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HAO, Núm.

32 (Otoño, 2013), 189-201 ISSN 1696-2060

A NAÇÃO CORPORATIVISTA DE CAIO PRADO


JÚNIOR.

João Alberto da Costa Pinto1.

1
Universidade Federal de Goiás, Brasil.

E-mail: joaoacpinto@yahoo.com.br

Recibido: 4 Noviembre 2012 / Revisado: 12 Enero 2013 / Aceptado: 7 Abril 2013 /Publicación Online: 15 Octubre 2013

Resumen: Caio Prado Júnior fue un estudioso aos nacionalismos das décadas de 1930 e 1940,
del marxismo, especialmente del marxismo apresento neste artigo uma reflexão sobre o
estalinista, pero si consideramos el conjunto de conjunto da obra de Caio Prado Júnior,
su obra, nos es posible caracterizar al autor ressalvando o livro Formação do Brasil
como uno de los últimos grandes pensadores del Contemporâneo (1942) com o propósito de
nacionalismo corporativista (en la misma línea justificar, como estrutural para a caracterização
que Oliveira Viana y que Azevedo Amaral) de da visão de mundo do autor, a enfática defesa
Brasil. Para justificar ese argumento y para para o Brasil de um modelo de economia
remitir al pensador paulista a la visión de mundo política capitalista nacional-corporativista.
de los nacionalismos de las décadas de 1930 y
1940, presento en este artículo una breve Para justificar a minha perspectiva analítica
reflexión sobre el conjunto de la obra de Caio desenvolvo inicialmente um breve excurso
Prado Júnior, exceptuando el libro Formação do descritivo sobre alguns dos principais estudos
Brasil Contemporâneo (1942), con el propósito dedicados à trajetória intelectual e à
de justificar, como estructural para la historiografia do pensador paulista.
caracterización de la visión de mundo del autor,
la enfática defensa para Brasil de un modelo de Os livros de Paulo Iumatti1 e Lincoln Secco2 são
economía política capitalista nacional- os estudos biográfico-analíticos que melhor
corporativista. descrevem e problematizam a trajetória de Caio
Prado Júnior, são trabalhos produzidos no
Palabras clave: Estado Nacional; ambiente acadêmico uspiano (ambos autores são
Nacionalismo; Corporativismo; Historiografía professores na Universidade de São Paulo). O
brasileña. livro de Iumatti marca-se pelo tom mais
______________________ intimista oferecido ao personagem Caio Prado
Júnior, este nos aparece com ênfase
Introdução. circunstanciada ao ambiente familiar, estudos no
exterior e ação empresarial e muito pouca coisa

C
aio Prado Júnior foi um estudioso do da ação política ou análise sistemática da
marxismo, especialmente do marxismo produção intelectual. Trata-se de um livro
stalinista, mas se considerarmos o fundamental pelas inúmeras informações do
conjunto da sua obra, penso que nos é possível percurso pessoal de Caio Prado Júnior, trata-se
perceber o autor como um dos últimos grandes de uma biografia quase “oficial” chancelada
pensadores do nacionalismo corporativista (na pelo universo da família Prado e montada com
mesma linhagem de Oliveira Viana e Azevedo livre e exclusivo acesso a um universo
Amaral) do Brasil. Para justificar esse documental que apenas os familiares de Caio
argumento, para demonstrar essa hipótese Prado Júnior tinham acesso. O grande ponto a
explicativa e assim remeter a obra do pensador destacar na detalhada investigação feita por
paulista a uma perspectiva ideológica associada Iumatti são as fontes. É uma referência de suma

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importância para os estudos pradianos não tanto de um “comunismo de reformas capitalistas”.


pelo que afirma ou demonstra, mas pelas pistas Em termos comparativos, o estudo de Secco é o
investigativas que deixa enunciadas. Paulo mais completo já elaborado sobre as dimensões
Iumatti também é autor do livro Diários políticas e intelectuais da trajetória de Caio
Políticos de Caio Prado Júnior: 19453. A Prado Júnior e o seu grande mérito é manter o
originalidade desse livro (como a originalidade equilíbrio de uma análise crítica onde não hesita
da biografia) está no uso e apresentação de um em descrever e/ou qualificar também as grandes
universo documental que pouquíssimos falhas interpretativas presentes na caracterização
investigadores tiveram acesso, caso explícito da pradiana.
dos Diários Políticos (cadernos de notas
pessoais) que Caio Prado redigiu por vários O estudo de Raimundo Santos é fundamental
anos, infelizmente ainda não publicados na pela ampla abordagem do universo institucional
integra. comunista brasileiro (especialmente nas décadas
de 1950 e 1960), em análise de trajetórias
Um aspecto importante a ressalvar na biografia comparativas encontra-se um Caio Prado Júnior
de Caio Prado Júnior, pela importância que em cotejo de percurso com outros intelectuais do
Iumatti lhe dá, relaciona-se ao período (1937- mesmo quilate e estatura, como Nelson Werneck
1939) em que o historiador se exilou com sua Sodré, por exemplo. Não é um estudo biográfico
família em Paris, depois de uma longa prisão no sistemático, mas uma portentosa análise de
Brasil provocada pelos fatos da Intentona conjunturas políticas tendo a centralidade
Comunista de 1935. Em Paris, Caio Prado institucional do universo político e intelectual do
envolveu-se em intensos estudos e pesquisas, PCB como um elemento de mediação
aproximando-se do mundo acadêmico nas hostes fundamental na caracterização da trajetória de
da sociologia durkheimiana, da antropologia Caio Prado Júnior.
maussiana e da historiografia dos Annales. Com
essas matrizes, Caio Prado organizou as suas A tese de doutorado de Paulo Henrique
perspectivas intelectuais, fato que Iumatti Martinez5 apresenta uma interessante
reconhecerá como positivo, porque tais matrizes investigação sobre o “jovem” Caio Prado Júnior
teóricas qualificaram os fundamentos do em seus anos de formação intelectual junto à
marxismo pradiano e que por causa dessa Faculdade de Direito São Francisco (São Paulo)
experiência intelectual, afirma Iumatti, a atitude no período 1924-1928, descrevendo a
mais correta para se abordar a trajetória pradiana intervenção intelectual do pensador frente aos
seria aquela de circunstanciar a sua luta pela grupos estudantis liberais e/ou positivistas
ampliação da democracia, dos direitos sociais e castilhistas (de quem Caio Prado Júnior se
dos direitos civis e políticos do brasileiro, ao aproximou). O livro descreve também o
contrário de reduzir essa trajetória a termos momento de produção do primeiro livro
como “socialista”, “social democrata” ou pradiano – Evolução Política do Brasil (1933),
“marxista”. além de uma análise pormenorizada do mesmo
que leva o autor a concluir que o mesmo estaria
O estudo biográfico de Lincoln Secco dá ênfase para o marxismo brasileiro como uma peça
ao percurso intelectual e político de Caio Prado intelectual de envergadura similar ao livro: 18
Júnior, ao contrário da biografia de Iumatti, a de Brumário de Luís Bonaparte, a obra clássica
trajetória pradiana resgatada por Secco é a de de Karl Marx, conclusão e remissão essa da qual
um intelectual público com fortes mediações discordo frontalmente. Contudo, ressalve-se que
institucionais no campo da esquerda comunista este livro tem o mérito da descrição contextual a
brasileira, além de uma apreciação rigorosa do que se viu envolvido Caio Prado Júnior no
conjunto da obra, ainda que aspectos momento em que justificava para si e para a sua
importantes da mesma não tenham merecido a família as suas opções ideológicas pelo
sua devida atenção. Se o Caio Prado Júnior de comunismo pecebista.
Iumatti marcou-se pelo empresário-intelectual
democrata, o Caio Prado Júnior de Secco Importante referência para os estudos pradianos
caracteriza-se como um comunista que com base é o livro de Bernardo Ricupero6, é certamente o
no marxismo propunha reformas políticas ao trabalho mais ambicioso já dedicado à obra e
capitalismo brasileiro, nesse sentido, o livro de trajetória de Caio Prado Júnior, sua estrutura
Secco aproxima-se da perspectiva interna leva a cabo as sugestões que Fernando
historiográfica de Raimundo Santos4 que Novaes7 apontara num pequeno artigo já
caracteriza o pensador paulista como propositor clássico, a originalidade da nacionalização do

