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ISBN 978-85-7304-324-2
Impresso no Brasil
A DIGNIDADE E A AUTENTICIDADE
HUMANAS DO SENHOR E SUA SABEDORIA
E AUTORIDADE DIVINAS
Em Seu ministério para difundir o evangelho na
Galiléia (1:14-10:52), a obra do Salvador-Servo era
proclamar o evangelho, ensinar a verdade, expulsar
demônios e curar os enfermos. Nessa obra,
expressaram-se Suas virtudes humanas com Seus
atributos divinos, que eram Sua qualificação para o
serviço divino e também Sua beleza nesse serviço, que
Ele prestou por Deus aos pecadores. Ao preparar-se
para a obra redentora em Jerusalém (11:15-14:42), a
maior obra foi confrontar-se com os líderes judeus
opositores, que deveriam ter sido os construtores do
edifício divino (12:9-10), mas, na verdade, haviam
sido usurpados pelo inimigo de Deus, Satanás, e por
ele instigados a conspirar para matá-Lo. Nesse
confronto, sob as perguntas, provas e exames sutis e
malignos deles, a dignidade humana do Senhor foi
expressa em Sua autenticidade humana (11:15-18), e
Sua sabedoria e autoridade divinas foram expressas
em Sua conduta e perfeição humanas (11:27-12:37),
de modo que, por fim, os que O criticavam acabaram
comprovando Sua qualidade. Isso Lhe abriu o
caminho para demonstrar a esses opositores cegos
que Ele, o Cristo, o Filho de Davi, era o Senhor de
Davi, isto é, o próprio Deus (12:35-37), a fim de que
conhecessem Sua deidade em Sua humanidade, a
saber, que Ele era Deus vivendo no homem.
Ao lidar com os opositores, a dignidade humana
do Senhor certamente foi expressa em Sua
autenticidade humana. Enquanto era examinado por
eles, Ele expressou dignidade em Sua autenticidade.
Além disso, ao mesmo tempo, Sua sabedoria e
autoridade divinas foram expressas em Sua conduta e
perfeição humanas. Como resultado, os que tinham
vindo para apontar Suas falhas tiveram de se tornar
os que podiam provar Suas qualidades.
A Pergunta do Senhor
O Senhor Jesus lhes disse: “Eu vos farei uma
pergunta; respondei-Me, e Eu vos direi com que
autoridade faço essas coisas. O batismo de João era
do céu ou dos homens? respondei-Me” (vs. 29-30).
Por um lado, Ele não temia ser examinado pelos
principais sacerdotes, escribas e anciãos. Por outro,
Ele lhes devolveu a pergunta com dignidade.
Antes de responder a pergunta do Senhor, os
principais sacerdotes, escribas e anciãos reuniram-se
em conselho. “E eles arrazoavam entre si: Se
dissermos: Do céu, Ele dirá: Então por que não
crestes nele? Mas diremos nós: Dos homens? temiam
o povo, porque todos consideravam que João era
verdadeiramente um profeta” (vs. 31-32). Percebendo
que não havia maneira de responder ao Senhor sem
perder a questão, decidiram mentir. Assim Lhe
disseram: “Não sabemos” (v. 33). O Senhor sabia o
que estava no coração deles, sabia que estavam
mentindo.
A Resposta do Senhor
O Senhor Jesus prosseguiu dizendo aos
principais sacerdotes, escribas e anciãos: “Nem Eu
vos digo com que autoridade faço essas coisas” (v.
33). Isso indica que Ele sabia que os líderes judeus
não iriam dizer-Lhe o que sabiam. Assim nem Ele iria
responder-lhes o que perguntaram. Eles mentiram
para o Senhor ao dizer: “Não sabemos”. Mas Ele lhes
falou a verdade sabiamente, expondo-lhes a mentira e
evitando a pergunta deles.
Na resposta do Senhor devemos prestar atenção
à palavra nem. Esse termo indica que os líderes
judeus estavam mentindo para o Senhor. Uma vez
que não iriam dizer o que sabiam a respeito de João
Batista, assim também Ele não iria responder a
pergunta deles.
A sábia resposta do Senhor fez os líderes da
nação judaica passar vergonha. Eles foram expostos
como um grupo de mentirosos. Ao lidar com eles, o
Senhor manifestou tanto Sua dignidade como
sabedoria. Podemos dizer que Sua dignidade era
humana e Sua sabedoria, divina. Essa combinação de
dignidade humana e sabedoria divina subjugou os
principais sacerdotes, escribas e anciãos.
Creio que os discípulos do Senhor estavam muito
satisfeitos com a maneira com que Ele lidou com os
líderes judeus. Talvez se tenham entreolhado, anuído
com a cabeça e sorrido. Viram a dignidade e a
sabedoria do Salvador-Servo no meio daquela
situação no templo. Como devem ter ficado contentes
em ver os principais sacerdotes, escribas e anciãos
sendo vencidos pelo Senhor Jesus!
OS SADUCEUS E A RESSURREIÇÃO
Em 12:18-27 os saduceus vieram ao Senhor
Jesus. Eles eram uma facção entre os judeus (At 5:17).
Não criam na ressurreição, nem em anjos ou em
espíritos (At 23:8). Tanto os fariseus como os
saduceus foram denunciados por João Batista e pelo
Senhor Jesus como raça de víboras (Mt 3:7; 12:34;
23:33). O Senhor. preveniu os discípulos a respeito da
doutrina deles (Mt 16:6, 12). Enquanto os fariseus
eram supostamente ortodoxos, os saduceus podem
ser considerados os modernistas de antigamente.
Em Marcos 12:18-27 os saduceus pensaram que
poderiam vencer o Senhor Jesus na questão da
ressurreição. Eles O indagaram dizendo: “Mestre,
Moisés nos deixou escrito que, se morrer o irmão de
alguém e deixar mulher sem deixar filhos, seu irmão
tome a mulher e suscite descendência a seu irmão.
Havia sete irmãos: o primeiro tomou mulher e, ao
morrer, não deixou descendência; o segundo a tomou
e morreu sem deixar descendência; e o terceiro da
mesma forma; e os sete não deixaram descendência.
Por último, depois de todos, morreu também a
mulher. Na ressurreição, quando eles ressuscitarem,
de qual deles será ela esposa? porque os sete a
tiveram por esposa” (vs. 19-23). Eles achavam que
eram muito espertos ao fazer essa pergunta ao
Senhor.
a Senhor Jesus lhes disse: “Não é por isto que
errais, por não conhecerdes as Escrituras nem o
poder de Deus?” (v. 24). Conhecer as Escrituras é
uma coisa; conhecer o poder de Deus é outra.
Precisamos conhecer ambos. Aqui “as Escrituras”
referem-se aos versículos do Antigo Testamento a
respeito da ressurreição e “o poder de Deus”, ao
poder da ressurreição.
O Senhor disse ainda que na ressurreição não
haverá nenhum casamento: “Pois quando
ressuscitam dentre os mortos, nem casam, nem se
dão em casamento; mas são como os anjos nos céus”
(v. 25).
O Senhor Jesus, no entanto, não parou aí; Ele
continuou: “E, quanto aos mortos, que eles
ressuscitam, não tendes lido no livro de Moisés, no
trecho referente à sarça, como Deus lhe disse: Eu sou
o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó?
Ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos. Errais
muito” (v. 26-27). Deus é Deus dos vivos e é chamado
o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, assim esses
três, que já tinham morrido, Abraão, Isaque e Jacó,
serão ressuscitados. Essa é a maneira pela qual o
Senhor Jesus expunha as Escrituras: não apenas pela
letra, mas pela vida e pelo poder que há nelas.
Nessa palavra aos saduceus, no versículo 26, o
Senhor Jesus na verdade se referia a Si mesmo, pois
Ele, como o Anjo de Jeová, foi quem falou a Moisés
em Êxodo 3. Aqui Ele parece dizer: “Fui Eu que falei a
Moisés. Eu, vosso Deus, era o Anjo que lhe falou de
dentro da sarça. Ademais, Jeová é o Deus de Abraão,
Isaque e Jacó. Se eles não ressuscitarem, como Deus
pode ser chamado o Deus deles? Ele nunca seria
conhecido como o Deus dos mortos; Ele é o Deus dos
vivos. Portanto esse título indica ressurreição”.
SAIR DO TEMPLO
Marcos 13:1 diz: “Ao sair Jesus do templo,
disse-Lhe um de Seus discípulos: Mestre, olha que
pedras e que construções!”. O fato de o Senhor sair do
templo indica que Ele o abandonava. Isso foi o
cumprimento de Sua palavra em Mateus 23:38 com
respeito a deixar o templo para os judeus que O
rejeitaram, como sua casa deserta. Isso eqüivale à
glória de Deus ter deixado o templo nos tempos
antigos (Ez 10:18).
Em Mateus 23:38 o Senhor Jesus diz: “Eis que a
vossa casa vos é deixada deserta”. Como casa nesse
versículo está no singular, deve referir-se à casa de
Deus, que era o templo (Mc 11:15, 17). Ela era a casa
de Deus, mas agora tornou-se a vossa casa, pois se
transformou em covil de salteadores.
Quando um dos discípulos Lhe falou sobre as
pedras e construções maravilhosas, o Senhor lhe
disse: “Vês estas grandes construções? De modo
nenhum ficará aqui pedra sobre pedra que não seja
derrubada” (v. 2). Isso se cumpriu no ano 70 d.C. ,
quando Tito, com o exército romano, destruiu
Jerusalém.
A palavra do Senhor em 13:2 corresponde a
deserta em Mateus 23:38. O templo foi deixado
deserto quando Jerusalém foi destruída.
Vimos que o Senhor Jesus recebeu uma calorosa
recepção do povo, amaldiçoou a figueira e purificou o
templo. A purificação do templo instigou os
opositores. Por essa razão, no dia seguinte à
purificação do templo, Ele confrontou os opositores,
que O examinaram e Lhe fizeram diversas perguntas.
Todas essas coisas aconteceram aos olhos de Seus
seguidores íntimos. Contudo, em 13:1, um deles ainda
conseguia dizer: “Mestre, olha que pedras e que
construções!”.
O Senhor Jesus procurou impressionar Seus
seguidores com o fato de que, nesse ponto, Ele não
tinha mais nada a ver com a nação judaica nem com o
templo. Ele amaldiçoou a figueira, o símbolo da nação
judaica, e purificou o templo. Esses atos indicam que,
como Deus, Ele estava farto de Israel e do templo
nesse momento.
Marcos 13:1 diz: “Ao sair Jesus do templo”.
Quando saiu do templo, Ele o abandonou. Como já
dissemos, o templo não era mais a casa de Deus; era a
vossa casa, a casa dos que fizeram dela um covil de
salteadores. Assim a casa deles lhes foi deixada para
desolação. Depois que o Senhor saiu do templo, Ele
nunca mais voltou lá. Segundo a predição do Senhor,
o templo foi totalmente destruído.
Os discípulos do Senhor testemunharam o
amaldiçoar da figueira e a purificação do templo, mas
não entenderam o significado dessas coisas. Foi por
isso que ainda admiraram as maravilhosas pedras e
maravilhosas construções. Isso tornou necessário que
o Senhor Jesus lhes falasse mais, a fim de prepará-los
para Sua morte.
Em 13:2 o Senhor diz aos discípulos: “Vês estas
grandes construções? De modo nenhum ficará aqui
pedra sobre pedra que não seja derrubada”. Essa
profecia se cumpriu no ano 70 d.C. Em seus escritos,
Josefo, historiador judeu, registra os detalhes da
destruição de Jerusalém e do templo. Jerusalém foi
completamente destruída.
DORES DE PARTO
Ao falar de guerras, terremotos e fome, o Senhor
Jesus diz no versículo 8: “Essas coisas são o princípio
das dores de parto”. Os judeus, como os eleitos de
Deus, sofrerão “dores de parto” para gerar um
remanescente que terá parte no reino messiânico, a
seção terrena do milênio.
Aqui precisamos dizer uma palavra adicional a
respeito das dores de parto mencionadas pelo Senhor
em 13:8. Para entender essa expressão precisamos
perceber que desde a ressurreição do Senhor um
nascimento está ocorrendo: o nascimento do novo
homem universal.
O homem criado por Deus, o velho homem,
falhou diante Dele e se tornou inútil quanto ao
cumprimento de Seu propósito. Por isso, pela morte e
ressurreição de Cristo, Deus começou a gerar um
novo homem universal. O nascimento ou parto desse
novo homem começou com a ressurreição do Senhor,
pois nós, os chamados de Deus, fomos todos
ressuscitados com Cristo.
Ao tempo da ressurreição do Senhor, o parto do
novo homem universal ainda não havia terminado.
Na verdade ali foi apenas o início. Esse nascimento
irá continuar até o fim da grande tribulação.
De acordo com o livro de Atos, Pedro e os outros
discípulos sofreram as dores de parto. Através dos
séculos, muitas pessoas fiéis ao Senhor sofreram
essas dores, e hoje ainda muitos as sofrem. O motivo
pelo qual essas dores continuam é que o parto do
novo homem universal ainda não terminou.
