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17/02/2016 PLENÁRIO
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Relatório
17/02/2016 PLENÁRIO
RELATÓRIO
HC 126292 / SP
manejo de habeas corpus contra decisório do Tribunal a quo
atacável pela via de recurso especial (v.g.: (HC 287.657/SP, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 04/12/2014;
HC 289.508/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, DJe 03/12/2014; HC 293.916/RS, Rel.
Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJe 11/12/2014; HC
297.410/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
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Relatório
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Voto - MIN. TEORI Z AVASCKI
Supremo Tribunal Federal
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17/02/2016 PLENÁRIO
VOTO
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. TEORI Z AVASCKI Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 122
HC 126292 / SP
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Voto - MIN. TEORI Z AVASCKI Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 122
HC 126292 / SP
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determinadas pelo art. 594 do CPP (posteriormente revogado pela Lei
11.719/2008) haviam sido recepcionadas pela Constituição Federal de 1988,
o Plenário desta Corte, nos autos do HC 72.366/SP (Rel. Min. Néri da
Silveira, DJ 26/1/1999), mais uma vez invocou expressamente o princípio
da presunção de inocência para concluir pela absoluta compatibilidade do
dispositivo legal com a Carta Constitucional de 1988, destacando, em
especial, que a superveniência da sentença penal condenatória recorrível
imprimia acentuado “juízo de consistência da acusação”, o que autorizaria,
a partir daí, a prisão como consequência natural da condenação.
Em diversas oportunidades – antes e depois dos precedentes
mencionados –, as Turmas do STF afirmaram e reafirmaram que princípio
da presunção de inocência não inibia a execução provisória da pena
imposta, ainda que pendente o julgamento de recurso especial ou
extraordinário: HC 71.723, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ
16/6/1995; HC 79.814, Rel. Min. Nelson Jobim, Segunda Turma, DJ
13/10/2000; HC 80.174, Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJ
12/4/2002; RHC 84.846, Rel. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ 5/11/2004;
RHC 85.024, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ 10/12/2004; HC
91.675, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe de 7/12/2007; e HC
70.662, Rel. Min. Celso de Mello, Primeira Turma, DJ 4/11/1994; esses dois
últimos assim ementados:
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HC 126292 / SP
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“(…) - A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL NÃO
IMPEDE - PRECISAMENTE POR SE TRATAR DE
MODALIDADE DE IMPUGNAÇÃO RECURSAL
DESVESTIDA DE EFEITO SUSPENSIVO - A IMEDIATA
EXECUÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA,
INVIABILIZANDO, POR ISSO MESMO, A CONCESSÃO DE
LIBERDADE PROVISÓRIA MEDIANTE FIANÇA”.
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HC 126292 / SP
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estabelece:
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HC 126292 / SP
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perante as câmeras de TV e presenciado por todo o país” (HC 84078, Relator(a):
Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, DJe de 26/2/2010).
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extraordinário – têm, como se sabe, âmbito de cognição estrito à matéria de
direito. Nessas circunstâncias, tendo havido, em segundo grau, um juízo
de incriminação do acusado, fundado em fatos e provas insuscetíveis de
reexame pela instância extraordinária, parece inteiramente justificável a
relativização e até mesmo a própria inversão, para o caso concreto, do
princípio da presunção de inocência até então observado. Faz sentido,
portanto, negar efeito suspensivo aos recursos extraordinários, como o
fazem o art. 637 do Código de Processo Penal e o art. 27, § 2º, da Lei
8.038/1990.
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progressivamente mais gravosa, conforme a imputação evolui.
Por exemplo, para impor a uma busca domiciliar, bastam
‘fundadas razões’ - art. 240, § 1º, do CPP. Para tornar implicado
o réu, já são necessários a prova da materialidade e indícios da
autoria (art. 395, III, do CPP). Para condená-lo é imperiosa a
prova além de dúvida razoável.
Como observado por Eduardo Espínola Filho, ‘a presunção
de inocência é vária, segundo os indivíduos sujeitos passivos do
processo, as contingências da prova e o estado da causa’.
Ou seja, é natural à presunção de não culpabilidade evoluir
de acordo com o estágio do procedimento. Desde que não se
atinja o núcleo fundamental, o tratamento
progressivamente mais gravoso é aceitável. (…)
Esgotadas as instâncias ordinárias com a condenação à pena
privativa de liberdade não substituída, tem-se uma declaração,
com considerável força de que o réu é culpado e a sua prisão
necessária.
Nesse estágio, é compatível com a presunção de não
culpabilidade determinar o cumprimento das penas, ainda que
pendentes recursos” (in: Marco Aurélio Mello. Ciência e
Consciência, vol. 2, 2015).
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consagra como causa de inelegibilidade a existência de sentença
condenatória por crimes nela relacionados quando proferidas por órgão
colegiado. É dizer, a presunção de inocência não impede que, mesmo antes
do trânsito em julgado, o acórdão condenatório produza efeitos contra o
acusado.
“a) Inglaterra.
Hoje, a legislação que trata da liberdade durante o trâmite
de recursos contra a decisão condenatória é a Seção 81 do
Supreme Court Act 1981. Por esse diploma é garantida ao
recorrente a liberdade mediante pagamento de fiança enquanto
a Corte examina o mérito do recurso. Tal direito, contudo, não é
absoluto e não é garantido em todos os casos. (…)
O Criminal Justice Act 2003 representou restrição
substancial ao procedimento de liberdade provisória, abolindo a
possibilidade de recursos à High Court versando sobre o mérito
da possibilidade de liberação do condenado sob fiança até o
julgamento de todos os recursos, deixando a matéria quase que
exclusivamente sob competência da Crown Court’. (…)
Hoje, tem-se que a regra é aguardar o julgamento dos
recursos já cumprindo a pena, a menos que a lei garanta a
liberdade pela fiança.
(...)
b) Estados Unidos.
A presunção de inocência não aparece expressamente no
texto constitucional americano, mas é vista como corolário da
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5ª, 6ª e 14ª Emendas. Um exemplo da importância da garantia
para os norte-americanos foi o célebre Caso ‘Coffin versus Estados
Unidos’ em 1895.
Mais além, o Código de Processo Penal americano (Criminal
Procedure Code), vigente em todos os Estados, em seu art. 16
dispõe que ‘se deve presumir inocente o acusado até que o
oposto seja estabelecido em um veredicto efetivo’.
(…)
Contudo, não é contraditório o fato de que as decisões
penais condenatórias são executadas imediatamente seguindo o
mandamento expresso do Código dos Estados Unidos (US Code).
A subseção sobre os efeitos da sentença dispõe que uma decisão
condenatória constitui julgamento final para todos os propósitos,
com raras exceções.
(…)
Segundo Relatório Oficial da Embaixada dos Estados
Unidos da América em resposta a consulta da 2ª Câmara de
Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, “nos
Estados Unidos há um grande respeito pelo que se poderia
comparar no sistema brasileiro com o ‘juízo de primeiro grau’,
com cumprimento imediato das decisões proferidas pelos
juízes”. Prossegue informando que “o sistema legal
norteamericano não se ofende com a imediata execução da pena
imposta ainda que pendente sua revisão”.
c) Canadá
(…)
O código criminal dispõe que uma corte deve, o mais rápido
possível depois que o autor do fato for considerado culpado,
conduzir os procedimentos para que a sentença seja imposta.
Na Suprema Corte, o julgamento do caso R. v.