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marxismo pradiano e a remissão comparativa modelos explicativos positivistas como os de


dessa originalidade com o marxismo latino- Rocha Pombo, esse livro já apresentava
americano, especialmente com a obra de José divergências com teses do Partido Comunista
Carlos Mariátegui. Mas se é o estudo mais Brasileiro (PCB), marcando publicamente o
ambicioso sobre a pradiana, é também uma início das controvérsias do autor com o partido,
grande mistificação sobre a pradiana. Ricupero e controvérsias essas que se arrastariam até 1966.
Novais são expressões uspianas ortodoxas dos Este é um detalhe pouco percebido, mas de uma
ritos de celebração acrítica em torno da evidência contundente, já que o autor
pradiana, a reiteração da grandeza e questionava um dos principais postulados da
originalidade do marxismo “nacionalista” de concepção programática pecebista, aquela que
Caio Prado Júnior é um notável mal-entendido se relacionava diretamente à presença ou não de
sobre o que poderia significar uma um feudalismo quando da ocupação colonial do
“nacionalização” do marxismo, sendo que, Brasil. Sobre o feudalismo colonial contrastado
curiosamente, a catilinária em torno dessa com o feudalismo europeu o autor afirma que
originalidade do marxismo pradiano esquivou-se [...] encontraram os conquistadores descidos do
por completo de uma análise das mais de mil Norte [da Europa] uma população relativamente
páginas que Caio Prado Júnior publicou nas densa e estável que já se dedicava à agricultura
décadas de 1950 e 1960 em três livros dedicados como único meio de subsistência. O predomínio
justamente ao marxismo (Dialética do econômico e político dos senhores feudais
conhecimento [1952], Notas introdutórias à resultou assim direta e unicamente da
lógica dialética [1959] e O mundo do socialismo apropriação do solo, que automaticamente
[1962]). gerava em relação a eles os laços de
dependência dos primitivos ocupantes. Aqui
Discordando da tese da “originalidade da não. A organização política – econômica
nacionalização do marxismo” pradiano brasileira não resultou da superposição de uma
defenderei neste artigo a tese que Caio Prado classe sobre uma estrutura social já constituída,
Júnior foi um leitor da literatura marxista (de superposição esta resultante da apropriação e
Marx a Engels e a Stálin), que com criatividade monopolização do solo. Faltou-nos este caráter
e ecletismo teórico desenvolveu importantes econômico fundamental do feudalismo
trabalhos de historiografia, mas nenhuma teoria europeu8.
marxista que o pudesse associar aos grandes
clássicos do marxismo no século XX, afinal o E numa nota de rodapé complementar
que poderia dizer Lukács se estivesse diante de acrescentou ainda que, esta observação destina-
uma formulação teórica como a que Caio Prado se principalmente aos que fundados em certas
Júnior desenvolveu na década de 1950, se nela analogias superficiais, se apressam em traçar
encontrasse a proposta “marxista” de uma paralelos que não têm assento algum na
Lógica Dialética Positiva sustentada em estudos realidade. Podemos falar num feudalismo
da Fisiologia do cérebro? Na tese que aqui apenas como figura de retórica, mas
proponho, o conjunto da pradiana abre absolutamente para exprimir um paralelismo que
possibilidades contundentes para uma percepção não existe, entre a nossa economia e a da Europa
historiográfica da trajetória ideológica e política medieval9.
de Caio Prado Júnior remetida aos quadros
intelectuais do pensamento nacionalista No seu livro de estreia, o autor afirma que a
corporativista brasileiro. É inquestionável que economia colonial desde os seus primórdios
Caio Prado Júnior é um clássico do pensamento sustentou-se na grande propriedade rural em
brasileiro, mas penso que é junto ao detrimento da pequena propriedade, afinal,
nacionalismo corporativista que o deveríamos porque só assim se poderia estabelecer a relação
encontrar. efetiva com o único mercado existente – o
mercado metropolitano europeu. A colônia
1. Nacionalismo historiográfico. nasceu com base no latifúndio e isso, afirma o
autor, trouxe como consequência social direta o
Em 1933, Caio Prado Júnior marcou a sua prestígio e o domínio do senhor rural em todos
estreia como escritor com a publicação de os aspectos da vida social na colônia, já que essa
Evolução Política do Brasil, e definiu o livro seria um reflexo fiel de suas bases materiais10.
como uma leitura sistemática da História do Em rápida síntese, a estrutura social do Brasil
Brasil baseada no “método materialista”. Mais colonial nos seus primeiros 150 anos era vista
do que um “rompimento” historiográfico com

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pelo autor como “extremamente simples”


