, assegura à resolução isonômica das controvérsias, ao invés de alimentar os
casuísmos judiciários. 38

A respeito da essência dos precedentes preservarem a isonomia das situações jurídicas semelhantes, há de
se mencionar a explicação de Ronald Dworkin:

Se o governo de uma comunidade obrigou o fabricante de carros defeituosos a indenizar uma mulher que
se feriu por causa desse defeito, então este fato histórico deve oferecer alguma razão para que este mesmo
governo exija, de um empreiteiro que causou prejuízo econômico devido ao trabalho malfeito de seus
empregados, que compense os danos decorrentes. Podemos testar o peso dessa razão não perguntando se a
linguagem da decisão anterior, devidamente interpretada, exige que o empreiteiro pague indenizações,
mas perguntando se é justo que o governo, depois de intervir do modo como fez no primeiro caso, recuse
sua ajuda no segundo. 39

O sistema de precedentes vinculantes encontra fundamento no art. 5.º., caput, da Constituição Federal,
devendo o tratamento isonômico significar tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na
exata medida de suas desigualdades. 40 A igualdade garantida pela Constituição Federal projeta-se sobre o
Direito Processual Civil, onde os litigantes, por meio de um contraditório equilibrado e efetivo (arts. 9.º e
10 do CPC), têm assegurado oportunidades equivalentes de influenciar a formação do
convencimento judicial, sem prejuízo da adoção de técnicas processuais diferenciadas que possam
promover o tratamento igualitário, com atenção à medida das desigualdades, para provimento do
equilíbrio necessário à efetivação do direito ao justo processo. 41

A aplicação de precedentes judiciais está assentada nesse equilíbrio isonômico, que assegura às partes os
meios processuais indispensáveis à promoção de seus interesses, mas, ao mesmo tempo, incentiva a
distribuição racional do ônus do tempo do processo, para evitar defesas abusivas ou meramente
protelatórias, que postergam indevidamente a tutela jurisdicional.

Com efeito, é preciso tratar os casos parecidos de forma parecida (treat like cases alike). Isso impõe aos
sujeitos processuais os ônus argumentativos de um processo democrático no qual os direitos fundamentais
vinculam também os seus intérpretes. 42

Quando se trata de uniformização e estabilidade jurisprudenciais, procura-se a adoção de soluções


jurídicas similares a casos semelhantes. A busca pela uniformidade indica que sobre uma mesma
controvérsia é indispensável consolidar uma posição jurídica para que não permaneça o debate sobre
posicionamentos jurisdicionais conflitantes. A vinculação dos juízes aos precedentes não viola a garantia
da independência judicial. É dever do Judiciário solucionar as causas a ele submetidas, de forma racional e
isonômica, não se podendo admitir que pessoas iguais, com casos iguais, possam obter decisões diferentes
do Judiciário. 43 Por isso, a noção de submissão aos precedentes judiciais não afronta a liberdade de
convicção motivada, mas confere racionalidade para o sistema judicial e para a própria decisão imposta
aos jurisdicionados.

O juiz é independente para que não seja sujeitado a interferências ilícitas do poder político, do poder
econômico, do poder da mídia e de todos e quaisquer corruptores. Entretanto, enquanto membro de um
Poder da República, o juiz está sujeito à Constituição, às leis e também aos precedentes judiciais. Tal
sujeição não significa subordinação indevida, já que o magistrado de primeiro grau deve observar as
decisões dos Tribunais Superiores, cuja função é conferir unidade à interpretação do direito. Caso
contrário, estaria se estimulando a jurisimprudência. 44 O juiz não tem o poder de julgar como quiser sob o
argumento de ser independente. Afinal, no sistema de civil law, pelo princípio da separação dos poderes,
cabe ao Legislativo elaborar a lei e ao Judiciário interpretá-la; logo, uma vez decidida a forma de
interpretação da lei pelos Tribunais Superiores, todos os órgãos judiciários, incluindo as Cortes Superiores,
devem respeitar sem liberdade a opção feita naqueles precedentes. 45

O precedente judicial deve ser assentado no princípio da isonomia, 46 pois, como salienta Ronald Dworkin,
a

força gravitacional de um precedente pode ser explicada por um apelo, não à sabedoria da implementação
de leis promulgadas, mas à equidade que está em tratar os casos semelhantes do mesmo modo. Um
precedente é um relato de uma decisão política anterior; o próprio fato dessa decisão, enquanto fragmento
da história política, oferece alguma razão para se decidir outros casos de maneira similar no futuro . 47