Pearson(1992) 3 S.C.R. 665, consignou que a presunção da
inocência não significa, “é claro”, a impossibilidade de prisão do
acusado antes que seja estabelecida a culpa sem nenhuma
dúvida. Após a sentença de primeiro grau, a pena é
automaticamente executada, tendo como exceção a
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possibilidade de fiança, que deve preencher requisitos rígidos
previstos no Criminal Code, válido em todo o território canadense.
d) Alemanha
(…)
Não obstante a relevância da presunção da inocência,
diante de uma sentença penal condenatória, o Código de
Processo Alemão (…) prevê efeito suspensivo apenas para
alguns recursos. (…)
Não há dúvida, porém, e o Tribunal Constitucional assim
tem decidido, que nenhum recurso aos Tribunais Superiores tem
efeito suspensivo. Os alemães entendem que eficácia (…) é uma
qualidade que as decisões judiciais possuem quando nenhum
controle judicial é mais permitido, exceto os recursos especiais,
como o recurso extraordinário (…). As decisões eficazes, mesmo
aquelas contra as quais tramitam recursos especiais, são aquelas
que existem nos aspectos pessoal, objetivo e temporal com efeito
de obrigação em relação às consequências jurídicas.
e) França
A Constituição Francesa de 1958 adotou como carta de
direitos fundamentais a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789, um dos paradigmas de toda positivação de
direitos fundamentais da história do mundo pós-Revolução
Francesa. (…)
Apesar disso, o Código de Processo Penal Francês, que vem
sendo reformado, traz no art. 465 as hipóteses em que o Tribunal
pode expedir o mandado de prisão, mesmo pendentes outros
recursos. (…)
f) Portugal
(...)
O Tribunal Constitucional Português interpreta o princípio
da presunção de inocência com restrições. Admite que o
mandamento constitucional que garante esse direito remeteu à
legislação ordinária a forma de exercê-lo. As decisões dessa mais
alta Corte portuguesa dispõem que tratar a presunção de
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inocência de forma absoluta corresponderia a impedir a execução
de qualquer medida privativa de liberdade, mesmo as cautelares.
g) Espanha
(…)
A Espanha é outro dos países em que, muito embora seja a
presunção de inocência um direito constitucionalmente
garantido, vigora o princípio da efetividade das decisões
condenatórias. (…)
Ressalte-se, ainda, que o art. 983 do Código de Processo
Penal espanhol admite até mesmo a possibilidade da
continuação da prisão daquele que foi absolvido em instância
inferior e contra o qual tramita recurso com efeito suspensivo em
instância superior.
h) Argentina
O ordenamento jurídico argentino também contempla o
princípio da presunção da inocência, como se extrai das
disposições do art. 18 da Constituição Nacional.
Isso não impede, porém, que a execução penal possa ser
iniciada antes do trânsito em julgado da decisão condenatória.
De fato, o Código de Processo Penal federal dispõe que a pena
privativa de liberdade seja cumprida de imediato, nos termos do
art. 494. A execução imediata da sentença é, aliás, expressamente
prevista no art. 495 do CPP, e que esclarece que essa execução só
poderá ser diferida quando tiver de ser executada contra mulher
grávida ou que tenha filho menor de 6 meses no momento da
sentença, ou se o condenado estiver gravemente enfermo e a
execução puder colocar em risco sua vida” (Garantismo Penal
Integral, 3ª edição, ‘Execução Provisória da Pena. Um
contraponto à decisão do Supremo Tribunal Federal no Habeas
Corpus n. 84.078’, p. 507).
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que se refere ao recurso extraordinário, com a edição da EC 45/2004, ao
inserir como requisito de admissibilidade desse recurso a existência de
repercussão geral da matéria a ser julgada, impondo ao recorrente, assim,
o ônus de demonstrar a relevância jurídica, política, social ou econômica
da questão controvertida. Vale dizer, o Supremo Tribunal Federal
somente está autorizado a conhecer daqueles recursos que tratem de
questões constitucionais que transcendam o interesse subjetivo da parte,
sendo irrelevante, para esse efeito, as circunstâncias do caso concreto. E,
mesmo diante das restritas hipóteses de admissibilidade dos recursos
extraordinários, tem se mostrado infrequentes as hipóteses de êxito do
recorrente. Afinal, os julgamentos realizados pelos Tribunais Superiores
não se vocacionam a permear a discussão acerca da culpa, e, por isso,
apenas excepcionalmente teriam, sob o aspecto fático, aptidão para
modificar a situação do sentenciado. Daí a constatação do Ministro
Joaquim Barbosa, no HC 84078:
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que assegura, em grau absoluto, o princípio da presunção da inocência – a
ponto de negar executividade a qualquer condenação enquanto não
esgotado definitivamente o julgamento de todos os recursos, ordinários e
extraordinários – tem permitido e incentivado, em boa medida, a indevida
e sucessiva interposição de recursos das mais variadas espécies, com
indisfarçados propósitos protelatórios visando, não raro, à configuração da
prescrição da pretensão punitiva ou executória.
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este que seria o oitavo recurso da defesa, foi apresentada petição
à presidente da terceira Seção. Cuidava-se de pedido da defesa
para – surpresa – reconhecimento da prescrição da pretensão
punitiva. No dia 24 de fevereiro de 2014, o eminente Ministro
Moura Ribeiro, proferiu decisão, cujo dispositivo foi o seguinte:
‘Ante o exposto, declaro de ofício a extinção da punibilidade do
condenado, em virtude da prescrição da pretensão punitiva da
sanção a ele imposta, e julgo prejudicado os embargos de
declaração de fls. 2090/2105 e o agravo regimental de fls.
2205/2213’” (Presunção de inocência e recursos criminais
excepcionais, 2015).
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11. Sustenta-se, com razão, que podem ocorrer equívocos nos
juízoscondenatórios proferidos pelas instâncias ordinárias. Isso é inegável:
equívocos ocorrem também nas instâncias extraordinárias. Todavia, para
essas eventualidades, sempre haverá outros mecanismos aptos a inibir
consequências danosas para o condenado, suspendendo, se necessário, a
execução provisória da pena. Medidas cautelares de outorga de efeito
suspensivo ao recurso extraordinário ou especial são instrumentos
inteiramente adequados e eficazes para controlar situações de injustiças ou
excessos em juízos condenatórios recorridos. Ou seja: havendo
plausibilidade jurídica do recurso, poderá o tribunal superior atribuir-lhe
efeito suspensivo, inibindo o cumprimento de pena. Mais ainda: a ação
constitucional do habeas corpus igualmente compõe o conjunto de vias
processuais com inegável aptidão para controlar eventuais atentados aos
direitos fundamentais decorrentes da condenação do acusado. Portanto,
mesmo que exequível provisoriamente a sentença penal contra si
proferida, o acusado não estará desamparado da tutela jurisdicional em
casos de flagrante violação de direitos.
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Voto - MIN. ED SON FACHIN
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17/02/2016 PLENÁRIO
VOTO
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Voto - MIN. ED SON FACHIN Inteiro Teor do Acórdão - Página 23 de 122
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Voto - MIN. ED SON FACHIN Inteiro Teor do Acórdão - Página 24 de 122
HC 126292 / SP
forma veem esse tema, considero que não se pode dar a essa regra
constitucional caráter absoluto, desconsiderando-se sua necessária
conexão a outros princípios e regras constitucionais que, levados em
consideração com igual ênfase, não permitem a conclusão segundo a qual
apenas após esgotadas as instâncias extraordinárias é que se pode iniciar
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a execução da pena privativa de liberdade.
Despiciendo dizer que nenhuma norma, especialmente as
de caráter principiológico, pode ser descontextualizada das demais normas
constitucionais para adquirir foros de verdadeiro super princípio, a ofuscar
a eficácia de outras normas igualmente sediadas no topo da pirâmide
normativa que é a Constituição.
Assim, tenho por indispensável compreender o princípio
da presunção de não culpabilidade, insculpido no art. 5º, LVII, da
Constituição Federal, em harmonia com outras normas constitucionais que
impõem ao intérprete a consideração do sistema constitucional como um
todo.
Não me refiro apenas ao princípio da duração razoável do
processo, hoje direito fundamental inscrito no art. 5º, LXXVIII, da CF, que
certamente vai de encontro a uma interpretação que sugira ter o princípio
da presunção de inocência o alcance de exigir manifestação definitiva dos
Tribunais Superiores, deles fazendo as vezes de terceira ou quarta
instâncias, para que a sanção criminal assentada nas instâncias ordinárias
possa ter eficácia.
