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Notas Espaços Normados PDF
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Espaços de Banach
(N 0) p(x) = 0 ⇒ x = 0,
p é dita uma norma em X e neste caso é comum escrever kxk no lugar de p(x).
Exemplo 1.2. O corpo K (visto como espaço vetorial sobre si próprio) é um espaço nor-
mado se o equiparmos com a norma kλk = |λ|. Mais geralmente, Kp é um espaço normado,
p
pois sabemos que kxk = |x(1) |2 + |x(2) |2 + · · · + |x(p) |2 , onde x = (x(1) , x(2) , . . . , x(p) ), é
1
2 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
Observe que pelo fato de f ser limitada tal supremo é finito. Então kf k ∈ [0, +∞[.
Afirmamos que k · k é uma norma em Cb (A). De fato, se kf k = supx∈A |f (x)| = 0, então
|f (x)| = 0 para todo x ∈ A. Logo, f é a função nula e (N 0) está mostrada. Para mostrar
(N 1) observe que para cada x ∈ A
Então |λ| kf k é uma cota superior do conjunto {|λf (x)| : x ∈ A}. Então supx∈A |λf (x)| ≤
|λ| kf k, o que nos mostra que kλf (x)k ≤ |λ| kf k. Por outro lado, se λ 6= 0, temos que
|f (x)| = |λ| |λ−1 | |f (x)| = |λ−1 | |λf (x)| ≤ |λ−1 | kλf k, e portanto, tomando o supremo,
kf k ≤ |λ−1 | kλf k, ou seja |λ| kf k ≤ kλf k. Assim |λ| kf k = kλf k, se λ 6= 0. Porém, se
λ = 0 a igualdade é imediata e portanto ela é valida para qualquer λ ∈ K. Finalmente,
se f, g ∈ Cb (A) e x ∈ A,
|f (x) + g(x)| ≤ |f (x)| + |g(x)| ≤ sup |f (x)| + sup |g(x)| = ||f k + kgk.
x∈A x∈A
Uma sequência (xn )n∈N ⊂ X converge para x ∈ X se, para todo ε > 0 existe n0 ∈ N
tal que n > n0 ⇒ kxn −xk < ε. Neste caso, dizemos que (xn )n é uma sequência convergente
em X e que x é limite de (xn )n . Algumas propriedades das sequências convergentes estão
destacadas nos exercı́cios.
É facil verificar que duas normas são equivalentes se, e somente se, toda bola aberta
centrada em x0 segundo uma norma contém uma bola aberta centrada em x0 segundo a
outra. Destacaremos o seguinte critério:
1.4. Espaços de Banach 5
Proposição 1.6. Se existirem constantes positivas a e b tais que akxk0 ≤ kxk ≤ bkxk0 ,
∀x ∈ X, então k · k e k · k0 são equivalentes.
Demonstração. Considere uma bola aberta Bk·k (x0 , r) segundo a norma k·k. Então, se x ∈
Bk·k0 (x0 , rb ) então kx−x0 k0 < rb e portanto kx−x0 k ≤ bkx−x0 k0 < r. Logo Bk·k0 (x0 , rb ) ⊂
Bk·k (x0 , r). De maneira análoga mostramos que Bk·k (x0 , r · a) ⊂ Bk·k0 (x0 , r).
Lembramos que uma sequência (xn )n∈N em um espaço métrico M é dita de Cauchy
se, para todo ε > 0, exitir um n0 ∈ N tal que d(xn , xm ) < ε, se n, m > n0 . É imediato
que toda sequência convergente é de Cauchy. Porém, nem toda sequência de Cauchy é
converge. Um espaço metrico é dito completo se toda sequência de Cauchy converge (em
M , claro).
Exemplo 1.10. Vamos mostrar que Rp é um espaço de Banach. Seja (xn )n∈N uma
sequência de Cauchy em Rp . Note que aqui cada xn é uma p-upla de números reais:
(1) (2) (p)
xn = (xn , xn , . . . , xn ). Como (xn )n∈N é uma sequência de Cauchy, para todo ε > 0,
existe algum n0 ∈ N tal que
q
(1) (1) (2) (2) (p) (p)
n, m > n0 ⇒ kxn − xm k = (xn − xm )2 + (xn − xm )2 + · · · + (xn − xm )2 < ε.
6 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
(i) (i)
Em particular, para cada i = 1, 2, . . . , p, se n, m > n0 então |xn − xm | < ε. Isso nos
(i)
mostra que cada sequência (xn )n é uma sequência de Cauchy em R e portanto converge,
(i)
pelo exemplo anterior. Defina então x(i) = limn xn e considere x = (x(1) , x(2) , . . . , x(p) ).
Claro que x ∈ Rp e vamos mostrar que este é o limite da sequência (xn )n . Seja então
(i) (i)
ε > 0. Como x(i) = limn xn , para cada i = 1, 2, . . . , p, existe ni tal que |xn −x(i) |2 < ε2 /p,
se n > ni . Se k0 = max{ni : i = 1, 2, . . . , p}, então
q
(1) (2) (p)
n > k0 ⇒ kxn − xk = (xn − x(1) )2 + (xn − x(2) )2 + · · · + (xn − x(p) )2 < ε,
Observação 1.11. Como espaços normados, C é identico a R2 . Segue então pelo exemplo
anterior que C é um espaço de Banach. Consequentemente, Cp também é um espaço de
Banach.
Exemplo 1.12. Consideremos agora o espaço Cb (A). Seja (fn )n uma sequência de Cauchy
em Cb (A). Então para todo ε > 0, existe algum n0 ∈ N tal que
Como no exemplo anterior, vemos que para cada x ∈ A a sequência (fn (x))n uma
sequência de Cauchy em K e portanto converge (pela observação anterior) para algum
α(x) ∈ K. Defina f : A → K pondo f (x) = α(x). Observe que, se x ∈ A e n, m > n0
|fn (x) − f (x)| ≤ |fn (x) − fm (x)| + |fm (x) − f (x)| ≤ kfn − fm k + |fm (x) − f (x)|
< ε + |fm (x) − f (x)|.
o que mostra que f é contı́nua. Claramente f é limitada, pois usando (∗) com ε = 1,
obtemos n fixo tal que |fn (x) − f (x)| ≤ 1, para qualquer x ∈ A, e portanto
Finalmente, é imediato por (∗) que (fn )n converge para f em Cb (A). Isso completa a
demonstração.
Observação 1.15. Veremos adiante que `∞ pode ser visto como um espaço da forma
C(K), onde K é a compactificação de Stone-C̆ech de N (N não é compacto!!).
Exemplo 1.16. (Um espaço normado que não é Banach) Seja X = c00 o espaço das
sequências quase nulas. Ou seja, uma sequência pertence a c00 se possui apenas zeros a
partir de um certo ı́ndice. Mostraremos que c00 não é um espaço de Banach. Para tanto,
devemos exibir uma sequência de Cauchy em c00 que não converge.
x1 = (1, 0, 0 . . . , 0, 0, . . .),
1
x2 = (1, , 0 . . . , 0, 0, . . .)
