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Engenharia Civil - Estradas

CURVA HORIZONTAL COM TRANSIÇÃO.


1. Introdução.
A existência de uma espiral de entrada e de saída na curva circular se torna
importante visando cumprir as seguintes funções:
a. Permitir uma variação contínua da superelevação.
No trecho em linha reta não há necessidade de inclinação transversal, ou seja,
superelevação da pista. Nos trechos em curva esta superelevação pode atingir 10% ou
até 12%, que dependem da velocidade e do raio. Neste caso existe a necessidade de se
ter um trecho em espiral para suavizar a superelevação ao longo da entrada e saída da
curva.
Se a superelevação for aplicada numa pista contendo uma curva circular simples,
podem-se ocorrer dois problemas. Se a superelevação for aplicada antes do PC teremos
um trecho reto com inclinação transversal o que é inconveniente. Se a superelevação for
aplicada logo após o PC teremos um degrau na pista.
Na prática alguns projetistas criam a superelevação no final da tangente e início
da curva, isso não é bom, pois tem excesso de elevação na tangente e falta no trecho em
curva.
b. Criar uma variação contínua da aceleração centrípeta na passagem do trecho
reto para o trecho circular.
Se a força centrípeta for maior que a força de atrito na pista, o veículo não
conseguirá descrever a curva e sairá da estrada.
m ⋅V 2
Sendo a força centrípeta Fc = , onde m é a massa do veículo, V sua
R
velocidade e R o raio da pista. Logo seu valor é nulo na reta dependendo do raio pode
atingir altos valores logo após o PC.
c. Gerar um traçado que possibilite ao veículo manter-se no centro de sua faixa
de rolamento.
Ao entrar na curva o movimento do volante não condiz com a curva que
acontece de uma vez no PC, isso devido ao volante ser girado em um intervalo de tempo
em que o carro percorre uma curva de raio variável.

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Neste caso a espiral de entrada possibilita que a trajetória do veículo coincida
com o traçado, ou pelo menos, se aproxime dele.

d. Providenciar um trecho sem descontinuidade de curvatura e esteticamente


agradável.
Essas curvas são chamadas de curvas de transição e possuem raio instantâneo
variando de ponto para ponto desde o valor do Rc (concordância com o trecho circular
de raio R) até o infinito (concordância com o trecho reto), conforme visto na Figura 01.

Figura 01 – perspectiva de curva horizontal.

2. Tipos de curvas de transição.


A curva de transição mais utilizada é a Clotóide por ser mais vantajosa do ponto
de vista técnico.
Clotóide ou espiral: de equação R ⋅ L = K , onde R é o raio, L o comprimento e
K uma constante;
É mais indicada porque:
a. É a curva descrita por um veículo, em velocidade constante, quando o
volante é girado com velocidade angular constante;
b. O grau G varia linearmente com o comprimento percorrido.
R ⋅ L = K ⇒ G = K '⋅ L

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V2
Como a aceleração centrípeta varia inversamente proporcional ao raio ac = ,
R
varia linearmente com o grau da curva ac = V 2 ⋅ G ⋅ const , e, portanto, varia com o
comprimento percorrido.
Variando a superelevação com o comprimento, o que é vantajoso, teremos a
superelevação e a aceleração centrípeta variando na mesma proporção, proporcionando
ao veículo mais conforto tanto no trecho em curva como na transição.

3. Características geométricas da espiral


A escolha da constante K da espiral está relacionado ao comprimento da
transição e ao raio do trecho circular.
É comum chamar de Ls o comprimento da curva de transição, nos pontos de
concordância das espirais com a circular. O raio instantâneo da espiral será Rc.
K = Ls ⋅ Rc
O valor de K determina o comprimento do arco que será percorrido para que a

curvatura varie de zero até 1


Rc , onde começa o trecho circular. Ou seja, o mesmo local

onde o grau da curva varia de zero até 1145,9156 .


Rc
Para cada valor de K temos uma clotóide diferente, conforme a Figura 02.

Figura 02 – clotóide com diferentes valores de K.

