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Aluno: Rafael Sales

Ra: 11201811586

PIZA, Suze de Oliveira; PANSARELLI, Daniel. Sobre a descolonização do


conhecimento – a invenção de outras epistemologias. Estudos de Religião,
v. 26, n. 43, 2012.

A leitura se inicia com o texto retratando de como os desafios e


questionamentos da contemporaneidade não conseguem ser mais explicados por
formas de conhecimentos consagradas como o iluminismo, e utiliza como exemplo o
texto “A tradição e a época moderna”, por Hannah Arendt, que defendia que Marx,
Nietzsche e Kierkegaard já diziam que era necessário superar modelos que
caracterizada a “tradição”, período esse que vai ate o final da modernidade. “Em
todos estes casos, a constatação-chave aponta para os limites dos modelos
modernos em sua eficiência no trato com problemas históricos, concretos, impostos
pela diversidade de perspectivas e expectativas constitutivas do mundo
contemporâneo.

O autor afirma que a democracia já chegou ao campo da epistemologia,


fazendo assim que existisse espaço para o diverso, e tudo que é considerado certo
na modernidade, a saber, a existência de uma forma por excelência de conhecer, de
uma fonte incontestável de saberes já não se sustenta.

O texto trás o autor Enrique Dussel, e sua obra que propunha uma espécie de
“hermenêutica da história” para apresentar uma hipótese interpretativa da
modernidade que ajuda a compreender sua vinculação com o colonialismo, o
primeiro aspecto da hermenêutica dusseliana abordado no texto é o histórico, o
questionar o que é tomado como consenso, desconfiar da validade daquilo que não
gera dúvida, Dussel traz a questão histórica de como a Grécia antiga é tratada nos
textos como o referencial da nossa sociedade, de que a Grécia de fato é o berço das
civilizações, enquanto o norte da África apesar também de ser tomada como berço
das civilizações, é em geral muito mais abordada como anedóticas, caricatas ou até
mesmo de forma infantil. O segundo aspecto apresentado por Dussel é o do
paradigma que ele chama de “mundial”, e que devemos voltar na história para
entender, o autor indica quatro estágios no desenvolvimento inter-regional dos povos
situados no conjunto formado por África, Ásia e Europa. O primeiro ele chama de
“egípcio-mesopotâmico” passando por um segundo estagio de desenvolvimento
chamado de “asiático-afro-mediterrâneo”, onde teve a Grécia e depois Roma
ocupando grande destaque nas relações ao sistema que participavam, constituindo
uma grande falácia a destacada atenção que foi dada a esse subperíodo, greco-
romano, descontextualizando do conjunto histórico que pertencem. O terceiro
estagio foi a idade média, período esse que a Europa figurava como mera periferia,
sendo assim, se lançaram ao mares em busca do centro produtivo ou comercial para
conseguirem produtos que não tinham tal competência de produzir, fazendo uma
alusão ao moradores de periferia de hoje em dia que tem de ir ao centro para
conseguir aquilo que necessita, a passagem entre o terceiro e quarto estagio,
segundo o paradigma mundial proposto, a colonização da América pelos europeus
foi a forma que eles encontraram de utilizarem as riquezas subtraídas em relação
aos outros povos pertencentes do sistema inter-regional a que pertenciam, dando a
Europa uma superioridade que não existia no fim do século XV, e esse é o inicio da
modernidade, caracterizada por ser “um fenômeno que vai se mundializando” (ibid.,
p. 52), permitindo assim que um sistema inter-regional se tornasse um sistema
único, verdadeiro, sem deixar espaço para o “outro”.

Sendo assim o movimento de mundialização da europeidade está instalado


no mundo e vai ganhando cada vez mais força, Dussel traz o conceito de “primeira
modernidade”, a modernidade humanista e renascentista, se trata do período de
colonização da Europa sob a América, era preciso extrair as riquezas das colônias
para que a Europa-periferia virasse a Europa-centro de seu próprio sistema inter-
regional. “Em certo sentido, podemos conceber que há significativa diferença entre
adquirir poder e adquirir consciência e controle sobre o próprio poder. A passagem
de um para outro destes estados é a da primeira para a segunda
modernidade.”(pg.5), assim é introduzida a segunda modernidade, onde a Europa
traz uma superioridade política, econômica, bélica, epistemológica, reduzindo toda
forma válida de produção do conhecimento à forma vigente na Europa, controlando
assim o mundo, a partir de então a Europa se torna por força político-bélica,
epistemologia única.

Entrando no campo da epistemologia moderna, presente no texto, podemos


dizer que ela eliminou de suas reflexões o contexto cultural e político da produção de
conhecimento, essa não atenção se transformou em cegueira da próprio
conhecimento, estamos subordinados a uma epistemologia dominante, a dominação
colonial é também uma dominação epistemológica que inferioriza os dominados, e
com essas considerações que se inicia a obra “Epistemologias do sul” de
Boaventura de Sousa Santos.