2
..
.
1 1
xn = (1, , 0, . . . , , 0, . . .)
2 n
..
.
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Note que (xn )n é de Cauchy, pois dado ε > 0, existe n0 ∈ N, n0 > 1ε . Assim, se
n > m > n0 ,
1 1 1
1 1
kxn − xm k =
(0, 0 . . . , , , . . . , , 0, 0, . . .)
= < < ε.
m+1 m+2 n m+1 n0
Porém, (xn )n não converge em c00 . De fato, suponha por absurdo que x = (x(1) , x(2) , . . . , ) ∈
c00 seja o limite de (xn )n . Então existe um k ∈ N tal que x(i) = 0, se i ≥ k. Assim, se
n ≥ k,
1
kxn − xk = sup |xn − x| ≥ ,
n∈N k
contradizendo o fato de (xn )n convergir para x.
Note que c00 é um subespaço (vetorial e normado) de `∞ que não é completo, apesar
deste ser. A proposição seguinte nos dá um critério para decidir se um subrespaço S de
X é Banach. Quando nos referirmos a subespaço significará sempre que a norma de S é
a induzida por X.
A proposição anterior é útil para mostrar que determinados espaços normados são
Banach. Vejamos alguns exemplos
Note que C0 (A) é um subespaço vetorial de Cb (A). De fato, a aplicação nula está
em C0 (A) pois Vε (0) = {x ∈ A : 0 ≥ ε} = ∅. Além disso, se λ 6= 0 é um escalar e
ε
f ∈ C0 (A), então Vε (λf ) = {x ∈ A : |λf (x)| ≥ ε} = {x ∈ A : |f (x)| ≥ |λ| } = V |λ|
ε (f ),
Mostremos agora que C0 (A). Seja f ∈ C0 (A) e tome uma sequência fn ⊂ C0 (A)
convergindo para f . Temos que mostrar que para todo ε > 0, Vε (f ) é compacto. Sejam
então ε > 0 arbitrário e x ∈ Vε (f ). Então |f (x)| ≥ ε. Como fn converge para f , existe
N ∈ N tal que kfN − f k < ε/2. Assim
ε
ε ≤ |f (x)| ≤ |f (x) − fN (x)| + |fN (x)| ≤ kfN − f k + |fN (x)| < + |fN (x)|,
2
ou seja, |fN (x)| ≥ 2ε , o que mostra que x ∈ V 2ε (fN ). Logo, Vε (f ) ⊂ V 2ε (fN ) e este último
é compacto. Isso mostra que Vε (f ) também é compacto (pois é um fechado contido em
um compacto) e conclui a demonstração.
Logo
def
c0 = C0 (N) = {(xn ) ∈ `∞ : xn → 0}.
Teorema 1.20. Seja X um espaço normado. Então X é Banach se, e somente se, toda
série de elementos de X absolutamente convergente é convergente.
10 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
X
Demonstração. Seja X Banach. Tomamos uma série xk absolutamente convergente.
k∈N X
Temos que mostrar que a sequência de suas somas parciais (sn )n converge. Como kxk k
k∈N
converge ela é uma série de Cauchy. Então, dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que m > n ≥
Xm
n0 ⇒ kxk k. Assim, se m > n ≥ n0 ,
k=n+1
m
X m
X
ksm − sn k = k xk k ≤ kxk k < ε.
k=n+1 k=n+1
Logo, (sn )n é uma sequência de Cauchy em X que é completo. Logo, (sn )n converge.
∞
X
o que mostra que yj é absolutamente convergente em X e portanto converge, por
j=0
k−1
X
hipótese, para algum y ∈ X. Mas lim xnk = lim yj = y. Vemos então que a sequência
k k
j=0
de Cauchy (xn )n possui um subsequência convergente. Logo, (xn )n é convergente.
1.5 Os Espaços `p e Lp
p1
|xk |p
P
Tal espaço é munido de uma norma natural, dada por kxkp = k∈N .
1.5. Os Espaços `p e Lp 11
Quando p = 1, é fácil ver que `1 a soma em `1 é bem definida e que vale a desigualdade
triangular: Sejam x, y ∈ `1 . Então, para todo n ∈ N,
n
X n
X ∞
X ∞
X
|xk + yk | ≤ |xk | + |yk | ≤ |xk | + |yk | < ∞.
k=1 k=1 k=1 k=1
P∞ P∞ P∞
Assim, k=1 |xk + yk | ≤ k=1 |xk | + k=1 |yk |. Isso mostra que x + y ∈ `1 e que
kx + yk1 ≤ kxk1 + kyk1 .
Porém, para mostrar o mesmo quando 1 < p < ∞, precisamos de alguns resultados
preliminares.
1
Lema 1.22. Sejam p, q > 1, tais que p
+ 1q = 1 (dizemos que q é conjugado de p). Então
ap b q
ab ≤ + , ∀a, b ≥ 0.
p q
ap bq
Demonstração. Fixe b e considere a função ϕ(a) = p
+ q
− ab. É um exercı́cio simples
1
de Cálculo 1 verificar que o mı́nimo absoluto de ϕ ocorre em a = b p−1 . Assim, para todo
p
a ≥ 0 (note que p−1 = q = q+p
p
),
p
1 b p−1 bq 1 bq bq q+p bq bq
ϕ(a) ≥ ϕ(b p−1 )= + − b p−1 b = + − b p = + − bq = 0,
p q p q p q
ap bq
e portanto p
+ q
≥ ab.
Teorema 1.23. (Desigualdade de Hölder) Sejam p, q > 1, tais que p1 + 1q = 1. Então para
quaisquer ak , bk ∈ K (k = 1, . . . , n), temos
n n
! p1 n
! 1q
X X X
|ak bk | ≤ |ak |p · |bk |q .
k=1 k=1 k=1
fina
ak bk
Ak = ! p1 e Bk = ! 1q .
n
X n
X
|ak |p |bk |q
k=1 k=1
e portanto
n n
! n
! p1 n
! 1q n
! p1 n
! 1q
X X X X X X
|ak bk | = Ak Bk · |ak |p · |bk |q ≤ |ak |p · |bk |q .
k=1 k=1 k=1 k=1 k=1 k=1
Demonstração. A desigualdade para p = 1 já foi mostrada no inı́cio desta seção. Suponha
então que p > 1 e seja q seu conjugado. Podemos assumir que ak , bk ≥ 0. Por Hölder
obtemos que (Note que (p − 1)q = p)
n
! n
X X
p
(ak + bk ) = (ak + bk )p−1 (ak + bk )
k=1 k=1
n
X n
X
= (ak + bk )p−1 ak + (ak + bk )p−1 bk
k=1 k=1
n
! 1q n
! p1
(H ölder) X X
≤ (ak + bk )(p−1)q · |ak |p
k=1 k=1
n
! 1q n
! p1
X X
+ (ak + bk )(p−1)q · |bk |p
k=1 k=1
n
! 1q n
! p1 n
! p1
X X X
= (ak + bk )p · |ak |p + |bk |p ,
k=1 k=1 k=1
1.5. Os Espaços `p e Lp 13
n
! q−1
q n
! p1 n
! p1
X X X
q−1
e portanto (ak + bk )p ≤ |ak |p + |bk |p . Como q
= p1 , obtemos
k=1 k=1 k=1
a desigualdade.
