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EXCEÇÕES (Art. 95 a 111 CPP)


CONCEITO
Para reflexão ...
Fernando Capez:
“A exceção (do latim exceptio), em sentido amplo, compreende o direito público subjetivo do
acusado em se defender, ora combatendo diretamente a pretensão do autor, ora deduzindo matéria
que impede o conhecimento do mérito, ou ao menos enseja a prorrogação do curso do processo. Já
em sentido estrito, a exceção pode ser conceituada como o meio pelo qual o acusado busca a
extinção do processo sem o conhecimento do mérito, ou tampouco um atraso no seu andamento”.
(Fernando Capez, Curso de Processo penal, 9 ed., pág.331)
Hélio Toronaghi:
“Não há acordo entre os autores sobre se a exceção se funda sempre em direito subjetivo. Mas
parece que a solução do problema não é difícil. Quando o réu se defende negando o fato constitutivo
do direito do autor (jamais me emprestou) ou afirmando fato impeditivo (eu era menor quando
contratei) ou extintivo (já paguei), está ele aduzindo circunstâncias que tornam inexistente ou nula a
pretensão do autor. Tais circunstâncias podem ser consideradas pelo juiz, sem necessidade de
alegação.
Não é assim, porém, se a lei entende que a pretensão do autor é anulável por vontade do réu.
Assim, quando o Código Civil dispõe que o réu pode opor a prescrição, está dizendo que o crédito
existe, sem qualquer vício, e o credor pode pretender a satisfação do débito, mas o devedor é livre
de satisfazer ou de paralisar a pretensão do credor. (Hélio Tornaghi, Instituições de Processo Penal,
v.1, 2ª ed.,p.415/416)
Por vezes a circunstância que neutraliza a pretensão do autor é um direito do réu. Se, por exemplo,
Tício pretende o cumprimento por pare de Caio de obrigações contratuais, esse pode opor-lhe o
direito de exigir dele que, por sua vez, cumpra as próprias obrigações (exceptio inadimpleti
contractus). Mais exemplos poderiam ser tomados do direito de retenção, do direito de
compensação etc”. Hélio Tornaghi, Instituições de Processo Penal, v.1, 2ª ed.,p.415/416)
Ada Pelegrini Grinover e outros:
“Na sistemática da legislação processual brasileira usa-se o nome exceção para indicar algumas
exceções processuais, cuja argüição obedece a determinado rito (CPP, art. 95)”. (Ada Pellegrini
Grinover e outros, Teoria Geral do Processo, p.274)
Guilherme de Souza Nucci:
“Exceção é a defesa indireta apresentada por qualquer das partes, com o intuito de prolongar o
trâmite processual, até que uma questão processual relevante seja resolvida, ou com a finalidade de
estancar,definitivamente, o seu curso, porque processualmente incabível o prosseguimento da
ação”.(Código de Processo Penal comentado, p. 286)
Edílson Mougenot Bonfim:
“No sentido adotado pelo Código de Processo Penal, a exceção designa a defesa indireta, ou seja,
aquela que não diz respeito ao mérito do pedido. As exceções podem, assim, fundar-se na alegação
de inexistência dos pressupostos processuais e das condições da ação. Podem ter por finalidade
prolongar o curso do processo (exceção dilatória), ou mesmo extingui-lo (exceção peremptória).
(Edílson Mougenot Bonfim, Curso de Processo Penal, p.243)
FORMAS
“Todo réu de processo penal pode defender-se de duas distintas formas:
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a) diretamente: toda vez que o acusado se volta contra a imputação que lhe foi formulada, seja
quando nega a ocorrência do fato (o fato não teria ocorrido), ou a autoria delitiva, ou diz faltar
tipicidade (o fato não seria crime), ou opõe uma ausência de antijuridicidade (p.ex., legítima
defesa) ou, ainda, quando defende-se aduzindo ausência de culpabilidade (nega o dolo ou a
culpa);
b) indiretamente: verifica-se nas hipóteses em que o denunciado ou querelado opõe à pretensão
do autor um direito que pode extinguir, modificar ou impedir tal pretensão, ou simplesmente
prorroga-la, dilatá-la, protela-la ou adia-la. Neste caso, vale-se o acusado das denominadas
exceções, em sentido estrito”. (Capez, ob, cit., p.332)
EXCEÇÕES PREVISTAS (Art. 95 CPP)
Art. 95. Poderão ser opostas as exceções de:
I. – suspeição;
II. – incompetência de juízo;
III. – litispendência;
IV. – ilegitimidade de parte;
V. – coisa julgada.
I – SUSPEIÇÃO (causas arts. 254 a 256 CPP)
“Exceção de suspeição e de impedimento: trata-se de defesa aposta por qualquer das partes contra
a parcialidade do juiz. Divide-se essa modalidade de defesa em:
a) exceção de suspeição propriamente dita, quando há um vínculo do julgador com alguma das
partes (amizade íntima, inimizade capital, sustentação de demanda por si ou por parente,
conselhos emitidos, relação de crédito ou débito, tutela ou curatela, sociedade ou um vínculo
como assunto debatido no feito (por si ou por parente seu que responda por fato análogo), e
b) exceção de impedimento, não mencionada expressamente no Código de Processo Penal com
essa desinência, representando um vínculo, direto ou indireto, com o processo em julgamento
(tenha por si ou parente seu atuado no feito, embora em outra função, tenha servido como
testemunha, tenha funcionado como juiz em outra instância, tenha por si ou por parente
interesse no deslinde da causa).
As causas de suspeição estão elencadas no art. 254, enquanto as de impedimentos estão nos arts.
252 e 253 do CPP.” (Guilherme de Souza Nucci, Código de Processo Penal Comentado, 5ª ed., RT,
p.286/287)
II – INCOMPETÊNCIA DE JUÍZO
“É a defesa indireta que a parte pode interpor contra o juízo, alegando sua incompetência para julgar
o feito, fundamentada no princípio constitucional do juiz natural. Embora todo magistrado possua
jurisdição, a delimitação do seu exercício é dada pelas regras de competência, que devem ser
respeitadas. Não fosse assim e qualquer juiz decidiria qualquer matéria, infringindo-se o espírito da
Constituição, que garantiu expressamente a divisão dos órgãos judiciários, cada qual atuando na sua
esfera de competência”. (Nucci, p.297)
III – LITISPENDÊNCIA
“É a defesa indireta, apresentada por qualquer das partes, demonstrando a determinado juízo que
há causa idêntica em andamento, em outro foro, ainda pendente de julgamento, razão pela qual o
processo deve ser extinto. Não é cabível que o Estado deduza a pretensão punitiva contra o réu em
duas ações penais de igual objeto, fundadas no mesmo fato criminoso. Leva-se em consideração,
para verificar a hipótese de litispendência, se o acusado nas duas ou mais ações é o mesmo e se a
imputação coincide, pouco importando quem incorpore a acusação. Tendo em vista que a exceção é
medida com finalidade de obstaculizar o andamento de determinado processo, não é possível valer-
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se dela para impedir o trâmite de um inquérito, que tenha por base exatamente o mesmo fato e
idêntico réu, já denunciado. Para tanto utiliza-se o habeas corpus, trancando-se a investigação
policial repetitiva. Segundo cremos, a litispendência está caracterizada a partir do ajuizamento da
segunda demanda, sendo prescindível a citação do réu, pois o Código de Processo Penal silenciou a
esse respeito, sendo admissível supor que, havendo dois processos em trâmite, contra o mesmo réu,
um deles deve ser extinto – com ou sem citação válida.” (Nucci, op. Cit., p.299/300)
IV – ILEGITIMIDADE DE PARTE
É a defesa indireta contra o processo, pretendendo extingui-lo ou retardar o seu andamento, até que
um defeito na legitimidade de parte seja corrigido. Assim, quando faltar
legitimidade ad causam, ou seja, para que a ação penal seja proposta, tanto por quem a inicia
(legitimidade ativa), como contra quem ela é iniciada (legitimidade passiva), pode a parte interessada
propor exceção de ilegitimidade de parte. Agirá desse modo, por certo, se o juiz não percebeu o
equívoco e recebeu a denúncia, uma vez que o ideal seria a rejeição da denúncia (art. 43, III, CPP).
Também quando faltar
legitimidade ad processuam, isto é, não estiver presente um pressuposto de validez do processo,
que é a capacidade para estar em juízo, pode-se falar em exceção de ilegitimidade de parte.