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4. Parâmetros da curva.
Sendo Ls o comprimento da transição e Rc o raio do trecho circular, temos:

Figura 03 – parâmetros da clotóide.


dL = R ⋅ dθ
dL dL L ⋅ dL
dθ = = =
R K K
L
Integrando, tem-se:
1 L2 L2
θ = ⋅ em que θ = em radianos
L 2 2 ⋅ Ls ⋅ Rc
dX = dL ⋅ cos θ
L
X = ∫ cos θ ⋅ dL
0

Desenvolvendo cos θ em série e integrando, tem-se:


 θ2 θ4 
X = L ⋅ 1 − + 
 10 216 
dY = dL ⋅ senθ
L
Y = ∫ senθ ⋅ dL
0

Desenvolvendo senθ em série e integrando, tem-se:

θ θ3 θ5 
Y = L ⋅ − + 
 3 42 1320 

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Em particular, no ponto SC da curva, onde R assume o valor de Rc e L é o
comprimento da espiral, que chamamos de Ls, temos:
Ls
θs = em radianos
2 ⋅ Rc
 θ s2 θ s4 
Xs = Ls ⋅ 1 − + 
 10 216 

 θ s θ s3 θ s5 
Ys = Ls ⋅  − + 
 3 42 1320 
Q = Xs − Rc ⋅ senθ s

p = Ys − Rc ⋅ (1 − cos θ s )

AC
TT = Q + ( Rc + p ) ⋅ tag
2
Dc = ( AC − 2 ⋅θ s ) ⋅ Rc

E=
( Rc + p ) − Rc
(
cos AC
2 )
TL = Xs − Ys ⋅ cot gθ s
Ys
TC =
senθ s
O valor de TT localiza os pontos TS e ST em relação ao PI, o valor de Q
abscissa do centro, serve para localizar o centro O’ em relação ao TS (ou ST), o valor de
p mede o afastamento da curva circular em relação às tangentes.

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Figura 04 – curva com transição.

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5. Comprimento da transição.
A entrada diretamente em uma curva causa um impacto devido a força
centrípeta, neste caso temos como exemplo a Figura 05.

Figura 05 – força centrípeta em uma curva circular.

Para reduzir esse impacto deve ser calculado um comprimento mínimo de


transição para estabelecer conforto e não ultrapassar um valor máximo da aceleração
centrípeta conforme a Figura 06.

Figura 06 - força centrípeta em uma curva com transição adequada.

Consideram-se três mínimos critérios para estabelecer o comprimento mínimo


de transição.
a. Critério dinâmico: consiste em estabelecer a taxa máxima de variação da
aceleração centrípeta por unidade de tempo, que representaremos por J na
relação a seguir.
ac V 2 Rc V3 V3
J= = = , em que Ls =
t Ls V Rc ⋅ Ls J ⋅ Rc
Na condição mais desfavorável, quando J=Jmáx e V=Vp, tem-se:
V p3
LS min =
J max ⋅ Rc
Critérios internacionais estabeleceram para J o valor de 0,6 m/s2/s. Substituindo
o valor de J e transformando a velocidade para KM/h, fica:
0, 036 ⋅ V p3
Lsmin = , para Vp em km/h e Rc e Ls em metros.
Rc

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b. Critério de tempo: estabelece o tempo mínimo de 2 segundos para o giro do
volante e, conseqüentemente, para o percurso da transição.
Lsmin = 2 ⋅ V p , para unidades em um mesmo sistema.

Usando Vp em km/h e Lsmin em metros, temos:


Vp
Lsmin =
1,8

c. Critério estético: estabelece que a diferença de greide entre a borda e o eixo


não pode ultrapassar um certo valor, que depende da velocidade de projeto.
É recomendado como valores tabelados de inclinação o representado pela Tabela
01 abaixo, recomendando como critério para o cálculo do comprimento mínimo para o
trecho de variação da superelevação.
Tabela 01 – inclinação máxima da borda em relação ao eixo.
Vp
30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Km/h
Inclinação
0,75 0,70 0,65 0,60 0,55 0,50 0,48 0,45 0,42 0,40
relativa %

É recomendável utilizar esse comprimento mínimo da transição como sendo o


mesmo utilizado na variação da superelevação.
A variação da inclinação relativa máxima com a velocidade de projeto
irmax = f (V p ) pode ser representada por duas retas:

irmax = 0,9 − 0, 005 ⋅ V p para V p ≤ 80 km/h e ir em %.

irmax = 0, 71 − 0, 0026 ⋅ V p V p ≥ 80 km/h e ir em %.