Para melhor compreender a vinculação dos juízes aos precedentes, é preciso fazer a distinção entre eles e a
jurisprudência. Esta se refere a uma espécie de coletânea constante e uniforme dos tribunais sobre
determinado ponto de Direito, 48 elemento que auxilia o trabalho do intérprete sem o substituir ou
dispensar. A diferença entre jurisprudência e precedente não é apenas semântica, mas, inicialmente,
quantitativa. O precedente faz normalmente referência a uma decisão de um caso particular, enquanto a
jurisprudência costuma abranger uma pluralidade de decisões de casos concretos. 49 Ainda assim,
frequentemente a quantidade condiciona a qualidade, permitindo identificar também uma diferença
qualitativa entre as duas figuras. 50 O precedente não se resume a tratar de várias decisões
exemplificativas da opinião dos tribunais, mas de decisões racionalmente vinculantes, antes de tudo, para
o próprio órgão que decidiu nos casos análogos futuros. 51

O precedente compreende uma regra universalizável, apta a ser critério de decisão no caso sucessivo pela
analogia entre os fatos do caso de referência e os fatos do caso em análise. 52 Essa analogia deve ser
afirmada ou excluída pelo juiz do caso em análise, conforme sua avaliação sobre os elementos de afinidade
ou diferenciação do caso pretérito. 53

Dessa forma, a estrutura fundamental do raciocínio que sustenta e aplica o precedente ao caso sucessivo é
fundada na análise dos fatos que compõem tanto o processo em exame quanto daquele caso originário. Se
essa análise justifica a aplicação ao segundo caso da ratio decidendi adotada ao primeiro, o precedente é
eficaz e, portanto, vincula o juiz. Note-se que, quando se verificam essas condições, um só precedente é
suficiente a fundamentar a decisão do caso sucessivo. 54

A compreensão do precedente só é possível à luz dos fatos, e o seu respeito depende da congruência do
caso em análise aos mesmos fatos que sustentam as decisões pretéritas. 55 Assegurar a isonomia entre as
decisões emanadas do Poder Judiciário é o que justifica essa leitura comparativa.

A vinculação de precedentes exige do julgador assumir o seu ônus argumentativo, devendo proceder a
localização racional das inspirações encontradas nos fatos pretéritos, que levaram a tomada de
determinada decisão, sobre os fatos identificados no novo caso em análise. Não se pode esconder o uso de
precedentes sobre linhas meramente quantitativas ou enunciativas, não bastando a mera reprodução
mecânica de ementas de julgados. É preciso ir além e examinar os casos julgados e sob julgamento sob a
perspectiva da argumentação jurídica, fazendo a distinção entre ratio decidendi e obter dictum.
Essa diferenciação não deve ser meramente teórica, porque assume relevância na prática, quando da
fundamentação das decisões judiciais. Sua compreensão teórica e sua aplicação prática é um dos maiores
desafios para o correto funcionamento do sistema de precedentes no novo Código de Processo Civil
brasileiro.

3. Crítica da vinculação dos precedentes a partir da utilização da súmula impeditiva de


recurso

A vinculação de precedentes no processo civil brasileiro encontra uma experiência relevante no art.
518, § 1.º, do CPC/1973, inserido pela Lei 11.276/2006, pelo qual: “O juiz não receberá o recurso de
apelação quando a sentença estiver em conformidade com súmula do STJ ou do STF”. Diante da
interposição da apelação, o julgador, em uso do primeiro juízo de admissibilidade, poderia negar
seguimento ao recurso, quando a sentença recorrida estivesse em sintonia com matéria sumulada pelo STJ
ou pelo STF.

A proposta parecia sedutora ante a possibilidade de diminuição dos recursos desnecessários e de


uniformização da jurisprudência a partir dos parâmetros dos referidos tribunais superiores. A súmula
impeditiva estampava sobre si a lógica de parametrização dos julgados por meio de linhas de interpretação
construídas pelo STJ ou pelo STF. A referida regra ilustrava a lógica uniformizadora dos precedentes e a
sua eficácia vertical, isto é, a vinculação dos juízes às orientações fixadas pelos Tribunais Superiores.