∞
! p1
X
Assim, |xk + yk |p ≤ kxkp + kykp , o que mostra que x + y ∈ `p e que kx + ykp ≤
k=1
kxkp + kykp .
Demonstração. Se p = ∞ já sabemos. Suponha então que 1 ≤ p < ∞. Seja (xn )n∈N
uma sequência de Cauchy em `p . Note que aqui cada xn é uma sequência de escalares
(1) (2)
xn = (xn , xn , . . .) ∈ `p . Como (xn )n∈N é uma sequência de Cauchy, para todo ε > 0,
existe algum n0 ∈ N tal que
∞
! p1
X
n, m > n0 ⇒ kxn − xm kp = |x(i) (i) p
n − xm | < ε. (∗)
i=1
(i) (i)
Em particular, para cada i ∈ N, se n, m > n0 então |xn − xm | < ε. Isso nos mostra que
(i)
cada sequência (xn )n é uma sequência de Cauchy em K e portanto converge, por este ser
completo.
(i)
Defina então x(i) = limn xn e considere x = (x(1) , x(2) , . . .). Vamos mostrar que x ∈ `p .
Como a sequência (xn )n é de Cauchy, então é limitada (Execı́cio). Logo, existe M > 0
∞
! p1 k
! p1
X X
tal que |x(i)
n |
p
≤ M , para todo n ∈ N. Então |x(i)
n |
p
≤ M , para todo
i=1 i=1
k
! p1
X
n, k ∈ N. Fazendo n → ∞, obtemos que |x(i) |p ≤ M , para todo k ∈ N. Então
i=1
∞
! p1
X
|x(i) |p ≤ M , o que mostra que x ∈ `p .
i=1
14 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
Resta mostrar que (xn )n converge para x (na norma de `p ). Dado ε > 0, fazendo
k
! p1
X
m → ∞ em (∗), obtemos que |x(i)
n −x |
(i) p
≤ ε, para n > n0 e k ∈ N. Então,
i=1
∞
! p1
X
kxn − xkp = |x(i) (i) p
n −x | ≤ ε, se n > n0 .
i=1
• Denotamos por L∞ [0, 1] o espaço vetorial das classes de equivalências das funções
escalares (Lesbesgue)-mensuráveis que são limitadas quase sempre munido da norma
Os espaço acima definidos são espaços de Banach. A demonstração pode ser encon-
trada em qualquer livro sobre a medida de Lesbegue.
Vamos usar a proposição anterior para dar exemplo de espaços separáveis e não
separáveis.
Exemplo 1.28. c0 é um espaço separável. De fato, considere a sequência unitária
n−esima
z}|{
canônica en = (0, . . . , 0, 1 , 0, . . .). Vamos mostrar que c0 = [en : n ∈ N] e portanto c0
será separável pela parte (a) da proposição anterior. Seja então x = (xn ) ∈ c0 e ε > 0.
Então, existe n0 tal que |xn | < ε, se n > n0 . A sequência xε = (x1 , x2 , . . . , xn0 , 0, 0, . . .)
está em [en : n ∈ N] e kx − xε k < ε. Como ε era arbitrário, segue que x ∈ [en : n ∈ N].
Exemplo 1.29. `∞ não é separável. Considere, para cada subconjunto N ⊂ N a
sequência caracterı́stica de N . Ou seja, a sequência x = xN = (xn ), onde xn = 1 se
n ∈ N e xn = 0 se n ∈ / N . Claro que cada uma destas sequências está em `∞ . Tomamos
o conjunto B = {xN : N ⊂ N} ⊂ `∞ . Então a cardinalidade de B é a das partes de N e
portanto não enumerável. Além disso, kxN − xN 0 k = 1, se N 0 6= N . Então, pela parte (b)
da proposição anterior, `∞ não é separável.
Exemplo 1.30. Qualquer espaço normado de dimensão finita é separável, pois é gerado
por um conjunto finito. (Que conjunto é esse?)
Exemplo 1.31. Pelo Teorema de Aproximação de Weierstrass, os polinômios são densos
em C[0, 1] (Veja por exemplo o livro do Elon de Espaços Métricos). Então, [tn : n = 0, 1, . . .] =
C[0, 1], o que mostra que C[0, 1] é sepárável.
16 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
Estaremos agora tratando das aplicações lineares entre espaços normados. Os as-
pectos algébricos destas aplicações são estudados no curso de Álgebra Linear. Como um
espaço normado também possui uma estrutura topológica, é natural estudá-las também
no que diz respeito à continuidade.
(a) T é contı́nua;
(c) existe uma constante M > 0 tal que kT (x)k ≤ M para qualquer x ∈ BX .
(d) existe uma constante M > 0 tal que kT (x)k ≤ M kxk para qualquer x ∈ X.
(b) ⇒ (c): Como T é contı́nua na origem, para ε = 1, existe δ > 0 tal que, para
qualquer x ∈ X, com kxk < δ, temos que kT (x)k < 1. Se x ∈ BX , temos que k δx2
k<δe
portanto kT δx k < 1. Então, pela linearidade de T , kT (x)k < 2δ .
2
x x
(c) ⇒ (d): Se x ∈ X \ {0}, temos que kxk tem norma 1 e portanto T kxk ≤ M.
Então, kT (x)k ≤ M kxk. Se x = 0, temos que T (x) = 0 e a desigualdade também é
satisfeita.
(d) ⇒ (a): Se existe M > 0 tal que kT (x)k ≤ M kxk para qualquer x ∈ X, então
dados u, v ∈ X temos que kT (u) − T (v)k = kT (u − v)k ≤ M ku − vk. Isso mostra que T
é lipschitziana e portanto (uniformemente) contı́nua.
O item (c) nos mostra que aplicações lineares contı́nuas são limitadas sobre BX . É
por esse motivo que aplicação lineares contı́nuas são também chamadas de limitadas.
1.7. Aplicações Lineares 17
Exemplo 1.34. Considere o espaço vetorial P(R) de todos os polinômios reais munido
da norma kpk = supt∈[0,1] |p(x)|. Então o operador derivação D : P(R) → P(R) não é
contı́nuo, pois para cada n ∈ N o polinômio tn está em BP(R) mas sua derivada ntn−1 tem
norma n. Como n pode ser suficientemente grande, segue que é impossı́vel encontrar M
como na proposição anterior.