porque reduzida a duas classes sociais: “[...] ao mesmo tempo em que o Brasil
atinge um grau de evolução econômica
[...] de um lado os proprietários rurais, a que começava a fazer-lhe sentir a
classe abastada dos senhores de engenho e estreiteza do regime de colônia em que
fazenda; doutro a massa da população vivia, a metrópole torna tais condições
espúria dos trabalhadores do campo, ainda mais pesadas”15.
escravos e semilivres. Da simplicidade da
infraestrutura econômica – a terra, única Pelo argumento, a partir da segunda metade do
força produtiva absorvida pela grande século XVII, a estrutura socioeconômica da
exploração agrícola – deriva a da estrutura colônia sofreria transformações significativas,
social – a reduzida classe de proprietários tanto políticas como econômicas. Naquele
e a grande massa que trabalha e produz, momento, ao lado da atividade agrícola,
explorada e oprimida11. desenvolvia-se nos centros urbanos uma
considerável atividade mobiliária, associada ao
Diante dessa situação de fácil constatação como comércio e ao crédito. Dessa atividade, surgiu
se definiria o poder político na colônia, na colônia “uma rica burguesia de negociantes”
considerando-se esse período inicial em e que por seus haveres acumulados foi aos
questão? Caio Prado Jr. apresenta uma dupla poucos pondo em xeque “os proprietários rurais,
caracterização: primeiro, o poder político formal até então a única classe abastada e, portanto, de
estava nas mãos da Coroa portuguesa, mas o prestígio da colônia”16.
poder “de fato” estava nas mãos dos grandes
proprietários de terra, poder que se manifestava Esses negociantes eram em sua grande maioria
junto às câmaras municipais. Pela distância da portugueses recém-egressos da metrópole, e pela
colônia com a metrópole e pelo isolamento dos natureza de sua atividade econômica
colonos, o governo metropolitano tem posição ameaçavam politicamente os “nacionais” já
administrativa passiva, viu-se assim obrigado a estabelecidos na atividade agrária, isso porque
aceitar os critérios estabelecidos pelos colonos, essa “classe comercial” por causa dos seus
daí, raras vezes a autoridade metropolitana interesses estava “estreitamente ligada ao regime
contrariar o poder “de fato” destes colonos, de colônia do Brasil. As leis da metrópole
porque “sempre, na primeira linha, estão excluíam os concorrentes de outras nações que
[estariam] os interesses dos grandes aqui não podiam se estabelecer”17.
proprietários rurais. É destes, portanto, e só
destes, o poder político da colônia”12. Afirma o autor que com a crise da atividade
agrícola e a ascensão da produção aurífera, os
As câmaras municipais expressavam o poder senhores de engenho foram gradativamente se
dos interesses dos grandes proprietários rurais, o endividando com os comerciantes, afirmando-se
seu o seu campo de intervenção era grande, pois assim, os interesses opostos entre duas classes
se viam as “câmaras fixarem salários e o preço sociais: a “aristocracia fundiária nacional” e os
das mercadorias”13. Com essa autonomização do “mercadores portugueses: a burguesia
poder local, o poder político na colônia acabou comercial”. Como corolário dessa situação, e
por ser “necessariamente disperso”14. O autor com a crise do setor fundiário, as câmaras
conclui que através dessas câmaras municipais municipais assistiram ao seu declínio enquanto
de grande autonomia política já se autoridade política, em detrimento do avanço do
apresentariam, pelo menos até meados do século poder da metrópole. O processo de decadência
XVII, as primeiras manifestações de interesses das câmaras municipais consolidou-se no século
“nacionais”, principalmente porque Portugal XVIII, porque com a exploração do ouro,
deixara a colônia praticamente abandonada por surgiram em paralelo, as instituições de
causa das suas atividades comerciais nas Índias. representação direta do fiscalismo português, na
Entretanto, com as desfavoráveis mudanças conclusão do autor, a metrópole deixara “que o
econômicas ocorridas no Oriente e o país (sic) evoluísse [...] para depois se atirar a ele
consequente interesse de Portugal pelo Brasil num verdadeiro saque organizado”18.
num momento em que esta colônia vivia seu
apogeu açucareiro, manifestaram-se as primeiras Em suma, pelo que se pode depreender desta
reclamações feitas pela metrópole contra os caracterização historiográfica, Caio Prado Jr.
interesses econômicos da colônia. Escreve o referenda a tese de que até o século XVII os
autor: grandes proprietários rurais, enquanto classe

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detentora do poder, através das câmaras porque, conforme o autor, tais camadas, “não se
municipais, edificariam as bases da encontravam politicamente maduras para
nacionalidade brasileira, essa seria a sua fazerem prevalecer suas reivindicações”, o
“evolução natural” não houvesse, entretanto, Brasil naquele momento, “não tinha ainda
com a exploração do ouro e a monopolização do condições objetivas para a sua libertação
comércio por negociantes vinculados à Coroa econômica e social”, afinal, conclui o autor
portuguesa, um abalo na marcha dos manifestando uma inflexão determinista ao seu
acontecimentos, um abalo nessa evolução argumento, as “reformas mais profundas teriam
natural para se constituir como nação econômica ainda que esperar outros tempos e outro
autônoma e não mais como colônia. Entretanto, momento mais favorável e avançado da
em 1808, por causa das guerras napoleônicas, e evolução histórica do país”23. Noutra passagem
por o príncipe regente obrigar-se a deslocar o do livro, encontra-se de modo bastante
governo português para o Brasil, o Brasil evidenciado um raciocínio de fortes conotações
novamente seria enquadrado naquela “evolução positivistas – e ressalvo que esta é apenas uma
natural”, porque seria o príncipe regente quem afirmação de contraste com a própria descrição
acabaria por lançar “as bases da autonomia analítica que o autor apresenta na mesma obra –
brasileira”19. trata-se daquela referente às camadas populares
quando do processo de consolidação da
A transferência da corte portuguesa para o Brasil independência da nação no século XIX, que
foi termo fundamental para a definição da muitos analistas reputam como sendo a grande
nacionalidade brasileira, afinal, por originalidade da análise pradiana, a marca da
contingências de política internacional, D. João ruptura historiográfica que o autor realizava
VI foi obrigado a desmantelar as estruturas diante da tradição conservadora na historiografia
coloniais e todas as medidas, como a abertura de então:
dos portos, já eram práticas institucionais que
“mesmo um governo propriamente nacional não “A posição das classes pobres [sic] na
poderia ultrapassar”20. Dessa maneira o autor revolução da Independência é radical ao
percebia em 1808 a real independência do Brasil extremo. Planejavam-se completas
mesmo que essa só se consumasse em 1822 – transformações sociais, e não faltaram
“tivemos um período de transição em que, sem mesmo, projetos de divisão igualitária de
sermos ainda uma nação de todo autônoma, não toda a riqueza social. Mas faltavam as
éramos propriamente uma colônia”21. condições objetivas necessárias para a
realização destas reformas, e elas por isso
A nacionalidade estava asseverada, nada poderia andam mais no ar que caracterizadas em
quebrar essa inexorabilidade, nem mesmo a programas definidos. Vemo-las
reação colonizadora de 1820, na cidade do assumirem um caráter político, vago e
Porto, pois naquele momento histórico, a reação abstrato, sem se apoiarem numa sólida
recolonizadora embora contando com o apoio da base econômica e social, Eram em suma
metrópole e das cortes portuguesas, será levada aspirações confusas, muito mais
de vencida porque não era mais possível deter o destruidoras que construtivas”24.
curso dos acontecimentos e fazer retrogradar o
Brasil na marcha da História22. Por que na análise do autor, as ideias das
“classes pobres” eram “destruidoras”, naquela
Afirmado o nascimento da Nação e do seu conjuntura? Simplesmente porque na
principal personagem, o Estado Nacional, o inexorabilidade evolucionista dos fatos
próximo passo analítico foi o de caracterizar a históricos dispostos pelo autor, naquele
composição social das classes envolvidas na momento, “só os grandes proprietários” é que
política da nova nação. Além das classes poderiam ser donos da “marcha dos
dominantes dirigentes, Caio Prado refere-se acontecimentos”, nessa concepção de “história
também às camadas populares, e nisso, sua materialista” não há uma ideia de ruptura, de
análise era de fato pioneira, se comparada esta contradição permanente na processualidade
obra com outras aparecidas até então na cultura histórica, o que se evidencia, quer me parecer, é
historiográfica brasileira. Entretanto, é uma lógica explicativa teleológica. Uma lógica
necessário ressalvar, que tais camadas populares explicitamente evolucionista e determinista,
apareciam na análise do autor, como objeto porque o historiador ao conhecer o
coisificado, isto é, apareciam fixadas a um desdobramento posterior daqueles fatos do
determinismo estrutural – o da derrota política passado impunha aos mesmos um juízo de valor