Na exposição de motivos da Lei 11.276/2006, o fundamento para a reforma seria a sua contribuição para a
redução do número excessivo de recursos sem possibilidade de êxito. Em outras palavras, uma vez
admitido que uma súmula vinculasse juízes e tribunais, obstando julgamentos dissonantes, seria válido
impedir a parte de recorrer contra sentença que estivesse afinada à jurisprudência sumulada dos tribunais
superiores. 56 Por exemplo, o juiz poderia negar seguimento a uma apelação, decorrente de sentença
proferida em execução fiscal, com fundamento na prescrição quinquenal intercorrente, cujo termo inicial
começa, conforme a Súmula 314 do STJ, após um ano de suspensão do processo, sem localização de bens
penhoráveis. 57

No entanto, a eficácia dessa lei não ficou imune a críticas, levando-se em conta as inúmeras implicações
que a hipótese de não recebimento recursal acabou provocando. O art. 518, § 1.º, do CPC/1973
conferiu, mediante lei ordinária, efeito vinculante às súmulas simples (ou meramente persuasivas), o que
somente a Constituição teria aptidão para fazer. 58 A própria distinção entre súmulas e súmulas
vinculantes reforça essa noção, visto que as de efeito vinculante foram inseridas no direito brasileiro por
emenda constitucional (EC 45/2004).

Importante destacar, ainda, a pesquisa promovida pelo Conselho Nacional de Justiça, com o título “a força
normativa do direito judicial: uma análise da aplicação prática do precedente no direito brasileiro e dos
seus desafios para a legitimação da autoridade do Poder Judiciário”. 59 Ao enfrentar a casuística da súmula
impeditiva de recursos, a equipe de pesquisadores acabou constatando sérios problemas na
fundamentação das decisões que negavam seguimento à apelação. Nos casos em que os juízes aplicavam a
técnica processual, como regra, não se preocupavam em justificar a aplicação das súmulas como
impeditivas de recebimento da apelação e, em certos casos, nem ao menos indicavam especificamente a
súmula utilizada como paradigma. Com efeito, a atuação da parte prejudicada, especialmente para a
formulação de seu agravo de instrumento contra a decisão de não recebimento da apelação, ficava
severamente ameaçada. Ademais, a pesquisa apontou que, quando o número da súmula era citado pelo
juiz em sua decisão de não recebimento da apelação, não havia o devido distinguishing entre a súmula e os
casos que deram origem a ela e o caso a ser decidido pelo magistrado. 60

Além disso, constatou-se na amostragem pesquisada que, de maneira prática, a aplicação do art. 518, §
1.º, do CPC/1973 não reduziu a demanda recursal com se pretendia. Na maioria absoluta dos casos
analisados, a parte que tinha seu recurso inadmitido sob argumento de adequação da decisão às matérias
sumuladas pelo STJ ou STF, acabava interpondo agravo de instrumento. E ainda, o agravo de instrumento
interposto, como regra, era provido, obrigando o tribunal a jugar tanto o agravo quanto a apelação. 61

A conclusão sobre esse ponto manifesta na pesquisa do CNJ seria a reiterada sobreposição da preocupação
por celeridade em relação às demais garantias processuais, que acabava gerando mais recursos, em vez de
diminuí-los, por falta de adequada fundamentação dos juízos de inadmissibilidade da apelação. 62

A automatização das decisões relatada na experiência do Código de Processo Civil de 73 com a súmula
impeditiva de recursos e o afastamento dos julgadores da técnica argumentativa são preocupantes diante
das novidades legislativas trazidas pelo Código de Processo Civil de 2015. As conclusões da pesquisa do CNJ
devem servir de advertência para aperfeiçoar o sistema brasileiro de precedentes judiciais, para que possa
produzir a redução do número de recursos e não alimentar uma retórica vazia de uniformização
jurisprudencial.

Para assegurar a adequada segurança jurídica, por meio de mecanismos efetivos de uniformização e
estabilização do posicionamento jurisdicional, não se pode prescindir do rigoroso cumprimento do dever
constitucional de motivação das decisões judiciais. 63

A construção do direito brasileiro de precedentes precisa proteger e preservar as justas expectativas dos
litigantes, sem provocar, a todo custo, nem a automatização dos julgados, nem a simplificação exagerada
da solução dos litígios.

