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Declaração dos Direitos dos Acadêmicos1.

Por
David Horowitz.

I. A missão da Universidade.

A proposta central de uma Universidade é a busca da verdade, a descoberta de


novos conhecimentos através de estudos e pesquisas, o estudo e a crítica fundamentada das
tradições intelectuais e culturais, o ensino e o desenvolvimento integral dos estudantes para
auxiliá-los a se tornarem indivíduos criativos e cidadãos produtivos de uma democracia
pluralista e a transmissão do conhecimento e aprendizagem para a sociedade como um
todo. Livre investigação e livre discurso, dentro da comunidade acadêmica, são
indispensáveis para a realização destes objetivos. A liberdade de ensinar e de aprender
depende da criação de condições e oportunidades apropriadas em todo o campus, bem
como nas salas de aula e nos anfiteatros. Essas propostas refletem os valores – pluralismo,
diversidade, oportunidade, inteligência crítica, abertura e justiça – que são as pedras
fundamentais da sociedade Americana.

II. Liberdade Acadêmica.

1. O conceito. A liberdade Acadêmica e a diversidade intelectual são valores


indispensáveis para a universidade Americana. A partir de sua primeira formulação no
Relatório Geral do Comitê de Liberdade e Título Acadêmico2 da Associação Americana de
Professores Universitários (AAUP)3 , o conceito de liberdade acadêmica tem servido de
premissa para a ideia de que o conhecimento humano é uma busca incessante da verdade,
que não há uma verdade humanamente acessível que não esteja, em princípio, aberta para a
contestação, e não há partidários ou grupos intelectuais que detém o monopólio da
sabedoria. Sendo assim, é mais provável que a liberdade acadêmica se desenvolva em um
ambiente onde haja diversidade intelectual, que proteja e promova a independência de
pensamento e do discurso. Nas palavras do Relatório Geral, é essencial proteger “como
primeira condição para o progresso, [uma] completa e ilimitada liberdade de se debruçar
em investigações e publicar os seus resultados”.

1
Tradução livre por Saulo F. Brito: saulo.brito7@gmail.com – Mestrando em História da Filosofia pela
Universidade de Brasília.
2
General Report of the Committe on Academic Freedom and Tenure.
3
AAUP - American Association of University Professors.
Pois a liberdade de investigar e seus frutos são cruciais para o próprio projeto
democrático, liberdade acadêmica é um valor nacional também. Em uma histórica decisão
de 1967 (Keyishian contra o Conselho de Diretores da Universidade do Estado de Nova
York) a suprema corte dos Estados Unidos derrubou uma cláusula de lealdade do Estado
de Nova York para os professores com essas palavras: “Nossa nação está profundamente
comprometida em preservar a liberdade acadêmica, [um] valor transcendental para todos
nós e não apenas para os professores interessados”. Em Sweezy contra Nova Hampshire,
(1957) a Corte observou que “essencialmente, a liberdade nas comunidades acadêmicas
Americanas [era] quase auto evidente”.

2. A prática. A liberdade Acadêmica consiste em proteger a independência


intelectual dos professores, pesquisadores e estudantes na busca do conhecimento e a
manifestação das ideias; livre da interferência de legisladores ou autoridades dentro da
própria instituição. Isso significa que ortodoxias politicas, ideológicas ou religiosas não
serão impostas a professores e pesquisadores através dos processos de seleção ou mesmo
servirá de critério para a permanência do profissional no cargo ou de sua demissão, ou
ainda qualquer outro meio administrativo realizado pela instituição acadêmica. Nem à
legislatura cabe impor ortodoxias através de controle do orçamento universitário.

Essa proteção inclui os estudantes. A partir da primeira declaração da liberdade


acadêmica, isso tem sido reconhecido, a independência intelectual exprime a proteção aos
estudantes – bem como do corpo docente – da imposição de qualquer ortodoxia de
natureza política, religiosa e ideológica. O Relatório Geral de 1915 advertiu ao corpo
docente para que evitasse “aproveitar-se da injusta vantagem que possui do aluno imaturo,
doutrinando-o com as opiniões que são próprias do professor antes que o aluno pudesse
ter a oportunidade de analisar de modo justo, outras opiniões sobre as questões que estão
sendo debatidas, e antes que ele tenha capacidade de julgamento apurado e maturidade
suficiente de para ter o direito de formar a sua própria opinião”. Em 1967, a Declaração
Conjunta da AAUP sobre os Direitos e Liberdades de Estudantes4, reforçou e ampliou essa
medida liminar por entender que há uma inseparabilidade entre “a liberdade de ensinar e a
liberdade de aprender”. Nas palavras do relato “estudantes devem estar livres para
considerar as exceções fundamentadas aos dados ou pontos de vistas que são oferecidos
em qualquer curso de estudos e reservar o julgamento sobre assuntos de opiniões”.