Lembramos que inversa de aplicação linear é sempre linear, mas nem sempre é
contı́nua, como mostra o exemplo seguinte.
Exemplo 1.35. Considere X = c00 e o operador linear T : c00 → c00 dado por
T (x1 , x2 , x3 , . . .) = (x1 , x22 , x33 , . . .). Temos que, se x = (x1 , x2 , x3 , . . .) ∈ c00 ,
x2 x3 x2 x3
kT (x)k = k(x1 , , , . . .)k = sup{|x1 |, | |, | |, . . .} ≤ sup{|x1 |, |x2 |, |x3 |, . . .} = kxk.
2 3 n∈N 2 3 n∈N
Logo, T é contı́nua pelo item (c) da proposição. Porém, a inversa de T é dada por
T −1 (x1 , x2 , x3 , . . .) = (x1 , 2x2 , 3x3 , . . .). Para cada n ∈ N, os vetores
n−esima
z}|{
en = (0, . . . , 0, 1 , 0, . . . , ) têm norma 1 mas kT (en )k = n. Logo, T −1 não satisfaz
o item (c) da proposição.
18 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
Observe que no exemplo anterior o espaço normado em questão não era completo,
como vimos em 1.16. Isso não foi por acaso. Veremos mais para frente que se os espaços
forem completos, então a inversa é sempre contı́nua. Será uma consequência do Teorema
da Aplicação Aberta.
Demonstração. Que a condição acima é suficiente foi visto na proposição 1.6. Para
mostrar que é necessária, basta observar que as normas serem equivalente significa que a
identidade de X, k · k em X, k · k0 é um isomorfismo.
Teorema 1.38. Seja T : X → Y um isomorfismo entre espaços normados. Então, se X
for de Banach, então Y também será.
Demonstração. Seja (yn )n uma sequência de Cauchy em Y . Temos que mostrar que (yn )n
converge. Seja então ε > 0. Para cada n, yn = T (xn ), com xn ∈ X. Então,
pois T −1 é contı́nua. Logo, como (yn )n é de Cauchy existe n0 ∈ N tal que kyn − ym k < Mε ,
se n, m > n0 . Assim, se n, m > n0 , temos que kxn − xm k ≤ M kyn − ym k < M Mε = ε.
Vemos que (xn )n é uma sequência de Cauchy em X e portanto converge para algum
x ∈ X, já que X é completo. Pela continuidade de T , yn = T (xn ) → T (x), o que mostra
que (yn )n converge.
Observação 1.39. O teorema anterior nos diz que ‘ser Banach’ é preservado por isomor-
fismos. Talvez seja interessante observar que em espaços métrico em geral nem sempre ser
completo é preservado por homeomorfismos. Por exemplo, N e {1/n : n ∈ N} são homeo-
morfos pois ambos são enumeráveis e discretos. Porém, N é completo e {1/n : n ∈ N} não
(convença-se disso). O que acontece é que os isomorfismos são sempre homeomorfismos
uniformes, pela proposição 1.32. Estes sempre preservam a completude.
1.7. Aplicações Lineares 19
Como uma aplicação do teorema anterior, vamos mostrar que todo espaço de di-
mensão finita é de Banach.
Demonstração. Se V tem dimensão finita então a aplicação identidade de V, k · k em
V, k · k0 é sempre isomorfismo. Logo V, k · k e V, k · k0 têm a mesma topologia.
20 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
Demonstração. Seja (Tn )n uma sequência de Cauchy em L(X; Y ). Então para todo ε > 0,
existe algum n0 ∈ N tal que
Assim, para cada x ∈ X, kTn (x) − Tm (x)k = k(Tn − Tm )(x)k ≤ kTn − Tm kkxk. Então,
para cada x fixado temos por (∗) que a sequência (Tn (x))n uma sequência de Cauchy em
Y e portanto converge (pois Y é Banach). Defina T : X → Y pondo T (x) = lim Tn (x).
n→∞
Observe que, se x ∈ BX e n, m > n0
kTn (x) − T (x)k ≤ kTn (x) − Tm (x)k + kTm (x) − T (x)k ≤ kTn − Tm k + kTm (x) − T (x)k
< ε + kTm (x) − T (x)k.
1.8. O espaço L(X; Y ) 21
T (x + λy) = lim Tn (x + λy) = lim (Tn (x) + λTn (y)) = lim Tn (x) + λ lim Tn (y)
n→∞ n→∞ n→∞ n→∞
= T (x) + λT (y),
Logo, T é limitada em BX .
Se Y não é Banach não há motivo de L(X; Y ) ser. Daremos exemplo nos exercı́cios.
Pela densidade de BM em BM e pelo modo que T foi definida, vemos que supx∈M kT (x)k =
supx∈M kT (x)k = kT k, o que mostra que T é contı́nua e kT k = kT k.
1.9 Isometrias
(a) T é contı́nua;
(b) T é injetora;
Tendo em vista a proposição anterior, para uma imersão isométrica ser um isomor-
fismo basta que seja sobrejetora. Chameremos então uma imersão isométrica sobreje-
tora de isomorfismo isométrico ou simplesmente isometria. Se existir um isomorfismo
isométrico entre X e Y escreveremos X ≡ Y . Quando dois espaços são isométricos, existe
uma correspondência entre seus elementos que preserva tanto a estrutura algébrica quanto
a norma. Ou seja, podem ser diferentes como conjunto, mas são idênticos como espaços
normados.
A partir dai é fácil ver que as operações estão bem definidas. Por exemplo,
x + M = x + M ⇒ x0 − x ∈ M ⇒ λ(x0 − x) ∈ M ⇒ λx0 − λx ∈ M ⇒ λx0 + M = λx + M .
0
Agora suponha que X seja normado. Estamos interessados em definir uma norma
em X/M . Considere a função kx + M k = inf kx + mk. Como M é um subespaço, então
m∈M
inf kx + mk = inf kx − mk = d(x, M ) são outras formas de se calcular kx + M k. Temos
m∈M m∈M
o seguinte resultado.
kλ(x+M )k = kλx+M k = inf kλx+mk = inf kλx+λmk = |λ| inf kx+mk = |λ|kx+M k.
m∈M m∈M m∈M
O caso λ = 0 é trivial (note que 0 ∈ M !). Vemos então que k · k é uma semi-norma.
O proposição anterior nos diz que X/M é mais interessante quando M for fechado,
pois neste caso X/M é normado. Além disso, se X é completo, tal propriedade é repassada
para X/M :
Demonstração. Pela proposição anterior X/M é um espaço normado. Temos apenas que
X
mostrar que é completo. Usaremos a caracterização vista em 1.20. Seja xn + M uma
n∈N
X para cada n ∈ N
série absolutamente convergente em X/M . Pela definição de ı́nfimo,
existe yn ∈ xn + M com kyn k < kxn + M k + 2−n . Então a série yn é absolulamente
n∈N
convergente no espaço de Banach X e portanto converge. Seja y seu limite e considere a
classe y + M . Como
k k
k→∞
X X
k(y + M ) − (xn + M )k ≤ ky − yn k −→ 0,
n=1 n=1
X
vemos que xn +M converge para y+M . Mostramos então que toda série absolutamente
n∈N
convergente em X/M converge, o que equivale dizer que X/M é Banach.