Carlos Maximiliano já advertia que não

basta, entretanto, saber da existência de um acórdão, para o adotar e invocar. Além de confrontar decisões
várias, estudem-se os respectivos considerando. O julgado vale, sobretudo, pelos seus fundamentos; o que
não é solidamente motivado e conclui sobre razões vulgares, fúteis ou contrárias aos princípios, não tem
importância alguma, não está na altura de documentar trabalhos forenses, embora da sua insubsistência
teórica não deflua a inocuidade da sentença; ao contrário, esta, enquanto não reformada, prevalecerá.
Aresto não bem fundamentado é simples afirmação; e em Direito não se afirma, prova-se. 64

Reduzir a eficácia persuasiva dos precedentes ao aspecto quantitativo dos julgados ou a mera citação de
ementas de acórdãos é um equívoco conceitual grave, que em nada contribui para a eficiência do sistema
processual e que não é suficiente para que a parte ou o julgador se desincumba do ônus interpretativo
necessário para que o precedente se torne um argumento relevante para a solução das controvérsias. Ao
contrário, tal prática apenas acentua o caos jurisprudencial, confundindo situações fáticas bem diferentes,
o que gera mais instabilidade e insegurança jurídicas.

Tampouco a vinculação de precedentes deve ter como meta fundamental a redução da inflação processual,
que deve ser apenas uma consequência da aplicação adequada de um sistema vinculante baseado em
argumentos jurídicos sólidos, que possam dar maior estabilidade ao direito a ser aplicado em casos
semelhantes que envolvam questões jurídicas idênticas ou muito próximas. 65

Diante das novas perspectivas trazidas pelo novo Código de Processo Civil de vinculação dos juízes aos
precedentes judiciais, é importante aprender com a experiência das súmulas impeditivas de recursos do
Código de Processo Civil de 1973 para não se repetir enunciados de súmulas sem a devida adaptação ao
caso concreto.

4. A vinculação dos precedentes no novo Código de Processo Civil de Código de Processo


Civil

O Código de Processo Civil de 2015 impõe aos tribunais o dever de uniformização de sua jurisprudência, e a
sua manutenção estável, integra e coerente (art. 926, caput). Tal uniformização deixou de ser um mero
incidente processual, como previa o Código de Processo Civil de 1973 (art. 476), para ser um objetivo mais
amplo a ser alcançado pelo sistema processual, dando maior efetividade aos princípios da legalidade, da
segurança jurídica, da duração razoável do processo, da proteção da confiança e da isonomia com a
atribuição de responsabilidade aos tribunais pela sua consecução. 66 Aliás, o art. 926, § 2.º, do CPC
determina que a edição de enunciados de súmula seja realizada com atenção dos tribunais às
circunstancias fáticas que motivam a criação do precedente judicial.

Por sua vez, o art. 927 do CPC assenta como necessário aos julgadores a observância das decisões do
STF em controle concentrado de constitucionalidade (inc. I); dos enunciados de súmula vinculante (inc. II);
dos acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em
julgamento de recursos extraordinários e especiais repetitivos; dos enunciados das súmulas do STF em
matéria constitucional e do STJ em matéria infraconstitucional; e da orientação do plenário ou do órgão
especial aos quais estiverem vinculados (inc. V).

O escopo desse art. 927 do CPC é a concretização de um sistema vinculante de precedentes, que
passarão a constituir fonte primária do ordenamento jurídico, 67 capaz de assegurar segurança jurídica e
isonomia. Assim e na medida em que a jurisprudência se uniformiza, é possível estabilizar a aplicação do
direito para que sobre as circunstâncias fáticas que guardem semelhanças entre si e sobre as quais
circundem os mesmos fundamentos jurídicos seja possível reduzir os posicionamentos conflitantes e, com
isso, diminuir a litigiosidade e a própria judicialização de demandas pacificadas, já que o art. 927 do
CPC é completado pelo art. 332 do CPC, que permite ao juiz, nas causas que dispensem a fase
instrutória e independentemente de citação do réu, julgar liminarmente improcedente – portanto, com
julgamento de mérito (art. 487, I, do CPC) 68 – o pedido que contrariar precedentes judiciais. Com
isso, é possível assegurar o direito das partes de obter em prazo razoável a solução integral do mérito (art.
4.º).

