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Resumo: Neste artigo é proposta a apresentação de uma demonstração completa do Teorema do Núcleo e da
Imagem, assim como de seus corolários. Nesse contexto, apesar da relevância de tal lei matemática, há uma
deficiência dos discentes no tocante a esse tema, sendo, para muitos, complexa a tarefa de assimilar os conceitos
abstratos existentes na Álgebra Linear. Dessa maneira, a realização de estudos relacionados à compreensão dos
saberes e competências referentes ao entendimento de teoremas e suas demonstrações contribui para suprir essa
limitação. Assim, expõe-se, através de uma sequência lógica e de forma clara, argumentos que comprovem tais
afirmações matemáticas, contribuindo, consequentemente, para a percepção de definições dessa área do
conhecimento. Por fim, aplicações relacionadas aos conceitos de dimensão infinita são exibidas e discutidas.
1. INTRODUÇÃO
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2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Definições
2.1.2. Núcleo
Seja 𝑇: 𝑉 → 𝑊 uma transformação linear, conceitua-se núcleo dessa transformação o conjunto de todos os
vetores que são transformados no vetor nulo, isto é,
2.1.3. Imagem
Seja 𝑇: 𝑉 → 𝑊 uma transformação linear, conceitua-se imagem dessa transformação o conjunto de todos os
vetores 𝑤 ∈ 𝑊 que são imagens de pelo menos um vetor 𝑣 ∈ 𝑉, isto é,
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Dada uma transformação 𝑇: 𝑉 → 𝑊, diz que 𝑇 é injetora se as imagens de vetores diferentes são distintas, ou
seja, sejam 𝑢 ∈ 𝑉, 𝑣 ∈ 𝑉 com 𝑇(𝑢) = 𝑇(𝑣), tem-se 𝑢 = 𝑣, como mostra a Figura 3, a seguir.
Dada uma transformação 𝑇: 𝑉 → 𝑊, diz que 𝑇 é sobrejetora se a imagem da aplicação coincidir com o
contradomínio da função, isto é, 𝐼𝑚(𝑇) = 𝑊, conforme mostrado na Figura 4, a seguir.
Dada uma transformação 𝑇: 𝑉 → 𝑊, diz que 𝑇 é bijetora se for, simultaneamente, injetora e sobrejetora, como
mostra a Figura 5, a seguir.
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Sejam 𝑉 e 𝑊 espaços vetoriais com dimensão finita. Caso exista uma aplicação linear tal que 𝑇: 𝑉 → 𝑊, então
Com o objetivo de demonstrar o Teorema do Núcleo e da Imagem, verifica-se que, sejam 𝑉 e 𝑊 espaços
vetoriais com dimensão finita e 𝑇: 𝑉 → 𝑊 uma transformação linear, se {𝑣1 , … , 𝑣𝑛 } é um conjunto gerador de 𝑉,
então {𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑛 )} é um conjunto gerador de 𝐼𝑚(𝑇).
De fato, se 𝑇(𝑣) ∈ 𝐼𝑚(𝑇), existe 𝑣 ∈ 𝑉 e, consequentemente, 𝑣 pode ser escrito como combinação linear dos
elementos geradores de V, conforme pode ser visto na Equação 6.
𝑣 = 𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑛 𝑣𝑛 (6)
Desse modo, pode-se que notar que 𝑇(𝑣) é igual à combinação linear dos componentes do conjunto
{𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑛 )} isto é, tal conjunto é um conjunto gerador de 𝐼𝑚(𝑇).
∎
Em posse das definições e do teorema acima, pode-se mostrar a prova do Teorema do Núcleo e da Imagem.
Considera-se três situações: 𝑁(𝑇) = {0}, 𝑁(𝑇) = 𝑉 e 𝑁(𝑇) sendo um subespaço próprio de 𝑉, isto é, 𝑁(𝑇) ≠ {0}
e 𝑁(𝑇) ≠ 𝑉.
No primeiro caso, tem-se 𝑁(𝑇) = {0}, ou seja, dim 𝑁(𝑇) = 0. Logo, com o intuito de mostrar que a Equação
5 é válida, deve-se mostrar que dim 𝐼𝑚(𝑇) = dim 𝑉. Considerando que o conjunto {𝑣1 , … , 𝑣𝑛 } é uma base de 𝑉,
então o conjunto {𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑛 )} gera 𝐼𝑚(𝑇), conforme visto no início desse subtópico. Desse modo, basta
verificar que o conjunto {𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑛 )} é linearmente independente.
𝑇(𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑛 𝑣𝑛 ) = 0 (10)
Contudo, {𝑣1 , … , 𝑣𝑛 } é uma base de 𝑉, logo, esse conjunto é linearmente independente, então
𝑎1 = ⋯ = 𝑎𝑛 = 0 (12)
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Sabe-se que, como {𝑢1 , … , 𝑢𝑚 , 𝑣1 , … , 𝑣𝑘 } gera V, então {𝑇(𝑢1 ), … , 𝑇(𝑢𝑚 ), 𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑘 )} gera 𝐼𝑚(𝑇).