Também não me refiro ao caso específico dos crimes
dolosos contra a vida e à constitucionalmente proclamada soberania dos
veredictos do Tribunal do Júri (art. 5º, XXXVIII, “c”, da CF) que, a meu ver,
opõe-se frontalmente à concepção segundo a qual as decisões
condenatórias dos jurados – adjetivadas pela Constituição de soberanas -
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ED SON FACHIN Inteiro Teor do Acórdão - Página 25 de 122
HC 126292 / SP
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Federal e ao locus nele ocupado pelo Supremo Tribunal Federal e Superior
Tribunal de Justiça.
Da leitura que faço dos artigos 102 e 105 da Constituição
da República, igualmente não depreendo, o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça, terem sido concebidos, na estrutura recursal
ali prevista, para revisar “injustiças do caso concreto”. O caso concreto tem,
para sua escorreita solução, um Juízo monocrático e um Colegiado, este
formado por pelo menos três magistrados em estágio adiantado de suas
carreiras, os quais, em grau de recurso, devem reexaminar juízos
equivocados e sanar injustiças.
O revolvimento da matéria fática, firmada nas instâncias
ordinárias, não deve estar ao alcance das Cortes Superiores, que podem
apenas dar aos fatos afirmados nos acórdãos recorridos nova definição
jurídica, mas não nova versão. As instâncias ordinárias, portanto, são
soberanas no que diz respeito à avaliação das provas e à definição das
versões fáticas apresentadas pelas partes.
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Voto - MIN. ED SON FACHIN Inteiro Teor do Acórdão - Página 26 de 122
HC 126292 / SP
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demonstrar que no julgamento de seu caso concreto malferiu-se um
preceito constitucional. Necessário que demonstre, além disso, no mínimo,
a transcendência e relevância da tese jurídica a ser afirmada pelo Supremo
Tribunal Federal.
A própria Constituição é que põe o Supremo Tribunal
Federal primordialmente a serviço da ordem jurídica e apenas
reflexamente a operar para apreciar situações de injustiças individuais.
Se a própria Constituição repele o acesso às Cortes
Superiores com o singular propósito de resolver uma alegada injustiça
individual, decorrente do erro de julgamento por parte das instâncias
ordinárias, não depreendo inconstitucionalidade no art. 27, § 2º, da Lei nº
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Voto - MIN. ED SON FACHIN Inteiro Teor do Acórdão - Página 27 de 122
HC 126292 / SP
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sorte e deixasse de opor novos embargos declaratórios. Isso significaria
dizer que a execução da pena privativa de liberdade estaria condicionada
à concordância do apenado.
É certo que a jurisprudência desta Suprema Corte, em
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Voto - MIN. ED SON FACHIN Inteiro Teor do Acórdão - Página 28 de 122
HC 126292 / SP
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Voto - MIN. ED SON FACHIN Inteiro Teor do Acórdão - Página 29 de 122
HC 126292 / SP
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interpretação mais restritiva sobre seu cabimento, em casos de teratologia,
são concedidos de ofício por esta Suprema Corte.
Sendo assim, tenho a honra de acompanhar o voto do
eminente relator.
É como voto.
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Voto - MIN. ED SON FACHIN Inteiro Teor do Acórdão - Página 30 de 122
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Voto - MIN. R OBERT O BARR OSO
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17/02/2016 PLENÁRIO
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Voto - MIN. R OBERT O BARR OSO Inteiro Teor do Acórdão - Página 32 de 122
HC 126292 / SP
VOTO
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HC 126292 / SP
2
Parte I
DELINEAMENTO DA CONTROVÉRSIA
I. A HIPÓTESE
1 Sobre o tema, v. Anthair Edgard de Azevedo Valente e Gonçalvez, Inciso LVII do art.
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Voto - MIN. R OBERT O BARR OSO Inteiro Teor do Acórdão - Página 34 de 122
HC 126292 / SP
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nesta Corte o entendimento de que essa norma não impedia a execução da
pena após a confirmação da sentença condenatória em segundo grau de
jurisdição, ainda que pendentes de julgamento os recursos extraordinário
(RE) e especial (REsp)1. Em linhas gerais, isso se dava pelo fato de que tais
recursos não desfrutam de efeito suspensivo nem se prestam a rever
condenações (a realizar a justiça do caso concreto), mas tão somente a
reconhecer eventual inconstitucionalidade ou ilegalidade dos julgados de
instâncias inferiores, sem qualquer reexame de fatos e provas.
1 Veja-se, nesse sentido, os seguintes julgados: (i) no Plenário: HC 68.726, Rel. Min. Néri da
Silveira, HC 72.061, Rel. Min. Carlos Velloso; (ii) na Primeira Turma: HC 71.723, Rel. Min.
Ilmar Galvão; HC 91.675, Rel. Min. Carmen Lúcia; HC 70.662, Rel. Min. Celso de Mello; e (iii)
na Segunda Turma: HC 79.814, Rel. Min. Nelson Jobim; HC 80.174, Rel. Min. Maurício Corrêa;
RHC 84.846, Rel. Min. Carlos Veloso e RHC 85.024, Rel. Min. Ellen Gracie. Confiramse, ainda,
as Súmulas 716 e 717: Súmula 716 “Admite-se a progressão de regime de cumprimento da
pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória. Súmula 717: “Não impede a progressão de regime de
execução da pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar
em prisão especial".
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Voto - MIN. R OBERT O BARR OSO Inteiro Teor do Acórdão - Página 35 de 122
HC 126292 / SP
4
defende.
2 Votaram com a maioria os Ministros Eros Grau, Celso de Mello, Marco Aurélio, Cezar Peluso,
Ayres Britto, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Votaram vencidos, pela manutenção
da orientação anterior, Menezes Direito, Joaquim Barbosa, Cármen Lúcia e Ellen Gracie.
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HC 126292 / SP
3 Sobre o tema, v. o trabalho seminal de Konrad Hesse, A força normativa da Constituição. In:
Escritos de derecho constitucional, 1983. Um desenvolvimento específico dessa questão foi
dado por Friedrich Muller, para quem a norma jurídica deve ser percebida como o produto
da fusão entre o programa normativo e o âmbito normativo. O programa normativo
corresponde ao sentido extraído do texto do dispositivo constitucional pela utilização dos
critérios tradicionais de interpretação, que incluem o gramatical, o sistemático, o histórico e o
teleológico. O âmbito normativo, por sua vez, identifica-se com a porção da realidade social
sobre a qual incide o programa normativo, que tanto condiciona a capacidade de a norma
produzir efeitos como é o alvo de sua pretensão de efetividade. V. Friedrich Müller, Métodos
de trabalho do direito constitucional, 2005. Sobre a relevância dos fatos para a interpretação
constitucional, v. Jean-Jacques Pardini, Le juge constitutionnel et le ‘fait’ en Italie et en France,
2001.
4 Luís Roberto Barroso, Curso de direito constitucional contemporâneo, 2015.
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HC 126292 / SP
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sem real proveito para a efetivação da justiça ou para o respeito às garantias
processuais penais dos réus. No mundo real, o percentual de recursos
extraordinários providos em favor do réu é irrisório, inferior a 1,5%6. Mais
relevante ainda: de 1.01.2009 a 19.04.2016, em 25.707 decisões de mérito
proferidas em recursos criminais pelo STF (REs e agravos), as decisões
absolutórias não chegam a representar 0,1% do total de decisões56.
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HC 126292 / SP
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os réus mais pobres não têm dinheiro (nem a Defensoria Pública tem
estrutura) para bancar a procrastinação. Não por acaso, na prática, tornase
mais fácil prender um jovem de periferia que porta 100g de maconha do
que um agente político ou empresário que comete uma fraude milionária.