Exemplificando: se o Ministério Público move ação contra o pai, o crime cometido por seu filho, é
natural que, recebida a denúncia, possa o réu propor a exceção de ilegitimidade de parte (ad
causam). Caso o menor de 18 anos, sem assistência de representante legal, ingresse com queixa-
crime contra alguém em crime de ação privada, falta capacidade para estar em juízo, admitindo-se a
exceção de ilegitimidade de parte (ad processum). (Nucci, op. Cit., p.300)
V – COISA JULGADA
“É a defesa indireta contra o processo, visando a sua extinção, tendo em vista que idêntica causa já
foi definitivamente julgada em outro foro. Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato,
razão pela qual, havendo nova ação, tendo por base idêntica imputação de anterior, já decidida, cabe
a argüição de exceção de coisa julgada”.
OPORTUNIDADES E MANEIRA DE APRESENTAÇÃO
SUSPEIÇÃO
Oportunidade e maneira de apresentação: deve ser feita, como determina a lei, em petição
específica para essa finalidade, das seguintes maneiras:
a) quando se tratar do promotor de justiça, sendo ele a parte diretamente interessada, basta a
sua assinatura;
b) quando se cuidar do querelante, do querelado ou do réu, deve assinar a petição juntamente
com seu advogado ou permitir que este assine sozinho a exceção, desde que possua
procuração com poderes específicos para tanto;
c) quando se tratar de procurador do querelante, que tenha ingressado com queixa em seu
nome, deve ele ter poderes específicos para interpor a exceção. Na procuração não há
necessidade de contar um resumo dos fatos envolvendo o excepto, mas sim os poderes para
apresentar a peça contra o magistrado.(Nucci, p.288/289)
INCOMPETÊNCIA DE JUÍZO
Oportunidade e maneira de apresentação: Art. 108 CPP – A exceção de incompetência do juízo
poderá ser oposta, verbalmente ou por escrito no prazo de defesa.
LITISPENDÊNCIA
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Oportunidade e maneira de apresentação: “Podem as partes fazê-lo a qualquer tempo. Como no


caso de incompetência absoluta, a matéria não preclui, diante do interesse público envolvido”.
ILEGITIMIDADE DE PARTE
Oportunidade para apresentação: podem as partes fazê-lo a qualquer tempo. A matéria não preclui,
diante do interesse público envolvido. Em petição à parte argui-se a exceção, podendo faze-lo a
qualquer das partes, sempre determinando o juiz a oitiva da outra. Admite-se a suscitação
verbalmente , também, embora raro”.
COISA JULGADA
Oportunidade para apresentação: : “Podem as partes fazê-lo a qualquer tempo. Como no caso de
incompetência absoluta, a matéria não preclui, diante do interesse público envolvido”.
CATEGORIAS:
“Dividem-se as exceções em três categorias:
a) ratione loci (em razão do lugar): por exemplo, o crime do qual se acusa o réu foi cometido
em outro país;
b) ratione personae (em razão da pessoa): como por exemplo, temos a suspeição do
magistrado, que é inimigo capital do acusado;
c) ratione materiae (em razão da matéria): o tráfico internacional de entorpecentes é da
competência da Justiça Federal, não podendo ser julgado pela Estadual, salvo quando na
comarca em que o delito foi praticado não existir vara da Justiça Federal; contudo, eventual
recurso há que ser processado e julgado perante o Tribunal Regional Federal.
Obs.: Questiona-se sobre ser absolutamente nula a denúncia ofertada por promotor e
recebida por juiz, ambos incompetentes ratione materiae. Não, pois podem ser ratificadas
pelo juízo competente (RTJ, 79/436) (Capez ob. Cit, p.332)
ESPÉCIES
“As exceções podem ser:
a) peremptórias (do latim perimere): são aquelas que, quando acolhidas, põem termo à causa,
extinguindo o processo; dentre elas destacam-se as exceções de coisa julgada e
litispendência;
b) dilatórias: são aquelas que, quando acolhidas, acarretam única e exclusivamente a
prorrogação do curso do processo, procrastinando-o e retardando-o ou transferindo o seu
exercício: suspeição, incompetência e ilegitimidade de parte.(Capez: op. Cit. P.332)

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