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Nosso grupo de viagem, Renata e eu (jornalistas), Eugênio (meu pai, historiador), meu marido Fabrício (biólogo) e
a pequena Liz, filhota de um ano, todos nascidos e criados em meio às montanhas, testemunhávamos, de pontos de
vista aguçados por nossas profissões, outro crime com precedentes, cometido pelas exploradoras do minério de
ferro. Embora não tivéssemos nenhuma responsabilidade direta, o senso de cidadania unia nosso estarrecimento e
latejava mudo em cada um de nós. E a mesma pergunta silenciosa urrava: até quando assistiríamos à mineração
tendo aval no Legislativo, Executivo e na sociedade civil para matar pessoas e destruir o meio ambiente,
impunemente.e.por.dinheiro?
Sim, são assassinos. Acidente é algo improvável e imprevisível. Estamos há 17 anos registrando rompimentos
bianuais de barragens em Minas Gerais, com causas específicas ou variadas, julgados em processos que nada
concluem. Não é preciso ser especialista para saber que são mais do mesmo. Estão esburacando nossa terra para
sustentar a industrialização de outras nações. Possuem licença para explorar sem medida tudo o que está aí e
autorização legal para monitorarem sua segurança. Ineficientemente, dadas as mortes e estragos frequentes. Mas a
justiça nunca é feita, e os desastres são tratados como isolados e incontroláveis.
Balela. Para mim, todo aquele que contribui para a manutenção desse esquema carrega consigo o cheiro do sangue.
E é responsável pelo desequilíbrio ambiental do País, comprometendo, inclusive, o futuro de gerações. Não
entendo como dormem, sabendo que milhares de famílias, histórias e ecossistemas foram dizimados pela busca
insana do lucro.