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HC 126292 / SP
Portanto, eu acho que a advocacia criminal merece apreço, merece respeito e desempenha um
papel fundamental para a realização da justiça. Mas os advogados criminais não podem ser
condenados a, por dever de ofício, interporem um recurso descabido atrás de outro recurso
descabido para, ao final, colherem uma prescrição e a eventual não punição do seu cliente.
Esse é um destino inglório para qualquer profissional. No entanto, é um papel que se cumpre
porque o sistema permite, e o advogado se empenha em manter seu cliente fora da prisão.
Portanto, não é uma crítica ao advogado. É uma crítica ao sistema”.
9 De acordo com o CNJ, somente nos anos de 2010 e 2011, a Justiça brasileira deixou prescrever
2.918 ações envolvendo crimes de corrupção e lavagem de dinheiro
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/60017-justica-condena-205-por-corrupcao-lavagem-
eimprobidade-em-2012
8
função) no sentido da culpabilidade do agente. É necessário conferir ao art.
5º, LVII interpretação mais condizente com as exigências da ordem
constitucional no sentido de garantir a efetividade da lei penal, em prol dos
bens jurídicos que ela visa resguardar, tais como a vida, a integridade
psicofísica, a propriedade – todos com status constitucional.
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HC 126292 / SP
Parte II
FUNDAMENTOS JURÍDICOS PARA A POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO DA
CONDENAÇÃO PENAL APÓS A DECISÃO DE SEGUNDO GRAU
9
conforme se extrai do art. 5ª, LXI, da Carta de 19888.
15. Para chegar a essa conclusão, basta uma análise conjunta dos
dois preceitos à luz do princípio da unidade da Constituição. Veja-se que,
enquanto o inciso LVII define que “ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado da sentença penal condenatória”, logo abaixo, o inciso LXI
prevê que “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente”. Como se sabe, a
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HC 126292 / SP
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9 STF, MS 23452, Rel. Min. Celso de Mello: “OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO
TÊM CARÁTER ABSOLUTO. Não há, no sistema constitucional
brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto.”
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HC 126292 / SP
10 O insight pioneiro neste tema encontra-se em Ronald Dworkin, Taking rights seriously, 1977, p.
24 (onde se reproduz texto anterior, publicado como artigo, sob o título “The model of rules”,
University of Chicago Law Review 35:14, 1967-1968).
11 Humberto Ávila, Teoria dos princípios, 2003, p. 56; e Ana Paula de Barcellos, Ponderação,
racionalidade e atividade jurisdicional, 2005, p. 173-174.
12 Robert Alexy, Teoria de los derechos fundamentales, 1997, p. 86: “Princípios são normas que
ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades
jurídicas e reais existentes. Por isso, são mandados de otimização, caracterizados pelo fato de
que podem ser cumpridos em diferentes graus e que a medida devida de seu cumprimento
não só depende das possibilidades reais, mas também das jurídicas. O âmbito do
juridicamente possível é determinado pelos princípios e regras opostas.” (tradução livre).
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HC 126292 / SP
menor intensidade, sem que isso afete sua validade. Nos casos de colisão
de princípios, será, então, necessário empregar a técnica da ponderação 13,
12
tendo como fio condutor o princípio instrumental da proporcionalidade.
13 De forma simplificada, o processo ponderativo se dá a partir das três etapas. Na primeira, cabe
ao intérprete detectar no sistema as normas relevantes para a solução do caso, identificando
eventuais conflitos entre elas. Na segunda etapa, devem-se examinar os fatos, as
circunstâncias concretas do caso e sua interação com os elementos normativos. Já na terceira
etapa, os diferentes grupos de normas e a repercussão dos fatos serão analisados de forma
conjunta, de modo a apurar os pesos a serem atribuídos aos diversos elementos em
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II.2. A normas constitucionais em tensão na hipótese
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HC 126292 / SP
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efetividade e da credibilidade da Justiça, sobretudo diante da mínima
probabilidade de reforma da condenação, como comprovam as
estatísticas. Essa conclusão é reforçada pela aplicação do princípio da
proporcionalidade como proibição de proteção deficiente14.
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HC 126292 / SP
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A exigência de uma intervenção eficaz não é, porém, incompatível com a
defesa de uma intervenção mínima do direito penal. Um direito penal
efetivo, capaz de cumprir os seus objetivos, não precisa de excesso de
tipificações, nem de exacerbação de penas. Na clássica, mas ainda atual
lição de Cesare Beccaria: “A perspectiva de um castigo moderado, mas
inevitável, causará sempre uma impressão mais forte do que o vago temor de um
suplício terrível, em relação ao qual se apresenta alguma esperança de
impunidade”19.
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insuficiente os direitos fundamentais protegidos pelo direito penal. É
possível, subsidiariamente, construir outro fundamento, de estatura
infraconstitucional: com o acórdão penal condenatório proferido em grau
de apelação, a execução provisória da pena passa a constituir, em regra,
exigência de ordem pública, necessária para assegurar a credibilidade do
Poder Judiciário e do sistema penal. Vale dizer: ainda que não houvesse
um fundamento constitucional direto para legitimar a prisão após a
condenação em segundo grau – e há! –, ela se justificaria nos termos da
legislação ordinária. Não é difícil demonstrar o ponto.
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HC 126292 / SP
20 CPP. Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da
lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
21 Nesse sentido, confiram-se, exemplificativamente: (i) HC 89.238, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Segunda Turma, j. 29.05.2007, onde se lavrou: “Com relação ao tema da garantia da ordem
pública, faço menção à manifestação já conhecida desta Segunda Turma em meu voto
proferido no HC 88.537/BA e recentemente sistematizado nos HC’s 89.090/GO e 89.525/GO
acerca da conformação jurisprudencial do requisito dessa garantia. Nesses julgados, pude
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fase da investigação policial ou do processo penal, a prisão, desde que
fundamentadamente.
asseverar que o referido requisito legal envolve, em linhas gerais e sem qualquer pretensão
de exaurir todas as possibilidades normativas de sua aplicação judicial, as seguintes
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23 CF/88, art. 144. “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos: ...”. Vê-se, assim, que a ordem pública é, igualmente, um
conceito constitucional, associado à segurança pública. O uso abusivo da repressão penal em
outras épocas da vivência brasileira não deve impedir o seu uso legítimo, ponderado e
eficiente em um Estado democrático.
19
formalismo estéril.
22 Esta Corte, é claro, não se mostrou indiferente ao patente abuso do direito de recorrer,
determinando, em alguns desses casos, a imediata execução da condenação. Porém, essa
possibilidade não é suficiente para corrigir a disfuncionalidade existente no sistema recursal.
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HC 126292 / SP
ao AI 394.065-AgR-ED-EDED-EDv-AgR-AgR-AgR-ED, de relatoria
da Ministra Rosa Weber, relativo a crime de homicídio qualificado
cometido em 1991. Proferida a sentença de pronúncia, houve recurso
em todos os graus de jurisdição até a sua confirmação definitiva 23.
Posteriormente, deu-se a condenação pelo Tribunal do Júri e foi
interposto recurso de apelação. Mantida a decisão condenatória,
foram apresentados embargos de declaração (EDs). Ainda
20
inconformada, a defesa interpôs recurso especial. Decidido
desfavoravelmente o recurso especial, foram manejados novos EDs.