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do que propriamente a compreensão das iniciadoras do movimento, e que de


possibilidades derrotadas. O autor fez com essas revolucionários, sob a pressão que as
observações uma depreciação preconceituosa arrasta para onde não querem ir, passam a
dos erros e dos acertos dos personagens em luta, reacionárias [...]. Deixam assim à sua
e isso em nome das “condições objetivas” do sorte os últimos a entrarem na luta, que
processo histórico. E a este exemplo, acrescento por esta forma enfraquecidos, são
outro: o de que as “classes pobres” estavam esmagados pela reação do poder
mais erradas e confusas ainda, porque central”26.
desejavam a consumação de “projetos de divisão
igualitária” – ora, pelo que posso concluir dessa Neste exemplo é possível a conclusão de que
análise e raciocínio, essas classes só poderiam todo o processo de independência nada mais
evidenciar tal projeto, só poderiam tornar essa fora do que a confirmação da evolução nacional
assertiva como fato legítimo, quando se já existente como processo desde o século XVII,
manifestasse no horizonte histórico, a existência isto é, a confirmação dos senhores de terras
da revolução socialista como fato. Daí, talvez, como classe nacional por excelência. A reação
explicar-se a afirmação do autor desses projetos desta classe no processo político de
políticos que “andavam no ar” serem mais independência deu-lhes a “consciência de seu
destrutivos do que construtivos. papel” entrando assim “definitivamente no rumo
de sua evolução”27.
Dom Pedro I teve papel meramente ocasional no
processo político da independência, era um Este livro foi publicado em 1933 à véspera da
“mero instrumento das reivindicações organização da Aliança Nacional Libertadora
nacionalistas” dos setores rurais, mas que após a (ANL), movimento político nacionalista a que
consolidação do poder, voltou-se aos interesses esteve intensamente envolvido Caio Prado
do “partido português”, para assim tornar-se Júnior.. A composição social e política da ANL
monarca do Brasil com total autonomia sobre agregava desde militares remanescentes do
aqueles que se reuniam em torno de si. Essa tenentismo, operários e funcionários
situação é demonstrada quando da dissolução da assalariados, pequena burguesia, até frações da
Assembleia Constituinte de 1823, passo extremo burguesia industrial. Penso que remeter o
na tentativa de recolonização do Brasil, tal era o nacionalismo historiográfico que o autor
objetivo último da facção política denominada apresenta no livro aos significados políticos do
pelo autor de “absolutistas”. Na análise do autor nacionalismo da ANL seria uma hipótese que,
temos a luta pela independência entre os diante do que já apresentei, me parece óbvia,
“absolutistas” e os “brasileiros nativistas”, os mesmo ressalvando o risco do automatismo de
nacionais e os antinacionais. Após descrever a uma homologia na relação autor-obra / visão de
vitória dos nacionais sobre os restauracionistas, mundo-classe social.
sendo, portanto os “nacionais” a expressão
progressista da sociedade, porque quando da sua Para dar continuidade à apresentação do
luta pela autonomia, traziam a “seu reboque” as nacionalismo historiográfico de Caio Prado
classes populares, contudo, quando esses Júnior, considero agora o seu mais famoso livro:
“nacionais” chegam ao poder, constatava-se o Formação do Brasil Contemporâneo – Colônia,
axioma de que “a classe que alcança seus de 1942. Este livro é considerado por muito
objetivos com a tomada do poder torna-se nele analistas, como o clássico do “marxismo
reacionário”25. Este é verdadeiramente um pradiano”.
axioma que não demarca apenas uma frase, mas
um raciocínio igualmente axiomático. Veja-se a O livro está dividido em quatro partes: a
seguir outro exemplo do que seria um raciocínio primeira compõe-se pela Introdução e pelo
causalista-axiomático quando da explicação do breve capítulo Sentido da Colonização, onde
processo político imediatamente posterior à apresenta o método que definirá a estrutura
independência: básica da obra; a segunda parte, Povoamento,
envolve quatro capítulos onde o autor trata
“A pressão revolucionária começa nas especificamente da geografia da colônia, nas
camadas logo abaixo da classe dominante. suas características regionais, o palco da ação de
Daí se generaliza por toda a massa, ocupação determinada pelas influências de meio
descendo sucessivamente de uma para e das raças presentes ao processo histórico da
outra camada inferior. Isto provoca uma colônia; na terceira parte, Vida Material, a parte
contramarcha das próprias classes mais longa da obra (nove capítulos)

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desenvolvem-se questões pertinentes à Após descrever o sentido histórico da colônia –


economia colonial dentro de todas as suas fases a de fornecer produtos tropicais para os
produtivas e características geográfico – mercados externos, o autor, quando de sua
regionais; por fim, a quarta parte, Vida Social, análise do povoamento na colônia constatou que
de quatro capítulos, onde o autor apresenta havia “uma flagrante semelhança entre a
análise sobre as instituições político – distribuição do povoamento naquele princípio
administrativas da colônia e a relação destas do século 19 e os nossos dias”31. A persistência
com a sociedade. estrutural dos mesmos problemas de distribuição
populacional implicava um pesado ônus para o
Os motivos do livro são logo apresentados, país. Mesmo que estivesse delimitado
queria o autor com aquele trabalho explicar o geograficamente não conseguira efetivar a sua
Brasil e por um motivo: “observando-se o Brasil integração interna em função das suas
de hoje (1942), o que salta à vista é um peculiaridades econômicas regionais e isso
organismo em franca e ativa transformação, e também caracterizava a ausência de um Estado
que não se sedimentou ainda em linhas Nacional efetivamente orgânico.
definitivas; que ainda não tomou forma” 28. Para
buscar os componentes históricos desse Fazendo referência a São Paulo como “centro
“organismo em franca e ativa transformação”, o natural de vasta área, ponto de comando e
autor definiu a estrutura lógica de sua análise, articulação de regiões várias”32, o autor acabaria
naquilo que conceituou como o “sentido da por apresentar em seu texto uma lógica
colonização”, o significado que dava à sua explicativa centrada no discurso geopolítico,
concepção de História: quando define São Paulo como uma espécie de
Hinterlândia – que na geopolítica de Friedrich
“Todo povo tem na sua evolução vista à Ratzel ou na de Mackinder, chamava-se de
distância, um certo sentido. Este se “espaço vital”. No Brasil, o ideário geopolítico
percebe não nos pormenores de sua do “espaço vital” foi desenvolvido por
história, mas no conjunto dos fatos e intelectuais ligados ao Exército, casos de
acontecimentos essenciais que a Everardo Beckhauser, Mário Travassos e
constituem num largo período de tempo. Golbery do Couto e Silva. A diferença é que a
Quem observa aquele conjunto, análise de Caio Prado Júnior centrava-se na
desbastando-o do cipoal de incidentes questão econômica, já no pensamento
secundários que o acompanham sempre e geopolítico, a análise era centrada nas funções
o fazem muitas vezes confuso e do Estado, mas, o que importa frisar é certa
incompreensível, não deixará de perceber afinidade de preocupações que em temas como
que ele se forma de uma linha mestra e esse aproximavam campos políticos opostos e,
ininterrupta de acontecimentos que se além disso, convém ressalvar, que no corolário
sucedem em ordem rigorosa, e dirigida analítico e político de Caio Prado Júnior também
sempre numa determinada orientação”29. se encontrava o Estado Nacional como figura
central.
Pelas observações metodológicas descritas
acima, é de se notar o óbvio tom teleológico Aspecto importante do livro é questão racial na
com que definia o processo histórico, afinal, se formação da colônia que ao contrário de
sua ideia de História era a de uma evolução em Evolução Política do Brasil, é nesta obra
“linha reta e ininterrupta de acontecimentos” e abordada com destaque. Destaque
se o Brasil que lhe era contemporâneo era ainda principalmente pelo aspecto pejorativo com que
um “organismo” sem forma, pelo que descreve o autor desenvolve seus argumentos. E o dado
o autor e como verbaliza o processo histórico, a mais interessante aqui a ressalvar é o uso que faz
minha conclusão é a de que tal assertiva define das reflexões e das conclusões de Gilberto
uma concepção de História inequivocamente Freyre apresentadas em Casa Grande & Senzala
positivista. (1933). Mas, ao contrário do pensador
pernambucano que via como positiva a mistura
Qual foi o sentido da colonização? “[...] nos interracial, Caio Prado Júnior transformará o
constituímos para fornecer açúcar, tabaco, argumento freyriano em pejorativo. Um
alguns outros gêneros; mais tarde ouro e exemplo de expressão pejorativa: no Brasil
diamantes; depois algodão e em seguida café, colônia, as raças “juntas e mesclando-se sem
para o comércio europeu. Nada mais que isto”30. limite, numa orgia de sexualismo desenfreado
que faria [m] da população brasileira um dos