Antes de morrer, o Senhor Jesus falou acerca do
nascimento do novo homem: “Em verdade, em
verdade vos digo que chorareis e vos lamentareis,
mas o mundo se alegrará; vós vos entristecereis, mas
a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher,
quando dá a luz, tem tristeza, porque chegou a sua
hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se
lembra da aflição, pela alegria de haver nascido ao
mundo um homem. Assim também vós agora tendes
tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se
alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará” (Jo
16:20-22). Em certo sentido, uma criança, o novo
homem, nasceu quando o Senhor ressuscitou. Mas,
em outro sentido, o novo homem universal, revelado
nos capítulos dois e quatro de Efésios, ainda não
nasceu totalmente. Pelo contrário, ainda está no
processo de nascimento, o que envolve sofrimento.
As perseguições sofridas pelos santos são
consideradas pelo Senhor Jesus como dores de parto,
que tiveram início ao tempo da ressurreição e
ascensão do Senhor. Desde o dia de Pentecostes,
essas dores não cessaram de ser experimentadas
pelos seguidores do Senhor. Como o nascimento do
novo homem ainda ocorre hoje, as dores continuam.
O que o Senhor diz em Marcos 13:1-8 está relacionado
com as dores de parto para gerar o novo homem
universal.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM QUARENTA
A PREPARAÇÃO DO SALVADOR-SERVO PARA SEU
SERVIÇO REDENTOR (7)
O EVANGELHO E AS PERSEGUIÇÕES
Em 13:9-13 o Senhor fala a respeito da pregação
do evangelho e das perseguições. No versículo 9 o
Senhor diz: “Vós, porém, olhai por vós mesmos. Eles
vos entregarão aos sinédrios, e sereis espancados nas
sinagogas; e, por Minha causa, vos farão comparecer
à presença de governadores e reis, para lhes servir de
testemunho”. “Vós” aqui se refere em especial aos
discípulos judeus. Os primeiros mártires foram
judeus.
O versículo 9 indica que as perseguições virão
tanto dos judeus como dos gentios. Os sinédrios e as
sinagogas estão relacionados com os judeus, mas os
governadores e os reis se referem aos governantes dos
gentios. Assim as perseguições descritas no versículo
9 virão tanto dos judeus como dos gentios.
No versículo 10 o Senhor diz: “Mas é necessário
que primeiro o evangelho seja proclamado a todas as
nações”. De acordo com Mateus 24:14, o evangelho
que será pregado a todas as nações é o evangelho do
reino, o qual inclui o evangelho da graça (At 20:24).
Contudo o evangelho do reino introduz as pessoas
não apenas na salvação de Deus, mas também em Seu
reino (Ap 1:9). A ênfase do evangelho da graça está no
perdão dos pecados, na redenção de Deus e na vida
eterna; a ênfase do evangelho do reino está no
governo de Deus e na autoridade do Senhor. O
evangelho do reino será pregado em todo o mundo,
para testemunho a todas as nações, antes que venha o
fim desta era. Esse testemunho deve se espalhar pela
terra antes do fim desta era, antes do tempo da
grande tribulação.
No versículo 11 o Senhor diz aos discípulos que
não fiquem ansiosos sobre o que falar quando forem
entregues, pois o Espírito Santo falará neles. Então
Ele continua: “Um irmão entregará à morte outro
irmão, e o pai ao filho; filhos se levantarão contra os
pais e os farão morrer. E sereis odiados de todos por
causa do Meu nome; aquele, porém, que perseverar
até o fim, esse será salvo” (vs. 12-13). Essa palavra é
breve, mas todo-inclusiva. A perseguição virá dos
judeus, dos gentios e até mesmo dos membros da
própria família. Essa perseguição aconteceu e ainda
acontece hoje.
É importante entender o significado da palavra
salvo no versículo 13. Aqui salvo pode significar ser
salvo dos que odeiam e perseguem. Mas, por fim,
significa ser salvo para entrar na manifestação do
reino na era vindoura, manifestação essa que será um
galardão para os crentes vencedores. Isso difere da
salvação eterna revelada em Efésios 2:8.
A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO
Em 13:14-27 o Senhor fala a respeito da grande
tribulação e da vinda do Salvador-Servo. O versículo
14 diz: “Quando virdes a abominação da desolação
em pé onde não deve estar (quem lê, entenda), então
os que estiverem na Judéia fujam para os montes”.
Quanto tempo levarão os acontecimentos dos
versículos 1 a 13, não sabemos. Mas a profecia nos
versículos 13 a 27 certamente será cumprida nos
últimos três anos e meio desta era, no tempo da
grande tribulação, a segunda metade da última
semana profetizada em Daniel 9:27. Esse período se
iniciará com a colocação da imagem do anticristo (um
ídolo) no templo (Mc 13:14) e terminará com a vinda
aberta de Cristo (v. 26).
No versículo 14 o Senhor fala da abominação da
desolação em pé onde não deve estar. Abominação
significa ídolo (Dt 29:17). Aqui se refere à imagem do
anticristo colocada no templo de Deus como ídolo (Ap
13:14-15; 2Ts 2:4) no início da grande tribulação (Mt
24:21).
A palavra grega traduzi da como desolação
significa causar desolação, desolar. A abominação, o
ídolo do anticristo, causará desolação. O anticristo é
chamado de o destruidor (Apoliom, Ap 9:11); ele fará
muita destruição (Dn 8:13, 23-25; 9:27).
A abominação da desolação estará em pé onde
não deve estar. De acordo com Mateus 24:15, ela
estará no lugar santo, isto é, no templo de Deus (Sl
68:35; Ez 7:24; 21:2).
A DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM
Jerusalém já foi destruída mais de uma vez, e
novamente o será. Ela foi destruída pela primeira vez
por Nabucodonosor com o exército babilônico. Mais
tarde, no século II a. e. , depois de reconstruído, o
templo foi profanado por Antíoco Epífanes1. Muitos
estudiosos da Bíblia percebem que ele prefigurava
Tito, que veio para destruir Jerusalém em 70 d.C. Tito
prefigura o anticristo vindouro, que com o seu
exército uma vez mais destruirá Jerusalém.
Havia profecias tanto sobre Tito como sobre o
anticristo em Daniel. Antíoco Epífanes era uma
prefiguração de Tito, que por sua vez era uma
prefiguração do anticristo. O “pequeno chifre” em
Daniel 8 era prefiguração de Tito, e Tito é
prefiguração do anticristo vindouro. Com Tito
ocorreu a terceira destruição de Jerusalém e do
templo; com a vinda do anticristo, Jerusalém será
novamente destruída.
A palavra do Senhor em Marcos 13 se refere ao
anticristo e também implica a destruição de
Jerusalém em 70 d.C. por Tito. Para entender esse
trecho da Palavra, é útil perceber que Tito prefigura o
anticristo, e a destruição que ele infligiu a Jerusalém
prefigura a destruição que será executada pelo
anticristo.
OS ESCOLHIDOS
Em 13:19-20 o Senhor diz: “Porque aqueles dias
serão de tamanha tribulação como não tem havido
1
Ou: Antíoco Epifânio, rei da Síria, homem extremamente vil que viveu no século Il a. C. (N. do T.)
desde o princípio da criação, que Deus criou, até
agora, nem haverá jamais. Não tivesse o Senhor
abreviado aqueles dias, nenhuma carne seria salva;
mas, por causa dos eleitos, que Ele escolheu, abreviou
tais dias”. Aqui os escolhidos se refere aos judeus, o
povo escolhido de Deus (Rm 11:28). A tribulação
causada pelo anticristo será tão severa que ninguém
conseguirá suportar. Se o Senhor não a tivesse
abreviado, nenhuma carne se salvaria. Mas, por causa
dos escolhidos, os eleitos, aqueles dias serão
abreviados.
PREFIGURAÇÃO DE CRISTO
Marcos 14:1 diz: “Dali a dois dias era a Páscoa e a
festa dos Pães Asmas”. Embora os principais
sacerdotes e os escribas quisessem matar o Senhor
Jesus, eles disseram: “Não durante a festa, para que
não haja tumulto da parte do povo” (v. 2). Por fim,
pela soberania de Deus, eles realmente mataram o
Senhor Jesus durante a festa (Mt 27:15) para o
cumprimento da prefiguração.
A Páscoa prefigurava Cristo (1Co 5:7). Ele é o
Cordeiro de Deus para que Deus possa passar por
cima de nós, pecadores, como retrata a Páscoa em
tipologia, em Êxodo 12. Assim era necessário que
Cristo, como o Cordeiro Pascal, fosse morto no dia da
Páscoa, para cumprir a prefiguração.
De acordo com o tipo, o cordeiro pascal tinha de
ser examinado, para ver se tinha algum defeito, nos
quatro dias que precediam a festa da Páscoa (Êx
12:3-6). Antes de Sua crucificação, Cristo foi a
Jerusalém pela última vez, seis dias antes da Páscoa
(10 12:1) e foi examinado pelos líderes judeus. Não se
achou nenhuma falha Nele, e foi comprovado que Ele
era perfeito e estava qualificado para ser o Cordeiro
Pascal por nós.
JUDAS ISCARIOTES
Marcos 14:18 diz: “E, enquanto estavam
reclinados à mesa e comiam, disse Jesus: Em verdade
vos digo que um dentre vós, o que come Comigo, Me
trairá”. Comiam a páscoa (v. 16), e não a ceia do
Salvador-Servo, que está nos versículos 22 a 24.
Aquele que entregou o Senhor Jesus foi Judas
Iscariotes.
Nos versículos 19 e 20 lemos: “Eles começaram a
entristecer-se e a perguntar-Lhe, um após outro:
Porventura sou eu? E Ele lhes respondeu: É um dos
doze, o que mete Comigo a mão no prato”. Após ter
sido desmascarado, Judas saiu (10 13:21-30), antes
da ceia do Salvador-Servo (Mt 26:20-26). Ele não
participou do corpo e do sangue do Salvador-Servo,
pois não era crente de verdade, e sim filho da
perdição (10 17:12), considerado pelo Salvador-Servo
como diabo (10 6:70-71). Lucas 22:21-23 parece
indicar que Judas saiu depois da ceia do Senhor, o
que é mencionado em Lucas 22:19-20. Entretanto o
registro de Marcos, como o de Mateus, mostra que ele
foi identificado pelo Salvador-Servo como traidor (Mc
14:18-21), antes da instituição de Sua ceia (vs. 22-24).
O registro de Marcos é segundo a seqüência histórica,
ao passo que o de Lucas é segundo a moral. A
seqüência do registro de Mateus combina com a de
Marcos.
LEMBRAR-SE DO SALVADOR-SERVO
Marcos 14:22 diz: “E, enquanto comiam, tomou
Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu e deu-lho,
dizendo: Tomai; isto é o Meu corpo”. Eles comiam a
ceia do Salvador-Servo, após ter comido a páscoa nos
versículos 16 a 18. Ele iniciou essa nova festa, que era
para que os crentes se lembrassem Dele, em
substituição à festa da Páscoa do Antigo Testamento,
que era para que os eleitos se lembrassem da salvação
de Jeová (Êx 12:14; 13:3).
Essa nova festa do novo testamento visa à
memória do Salvador-Servo, comendo-se o pão, que
representa Seu corpo dado em favor dos crentes (1Co
11:24), e bebendo-se o cálice, que representa Seu
sangue derramado em favor dos pecados deles (Mt
26:28). O pão denota vida (10 6:35), a vida de Deus, a
vida eterna; e o cálice denota bênção (1Co 10:16), que
é o próprio Deus como porção dos crentes (Sl 16:5).
Como pecadores, os crentes deveriam ter tomado o
cálice da ira de Deus como porção (Ap 14:10). Mas o
Salvador-Servo o bebeu por eles (10 18:11) e Sua
salvação tomou-se-lhes a porção, o cálice da salvação
(Sl 116:13) que transborda (Sl 23:5), cujo conteúdo é
Deus como bênção todo-inclusiva dos crentes. Esse
pão e cálice são os elementos que constituem a ceia
do Salvador-Servo, que é uma mesa (1Co 10:21), uma
festa, preparada por Ele para que os crentes se
lembrem Dele desfrutando-O como tal festa. Assim, à
medida que se lembram Dele, exibem Sua morte
redentora e transmissora de vida (1Co 11:26 — o
sangue separado do corpo anuncia Sua morte),
testificando a todo o universo Sua rica e maravilhosa
salvação.
O SANGUE DA ALIANÇA
Nos versículos 23 e 24 lemos: “E tomou um cálice
e, tendo dado graças, deu-lho; e todos beberam dele.
Então lhes disse: Isto é o Meu sangue da aliança, que
é derramado por muitos”. Em Êxodo 24:3-8, Deus fez
com o Israel redimido uma aliança (Hb 9:18-21), que
se tornou o antigo testamento, base de Seu
relacionamento com Seus redimidos na dispensação
da lei. Por meio de Sua morte, segundo a vontade de
Deus (Hb 10:7, 9-10), o Salvador-Servo veio realizar a
redenção eterna de Deus em favor de Seus escolhidos;
e, com Seu sangue, instituiu nova aliança, superior
(Hb 8:6-13), que após Sua ressurreição tornou-se o
novo testamento (Hb 9:16-17), baseado na qual Deus
pode ser um com Seus redimidos e regenerados na
dispensação da graça. Essa nova aliança substituiu a
antiga e ao mesmo tempo mudou a antiga
dispensação de Deus em Sua nova dispensação. O
Salvador-Servo queria que Seus seguidores
conhecessem isso, e levassem uma vida baseada nisso
e segundo isso após Sua ressurreição.