4
AAUP’s Joint Statemant on Rights and Fredoom of Students.
Além disso, para assegurar a independência intelectual do corpo docente e dos
estudantes e para proteger o princípio de diversidade intelectual os princípios e
procedimentos a seguir devem ser observados.

Esses princípios aplicam-se completamente às universidades públicas e privadas que


apresentam a si mesmas como vinculadas pelos cânones da liberdade acadêmica.

Instituições privadas que optam por restringir a liberdade acadêmica, com base em
credo, tem a obrigação de ser o mais explícita possível sobre o escopo e natureza destas
restrições.

1. Todos os docentes deverão ser contratados, demitidos, promovidos e ter a


garantia de sua ocupação com base em sua competência e conhecimento apropriado no
campo de sua especialidade e, nas humanidades, nas ciências sociais, nas artes, com vistas a
promover uma pluralidade de metodologias e perspectivas. Nenhum membro do corpo
docente será contratado, demitido ou negado para uma promoção ou permanência no
cargo com base em suas crenças políticas ou religiosas.

2. Nenhum dos membros do corpo docente será excluído dos comitês de carreira
acadêmica, pesquisa e contratação com base em suas crenças políticas ou religiosas.

3. Os alunos serão considerados aptos à graduação unicamente considerando as


suas respostas e em suas fundamentações, no conhecimento adequado dos assuntos e
disciplinas que eles estudam, e não com base em suas crenças políticas ou religiosas.

4. Os currículos e as listas de leituras nas ciências humanas e sociais devem refletir a


incerteza e o caráter pendente de todo o conhecimento humano nessas áreas, devendo
fornecer aos alunos fontes discordantes e pontos de vistas divergentes quando for
necessário. Ainda que os professores sejam e devam ser livres para ir de encontro às suas
próprias descobertas e perspectivas quando apresentam os seus próprios pontos de vista,
eles devem considerar e fazer com que os alunos estejam cientes que se trata de uma
posição pessoal. As disciplinas acadêmicas devem recepcionar a diversidade de abordagens
para as questões que não estão estabelecidas.

5. Expor aos estudantes os diversos espectros dos pontos de vistas dos estudiosos
que são significativos para os assuntos que são abordados em seus cursos é uma das mais
graves responsabilidades do corpo docente. O corpo docente não fará uso dos seus cursos
para fins de doutrinação política, ideológica, religiosa ou antirreligiosa.
6. A seleção de palestrantes, a alocação de fundos para o programa de palestrantes e
as demais atividades estudantis deverão observar os princípios da liberdade acadêmica e
promoverão o pluralismo intelectual.

7. Um ambiente favorável para o intercâmbio civil das ideias tem sido um


componente essencial para a liberdade acadêmica; a obstrução de palestrantes convidados
ao campus, destruição da literatura disponível no campus ou qualquer outro esforço para
obstruir essas interações, não serão toleradas.

8. O conhecimento avança na medida em que os indivíduos estudiosos são


deixados livres para chegar às suas próprias conclusões sobre quais métodos, fatos e teorias
têm sido utéis e que validam a pesquisa. Instituições acadêmicas e associações profissionais,
formadas para o avanço e promoção do conhecimento dentro de uma área de pesquisa,
devem manter a integridade dos processos, e organizar a vida profissional de pesquisadores
relacionados, servindo como espaços indispensáveis nos quais circulam descobertas de
pesquisas acadêmicas e debatam suas interpretações. Para desempenhar essas funções
adequadamente, as instituições acadêmicas e as sociedades profissionais devem manter uma
postura de neutralidade organizacional em relação às diferenças substanciais que dividem
os pesquisadores em questões dentro ou fora de seus campos de investigação.

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