Mantida a decisão embargada, foi ajuizado recurso extraordinário,
inadmitido pelo eminente Min. Ilmar Galvão. Contra esta decisão
monocrática, foi interposto agravo regimental (AgR). O AgR foi
desprovido pela Primeira Turma, e, então, foram apresentados EDs,
igualmente desprovidos. Desta decisão, foram oferecidos novos EDs,
redistribuídos ao Min. Ayres Britto. Rejeitados os embargos de declaração,
foram interpostos embargos de divergência, distribuídos ao Min. Gilmar
Mendes. Da decisão do Min. Gilmar Mendes, que inadmitiu os EDiv, foi
ajuizado AgR, julgado pela Min. Ellen Gracie. Da decisão da Ministra,
foram apresentados EDs, conhecidos como AgR, a que a Segunda Turma
negou provimento. Não obstante isso, foram manejados novos EDs,
pendentes de julgamento pelo Plenário do STF. Portanto, utilizando-se de
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21
37. Tamanha ineficiência do sistema de justiça criminal já
motivou inclusive a elaboração, pela Comissão responsável por
acompanhar a implementação da Convenção Interamericana contra
a Corrupção, de que o país é parte, de recomendação ao Brasil no
sentido de “implementar reformas no sistema de recursos judiciais ou
buscar outros mecanismos que permitam agilizar a conclusão dos processos
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HC 126292 / SP
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eventual abuso ou erro das decisões de primeiro e segundo graus, o que
continua a poder ser feito pela via do habeas corpus. Além de poder
requerer, em situações extremas, a concessão de efeito suspensivo no RE
ou no REsp. Mas, de novo, à vista do ínfimo índice de provimento de tais
recursos, esta deverá ser uma manifesta exceção.
Parte III
FUNDAMENTOS PRAGMÁTICOS PARA O NOVO ENTENDIMENTO
26 Casos difíceis são aqueles para os quais não existe uma solução pré-pronta no Direito. A solução
terá de ser construída argumentativamente, à luz dos elementos do caso concreto, dos
parâmetros fixados na norma e de elementos externos ao Direito. Três situações geradoras de
casos difíceis são a ambiguidade da linguagem, os desacordos morais e as colisões de normas
constitucionais.
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HC 126292 / SP
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inarredável – porque assentada na ideia de justiça e na dignidade
da pessoa humana – deve o intérprete atualizar o sentido das
normas constitucionais (interpretação evolutiva) e produzir o
melhor resultado possível para a sociedade (interpretação
pragmática). A interpretação constitucional, portanto, configura
uma atividade concretizadora – i.e., uma interação entre o sistema,
o intérprete e o problema – e construtivista, porque envolve a
atribuição de significados aos textos constitucionais que
ultrapassam sua dicção expressa”27. (grifo acrescentado)
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HC 126292 / SP
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seletividade do sistema penal, e (iii) a quebra do paradigma de
impunidade.
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HC 126292 / SP
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II. DIMINUIÇÃO DA SELETIVIDADE DO SISTEMA CRIMINAL
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HC 126292 / SP
47. Não se trata de nivelar por baixo, mas de fazer justiça para
todos. Note-se, por exemplo, que a dificuldade em dar execução às
condenações por crimes que causem lesão ao erário ou à administração
pública (e.g., corrupção, peculato, prevaricação) ou crimes de natureza
econômica ou tributária (e.g., lavagem, evasão de divisas, sonegação)
estimula a criminalidade de colarinho branco e dá incentivo aos piores.
Como escrevi em recente texto acadêmico:
26
cultural importante no Brasil: a valorização dos bons em lugar
dos espertos. Quem tiver talento para produzir uma inovação
relevante capaz de baixar custos vai ser mais importante do que
quem conhece a autoridade administrativa que paga qualquer
preço, desde que receba vantagem. Esta talvez seja uma das
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HC 126292 / SP
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CONCLUSÃO
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HC 126292 / SP
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Voto - MIN. R OSA WEBER Inteiro Teor do Acórdão - Página 66 de 122
HC 126292 / SP
17/02/2016 PLENÁRIO
VOTO
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Voto - MIN. R OSA WEBER
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. R OSA WEBER Inteiro Teor do Acórdão - Página 68 de 122
HC 126292 / SP
Este Plenário apreciou o tema com profundidade, naquela
oportunidade, à luz da Constituição. Exarados votos, inclusive um
belíssimo, como sempre, do nosso eminente decano, Ministro Celso de
Mello, no sentido da prevalência do postulado da presunção de inocência,
ou da não culpabilidade, até o trânsito em julgado da decisão condenatória.
Há questões pragmáticas envolvidas, não tenho a menor dúvida, mas
penso que o melhor caminho para solucioná-las não passa pela alteração,
por esta Corte, de sua compreensão sobre o texto constitucional no aspecto.
Não ouso, Senhor Presidente, no momento, repito, com todo o
respeito, pedindo vênia ao eminente Relator e aos Ministros que o
acompanharam, afastar os fundamentos antes lembrados para referendar
a revisão da jurisprudência da Corte. Assim, forte no critério que expus
como norte da minha atuação nesta Casa, divirjo para conceder a ordem.
Pelo que depreendi do voto do Ministro Teori, o Ministro Falcão, no STJ,
indeferiu a liminar em impetração contra decisão do Tribunal de Justiça de
São Paulo que determinara "execute-se a pena", em execução provisória,
não se tratando de decreto de prisão cautelar.
Respeitosamente divirjo, portanto, concedendo a ordem. É
como voto.
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Voto - MIN. LUIZ FU X
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17/02/2016 PLENÁRIO
VOTO
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Voto - MIN. LUIZ FU X Inteiro Teor do Acórdão - Página 70 de 122
HC 126292 / SP
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Voto - MIN. LUIZ FU X
Supremo Tribunal Federal
Inteiro Teor do Acórdão - Página 71 de 122
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após a sentença, não iniciado o cumprimento da pena, pode a defesa
recorrer ad infinitum, correndo a prescrição. E veja que não há nenhuma
inércia do Ministério Público. Isso é uma situação, isso é teratológico,
absolutamente teratológico.
E, como hoje, efetivamente, essa presunção de inocência não
corresponde mais aquilo que se denomina de sentimento constitucional,
eu colho da obra da professora Patrícia Perrone Campos Mello, sobre
precedentes, que, às vezes, é fundamental o abandono dos precedentes em
virtude da incongruência sistêmica ou social. E, aqui, cito um trecho que
eu também repisei no voto da "Ficha Limpa", quando se alegava presunção
de inocência irradiando-se para o campo eleitoral.
Aqui, eu trago um texto muito interessante dessa eminente
doutrinadora da nossa Universidade. Então afirma ela:
“[…] A incongruência social alude a uma relação de
incompatibilidade entre as normas jurídicas e os standards sociais;
corresponde a um vínculo negativo entre as decisões judiciais e as
expectativas dos cidadãos."
Por outro lado, Konrad Hesse, na sua obra sobre "A Força
Normativa da Constituição", com tradução escorreita do eminente
Ministro Gilmar Mendes, na obra da Fabris Editor, afirmou:
"[...] Quanto mais o conteúdo de uma Constituição lograr
corresponder à natureza singular do presente, tanto mais seguro há de
ser o desenvolvimento de sua força normativa."
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Voto - MIN. C ÁRM EN LÚCIA
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17/02/2016 PLENÁRIO
VOTO
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Voto - MIN. C ÁRM EN LÚCIA
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Inteiro Teor do Acórdão - Página 74 de 122
HC 126292 / SP
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17/02/2016 PLENÁRIO
VOTO
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 76 de 122
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 77 de 122
HC 126292 / SP
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reprovável, ocorrido em Unaí, dos auditores fiscais do trabalho, em que o
assim reconhecido mandante foi condenado a cem anos de prisão e livrase,
solto, vai para casa em seguida. É algo incompreensível, incompreensível
para o senso comum, mas também para o senso técnico.
Um outro caso que nós acompanhávamos, na Presidência do
Supremo, de um deputado que, para solucionar a falta de vaga na Câmara,
decide matar a suplente. Manda matar a suplente.
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 78 de 122
HC 126292 / SP
nossa. Todos nós rezamos para que isso não ocorra. Mas simplesmente a
massa de processos não permite que sejamos oniscientes. E infelizmente
isso ocorre. Essa massa de recursos faz com que tenhamos esse quadro
constrangedor de impunidade.
3
casos isso é grave. Em todos os casos penais é grave.
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 79 de 122
HC 126292 / SP
foi objeto de uma reflexão muito séria por parte do Tribunal. Acho
importante o debate tendo como leitmotiv a ideia da presunção da não
culpabilidade.