Em 14:25 o Senhor prosseguiu: “Em verdade vos
digo que de nenhum modo beberei mais do fruto da
videira, até aquele dia em que o beba, novo, no reino
de Deus”. Aqui Ele fala da manifestação do reino, no
qual irá beber conosco após Sua vinda.
O versículo 26 é a conclusão da seção sobre a
instituição da ceia do Salvador-Servo: “E, tendo
cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras”.
Esse hino foi um louvor do Senhor com os discípulos
ao Pai, após a mesa do Senhor.
SÍMBOLO DA ECONOMIA
NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
A ceia instituída pelo Senhor, pelo contrário, é
extremamente profunda. Essa festa é um sinal, um
símbolo, de toda a economia neotestamentária de
Deus. A economia divina na era do Novo Testamento
está envolvida com a mesa do Senhor.
Não creio que algum discípulo tenha entendido o
significado da mesa do Senhor quando foi instituída.
Pedro, por exemplo, participou dela, mas certamente
não viu seu significado.
O Pão e o Cálice
Quando instituiu Sua ceia, “tomou Jesus um pão
e, abençoando-o, o partiu e deu-lho, dizendo: Tomai;
isto é o Meu corpo” (14:22). Então tomou o cálice,
deu-lhes e disse: “Isto é o Meu sangue da aliança, que
é derramado por muitos” (v. 24). Portanto a mesa do
Senhor inclui um pão e um cálice.
Segundo o uso bíblico, pão representa vida. O
Senhor Jesus disse: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6:35).
Isso indica que, na Bíblia, pão é vida.
Além disso, segundo o uso bíblico, o cálice
representa uma porção de bênção. Assim o cálice é
chamado de o cálice da bênção. O pão é de vida e o
cálice é de bênção.
Certamente a vida é a vida divina e a bênção é a
bênção divina. Na verdade, tanto a vida como a
bênção são o Deus Triúno, o próprio Deus em Cristo,
mediante o Espírito. Você sabe o que é vida eterna? É
o Deus Triúno. Você sabe o que é a bênção divina?
Também é o Deus Triúno. Assim tanto a vida divina
como a bênção divina são, na verdade, o próprio Deus
Triúno.
Um Quadro do Senhor
Vimos que o cálice da mesa do Senhor representa
Seu sangue. No Antigo Testamento era proibido
beber o sangue (Gn 9:4; Lv 17:10). Na economia de
Deus só há um sangue bom para beber: o sangue do
Senhor Jesus. Em princípio, beber o sangue é o
mesmo que comer o pão: o que bebemos nos satura e
se torna nosso ser.
EXPERIMENTAR A RESSURREIÇÃO
INTERIOR
Vimos que a mesa do Senhor representa o
próprio Senhor, Sua morte, ressurreição e Seu Corpo
místico como Sua expansão. Como a mesa do Senhor
se relaciona com Sua ressurreição? Podemos dizer
que, sempre que O comemos, digerimos e
assimilamos como nosso suprimento de vida,
experimentamos a ressurreição interior. Podemos
usar o fato de comer alimento físico como ilustração.
Freqüentemente antes do jantar estou cansado e
fraco. Mas, depois de comer uma refeição nutritiva,
sou reavivado. Eu diria até que sou “ressuscitado”. A
vida que como contém um elemento de vida que me
reaviva. De forma semelhante, quando comemos o
Senhor Jesus, Ele se torna a vida de ressurreição em
nós.
ORA NO GETSÊMANI
Depois de advertir os discípulos sobre tropeçar, o
Senhor Jesus foi com eles a um lugar cujo nome é
Getsêmani (v. 32), que significa lagar de azeite. Ele
foi premido ali para que o azeite, o Espírito, pudesse
fluir.
Tomando Consigo a Pedra, Tiago e João, Ele
“começou a sentir pavor e a angustiar-se
profundamente” (v. 33). Quanto a sentir pavor, C. E.
B. Cranfield diz que Ele estava “tomado de pavor
estremecedor em face da terrível perspectiva que se
Lhe propunha”.
O Senhor disse a Pedro, Tiago e João: “A Minha
alma está profundamente triste, até a morte. Ficai
aqui e vigiai. E, adiantando-se um pouco, prostrou-se
em terra, e orava para que, se fosse possível, passasse
Dele aquela hora”. A tristeza do Salvador-Servo e Sua
oração no versículo 35 são iguais às de João 12:27. Ali
Ele disse ter vindo para essa hora; isto é, sabia que a
vontade do Pai era que Ele morresse na cruz para o
cumprimento do plano eterno de Deus.
Segundo o versículo 36 o Senhor orou: “Aba, Pai,
tudo Te é possível; afasta de Mim este cálice;
contudo, não seja o que Eu quero, e, sim, o que Tu
queres”. Na eternidade passada, o Deus Triúno
determinou em Seu plano divino que o Segundo da
Trindade Divina se encamaria e morreria na cruz
para realizar Sua redenção eterna, cumprindo assim
Seu eterno propósito (Ef 1:7-9). Portanto, antes da
fundação do mundo, isto é, na eternidade passada
(1Pe 1:19-20), foi determinado que o Segundo da
Trindade Divina seria o Cordeiro de Deus (10 1:29); e
aos olhos de Deus, Ele foi imolado como tal desde a
fundação do mundo, ou seja, desde que Deus fez as
criaturas, as quais se tomaram caídas (Ap 13:8). A
partir da queda do homem, cordeiros, ovelhas,
bezerros e touros foram usados como tipos em favor
do povo escolhido de Deus (Gn 3:21; 4:4; 8:20; 22:13;
Êx 12:3-8; Lv 1:2), apontando para Aquele que viria
como o verdadeiro Cordeiro determinado de antemão
por Deus. Na plenitude dos tempos, o Deus Triúno
enviou o Segundo da Trindade, o Filho de Deus, que
se encarnou, assumindo um corpo humano (Hb 10:5)
para oferecer-Se a Deus na cruz (Hb 9:14; 10:12), a
fim de fazer a vontade do Deus Triúno (Hb 10:7), a
saber, substituir os sacrifícios e ofertas, que eram
prefigurações, por Ele mesmo em Sua humanidade,
como sacrifício e oferta singulares pela santificação
dos escolhidos de Deus (Hb 10:9-10). Em Sua oração
aqui, imediatamente anterior à Sua crucificação, Ele
Se preparou para tomar o cálice da cruz (Mt 26:39,
42), disposto a fazer essa vontade singular do Pai
para a consumação do plano eterno do Deus Triúno.
No versículo 38 o Senhor Jesus exortou os três
discípulos: “Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; o espírito está disposto, mas a carne é
fraca”. A palavra grega traduzida por disposto,
também pode ser traduzi da por pronto. Em coisas
espirituais o espírito sempre está pronto, disposto,
mas a carne é fraca.
INTRODUZIDOS NA MORTE E
RESSURREIÇÃO DO SENHOR
Ao ler os capítulos catorze e quinze de Marcos,
vemos que Pedro foi introduzido na crucificação do
Senhor. Quando Pedro se gabou de que nunca
negaria o Senhor Jesus, ele ainda não fora
crucificado. Ele afirmava que, mesmo que todos os
outros tropeçassem, ele não iria. E disse também:
“Ainda que me seja necessário morrer Contigo, de
nenhum modo Te negarei” (14:31). Contudo, pouco
depois de se gabar dessa forma, ele negou o Senhor
Jesus completamente. Depois de negá-Lo, “Pedro se
lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que
duas vezes cante o galo, tu Me negarás três vezes. E,
pensando nisso, começou a chorar” (14:72). Num
sentido bem real essa foi a crucificação de Pedro. Ele
chorou porque tinha sido crucificado.
Embora tenha negado o Senhor, Pedro não
desistiu; pelo contrário, prosseguiu para entrar na
ressurreição do Senhor.
Talvez você se pergunte que indicação há no
Evangelho de Marcos de que Pedro entrou na
ressurreição de Cristo. Considere a palavra do anjo às
mulheres que vieram ao túmulo na madrugada do dia
da ressurreição do Senhor: “Não vos espanteis;
buscais a Jesus, o Nazareno, o crucificado. Ele
ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde O
puseram. Mas ide, dizei aos Seus discípulos, e a
Pedro, que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali O
vereis, como Ele vos disse” (16:6-7). Aqui vemos que
o anjo especificamente cita Pedro. Isso indica que ele
foi introduzido na ressurreição de Cristo.
Não devemos ler Marcos como um livro de
histórias.
Precisamos ganhar a revelação contida nele.
Marcos revela que o Senhor Jesus não tinha a
intenção de passar pela morte e ressurreição sozinho,
pelo contrário, Sua intenção era introduzir Seus
seguidores com Ele. Se ganharmos essa revelação,
teremos a certeza de que, como O amamos, Ele nos
fará passar por Sua morte e nos introduzirá em Sua
ressurreição.
Quando chegamos ao final de Marcos, vemos que
todos os seguidores do Senhor foram introduzidos
não apenas em Sua morte e ressurreição, como
também em Sua ascensão. Em ascensão foram
enviados para pregar o evangelho aos confins da
terra. Louvado seja o Senhor, os discípulos foram
introduzidos em Sua morte, ressurreição e ascensão!
EXPOSIÇÃO E CRUCIFICAÇÃO
Embora Pedro estivesse presente quando o
Senhor instituiu Sua ceia, ele não entendeu o
significado. Logo após a ceia, o Senhor advertiu os
discípulos sobre tropeçar. Essa advertência era uma
indicação de que os discípulos ainda estavam na
carne. Embora tenha instituído a ceia e todos
tivessem participado dela, eles ainda estavam na
carne. Imediatamente Pedro se portou de maneira
natural, gabando-se de que não iria tropeçar nem
negar o Senhor.
Após advertir os discípulos a respeito de
tropeçar, o Senhor Jesus conduziu três deles (Pedro,
Tiago e João) ao Getsêmani e lhes disse: “Ficai aqui e
vigiai” (v. 34). Contudo, quando chegou até eles,
achou-os dormindo e disse a Pedra: “Simão, tu
dormes? não foste capaz de vigiar nem por uma
hora?” (v. 37). Pedro, o líder dos discípulos, tomou a
liderança em dormir; não tinha forças para nada,
exceto dormir.
Pedro também se portou naturalmente quando o
Senhor Jesus foi preso. Ele puxou da espada e “feriu o
servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha” (v.
47). Pedro novamente causou problemas. Enquanto
era preso, o Senhor ainda precisou fazer um milagre
para curar a orelha do escravo do sumo sacerdote (Lc
22:50-51).
De acordo com Marcos 14:66-72 Pedro negou
completamente o Senhor Jesus. Uma das criadas do
sumo sacerdote lhe disse: “Tu também estavas com o
nazareno, Jesus” (v. 67). Pedro, porém, o negou,
dizendo: “Não sei nem compreendo o que dizes” (v.
68). Logo em seguida Pedro negou o Senhor Jesus
mais duas vezes. Com essa exposição, Pedro foi posto
na cruz. O Senhor Jesus foi crucificado e Pedro
também. Sua exposição foi sua crucificação.
PRESO E JULGADO
Marcos 14:43-52 nos diz como o Senhor Jesus foi
preso. No versículo 49, Ele disse aos que vieram
prendê-Lo: “Todos os dias Eu estava convosco no
templo, ensinando, e não Me prendestes; mas é para
que se cumpram as Escrituras”. Os opositores, que
haviam abandonado e ofendido a Deus, temendo o
povo que calorosamente acolhera o Salvador-Servo
(11:7-11) e O ouvia com prazer (12:37), não ousaram
prendê-Lo à luz do dia ou em público, como no
templo. Em vez disso, prenderam-No sutilmente, na
calada da noite (14:1), como se prendessem um
salteador (14:48).
Marcos 14:53-15:15 descreve como o
Salvador-Servo foi julgado. Primeiro foi julgado pelos
líderes judeus, representando os judeus (14:53-64).
Depois foi julgado pelo governo romano
representando os gentios (15:1-15).
Marcos 14:53 diz: “E levaram Jesus ao sumo
sacerdote, e reuniram-se todos os principais
sacerdotes, os anciãos e os escribas”. O
Salvador-Servo foi preso como salteador (v. 48) e
levado ao matadouro como cordeiro (Is 53:7).
Em 14:55-60 vemos que o Senhor Jesus não
disse nada em resposta aos que davam falso
testemunho contra Ele. “Ele, porém, guardava
silêncio, e nada respondeu. Tornou a interrogá-Lo o
sumo sacerdote, e Lhe disse: És Tu o Cristo, o Filho
do Deus Bendito?” (v. 61). O estonteado sumo
sacerdote da religião tradicional, a qual abandonara a
Deus e fora por Ele abandonada, chamou a Deus de
“Bendito” para mostrar quanto O reverenciava e
honrava. Com respeito à Sua conduta, o
Salvador-Servo não quis responder às falsas
acusações dos que procuravam Nele algum defeito;
entretanto, em relação à Sua Pessoa divina, Sua
deidade, Ele não ficou calado, mas no versículo 62
respondeu categórica e definitivamente, asseverando
Sua deidade em Sua humanidade ao declarar que,
como Filho do Homem, se assentaria à direita de
Deus.
Os versículos 63 e 64 dizem: “E o sumo
sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: Que
necessidade ainda temos de testemunhas? Ouvistes a
blasfêmia! Que vos parece? E todos O condenaram
como réu de morte”. Quando o Salvador-Servo
afirmou Sua, deidade, os opositores cegos O
condenaram, considerando-O blasfemo, não
percebendo que eles é que, na verdade, blasfemavam
contra Deus, que era exatamente Aquele a quem
difamavam e escarneciam naquele momento.