Como {𝑢1 , … , 𝑢𝑚 } ⊂ 𝑁(𝑇), então
Logo, {𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑘 )} gera 𝐼𝑚(𝑇). Por fim, verifica-se se tal conjunto é linearmente independente.
𝑇(𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑘 𝑣𝑘 ) = 0 (15)
Pela Equação 15 é possível afirmar que 𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑘 𝑣𝑘 ∈ 𝑁(𝑇). Assim, pode-se escrever esse vetor como
sendo combinação linear dos vetores da base de 𝑁(𝑇).
𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑘 𝑣𝑘 = 𝑏1 𝑢1 + ⋯ + 𝑏𝑚 𝑢𝑚 (16)
𝑏1 𝑢1 + ⋯ + 𝑏𝑚 𝑢𝑚 − 𝑎1 𝑣1 − ⋯ − 𝑎𝑘 𝑣𝑘 = 0 (17)
𝑎1 = ⋯ = 𝑎𝑘 = 𝑏1 = ⋯ = 𝑏𝑚 = 0 (18)
Portanto, verifica-se que a solução trivial é a única para a Equação 14 e que o conjunto
{𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑘 )} é uma base para 𝐼𝑚(𝑇). Dessa forma, é possível observar não só que dim 𝐼𝑚(𝑇) = 𝑘 mas
também que a Equação 5 é válida.
∎
Sejam 𝑉 e 𝑊 espaços vetoriais com a mesma dimensão, sendo uma transformação linear tal que 𝑇: 𝑉 → 𝑊,
então são equivalentes as assertivas:
1) T é sobrejetora;
2) T é injetora;
3) T é bijetora;
4) Caso {𝑣1 , … , 𝑣𝑛 } seja uma base de 𝑉, então {𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑛 )} é uma base de 𝑊, ou seja, 𝑇 transforma
uma base de 𝑉 em uma de 𝑊.
É importante notar que, caso se verifique uma afirmação, as outras também serão verdadeiras. Inicialmente,
tem-se como hipótese o primeiro item, o qual afirma que 𝑇 é sobrejetora. Deseja-se mostrar que 𝑇 é injetora. Sendo
𝑇 sobrejetora, 𝑊 = 𝐼𝑚(𝑇) e, consequentemente, dim 𝑊 = dim 𝐼𝑚(𝑇). Utilizando-se a Equação 5, é possível
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observar que dim 𝑁(𝑇) = 0, o que resulta em N(T) = {0}, ou seja, 𝑇 é injetora, confirmando segundo item.
Nesse cenário, como 𝑇 é sobrejetora e injetora, 𝑇 é, consequentemente, bijetora. Logo, o terceiro item é
comprovado.
Dado o conjunto {𝑣1 , … , 𝑣𝑛 } uma base de 𝑉, deseja-se mostrar que {𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑛 )} é uma base de 𝑊. Como
dim 𝑉 = dim 𝑊 e as bases tem o mesmo número de elementos, resta somente observar que {𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑛 )} é
linearmente independente. Tem-se
𝑇(𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑛 𝑣𝑛 ) = 0 (20)
𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑛 𝑣𝑛 = 0 (21)
Todavia, como o conjunto {𝑣1 , … , 𝑣𝑛 } é uma base de 𝑉, consequentemente, é linearmente independente. Desse
modo,
𝑎1 = ⋯ = 𝑎𝑛 = 0 (22)
Portanto, {𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑛 )} é uma base para 𝑊, mostrando que o quarto item é válido. Por fim, deseja-se
mostrar que, se 𝑇 transforma uma base de 𝑉 em uma de 𝑊, 𝑇 é sobrejetora, fechando-se o ciclo. Por hipótese, se
{𝑣1 , … , 𝑣𝑛 } é uma base de 𝑉, então, {𝑇(𝑣1 ), … , 𝑇(𝑣𝑛 )} é uma base para 𝑊. Dessa forma, dado 𝑤 ∈ 𝑊, pode-se
escrever o vetor 𝑤 como combinação dos elementos da base. Assim,
𝑤 = 𝑇(𝑏1 𝑣1 + ⋯ + 𝑏𝑛 𝑣𝑛 ) (24)
Uma vez que {𝑣1 , … , 𝑣𝑛 } é uma base de 𝑉, então, se 𝑣 ∈ 𝑉, esse elemento pode ser escrito como
𝑣 = 𝑏1 𝑣1 + ⋯ + 𝑏𝑛 𝑣𝑛 (25)
Uma outra consequência direta do teorema é o fato de que, se a transformação é sobrejetora, então
dim 𝑉 ≥ dim 𝑊. De fato, sendo sobrejetora, então 𝐼𝑚(𝑇) = 𝑊, ou seja, dim 𝐼𝑚(𝑇) = dim 𝑊. Observando a
Equação 5 é simples verificar que dim 𝑉 ≥ dim 𝐼𝑚(𝑇). Dessa forma, dim 𝑉 ≥ dim 𝑊.