(d) Ker π= M
Demonstração. (a) Pela definição das operações em X/M , π é claramente linear. Dado
x ∈ X, pela definição da norma em X/M temos que kπ(x)k = kx + M k ≤ kxk, o que
mostra que π é contı́nua.
1.10. O espaço Quociente 25
(d) Claro que M está contido no núcleo de π. Por outro lado, se π(x) 6= 0, então
x + M 6= 0 = M e assim kx + M k = d(x, M ) 6= 0. Logo x 6∈ M .
Para definirmos uma aplicação em X/M temos que tomar certo cuidado para não
depender da escolha dos representantes das classes. Veja como fizemos quando definimos
as operações em X/M . Neste sentido, o teorema seguinte é útil.
Também é imediato que S é linear e que T e S têm a mesma imagem. Suponha então
que M = Ker T . Então
Logo S é injetora.
Assim, S será contı́nua se, e somente se, T for contı́nua e em caso afirmativo, kSk = kT k.
Nos exercı́cios há algumas aplicações do teorema anterior. Dele também resultará o
Teorema do Isomorfismo para espaços de Banach, que é uma versão do conhecido teorema
homônimo para grupos. Mas antes precisaremos do Teorema da Aplicação Aberta, que
veremos na parte seguinte.
1.11 Exercı́cios
um contra-exemplo.
(e) Mostre que se F é fechado e K é compacto então F + K é fechado. Sugestão:
Use a caracterização de compacidade por sequência, válida para espaços métricos.
(f) Mostre que A + B ⊂ A + B. É válida a inclusão contrária? O item (d) pode
ajudar.
Espaços de Banach
9. Mostre que `p e Lp [0, 1] são separáveis se 1 ≤ p < ∞. Sugestão: Use o fato de que
as funções contı́nuas são densas em Lp [0, 1] (com a norma p!) se 1 ≤ p < ∞.
Aplicações Lineares
11. (a) Mostre que se X é um espaço normado de dimensão infinita e Y 6= {0}, então
existe uma aplicação linear de X em Y descontı́nua. Sugestão: Use uma base
algébrica de X e construa uma aplicação linear não limitada
(b) Conclua que se X é um espaço normado de dimensão infinita então X ∗ 6= X # .
13. Mostre que a imagem de um operador linear contı́nuo não precisa ser fechada.
15. Mostre que se Y não for Banach, então L(X, Y ) pode não ser completo. Sugestão:
Talvez seja fácil construir uma sequência de Cauchy em L(`∞ , c00 ) não convergente.
Na verdade, sempre que Y não for completo L(X, Y ) também não será. Veremos
isso mais adiante.
18. Verifique que uma aplicação linear entre espaços normados é contı́nua se, e somente
se, é limitada em alguma bola.
21. Mostre que c é isomorfo a c0 mas não isométrico. Sugestão: Para mostrar que não
são isométricos mostre que dado um elemento x ∈ c0 de norma 1, existem x1 e x2
distintos em c0 também de norma 1 tais que x = 21 (x1 + x2 ).
22. Mostre que `p pode ser isometricamente imerso em Lp [0, 1]. Ou seja, que `p é
isométrico a um subespaço de Lp [0, 1].
Quociente
27. (Operadores de Posto Finito) Um operador linear tem posto finito se sua imagem
(que é sempre um subespaço vetorial) tem dimensão finita. Mostre que um operador
linear de posto finito é contı́nuo se, e somente se, seu núcleo é fechado.
Sugestão: Um lado é direto. Para o outro, use o quociente do domı́nio do operador
por seu núcleo.
Compare com o exercı́cio 12. Observe que funcionais lineares têm posto finito.
Os Teoremas Fundamentais
Teorema 2.1. (de Baire) Seja M um espaço métrico completo. Então cada aberto de M
é de segunda categoria em M . Em particular, M é de segunda categoria em si próprio.
30
2.1. Consequências do Teorema de Baire 31
(a) p é contı́nua;
Demonstração. A única implicação que não é imediata é (c) ⇒ (a). Para demonstrá-la,
x−y
suponha que p(x) ≤ M para x ∈ B[0, r]. Então, se x, y ∈ X, temos que p r kx−yk ≤M e
−1
portanto p x − y ≤ M r kx − yk. Então
ou seja, ∆(ε) contém uma bola centrada na origem B(0, rε ). Podemos supor que rε ≤ ε.
Então, definindo o conjunto
def
A(ε) = B(0, rε ) ∩ ∆(ε),
temos que A(ε) é um subconjunto denso em B(0, rε ) (∗).
Como a famı́lia é pontualmente limitada, tal supremo é finito. Ainda, pela linearidade de
T vemos que p é uma semi-norma. Para mostrar que p é enumeravelmente sub-aditiva,
suponha que seja dada uma série convergente ∞
P
n=1 xn de termos em X. Para cada T ∈ F
fixado,
∞
X X ∞ ∞
X ∞
X
T xn = T (xn ) ≤ kT (xn )k ≤ p(xn ).
n=1 n=1 n=1 n=1
2.1. Consequências do Teorema de Baire 33
P
∞ P∞
Portanto, p x
n=1 n ≤ n=1 p(xn ). Assim, p é uma semi-norma enumeravelmente
sub-aditiva definida no espaço de Banach X. Então p é contı́nua, pelo Lema de Zabreı̆ko.
Logo, para ε = 1, existe δ > 0 tal que kxk ≤ δ ⇒ p(x) ≤ 1. Assim, se x ∈ BX , kδxk ≤ δ
e portanto p(δx) ≤ 1, o que implica p(x) ≤ δ −1 . Vemos então que, para cada x ∈ BX
fixado, kT (x)k ≤ sup{kT (x)k : T ∈ F} ≤ δ −1 , donde segue que kT k ≤ δ −1 , ∀ T ∈ F.
Logo, sup{kT k : T ∈ F} < ∞.
Demonstração. Claramente T é linear. Como (Tn (x))n converge então, para cada x ∈ X
a sequência (Tn (x))n é limitada. Pelo princı́pio da Limitação Uniforme, existe M tal que
kTn k ≤ M , ∀n ∈ N. Seja x ∈ BX . Dado ε > 0, existe N ∈ N tal que kTN (x) − T (x)k < ε,
e portanto
kT (x)k ≤ kTN (x) − T (x)k + kTN (x)k < ε + M, ∀ε > 0.
Teorema 2.7. (da Aplicação Aberta) Toda transformação linear contı́nua e sobrejetora
entre dois espaços de Banach é uma aplicação aberta.
