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Great Amwell House, 26 de outubro de 1946

ESSÊNCIA E PERSONALIDADE

Hoje à noite, falaremos novamente sobre Personalidade e Essência, porque toda observação em si
mesma nos leva de volta a essa pergunta em diferentes estágios - "O que é Essência em mim? -.
Pode-se dizer que a Personalidade é o lado adulto e a Essência, o lado não adulto de nós
mesmos. O importante, no entanto, é que o lado adulto não é realmente nós mesmos. Adere a nós
como um terno apertado, mas em certas circunstâncias pode ser removido. Então a pessoa
verdadeira aparece, que não se parece nem um pouco com o que a Personalidade fez aparecer
diante de si e dos outros. Por que a necessidade de a Essência crescer tanto neste trabalho? A
Essência não pode ser removida. A pessoa verdadeira, a pessoa que permanece depois que a
Personalidade é expulsa, é a Essência.
Uma pessoa pode ter uma personalidade nobre. Mas essa não é a pessoa verdadeira. Quando as
defesas e influências coercitivas da vida são eliminadas e todo medo de desmascarar ou perda de
reputação ou as consequências da lei são eliminados, o que está oculto por trás dessa nobre
Personalidade emerge. Ou seja, parece que a Essência não cresceu e permaneceu
subdesenvolvida. Não imagine que a Essência seja muito bonita e encantadora. O homem
verdadeiro parece separado da personalidade que o cercou até agora. As pessoas não entendem
como, se certas restrições e medos forem eliminados, não levarão a vida prudente que levam. Eles
não entendem que seu comportamento não vem de dentro, mas é causado por circunstâncias
externas. Ou seja, eles não veem que a Personalidade está ativa, mas não a Essência. Agora
sabemos que a Essência se manifesta francamente e de rosto aberto até os três ou quatro anos de
idade. Então a Personalidade começa a cercar a Essência, mascarando-a, e assume o indivíduo. A
personalidade é formada pela imitação e educação, pelo elogio, pelo medo das consequências.
Mas não é o próprio indivíduo. A pessoa verdadeira - a Essência - permanece coberta e passiva.
Agora, o que quer que a Personalidade faça, faz devido à força das circunstâncias externas. Ou
seja, é feito partindo de fora, não de dentro. Nesse sentido, é aparente - não a pessoa real. Repito:
"O que é feito através da Personalidade é feito através da ação de circunstâncias externas".
Ou seja, a vida dirige a máquina da Personalidade. As circunstâncias externas fazem você atue
como o faz. Imagina-se que é livre. Mas não é livre. Tudo o que faz é devido às circunstâncias
externas que agem sobre sua categoria peculiar de Personalidade adquirida. Basta observar como
as circunstâncias externas colocam as pessoas em posições importantes ou sem importância. Não
são elas. É a força das circunstâncias externas. Em todo momento dizemos "Eu" ao que fazemos,
como se o estivéssemos fazendo. Não suspeitamos, exceto através de genuína auto-observação,
que são as circunstâncias externas que atuam sobre a Personalidade e que nos fazem fazer o que
fazemos. Não é o Eu interno que o está fazendo. Em geral, o que se acredita ser realmente o seu
"Eu" é apenas uma coleção de "Eus" na Personalidade, todos unanimes em responder às
impressões causada do exterior - ou seja, respondem às circunstâncias externas.
Voltamos ao que se dizia - a saber, que o que se faz não provem da Essência, mas da
Personalidade -. Entretanto, suponha que apenas se possa agir a partir de sua Essência
subdesenvolvida; seria insensato, nem mesmo humano. Este é o paradoxo da personalidade e da
essência. Para poder agir a partir da Essência, é necessário o desenvolvimento da Essência. O
Trabalho ensina que o primeiro passo que deve ser dado para alcançar o desenvolvimento da
Essência é formar a Personalidade. Diz então que, para produzir o crescimento da Essência, é
necessário que a Personalidade se torne passiva.
Argumentar que a Personalidade deve ensinar a Essência é um modo de dizer - uma maneira de
dizer que sempre consideramos de forma incorreta -. Melhor dizendo, a Essência deve aprender
com a Personalidade. O problema esotérico - a tarefa do Trabalho reside em fazer a Essência
crescer. Não cresce por si só, mas até certo ponto. É preciso outra coisa. Essa é a ideia central e
explica por que o ensino esotérico, as religiões e, de fato, todas as influências B existem -. Como