O versículo 65 diz: “Alguns começaram a cuspir
Nele, a cobrir-Lhe o rosto, a dar-Lhe murros e a
dizer-Lhe: Profetiza! E os serventuários O tomaram a
bofetadas”. Esse foi o extremo desprezo e rejeição que
os judeus demonstraram para com o Salvador-Servo,
como foi profetizado em Isaías 53:3.
O FILHO DO HOMEM
Comentamos que enquanto o Senhor Jesus era
falsamente acusado, Ele permaneceu em silêncio.
Mas quando Lhe perguntaram a respeito da Sua
Pessoa, se era o Cristo, o Filho do Deus Bendito, Ele
respondeu: “Eu sou; e vereis o Filho do Homem
assentado à direita do Poder, e vindo com as nuvens
do céu” (14:62). Embora Lhe tenham perguntado se
Ele era o Filho do Deus Bendito, Ele se referiu a Si
mesmo como o Filho do Homem. Ele é o Filho do
Homem, não apenas na terra antes da crucificação,
mas também nos céus à direita de Deus, após a
ressurreição (At 7:56), e ainda será o Filho do
Homem até mesmo por ocasião de Sua volta sobre as
nuvens. Para realizar o propósito de Deus, o Senhor
tinha de ser um homem. Sem o homem, o propósito
de Deus não pode ser levado a cabo na terra.
Em 14:62 o Senhor Jesus parecia dizer aos
líderes judeus: “Vocês Me perguntam se sou o Cristo,
o Filho do Bendito; Eu digo: Sim, sou. Também sou o
Filho do Homem, e vocês verão o Filho do Homem
sentado à direita do Poder. Vocês falam do Bendito,
mas Eu falo do Poder”.
Tanto “Bendito” no versículo 61, como “Poder”
no versículo 62, referem-se ao Deus Todo-Poderoso.
O fato de o Senhor usar a palavra “Poder”, indica que
os líderes judeus não eram o governo, mas Ele é o
governo. Ele ainda lhes mostrou que voltaria como o
Filho do Homem. Ele também parecia dizer: “Vocês
reverenciam Deus como Bendito, mas Eu lhes digo:
Ele é o Poder para governar todas as coisas. Vocês
verão o Filho do Homem sentado à direita do Poder e
vindo com as nuvens do céu”.
Quando examinava o Senhor Jesus, Pilatos não
se importou se Ele era ou não o Filho de Deus; antes,
interrogou-O: “És Tu o Rei dos judeus?” (15:2). A essa
pergunta o Senhor respondeu: “Tu o dizes”. Isso quer
dizer que Ele admitiu para Pilatos ser o Rei dos
judeus. Portanto Ele era tanto o Filho de Deus como o
Rei dos judeus. Devido a isso, foi sentenciado à
morte. Isso significa que foi crucificado como o Filho
de Deus e como o Rei dos judeus.
CRUCIFICADO NO GÓLGOTA
O versículo 21 diz: “E obrigaram a certo Simão,
cireneu, que passava, vindo do campo, pai de
Alexandre e de Rufo, a carregar-Lhe a cruz”. Cirene
era uma cidade colonial grega, capital da Cirenaica,
no norte da África. Parece que Simão era um judeu
cireneu.
De acordo com 15:22, “levaram-No ao lugar
chamado Gólgota, que, traduzido, significa: Lugar da
Caveira”. Gólgota é uma palavra hebraica (Jo 19:17)
que significa caveira. Seu equivalente em latim é
Calvaria, donde vem a palavra Calvário [em
português] (Lc 23:33 — VRA). Não significa lugar de
caveiras, mas simplesmente caveira.
O versículo 23 diz: “Davam-Lhe vinho misturado
com mirra; mas Ele não o tomou”. Esse vinho
misturado com mirra (e também com fel-Mt 27:34)
era usado como bebida de efeito estupefaciente. Mas
o Senhor não queria ficar estupefeito; Ele queria
beber o cálice amargo até o fim.
O versículo 24 diz: “Então O crucificaram, e
repartiram entre si as Suas vestes, lançando a sorte
sobre elas, para ver o que levaria cada um”. O Senhor
foi roubado ao extremo pelos pecadores, cumprindo o
Salmo 22:18. Isso também desmascarou as trevas da
política romana.
Marcos 15:25 diz: “Era a hora terceira, e O
crucificaram”. A hora terceira equivale às nove horas
da manhã.
3
Credo: Oração cristã iniciada, em latim, pela palavra credo (creio), e que encerra os artigos
fundamentais da fé católica (Dic. Aurélio). O Credo de Nicéia foi promulgado pelo concílio convocado
pelo imperador Constantino em 325 d.C. , na cidade de Nicéia, na Bitínia. (N. do T.)
como também parecem estar a certa distância um do
outro.
Ao considerar a Trindade retratada em Mateus 3,
precisamos perceber o que é dito a respeito do
Espírito Santo e do Senhor Jesus em Mateus 1.
Ressaltamos que Mateus 1:20 nos diz que Jesus foi
concebido do Espírito Santo. Assim Mateus 1
equilibra Mateus 3. Se tivéssemos apenas a revelação
da Trindade em Mateus 3, poderíamos pensar em
triteísmo, isto é, três Deuses: um nos céus, um na
terra e um no ar. Contudo o capítulo três de Mateus
procede do capítulo um. Em Mateus 1 a ênfase não
está no três, e sim no um. Portanto, quando
colocamos juntos os capítulos um e três de Mateus,
vemos que Deus é triúno, três-um.
Na realidade, não nos é possível conciliar
plenamente os dois aspectos da Trindade, o aspecto
de um em Mateus 1 e o aspecto de três em Mateus 3.
A razão de não poder conciliá-los é que a Trindade é
um mistério. Se pudéssemos entender plenamente o
Deus Triúno, Ele não seria mais um mistério. Além
disso, nas palavras de Martinho Lutero, se
pudéssemos entender plenamente o Deus Triúno,
isso significaria que somos os mestres de Deus.
Hoje alguns nos acusam falsamente de ensinar
heresia a respeito da Trindade. Se alguém o acusar
dessa maneira, você poderá perguntar-lhe como ele
concilia a revelação a respeito do Deus Triúno nos
capítulos um e três de Mateus.
O ponto crucial que devemos ver em Mateus 1 e 3
é que, quando o Espírito Santo desceu como pomba
sobre o Senhor Jesus, Ele já era humano e divino. Ele
tinha a natureza divina e a humana, pois o Espírito
Santo era uma das essências do Seu ser.
CRISTO A SI MESMO SE OFERECEU PELO
ESPÍRITO SANTO
O livro de Hebreus revela que, quando morreu, o
Senhor Jesus a Si mesmo Se ofereceu como oferta
todo-inclusiva para substituir todas as ofertas do
Antigo Testamento. De acordo com Hebreus 9:14,
Cristo, “pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu
sem mácula a Deus”. Embora seja tanto humano
como divino, Cristo a Si mesmo Se ofereceu a Deus
como a oferta todo-inclusiva, não apenas por Si
mesmo, Aquele que é divino-humano, mas também
pelo Espírito eterno.
O fato de o Senhor Se oferecer a Deus pelo
Espírito eterno pode ser comparado com Seu
ministrar na terra pelo Espírito. Antes de o Espírito
descer sobre Ele, Ele já era divino e humano; apesar
disso, quando estava para iniciar Seu ministério, foi
ungido por Deus com o Espírito. Isso foi o Espírito
que desceu sobre Ele, mas antes disso, em Seu
interior, Ele já tinha a essência da divindade de Deus.
Contudo, para o ministério, Ele foi ungido com o
Espírito Santo. Nos três anos e meio de Seu
ministério, Ele não agiu meramente por Si mesmo,
como Aquele que é tanto humano como divino, mas
também pelo Espírito que unge. Ele se movia e
ministrava por esse Espírito. Em especial, quando Se
oferecia a Deus na cruz como a oferta todo-inclusiva,
Ele o fez pelo Espírito eterno.
O DEUS TRÊS-UM
No capítulo três de Mateus, vemos os três da
Trindade como unidades distintas: o Pai nos céus, o
Filho na terra e o Espírito descendo do ar como
pomba. Mas no capítulo um de Mateus há indicação
definitiva de que os Três são um.
De acordo com Mateus 1, Cristo foi concebido do
Espírito Santo. Isso corresponde a João 1:14, que nos
diz que o Verbo tornou-se carne. Segundo o
Evangelho de João, o Verbo é o Filho de Deus.
Quando o Senhor Jesus foi concebido do Espírito no
ventre de Maria, essa foi a encarnação do Filho de
Deus, o Verbo que se fez carne. Portanto 1 Timóteo
3:16 fala da grandeza do mistério da piedade, que é
Deus manifestado na carne.
Mateus 1:18 e 20, João 1:14 e 1 Timóteo 3:16
todos se referem à mesma questão. A concepção do
Senhor Jesus do Espírito Santo é a encarnação do
Filho de Deus, e a encarnação do Filho de Deus é
Deus manifestado na carne. Quando juntamos esses
versículos, temos o Espírito Santo para a concepção
de Jesus, o Filho para a encarnação e Deus para a
manifestação. Isso mostra que o Espírito, o Filho de
Deus e o próprio Deus são um.
Por um lado os Três da Trindade são três; por
outro, são um. E por isso que dizemos que Deus é
triúno, como três-um. O nosso Deus é o Deus Triúno,
o Deus três-um.
Visto que foi concebido do Espírito Santo, Cristo
é um Homem-Deus. Nele temos o mesclar da
divindade com a humanidade. Portanto, quando foi
batizado, Ele o foi como Homem-Deus. No mesmo
princípio, quando morreu na cruz, foi como
Homem-Deus.
O Problema do Pecado
Segundo, a morte de Cristo, uma morte
todo-inclusiva, lidou com o pecado. Embora seja fácil
explicar o que são pecados, é difícil definir o pecado.
Os pecados se referem a atos, ofensas, transgressões.
Mas que é o pecado? Romanos 8:3 diz que Deus
enviou Seu próprio Filho em semelhança de carne
pecaminosa e no tocante ao pecado; e condenou na
carne o pecado. Para condenar o pecado, Cristo veio
em semelhança da carne pecaminosa. João 1:29 diz:
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!”.
De acordo com a Bíblia e também com nossa
experiência, vimos que o pecado é na realidade a
natureza pecaminosa de Satanás. Satanás é a fonte do
pecado. O pecado é invenção dele, e ele mesmo é o
elemento do pecado. Na verdade, aos olhos de Deus, o
pecado é Satanás.
De acordo com Romanos, o pecado é algo vivo,
algo que pode levar-nos a fazer o que não queremos,
que pode habitar em nós, enganar-nos e até mesmo
nos matar (Rm 6:14; 7:8, 11, 17). Que é isso que vive
em nós e faz todas essas coisas? É Satanás.
Quando o homem caiu, a natureza pecaminosa
de Satanás foi injetada na humanidade. Isso quer
dizer que, quando comeu do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal, o homem ingeriu
essa natureza pecaminosa.
No universo há algo que as Escrituras chamam
de pecado: não é meramente objetivo, fora de nós;
mas também é subjetivo, em nosso interior, na carne.
Portanto exteriormente temos pecados, ofensas,
delitos e transgressões. Interiormente temos o
problema básico do pecado. Louvado seja o Senhor,
porque a morte todo-inclusiva de Cristo não apenas
resolveu o problema de nossos pecados, mas também
julgou e condenou o pecado!
Romanos 8:3 revela que, quando Cristo morria
na cruz, o pecado na carne foi condenado. Podemos
usar a condenação de um prédio inseguro como
ilustração. Quando um edifício está em situação
lastimável, precisa ser demolido e o governo pode
condenar esse prédio. De forma semelhante, o pecado
na carne foi condenado mediante a morte
todo-inclusiva de Cristo. Por Sua morte eterna, a
morte de um Homem-Deus, o pecado foi condenado.
A Velha Criação
Como nosso velho homem foi crucificado com
Cristo, toda a velha criação também o foi. Como seres
humanos, somos os líderes da velha criação e a
representamos. Quando o homem, representante da
velha criação, foi crucificado, toda a velha criação o
foi.
Satanás
Além disso, a morte eterna de Cristo destruiu
Satanás. A esse respeito, Hebreus 2:14 diz: “Visto,
pois, que os filhos têm participação comum de carne e
sangue, destes também ele, igualmente, participou,
para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o
poder da morte, a saber, o diabo”. Isso indica que, em
Sua humanidade e por Sua morte na carne, Cristo
destruiu Satanás, aquele que tem o poder da morte.
Isso significa que Satanás foi crucificado. Pela morte
de Cristo, Satanás foi crucificado; isto é um fato que
independe se o entendemos ou não.
O Sistema do Mundo
A Bíblia revela que Satanás formou um sistema
satânico, chamado de o mundo. Por meio do mundo,
o cosmos satânico, ele sistematizou a humanidade
caída sob sua mão usurpadora. Mas esse sistema
mundano maligno foi julgado.