P
∞
≤ ∞
P
Como ε > 0 era arbitrário, segue que p y
n=1 n n=1 p(yn ), e portanto p é
uma semi-norma enumeravelmente sub-aditiva. Como está definida no espaço de Banach
Y p é contı́nua pelo Lema de Zabreı̆ko. Assim, como T (UX ) = {y ∈ Y : p(y) < 1} =
p−1 (] − ∞, 1[), segue que T (UX ) é aberto em Y .
Corolário 2.8. Toda bijeção linear contı́nuas entre dois espaços de Banach é um isomor-
fismo.
Demonstração. Pois tal bijeção será aberta pelo teorema anterior, o que implica a con-
tinuidade de sua inversa.
2.1. Consequências do Teorema de Baire 35
Demonstração. Seja S : X/Ker T → T (X) a aplicação obtida pelo Teorema 1.50 com
M = Ker T . Então pelo referido teorema, S é uma bijeção linear contı́nua. Como T (X)
é Banach pois é fechado em Y , segue que S é um isomorfismo.
P∞ P∞
kT (xn )k converge. Logo, como a série absolutamente convergente
n=1 n=1 T (xn )
Pm (m→∞) P∞
está definida num espaço de Banach, converge. Note que n=1 xn −→ n=1 xn
Pm Pm (m→∞) P∞
e que T n=1 xn = T (xn ) −→ n=1 T (xn ). Vemos então que a sequência
Pm Pm n=1
n=1 xn , T xn m pertence ao gráfico de T e converge, na topologia produto de
Pn=1
X × Y , para ( n=1 xn , ∞
∞ P
n=1 T(xn ))m . Como o gráfico de T é fechado em X × Y , segue
P∞ P∞
que n=1 T (xn ) = T n=1 xn , o que implica que
∞
X X ∞ X ∞ X ∞ ∞
X
p xn = T x n = T (xn ) ≤ kT (xn )k = p(xn ).
n=1 n=1 n=1 n=1 n=1
Observação 2.12. Para mostrar que uma aplicação T : X → Y entre espaços normados
é contı́nua, em princı́pio temos que mostrar que
xn → x =⇒ T (xn ) → y e y = T (x).
O Teorema do Gráfico fechado diz que se X e Y forem espaços de Banach, então basta
mostrar que
xn → x e T (xn ) → y =⇒ y = T (x).
O exemplo seguinte, apesar de artificial, mostra que não podemos tirar a hipótese
“Banach”do contra-domı́nio de T . Nos execı́cios há um exemplo que mostra o análogo
para o domı́nio.
Exemplo 2.13. Seja (X, k · k) um espaço de Banach separável de dimensão infinita. Por
exemplo, X pode ser `1 ou c0 . Tome uma base algébrica {xi : i ∈ I} normalizada de X.
Então I é não enumerável (veja os exercı́cios). Cada x ∈ X se escreve de maneira única
P P
na forma x = αi xi (soma finita). Defina uma outra norma em X pondo kxk0 = |αi |.
Temos que X X
kxk ≤ |αi |kxi k = |αi | = kxk0 .
Logo, a identidade Id : X, k · k0 → X, k · k é contı́nua e portanto seu gráfico é
fechado, pela observação feita pouco antes do teorema. Claro que o gráfico de Id−1
também é fechado. Porém, Id−1 não pode ser contı́nua, pois se fosse, a identidade seria
um isomorfismo e X, k · k0 seria também separável, um absurdo, pois para i 6= j,
kxi − xj k0 = 2 e há uma quantidade não enumerávem de x0i s.
2.2. O Teorema de Hahn-Banach 37
e portanto
ϕ(x1 ) − p(x1 − y) ≤ p(y + x2 ) − ϕ(x2 ).
Assim, sup {ϕ(x) − p(x − y)} ≤ inf {p(y + x) − ϕ(x)}. Seja η ∈ R qualquer satisfazendo
x∈M x∈M
sup {ϕ(x) − p(x − y)} ≤ η ≤ inf {p(y + x) − ϕ(x)}. Então, pelo modo que η foi escolhido,
x∈M x∈M
Vejamos agora o caso geral. Na demonstração usaremos o Lema de Zorn cujo enunci-
ado destacaremos a seguir. Lembramos que um elemento m de um conjunto parcialmente
ordenado P é dito maximal se m ≤ x implica m = x, para qualquer x ∈ P.
Teorema 2.16. (de Hahn-Banach para espaços vetoriais reais) Sejam X um espaço ve-
torial sobre R, p : X → R sublinear e M um subespaço X. Se ϕ é um funcional linear
em M com
ϕ(x) ≤ p(x), ∀x ∈ M,
então existe φ ∈ X # tal que
φM = ϕ e φ(x) ≤ p(x), ∀x ∈ X.
Demonstração. Seja P a famı́lia de todos os pares N, ψ tais que N é um subespaço de X
que contém M e ψ é um funcional linear em N tal que ψ M = ϕ e ψ(x) ≤ p(x), ∀x ∈ N.
Note que P é não vazia, pois M, ϕ ∈ P. Definimos em P a seguinte ordem parcial
N1 , ψ1 ≤ N2 , ψ2 ⇐⇒ N1 ⊂ N2 e ψ2 = ψ1 .
N1
Usaremos o Lema de Zorn para mostrar que P possui um elemento maximal. Seja C
[
um cadeia (subconjunto totalmente ordenado) em P. Definimos N̄ = Ni e ψ̄ ∈ N #
i∈I
definido por ψ̄(x) = ψi (x), se x ∈ Ni . Note que como C é totalmente ordenado, N̄ é um
subespaço de X e ψ̄ está bem definida. Obviamente N̄ , ψ̄ ∈ P e é uma cota superior
de C. Pelo Lema de Zorn, P possui um elemento maximal N, φ . Vamos mostrar que
N = X.
Vejamos agora uma versão do teorema anterior válida para espaços complexos. Seja
X um espaço vetorial complexo. Restringindo a operação de multiplicação por escalar de
C para R, X pode ser visto como um espaço vetorial real. Denotaremos tal espaço por
XR . Diremos que um funcional u : X → R definida em um espaço vetorial complexo X é
R-linear se é um funcional em XR . Ou seja, se a definição de linearidade é satisfeita para
os escalares reais.
Por outro lado, dado φ ∈ X # definimos u(x) como sendo a parte real de φ(x). Então
claramente u é R-linear. Como a parte imaginária de um número complexo α é a parte
real de −iα, temos também que
Teorema 2.18. (de Hahn-Banach para espaços vetoriais) Sejam X um espaço vetorial
sobre K e M um subespaço de X. Suponha que ϕ : M → K seja um funcional linear e
que p : X → R seja uma semi-norma tais que |ϕ(x)| ≤ p(x), para todo x ∈ M . Então
existe φ ∈ X # tal que
φM = ϕ e |φ(x)| ≤ p(x), ∀x ∈ X.
