Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
33272016 1501
ARTIGO ARTICLE
do atendimento em saúde de vítimas de violência sexual
Abstract Violence against women has increased Resumo A violência contra mulheres tem cres-
over the years and is a serious violation of human cido, constituindo-se grave violação dos direitos
rights. This study aimed to evaluate public poli- humanos. Objetivou-se avaliar as políticas públi-
cies, women’s rights legislation and health care for cas, a legislação de proteção à mulher e os aten-
victims of sexual violence. This is an exploratory dimentos de saúde às vítimas de violência sexual.
and descriptive study, with interviews to profes- Realizou-se estudo exploratório e descritivo, com
sionals of the Care Center for Women Victims of entrevistas a profissionais do Serviço de Atendi-
Violence of Teresina-PI, and collection of medical mento à Mulher Vítima de Violência de Teresina
records data of victims. We analyzed data in the -PI, além de coleta de dados de prontuários das
light of legislation and guidelines recommended vítimas. Os dados foram analisados à luz da legis-
by the Ministry of Health, according to the es- lação e das diretrizes preconizadas pelo Ministé-
tablished public policies. We noted an improve- rio da Saúde, consoante com as políticas públicas
ment of the Brazilian legislation and increasing instituídas. Observou-se evolução da legislação
intervention of government in order to control brasileira e crescente intervenção do poder público
the violence. The evaluated service calls for the no intuito de controlar a violência. O serviço ava-
humanization of care, the principles of dignity, liado preconiza a humanização do atendimento,
non-discrimination, confidentiality and privacy, os princípios da dignidade, não discriminação, do
avoiding exposure and distress of victims. Physi- sigilo e da privacidade, evitando a exposição e o
cal and gynecological examination are conduct- desgaste das vítimas. São realizados exames físico
ed, besides laboratory tests such as serological e ginecológico, outros complementares como testes
tests and collecting traces aiming at identifying sorológicos e coleta de vestígios em busca da iden-
1
Faculdade de Ciências the offender, as well as pharmaceutical care and tificação do agressor, além de assistência farma-
Médicas, Universidade multi-professional support. We can conclude that cêutica e acompanhamento multiprofissional. Po-
Estadual do Piauí. R. Olavo
the current legislation and the guidelines and pro- de-se concluir que a legislação vigente, bem como
Bilac 2335, Centro. 64000-
000 Teresina PI Brasil. cedures recommended by public policies to protect as diretrizes e os procedimentos preconizados pelas
lucielma@yahoo.com.br women are effective in the referral service studied. políticas públicas de proteção à mulher são efica-
2
Centro Universitário
Key words Public policies, Sexual violence, zes no serviço de referência estudado.
UNINOVAFAPI. Teresina
PI Brasil. Violence against women Palavras-chave Políticas públicas, Violência
3 Serviço de Atendimento à sexual, Violência contra a mulher
Mulher Vítima de Violência
(SAMVVIS). Teresina PI
Brasil.
1502
Pinto LSS et al.
são sobre o que será realizado em cada etapa do I - acolhimento, anamnese e realização de exa-
atendimento e a importância das condutas médi- mes clínicos e laboratoriais;
cas, multiprofissionais e policiais, respeitada sua II - preenchimento de prontuário com as se-
decisão sobre a realização de qualquer procedi- guintes informações:
mento, além de identificação e orientação sobre a) data e hora do atendimento;
os serviços e a garantia dos seus direitos. b) história clínica detalhada, com dados sobre
Os incisos VI e VII versam, respectivamente, a violência sofrida;
sobre a divulgação de informações sobre a exis- c) exame físico completo, inclusive o exame gi-
tência de serviços de referência para atendimento necológico, se for necessário;
de vítimas de violência sexual, e a disponibiliza- d) descrição minuciosa das lesões, com indica-
ção de transporte delas até os serviços de refe- ção da temporalidade e localização específica;
rência. Estes quesitos, segundo as entrevistadas, e) descrição minuciosa de vestígios e de outros
ainda carecem de aprimoramento, haja vista que, achados no exame; e
em alguns casos, por desconhecimento ou de- f) identificação dos profissionais que atende-
sinformação das vítimas e/ou de operadores dos ram a vítima;
setores de segurança e saúde, as vítimas são erro- III - preenchimento do Termo de Relato Cir-
neamente encaminhadas, deixando de coletar em cunstanciado e Termo de Consentimento Informa-
tempo hábil os vestígios da violência. Adicional- do, assinado pela vítima ou responsável legal;
mente, embora na maioria das vezes as vítimas IV - coleta de vestígios para, assegurada a ca-
venham acompanhadas do conselho tutelar, de deia de custódia, encaminhamento à perícia oficial,
profissionais da segurança pública ou saúde, por com a cópia do Termo de Consentimento Informa-
meio de viaturas ou ambulâncias, há também do;
com frequência, casos de vítimas desamparadas V - assistência farmacêutica e de outros insu-
ou acompanhadas apenas de familiares, que pro- mos e acompanhamento multiprofissional, de acor-
curam por conta própria o serviço, muitas vezes do com a necessidade;
necessitando de auxílio da equipe de serviço so- VI - preenchimento da Ficha de Notificação
cial do SAMVVIS para retornarem para suas ca- Compulsória de violência doméstica, sexual e ou-
sas após o atendimento. tras violências; e
Todas as entrevistadas referiram ter recebido VII - orientação à vítima ou ao seu responsável
ao longo do período em que prestam serviço no a respeito de seus direitos e sobre a existência de
SAMVVIS capacitações para atendimento dessas serviços de referência para atendimento às vítimas
vítimas de violência sexual, o que atesta a eficá- de violência sexual.