A mim me parece que nós temos uma sinalização de um instituto
jurídico ou o desenho de uma assim chamada garantia institucional. O que
se quer fundamentalmente? Que determinadas premissas básicas sejam
seguidas. Agora, se nós notarmos, ao longo do desenho jurídico positivo,
vamos ver que o próprio legislador lida com esse tema de maneira variada,
dizendo, por exemplo, que bastam indícios para que se justifique a busca e
apreensão. Logo, portanto, atenuando a ideia de uma presunção de
inocência que tornasse o indivíduo quase que insuscetível de ser
investigado. Mas, para o recebimento da denúncia, já exige alguma coisa
mais densa, a ideia da materialidade.
4
O núcleo essencial da presunção de não culpabilidade impõe o ônus
da prova do crime e de sua autoria à acusação. Sob esse aspecto, não há
maiores dúvidas de que estamos falando de um direito fundamental
processual, de âmbito negativo.
Para além disso, a garantia impede, de uma forma geral, o tratamento
do réu como culpado até o trânsito em julgado da sentença. No entanto, a
definição do que vem a ser tratar como culpado depende de intermediação
do legislador.
Ou seja, a norma afirma que ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado da condenação, mas está longe de precisar o que vem
a ser considerar alguém culpado.
O que se tem é, por um lado, a importância de preservar o imputado
contra juízos precipitados acerca de sua responsabilidade. Por outro, uma
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 80 de 122
HC 126292 / SP
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ou nada. É disso que se cuida quando Eduardo Espínola Filho fala dessa
gradação.
Ou seja, é natural à presunção de não culpabilidade evoluir de acordo
com o estágio do procedimento. Desde que não se atinja o núcleo
fundamental, o tratamento progressivamente mais gravoso é aceitável.
Na hipótese que estamos analisando, ainda que a condenação não
tenha transitado em julgado, já foi estabelecida pelas instâncias soberanas
para análise dos fatos. Após o julgamento da apelação, estão esgotadas as
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HC 126292 / SP
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incompatível com a presunção de não culpabilidade que a pena passe a ser
cumprida, independentemente da tramitação do recurso.
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 83 de 122
HC 126292 / SP
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de que, declarada a culpa na fase de veredito, o dispositivo não mais se
aplica. Ou seja, com a declaração da culpa, cessa a presunção,
independentemente do cabimento de recursos.
Os Estados Unidos adotam standards bastante rigorosos nessa seara.
A legislação processual federal – art. 18 U. S. Code §3143 – determina a
imediata prisão do condenado, mesmo antes da imposição da pena (alínea
“a”), salvo casos excepcionais. As exceções são ainda mais estritas na
pendência de apelos (alíneas “b” e “c”). As legislação processuais dos
estados não costumam ser mais brandas.
Nesses ordenamentos, muito embora a presunção de não
culpabilidade fique afastada, ainda há o direito a recurso, a ser analisado
em tempo hábil. No entanto, o direito de análise célere da impugnação é
fundado em outros preceitos, como a duração razoável do processo.
O direito alemão prevê uma solução diversa. Muito embora não exista
menção expressa à presunção de inocência na Lei Fundamental, o princípio
faz parte do ordenamento jurídico pela interpretação do sistema e pela
incorporação da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. No plano
legal, o Código de Processo Penal (Strafprozeßordnung) afirma que as
“sentenças condenatórias não são exequíveis enquanto não passarem em
julgado” (§449: “Strafurteile sind nicht vollstreckbar, bevor sie rechtskräftig
geworden sind”). A despeito disso, se o acusado é fortemente suspeito
(“dringen verdächtig”) do cometimento de um crime grave, a regra é que
responda preso. Nesses casos, a lei dispensa ulterior demonstração da
necessidade da prisão – §§ 112 e 112a do Strafprozeßordnung. Tendo em
vista a dificuldade de compatibilização da prisão automática com a
presunção de inocência, a jurisprudência tempera a aplicação desses
dispositivos, exigindo, nas prisões antes do julgamento, a demonstração,
ainda que mínima, de algum dos requisitos da prisão preventiva
(Bundesverfassungsgericht, 19, 342).
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 84 de 122
HC 126292 / SP
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curto prazo compatível com as garantias de defesa” – e dos países de língua
portuguesa em geral – Angola, artigo 67, 2; Moçambique, artigo 59, 2: 2;
Cabo Verde, artigo 34, 1; São Tomé e Príncipe, artigo 40, 2; Guiné-Bissau,
artigo 42, 2 e Timor Leste, artigo 34, 1.
Nota-se que, na tradição italiana e nas constituições de língua
portuguesa a presunção vige até o trânsito em julgado.
Não se nega a importância da análise das Constituições de mesma
tradição. Em nosso caso, os textos constitucionais de língua portuguesa são
“importante objeto de estudo”, visto que “é possível identificar uma tradição
institucional comum que informa os ordenamentos constitucionais de Portugal, do
Brasil, de Angola, de Guiné-Bissau, de Cabo Verde, de Moçambique, e de São Tomé
e Príncipe” (HORBACH, Carlos Bastide. O controle de Constitucionalidade
na Constituição de Timor-Leste. Revista da Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, vol. XLVI, nº 2. Coimbra: Coimbra Editora, 2005).
De qualquer forma, a interpretação da presunção de não
culpabilidade não pode perder de vista nosso próprio ordenamento. Nosso
país tem um intrincado sistema judiciário. Na base, há duas instâncias, com
ampla competência para análise dos fatos e do direito. Logo acima, temos
as instâncias extraordinárias – Tribunais Superiores e Supremo Tribunal.
O acesso às instâncias extraordinárias é consideravelmente amplo. Não há
meios eficazes para garantir adequação da força de trabalho das Cortes
Superiores ao interesse do desenvolvimento da jurisprudência. A própria
rejeição de recursos pela falta de repercussão geral, nas estreitas hipóteses
em que cabível, demanda muito da Corte. Isso faz com que, mesmo quando
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 85 de 122
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Ainda assim, não impõe que o réu seja tratado da mesma forma
durante todo o processo. Conforme se avança e a culpa vai ficando
demonstrada, a lei poderá impor tratamento algo diferenciado.
O que eu estou colocando, portanto, para nossa reflexão é que é
preciso que vejamos a presunção de inocência como um princípio
relevantíssimo para a ordem jurídica ou constitucional, mas princípio
suscetível de ser devidamente conformado, tendo em vista, inclusive, as
circunstâncias de aplicação no caso do Direito Penal e Processual Penal.
Por isso, eu entendo que, nesse contexto, não é de se considerar que a
prisão, após a decisão do tribunal de apelação, haja de ser considerada
violadora desse princípio.
E a mim parece que, se porventura houver a caracterização – que
sempre pode ocorrer – de abuso na decisão condenatória, certamente
estarão à disposição do eventual condenado todos os remédios, além do
eventual recurso extraordinário, com pedido de efeito suspensivo,
cautelar, também o habeas corpus. E os tribunais disporão de meios para
sustar essa execução antecipada.
Logo, não estamos aqui a fazer tábula rasa e a determinar que se
aplique, sem qualquer juízo crítico, a condenação emitida pelo juízo de
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talvez a razão por que a proposta de emenda acabou por não ter o trâmite,
a despeito do bafejo, do apoio que ela colheu na imprensa e também nos
setores da política, porque é um juízo quase que unânime no sentido de
que há algo de extremamente singular no nosso sistema jurídico penal,
mas, de fato, a ideia que Sua Excelência desenvolveu, seguindo o modelo
europeu de controle concentrado de que haveria o trânsito em julgado com
a decisão de segundo grau e, aí, valia tanto para as decisões de caráter
penal como de civil, colocou realmente em grande temor todos aqueles que
imaginavam que, depois, o recurso extraordinário teria efeito de uma
rescisória com todas as consequências e as próprias execuções que se
fariam no campo cível já teriam caráter de definitividade. Daí, portanto, a
dificuldade que se colocou. Mas isso é até um dado muito curioso que fala
bem da honestidade intelectual do ministro Peluso. Sua Excelência, na
verdade, que contribuiu decisivamente para o debate, para a consagração
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 87 de 122
HC 126292 / SP
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frequentemente em habeas corpus, em suma, buscando a revisão da sentença
de pronúncia. E, veja, o Brasil, nesse sentido, é um país, Presidente, Vossa
Excelência tem os dados, inclusive, no CNJ, certamente é surreal.