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mais variegados conjuntos étnicos que a diferenciada àquela parte do “país”? Vários
humanidade conheceu”33. outros exemplos poderiam aqui ser listados para
justificar o fato de que em grande parte, os
Ao enfatizar a questão sexual no contato entre as argumentos do autor apresentavam-se em
raças, o autor incorpora elementos da análise de visivelmente distanciados de uma perspectiva
Freyre, mas ao contrário das conclusões deste, marxista).
as suas não imantavam a mesma positividade
societária, tal como sugere a perspectiva do Na terceira parte do livro de 1942 (aspecto
historiador pernambucano. Note-se o tom, como fundamental para os propósitos da argumentação
exemplo dessa perspectiva, quando se refere ao que aqui apresento sobre a visão de mundo do
papel da mulher indígena na colonização onde autor) aquela referente à vida material, Caio
com essa era “notória a facilidade com que se Prado Júnior afirma que a economia colonial
entregava, e a indiferença e passividade com que estava caracterizada,
se submetia ao ato sexual”, e junto a essa
“característica”, outra, a da “impetuosidade “(...) de um lado, na sua estrutura [como]
característica do português e a ausência total de um organismo meramente produtor, e
freios morais”, elementos de sociabilidade, nos constituindo só para isto um pequeno
termos do autor, que acabaram por se constituir número de empresários e dirigentes que
em regra geral na colônia34. senhoreiam tudo, e a grande massa da
população que lhe serve de mão - de -
E para explicitar o diálogo com Freyre, o autor obra. Doutro lado, no funcionamento, um
corrobora de modo positivo e sem juízo fornecedor do comércio internacional dos
depreciativo, uma das teses centrais do gêneros que este reclama e de que ela
culturalismo freyriano: “É pela aptidão do dispõe. Finalmente, na sua evolução, e
português em se mestiçar com outras raças que como consequência daquelas feições, a
se deve a unidade do Brasil”35. Apesar de exploração extensiva e simplesmente
concluir nesses termos, no seu sentido geral, a especuladora, instável no tempo e no
questão racial abordada por Caio Prado é espaço, dos recursos naturais do país”37.
explicitamente um retrocesso teórico e político
se comparada àquela desenvolvida por Gilberto As características acima, “independente do
Freyre, e mais problemática ainda pelo fato de o estatuto de colônia ou depois de Nação”38
argumento pradiano aparecer num contexto resultam-se permanentes e geradoras para o país
histórico explicitamente marcado pelo racismo de uma “consequência final” gravíssima, qual
antissemita que o nazismo impunha ao mundo. seja: os ciclos de prosperidade e decadência
A economia colonial voltada integralmente ao econômica.
mercado externo; a natureza, o lugar-região
impondo o isolamento populacional; a mistura Uma evolução cíclica, tanto no tempo como no
racial depreciada que é “salva” pela aptidão do espaço, em que se assiste sucessivamente a fases
português; ou seja, um conjunto de atavismos de prosperidade estritamente localizadas,
que determinam a tipicidade da evolução seguidas, depois de maior ou menor lapso de
nacional. Evolução essa que só tomaria seu tempo, mas sempre curto, do aniquilamento
rumo “correto” quando da intervenção total. Processo este ainda em pleno
saneadora do Estado “científico” (veja-se este desenvolvimento no momento que nos ocupa e
exemplo: a certa altura do texto, o autor que continuará assim no futuro39.
referindo-se aos índios que viviam em aldeias
jesuíticas no Pará - Maranhão, diz que estes Para melhor vislumbrar a estrutura dessa
falavam o tupi, e não o português, e constatando permanente crise é preciso acompanhar o autor
o fato, interroga-se: “Era de se esperar que sem em algumas questões específicas, como a
a providência das leis pombalinas, aquele setor questão agrária, por exemplo. A estrutura
do Brasil se integrasse no corpo da colônia?” agrária colonial, o centro econômico do Brasil,
Responde a sua indagação desta maneira: assim se caracterizou:
“Parece mais provável que evoluiria numa
direção inteiramente diversa, e não chegaria De um lado a grande lavoura, seja ela do açúcar,
nunca a fazer parte do país”36. Ora, o que do algodão ou de alguns outros gêneros de
poderia significar isto se não uma visão de menor importância, que se destinam todos ao
História tipicamente evolucionista? E como a comércio exterior. Doutro a agricultura de
linguagem por si determinaria uma “evolução” subsistência, isto é, produtora de gêneros

