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WBA0208_V1.

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Direito Processual
Previdenciário
Tema 07 – Ações Regressivas
Acidentárias - ARA
Bloco 1

Rafaela da F. Lima Rocha Farache


AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Dever da empresa propiciar um meio ambiente de


trabalho seguro e íntegro: à saúde e à segurança
do trabalhador.

Possibilidade de cumulação das responsabilidade:


a reparação civil pelos danos sofridos pelo
trabalhador + ARA. Indenizações autônomas e
cumulativas
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

A ação regressiva acidentária não é um instituto


novo, já que tem previsão no art. 120 da lei
nº 8213/91:

”Nos casos de negligência quanto às normas


padrão de segurança e higiene do trabalho
indicados para a proteção individual e coletiva, a
previdência social proporá ação regressiva contra
os responsáveis.”
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

O ajuizamento das ARA só se intensificaram em


2007. Entre os anos de 1991 até 2006 foram
ajuizadas ao todo 189 ações, enquanto que no
ano de 2007 foram ajuizadas 104 ações e em
2011 foram protocoladas 486 ações.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

CONCEITO
A ação regressiva acidentária é o instrumento
processual utilizado pelo Instituto Nacional do
Seguro Social-INSS, a fim de obter o
ressarcimento das despesas que suportou com
a concessão de benefícios acidentários
decorrentes de acidentes de trabalho, cuja
empresa incorreu com dolo ou culpa,
negligenciando normas de saúde, segurança e
higiene do trabalho.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Compete à PGF (Procuradoria Geral Federal)


ingressar com as ações regressivas.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Resolução nº 1.291, de 27 de junho de 2007 do


CNPS: recomendou que o INSS adotasse medidas
competentes para ampliar as proposituras de
ações regressivas contra os empregadores
considerados responsáveis por acidentes do
trabalho, priorizando as situações que envolvam
empresas consideradas grandes causadoras de
danos e aquelas causadoras de acidentes graves,
dos quais tenham resultado a morte ou a invalidez
dos segurados.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Objetivos das ações acidentárias:


ressarcitório, punitivo e preventivo.

Pretensão ressarcitória: consiste no


ressarcimento das despesas (vencidas e
vincendas) relativas às prestações sociais
concedidas em face dos acidentes do trabalho
ocorridos por culpa dos empregadores.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Pretensão punitiva: pune aqueles que


descumprem as normas de saúde e segurança
do tralhado.

Pretensão pedagógica: incentiva a


observância dessas normas, prevenindo a
ocorrência de futuros acidentes.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Fundamentos normativos:
A segurança no ambiente do trabalho é
verdadeiro direito fundamental do trabalhador,
previsto no art. 7º, XXII da CF/88.

Art. 196 e 197 da CF/88 estabelecem o direito


à redução dos riscos no ambiente de trabalho.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Art. 7º: São direitos dos trabalhadores


urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
XXII - redução dos riscos inerentes ao
trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Legislação infraconstitucional: consolidação


das leis do trabalho (art. 157) e pela lei de
benefícios (art. 19):

Art. 157. Cabe às empresas:

I - cumprir e fazer cumprir as normas de


segurança e medicina do trabalho;
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

II - instruir os empregados, através de


ordens de serviço, quanto às precauções a
tomar no sentido de evitar acidentes do
trabalho ou doenças ocupacionais.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Art. 19: Acidente do trabalho é o que ocorre


pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do art. 11
desta lei, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte ou
a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

§1º: A empresa é responsável pela adoção e


uso das medidas coletivas e individuais de
proteção e segurança da saúde do trabalhador.
§2º: Constitui contravenção penal, punível com
multa, deixar a empresa de cumprir as normas
de segurança e higiene do trabalho.
§3º: É dever da empresa prestar informações
pormenorizadas sobre os riscos da operação a
executar e do produto a manipular.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Art. 186 e 927 do Código Civil de 2002:

Art. 186: Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito
(art. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
PRESSUPOSTOS FÁTICOS

1. Acidente do trabalho típico ou atípico


(art. 20 lei 8.212/91).

