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ACÓRDÃO #163 Destacado
ACÓRDÃO #163 Destacado
2. Desta sentença recorreram de agravo A. e outro (fls. 122), tendo nas alegações
respectivas (fls. 127 e seguintes) concluído, para o que agora releva, do seguinte modo:
“Primeira conclusão
Nos termos do art. 8° do DL 69/90, o recurso ao estabelecimento de normas
provisórias apenas era possível em relação a procedimentos de elaboração de
planos municipais de ordenamento destinados a regular o uso e ocupação do
solo em áreas por eles ainda não abrangidas, estando excluída a sua
admissibilidade em relação a procedimentos de revisão.
Segunda conclusão
A norma do art. 8°/5 do DL 69/90, na medida em que permite que o regulamento
de um PDM, precedido de inquérito público, seja alterado automaticamente por
um regulamento de normas provisórias cujo procedimento não integra qualquer
momento de participação dos interessados, é inconstitucional, por violação do
art. 65°/5 da Constituição da República Portuguesa, que garante «a participação
dos interessados na elaboração dos instrumentos de planeamento urbanístico
e de quaisquer outros instrumentos de planeamento físico do território».
[…].”.
“[…]
2.2.2. Quanto à matéria da conclusão 1ª
[…] independentemente do mais, todo o esforço argumentativo desenvolvido
pelos recorrentes em abono da interpretação do preceito em causa [artigo 8º do
Decreto-Lei n.º 69/90, de 2 de Março] como apenas aplicável à elaboração dos
planos fica sem qualquer suporte justificativo em face do que, muito claramente,
se estatui no art.º 19º, n.º 4 do mesmo diploma legal: «A revisão dos planos
municipais obedece ao processo e requisitos estabelecidos no presente diploma,
nomeadamente quanto à sua elaboração, aprovação, ratificação, registo e
publicação».
O legislador usou, no diploma em causa, um expediente técnico-legislativo
bastante frequente para evitar a repetição de normas, ou seja, uma norma de
remissão, mandando aplicar ao procedimento de revisão o regime jurídico
disciplinador do processo de elaboração de planos, sem exceptuar, como se vê,
o regime das normas provisórias; o que significa, conforme ensina Baptista
Machado […] que foi o próprio legislador que se deu conta da existência de
analogia entre as situações a regular.
Compreende-se, assim, melhor que o n.º 5 do aludido art.º 8º se reporte
à alteração automática, durante a sua vigência, das disposições de qualquer
plano municipal, na parte abrangida por essas normas, e que o n.º 6, ao
prescrever a necessidade de ratificação das normas provisórias, faça expressa
alusão às situações em que as mesmas se relacionam com a elaboração de
planos municipais que careçam de ratificação ou alterem disposições de plano
municipal ratificado.
A disjuntiva é claramente estabelecida entre as duas situações – elaboração ou
alteração –, o que sempre retiraria qualquer hipótese de êxito à tentativa dos
Recorrentes de destruir a argumentação usada na sentença a este propósito,
alvitrando que os citados n.ºs 5 e 6 se refeririam a outros planos municipais que
não àquele que estivesse em elaboração.
Improcede, assim, a conclusão 1ª das alegações.
2.2.3 - Quanto à matéria da conclusão 2ª
Alegam os recorrentes que a norma do art.º 8º, n.º 5 do D. Lei 69/90, na medida
em que permite que o regulamento de um P.D.M., precedido de inquérito
público, seja alterado automaticamente por um regulamento de normas
provisórias, cujo procedimento não integra qualquer momento de participação
dos interessados, é inconstitucional, por violação do art.º 65º/5 da Constituição
da República Portuguesa, que garante «a participação dos interessados na
elaboração dos instrumentos de planeamento físico do território».
Sem razão, contudo.
Efectivamente a circunstância de não estar legalmente prevista no processo de
elaboração das normas provisórias a participação dos interessados,
nomeadamente através de inquérito público, é justificada pela natureza urgente
da adopção das referidas medidas, as quais visam neutralizar os perigos e
inconvenientes para o interesse público da demora na aprovação final dos
planos.
Ora, tendo em conta que, em sede de controlo da constitucionalidade, não cabe
aos tribunais emitir propriamente um juízo «positivo» sobre a solução legal,
mas tão só um juízo «negativo» que afaste aquelas soluções de todo o modo
insusceptíveis de credenciação racional, dir-se-á que a opção legal em causa não
merece a censura inerente ao aludido juízo negativo, atenta, nomeadamente, a
justificação acima referida.
[…].”.