fazer a Essência crescer é o verdadeiro problema esotérico - como fazer a real crescer em nós,
para que a dualidade, Personalidade adquirida e Essência original não ocorra. A dificuldade está
em a Essência não poder ser forçada a crescer. Nenhuma preocupação externa pode forçar o
Essência a crescer. Não se pode forçar um garotinho a crescer essencialmente. Por quê? Porque
uma criança foi criada como um organismo capaz de se autodesenvolver. Ou seja, pode
desenvolver a si mesmo. Uma vez que a Essência não pode ser persuadida diretamente, através
de uma força externa, a Personalidade se forma em torno da Essência. Este é o primeiro passo no
plano do Homem na Terra, que deriva da Oitava Lateral do Sol.
O lamentável é que o Homem se detém neste ponto - isto é, ele tem uma Personalidade formada
para ele e depois se identifica com ela e a considera como se fosse "Eu" - como ele mesmo. Por
essa razão, sofre ao longo de sua vida de falta de harmonia interior. Ignora que está semi formado.
Pois esta Personalidade adquirida não permite nenhuma saída à Essência.
Uma educação muito rigorosa significa uma personalidade muito estreita e muito rígida, e, portanto,
tornar a personalidade mais passiva cria um problema significativo. No entanto, fica claro que, a
menos que a Essência cresça, o homem é esotericamente um fracasso. É talvez um homem bom -
mas ele o é mecanicamente -. Ele não é realmente um homem bom, mas uma imitação adquirida
de um homem bom. O mecanicamente bom e o mecanicamente ruim são, portanto, considerados
iguais à luz do Trabalho. Somente a compreensão pode fazer a Essência crescer e isso só pode
ser entendido por um homem através de um novo conhecimento que penetre primeiramente na
Personalidade. Desta forma, a Essência só pode crescer através de novos conhecimentos - um
conhecimento especial que é, em resumo, ensinamento esotérico -. E isso deve vir primeiro através
da Personalidade - desde fora – a partir das circunstâncias externas peculiares. A personalidade a
transmite. Eventualmente, significa a morte da personalidade. Mas a personalidade não sabe. O
novo conhecimento é apoiado por uma força que não deriva da vida. O Senhor Ouspensky
costumava repetir várias vezes que é impossível escapar da Personalidade e dos choques, exceto
por meio de uma força especial e que não possuímos tal força. É preciso entrar em contato com
essa força. Então a Personalidade se torna gradualmente passiva, quando necessário, para
permitir o crescimento da Essência. Então surge o problema de seguir ou não a compreensão.
A Essência é preguiçosa - como todos os povos primitivos -. A preguiça é uma coisa muito profunda
e poderosa. É por isso que o Trabalho diz que, quando alguém realmente compreende que algo
está errado e continua a fazê-lo, peca no verdadeiro sentido - isto é, se erra o branco. Em relação à
Essência, o Sr. Ouspensky disse uma vez que, do ponto de vista do mundo astral ou planetário, é
frequentemente semelhante a um animal, e que essencialmente seres humanos nesse nível são
muito escassos. Disse que a Humanidade apenas existe em um nível superior - quando é
despojada de todas suas máscaras e deixada completamente nua - Agora, não nos roubar a nós
mesmos, não importa quais sejam as circunstâncias, é essencial. Se faço algo porque ninguém
está me olhando, ou porque eu quero uma recompensa ou para ser elogiada, ou devido ao medo,
ela não vem de dentro, mas de fora - ou seja, de circunstâncias externas, da Personalidade -.
Isso não é real. O que serei quando me despir da vida externa - quando a Personalidade for
eliminada -? O que resta é real? Aconselho a todos que pensem nesse problema decorrente do
fato de o homem ser criado como um organismo capaz de desenvolvimento próprio. Verão que
todas as compulsões externas e sistemas sociais nunca serão capazes de desenvolver o Homem
e, de fato, o separarão completamente da Essência. Todo esse longo processo e viver o Trabalho
residem no passar da Personalidade para a Essência, levando-lhe os dons adquiridos pela
Personalidade. Cedo ou tarde, de um jeito ou de outro, de algum lugar ou de outro, removerão
nossa máscara e a Essência se revelará como nós mesmos. Você não se lembra dos bailes de
máscaras do passado? À meia-noite as máscaras tinham que ser retiradas.

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