2. Concessão de prestação social (benefícios


ou serviços):
PRESSUPOSTOS FÁTICOS

a) pensão por morte;


b) aposentadoria por invalidez;
c) auxílio-doença;
d) auxílio-acidente;
e) reabilitação profissional = tratamento,
próteses, equipamentos ortopédicos,
transporte, etc. (art. 89, lei 8.213/91).
PRESSUPOSTOS FÁTICOS

3. Culpa na ocorrência do acidente de


trabalho.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Primeiro pressuposto: ocorrência do acidente


de trabalho sofrido por um segurado do INSS.
Esse acidente pode ser típico, atípico ou por
equiparação.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Art. 19, da lei 8213/91: acidente do trabalho


típico é o que ocorre pelo exercício do trabalho
a serviço de empresa ou de empregador
doméstico ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do art. 11
desta lei, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte ou a
perda ou redução, permanente ou temporária,
da capacidade para o trabalho.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

As doenças ocupacionais são consideradas


como acidente de trabalho atípico, nos termos
do art. 20 da lei 8213/91:0. Consideram-se
acidente do trabalho, nos termos do artigo
anterior, as seguintes entidades mórbidas:
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

I - doença profissional, assim entendida a


produzida ou desencadeada pelo exercício do
trabalho peculiar a determinada atividade e
constante da respectiva relação elaborada pelo
Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
II - doença do trabalho, assim entendida a
adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é
realizado e com ele se relacione diretamente,
constante da relação mencionada no inciso I.
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Previdenciário
Tema 07 – Ações Regressivas
Acidentárias - ARA
Bloco 2

Rafaela da F. Lima Rocha Farache


AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do


trabalho, para efeitos desta lei:

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora


não tenha sido a causa única, haja contribuído
diretamente para a morte do segurado, para
redução ou perda da sua capacidade para o
trabalho, ou produzido lesão que exija atenção
médica para a sua recuperação;
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e


no horário do trabalho, em consequência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo


praticado por terceiro ou companheiro de
trabalho;
b) ofensa física intencional, inclusive de
terceiro, por motivo de disputa relacionada
ao trabalho;
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

c) ato de imprudência, de negligência ou de


imperícia de terceiro ou de companheiro de
trabalho;
d) ato de pessoa privada do uso da razão; e
e) desabamento, inundação, incêndio e outros
casos fortuitos ou decorrentes de força maior;
III - a doença proveniente de contaminação
acidental do empregado no exercício de sua
atividade;
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que


fora do local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de


serviço sob a autoridade da empresa;
b) na prestação espontânea de qualquer serviço
à empresa para lhe evitar prejuízo ou
proporcionar proveito;
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive


para estudo quando financiada por esta dentro
de seus planos para melhor capacitação da
mão-de-obra, independentemente do meio de
locomoção utilizado, inclusive veículo de
propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de
trabalho ou deste para aquela, qualquer que
seja o meio de locomoção, inclusive veículo de
propriedade do segurado.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

O segundo pressuposto: implemento de


alguma prestação social em face de um
acidente do trabalho, quer seja em sua
natureza típica ou então equiparada e o
nexo causal, ou seja, o vínculo fático que
liga o efeito (incapacidade para o trabalho ou
morte) à causa (acidente de trabalho ou
doença ocupacional).
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Terceiro pressuposto: culpa do empregador


no cumprimento e na fiscalização das normas de
saúde e segurança do trabalho.

Responsabilidade subjetiva da empresa em face


da ARA.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

O cumprimento das normas de saúde e segurança


do trabalho não são obrigação exclusiva do
empregador – dever mútuo entre empregador e
empregado, conforme o art. 158 da CLT.

Se o empregado age com negligência ou


imprudência e causa um acidente, rompe com o
nexo – culpa exclusiva da vítima, isentando-se o
empregador de ressarcir o INSS.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Ainda que o art. 120 da lei 8213/91 fale


apenas em negligência, a culpabilidade deve
ser interpretada em sentido amplo, de modo
que abrange tanto os casos de dolo, como de
culpa em sentido estrito, ou seja, negligência
ou imprudência no cumprimento das normas
de segurança do trabalho.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Responsabilidade objetiva: teoria do risco


social para o Estado.

Responsabilidade subjetiva para o


empregador: somente se faz possível
quando a empresa age com dolo ou culpa na
ocorrência de acidentes ou no
desenvolvimento de doenças ocupacionais.
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Recurso Especial nº 973.379/RS: o STJ


firmou o entendimento de que o fato de a
empresa pagar o SAT (seguro de acidente do
trabalho), não exclui a responsabilidade em
caso de acidente decorrente de culpa da
empesa empregadora (STJ, EDcl no AgRg nos
EDcl no Recurso Especial nº 973.379/RS,
6ª Turma, DJe 14.06.2013).
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Alegação de inconstitucionalidade do art. 120


da lei nº. 8.213/91: o empregador deve, além
do SAT, arcar com os custos de indenizar os
danos advindos de sua culpa ou dolo nos
acidentes de trabalho.