4. Deste acórdão recorreu A. para o Tribunal Constitucional, ao abrigo da alínea
b) do n.º 1 do artigo 70º da Lei do Tribunal Constitucional, pretendendo a apreciação
da inconstitucionalidade da norma do artigo 8º, n.º 5, do Decreto-Lei n.º 69/90, de 2 de
Março, “interpretada no sentido de as disposições dos Regulamentos de Normas
Provisórias não precedidos de inquérito público prevalecerem sobre as disposições de
Regulamentos de outros instrumentos de planeamento urbanístico aprovados na
sequência de um procedimento que integra esse mecanismo de audição dos interesses
dos particulares”, por violação do princípio consagrado no artigo 65º, n.º 5, da
Constituição (fls. 218 e seguinte).
“Primeira
O tribunal recorrido interpretou a norma do art. 8º/5 do Decreto-Lei 69/90, de 2
de Marco, no sentido de as disposições dos Regulamentos de Normas
Provisórias não precedidos de inquérito público, destinado a assegurar a
participação dos interessados, prevalecerem, alterando-as automaticamente,
sobre as disposições de Regulamentos de outros instrumentos de planeamento
urbanístico aprovados na sequência de um procedimento integrador dessa fase
de audição dos interesses dos particulares.
Segunda
Interpretação essa que levou o tribunal recorrido a sustentar a admissibilidade
legal da utilização do mecanismo das normas provisórias nos procedimentos de
revisão de planos directores municipais em vigor.
Terceira
Porém, interpretada assim, tomada com esse significado normativo, a norma do
art. 8º/5 do D.L. 69/90, de 2 de Março, viola frontalmente o preceito do art.
65º/5 da CRP, segundo o qual «garantida a participação dos interessados na
elaboração dos instrumentos de planeamento urbanístico e de quaisquer outros
instrumentos de planeamento físico do território», pelo que deve julgada
inconstitucional.
[…].”.
A Assembleia Municipal do Porto contra-alegou (fls. 240 e seguintes),
concluindo do seguinte modo:
“Artigo 8º
Normas provisórias
1 – A assembleia municipal, mediante proposta da câmara municipal e com
parecer da comissão técnica ou da comissão de coordenação regional, consoante
os casos, pode estabelecer normas provisórias para a ocupação, uso e
transformação do solo em toda ou em parte das áreas a abranger por planos
municipais em elaboração, quando o estado dos trabalhos seja de modo a
possibilitar a sua adequada fundamentação.
2 – O parecer referido no número anterior é emitido no prazo de 60 dias a contar
da recepção do respectivo pedido, interpretando-se a sua não emissão como
nada havendo a opor.
3 – A assembleia municipal, ao estabelecer as normas provisórias, fixa também
o prazo da sua vigência, que não pode exceder dois anos.
4 – Sem prejuízo do disposto no número anterior, as normas provisórias
caducam com a entrada em vigor dos planos a que respeitam, bem como com a
entrada em vigor de qualquer outro plano na área que tal plano com elas tenha
em comum.
5 – Com a entrada em vigor das normas provisórias caducam as medidas
preventivas, se as houver, e ficam automaticamente alteradas, durante a sua
vigência, as disposições de qualquer plano municipal, na parte abrangida por
essas normas.
6 – As normas provisórias, quando estejam relacionadas com a elaboração de
planos municipais que careçam de ratificação ou alterem disposições de plano
municipal ratificado, estão sujeitas a ratificação nos termos do artigo 16º.
7 – Aplica-se às normas provisórias o disposto nos artigos 17º e 18º, sobre
registo e publicação, com as necessárias adaptações.”.
Por outro lado, não pode deixar de se ter em consideração que as normas
provisórias, tal como se encontram reguladas no preceito em análise, têm um prazo de
vigência limitado, que não pode exceder dois anos (n.º 3), e que essas normas
provisórias caducam com a entrada em vigor dos planos a que respeitam (n.º 4).
Tal significa que a adopção das normas provisórias se inscreve num processo
de elaboração de um determinado instrumento de planeamento territorial e se encontra
por isso vinculada a um certo fim – a elaboração desse instrumento de planeamento
territorial. Ora, no âmbito do procedimento mais amplo de elaboração de um
instrumento de planeamento, encontra-se assegurado, no sistema do revogado Decreto-
Lei n.º 69/90, o direito de participação dos cidadãos (vejam-se os artigos 14º, 15º e 19º).
III
11. Nestes termos, e pelos fundamentos expostos, o Tribunal Constitucional
decide negar provimento ao presente recurso, confirmando a decisão recorrida no que
se refere à questão de constitucionalidade.