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destinados à manutenção da população do país, nenhuma voz ativa; nem ao menos depositou
ao consumo interno40. nele a confiança que não só merecia pelo seu
passado, [...] mas que lhe era absolutamente
O aspecto essencial das grandes lavouras seria o indispensável43.
da “exploração em larga escala”, onde áreas
extensas e “numerosos trabalhadores” Somente um homem de elevada moralidade, um
constituíam-se como uma empresa, “com homem de ciência, poderia levar a cabo o
organização coletiva do trabalho e mesmo saneamento da crise, mas mesmo esse,
especializações”41. Já a agricultura de precisaria também do parceiro-chave: o Estado;
subsistência, envolvida, entre algumas outras e se este faltasse àquele, pela cadeia dos
atividades, na produção de aguardente, algodão determinismos atávicos, mesmo esse homem de
e arroz, se caracterizava por sua ciência, mais preparado, falharia. Pressuponho
“mediocridade”, e onde só se encontrava um diante da argumentação do autor, uma questão
“elemento humano residual”, constituído, óbvia: somente um Estado científico reformador
sobretudo, de “mestiços do índio que é que poderia modificar as estruturas da crise
conservaram dele a indolência e qualidades cíclica permanente.
negativas” se comparada a uma vida de teor
“moral mais elevado” e, se não eram esses Enfim, o processo histórico de formação da
personagens, nessas atividades encontravam-se sociedade colonial enquanto totalidade centrou-
também “brancos degenerados e decadentes”42. se sob dois aspectos gerais: primeiro, a grande
propriedade agrícola, de monocultura e trabalho
A característica da economia de subsistência era escravo – o emblema do sistema colonial, a
resultado de uma determinação estrutural estrutura condicionante e condicionada do
imposta pelas funções da economia organizada sistema colonial metropolitano; e, segundo, a
de atividade produtiva voltada à metrópole, mas, atividade de subsistência nas suas várias formas
não se pode deixar de observar os termos – a esfera societária dos baixos valores morais,
desqualificadores com que o autor caracteriza a “da relaxação geral dos costumes”, dos “pretos
vida social que era determinada por aquelas boçais e índios apáticos”44. É de se notar, que
condições. É possível até concordar que a sua para o autor não havia dualidade nessa
intenção não fosse a de um racista ideológico, caracterização, porque ambas as situações eram
entretanto, os termos usados são claros: são partes constitutivas de um todo.
expressões racistas. E como sempre deixa
sugerido como ideal de padrão societário, p. ex., No quadro de impossibilidades societárias livres
a “moral mais elevada”, o autor explicita uma da escravidão (mesmo o pouco trabalho livre,
visão de mundo fortemente conservadora, executado por brancos, é conforme, o autor, o
apresenta-nos a palavra do reformador trabalho “dos desclassificados, dos inúteis e
autoritário. Insisto em ressalvar estes aspectos inadaptados, indivíduos de ocupações mais ou
da textualidade do autor porque creio serem eles menos incertas e aleatórias”45, Caio Prado
estruturais, e não mero acidente retórico. descreverá o clã patriarcal como a “unidade em
Apresento um exemplo claro dessa visão de que se agrupa a população de boa parte do país,
mundo reformadora e autoritária, um exemplo e que na base do grande domínio rural, reúne o
retirado do livro em questão quando o autor conjunto de indivíduos que participam das
referindo-se ao fracasso do trabalho do geólogo atividades dele ou se lhe agregam” 46. Essa
alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege durante descrição é uma clara influência historiográfica
o governo do regente D. João, em 1811. de Oliveira Viana, pois tal como o pensador
fluminense, Caio Prado Jr. também definirá o
Em 1811, o Regente, mais próximo do mal [o clã patriarcal como a única instituição
autor referia-se ao Brasil e ao fracasso da efetivamente organizada da colônia, já que nas
mineração – João Alberto] e enxergando-o por vilas ou em qualquer outro espaço público onde
isso melhor, [...] deu um primeiro passo acertado pudesse existir administração metropolitana, só
ao contratar os serviços de um homem como preponderava a indisciplina, a dispersão da
Eschewege, que além de técnico notório na população, a “falta de sedimentação social, de
matéria, tinha todas as qualidades de dedicação educação e preparo para um regime policiado”47.
e energia para tentar a rehabilitação (sic) da
massa falida que lhe confiavam. Mas como Ao constatar a inexistência, até o início do
sempre, a administração esqueceu o principal, século XIX de “relações sociais de nível
não deu a este homem [...]nenhuma autoridade, superior”48. Caio Prado Júnior diagnosticava a

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A nação corporativista... João Alberto da Costa Pinto.

barbárie imposta estruturalmente pelo sistema desses vetores é que poderia realizar a orgânico
colonial, termo que seria óbvio, porque coerente verdadeiramente nacional, efetivado pelos laços
com a análise precedida, se não estivesse da solidariedade (não seria o caso de associar
comprometido, logo a seguir, com um inflexível essa tese ao “solidarismo” de Oliveira Viana?), a
juízo de valor, qual seja, o de que as tais consumação do povo brasileiro e seu destino
relações sociais de nível superior só poderiam nacional; esse personagem só poderia ser o
existir se houvesse no tecido social, aquilo, que Estado Nacional. E pelo que pude indicar e
o autor, como bom leitor de Durkheim que era, deduzir, as forças de composição desse Estado,
definirá como “nexos morais”. Para tanto define só poderiam ser aquelas oriundas do mundo do
“nexo moral”, no “seu sentido amplo de conhecimento científico, assim é possível
conjunto de forças de aglutinação, complexo de concluir que o Estado Nacional pradiano,
relações humanas que mantêm ligados e unidos enquanto vetor abstrato assemelhar-se-ia ao
os indivíduos de uma sociedade e os fundem modelo do Estado Científico de cariz autoritário.
num todo coeso e compacto”49. Ora, com estes Comparando os argumentos do livro de 1942
termos Caio Prado Jr. torna frágil o sentido com o livro de 1933 (Evolução Política do
historiográfico de sua análise revestindo-a Brasil) percebo um desvio na proposição
retoricamente com elementos opinativos analítica do autor (o desvio estaria caracterizado
fortemente vinculados à tradição do pensamento justamente pelas inflexões positivistas e
autoritário que lhe era contemporânea. O autor culturalistas acima descritas). Mas, em 1945
nesse procedimento indica um julgamento dos retomaria o mesmo espírito analítico sugerido
erros históricos do passado colonial e quando em 1933, onde voltaria a bater-se frontalmente
afirma que as possibilidades das transformações com a questão do imperialismo.
revolucionárias futuras estavam mais próximas
das forças sociais desorganizadas remanescentes Em 1970, o autor ainda asseverava o caráter
do mundo colonial – os marginais, o mundo inconcluso da autonomização econômica
social residual dos clãs patriarcais – acaba por nacional:
sugerir a inflexão de que estes marginais jamais
poderiam expressar por si uma vontade “Desencadeiam-se forças renovadoras
transformadora para a edificação da verdadeira latentes que daí por diante se afirmarão
nacionalidade, ou seja, jamais poderiam por si cada vez mais no sentido de
mesmos deixar de ser o residual para se transformarem a antiga colônia numa
transformar em povo brasileiro. O elemento comunidade nacional e autônoma. Será
chave de articulação da massa inorgânica em um processo demorado - em nossos dias
povo nacional seria o Estado Nacional. Só o ainda não se completou-, evoluindo com
Estado Nacional poderia impor os verdadeiros intermitências e através de uma sucessão
“nexos morais” à nação brasileira. de arrancos bruscos, paradas e mesmo
recuos”50.
Dessa maneira, o que sugiro da leitura deste
grande clássico da historiografia brasileira, é Nessa explicação de 1970, o algoz da efetiva
certa ambiguidade na análise das vicissitudes do independência da nacionalidade brasileira ainda
sistema colonial e as suas imposições era o imperialismo, que por seu envolvimento
subordinantes – e isso me parece ser a sua com o grande latifúndio nacional obstaculizava
estrutura significativa fundamental. O autor o desenvolvimento autônomo do país, mas,
também irá sugerir outra cadeia de significados como já vinha sugerindo em outros trabalhos,
estruturantes, sintetizada no inorgânico da esse imperialismo representaria também, “um
colônia, o mundo das forças societárias residuais grande estímulo para a vida econômica do país”,
diante do predomínio do latifúndio. E, conforme porque a entrosara “num sistema internacional
propõe, as alternativas futuras do Brasil Nação altamente desenvolvido como é o do capitalismo
haveriam de residir nos laços solidaristas, nos contemporâneo”51. Ora, o que concluir com
nexos morais de relações sociais de nível estas afirmações? O autor ao qualificar como
superior, mesmo que oriundos do mundo social positiva a ação imperialista no seio da economia
desorganizado da colônia. brasileira afirmava que essas práticas do
imperialismo acabariam por conscientizar a
Evidente que por causa das forças telúricas, pela nação para a luta anti-imperialista, daí a
cadeia de determinismos não só do sistema conclusão: “o imperialismo é um suicida que
colonial, mas da própria natureza, do espaço marcha seguramente para a sua consumação”52.
fragmentado, somente um personagem acima

