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Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas

Processo
REsp 1758776

Relator(a)
Ministro GURGEL DE FARIA

Data da Publicação
DJe 14/05/2019

Decisão
RECURSO ESPECIAL Nº 1.758.776 - SP (2018/0198673-6)
RELATOR : MINISTRO GURGEL DE FARIA
RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL
RECORRIDO : CLINICA PAULISTA DE ANESTESIOLOGIA LTDA
ADVOGADO : ELAINE RENO DE SOUZA OLIVEIRA - SP243893
DECISÃO
Trata-se de recurso especial interposto pela FAZENDA NACIONAL contra
acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região assim
ementado:
APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA. IRPJ E CSSL. LEI N.º 9.249/95.
SERVIÇOS HOSPITALARES. RECURSO ESPECIAL N.º 1.116.399/BA
REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA.
- De acordo com os artigos 15, inciso III, alínea a, e 20 da Lei n.º
9.249/95, vigente à época da impetração do mandado de segurança, a
alíquota aplicável no cálculo do imposto de renda da pessoa jurídica
- IRPJ e da CSSL será de 8% e 12%, respectivamente, nos casos de
prestação de serviços hospitalares.
- A questão referente à delimitação do conceito de serviços
hospitalares (artigo 111 do CTN) e, por consequência, dos
favorecidos pelo benefício fiscal foi analisada pelo Superior
Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial n.º
1.116.399/BA, representativo da controvérsia, ao entendimento de que
devem ser considerados serviços hospitalares aqueles que se vinculam
às atividades desenvolvidas pelos hospitais voltados diretamente à
promoção da saúde, mas não necessariamente prestados no interior do
estabelecimento hospitalar, excluídos as simples consultas médicas,
atividade que não se identifica com as prestadas no âmbito
hospitalar, mas nos consultórios médicos.
- Apelação provida.
A parte recorrente alega violação:
a) dos arts. 1.022, 1.026, § 2°, 1.039, parágrafo único, 1.040 e
1.041, do CPC/2015, por considerar obrigatória a integração pedida
nos embargos de declaração, pertinente à limitação da aplicação das
alíquotas reduzidas do art. 15, §1°, III, "a", da Lei n. 9.249/1995
e ao descabimento da aplicação da multa na oposição de embargos de
declaração com o fim expresso de prequestionamento da matéria;
b) do art. 15, §1°, III, "a", da Lei n. 9.249/1995 e do art. 111 do
CTN, ao argumento de que a alíquota reduzida não abrangeria a
tributação de serviços de consulta médica, não considerados no
conceito de serviços hospitalares, não sendo alcançados pela benesse

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legal.
Sem contrarrazões.
Passo a decidir.
Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a
decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos
os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC
(Enunciado n. 3 do Plenário do STJ).
Considerado isso, importa mencionar que o recurso especial se
origina de ação de mandado de segurança impetrado pela recorrida
para se ver autorizada a recolher o IRPJ como sociedade prestadora
de serviços hospitalares.
No primeiro grau de jurisdição, a segurança foi denegada.
Irresignada, a PARTE interpôs recurso de apelação, provido pelo
Tribunal. Vejamos, no que interessa, o que está consignado no voto
condutor do acórdão recorrido (e-STJ fl. 253 e seguintes):
I - Dos fatos
Mandado de segurança impetrado por Clínica Paulista de
Anestesiologia Ltda. contra ato praticado pelo Delegado da Receita
Federal em São Paulo/SP, com vista ao reconhecimento do direito a
recolher o IRPJ à alíquota de 8% e a CSSL a 12%, na forma do artigo
15, III, alínea a, da Lei n.º 9.249/95, em razão da equiparação de
sua atividade à de serviços hospitalares.
Em 18.03.2013, o Juízo a quo denegou a ordem ao entendimento de que
as clínicas médicas e ambulatoriais, bem como os laboratórios de
análises em geral não se enquadram no conceito de prestadores de
serviços hospitalares (fls. 104/108). Opostos embargos de declaração
(fls. 112/116), foram rejeitados (fl. 118).
II - Do IRPJ e da CSSL
De acordo com os artigos 15, inciso III, alínea a, e 20 da Lei n.º
9.249/95, vigente à época da impetração do mandado de segurança, a
alíquota aplicável no cálculo do imposto de renda da pessoa jurídica
- IRPJ e da CSSL será de 8% e 12%, respectivamente, nos casos de
prestação de serviços hospitalares, verbis:
[...]
A questão referente à delimitação do conceito de serviços
hospitalares (artigo 111 do CTN) e, por consequência, dos
favorecidos pelo benefício fiscal foi analisada pelo Superior
Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial n.º
1.116.399/BA, representativo da controvérsia, ao entendimento de que
devem ser considerados serviços hospitalares aqueles que se vinculam
às atividades desenvolvidas pelos hospitais voltados diretamente à
promoção da saúde, mas não necessariamente prestados no interior do
estabelecimento hospitalar, excluídos as simples consultas médicas,
atividade que não se identifica com as prestadas no âmbito
hospitalar, mas nos consultórios médicos, verbis:
[...]
Verifica-se do contrato social que a apelante tem como objeto social
a prestação de serviços médicos hospitalares na especialidade
anestesia e anestesiologia em atendimento de assistência à saúde em
regime de internação (fl. 25). Igualmente do cadastro nacional de
pessoa jurídica (fl. 24) consta a atividade 86.10-1-01: atividades