Acontece, no Brasil, prescrição de crime de júri, o que seria impensável,
porque nós estamos falando da prescrição longi temporis, a mais ampla que
se pode imaginar, mas eu me deparei com isso em Pernambuco, em que,
em vários casos, teve-se de fazer mutirão, porque, veja, algo que seria
impensável, que é a possibilidade de ter-se prescrição em função desse
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 88 de 122
HC 126292 / SP
12
ele ficava um tanto chocado, não era da área jurídica, com esse fenômeno;
travava um combate muito intenso contra o crime organizado,
especialmente, esse crime de mando em Pernambuco, e, depois de dois ou
três anos da prisão de autores de crimes graves, ele dizia "a Justiça acaba
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 89 de 122
HC 126292 / SP
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Voto - MIN. GILMAR MEND ES Inteiro Teor do Acórdão - Página 90 de 122
HC 126292 / SP
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Voto - MIN. M ARCO AUR ÉLIO Inteiro Teor do Acórdão - Página 91 de 122
HC 126292 / SP
17/02/2016 PLENÁRIO
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Voto - MIN. M ARCO AUR ÉLIO
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Voto - MIN. M ARCO AUR ÉLIO Inteiro Teor do Acórdão - Página 93 de 122
HC 126292 / SP
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HC 126292 / SP
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Voto - MIN. M ARCO AUR ÉLIO
Supremo Tribunal Federal
Inteiro Teor do Acórdão - Página 94 de 122
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–, considerados os pressupostos de recorribilidade.
Peço vênia para me manter fiel a essa linha de pensar sobre o alcance
da Carta de 1988 e emprestar algum significado ao princípio da não
culpabilidade. Qual é esse significado, senão evitar que se execute,
invertendo-se a ordem natural das coisas – que direciona a apurar para,
selada a culpa, prender –, uma pena, a qual não é, ainda, definitiva. E, mais,
não se articule com a via afunilada, para ter-se a reversão, levando em
conta a recorribilidade extraordinária, porque é possível caminhar-se,
como se caminha no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal
Federal, para o provimento do recurso especial ou do recurso
extraordinário.
Acompanho, Presidente, a divergência revelada pela ministra Rosa
Weber. Implemento a ordem pleiteada na inicial deste habeas corpus.
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Voto - MIN. M ARCO AUR ÉLIO Inteiro Teor do Acórdão - Página 95 de 122
HC 126292 / SP
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO
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Inteiro Teor do Acórdão - Página 96 de 122
17/02/2016 PLENÁRIO
VOTO
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 97 de 122
HC 126292 / SP
Não foi por outra razão que a Declaração Universal de Direitos da Pessoa
Humana, promulgada em 10/12/1948, pela III Assembleia Geral da ONU,
em reação aos abusos inomináveis cometidos pelos regimes totalitários
nazi-fascistas, proclamou, em seu art. 11, que todos presumem-se
inocentes até que sobrevenha definitiva condenação judicial.
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 98 de 122
HC 126292 / SP
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 99 de 122
HC 126292 / SP
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nitidamente autocrática, que repudia “A chamada tutela da inocência” e
que vê, na “pretendida presunção de inocência”, algo “absurdamente paradoxal
e irracional” (“op. cit.”, p. 253, item n. 40).
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 100 de 122
HC 126292 / SP
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Do princípio da presunção de inocência (‘todo acusado é
presumido inocente até que se comprove sua culpabilidade’) emanam
duas regras: (a) regra de tratamento e (b) regra probatória.
‘Regra de tratamento’: o acusado não pode ser tratado
como condenado antes do trânsito em julgado final da sentença
condenatória (CF, art. 5º, LVII).
O acusado, por força da regra que estamos estudando, tem o
direito de receber a devida ‘consideração’ bem como o direito
de ser tratado como não participante do fato imputado. Como
‘regra de tratamento’, a presunção de inocência impede qualquer
antecipação de juízo condenatório ou de reconhecimento da
culpabilidade do imputado, seja por situações, práticas, palavras,
gestos etc., podendo-se exemplificar: a impropriedade de se manter
o acusado em exposição humilhante no banco dos réus, o uso de
algemas quando desnecessário, a divulgação abusiva de fatos e nomes
de pessoas pelos meios de comunicação, a decretação ou manutenção
de prisão cautelar desnecessária, a exigência de se recolher à prisão
para apelar em razão da existência de condenação em primeira
instância etc. É contrária à presunção de inocência a exibição de uma
pessoa aos meios de comunicação vestida com traje infamante (Corte
Interamericana, Caso Cantoral Benavides, Sentença de 18.08.2000,
parágrafo 119).” (grifei)
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 101 de 122
HC 126292 / SP
5
É por isso, Senhor Presidente, que ninguém, absolutamente ninguém,
pode ser tratado como se culpado fosse antes que sobrevenha contra ele
condenação penal transitada em julgado, tal como tem advertido o
magistério jurisprudencial desta Suprema Corte:
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 102 de 122
HC 126292 / SP
6
da condenação criminal) representa, de um lado, como já assinalado, fator
de proteção aos direitos de quem sofre a persecução penal e traduz, de
outro, requisito de legitimação da própria execução de sanções
privativas de liberdade ou de penas restritivas de direitos.
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 103 de 122
HC 126292 / SP
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prisão cautelar daquele que sofre a persecução criminal instaurada
pelo Estado. Precedentes.
– A ausência de vinculação do indiciado ou do réu ao
distrito da culpa não constitui, só por si, motivo autorizador da
decretação da sua prisão cautelar. Precedentes.
– A recusa em responder ao interrogatório policial e/ou
judicial e a falta de cooperação do indiciado ou do réu com as
autoridades que o investigam ou que o processam traduzem
comportamentos que são inteiramente legitimados pelo princípio
constitucional que protege qualquer pessoa contra a auto-
incriminação, especialmente aquela exposta a atos de persecução
penal.
O Estado – que não tem o direito de tratar suspeitos,
indiciados ou réus como se culpados fossem (RTJ 176/805-806) –
também não pode constrangê-los a produzir provas contra si
próprios (RTJ 141/512).
Aquele que sofre persecução penal instaurada pelo Estado
tem, dentre outras prerrogativas básicas, o direito (a) de
permanecer em silêncio, (b) de não ser compelido a produzir
elementos de incriminação contra si próprio nem constrangido a
apresentar provas que lhe comprometam a defesa e (c) de se
recusar a participar, ativa ou passivamente, de procedimentos
probatórios que lhe possam afetar a esfera jurídica, tais como a
reprodução simulada do evento delituoso e o fornecimento de padrões
gráficos ou de padrões vocais, para efeito de perícia criminal.
Precedentes.
– O exercício do direito contra a auto-incriminação, além
de inteiramente oponível a qualquer autoridade ou agente do Estado,
não legitima, por efeito de sua natureza constitucional, a adoção de
medidas que afetem ou restrinjam a esfera jurídica daquele contra
quem se instaurou a ‘persecutio criminis’. Medida cautelar
deferida.”
(HC 96.219-MC/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO,
DJE 15/10/2008)
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 104 de 122
HC 126292 / SP
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fundamentais são a proteção e a defesa da supremacia da Constituição para
a vida do País, a de seu povo e a de suas instituições.