Para que isso ocorra, também é muito importante que os órgãos do Poder Judiciário sigam os seus próprios
precedentes (eficácia vertical), o que evita a mudança constante no posicionamento dos Tribunais
Superiores, ainda que o relator ou outro membro do colegiado tenha e possa fazer as suas ressalvas (Cfr.
Enunciados 169, 170 e 172 do Fórum Permanente de Processualistas Civis). Também vale ressaltar o
Enunciado 316 desse Fórum Permanente, pelo qual “A estabilidade da jurisprudência do tribunal depende
também da observância de seus próprios precedentes, inclusive por seus órgãos fracionados”. Com efeito,
para que a vinculatividade dos precedentes possa assegurar a estabilidade, integridade e coerência de uma
jurisprudência uniforme, é indispensável uma modificação cultural na prática jurídica, para que os
precedentes deixem de ser utilizados apenas como argumento retórico de autoridade 69 (isto é, meros
precedentes persuasivos, a que o próprio Tribunal e os órgãos judiciários inferiores não estão obrigados a
seguir 70), para se tornarem obrigatórios.

Outra mudança significativa trazida pelo novo Código de Processo Civil foi intensificar o dever de
motivação quando da aplicação de precedentes. O art. 489 (§ 1.º, V e IV) indica que as decisões que tenham
inspiração em precedentes judiciais ou enunciados de súmula devem estar amparadas por fundamentação
que examine fidedignamente o caso concreto à luz dos fatos e dos fundamentos da decisão paradigmática.
Portanto, a mera citação da emenda do julgado anterior, sem identificar seus fundamentos determinantes
nem a demonstração que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos, ou, ainda, sem demonstrar
a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento não pode ser
considerada fundamentação adequada da decisão e, portanto, gera nulidade processual.

Reforçando o valor da motivação para o sistema de precedentes obrigatórios, entre as primeiras alterações
promovidas no novo Código de Processo Civil, antes mesmo de sua entrada em vigor, a Lei 13.256/2016
acrescentou os §§ 5.º e 6.º ao art. 966 do CPC. Tais mudanças tratam do cabimento de ação rescisória,
com fundamento em violação manifesta de norma jurídica (art. 966, V, do CPC). Assim, cabe ação
rescisória contra decisão que, baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de
casos repetitivos, não tenha levado em consideração a existência de distinção entre a questão discutida no
processo e o padrão decisório que fundamenta aquele referencial (art. 966, § 5.º, do CPC). Com efeito,
a decisão que não se ocupe de fundamentar adequadamente os fundamentos determinantes para invocar
precedente ou enunciado de súmula, que não demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos ou, ainda, sem demonstrar a existência de distinção entre o enunciado de súmula ou o
precedente invocado pela parte tornar-se rescindível, por manifesta violação do art. 489, V e VI. Porém, a
petição inicial da ação rescisória será considerada inepta, se o demandante não demonstrar,
fundamentadamente, que a decisão rescindenda tratou de situação particularizada por hipótese fática
distinta ou de questão jurídica não examinada, a ponto de se impor outra solução jurídica a justificar o
cabimento da ação rescisória (art. 966, § 6.º, do CPC).

Quando se aplica um precedente ou súmula como argumento da decisão, o que se adota é a tese jurídica
incutida naquele item referenciado e a relação de compatibilidade com o caso concreto deve ser
lucidamente inferida da fundamentação da decisão. 71 O julgador deve enfrentar objetivamente os
elementos de jurisprudência, enunciados de súmula ou precedentes trazidos ao processo pelas partes, de
modo que, em caso de seguimento ou não daqueles indicativos, deva demonstrar racionalmente os motivos
pelos quais chegou à convicção de que o paradigma aventado se aplica, ou não, ao caso em julgamento.

Os valores da segurança jurídica e da isonomia também estão inseridos no contexto da resolução de


demandas repetitivas (art. 976). A figura tem como norte a estabilidade dos posicionamentos judiciais e a
celeridade processual possibilita que, incidentalmente ao processo, sejam identificadas situações
congruentes em fatos e fundamentos, para que o tratamento jurisdicional, desde então, seja ofertado com
isonomia. Esse mecanismo busca a racionalização e eficiência dos meios processuais para tratamento de
demandas repetidas. 72

Como regra, cabe aos órgãos do Poder Judiciário o dever de manter a jurisprudência estável, íntegra e
coerente (art. 926, caput, do CPC). Com isso, a inércia argumentativa serve para a preservação do status
quo; logo, qualquer modificação na jurisprudência impõe razões extras até então não cogitadas ou
enfrentadas. 73 Por isso, o art. 927, § 3.º, do CPC se preocupa com a segurança jurídica quanto à
hipótese de revisão do posicionamento jurisprudencial até então dominante. O que se busca é a prevenção
da ordem jurídica contra mudanças abruptas de posicionamento por parte dos tribunais. A alteração
repentina e desmedida poderia ensejar insegurança às diversas demandas que eventualmente tenham tido
sua condução fundamentada em posicionamentos válidos e dominantes ao seu tempo, mas que após a
revisão estariam obsoletos. É benéfica a possibilidade de que ocorrendo tal mudança sejam modulados os
efeitos para que a segurança dos atos praticados diante da tese jurídica superada esteja garantida. Pelo
Enunciado 55 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, “Pelos pressupostos do § 3.º do art. 927, a
modificação do precedente tem, como regra, eficácia temporal prospectiva. No entanto, pode haver
modulação temporal, no caso concreto”.