Como o sistema do mundo está ligado a Satanás,
quando ele, o governante do mundo, foi julgado, o
mundo também foi julgado. A esse respeito o Senhor
Jesus disse: “Agora é o juízo deste mundo; agora o
príncipe deste mundo será expulso” (Jo 12:31). O
príncipe deste mundo foi expulso quando Satanás foi
destruído na cruz. Simultaneamente, o sistema do
mundo, relacionado com Satanás, foi julgado.
Esse juízo pode ser comparado com a
crucificação da velha criação quando nosso velho
homem foi crucificado. Quando o velho homem foi
crucificado, toda a velha criação foi crucificada. Da
mesma forma, quando Satanás foi destruído por meio
da morte de Cristo, o mundo foi julgado.
As Ordenanças
Outra questão com a qual a morte todo-inclusiva
de Cristo lidou está mencionada em Efésios 2:15:
“Aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na
forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si
mesmo, um novo homem, fazendo a paz”. Aqui vemos
que quando Cristo foi crucificado, Sua morte eterna
aboliu e anulou as diversas ordenanças da vida
humana e religião. Além disso, as diferenças entre
raças e classes sociais foram abolidas pela morte
eterna de Cristo.
O Autor da Vida
Em Atos 3:15 Pedra disse às pessoas que elas
haviam matado o Autor da vida, a quem Deus
ressuscitou dentre os mortos. A palavra grega
traduzida por Autor significa origem, originador,
líder principal. Aqui denota Cristo como a origem ou
originador da vida; portanto, o Autor da vida. Pedro
estava dizendo-lhes que eles haviam matado o Autor
da vida, Aquele a quem Deus ressuscitou dos mortos.
Aqui ele parece dizer: “Nós somos testemunhas
oculares Daquele que e a origem, a fonte, da vida.
Vocês O mataram, mas a morte não pôde retê-Lo.
Deus ressuscitou dos mortos Aquele que é a fonte da
vida”.
CONDUZIDOS À RESSURREIÇÃO
Ao ler Marcos, precisamos perceber o que a
morte do Homem-Deus inclui e também quanto Sua
ressurreição abrange. Quando o processo de Sua
morte e ressurreição acontecia, nós, representados
por Pedro e os outros discípulos, estávamos
envolvidos. No capítulo catorze, Pedro chorou após
ter negado o Senhor Jesus (v. 72). Podemos dizer que
ele chorou porque estava espiritualmente falido.
Contudo, por ter sido introduzido na morte de Cristo,
Pedro foi, por meio dela, conduzido à ressurreição do
Senhor. Pelo menos por ocasião do Pentecostes ele
percebeu isso. Em vez de chorar ele proclamou o
evangelho ao povo de Israel. No dia de Pentecostes
ele podia dizer: “Posso anunciar-lhes boas novas a
respeito de Cristo, porque agora estou em Sua
ressurreição. O Cristo ressurreto está em mim. Ele é o
Espírito todo-inclusivo, composto, saturando-me. Ele
é um comigo, e eu sou um com Ele”. Pedro havia sido
introduzido na morte e ressurreição de Cristo, que se
tornara seu Substituto todo-inclusivo.
Vimos que a regeneração introduz viva
esperança, uma esperança a respeito do pleno
desenvolvimento da vida divina em nós. Temos a
esperança de que essa vida cresça e se desenvolva ao
máximo. Estamos nessa vida e ela está em nós,
crescendo e se desenvolvendo.
Primeiro, essa vida produz a vida da igreja hoje,
que é a realidade do reino. Até que, para muitos, ela
atingirá a maturidade no milênio, que será a
manifestação do reino de Deus. Por fim, a vida divina
no interior de todos os crentes atingirá o
desenvolvimento máximo na Nova Jerusalém, o reino
eterno de Deus no novo céu e nova terra. Isso será o
desenvolvimento final da vida que recebemos
mediante a regeneração.
Sem dúvida, falta-nos a percepção adequada da
vida divina que está em nós. Contudo já tivemos pelo
menos alguma percepção do fato de que fomos
regenerados por meio da ressurreição de Cristo para
uma viva esperança. Muitos santos podem testificar
que, em certas ocasiões, oraram a ponto de chegar a
um êxtase e, nessa situação, pareceu-lhes difícil dizer
onde estavam — na igreja, no milênio ou na Nova
Jerusalém — pois estavam fora de si, no Senhor.
Todos precisamos ter experiências assim.
Embora sejamos de diferentes nacionalidades e
tenhamos vindo de diferentes lugares do mundo,
todos tivemos a experiência real de estar em
ressurreição. Quando estamos fora de nós, no Senhor,
talvez sem saber onde estamos, isso é uma
experiência de estar em ressurreição. Uma vez
regenerados, fomos conduzidos à ressurreição de
Cristo.
Quão maravilhoso seria se estivéssemos sempre
em ressurreição! Contudo podemos encontrar
problemas que nos fazem sentir que fomos
enterrados e colocados num túmulo. Mas pela
experiência sabemos que, quando clamamos pelo
Senhor invocando Seu nome, novamente
experimentamos Sua ressurreição. Essa é a história
da nossa vida cristã. Os incrédulos, naturalmente,
não têm essas experiências, porque ainda não foram
regenerados. Louvado seja o Senhor, porque Ele nos
introduziu em Sua maravilhosa ressurreição!
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM CINQÜENTA E UM
A RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO DO
SALVADOR-SERVO E A PROPAGAÇÃO UNIVERSAL DO
EVANGELHO POR MEIO DE SEUS DISCÍPULOS
O SENHOR V AI À GALILÉIA
No versículo 7 o anjo disse que o Senhor Jesus
iria adiante dos discípulos para a Galiléia. Assim
como o Salvador-Servo iniciou Seu ministério na
Galiléia dos gentios (Mt 4:12-17), e não em
Jerusalém, que era a cidade santa da religião judaica,
assim também após a ressurreição Ele ainda iria à
Galiléia, e não a Jerusalém. Isso é forte indicação de
que o Salvador-Servo ressurreto abandonou o
judaísmo e iniciava nova era na economia
neotestamentária de Deus.
A PROPAGAÇÃO UNIVERSAL DO
EVANGELHO EFETUADA PELO
SALVADOR-SERVO POR MEIO DOS
DISCÍPULOS
Quanto à propagação universal do evangelho
efetuada pelo Salvador-Servo por meio de Seus
discípulos, 16:20 diz: “E eles, tendo saído, pregaram
em toda parte, cooperando com eles o Senhor, e
confirmando a palavra por meio dos sinais que a
acompanhavam”. Essa pregação do evangelho de
Deus a toda a criação (v. 15) feita pelo Salvador-Servo
ressuscitado e ascendido, o Servo de Deus, mediante
Seus crentes, começou em Jerusalém e tem
prosseguido até os confins da terra (At 1:8), contínua
e universalmente por todos os séculos, e irá
prosseguir até que Ele venha estabelecer o reino de
Deus na terra (Lc 19:12; Dn 7:13-14).
4
Essas palavras foram ditas nos Estados Unidos, num treinamento em que havia pessoas de todas as
partes do mundo. (N. do T.)
ganhamos essa visão, vamos em frente para pregar
Cristo a toda a criação!
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM CINQÜENTA E DOIS
UMA VIDA TOTALMENTE DE ACORDO COM A
ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS, E PARA
ELA (1)
FOI SEPULTADO
Quando o Senhor Jesus estava para iniciar Seu
ministério, Ele se deixou sepultar, batizar, por João
Batista (1:9-11). Ele não tinha pecado nem velhice,
contudo mesmo assim foi batizado. Seu batismo era
um testemunho ao universo de que Ele rejeitava a Si
mesmo e se colocava de lado a fim de viver por Deus.
Pregou o Evangelho
Como Aquele que vivia e se movia pelo Espírito
Santo, o Senhor Jesus pregava o evangelho (1:14-20).
Ao fazê-lo, Ele semeava o Deus encarnado como a
semente do reino de Deus. Ele colocava no coração
dos homens uma semente que iria crescer
tomando-se o reino de Deus.
Ensinou a Verdade
No Espírito Santo o Senhor Jesus ensinava a
verdade (1:21-22), o que consistia em iluminar a
humanidade que estava nas trevas e dispersar as
trevas do homem.
Expulsou Demônios
O Senhor Jesus também expulsava demônios
(1:23-28). Isso visava à expansão do reino de Deus.
Curou os Enfermos
Em Seu ministério o Senhor Jesus curava os
enfermos (1:29-39). Curar enfermos é reavivar os
mortos, fazê-los viver.
Purificou os Leprosos
De acordo com o Evangelho de Marcos, o Senhor
purificava os leprosos (1:40-45). Purificar leprosos é
santificar quem foi vivificado. O Senhor fez isso
perdoando os pecados, festejando com pecadores,
sendo a alegria deles em justiça e vida,
satisfazendo-os e libertando-os.
A ECONOMIA DE DEUS
A economia neotestamentária de Deus é Deus
infundir-Se em Seus escolhidos a fim de fazê-los
membros de Cristo, para que Cristo tenha um Corpo
que seja Sua expressão. Nessa descrição vemos
algumas questões importantes: Deus quer
infundir-Se em Seus escolhidos; Deus quer fazer de
Seu povo membros do Corpo de Cristo, a igreja; e o
Corpo de Cristo visa a expressão de Cristo. No
Evangelho de Marcos vemos uma vida que é
totalmente de acordo com essa economia e para ela.
A SUBSTÂNCIA DA ECONOMIA
NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Na mensagem anterior ressaltamos uma
importante diferença entre a Epístola de Tiago e o
Evangelho de Marcos. Em Tiago, ao contrário de
Marcos, vemos uma vida que não é totalmente de
acordo com a economia neotestamentária de Deus
nem para ela. Na verdade, a vida apresentada em
Marcos é a realidade, a substância e o padrão da
economia neotestamentária de Deus.
Talvez você se pergunte por que dizemos que em
Marcos vemos uma vida que é a substância da
economia neotestamentária de Deus. Dizemos isso,
porque a vida do Senhor Jesus era a expressão de
Deus. De acordo com o Evangelho de Marcos, não há
indicação de que o Senhor vivesse meramente para
cumprir a lei, que fizesse certas coisas simplesmente
porque a lei exigia. Ademais, Marcos não indica que o
Senhor tenha vivido para fazer o bem. Como, então, é
que Ele viveu? Ele viveu Deus e O expressou. Tudo o
que Ele fazia era Deus fazendo de Seu interior e por
meio Dele. Isso quer dizer que tudo o que Ele fez não
foi apenas guardar a lei ou fazer o bem, num sentido
ético. Ele foi alguém que viveu Deus e O expressou
em tudo o que disse e fez.
A Continuação do Evangelho
Se Marcos é o princípio do evangelho, onde está a
continuação? É vista no dia de Pentecostes, quando o
Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos
escolhidos e preparados. Pedro, Tiago, João e os
demais tinham sido escolhidos por Deus e
pessoalmente chamados por Jesus Cristo. Depois de
chamados, foram preparados pelo Senhor. Nos dez
dias que antecederam Pentecostes, os cento e vinte
estiveram orando. Você sabe onde eles estavam
naqueles dias? Nos céus, na ascensão do Senhor. Eles
haviam sido introduzidos na morte, ressurreição e
ascensão de Cristo. No dia de Pentecostes receberam
o derramamento exterior do Espírito Santo. Portanto
naquele dia houve a continuação do evangelho. Assim
Marcos é o princípio do evangelho e Atos é a
continuação. Essa continuação ainda não acabou.
Isso significa que nós hoje ainda estamos na
continuação do evangelho.
A SEMENTE DO REINO
Na parábola do semeador não há menção do
reino de Deus. Mas na parábola da semente
(4:26-29), o Senhor Jesus fala claramente do reino.
No versículo 26 Ele diz: “O reino de Deus é assim
como se um homem lançasse a semente à terra”. Isso
revela que o reino de Deus é uma semente.
Você conhece algum escrito cristão que diga que
o reino de Deus é uma semente? A maioria dos
mestres da Bíblia, ao estudar o reino de Deus, diriam
que ele é uma dispensação para Deus exercitar Seu
governo ou uma esfera para exercitar Sua autoridade
a fim se cumprir Seu propósito. Alguns dizem que o
reino de Deus primeiramente estava com os filhos de
Israel, contudo, quando os judeus rejeitaram o
Senhor Jesus, dizem eles, o reino foi suspenso até a
era vindoura, a era do reino. Além disso, esses
mestres dizem que a era atual não é a era do reino,
mas apenas da igreja. Dizem que a era vindoura, a era
do milênio, será a era do reino, seguida pelo reino
eterno, no novo céu e nova terra. Embora eu não diga
que ensinamentos como esses não têm base nas
Escrituras, gostaria de chamar sua atenção para o
fato de que isso não é o que é ensinado com respeito
ao reino em 4:26-29. Aqui a palavra do Senhor revela
que o reino de Deus é uma semente.
O EVANGELHO E O REINO
O Evangelho de Marcos começa com estas
palavras: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo,
Filho de Deus”. Que é o evangelho? Talvez você diga
que são as boas-novas, as boas notícias. Isso,
naturalmente, está correto. Mas que são as
boas-novas? Quando jovem, ensinaram-me que as
boas-novas é o que está em João 3:16: “Porque Deus
amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho
unigênito, para que todo o que Nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna”. Não há dúvida de que isso
certamente são boas-novas. Contudo em Marcos não
lemos nada sobre Deus amando o mundo. Em vez
disso, 1:1 fala do princípio do evangelho de Jesus
Cristo. Então é-nos dito em 1:14 que o Senhor Jesus
foi à Galiléia pregando o evangelho de Deus. Em Sua
pregação Ele declarava: “Arrependei-vos e crede no
evangelho”. Não há nenhuma palavra aqui a dizer que
Ele pregava a respeito do amor de Deus ou que tenha
dito que chegara o tempo de crer Nele para ter a vida
eterna. Em 1:15 o Senhor Jesus disse que o tempo
estava cumprido e que o reino de Deus estava
próximo. Assim precisamos arrepender-nos e crer no
evangelho.