Recolhimento do SAT exime a responsabilidade


do empregador?

Não!
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Administrativo. Acidente do trabalho. Morte.


Segurado. Negligência. Normas de segurança.
Ação regressiva do INSS (...).

“O fato das empresas contribuírem para o custeio


do regime geral de previdência social, mediante
o recolhimento de tributos e contribuições
sociais, dentre estas aquela destinada ao seguro
de acidente do trabalho - SAT, [...]
(continua)
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

[...] não exclui a responsabilidade nos casos de


acidente de trabalho decorrentes de culpa sua,
por inobservância das normas de segurança e
higiene do trabalho."
(AC 200672060037802, TRF4, terceira turma,
rel. des. Federal Maria Lúcia Luz Leiria, 09.09.09
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

Majoração do SAT pelo fator acidentário de


prevenção – FAP afastaria a responsabilidade
do empregador?

Não!

Nesse sentido, Fábio Zambitte Ibrahim


(in Curso de Direito Previdenciário, 14ª Ed.
Niterói: Impetus, 2009, fl. 259):
AÇÃO REGRESSIVA ACIDENTÁRIA

"O fato de a empresa, solidariamente, contribuir


junto com todas as demais, no financiamento do
SAT não exclui sua responsabilidade
previdenciária quando gerar benefícios diversos
em razão das más condições de trabalho. (...)
Essa irresponsabilidade patronal já trará reflexos
na alíquota básica do SAT, mediante a aplicação
do fator acidentário de prevenção - FAP, mas nada
impede a responsabilização por casos específicos
que gerem gastos elevados ao sistema."
ASPECTOS PROCESSUAIS

Natureza jurídica
Ação indenizatória de natureza cível, por meio
da qual o INSS busca receber o montante pago
a título de prestações acidentarias. Em tais
processos, discute-se responsabilidade civil.
Nesse sentido, decidiu o egrégio STJ (STJ, agrg
no resp 931.438, rel. Min paulo gallotti, 6 a
turma, j. 16.04.2009, dje 4.5.2009).
ASPECTOS PROCESSUAIS

Justiça competente
A maior parte da doutrina defende ser competente
a justiça federal, nos termos do art. 109, da
CF/88, tendo em vista que não se trata de ação
em que o segurado postula benefício acidentário.

Já o foro competente para o julgamento da ação


regressiva acidentária será aquele com jurisdição
sobre o local do domicílio do réu.
ASPECTOS PROCESSUAIS

LEGITIMIDADE
Legitimidade ativa é a do INSS, representada
judicialmente pela Procuradoria Geral Federal
(PGF), órgão da Advocacia Geral da União (AGU).
Legitimidade passiva são os responsáveis pelo
descumprimento das de segurança e higiene do
trabalho. É possível o litisconsórcio passivo, nos
casos em que a culpabilidade se estender a
terceiros alheios à relação de emprego.
ASPECTOS PROCESSUAIS

Distribuição do ônus da prova


Incumbe ao INSS comprovar a negligência dos
responsáveis. Em verdade, a culpa do
empregador é o pressuposto fático que mais se
discute nas ações regressivas acidentarias.
ASPECTOS PROCESSUAIS

Meio de prova: sentença trabalhista transitada


em julgado, o inquérito policial que investigou o
acidente, o relatório do acidente do trabalho
emitido pelos auditores fiscais do TEM, entre
outros documentos.

Inversão do ônus da prova: presunção


relativa de culpa do empregador. Cabe afastar
essa presunção, com a prova da existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo de direito.
ASPECTOS PROCESSUAIS

Prescrição

Três posições sobre o prazo de prescrição


para o ajuizamento da ação regressiva
acidentária: pela imprescritibilidade, pela
prescritibilidade de acordo com o código civil
e pela prescritibilidade pelo decreto nº
20.910/32.
ASPECTOS PROCESSUAIS

STJ (agravo em RESP nº 387.412/PE)


expressou o posicionamento pela tese de
que a prescrição para essas hipóteses seria
a quinquenal.
ASPECTOS PROCESSUAIS

João Batista Lazzari defende a aplicação do


prazo quinquenal prevista no art. 1º do
decreto 20910/32, na medida em que o INSS,
enquanto autarquia federal, busca reaver
valores que possuem natureza jurídica de
recursos público, de modo que deve ser
aplicado o prazo para a satisfação de dívidas
para com a fazenda pública (LAZZARI
et al, 2016, p. 427).

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