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Na lógica explicativa sugerida, o Brasil ao se O capitalismo centrado na concorrência


modernizar com os instrumentos do particular dos indivíduos criou uma cultura
imperialismo acabaria por desenvolver práticas específica que dentro de um círculo vicioso
de sociabilidade política diferenciadas daquelas acirrava ainda mais a situação de concorrência.
práticas originadas nos países imperialistas. Isto No entanto, afirma Caio Prado Jr., que esta
porque, como já indicado, os termos autóctones cultura do individualismo não seria uma
do povo brasileiro em formação seriam característica estrutural da “natureza humana”,
mediados por relações sociais estruturalmente mas sim um “condicionamento psicológico” do
solidárias. Quer me parecer, portanto, que o imperativo mercantil capitalista. Apesar do autor
autor acreditava numa espécie de altruísmo inato não dizer isso, na passagem acima, descreve
do povo brasileiro (e por essa característica é uma situação clássica que a tradição marxista
que as reflexões culturalistas de 1942 não reputará como intrínseca à lógica histórica do
podem ser dissociadas dos demais textos capitalismo: a alienação. No entanto, há um
“economicistas”, melhor, são partes aspecto a considerar. Aquela situação psíquica
complementares, de fundamentação). O descrita seria intrínseca aos países com largo
“homem brasileiro” na sua generalidade desenvolvimento de práticas capitalistas,
construía com suas práticas societárias um simplificando, posso afirmar – seguindo a lógica
capitalismo nacional diferenciado do credo do autor – que o individualismo liberal (a
liberal imanente do capitalismo dos países cultura burguesa) é que impulsionaria esse
imperialistas, e pelo que indica a sua sistema, “mas onde a cultura burguesa, por força
argumentação, o agente fundamental dessas das circunstâncias históricas não logrou atingir
mediações societárias transformadoras só plena maturidade, o capitalismo não conseguiu o
poderia ser o Estado Nacional. mesmo sucesso”54.

Caio Prado Júnior tem no conjunto de sua obra Caio Prado Jr. afirma que os países em que essa
dois livros que são praticamente ignorados em cultura burguesa se cristalizou nas suas
quase todos os estudos sobre a sua obra, deles estruturas societárias básicas eram, na ocasião
destaco O mundo do socialismo (1962). da publicação, os países da Europa Ocidental,
Interessa destacar, principalmente, a definição principalmente Inglaterra e França e os Estados
comparativa que o autor desenvolve sobre o que Unidos da América. Estes seriam a
entendia por Capitalismo e Socialismo. Essa exponencialidade do sistema capitalista. Os
dupla definição é importante porque fundamenta demais países, também capitalistas, mas que
alguns dos aspectos centrais da interpretação ainda não “se ajustaram adequadamente ao
que aqui elaboro do conjunto da obra do autor. estilo de vida e tipo de comportamento burguês,
Numa passagem do livro de 1962, Caio Prado ficaram para trás”, e na concorrência do
Júnior caracterizará da seguinte maneira alguns mercado capitalista internacional, tais países
dos reflexos da lógica capitalista sobre a “vida” seriam
dos indivíduos:
“[...] os chamados subdesenvolvidos do
“[...] miragem de um lucro monetário que mundo de hoje. É que lhes faltou, como
não tem essencialmente outro objetivo ainda lhes falta em grau suficiente, a mola
que abrir perspectivas para um lucro ainda mestra do capitalismo, isto é, o
maior num processo infindável que gira exclusivismo individualista centrado em
em círculo fechado em que o homem interesses materiais e permanentemente
como homem se anula. Esse aspecto do estimulado para a luta55”.
capitalismo não cabe, nas suas
implicações mais profundas, dentro da O Brasil, na ocasião, demarcava-se também por
Economia, e pertence antes ao domínio da essa situação em que a “cultura burguesa” não
neurologia se não da psiquiatria. Se o deitara ainda raízes efetivas, isto é, o Brasil não
estímulo do lucro não abafasse nos tinha entranhado nas suas sociabilidades, como
homens de negócio todo e qualquer outro caráter intrínseco, um tipo de capitalismo
impulso humano, eles seriam os primeiros mediado pela expressão egoística do
a se rebelarem contra um sistema que faz liberalismo; sendo assim, a inexistência de uma
deles um dos mais tristes e pobres tipos concreta “cultura burguesa” dava ao capitalismo
humanos que a história da humanidade brasileiro um caráter específico. Ora, com estas
jamais reconheceu”53. afirmações, algumas conclusões vão se tornando
óbvias. Se o paradigma societário que Caio

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A nação corporativista... João Alberto da Costa Pinto.