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Figura 07 – inclinação relativa da borda externa.

Da Figura 07 temos:
e⋅lf
Ls ⋅ ir = e ⋅ l f ⇒ Lsmin =
irmax
Portanto,
e⋅lf
Lsmin = , paraV p ≤ 80 km / h, e;
0,9 − 0, 005 ⋅V p
e⋅lf
Lsmin = , paraV p ≥ 80 km / h.
0, 71 − 0, 0026 ⋅V p

Para e em %, lf em metros e Vp em km/h.

Com esses valores e fazendo lf=3,6 m, temos a Tabela 02. Esses valores
arredondados são apresentados pela Tabela 03.
Tabela 02 – comprimento mínimo da variação da superelevação.

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Tabela 03 – valores arredondados para o comprimento mínimo da transição.

Além do valor mínimo também é necessário se preocupar com o valor máximo,


quando o SC e o CS encontram-se no centro da curva.
Para obter o comprimento máximo, que corresponde a SC=CS, basta impor
AC
δ c = 0 na equação AC = 2φ s + δ c . Temos AC = 2φ s , logo φ s = .
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Sendo Ls = 2φ s ⋅ Rc ,

Lsmax = AC ⋅ Rc , para Lsmax e Rc em metros e AC em radianos, ou

π ⋅ AC ⋅ Rc
Lsmax = , para Lsmax e Rc em metros e AC em graus.
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O comprimento de transição Ls pode ser um valor qualquer escolhido entre os
limites Lsmin e Lsmax.
A experiência mostra que valores de J=0,3m/s2/2 são bastante confortáveis, não
sendo necessário o uso de valores menores.
Desta forma é sugerido adotar Ls=2Lsmin (calculado pelo critério dinâmico), que
corresponde a J=0,3m/s2/s. chamaremos o valor assim obtido de Ls desejável.
Seria ideal utilizar o mesmo valor de J para todas as curvas. Isso significa
utilizar a mesma espiral, visto que:
V3 V3
J= ⇒J= , em que V é constante.
Ls ⋅ Rc K
Para usar o mesmo J em todas as curvas devemos adotar o seguinte
procedimento:

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1. Calcular para cada curva de transição, o comprimento mínimo (considerando
os três critérios) e o comprimento máximo, adotando, para esse parâmetro, o
0, 072 ⋅V 3
menor valor entre Lsdes = e Lsmax = AC ⋅ Rc .
Rc
2. Com o comprimento mínimo e o comprimento máximo obtemos, para cada
curva, o Jmax e o Jmin, respectivamente.
3. Tomando o maior Jmin e o menor Jmax, determinamos um intervalo de
variação do J, comum a todas as curvas, dentro do qual escolheremos o valor
de J único.
4. Podemos escolher o limite inferior do intervalo (menos J comum a todas as
curvas), pois assim, estaremos com uma boa reserva de conforto e segurança
sem incorrer no inconveniente de uma curva longa em demasia, porque o J
desejável foi incluído no cálculo do intervalo.

Exercícios
1. Considerando o projeto de uma rodovia para 100km/h. Calcular o
comprimento de transição mínimo, máximo e o desejável para uma curva
horizontal cujo raio no trecho circular é de 600,00 metros, a superelevação é
de 9%, o ângulo é de 60º e a largura da faixa de tráfego é 3,6m.
Resposta: Lsmin=72,00m; Lsmax 628,32m;Lsdes=120,00m.

2. Com os dados do exercício 1, adotando Ls=120,00m, calcular os seguinte


elementos da curva: φ s, Xs, Ys, Q, p, TT .
Fazer o croqui indicando os elementos calculados.
Respostas.
φs = 0,1rad
X s = 119,88m
Ys = 4, 00m
Q = 59,88m
p = 1, 00m
TT = 406,97 m

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