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Para um aprofundamento maior sobre assunto recomenda-se a obra: L’attualità di Agostino de
Remo Piccolomini e Natalino Monopoli.
2
Cardeal Joseph Ratzinger, Homilia “pro eligendo romano pontifice”, 18 de abril de 2005.
3
Papa João Paulo II, Carta apostólica Augustinum Hipponensem.
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O seu “eu” e a realidade.
estava dentro de si, no seu espírito, “sabe-se que essa conversão teve um caminho muito
particular, porque não foi uma conquista da fé católica, mas uma reconquista. Ele a perdeu ,
perdendo-a, ele não abandonou a Cristo, mas apenas a Igreja.”5. Sem a intermediação da
Igreja ele não poderia encontrar-se com o Cristo. “Ele entendeu que a fé, com certeza, requer
uma autoridade divina, que essa autoridade não é maior do que a de Cristo, Supremo Mestre
- de que Agostinho nunca duvidou - e que a autoridade de Cristo se encontra nas Sagradas
Escrituras, e é garantidas pela autoridade da Igreja Católica.”6 (João Paulo II). Quantos hoje
não se encontram nesse limiar de encontro com o Cristo. O coração grita para encontrar-se
com Ele, porém há algo que impede. Um dos motivos que impedia Agostinho de encontrar-
se com tal verdade é uma das razões que talvez não permitam que muitos hoje não tenham
esse encontro. Reafirma-se o que foi dito acima, a Igreja não é a vilã da história, mas Mãe e
mestra e não se pode ter um encontro com verdadeiro com Cristo aquele que não se submete
primeiro ao Seu corpo que é a Igreja.
“Transforma-se o amador na cousa amada; por virtude do muito imaginar; não tenho
mais o que desejar; pois em mim já tenho a parte desejada.” Esse trecho do poema de
Camões expressa o segundo período ápice da conversão de Santo Agostinho. Com o auxílio
da Igreja, representada por santo ambrósio, ele percebeu que a verdade que tanto procurava
estava dentro dele, “O Senhor está mais próximo de nós, do que nós de nós mesmos —
«interior intimo meo et superior summo meo» (Confissões, III, 6, 11)7.
Uma das características singulares do ser humano é interioridade, capacidade de
reflexão8 porém tomados pelo ritmo frenético do cotidiano, muitas vezes, deixamos essa
capacidade lado e somos conduzidos somente pelas coisas exteriores. A rotina pesada, a
falta de admiração do mundo e a incapacidade de silenciar impedem o homem de perceber
quem ele é. A consequência de não nos conhecermos é não conhecer aquele que inabita em
nós, a trindade beatíssima: “Se alguém me ama guardará minha palavra; meu Pai o amará,
e nós viremos e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). Santo Agostinho, como mestre da
interioridade, é um exemplo para que nós possamos retomar a interioridade que é própria da
natureza do homem. “Eis que habitava dentro de mim e eu te procurava do lado de
fora.”(Confissões, X, 27, 38). A parte desejada estava dentro dele, e era necessário coragem
para deixar os estímulos que vinham de fora e olhar para dentro.
E desejar mais o que se “em mim já tenho a parte desejada”? Santo Agostinho como
ascético e místico percebe que o caminho para desejar somente o amado é cotidiano. “Nós
temos sempre necessidade de ser lavados por Cristo, que nos lava os pés, e por Ele
renovados. Temos necessidade de uma conversão permanente” 9(Bento XVI), esse
comentário se dá no contexto em que ele reflete o momento que o Santo percebe que era
necessário todos os dias da vida dele pedir perdão a Deus e que a perfeição, pedida por
Cristo, é gradual e somente “Cristo realiza verdadeira e completamente o Sermão da
montanha.”10
A santidade é Deus que realiza. Não se pode alcançar a santidade pelas próprias
forças, o santo padre vem nos alertando do perigo de um neopelagianismo e temos que ter
consciência de que necessitamos da ação da graça para conhecer e estar com Deus. Santo
5
Papa João Paulo II, Carta apostólica Augustinum Hipponensem.
6
Ibidem.
7
Papa Bento XVI, Angelus III Domingo de Advento "Gaudete", 11 de Dezembro de 2011.
8
Lucas, R.L. El hombre, espíritu encarnado: compendio de antropologia filosófica. Salamanca,
Ediciones Sígueme, 2013
9
Papa Bento XVI, Audiência geral: Santo Agostinho de Hipona (5), 27 de Fevereiro de 2008
10
Ibidem.
Agostinho para os tempos modernos é um um farol que ilumina a escuridão em que muitos
se encontram. Sua vida tem encontros significativos em que nós podemos ter exemplos do
uso correto da racionalidade, aprofundamento da fé e testemunho de perseverança. Tudo
isso porque ao encontrar a verdade que estava dentro dele iniciou um caminho em que o
amador aos poucos torna-se o amado: “Já não sou que que vivo, é cristo que vive em mim”
(Gl 2, 20).