Demonstração. Suponha primeiramente que X seja um espaço vetorial real e seja ϕ como
na hı́potese do teorema. Para x ∈ M , ϕ(x) ≤ |ϕ(x)| ≤ p(x). Então pelo Teorema de
Hahn-Banach real existe φ ∈ X ∗ tal que φM = ϕ e φ(x) ≤ p(x), ∀x ∈ X. Mas como
−φ(x) = φ(−x) ≤ p(−x) = p(x), segue que |φ(x)| ≤ p(x), ∀x ∈ X.
Suponha agora que X seja complexo. Pela proposição anterior podemos escrever
ϕ(x) = u(x) − iu(ix), x ∈ M , com u R-linear. Note que |u(x)| ≤ |ϕ(x)| ≤ p(x).
40 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
|φ(x)|≥0
−iθ −iθ −iθ −iθ
|φ(x)| = e φ(x) = φ(e x) = U (e x) − iU (ie x) = U (e−iθ x) ≤ p(e−iθ x) = p(x),
z}|{
Teorema 2.19. (de Hahn-Banach para espaços normados) Sejam X um espaço vetorial
sobre K, M um subespaço de X e ϕ : M → K um funcional linear contı́nuo em M . Então
existe φ ∈ X ∗ tal que
φ = ϕ e kφk = kϕk.
M
Pelo Teorema de Hahn-Banach, existe φ ∈ X ∗ tal que φM = ϕ e kφk = kϕk. Então
φ(x0 ) = ϕ(x0 ) = kx0 k e kφk = 1.
2.3. Exercı́cios 41
Demonstração. Se kϕk ≤ 1, então |ϕ(x)| ≤ kϕkkxk ≤ kxk. Logo supφ∈BX ∗ |ϕ(x)| ≤ kxk.
Mas pelo corolário anterior, existe φ ∈ SX ∗ tal que φ(x) = kxk. Então kxk = sup |ϕ(x)|
ϕ∈BX ∗
e o supremo é atingido em φ.
2.3 Exercı́cios
1. (a) Mostre que todo subespaço próprio de um espaço normado X tem interior vazio.
(b) Use o teorema de Baire para mostrar que não existem espaços de Banach de
dimensão enumerável.
6. Mostre que toda bilinear separadamente contı́nua (ou seja, contı́nua na primeira
variável e contı́nua na segunda separadamente) definida em espaços de Banach é
contı́nua. Sugestão: Use o Princı́pio da Limitação Uniforme.
7. Mostre que uma aplicação bilinear definida em espaços de dimensão finita é sempre
contı́nua.
10. O objetivo deste exercı́cio é mostrar que todo espaço separável é um quociente de `1 .
Seja X um espaço separável e considere um conjunto {dn : n ∈ N} denso em BX .
P
(a) Mostre que a (αn )n ∈ `1 7→ n∈N αn dn ∈ X é uma aplicação linear contı́nua de
`1 em X sobrejetora.
(b) Mostre que existe um subespaço fechado MX de `1 tal que `1 /MX ∼ = X.
Sugestão: Teorema do Isomorfismo.
X k
X
Pk : x = αn xn ∈ X 7→ αn xn ∈ [x1 , x2 , . . . , xk ]
n∈N n=1
Teorema de Hahn-Banach
12. Mostre que o operador identidade em c00 não pode ser estendido a uma aplicação
contı́nua de c0 em c00 .
\
13. Seja M um subespaço de um espaço normado X. Mostre que M = Ker ϕ : ϕM ≡ 0 .
14. Mostre que X ∗ separa pontos de X. Ou seja, mostre que dados x, y ∈ X com x 6= y
existe ϕ ∈ X ∗ tal que ϕ(x) 6= ϕ(y).
Duais e Biduais
É imediato que T é linear e injetora. Vamos mostrar que T é sobre c∗0 . Seja então ϕ ∈ c∗0 .
Para cada n, definimos βn = ϕ(en ), onde en = (0, . . . , 0, 1, 0, . . . , ). Tomamos γn escalar
de módulo 1 tal que |βn | = γn βn . Assim,
k k k
!
X X X
|βn | = γn ϕ(en ) = ϕ γn en ≤ kϕk,
n=1 n=1 n=1
44
3.1. O Espaço Dual 45
pois kn=1 γn en tem norma um em c0 . Logo, (βn )n ∈ `1 e k(βn )n k1 ≤ kϕk (2). Além
P
e portanto T (βn ) = ϕ, mostrando que T é sobrejetora. Finalmente, por (1) e (2) T é uma
isometria.
O exemplo anterior mostra que o dual de c0 pode ser identificado de umaX maneira
natural com `1 , onde a ação de (βn )n ∈ `1 em (αn )n ∈ c0 é dada por (βn )n (αn )n = βn α n .
n∈N
Exemplo 3.3. Se 1 ≤ p < ∞, o dual de Lp [0, 1] pode ser identificado com Lq [0, 1],
onde q é o conjugado de p. Se ϕ ∈ Lp [0, 1]∗ está identificado com g ∈ Lq [0, 1], então
R
ϕ(f ) = [0,1] f gdµ.
Proposição 3.5. Sejam A e B como na definição anterior. Então ⊥(A⊥ ) = [A]. Conse-
quentemente, se A é um subespaço de X, então ⊥(A⊥ ) = A.
Os anuladores podem ser usados para identificar certos duais. Vejamos alguns exem-
plos:
Mais explicitamente, o teorema anterior diz que (X/M )∗ pode ser identificado com
M ⊥ da seguinte forma: Se ϕ ∈ (X/M )∗ está identificado com m⊥ ∈ M ⊥ , então
m⊥ (x + M ) = m⊥ (x).
Demonstração. Considere T : X ∗ /M ⊥ → M ∗ definida por T (x∗ + M ⊥ ) = x∗ M . Temos
que mostrar que T está bem definida, ou seja, que independe dos representantes da classe
x∗ +M ⊥ . Tomamos então y ∗ +M ⊥ = x∗ +M ⊥ . Pela definição do quociente, y ∗ −x∗ ∈ M ⊥
e portanto y ∗ − x∗ se anula em M . Isso mostra que x∗ M = y ∗ M e T está bem definida.
Claramente T é linear. T também é sobrejetora pois dado m∗ ∈ M ∗ , basta tomarmos
m̃∗ ∈ X ∗ uma extensão de Hahn-Banach de m∗ que teremos T (m̃∗ + M ⊥ ) = m∗ . Resta
mostrar que T preserva norma.
Seja então x∗0 +M ⊥ ∈ X ∗ /M ⊥ e considere m∗ = T (x∗0 +M ⊥ ) ∈ M ∗ . Então m∗ = x∗0 M .