Se lermos 1:14 e 15 com cuidado, perceberemos
que o evangelho é, na verdade, o reino de Deus. O
versículo 14 diz que o Senhor Jesus pregava o
evangelho de Deus, e o versículo 15 diz que Ele
declarou que o reino de Deus estava próximo. Como o
reino de Deus estava próximo, as pessoas deviam
arrepender-se e crer no evangelho. Aqui vemos que o
evangelho e o reino de Deus são sinônimos. O reino é
o evangelho, e o evangelho é o reino.
Se o reino de Deus fosse apenas uma esfera para
Deus exercer autoridade ou uma dispensação para
Ele administrar Seu governo, não é plausível que tal
reino pudesse ser um evangelho para nós. Mas em
Marcos é revelado que o reino de Deus é o evangelho.
Quando o Senhor Jesus pregava o evangelho de Deus,
pregava o reino de Deus.
DEFINIÇÃO DO REINO
Que é o reino de Deus? Rigorosamente falando, o
reino de Deus é uma Pessoa, e essa Pessoa é o Filho
de Deus encarnado como Filho do Homem cujo nome
é Jesus Cristo. Primeiro, essa Pessoa maravilhosa
veio como o Semeador. Segundo, Ele é a semente
plantada por Ele mesmo como o Semeador. Quando o
Semeador planta a semente em nós, isso é o reino.
Podemos dizer que, de acordo com 1 Coríntios 3:9, o
reino de Deus é Sua lavoura. Portanto o reino é o
Semeador plantando a semente nos seres humanos.
Hoje esse reino é a lavoura de Deus, e essa lavoura é a
vida adequada da igreja.
Que cresce na lavoura de Deus? É Cristo. Esse é o
conceito, não apenas do Evangelho de Marcos, mas
também de outros livros do Novo Testamento. Por
exemplo, na sua primeira Epístola, Pedro diz: “Pois
fostes regenerados não de semente corruptível, mas
de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual
vive e é permanente” (1Pe 1:23). Aqui vemos que
nascemos de Deus porque temos a semente de Deus
em nós.
No último livro do Novo Testamento, Apocalipse,
temos a colheita da semente plantada nos
Evangelhos. Nos Evangelhos o Senhor Jesus era o
Semeador, mas em Apocalipse 14 Ele virá como o
Segador. O que foi plantado nos Evangelhos cresce
nas Epístolas e por fim irá amadurecer em Apocalipse
14, e haverá a colheita. Considere Apocalipse
14:14-15: “Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado
sobre a nuvem um semelhante a filho de homem,
tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma
foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando
em grande voz para aquele que se achava sentado
sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a
hora de ceifar, visto que a seara da terra já
amadureceu!”. Essa colheita será o agregado dos
crentes maduros. Por fim, eles serão reis com o
Senhor Jesus.
Já enfatizamos que no Evangelho de Marcos
vemos uma vida segundo a economia
neotestamentária de Deus. Tudo o que o Senhor
Jesus fazia ao pregar, ensinar, expulsar demônios,
curar enfermos e purificar leprosos era de acordo com
a economia neotestamentária de Deus. Agora no
capítulo quatro de Marcos vemos que essa vida é uma
vida que semeia. A vida que é de acordo com a
economia neotestamentária de Deus e para ela é uma
vida de semear.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM CINQÜENTA E OITO
UMA VIDA TOTALMENTE DE ACORDO COM A
ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS, E PARA
ELA (7)
CRISTO EM NÓS
O ponto crucial é que a economia
neotestamentária de Deus não é questão de melhorar
nossa cultura, religião, ética, moral, caráter ou
filosofia. Nem é mera questão de nos ajudar a ser
mais bíblicos, espirituais, santos e vitoriosos; antes,
trata-se de Deus semear-Se em nós a fim de que
tenhamos um viver segundo Sua economia.
Por acaso o fato de que Deus, em Sua economia,
semeia em você uma Pessoa maravilhosa, Jesus
Cristo o Filho de Deus, é mera doutrina para você? O
Senhor, porventura, não é uma Pessoa real e viva em
você? Alguns cristãos se opõem ao fato de que Jesus
Cristo realmente habita nos crentes. Afirmam que Ele
está nos céus e é representado em nós pelo Espírito
Santo. Mas, pela Palavra de Deus e pela nossa
experiência, sabemos que Ele não está apenas nos
céus, mas também em nós. Ele habita em nós como a
vida que vive segundo a economia neotestamentária
de Deus.
A CONTINUAÇÃO DO SENHOR
O viver que o Senhor Jesus teve é agora nossa
vida. Hoje somos Sua expansão, aumento e
continuação, e devemos continuar a ter o viver que
Ele teve.
Depois da ascensão de Cristo, os discípulos
continuaram Sua vida, uma vida de pregar, ensinar,
expulsar demônios, curar enfermos e purificar
leprosos. Esse é o significado de 16:20: “E eles, tendo
saído, pregaram em toda parte, cooperando com eles
o Senhor, e confirmando a palavra por meio dos
sinais que a acompanhavam”. Aqui temos a
continuação da vida do Senhor Jesus registrada em
Marcos. Essa vida, que é de acordo com a economia
neotestamentária de Deus e para ela, não acabou,
pois continua por meio dos que crêem no Senhor.
Nos últimos dezenove séculos, muitas questões
foram introduzidas na vida dos cristãos para barrar,
danificar e até mesmo substituir a vida singular que é
de acordo com a economia neotestamentária de Deus.
Essas questões incluem cultura, religião, ética, moral,
filosofia, o aperfeiçoamento do caráter e o esforço
para ser espiritual, bíblico, santo e vitorioso.
Precisamos ter uma visão clara do tipo de vida
que devemos ter. Você tem um viver de cultura e
religião? uma vida de ética, moral, filosofia e
aperfeiçoamento do caráter? tenta ser espiritual,
bíblico, santo e vitorioso? Todos fomos desviados da
economia de Deus por coisas assim. Onde você pode
encontrar hoje cristãos que não vivam de acordo com
um ou mais desses dez itens?
6
Movimento religioso, de caráter sincrético (fusão de várias religiões, seitas e filosofias) e esotérico,
desenvolvido nos primeiros séculos de nossa era à margem do cristianismo, combinando misticismo e
especulação filosófica. (. do T.)
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM SESSENTA E DOIS
UMA VIDA TOTALMENTE DE ACORDO COM A
ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS, E PARA
ELA (11)
A SIMPLICIDADE DO EVANGELHO DE
MARCOS
Quando eu era jovem, Marcos não me era tão
precioso quanto Mateus, João e Lucas. Minha
impressão desse Evangelho era de que era simples
demais. Já Mateus apresenta ensinamentos
maravilhosos e parábolas a respeito do reino dos
céus. Gastei muito tempo estudando Mateus e, já em
1939, publiquei uma série de mensagens a respeito do
reino dos céus, baseadas no ensinamento do Senhor
nos capítulos cinco, seis, sete, treze, vinte e quatro e
vinte e cinco. Também dei muitas mensagens sobre o
Evangelho de João. Embora eu não tenha dado tantas
mensagens sobre Lucas como sobre Mateus e João,
no livro Gospel Outlines [Esboços de Evangelho] há
vários esboços tirados do Evangelho de Lucas. Eles se
baseiam nas diversas histórias de evangelho e
parábolas de Lucas.
No passado eu apreciava Mateus, João e Lucas,
mas não tinha muito apreço por Marcos. Parecia-me
que esse Evangelho podia ser comparado a um copo
com água pura, sem cor nem sabor especial. Contudo
recentemente, enquanto eu preparava as mensagens
do Estudo-Vida de Marcos, a luz começou a brilhar
nesse Evangelho. Agora vejo que em Marcos temos o
registro de uma vida absolutamente de acordo com a
economia neotestamentária de Deus e para ela.
Creio que Marcos é o livro mais simples do Novo
Testamento. Mas sua simplicidade é muito
impressionante e precisamos considerá-la.
Precisamos perguntar-nos por que ele foi escrito de
forma tão simples. Precisamos perguntar-nos por
que, aparentemente, ele não tem nenhum sabor ou
cor especial. Posso testificar que perguntas assim
abriram as portas para a luz da revelação entrar. A
simplicidade do Evangelho de Marcos é muito
significativa.
Quanto mais lemos Marcos, mais somos
impressionados com sua simplicidade. Comparado
com Marcos, o Evangelho de Mateus é bastante
complexo. Considere quantos nomes são incluídos
nos primeiros dezesseis versículos de Mateus.
Marcos, contudo, começa de uma maneira bem
simples: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo,
Filho de Deus” (1:1).
Assim como Mateus, o Evangelho de Lucas
também é bastante complexo. Considere, por
exemplo, o extenso relato sobre a concepção e
nascimento de João Batista e a concepção e
nascimento do Senhor Jesus. Além disso, Lucas 1
inclui os louvores de Maria, Isabel e Zacarias, pai de
João Batista. Então, no capítulo três, Lucas apresenta
uma genealogia que é mais complicada do que a de
Mateus. Mateus só fala de quarenta e duas gerações,
mas em Lucas temos setenta e sete. Assim, enquanto
Marcos é simples, Lucas é complexo.
No Evangelho de João temos muitos mistérios
profundos. João se inicia de forma misteriosa: “No
princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus” (1:1). É-nos dito que Nele estava a
vida (1:4) e o Verbo tomou-se carne e armou
tabernáculo entre nós (v. 14). João, portanto, tem cor
e sabor distintos. Quando o lemos, podemos perceber
seu sabor. Mas que sabor você sente quando lê
Marcos? Parece que o único sabor ali é o sabor de
água pura.
O PRINCÍPIO DO EVANGELHO E O
TÉRMINO DAS COISAS VELHAS
Vimos que Marcos se inicia com uma palavra a
respeito do princípio do evangelho de Jesus Cristo.
Em 1:4-8 João Batista pregou o batismo de
arrependimento e também introduziu o
Salvador-Servo. Então em 1:9 nos é dito que: “Veio
Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no
rio Jordão”. Depois de batizado, Ele foi ungido pelo
Espírito e iniciou Seu ministério. Como já
ressaltamos, para o Senhor Jesus, vida, obra e
ministério eram uma coisa só. Em Sua vida não havia
distinção entre vida e obra.
Como vimos, a palavra princípio em 1:1 implica
um novo início, que envolve o término das coisas
velhas. Em mensagens anteriores citamos dez itens
dessas coisas velhas: cultura, religião, ética, moral,
melhoria do caráter, filosofia humana, e tentar ser
espiritual, bíblico, santo e vitorioso. Tudo isso existia
quando João Batista saiu para pregar o batismo de
arrependimento. Em Marcos 1 essas coisas tiveram
fim pelo princípio do evangelho de Jesus Cristo, o
Filho de Deus. Além disso, foram sepultadas quando
o Senhor foi batizado.
Quando os filhos de Israel passaram pelo Mar
Vermelho, Faraó e os exércitos do Egito foram
sepultados. Podemos dizer que os filhos de Israel
trouxeram Faraó e seus exércitos com eles para
dentro do mar. Semelhantemente, quando o Senhor
Jesus entrou nas águas do batismo, trouxe Consigo
todos os dez itens das coisas velhas. Assim elas
tiveram fim e foram sepultadas.
A CONDIÇÃO DO SOLO
O Evangelho de Marcos não apenas retrata o
Senhor como o que semeia o Deus Triúno em Seus
crentes como solo, mas também descreve a condição
do solo. Os casos relatados nesse Evangelho indicam
que o solo não estava em condição saudável. Em
Marcos temos doze casos, envolvendo treze pessoas.
(Um caso envolve duas pessoas, uma mulher e uma
menina.) Quatro desses doze casos são de pessoas
possuídas por demônios. Isso indica que o “solo
coletado” pelo Senhor Jesus estava possuído,
ocupado, por demônios.
Você não estava ocupado por algum tipo de
“demônio” quando foi salvo? Muitos hoje são
possuídos pelo demônio das drogas ou do jogo. Ao
considerar a situação atual do mundo, vemos que
todos os não-salvos estão ocupados por demônios.
Por isso, quando o Senhor Jesus vem para escolher
alguém e “coletá-lo” para ser Seu “solo”, a primeira
coisa que faz é expulsar o demônio da pessoa. Pela
experiência sabemos que, quando fomos chamados
pelo Senhor, Ele expulsou nossos demônios.
Os doze casos registrados em Marcos podem ser
considerados como a descrição da condição de um
indivíduo. Em outras palavras, esses casos são um
retrato composto de uma só pessoa. Aos olhos do
Senhor Jesus, todo aquele que se torna Seu solo é
retratado por esses doze casos. Portanto o caso da
sogra de Pedro, acamada e com febre, indica que,
espiritualmente falando, todos estamos com febre.