A possibilidade de alteração dos entendimentos consolidados está prevista no art. 927, § 3.º, do CPC,
que é complementado pelo § 4.º, segundo o qual a modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência
pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de
fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da
confiança e da isonomia. Mudanças na interpretação jurídica podem se mostrar benéficas para a proteção
dos direitos. Por isso, a uniformização e a estabilidades jurídicas não podem afastar a possibilidade de
revisão dos precedentes. Aliás, a dinâmica das relações humanas, especialmente daquelas projetadas
juridicamente, bem como o advento de novas leis ou da revogação de leis antigas, pode exigir alterações
das posições doutrinárias e jurisprudenciais sedimentadas. A técnica argumentativa inspirada em
precedentes judiciais implica o confronto constante das conclusões dos casos pretéritos sobre as realidades
apresentadas nos casos presentes e futuros. Nesse sentido, vale ressaltar os Enunciados 332 (“A
modificação de precedente vinculante poderá fundar-se, entre outros motivos, na revogação ou na
modificação da lei em que ele se baseou, ou em alteração econômica, política, cultural ou social referente à
matéria decidida”) e 324 (“Lei nova, incompatível com o precedente judicial, é fato que acarreta a não
aplicação do precedente por qualquer juiz ou tribunal, ressalvado o reconhecimento de sua
inconstitucionalidade, a realização de interpretação conforme ou a pronúncia de nulidade sem redução de
texto”).

Portanto, modificar os precedentes, não estendê-los a casos sucessivos e criar novos paradigmas judiciais
são fatores que compõem a dinâmica da jurisprudência como fonte do direito. A função dos precedentes e
da jurisprudência não deve se limitar à uniformização da aplicação do direito, mas deve explicitar regras
de julgamento, razões de decidir e cânones de interpretação que possam servir para a resolução dos casos
sucessivos. 74

Nesse ponto, importa lembrar das tradicionais técnicas argumentativas de afastamento das teses firmadas
em precedentes, o overruling e o distinguishing. 75 O primeiro pode ser compreendido como a superação do
precedente por uma nova compreensão sobre aqueles fatos e fundamentos. A distinção, ao seu turno,
representa uma nova interpretação que não revoga o precedente, mas estabelece uma hipótese de
diferenciação de acordo com os fatos identificados no caso em julgamento. Por isso, é necessário a
verificação dos casos sucessivos ao precedente, para que as eventuais novas características possam
apresentar-se como razões para superação ou distinção daquela interpretação. 76 Em qualquer hipótese,
seja para afastar o precedente ou para confirmá-lo, é impreterível assumir o ônus da justificação
adequada. 77 Aliás, nos Estados Unidos, para que a Suprema Corte altere seus precedentes é indispensável
haver “justificativa especial” e, na Inglaterra, deve ficar evidente que a decisão anterior está
“manifestamente errada”, pois se qualquer alteração de percepção pudesse gerar o overruling ficaria sem
sentido o princípio do stare decicis. 78 Pelo Enunciado 306 do Fórum Permanente de Processualistas Civis,
“O precedente vinculante não será seguido quando o juiz ou tribunal distinguir o caso sob julgamento,
demonstrando, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta, a
impor solução jurídica diversa”. Ainda, o Enunciado 320 assevera: “Os tribunais poderão sinalizar aos
jurisdicionados sobre a possibilidade de mudança de entendimento da Corte, com eventual superação ou
criação de exceções ao precedente para casos futuros”.