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de atendimento hospitalar, exceto pronto-socorro e unidades de
atendimento a urgências, o que está de acordo com o que consta do
contrato social. Assim, entendo que a apelante tem o direito a
usufruir do benefício fiscal, afastadas as exigências estabelecidas
pelas IN SRF 1234/2012 e 408/2004 e pelo Ato Declaratório
Interpretativo n.º 18/03. No mesmo sentido:
[...]
IV - Do dispositivo
Ante o exposto, dou provimento à apelação para reformar a sentença e
conceder a segurança para determinar que o cálculo do IRPJ e da CSSL
sejam feitos nos termos do artigo 15, inciso III, alínea a, e 20
ambos da Lei nº 9.249/95. Sem honorários, na forma do artigo 25 da
Lei n.º 12.016/09. Custas ex vi legis. (Grifos acrescidos).
Opostos embargos de declaração, foram eles rejeitados com aplicação
de multa(e-STJ fl. 280):
Destarte, não há vício algum apto a ensejar a integração do julgado,
nos termos do artigo 1.022 do Código de Processo Civil, nem mesmo
para fins de prequestionamento. O embargante pretende, na verdade, a
rediscussão do julgado, o que é inviável nesta via recursal.
Por fim, nos termos do artigo 1.026, § 2º, do CPC, condeno a
embargante ao pagamento de multa que fixo em 1% sobre o valor
atribuído à causa (R$ 180.585,49 - fl. 53), devidamente atualizado.
Ante o exposto, rejeito os embargos de declaração e condeno a
embargante ao pagamento de multa fixada em 1% sobre o valor
atribuído à causa.
Pois bem.
1. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 1.022, 1.026, § 2°, 1.039, PARÁGRAFO ÚNICO,
1.040 E 1.041, DO CPC/2015
Da análise do julgado recorrido, verifica-se que o Tribunal de
origem se manifestou, de maneira clara e fundamentada, acerca de
todas as questões relevantes para a solução da controvérsia,
inclusive em relação às quais o recorrente alega omissão,
consignando expressamente a exclusão da alíquota reduzida dos
serviços de consulta médica, não abrangidos pelo conceito de
serviços hospitalares (e-STJ fl. 254).
Dessa forma, correta a rejeição dos embargos de declaração, ante a
inexistência de omissão, contradição ou obscuridade a ser sanada, e,
por conseguinte, deve-se concluir pela ausência de ofensa ao art.
1.022 do CPC/2015.
No que concerne à multa do art. 1.026 do CPC/2015, a análise do
preenchimento dos requisitos legais para a sua aplicação no caso
concreto demanda reexame do acervo fático-probatório dos autos, o
que é inviável em Recurso Especial, salvo na hipótese em que opostos
com notório propósito de prequestionamento (Súmula 98 do STJ), o que
não se verifica na espécie.
Assim, atrai-se o óbice da Súmula 7 do STJ a impedir o conhecimento
do recurso especial.
2. VIOLAÇÃO DO ART. 15, §1°, III, "A", DA LEI N. 9.249/1995 E DO
ART. 111 DO CTN
A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do
REsp 1.116.399/BA, submetido ao regime de recursos repetitivos,