Como nossa temperatura espiritual não é normal, é
muito fácil ficarmos irados. Não era essa a situação
antes de você ter sido salvo? Todos já estivemos
enfermos com febre alta. Além disso, éramos
leprosos, pessoas impuras e contaminadas, tanto em
relação a Deus como ao homem. Também estávamos
paralíticos e com a mão ressequida, incapazes de
andar diante de Deus e trabalhar para Ele.
OS ANTECEDENTES E A LOCALIZAÇÃO DO
MINISTÉRIO DO SENHOR
Em nossa leitura do Evangelho de Marcos, é-nos
útil ter um entendimento da situação quando o
Senhor Jesus esteve na terra. A cultura humana já
existia por mais de quatro mil anos. Um aspecto
dessa cultura era a religião dos judeus, uma religião
forte e típica, formada de acordo com a palavra santa
de Deus. Quando o Senhor esteve na terra, os judeus
devotos estavam muito agarrados a essa religião.
Tendo isso como pano de fundo, o Senhor Jesus
saiu em Seu ministério para plantar-Se como semente
nos escolhidos de Deus. Na verdade, Ele viveu e
ministrou no centro da população mundial.
Geográfica e culturalmente, a nação judaica era o
centro da terra habitada. Foi ali que Ele veio para Se
semear.
Alguma vez você já percebeu que o Senhor Jesus
veio ao centro da terra habitada para plantar-Se como
semente em Seus escolhidos? Não conheço nenhuma
publicação cristã que fale disso. Se você perguntasse
aos cristãos o que o Senhor veio fazer, alguns talvez
dissessem que Ele veio salvar pecadores ou morrer
para nossa salvação. Naturalmente, o Novo
Testamento diz que Jesus Cristo veio salvar
pecadores O Tm 1:15). Contudo no Evangelho de
Marcos vemos que Ele veio para pregar o evangelho
de Deus 0:14).
A NECESSIDADE DE ENTENDIMENTO
ESPIRITUAL
A essa altura eu gostaria de dizer, a título de
lembrança, que quando lemos a Bíblia não devemos
entendê-la de forma natural. Não devemos entender
nenhuma palavra das Escrituras de modo natural. O
problema entre os cristãos é que, na maioria dos
casos, eles lêem a Bíblia de acordo com seu
entendimento natural. Nossa necessidade é de
entendimento espiritual. Foi essa a razão de Paulo
dizer em Colossenses 1:9 que ele orava pelos santos
para que eles transbordassem “de pleno
conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e
entendimento espiritual”. Por isso também orou:
“Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai
da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de
revelação no pleno conhecimento dele” (Ef 1:17).
Paulo sabia que nessa Epístola seriam revelados
mistérios espirituais e teria de usar a linguagem
humana. Ele estava preocupado que os leitores
pudessem entender seus escritos apenas de forma
natural, de acordo com as letras pretas no papel
branco. Por isso orou a fim de que o Pai nos
concedesse espírito de sabedoria e revelação. Essa
oração nos mostra claramente que não devemos
tentar entender a Bíblia apenas de acordo com nosso
entendimento natural.
Sem dúvida, uma vez que a Bíblia é algo escrito,
precisamos de entendimento adequado das palavras.
Contudo a interpretação do que está escrito não deve
ser de acordo com nosso entendimento natural;
antes, deve ser de acordo com a sabedoria e revelação
espiritual. Em especial, precisamos de entendimento
espiritual para ver como o Senhor Jesus pregava o
evangelho.
O DESENVOLVIMENTO DA SEMENTE DO
REINO
O Senhor Jesus não apenas pregou o evangelho
semeando, mas Ele também é a semente plantada.
Isso significa que Ele mesmo é a semente do reino.
Depois de semeada em nós, ela se desenvolve
tornando-se um reino. Se lermos todo o capítulo
quatro de Marcos com cuidado, veremos que a
semente do reino é Jesus e seu desenvolvimento no
conjunto dos crentes é o reino. De acordo com as
Epístolas de Paulo, esse conjunto é a igreja.
A palavra de Paulo em Romanos 14:17 indica que
o reino de Deus é a igreja: “Porque o reino de Deus
não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria
no Espírito Santo”. Se lermos atentamente os
capítulos doze a catorze de Romanos, veremos que o
reino de Deus ali é, na verdade, a vida da igreja. No
capítulo catorze Paulo fala de acolher os santos, algo
relacionado com a vida da igreja. Isso indica que a
vida da igreja hoje é o reino de Deus. Esse reino é o
desenvolvimento do Senhor Jesus nos crentes como
semente do reino.
SEGUIR O SENHOR
Quando o Senhor reuniu os discípulos em
1:16-20, que Ele queria que fizessem? O versículo
dezesseis nos diz que Simão e André “lançavam rede
ao mar, porque eram pescadores”. Disse-lhes Jesus:
“Vinde após Mim, e Eu farei com que vos tom eis
pescadores de homens. E eles, deixando
imediatamente as redes, O seguiram” (vs. 17-18).
Passando um pouco adiante, viu Tiago e João num
barco, consertando as redes. Ele os chamou e,
“deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os
empregados, foram após Ele” (v. 20). Aqui vemos que
esses quatro discípulos deixaram as redes, o barco, o
pai e até mesmo o mar. Deixaram tudo para seguir
Jesus.
Ao ler os evangelhos, quando jovem, eu me
perguntava o que queria dizer seguir Jesus. Fiquei
muito impressionado com as palavras do Senhor:
“Segue-Me”. Mais tarde ensinaram-me que seguir
Jesus significa fazer o que Ele fez. Por exemplo, Ele
amava as pessoas, e nós também devemos amar os
outros. Ele era gentil e bondoso, nós também
devemos sê-lo. No início concordei com essa
interpretação, mas por fim descobri que seguir Jesus
dessa forma pode ser comparado a ensinar um
macaco a se comportar como homem. O macaco pode
aprender a sentar, ficar em pé e andar como homem.
Mas isso não passa de imitação. Contudo muitos
cristãos tentam seguir Cristo imitando-O. Essa
interpretação de seguir Jesus está equivocada e
devemos repudiá-la. Mas ainda ficamos com a
pergunta do que significa seguir o Senhor Jesus.
Já enfatizamos que quando o Senhor chamou os
discípulos, Ele os juntou como “solo” no qual Ele iria
plantar-Se como semente. Assim podemos dizer que
seguir a Jesus é ser colocado em Seu “bolso” com o
objetivo de Ele Se semear em nós.
A COMPLETAÇÃO DA SEMEADURA DO
SENHOR
Por meio de Sua morte e ressurreição, o Senhor
Jesus não apenas curou o solo como também liberou
a vida de Deus e a infundiu no solo. Mediante Sua
morte, a vida divina Nele foi liberada e, mediante Sua
ressurreição, essa vida foi infundida no solo. Portanto
a morte e ressurreição do Senhor foram a
completação da semeadura de Si mesmo como
semente nos discípulos.
Essa semeadura começou no capítulo um de
Marcos e continuou até que foi completada no
capítulo dezesseis. Capítulo após capítulo, o Senhor
Jesus Se semeou nos discípulos. Isso está claramente
revelado no capítulo quatro, onde vemos que, como
Semeador, Ele veio plantar a semente do reino.
Quando Ele ressuscitou, essa semeadura foi
completada. Os discípulos então se tomaram outra
tipo de solo, o solo bom, e começaram a cultivar
Cristo. Nos primeiras capítulos de Atos vemos que
eles eram bom solo a produzir Cristo.
O REAPARECIMENTO DAS ERVAS
DANINHAS
Contudo o fato de os discípulos se terem tomado
solo bom e começado a cultivar Cristo não significa
que as “ervas daninhas” não pudessem mais crescer
neles. Em Gálatas 2 vemos que certas ervas daninhas
voltaram a crescer em Pedro. A razão pela qual elas
voltaram foi que Pedra ainda estava debaixo da
influência da velha religião.
Na verdade as ervas daninhas tentaram crescer
em Pedro em Atos 10. Segundo esse capítulo, Pedro
teve uma visão celestial, relacionada com o plantio da
semente nos gentios. Deus queria usar Pedro para
plantar a semente do reino em outro solo, em solo
gentio. Primeiro ele se recusou a obedecer à visão.
Essa recusa indica que algo diferente de trigo crescia
em Pedro. As coisas da velha religião, as ervas
daninhas, cresciam nele.
No capítulo vinte e um de Atos, vemos que Pedra
estava debaixo da influência de Tiago. Quando
consideramos Atos 21 junto com Gálatas 2, vemos
que muitas ervas daninhas cresciam em Pedra.
Precisamos perguntar-nos quantas ervas
daninhas crescem em nós. Que queremos dizer com
ervas daninhas? É algo diferente de Cristo crescendo
em nós para substituí-Lo. Em nossa experiência elas
podem incluir cultura, religião, ética, moral, filosofia,
aperfeiçoamento de caráter e o esforço para ser
espiritual, bíblico, santo e vitorioso.
Muitos irmãos que já estão sob esse ministério
por anos ainda estão debaixo da influência de seus
antecedentes culturais e religiosos. Devido a essa
influência, a visão da economia neotestamentária de
Deus não está clara para eles. Essa influência e falta
de clareza atrasam a volta do Senhor porque
impedem o desenvolvimento do reino em nós. '
Desfrute e Governo
A transfiguração do Senhor Jesus em nós se
torna não apenas o nosso desfrute, mas também o
governo de Deus. Quando Ele é transfigurado em nós
de forma prática no viver diário, essa transfiguração
se torna o reino de Deus governando tudo em nossa
vida. Esse reino nos governa e também nos dá o pleno
desfrute de Deus.
Crescimento e Transfiguração
Durante anos conheci a história da
transfiguração do Senhor sem perceber que ela deve
ser experimental e prática em nosso viver diário.
Todos O temos, mas Ele ainda não foi transfigurado
em nós. Assim precisamos que Ele cresça em nós até
se desenvolver pela transfiguração, tornando-se a
expressão do reino de Deus em nossa experiência.
A Semente Transfigurada
Em 1:15 o Senhor Jesus disse: “O tempo está
cumprido e o reino de Deus está próximo”. Então na
parábola da semente Ele disse: “O reino de Deus é
assim como se um homem lançasse a semente à
terra” (4:26). Mais tarde, em 9:1, Ele disse aos
discípulos que havia alguns que ali se encontravam
que de maneira nenhuma provariam a morte até que
vissem chegar o reino de Deus com poder. Logo após
falar isso, Ele foi transfigurado num alto monte
diante de Pedro, Tiago e João. Sua transfiguração foi
a vinda do reino de Deus com poder. Eis um claro
indício de que o reino de Deus é, na verdade, a
transfiguração do Senhor Jesus.
No capítulo quatro de Marcos temos a semente
do reino. No nove, essa semente é transfigurada, e
essa transfiguração é a vinda do reino de Deus.
Você sabe por que, entre muitos cristãos
autênticos, há a falta do reino de Deus hoje? O motivo
é que há a falta da transfiguração de Cristo. O Cristo
que vive em tantos crentes ainda é uma semente,
ainda não foi transfigurado. Essa também pode ser
nossa situação. Sim, temos o Senhor a viver em nós,
mas talvez ainda não Lhe tenhamos dado
oportunidade de se transfigurar em nós. Assim talvez
em nós haja apenas a semente do reino, e não sua
aparência.
O Aparecimento do Reino
No dia da transfiguração do Senhor no alto do
monte houve o aparecimento, a vinda, do reino. A
partir disso podemos ver que, para ter o
aparecimento do reino de nosso interior, precisamos
ter a experiência de o Senhor ser transfigurado em
nós.
O Espírito Econômico
Atos 1:5 diz: “Porque João, na verdade, batizou
com água, mas vós sereis batizados com o Espírito
Santo, não muito depois destes dias”. Isso claramente
se refere ao Espírito econômico. No versículo 8 o
Senhor prossegue: “Mas recebereis poder, ao descer
sobre vós o Espírito Santo”. A descida do Espírito
sobre nós é o aspecto econômico do Espírito.
Atos 2:4 diz que os discípulos “Todos ficaram
cheios do Espírito Santo”. Aqui vemos que os
discípulos foram cheios do Espírito economicamente
para o ministério.
Atos 2:17-18 diz: “E acontecerá nos últimos dias,
diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre
toda a carne; vossos filhos e vossas filhas
profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão
vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as
minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles
dias, e profetizarão”. Esses versículos falam do
derramamento do Espírito. Isso difere do sopro do
Espírito nos discípulos, o qual saiu da boca de Cristo
na Sua ressurreição. O derramamento do Espírito de
Deus veio dos céus na ascensão de Cristo. O primeiro
é o aspecto essencial do Espírito soprado nos
discípulos para seu ser e existência espirituais; o
último é o aspecto econômico, derramado sobre eles
como poder para sua obra.
No capítulo quatro de Atos o aspecto econômico
do Espírito Santo é mencionado duas vezes. No
versículo 8 diz que Pedro estava “cheio do Espírito
Santo”. Esse foi o encher econômico do Espírito para
o ministério. O versículo 31 diz: “Todos ficaram
cheios do Espírito Santo”. Esse também foi o encher
econômico do Espírito.