Prado Jr. procurava como modelo era o Para terminar este artigo, apresento rapidamente
socialismo soviético, porque na URSS, como o autor definia as práticas societárias no
Socialismo, considerando-se este como uma
“[...]o Socialismo propõe e está etapa de transição para o comunismo. Caio
procurando realizar um mundo fundado Prado Jr. afirma que “não é pelo caminho do
em princípio diametralmente oposto igualitarismo, isto é, forçando
(àquele do Capitalismo), a saber, o da indiscriminadamente para níveis idênticos os
cooperação entre os homens, o do esforço padrões de todos os indivíduos, que se marcha
comum e conjugado para os mesmos fins para a verdadeira igualdade, isto é, para o
que são de todos56”. comunismo”57. Se o caminho “igualitarista” era
um caminho equivocado para o comunismo, o
[...] e por o Brasil manifestar historicamente que haveria de sugerir então o autor? Sugere que
práticas de um capitalismo que não se definia o mundo do comunismo em substituição ao
nas estruturas básicas do paradigma liberal, a mundo socialista se vislumbrava pelo “aumento
“evolução” política do país e por aquilo que já e extensão dos bens e serviços postos
manifestara nos momentos de crise e de luta gratuitamente e indiscriminadamente à
anti-imperialista, essa evolução estaria mais disposição de um número sempre crescente de
próxima do Socialismo do que propriamente do cidadãos”58. Ora, o que há nesta assertiva? A
Capitalismo liberal – marca internacional organização estatal da economia, ou melhor, o
eufemística das práticas imperialistas, práticas poder público dirigindo os impulsos do
essas que impunham em plena segunda metade mercado, um tipo de prática estatal.
do século XX, a manutenção da lógica
exploratória do antigo sistema colonial. E, além É possível concluir que para o caso do
disso, as lutas anti-imperialistas por significarem capitalismo brasileiro, a presença de práticas
um estímulo e fortalecimento dos laços sociais similares àquelas, isto é, práticas de regramento
de coesão nacional, por possibilitarem relações estatal indicativas de um tipo de capitalismo
sociais reativas de “nível superior”, por organizado pelas demandas do consumo. O
construírem os “nexos morais” da solidariedade, modelo de socialismo de Caio Prado Jr. poderia
fundavam um tipo de práticas de sociabilidade então ser entendido como um desdobramento
que colocariam a evolução política e social do evolucionário desse capitalismo corporativista
capitalismo especificamente brasileiro na rota da de mercado organizado. O autor em momento
evolução socialista. Daí, na obra do autor, não algum de sua obra indica práticas socialistas de
estar presente um conceito de revolução no gestão produtiva transformada, isto é, a
sentido clássico que o marxismo poderia dar ao produção controlada pela classe operária. Em
termo, isto é, a revolução como expressão de 1962, mesmo após o relatório de Nikita
lutas de classe. Kruschev, Caio Prado via positivamente na
parceria Estado-Partido Comunista a expressão
Na História do Brasil de Caio Prado Jr. não máxima de organização política na URSS. Uma
existiam lutas de classe, apenas as lutas dos espécie de neocorporativismo que haveria de
“nacionais” contra os “imperialistas”. Dessa garantir o controle sobre as demandas
maneira, o conceito de Revolução Brasileira de trabalhistas e os abusos do capital. Para os
Caio Prado Júnior seria a expressão trabalhadores sobrariam as medalhas
evolucionária de um processo histórico que pela stakhanovistas do “herói do trabalho” – “título
sua particularidade e características altruísticas conferido àqueles que mais se destacam em suas
em formação poderia dar ao povo brasileiro a atividades profissionais, constitui a mais
possibilidade de estar em “marcha” ao lado do honrosa qualificação a que pode aspirar um
socialismo soviético, a Revolução Brasileira de cidadão soviético”59. Em plena década de 1960,
Caio Prado Jr. apontava as possibilidades de um após o descortinamento dos crimes do Estado
socialismo evolucionário com evidentes stalinista, o autor sem qualquer reflexão crítica
conotações positivistas. O agente primordial de sobre os fatos apontados pelo relatório Kruschev
organização dessa marcha evolutiva do Brasil no (em momento algum dos escritos de Caio Prado
mundo, só poderia ser o Estado nacional Jr. há uma observação que considere
composto por uma tecnocracia de “homens mais criticamente os acontecimentos que abalaram no
capazes”, um Estado notadamente mundo inteiro as opiniões dos socialistas e dos
integracionista sob uma contundente marca comunistas) sugere como ideal societário aquilo
corporativista. que as práticas stakhanovistas já impunham
desde o começo da década de 1930 aos

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trabalhadores soviéticos: a disciplina e o


34
controle da organização produtiva. No momento Ibid., p. 104.
35
em que a cultura marxista brasileira revisava Ibid., p. 102.
36
alguns dos seus principais paradigmas, Caio Ibid., p. 92.
37
Prado Júnior contra a corrente, defendia uma Ibid., p. 123.
38
expressão stalinista ortodoxa, aquela do Ibid., p. 121.
39
Ibid., p. 121, grifos meus.
socialismo stakhanovista, a variável 40
Ibid., p. 137, grifos do autor.
corporativista do capitalismo de Estado 41
Ibid., p. 137.
soviético. 42
Ibid., p. 155, grifos meus.
43
Ibid., pp. 172-173.
44
Ibid., p. 275.
45
Notas: Ibid., p. 280.
46
Ibid., p. 284.
47
1
Iumatti, Paulo Teixeira. Caio Prado Júnior: uma Ibid., p. 307.
48
trajetória intelectual. São Paulo: Brasiliense, 2007. Ibid., p. 343.
49
2
Secco, Lincoln. Caio Prado Júnior: o sentido da Ibid., p. 344.
50
revolução. São Paulo: Boitempo, 2008. Prado Júnior, Caio. História econômica do Brasil
3
Iumatti, Paulo Teixeira. Diários políticos de Caio (12ª. Edição). São Paulo: Editora Brasiliense, 1970,
Prado Júnior: 1945. São Paulo: Brasiliense, 1998. p. 126.
51
4
Santos, Raimundo. Caio Prado Júnior na cultura Ibid., p. 282.
52
política brasileira. Rio de Janeiro: Mauad, 2001. Ibid., p. 283.
53
5
Martinez, Paulo. A dinâmica de um pensamento Prado Júnior, Caio. O Mundo do socialismo (3ª.
crítico: Caio Prado Jr. (1928-1935). Tese de Edição). São Paulo: Brasiliense, 1967, p. 19 (grifos
Doutorado em História, Universidade de São Paulo, meus).
54
São Paulo, 1998. Ibid., p. 22.
55
6
Ricupero, Bernardo. Caio Prado Júnior e a Ibid., p. 23.
56
nacionalização do marxismo no Brasil. São Paulo: Ibid., p. 25.
57
Editora 34, 2000. Ibid., p. 145.
58
7
Novaes, Fernando. “Caio Prado Jr. – Historiador”. Ibid., p. 146.
59
In Revista Novos Estudos CEBRAP, Vol. 02, n° 02, Ibid., p. 148.
São Paulo, julho de 1983, pp. 66-70.
8
Prado Júnior, Caio. Evolução política do Brasil
(15ª. Edição). São Paulo: Editora Brasiliense, 1987,
p. 18.
9
Ibid. p. 19 (nota 08)
10
Ibid., p. 23
11
Ibid., p. 28
12
Ibid., p. 30
13
Ibid., p. 29
14
Ibid., p. 30
15
Ibid., p. 33
16
Ibid., p. 36
17
Ibid., p. 38.
18
Ibid., p. 36
19
Ibid., p. 42.
20
Ibid., p. 43.
21
Ibid., p. 48.
22
Ibid., p. 46.
23
Ibid., p. 54.
24
Ibid., p. 60.
25
Ibid., p. 61.
26
Ibid., p. 77.
27
Ibid., p. 77.
28
Prado Júnior, Caio. Formação do Brasil
Contemporâneo (1ª. Edição). São Paulo: Livraria
Martins Editora, 1942, p. 13.
29
Ibid., p. 26.
30
Ibid., p. 30
31
Ibid., p. 60.
32
Ibid., p. 103.
33
Ibid., p. 104.

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