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1- Por muito tempo a história da doença mental brasileira foi lembrada

apenas como instrumento para viabilizar leis para manutenção das


instituições e da ordem social, pois não se praticava um trabalho
direcionado para a cura e sim apenas ao controle das crises não
levando em consideração os progressos de recuperação e a
reintegração do sujeito. Mas como estabelecer a razão e a liberdade
se os doentes mentais ainda continuam destituídos de direitos e
liberdade, onde os que não se enquadram nos padrões do momento
são excluídos e esquecidos nos hospitais psiquiátricos, antes
atendidos por instituições religiosas que via tudo por punições do
próprio Deus para depois passar as mãos dos médicos que não tinham
a prática e entendimento sobre a doença mental. Assim, a constituição
hospitalocêntrica surge como forma suposta de direcionar esse sujeito
a um tratamento que venha a proporcionar um controle de suas crises
e como também evitar danos a ordem social (FOUCAULT, 1926). No
contexto do que foi perguntado em relação assistência aos indviduos
nas instituições, vê-se segundo Foucault ( 1926-1984 ) a instituição
asilar servia apenas a um controle dessa população que crescia com
diversas enfermidades proporcionadas por fatores biológicos,
econômicas e políticas levando o indivíduo a novas atitudes seguidas
da desrazão. Esses primeiros passos seguiram apenas como um
trabalho de medicalização, vigilância e normatização do louco sem ter
como meta a sua reintegração ao contexto social, pois a psiquiatria
apenas tinha um papel moral e social desconectada do lado emocional
e psíquico.

2- Nos anos 80, o Brasil vivencia um cenário no qual a própria sociedade


anseia por mudanças na área da saúde que encontrava-se no caos,
abrindo caminho para as Conferências de Saúde Mental e
posteriormente a Reforma Psiquiátrica que adotaria princípios para
direcionar o novo atendimento aos portadores de doença mental
baseados nas diretrizes do SUS que tem como premissas a
universalidade, a integralidade e descentralização dos serviços. O
CAPS, no contexto das políticas públicas em saúde mental surge não
como um modelo assistencial, mas como um projeto que se lança para
o futuro, não se cristalizando numa estrutura de saber/poder, mas se
constituindo e construindo continuamente a partir das exigências
cotidianas dos seus usuários (CARNEIRO, 2008). Para que os ideais
da reforma psiquiátrica sejam efetivados e o sujeito possa ser livre de
preconceitos e reintegrado a sociedade e ao convívio familiar, faz-se
necessário uma política que garanta segurança ao doente,
oportunidades de trabalho e um atendimento de qualidade,
oportunizados pelos serviços de saúde e por profissionais com um
dialogo construtivo com outras áreas do conhecimento, como forma de
responder as necessidades e anseios dos doentes de transtornos
mentais e seus familiares de forma eficaz e responsável levando em
conta todos os aspectos que norteiam a vida desse ser.
3- Apesar da implantação do SUS e da reestruturação da assistência
psiquiátrica ainda se faz necessário estabelecer fundamentos que
orientem essa atenção à saúde mental, pois ainda se constata uma
fragilidade e ineficiência desses serviços por perpetuarem a prática da
visão hospitalocêntrica mantendo o mesmo ideal já ultrapassado que
não separam o sujeito de sua patologia mantendo um pensamento
estereotipado negando desta forma o seu direito a cidadania. A função
terapêutica de cada agente profissional e da sociedade deve está
presente em suas ações, mesmo que não palpáveis mas com
cuidados, livres de mitos e preconceitos respaldados pelo respeito
para recompor a dignidade humana levando em conta a linguagem
expressa pelo doente (CARNEIRO, 2008).
4- O tratamento para dependência química no Brasil está inserido no
campo da saúde mental e tem seu “berço” de tratamento nos CAPS
AD (Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas) se
opondo ao modelo hospitalar de internamento psiquiátrico que por
muito tempo gerenciou a questão da loucura e da dependência
química no Brasil. Esses centros têm um funcionamento apoiado pela
Política Nacional de Saúde Mental e norteados pela Política de
Redução de Danos, cujo foco de trabalho é a reabilitação psicossocial
de pessoas que fazem uso de Álcool e outras Drogas. A formatação
de trabalho destes centros configura uma equipe técnica formada por
diversas categorias de saúde tais como: psicólogos, terapeutas
ocupacionais, médicos clínicos, psiquiatras, assistentes sociais,
enfermeiros, técnicos de enfermagem entre outros. As equipes têm um
trabalho norteado por um modelo de funcionamento interdisciplinar,
sendo desse modo nomeados de técnicos em saúde mental Para atuar
no campo da saúde mental brasileira no âmbito de álcool e outras
drogas há como política norteadora a Redução de Danos (RD), que no
Brasil tornou-se popular com a troca de seringas para usuário
injetáveis com o objetivo de prevenir a proliferação do HIV e de outras
doenças entre o grupo de consumidores de heroína e cocaína adeptos
a essa via de administração. A RD criou força na Europa por alguns
movimentos sociais na década de 80 com o crescimento
epidemiológico da AIDS. Conceitualmente falando, ela seria
estratégias baseadas em fatos e não em crenças que observam as
consequências positivas e negativas do uso de drogas.

CARNEIRO, Normando Alves Siqueira. E por falar em Reforma Psiquiátrica:


dos primórdios à contemporaneidade. Livro Rápido: São Paulo, 2008.
FOUCAULT, Michel. A História da Loucura na Idade Clássica.. Perspectiva:
.São Paulo. 1997

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