O domínio epistemológico nega o caráter racional de todas as outras formas


de conhecimento que não se fundamentaram nos princípios epistemológicos e
regras metodológicas da epistemologia dominante, isso nos leva a pensar que todos
os processos de descolonização que obtivemos historicamente, uma forma de
libertação das colônias, hoje, devem continuar, porem em forma de libertação
epistêmica, abrindo espaço para outras concepções, a descolonização colocaria um
final ao processo histórico de implantação do poder.

O texto introduz Mignolo e os conceitos de colonialidade do poder e saber,


introduzidas com o objetivo de dar visibilidade a diferentes aspectos epistêmicos
coloniais, como a relação sujeito e objeto (que é julgado pelo sujeito), logo, a crença
na superioridade da ciência e do saber ocidental e no questionamento da existência
de uma racionalidade que não seja europeia. Essas categorias nos mostram que
não existe modernidade sem colonialidade, a colonialidade com o tempo, avança
para a modernidade, substituindo de forma gradual todo repertorio epistêmico, por
uma nova visão de mundo, que aparece como única realidade existente.

O conhecimento na modernidade foi construído com base nessa relação


sujeito e objeto, e a questão que deve ser colocada em torno dessa relação é, quem,
ou oque, ocupa a posição do objeto e quais as implicações éticas desse
posicionamento? A Europa se coloca na posição de sujeito, pois se assume como
fundadora e possuidora da modernidade.
“Que encadeamento de circunstâncias conduziu a que, precisamente no solo do
Ocidente e só aqui, se produzissem fenômenos culturais que – pelo menos entre
nós costumamos representá-los para nós – estavam numa direção evolutiva de
significação e validade universais? (WEBER apud DUSSEL, 2000, p. 48).

Diante de tal pensamento temos, portanto, a modernidade como fenômeno


europeu, já que a noção de ocidente é restrita a determinados povos, tendo como
prova então o discurso de superioridade que se entende a outros povos. Existe
então um pensamento epistêmico eurocentrado que dita as regras para todo mundo,
pensamento esse ligado a Europa e EUA, fazendo que afete nossa forma de pensar,
limitando-a. Então o texto nos mostra que ao longo dos últimos séculos, a imposição
foi tão extensa, intensa e despercebida, que a servidão que nos paria agora, existe
de forma voluntária, como se nós quiséssemos isso.

Boaventura nos ajuda a compreender essa questão quando afirma em uma


de suas obras, que o pensamento ocidental é um pensamento abissal, um
pensamento em que a realidade é dividida em duas, são dois universos, onde o
universo do outro lado da linha não existira em todos seus sentidos. “O outro
universo não será, pois é característica fundamental do pensamento abissal a
“impossibilidade da copresença dos dois lados da linha”(2010, p. 32).

Existe uma diferença invisível entre sociedades metropolitanas e territórios


coloniais, que sustenta as práticas e visões de mundo, o pensamento moderno é
capaz de produzir e sustentar essas diferenças. “O que é invisível é base do visível
do nosso lado de cá da linha.”(pg.9). Passa então a existir outra positividade em
vigência, expressa num saber que possibilita o aparecimento da história natural,
análise das riquezas e das enciclopédias e a base é uma gramática geral. A vida e a
produção se tornam objetificaveis no plano do conhecimento científico.

O texto ainda afirma que a ciência e seus pressupostos invisíveis que irão
definir ou que é ou não. E podemos pensar que ainda no século XXI, é difícil
compreender como a ciência, na relação com outros conhecimentos, requer para si
a superioridade dentre as formas de conhecer, como a filosofia e a teologia. E o
texto conclui que a humanidade moderna não se concebe sem uma “sub-
humanidade” moderna, para a primeira se afirmar a segunda se sacrifica, “Isso
significa, em resumo, que a não existência refere-se ao estatuto de sujeitos, mas
isso não impede que a epistemológica e, ontologicamente, esses conhecimentos, ou
povos, possam assumir a posição de objeto.”(pg.10)

Boaventura conclui que as colônias ainda representam um modelo excluído


que age na forma de pensar dos mesmos, e é preciso criar outro pensamento,
postulado da resistência política de implantação de outras formas de vida, que seja
um pensamento que fuja das formas ocidentais, uma epistemologia do sul, não
imperial. Uma epistemologia do sul que mostre necessário que o mundo é mais do
que o mundo ocidental, e tem como objetivo descolonizar o conhecimento,
“desobjetificar” o ser, a criação de uma gramática que confronte a modernidade.

Decorrente da leitura realizada, foi mais fácil entender todo processo de


ocidentalização e como a colonização está alinhada a modernidade, e posso
concluir que a descolonização do conhecimento é necessária, esse texto tem muito
do pensamento de outra leitura que foi feita, sobre os currículos eurocentrado, e
podemos ver que a conclusão nos dois textos se mostra parecida, onde devemos
implementar de alguma forma outras epistemologias, e tornar toda forma de
conhecimento valida, não só as que de fundamentam em pensamentos ocidentais.

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