cia do inciso VIII, Art.2o do Decreto 7.9587, pelo A partir da análise dos prontuários das víti-
menos no que tange aos profissionais da rede de mas de violência sexual, referentes aos atendi-
atendimento do SUS. mentos realizados nos anos de 2013, 2014 e 2015,
O Art. 3o define que considera-se serviço é possível reportar que todos os procedimen-
de referência aquele qualificado para oferecer tos descritos acima são efetuados pelo referido
atendimento às vítimas de violência sexual, ob- SAMVVIS, sempre que necessário, respeitando-
servados os níveis de assistência e os diferentes se a sequência de atendimento de acolhimento,
profissionais que atuarão em cada unidade de anamnese e realização de exames clínicos e labo-
atendimento, segundo as normas técnicas e os ratoriais. Durante o acolhimento e a anamnese
protocolos adotados pelo Ministério da Saúde. O são registrados todos os dados necessários ao
SAMVVIS pesquisado realiza assistência integral preenchimento completo do prontuário e dos
à vítima, possui sistemas de informação interli- termos prescritos, sendo realizados pela equipe
gados ao Instituto Médico Legal (IML) e conta de recepção, assistentes sociais, enfermagem ou
com equipe multidisciplinar, formada por recep- psicologia, de acordo com a necessidade.
cionistas, técnicos de enfermagem, enfermeiros, Em seguida, realizam-se exame físico e gi-
assistentes sociais, psicólogos e médicos, com necológico, oportunidade em que são registra-
atendimento em regime de plantão 24 horas por das as lesões, sempre que houver, não somente
dia, inclusive nos fins de semana, portanto, con- em descrições clínicas escritas mas também por
forme preconiza o referido dispositivo legal. meio de fotografias. Além disso, procedem-se
O Art. 4o prevê em seus incisos os procedi- exames complementares, como testes para de-
mentos que devem ser realizados pelos profis- tecção de Doenças Sexualmente Transmissíveis
sionais da rede do SUS às vítimas de violência (DST) e coleta de vestígios, em busca de sêmen
sexual: ou qualquer material que sirva à identificação do
1507
Colaboradores
Referências
1. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção 11. Brasil. Lei 10.778, de 24 de novembro de 2003. Estabe-
à Saúde. Departamento de Ações Pragmáticas e Estra- lece a notificação compulsória, no território nacional,
tégicas. Prevenção e tratamento dos agravos resultantes do caso de violência contra a mulher que for atendida
da violência sexual contra mulheres e adolescentes : nor- em serviços de saúde públicos ou privados. Diário Ofi-
ma técnica/Ministério da Saúde. Brasília: MS; 2012. cial da União 2003; 24 nov.
2. Kiss L, Oliveira AFL, Zimmerman C, Heise L, Schra- 12. Brasil. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria me-
iber LB, Watts C. Brazilian Policy responses to vio- canismos para coibir a violência doméstica e familiar
lence against women: Government strategy and the contra a mulher, nos termos do §8o do art. 226 da Cons-
help-seeking behaviors of women WHO experience tituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de
violence. Health and Hum Rights 2012; 14(1):64-77. Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres
3. Stöckl H, Devries K, Rotstein A, Abrahams N, Cam- e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
pbell J, Watts C, Moreno CG. The global prevalence of Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a
intimate partner homicide: a systematic review. Lancet criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
2013; 382(9895):859-865. contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o
4. Drezett J. Violência sexual contra a mulher e impacto Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
sobre a saúde sexual e reprodutiva. Rev Psico UNESP providências. Diário Oficial da União 2006; 7 ago.
2003; 2(1):36-48. 13. Meneghel SN, Mueller B, Collaziol ME. Quadros, M.
5. Oliveira F, Cardoso KRL, Almeida CAP, Cardoso LR, M. Repercussões da Lei Maria da Penha no enfrenta-
Gutfilen B. Violence against women: profile of the ag- mento da violência de gênero. Cien Saude Colet 2013;
gressors and victims and characterization of the inju- 18(3):691-700.
ries. A forensic study. J Forensic Leg Med 2014; 23:49-54. 14. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção
6. Abrahams N, Devries K, Watts C, Pallitto C, Petzold M, à Saúde. Departamento de Ações Pragmáticas e Estra-
Shamu S, García-Moreno C. Worldwide prevalence of tégicas. Aspectos jurídicos do atendimento às vítimas de
non-partner sexual violence: a systematic review. Lan- violência sexual : perguntas e respostas para profissionais
cet 2014; 383(9929):1648-1654. de saúde. Brasília: MS; 2011.
7. Brasil. Decreto nº 7.958 de 13 de março de 2013. Esta- 15. Monteiro CFS, Teles DCBS, Castro KL, Vasconcelos
belece diretrizes para o atendimento às vítimas de vio- NSV, Magalhaes RLB, De Deus MCBR. Violência se-
lência sexual pelos profissionais de segurança pública xual contra criança no meio intrafamiliar atendidos
e da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde. no SAMVVIS, Teresina, PI. Rev Bras Enferm 2008;
Diário Oficial da União 2013; 13 mar. 61(4):459-463.
8. Brasil. Lei 12.854, de 1 de agosto de 2013. Dispõe so-
bre o atendimento obrigatório e integral de pessoas em
situação de violência sexual. Diário Oficial da União
2013; 1 ago.
9. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Diário Oficial da União 1988; 5 out.
10. Brasil. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Artigo apresentado em 03/07/2016
Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras provi- Aprovado em 12/09/2016
dências. Diário Oficial da União 1990; 13 jul. Versão final apresentada em 05/12/2016