Tomamos uma extensão de Hahn-Banach x∗ ∈ X ∗ de m∗ . Então x0 e x coincidem em M
e portanto x∗0 + M ⊥ = x∗ + M ⊥ . Se y ⊥ ∈ M ⊥ , então
km∗ k = sup |x∗ (m)| = sup |(x∗ + y ⊥ )(m)| ≤ sup |(x∗ + y ⊥ )(x)| = kx∗ + y ⊥ k,
m∈BM m∈BM x∈BX
3.2. O Adjunto de um operador linear 47
e assim km∗ k ≤ inf kx∗ + y ⊥ k = kx∗ + M ⊥ k = kx∗0 + M ⊥ k. Mas por outro lado, kx∗0 +
y ⊥ ∈M ⊥
M ⊥ k ≤ kx∗ k = km∗ k. Isso mostra que T preserva norma e conclui a demonstração.
T ∗ (y ∗ ) = 0 ⇒ T ∗ (y ∗ )(x) = 0, ∀x ∈ X ⇒ y ∗ (T (x)) = 0, ∀x ∈ X ⇒ y ∗ ≡ 0,
Agora, se T é uma isometria, pelo que acabamos de fazer T ∗ é uma bijeção, e além
disso,
Corolário 3.11. Se dois espaços normados são isomorfos ou isométricos, então seus
duais têm a mesma propriedade.
Observação 3.12. A recı́proca do corolário não é verdadeira. Dois duais podem ser
isométricos sem que os espaços originais sejam isométricos. Por exemplo, o dual de c0 e
de c são isométricos a `1 e portanto são isométricos entre si. Porém c0 e c são isomorfos,
mas não isométricos. Veja os exercı́cios.
3.3 O Bidual
def
Seja X um espaço normado. O bidual é o espaço de Banach X ∗∗ = (X ∗ )∗ .
por Hahn-Banach. Logo iX (x) ∈ X ∗∗ e kiX (x)k = kxk. Isso mostra também que iX : X →
X ∗∗ é uma imersão isométrica. Salientamos que iX não é necessariamente sobrejetora.
Discutiremos isso a seguir. Antes, vejamos uma aplicação desta imersão.
3.3. O Bidual 49
Proposição 3.15. Um espaço normado tem o mesmo dual que seu completamento.
Demonstração. Claro que aqui “mesmo dual”significa “duais isométricos”. Como espaços
isométricos têm o mesmo dual, é suficiente provar o resultado para completamento de X
explicitado na demonstração do teorema anterior. Considere a aplicação
ky ∗ k = sup |y ∗ (z)| = sup |y ∗ (iX (x))| = sup |S(y ∗ )(x)| = kS(y ∗ )k,
z∈Bi x∈BX x∈BX
X (X)
Exemplo 3.16. c00 é denso em c0 que por sua vez é completo. Então c0 é o completamento
de c00 . A imersão isométrica T : c00 → c0 do Teorema 3.14 é a inclusão. Pela proposição
anterior o dual de c00 é igual ao de c0 . Então c∗00 = `1 .
Vimos no Teorema 3.7 que o dual de um subespaço M de X pode ser visto como um
quociente de X ∗ . A proposição seguinte nos mostra que o bidual de M pode ser visto
como um subespaço do bidual de X. Denotaremos por M ⊥⊥ o subespaço (M ⊥ )⊥ ⊂ X ∗∗ .
Proposição 3.17. Seja M um subespaço de um espaço normado X. Considere a isome-
tria T : X ∗ /M ⊥ → M ∗ dada pelo Teorema 3.7. Então a aplicação S : M ⊥⊥ → M ∗∗
definida por S(m⊥⊥ )(T (x∗ + M ⊥ )) = m⊥⊥ (x∗ ) é uma isometria.
= Q(m⊥⊥ )(x∗ + M ⊥ )
= m⊥⊥ (x).
A definição acima é devida a H. Hahn. Porém ele chamava tais espaços de regulares,
um termo um tanto vago.
No entanto, note que para um espaço ser reflexivo ele deve ser em particular isométrico
ao bidual, que sempre é completo. Então todo espaço reflexivo é de Banach.
Exemplo 3.19. Se X tem dimensão finita então, como vimos, X ∗ = X # . Sendo assim,
X e X ∗ têm a mesma dimensão. Logo, a imersão canônica deve ser sobrejetora, pois é
sempre injetora. Isso mostra que todo espaço normado de dimensão finita é reflexivo.
Logo, i(f ) = x∗∗ e portanto i : Lp [0, 1] → Lp [0, 1]∗∗ é sobrejetora, sendo Lp [0, 1] reflexivo.
Exemplo 3.21. De uma maneira bem parecida mostramos que `p é reflexivo se 1 < p <
∞. Deixaremos a demonstração como exercı́cio.
52 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
Exemplo 3.23. Considere c∗0 identificado com `1 da maneira usual. Tomamos o funcional
(2−n )n ∈ c∗0 . Então k(2−n )n k1 = 1, mas se (αn )n ∈ Bc0 , então vemos que
X X
|(2−n )n (αn )n | = | αn 2−n | < | 2−n | = 1,
n∈N n∈N
pois (αn )n converge a zero. Logo (2−n )n não atinge sua norma. Como já sabemos, c0 não
é reflexivo.
Teorema 3.24. Seu espaço normado é isomorfo a um espaço reflexivo, então também é
reflexivo.
Portanto, y ∗∗ = iY (T (x)).
Corolário 3.26. Um espaço de Banach é reflexivo se, e somente se, seu dual é reflexivo.
Demonstração. Suponha que X seja reflexivo. Temos que mostrar que a imersão
iX ∗ : X ∗ → X ∗∗∗ é sobrejetora. Dado Φ ∈ X ∗∗∗ , tomamos ϕ = Φ ◦ iX ∈ X ∗ . Então,
se x∗∗ ∈ X ∗∗ , existe x ∈ X tal que iX (x) = x∗∗ (pois X é reflexivo). Assim
Exemplos 3.27. Sabemos que c0 não é reflexivo. Pelo corolário anterior c∗0 também não
é. Consequentemente `1 ≡ c∗0 não é reflexivo. Analogamente, `∞ ≡ `∗1 não é reflexivo.
Como `p é (isométrico a) um subespaço de Lp [0, 1] (veja os exercı́cios), então Lp [0, 1]
também não é reflexivo se p = 1 ou p = ∞.
54 MAT5721 - Leonardo Pellegrini
3.5 Exercı́cios
Duais e Biduais
1. Mostre que o dual de c também pode ser identificado com `1 . Conclua que dois
espaços normados não isométricos podem ter duais isométricos.
3. Caracterize os elementos de c∗0 que atingem sua norma. Mostre que o conjunto de
tais funcionais é denso em c∗0 . Isso é um caso particular do Teorema de Bishop-
Phelps que diz que se X um espaço de Banach, o conjuntos dos elementos de X ∗
que atingem a norma é denso em X.
7. Mostre que se existe uma aplicação linear contı́nua de um espaço reflexivo X sobre
um espaço de Banach Y , então Y também é reflexivo.