Quanto a distinção ou a superação dos precedentes, o Código de Processo Civil de 2015 traz limitações às
possibilidades de as partes interessadas requererem o aperfeiçoamento do sistema. No capítulo que trata
do incidente de resolução de demandas repetitivas, o art. 986 determina que a revisão da tese jurídica
firmada nesta seara seja feita de ofício pelo tribunal, ou mediante requerimento dos legitimados indicados
pelo art. 977, III, quais sejam o Ministério Público e a Defensoria Pública. Entretanto, ao contrário do rol do
art. 977, que é mais abrangente quanto a legitimação para pedido de instauração do incidente, incluindo-se
as partes (inc. II), a mesma legitimidade não se confere, expressamente, aos litigantes para requerer a
revisão da tese jurídica firmada no referido incidente. Com efeito, a restrição da legitimidade para
requerer a superação ou a distinção do precedente diminui consideravelmente a tentativa argumentativa
das partes com tal objetivo. O caminho incidental torna-se ineficiente para esse intento, sob a perspectiva
da parte comum.

Ainda, nos termos do art. 932, IV, o relator pode negar provimento por decisão monocrática ao recurso que
se oponha a súmula do STF, do STJ ou do próprio tribunal; a acórdão proferido pelo STF ou pelo STJ em
julgamento de recursos repetitivos; ou a entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência. Em perspectiva similar, o inc. V do art. 932 do CPC
possibilita o provimento do recurso pelo relator, depois de facultada a apresentação de contrarrazões,
quando a decisão recorrida seja contrária aos mesmos referenciais obrigatórios. As hipóteses listadas pelo
art. 932, IV e V, do CPC permitem o julgamento monocrático do recurso. Entretanto, nesses casos,
a parte prejudicada pode interpor agravo interno (art. 1.021) contra a decisão do relator, fazendo com que
o processo seja julgado pelo órgão colegiado.

De qualquer modo, não se pode descuidar da necessidade de interpretar os precedentes à luz dos fatos,
para se encontrar as razões generalizáveis que podem ser extraídas da justificação das decisões. 79 O
sistema de precedentes deve funcionar nos limites da moldura dos casos dos quais decorrem. 80 A
compreensão dessa moldura requer a operação crítica para que o potencial argumentativo seja revisado
em cada novo caso.

O processo não deve tornar-se asséptico, ao ponto de revestir-se de todas as armas possíveis para que as
controvérsias jurídicas se tornem estáveis, com o preço de negligenciar o seu verdadeiro papel de
promoção da justiça da decisão. Nada mais estável que o silêncio, mas o silêncio do direito, certamente,
seria mais temerário do que louvável. Portanto, a estabilidade não se confunde com a imutabilidade; a
estabilidade deve ser um objetivo a ser perseguido, embora eventuais mudanças sejam necessárias para
que sejam possíveis interpretações que possam valorizar a integridade e a coerência do ordenamento
jurídico. 81

Há coerência quando as mesmas regras e princípios forem aplicados nas decisões o forem para os casos
idênticos, pois somente assim se assegura a igualdade, já que os diversos casos acabam por ter igual
consideração por parte do Poder Judiciário. 82 Por exemplo, se a união afetiva de pessoas de mesmo sexo é
considerada entidade familiar para fins de reconhecimento de direitos sucessórios (exegese do art. 1.790
do CC), 83 não seria coerente negar o direito do companheiro sobrevivente de receber benefícios
previdenciários decorrentes do plano de previdência privada (pensão post mortem) no qual o falecido era
participante. 84 O dever de coerência implica no respeito à não-contradição, o que exige a vinculação dos
órgão judiciais aos julgados anteriores sobre a mesma matéria (nesse sentido, por exemplo, o Enunciado
166 do Fórum Permanente de Processualistas Civis afirma: “A aplicação dos enunciados das súmulas deve
ser realizada a partir dos precedentes que os formaram e dos que os aplicaram posteriormente”) e, em caso
de distinção ou de superação dos precedentes, a obrigatoriedade de fundamentação, com a demonstração
das razões que conduzem à decisão diferente e justificam a não observância aos julgados anteriores.