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 105 de 122
HC 126292 / SP
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Tenho para mim que essa incompreensível repulsa à presunção de
inocência, Senhor Presidente, com todas as gravíssimas consequências daí
resultantes, mergulha suas raízes em uma visão absolutamente
incompatível com os padrões do regime democrático.
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Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 106 de 122
HC 126292 / SP
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Homem e das Liberdades Fundamentais (1950), a Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia (2000), a Carta Africana dos Direitos
Humanos e dos Povos (1981), a Declaração Islâmica sobre Direitos
Humanos (1990), o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
(1966) e a Convenção Americana de Direitos Humanos (1969).
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 107 de 122
HC 126292 / SP
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inequívoca, em plenitude, para além de qualquer dúvida razoável, a
culpabilidade do acusado e os fatos constitutivos da própria imputação
penal pertinentes à autoria e à materialidade do delito (RTJ 161/264-266, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 108 de 122
HC 126292 / SP
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É sempre importante advertir, na linha do magistério jurisprudencial
e em respeito aos princípios estruturantes do regime democrático, que,
“Por exclusão, suspeita ou presunção, ninguém pode ser condenado em
nosso sistema jurídico-penal” (RT 165/596, Rel. Des. VICENTE DE
AZEVEDO – grifei).
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 109 de 122
HC 126292 / SP
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Acho importante acentuar que a presunção de inocência não se
esvazia progressivamente, à medida em que se sucedem os graus de
jurisdição. Isso significa, portanto, que, mesmo confirmada a
condenação penal por um Tribunal de segunda instância, ainda assim
subsistirá, em favor do sentenciado, esse direito fundamental, que só
deixará de prevalecer – repita-se – com o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória, como claramente estabelece, em texto inequívoco, a
Constituição da República.
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 110 de 122
HC 126292 / SP
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parcialmente providos com os integralmente providos, teremos o
significativo porcentual de 28,5% de recursos. Quer dizer,
quase um terço das decisões criminais oriundas das instâncias
inferiores foi total ou parcialmente reformado pelo Supremo Tribunal
Federal nesse período.” (grifei)
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 111 de 122
HC 126292 / SP
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ordenamento positivo a preconizada execução antecipada da condenação
criminal, não obstante sujeita esta a impugnação na via recursal excepcional
(RE e/ou REsp), pelo fato de a Lei de Execução Penal impor, como inafastável
pressuposto de legitimação da execução de sentença condenatória, o seu
necessário trânsito em julgado.
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 112 de 122
HC 126292 / SP
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revelada em julgamento que perigosamente parece desconsiderar que a
majestade da Constituição jamais poderá subordinar-se à potestade do
Estado.
É o meu voto.
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. C ELSO D E MELLO Inteiro Teor do Acórdão - Página 113 de 122
HC 126292 / SP
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Voto - MIN. R ICARD O LEWANDOWSKI
Supremo Tribunal Federal
Inteiro Teor do Acórdão - Página 114 de 122
17/02/2016 PLENÁRIO
VOTO
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Voto - MIN. R ICARD O LEWANDOWSKI Inteiro Teor do Acórdão - Página 115 de 122
HC 126292 / SP
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. R ICARD O LEWANDOWSKI Inteiro Teor do Acórdão - Página 116 de 122
HC 126292 / SP
2
capitalista ou consolidou a revolução industrial, que, logo antes, havia,
enfim, se iniciado do ponto de vista histórico, e isso teve uma repercussão
no Direito Positivo. E o Código Civil Napoleônico foi o primeiro exemplo
desta consubstanciação deste fenômeno histórico que então se processava.
O Código Civil Napoleônico, todos nós sabemos, teve uma intensa
repercussão no Código Civil brasileiro de 1916, elaborado,
fundamentalmente, pelo grande jurista Clóvis Beviláqua, e vejo também,
confirmando essa constatação dos historiadores, sociólogos, politólogos,
esta prevalência ou esse valor maior que se dá à propriedade com relação
à liberdade, isto se encontra refletido no próprio Código Penal brasileiro.
Eu estava aqui folheando alguns dispositivos penais, alguns tipos
penais, e nós verificamos que ofensa à propriedade, o crime de furto, o
crime de roubo são punidos - claro que sopesados de forma relativa - com
muito mais rigor do que os crimes contra a pessoa. O crime de furto e o
crime de roubo são muitíssimo mais apenados ou apenados com penas
bem maiores do que o crime de lesão corporal, por exemplo, ou o crime
contra a honra - a calúnia, a difamação, a injúria. São penas insignificantes
se nós considerarmos que a pena mínima de furto é de dois anos, e do
roubo é de quatro anos. Ou seja, no Brasil, o sistema jurídico sempre deu
maior valor à propriedade.
Antes mesmo que o Ministro Marco Aurélio fizesse alusão à
disparidade de tratamento que o nosso sistema jurídico dá no que diz
respeito à execução provisória, à propriedade e à liberdade, eu fazia aqui
uma consulta - e eu externo meu pensamento com muita reverência, e até
com um certo temor, diante do grande especialista no Código de Processo
Civil, que é o Ministro Fux, um dos principais elaboradores do novo
Código do Processo Civil -, mas eu verifiquei aqui, e confirmando aquilo
que o Ministro Marco Aurélio acaba de afirmar, que o art. 520 do novo CPC
estabelece que:
"Art. 520.
(...)
IV. o levantamento de depósito em dinheiro" - vil metal - "e a
prática de atos que importem transferência de posse ou alienação de
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Voto - MIN. R ICARD O LEWANDOWSKI Inteiro Teor do Acórdão - Página 117 de 122
HC 126292 / SP
3
propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave
dano ao executado, dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada
de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos".
E vem aquilo ao qual o Ministro Marco Aurélio aludiu, diz o art. 520,
II:
"Art. 520.
(...)
II. fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a
sentença objeto da execução" - claro, a transferência do bem, a
propriedade - "restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidandose
eventuais prejuízos nos mesmos autos".
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. R ICARD O LEWANDOWSKI Inteiro Teor do Acórdão - Página 118 de 122
HC 126292 / SP
4
Processo Civil, que entrará em vigor dentro de poucos dias, no dia 16 de
março vindouro.
Quer dizer, em se tratando da liberdade, nós estamos decidindo que
a pessoa tem que ser provisoriamente presa, passa presa durante anos, e
anos, e anos a fio e, eventualmente, depois, mantidas essas estatísticas, com
a possibilidade que se aproxima de 1/4 de absolvição, não terá nenhuma
possibilidade de ver restituído esse tempo em que se encontrou sob a
custódia do Estado em condições absolutamente miseráveis, se me permite
o termo.
Eu queria, também, finalizar e dizer o seguinte: eu tenho trazido
sempre a esta egrégia Corte alguns números que são muito
impressionantes relativos ao nosso sistema prisional, dizendo que nós
temos hoje no Brasil a quarta população de presos, em termos mundiais,
logo depois dos Estados Unidos, da China e da Rússia, nós temos
seiscentos mil presos. Desses seiscentos mil presos, 40%, ou seja, duzentos
e quarenta mil presos são presos provisórios. Com essa nossa decisão, ou
seja, na medida que nós agora autorizamos, depois de uma decisão de
segundo grau, que as pessoas sejam presas, certamente, a esses duzentos e
quarenta mil presos provisórios, nós vamos acrescer dezenas ou centenas
de milhares de novos presos.
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Voto - MIN. R ICARD O LEWANDOWSKI Inteiro Teor do Acórdão - Página 119 de 122
HC 126292 / SP
5
modificação da jurisprudência do Supremo, vai ser a liberação de quem
está injustamente preso, provisoriamente ou preventivamente, e o
recolhimento daqueles que foram condenados em segundo grau; sai um,
entra outro, eu acho que vai ser mais ou menos isso.
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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. R ICARD O LEWANDOWSKI Inteiro Teor do Acórdão - Página 120 de 122
HC 126292 / SP
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Inteiro Teor do Acórdão - Página 121 de 122
PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA
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