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firmou o entendimento, no tocante à aplicação das alíquotas
reduzidas de IRPJ (8%) e CSLL (12%) art. 15, § 1º, III, "a", da
Lei n. 9.249/1995, de que: (a) "devem ser considerados serviços
hospitalares 'aqueles que se vinculam às atividades desenvolvidas
pelos hospitais, voltados diretamente à promoção da saúde', de sorte
que, 'em regra, mas não necessariamente, são prestados no interior
do estabelecimento hospitalar, excluindo-se as simples consultas
médicas, atividade que não se identifica com as prestadas no âmbito
hospitalar, mas nos consultórios médicos'; (b) a expressão 'serviços
hospitalares' deve ser interpretada de forma objetiva (ou seja, sob
a perspectiva da atividade realizada pelo contribuinte), porquanto a
lei, ao conceder o benefício fiscal, não considerou o contribuinte
em si (critério subjetivo), mas a natureza do próprio serviço
prestado (assistência à saúde), que é, inclusive, alçado à condição
de direito fundamental". Transcreve-se:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO
AOS ARTIGOS 535 e 468 DO CPC. VÍCIOS NÃO CONFIGURADOS. LEI 9.249/95.
IRPJ E CSLL COM BASE DE CÁLCULO REDUZIDA. DEFINIÇÃO DA EXPRESSÃO
"SERVIÇOS HOSPITALARES". INTERPRETAÇÃO OBJETIVA. DESNECESSIDADE DE
ESTRUTURA DISPONIBILIZADA PARA INTERNAÇÃO. ENTENDIMENTO RECENTE DA
PRIMEIRA SEÇÃO. RECURSO SUBMETIDO AO REGIME PREVISTO NO ARTIGO 543-C
DO CPC.
1. Controvérsia envolvendo a forma de interpretação da expressão
"serviços hospitalares" prevista na Lei 9.429/95, para fins de
obtenção da redução de alíquota do IRPJ e da CSLL. Discute-se a
possibilidade de, a despeito da generalidade da expressão contida na
lei, poder-se restringir o benefício fiscal, incluindo no conceito
de "serviços hospitalares" apenas aqueles estabelecimentos
destinados ao atendimento global ao paciente, mediante internação e
assistência médica integral.
2. Por ocasião do julgamento do RESP 951.251-PR, da relatoria do
eminente Ministro Castro Meira, a 1ª Seção, modificando a orientação
anterior, decidiu que, para fins do pagamento dos tributos com as
alíquotas reduzidas, a expressão "serviços hospitalares", constante
do artigo 15, § 1º, inciso III, da Lei 9.249/95, deve ser
interpretada de forma objetiva (ou seja, sob a perspectiva da
atividade realizada pelo contribuinte), porquanto a lei, ao conceder
o benefício fiscal, não considerou a característica ou a estrutura
do contribuinte em si (critério subjetivo), mas a natureza do
próprio serviço prestado (assistência à saúde). Na mesma
oportunidade, ficou consignado que os regulamentos emanados da
Receita Federal referentes aos dispositivos legais acima mencionados
não poderiam exigir que os contribuintes cumprissem requisitos não
previstos em lei (a exemplo da necessidade de manter estrutura que
permita a internação de pacientes) para a obtenção do benefício. Daí
a conclusão de que "a dispensa da capacidade de internação
hospitalar tem supedâneo diretamente na Lei 9.249/95, pelo que se
mostra irrelevante para tal
3. Assim, devem ser considerados serviços hospitalares "aqueles que
se vinculam às atividades desenvolvidas pelos hospitais, voltados
diretamente à promoção da saúde", de sorte que, "em regra, mas não

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necessariamente, são prestados no interior do estabelecimento
hospitalar, excluindo-se as simples consultas médicas, atividade que
não se identifica com as prestadas no âmbito hospitalar, mas nos
consultórios médicos".
4. Ressalva de que as modificações introduzidas pela Lei 11.727/08
não se aplicam às demandas decididas anteriormente à sua vigência,
bem como de que a redução de alíquota prevista na Lei 9.249/95 não
se refere a toda a receita bruta da empresa contribuinte
genericamente considerada, mas sim àquela parcela da receita
proveniente unicamente da atividade específica sujeita ao benefício
fiscal, desenvolvida pelo contribuinte, nos exatos termos do § 2º do
artigo 15 da Lei 9.249/95.
5. Hipótese em que o Tribunal de origem consignou que a empresa
recorrida presta serviços médicos laboratoriais (fl.. 389),
atividade diretamente ligada à promoção da saúde, que demanda
maquinário específico, podendo ser realizada em ambientes
hospitalares ou similares, não se assemelhando a simples consultas
médicas, motivo pelo qual, segundo o novel entendimento desta Corte,
faz jus ao benefício em discussão (incidência dos percentuais de 8%
(oito por cento), no caso do IRPJ, e de 12% (doze por cento), no
caso de CSLL, sobre a receita bruta auferida pela atividade
específica de prestação de serviços médicos laboratoriais).
6. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia,
submetido ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução 8/STJ.
7. Recurso especial não provido.
(REsp 1116399/BA, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 28/10/2009, DJe 24/02/2010). (Grifos acrescidos).
Na hipótese dos autos, a Corte regional posicionou-se de forma
compatível com esta interpretação, consignando expressamente ser
inequívoca a natureza dos serviços prestados pela recorrida.
Assim, considerado o delineamento fático realizado pelo órgão
judicial a quo, deve-se reconhecer que o recurso especial encontra
óbice nas Súmulas 7 e 83 do STJ, porquanto, além de o acórdão
recorrido estar em conformidade com a orientação jurisprudencial
deste Tribunal, não há como se revisar a sua conclusão sem o reexame
de fatos e provas.
Por fim, deixo consignado não ser o caso para arbitramento de
honorários recursais, pois se origina de mandado de segurança.
Ante o exposto, com base no art. 255, § 4º, I e II, do RISTJ,
CONHEÇO PARCIALMENTE do recurso especial e, nessa parte, NEGO-LHE
PROVIMENTO.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 12 de maio de 2019.
MINISTRO GURGEL DE FARIA
Relator

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