Já a integridade é uma virtude política, que implica observar a totalidade do ordenamento jurídico e
assegurar a ideia de unidade do Direito, concebido como um sistema complexo (formado por princípios e
regras constitucionais, legais e infralegais), para tratar a todos do mesmo modo e, assim, promover justiça
na aplicação do Direito. Por exemplo, não observa o dever de integridade a decisão que nega ao Ministério
Público legitimidade para a propositura de mandado de segurança coletivo, com fundamento na
interpretação literal do art. 21 da Lei 12.016/2009, por desconsiderar a existência do microssistema de
tutela coletiva de direitos (exegese do art. 129, III, da CF). 85 Tampouco respeita o dever de
integridade a decisão que nega poderes de investigação ao Ministério Público, por considerar que a
investigação criminal é exclusiva da polícia judiciária (exegese dos arts. 5.º, LIV e LV, 129, III e VIII, e 144,
IV, § 5.º, da CF). 86

A coerência e a integridade são vetores principiológicos que devem ser respeitados nas decisões judiciais.
Decisão íntegra e coerente é a que respeita o direito fundamental do cidadão frente ao Poder Público de
não ser surpreendido pelo entendimento pessoal do julgador, o direito fundamental a uma resposta
adequada ao ordenamento jurídico. Decidir com coerência e com integridade é um dever do Poder
Judiciário, pois sempre que uma decisão for proferida contra ou a favor de determinado indivíduo,
idêntica decisão deve ser necessariamente proferida contra todas as demais pessoas que estiverem na
mesma situação. Os deveres de coerência e de integridade da decisão judicial são indispensáveis para a
produção de uma jurisprudência consistente (art. 926, caput) e para a universalização dos precedentes
judiciais, a serem aplicados legitimamente – isto é, de forma racional e não-autoritária – aos casos
semelhantes. 87

Portanto, a força dos precedentes exige uma certa medida de resignação, para que a construção desse
sistema seja pautada pela segurança jurídica e pela isonomia, com observância da técnica argumentativa e
não apenas na obstinada vontade de redução do número de processos.

Conclusão
A revisão da concepção de segurança jurídica, ante a superação do modelo positivista, deve incluir o
problema da vinculação dos precedentes judiciais. A aplicação disforme do direito pelo Poder Judiciário é
prejudicial ao Estado Democrático de Direito, pois afasta dos jurisdicionados a previsibilidade e a
confiança que o sistema jurídico deve promover.

No entanto, a segurança jurídica não pode se confundir com a simples uniformização e estabilização dos
entendimentos judiciais, devendo incluir a possibilidade de revisão dos precedentes judiciais,
condicionada à satisfação do ônus da argumentação e a observância dos deveres de estabilidade,
integridade e coerência.

O princípio da isonomia, que induz ao tratamento igual aos casos idênticos, justifica a vinculação dos
precedentes judiciais. Justamente por isso é tão importante que a decisão judicial leve em conta a decisão
pretérita sobre fatos similares, sem que se retire do julgador o encargo de argumentar pela prevalência dos
fundamentos anteriores ou pelo seu afastamento, desde que respeitado o rigor da motivação das decisões
(arts. 93, IX, CF, 489, § 1.º., V e VI, 926, § 2.º, 927, §§ 1.º, 2.º, 3.º e 4.º).

A vinculação dos precedentes somente se legitima quando as conclusões sobre fatos pretéritos podem ser
colocadas à prova constantemente, ante os casos sucessivos, para que sejam confirmados ou retificados
com coerência e respeito à tradição jurídica. Nesses termos, rejeitar a aplicação de um precedente judicial
diante da constatação da ausência de semelhança entre o caso posterior e o que está sob julgamento não
desrespeita a tradição jurídica, nem deslegitima o sistema de precedentes vinculantes, mas assegura a
possibilidade da necessária e permanente aderência da jurisprudência à realidade dinâmica e em
constante evolução.

O Código de Processo Civil de 2015 enaltece a importância de serem observados os precedentes, o que deve
ser acompanhado por uma mudança de postura dos atores processuais, que devem aprimorar o estudo e a
aplicação da argumentação e da hermenêutica jurídicas. O sucesso do sistema vinculante de precedentes
depende do exame e da comparação aprofundados entre os julgados, para que a uniformização da
jurisprudência ocorra de forma a respeitar os deveres de estabilidade, integridade e coerência,
indispensáveis à promoção da segurança e da igualdade jurídicas.

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CASUÍSMOS JUDICIÁRIOS E PRECEDENTES JUDICIAIS, de Alencar Frederico Margraf - RePro


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O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA SEGURANÇA JURÍDICA NO PROCESSO, de Sérgio Massaru


Takoi - RDCI 94/2016/249

TRANSFORMAÇÃO, SINALIZAÇÃO E SUPERAÇÃO ANTECIPADA E SUA PERTINÊNCIA AO


SISTEMA DE PRECEDENTES BRASILEIRO, de Lucas Buril de Macêdo - RPC 3/2016/89

© edição e distribuição da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA.

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