Em Atos 9:17 vemos que Ananias foi enviado a
Saulo de Tarso a fim de que este recebesse o encher
econômico do Espírito Santo: “Ananias foi e,
entrando na casa, impôs sobre ele as mãos, dizendo:
Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio
Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas,
para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito
Santo”. Antes de Ananias ter vindo a ele, Saulo já
havia recebido o Espírito essencial. Quando invocou o
nome do Senhor, Saulo começou a participar do
Espírito essencial. Mas em 9:17 Ananias veio para
impor-lhe as mãos sobre ele para ele ter parte no
Espírito econômico.
Atos 13:9 nos diz que Paulo estava cheio do
Espírito Santo. Isso também se refere ao aspecto
econômico do Espírito.
O Espírito Essencial
Há outros versículos em Atos que se referem ao
Espírito essencial. Um deles é Atos 6:3: “Mas, irmãos,
escolhei dentre vós sete homens de boa reputação,
cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais
encarregaremos deste serviço”. Isso se refere a ser
cheio essencialmente do Espírito para vida. Para fazer
o serviço mencionado no capítulo seis, não se requer
poder, e sim vida com sabedoria e paciência. Para
esse serviço precisamos estar cheios do Espírito de
vida, e não do Espírito de poder. Ser cheio do Espírito
de poder visa à economia de Deus, mas ser cheio do
Espírito de vida visa à existência espiritual. Nesse
versículo “sabedoria” indica que esse é o encher do
Espírito essencial para vida.
Em Atos 6:5 nos é dito que Estêvão era um
“homem cheio de fé e do Espírito Santo”. Mais uma
vez aqui se refere ao aspecto essencial do Espírito.
Quando foi apedrejado, Estêvão estava cheio do
Espírito essencialmente: “Mas Estêvão, cheio do
Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de
Deus e Jesus, que estava à sua direita” (7:55). O
encher do Espírito aqui é questão de vida, e não de
poder. Portanto é o encher do Espírito essencial.
Falando de Barnabé, Atos 11:24 o descreve como
“homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé”. Esse
versículo também fala do aspecto essencial do
Espírito.
Atos 13:52 diz: “Os discípulos, porém,
transbordavam de alegria e do Espírito Santo”. O
encher do Espírito Santo aqui não visa poder, mas
vida. Nesse versículo os discípulos foram cheios do
Espírito Santo essencialmente para vida, e não para
poder.
Ao considerar esses versículos em Atos, vemos
claramente os dois aspectos do Espírito Santo. Por
um lado, vemos o aspecto essencial para nosso ser
espiritual; por outro, vemos o aspecto econômico
visando nossa obra para levar a cabo a economia
neotestamentária de Deus.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM SESSENTA E OITO
UMA VIDA TOTALMENTE DE ACORDO COM A
ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS, E PARA
ELA (17)
O ESPÍRITO DE JESUS
Atos 16:6-7 diz: “E, percorrendo a região
frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito
Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia,
tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não
o permitiu”. O uso intercambiável de o Espírito de
Jesus e o Espírito Santo nesses versículos revela que
o Espírito de Jesus é o Espírito Santo. O Espírito
Santo é um título geral do Espírito de Deus no Novo
Testamento. O Espírito de Jesus é uma expressão
específica com respeito ao Espírito de Deus. Essa
expressão se refere ao Espírito do Salvador
encarnado, que, como Jesus em Sua humanidade,
passou pelo viver humano e morte na cruz. Isso
indica que no Espírito de Jesus não há apenas o
elemento divino, mas também o humano de Jesus e o
elemento de Seu viver humano e também do
sofrimento de Sua morte.
O ESPÍRITO DO SENHOR
Em 2 Coríntios 3:17 Paulo diz: “Ora, o Senhor é o
Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há
liberdade”. Por um lado, Paulo diz que o Senhor é o
Espírito; por outro fala do Espírito do Senhor. De
acordo com o contexto, o Senhor em 2 Coríntios 3:17
se refere a Cristo, o Senhor (2Co 2:12, 14-15, 17; 3:3-4,
14, 16; 4:5). Isso, então, é uma palavra enfática na
Bíblia dizendo-nos que Cristo é o Espírito.
A expressão “o Espírito do Senhor” é usada em 2
Coríntios 3:17 e Atos 8:39. De acordo com todo o
contexto de Atos, o Espírito do Senhor se refere a
Jesus Cristo. O mesmo é verdade em 2 Coríntios 3:17,
onde o Espírito do Senhor se refere ao Senhor como
Espírito. Assim no mesmo versículo Paulo diz que o
Senhor é o Espírito.
Em 2 Coríntios 3:18 Paulo prossegue: “E todos
nós, com o rosto desvendado, contemplando, como
por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria
Imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. O “Senhor, o
Espírito”, ou “Senhor Espírito” pode ser considerado
um título composto, como “Deus o Pai” e “Cristo, o
Senhor”. A expressão “o Senhor Espírito” prova
novamente que o Senhor Cristo é o Espírito, e o
Espírito é o Senhor Cristo. Como o Senhor é o
Espírito, e o Espírito é o Senhor, Ele é chamado de “o
Senhor, o Espírito”. Esse é o Cristo pneumático.
No Evangelho de Marcos vemos Jesus, e no livro
de Atos temos o Espírito do Senhor e o Espírito de
Jesus. Em 1 Coríntios 15:45 Paulo fala de Cristo como
o Espírito que dá vida. Por certo, o último Adão é
Jesus, exatamente o mesmo Jesus apresentado em
Marcos. Paulo diz que esse último Adão tornou-se
Espírito vivificante. Ele se tornou o Espírito que dá
vida por meio do processo de morte e ressurreição.
Podemos dizer que o Espírito de Jesus é a
transfiguração de Jesus. O Senhor Jesus era a
semente que passou pelo processo de morte e
ressurreição. Em ressurreição, Ele, o último Adão,
“floresceu” e se tornou o Espírito que dá vida. Assim
podemos dizer que o Espírito que dá vida é o
florescimento do Senhor como semente que passou
pelo processo de morte e ressurreição. Vamos usar a
semente de cravo como ilustração. Tanto a semente
como a flor são cravos. A diferença é que a semente é
o cravo em forma de semente e a flor é o cravo em
forma de flor. De modo semelhante, podemos dizer
que a “semente” em Marcos é Jesus, e a “florada” em
Atos é o Espírito de Jesus.
Hoje participamos do Senhor como semente ou
como flor? A resposta correta é que O
experimentamos como semente e como flor. Nós O
desfrutamos como a semente que se tornou a flor em
ressurreição.
O ESPÍRITO DE CRISTO
Em Romanos 8:2 Paulo fala do Espírito da vida, e
em 8:9, do Espírito de Cristo. O Espírito de Cristo
está relacionado com a morte e ressurreição do
Senhor; é o Espírito Daquele que passou pela morte e
entrou na ressurreição. Agora que temos esse Espírito
em nós, não temos apenas Cristo, mas Cristo em Sua
morte e ressurreição.
A morte do Senhor foi um término todo-inclusivo
e Sua ressurreição foi uma germinação
todo-inclusiva. Em Sua morte tivemos fim e em Sua
ressurreição germinamos. Louvado seja o Senhor,
pois temos o Cristo todo-inclusivo com término e
germinação todo-inclusivos! O Espírito de Cristo,
portanto, é a totalidade, o conjunto, do Cristo
todo-inclusivo com Sua morte e ressurreição
todo-inclusivas. Por ter esse Espírito como
florescência de Cristo, temos o Cristo todo-inclusivo e
Seu término e germinação todo-inclusivos. Como os
que tiveram fim e germinaram, estamos agora nesse
Espírito maravilhoso.
Visto que recebemos o maravilhoso Espírito de
Cristo, devemos louvá-Lo e não meramente orar.
Louvemo-Lo, pois já temos o Espírito. Se apenas
orarmos e não louvarmos, seremos, em nossa
experiência, como os discípulos no Evangelho de
Marcos. Em certo sentido, Tiago e João oraram
quando pediram ao Senhor que lhes concedesse
sentar à Sua direita e esquerda em Seu reino. Hoje
não estamos em Marcos 10 nem mesmo em Marcos
16; estamos em Romanos 8. Por isso não devemos
dizer ao Senhor em oração quão miseráveis somos ou
quão lamentável é nossa condição. Em vez de pedir
que o Senhor nos ajude em nossos problemas,
devemos louvá-Lo, pois estamos no Espírito
todo-inclusivo. Nesse Espírito temos vida, força,
poder, habilidade, vigor e autoridade.
Na Igreja
O Espírito como a consumação do Deus Triúno
está na igreja. Nessa seção do Novo Testamento,
vemos a igreja como Corpo de Cristo (Ef 1:22-23) e
templo de Deus (Ef 2:21; 1Co 3:16). O Corpo de Cristo
é o reino de Deus, e o templo de Deus é Sua casa (1Tm
3:15). Assim, dizer que a igreja é o Corpo de Cristo e
templo de Deus é dizer que ela é o reino de Deus e Sua
casa. Romanos 14:17 diz que o reino de Deus é justiça,
paz e alegria no Espírito Santo. De acordo com o
contexto de Romanos 12 a 15, o reino de Deus deve
referir-se à vida da igreja hoje. A igreja é tanto o reino
de Deus como Sua casa.
Na Igreja Vencedora
Os sete Espíritos, como a intensificação do Deus
Triúno, estão na igreja vencedora. Nos capítulos dois
e três de Apocalipse ouvimos repetidamente o
chamado ao vencedor. Também nesses capítulos a
seguinte palavra é repetida sete vezes: “Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (2:7, 11,
17, 29; 3:6, 13, 22). A palavra com respeito ao
vencedor e as sete menções ao Espírito que fala às
igrejas indicam que, com a intensificação do Deus
Triúno, o Senhor deseja ter a igreja vencedora, a
igreja que vence a situação degradada. Na igreja
vencedora não temos só a corporificação do Deus
Triúno e Sua consumação, mas também Sua
intensificação, o Deus Triúno sete vezes intensificado.
INICIAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E
FINALIZAÇÃO
Na primeira seção do Novo Testamento temos a
iniciação da economia neotestamentária de Deus, na
segunda temos o desenvolvimento e na terceira, a
finalização. Isso quer dizer que os sete Espíritos,
como intensificação do Deus Triúno na igreja
vencedora, são a finalização da economia do Novo
Testamento. O Espírito intensificado finaliza a
economia neotestamentária de Deus em dois
estágios: primeiro, nesta era, com os candelabros de
ouro; finalmente, na eternidade, na Nova Jerusalém.
Esse é um esboço breve de todo o Novo
Testamento com respeito à economia
neotestamentária de Deus.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM SETENTA
UMA VIDA TOTALMENTE DE ACORDO COM A
ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS, E PARA
ELA (19)
UM RESUMO DA ECONOMIA
NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Na mensagem anterior consideramos um
diagrama que apresenta um resumo da economia
neotestamentária de Deus. De acordo com esse
diagrama, todo o Novo Testamento pode ser dividido
em três seções: os quatro Evangelhos como a
iniciação, Atos a Judas como o desenvolvimento e
Apocalipse como a finalização. Na primeira seção
vemos o Filho com o Pai e pelo Espírito para ser a
corporificação do Deus Triúno, em Jesus Cristo,
como tabernáculo de Deus e templo de Deus, vivendo
a vida de Deus a fim de desenvolver-se até tornar-se o
reino de Deus. Na segunda seção vemos o Espírito
como o Filho com o Pai para ser a consumação do
Deus Triúno na igreja como Corpo de Cristo, templo
de Deus, reino de Deus e casa de Deus, vivendo Cristo
até a plenitude de Deus. Na terceira seção temos os
sete Espíritos que provêm do Eterno e do Redentor
para ser a intensificação do Deus Triúno na igreja
vencedora, culminando nos candelabros de ouro e na
Nova Jerusalém. Nesta mensagem, a última do
Estudo-Vida de Marcos, vamos considerar a
intensificação do Deus Triúno culminando nos
candelabros de ouro e na Nova Jerusalém.
De acordo com o registro de Marcos, os
discípulos seguiram o Senhor Jesus para ser
introduzidos Nele. Eles foram carregados pelo
Senhor, o Todo-inclusivo, aonde quer que Ele fosse.
Assim Ele os introduziu em Si mesmo. Introduziu-os
em Sua morte todo-inclusiva, a morte que pôs fim a
todas as coisas velhas, e também em Sua ressurreição
todo-inclusiva, na qual germinaram para ser Sua
reprodução e continuação. No livro de Atos podemos
ver que os discípulos tiveram parte em Cristo e O
desfrutaram por meio de Sua morte e ressurreição
todo-inclusivas. Além disso, por meio dos discípulos,
a igreja veio à existência. As vinte e uma Epístolas, de
Romanos a Judas, são necessárias para definir o que
é apresentado resumidamente no livro de Atos.
OS CANDELABROS DE OURO
Após a definição detalhada nas Epístolas, temos
a consumação da economia neotestamentária de
Deus no livro de Apocalipse. Nessa consumação os
sete Espíritos, o Espírito de Deus sete vezes
intensificado, é um dos itens principais. Por meio do
Espírito intensificado e com Ele a igreja se torna um
candelabro de ouro puro. Isso é algo grandiosíssimo.
Representando a Igreja
O candelabro não apenas simboliza o Deus
Triúno, mas também representa a igreja. Mas como
uma igreja cheia de pecadores salvos pode ser um
candelabro de ouro puro? Sim, todos somos salvos,
mas ainda somos muito naturais, muito carnais,
cheios de ego e velha criação. Como podem pessoas
como nós tomar-se um candelabro de ouro?
A NOVA JERUSALÉM