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Medicina integrativa é uma abordagem orientada para um sentido mais amplo de cura, que visa tratar a pessoa em seu todo: corpo,
mente e espírito. Enfatiza as relações entre o paciente e o médico, e combina tratamentos convencionais e terapias complementares
cuja segurança e eficácia tenham sido cientificamente provadas. Esta seção visa informar e atualizar o leitor nessa abordagem.
Marcelo Saad
Paulo de Tarso Lima
Editores da seção
dicos com opção por práticas alternativas e complemen- Quadro 1. Desafios da medicina complementar
tares e médicos com opção por práticas biomédicas. Política nacional e quadro dos trabalhos no legislativo
- falta de reconhecimento oficial das práticas e dos provedores
- não estão integradas aos sistemas nacionais de saúde
- falta de mecanismos legislativos e legais
Medicina complementar - distribuição equitativa dos benefícios do conhecimento e dos produtos da MC
O conceito de complementaridade foi desenvolvido na - inadequada distribuição dos recursos para o desenvolvimento e capacitação da MC
física, quando se identificou a possibilidade simultânea Segurança, eficácia e qualidade
de as partículas subatômicas serem matéria e energia. - falta de metodologia de investigação
Essa dimensão inclusiva serviu às necessidades do con- - inadequadas bases de evidências para as terapias e produtos de MC
- falta de pautas internacionais e nacionais de segurança, eficácia e controle de
texto social de globalização, dos anos de 1980, quando o qualidade das terapias e produtos da MC
mundo se deu conta da rápida troca de bens materiais, - falta de normas e registros adequados dos provedores de MC
serviços e crenças de diferentes sociedades entre si. - apoio inadequado para a investigação
cessidades das pessoas em tratamento como evidências o conjunto dos elementos centrais da cultura ociden-
fundamentais do processo de tomada de decisão. tal que informam as dimensões econômicas, políticas e
Várias ações têm sido realizadas na direção da cons- simbólicas do campo da saúde. Por isso, consideramos
trução da medicina integrativa no âmbito dos serviços, fundamental o resgate histórico, desde a medicina al-
pesquisas e ensino. Para ilustrar, apresentamos o Consor- ternativa até a medicina integrativa, para que se com-
tium of Academic Health Centers for Integrative Medicine preenda que a introdução de novas práticas de cuida-
(CAHCIM)(9), formado atualmente por 44 destacadas do e cura entre diferentes profissionais e tratamentos
instituições norte-americanas (40) e canadenses (4). é não apenas possível, como por muitos desejada.
A missão do Consortium é fazer avançar os prin- Nosso propósito, com este texto, foi apresentar al-
cípios e práticas do paradigma integrativo nas insti- guns elementos do processo histórico da introdução de
tuições acadêmicas de ensino, pesquisa e serviço, e práticas não-convencionais no campo da saúde nas últi-
desde a sua criação em 1999 até o momento, tem pro- mas décadas. Além disso, destacamos que existem, nes-
duzido muita informação e obtido a adesão de novas se período, elementos suficientes para abrir o debate,
instituições e patrocinadores. Uma de suas propos- pois o que se observa atualmente é um grande interesse
tas fundamentais é garantir suporte social e cultu- de diferentes categorias profissionais e pacientes em co-
ral, dividindo informações, ideias, desafios, valores nhecer mais e adotar essas práticas. Por isso, estamos
e representatividade às instituições que querem de- frente a um enorme desafio!
senvolver a medicina integrativa, ou seja, referências
fundamentais para que a missão de cuidar “integrati-
vamente” expanda-se e influencie mudanças necessá- REFERÊNCIAS
rias no cuidado em saúde. 1. Santos BS. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das
Assim, seus membros compreendem que a medi- emergências. Rev Crít Cien Soc. 2002;63:237-80.
cina integrativa pode ser definida como “a prática da 2. Barros NF. Medicina complementar - uma reflexão sobre o outro lado da
prática médica. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2000.
medicina que reafirma a importância da relação entre
3. Barros NF. A construção da medicina integrativa: um desafio para o campo da
paciente e profissional de saúde, com foco na pessoa e
saúde. São Paulo: HUCITEC, 2008.
na sua integralidade, sendo informada por evidências
4. National Center for Complementary and Alternative Medicine- NCCAM. What
científicas e utilizando todas as abordagens terapêuti- is CAM? [Internet]. Bethsda (MD): National Center for Complementary and
cas, profissionais de saúde e disciplinas, para obter as Alternative Medicine; 2009 [cited 2009 Jan 23]. Available from: http://nccam.
mais apropriadas condições de cuidado e cura”*. nih.gov/health/whatiscam/
Em outras palavras, adotar a medicina integrativa 5. World Health Organization. Traditional Medicine Strategy 2002-2005. Ginebra;
tem o efeito, para os profissionais, de trabalhar com base WHO, 2002.
em conhecimento que privilegia a qualidade de vida 6. Kuhn, T. A estrutura das revoluções cientificas. Tradução: Beatriz Vianna
Boeira e Nelson Boeira. São Paulo: Perspectiva, 1987.
dos pacientes, a partir das evidências que comprovam
7. Otani MAP, Barros NF. A medicina integrativa e a construção de um novo
o efeito do gerenciamento do estresse e do equilíbrio
modelo na saúde. Rev Cienc Saúde Coletiva [Internet]. 2008 [citado 2010
sobre os tratamentos e a cura de diferentes problemas, Fev 16]. Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/
permitindo, inclusive, ações de prevenção de doenças e artigo_int.php?id_artigo=2192
promoção de saúde. 8. Lima PT. Medicina integrativa: a cura pelo equilíbrio. São Paulo: MG Editores.
2009.
9. Kligler B, Benn R, Alexander G, editors. Curriculum in integrative medicine:
Considerações finais a guide for medical educators. [Internet]. [S.I.]: Consortium of Academic
Health Centers for Integrative Medicine (CAHCIM); 2004. [cited 2009 Jan.
Do nosso ponto de vista, a ciência e o conhecimento 30]. Available from: http://www.imconsortium.org/img/assets/20825/
são socialmente construídos, de forma que compõem CURRICULUM_final.pdf