∎
Sabe-se ainda que, se a transformação é injetora, então dim 𝑊 ≥ dim 𝑉. De fato, se injetora, 𝑁(𝑇) = {0}, ou
seja, dim 𝑁(𝑇) = 0. Observando a Equação 5, verifica-se que dim 𝐼𝑚(𝑇) = dim 𝑉. Contudo, dim 𝑊 ≥
dim 𝐼𝑚(𝑇), uma vez que 𝐼𝑚(𝑇) ⊂ 𝑊, assim, dim 𝑊 ≥ dim 𝑉.
∎
Um corpo real ℝ é um espaço vetorial de dimensão infinita sobre o corpo ℚ dos racionais. Uma das maneiras
para compreender tal fato é observar o conceito de número algébrico e número transcendente. Um número real é
algébrico quando é raiz de um polinômio com coeficientes inteiros. Já um número transcendente é aquele que não
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é algébrico, isto é, não é raiz de polinômio algum com coeficientes inteiros. Nesse contexto, o número 𝜋 é
transcendente, ou seja, não é raiz de nenhum polinômio não-nulo sobre ℚ [5].
Com o intuito de mostrar que ℝ é de dimensão infinita sobre ℚ, afirmamos que o conjunto {1, 𝜋, 𝜋 2 , … , 𝜋 𝑛 } é
linearmente independente, para todo 𝑛 ∈ ℕ. De fato, supondo por absurdo que tal conjunto é linearmente
dependente, tem-se escalares 𝑎0 , 𝑎1 , … , 𝑎𝑛 ∈ ℚ não todos nulos tal que
𝑎0 ∙ 1 + 𝑎1 ∙ 𝜋 + ⋯ + 𝑎𝑛 ∙ 𝜋 𝑛 = 0 (26)
2.4.2. Núcleo de uma aplicação linear com domínio de dimensão infinita e contradomínio de dimensão finita
Logo,
𝑣 − (𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑛 𝑣𝑛 ) = 𝑏1 𝑢1 + ⋯ + 𝑏𝑚 𝑢𝑚 (29)
𝑣 = 𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑛 𝑣𝑛 + 𝑏1 𝑢1 + ⋯ + 𝑏𝑚 𝑢𝑚 (30)
𝑎1 𝑣1 + ⋯ + 𝑎𝑛 𝑣𝑛 + 𝑏1 𝑢1 + ⋯ + 𝑏𝑚 𝑢𝑚 = 0 (31)
𝑎1 = ⋯ = 𝑎𝑛 = 0 (33)
𝑏1 = ⋯ = 𝑏𝑛 = 0 (34)
Portanto, se a imagem e o núcleo da transformação possuem dimensão finita, então o domínio também possui
dimensão finita, conforme já visto no Teorema do Núcleo e da Imagem. Dessa forma, como 𝑉 é um espaço de
dimensão infinita e 𝐼𝑚(𝑇) possui dimensão finita, logo, o núcleo não pode possuir dimensão finita.
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3. CONCLUSÕES
Através do seguinte trabalho foi possível expor uma demonstração completa, utilizando-se de conceitos
elementares, do Teorema do Núcleo e da Imagem. Tal lei matemática se configura como uma das mais
fundamentais para a Álgebra Linear, a qual relaciona às dimensões do núcleo e da imagem de uma transformação
linear com a do seu domínio.
Ademais, os corolários também foram mostrados e possuíram as suas respectivas provas exibidas. Além disso,
aplicações no tocante ao conceito de dimensão infinita foram discutidas e tiveram suas argumentações
correspondentes explanadas.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] FERNANDES, Luana Fonseca Duarte. Álgebra Linear. 2 ed. rev. e atual. Curitiba: InterSaberes, 2017. 202
p.
[2] ALMOULOUD, Saddo Ag. Prova e demonstração em Matemática: problemática de seus processos de
ensino e aprendizagem. In: 30º Encontro Anual da ANPED, 2007, Caxumbu. 30º Reunião Anual da ANPED.
Timbauda-PE: Espaço Livre, 2007. 18 p. Disponível em: <http://30reuniao.anped.org.br/trabalhos/GT19-2957--
Int.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2018.
[3] FARIAS, Juliano Espezim Soares. Demonstrações no Ensino Fundamental e Médio. 2002. 65 f. TCC
(Graduação) - Curso de Licenciatura em Matemática, Departamento de Matemática, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2002. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/97063/Juliano%20Espezim%20Soares%20Faria0.PDF?
sequence=1>. Acesso em: 30 dez. 2018.
[4] CARIELLO, D.; OLIVEIRA, A. C. Aplicações do Teorema do Núcleo e Imagem. In: CONGRESSO
NACIONAL DE MATEMÁTICA APLICADA E COMPUTACIONAL, 34., 2012, Águas de Lindóia. Anais...
Águas de Lindóia: UFU, 2012. Disponível em:
<http://www.sbmac.org.br/eventos/cnmac/xxxiv_cnmac/pdf/121.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2018.
[5] OLIVEIRA, João Milton de. A irracionalidade e Transcendência do Número π. 2013. 45 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional, Universidade Estadual Paulista,
Rio Claro, 2013. Disponível em:
<http://www.rc.unesp.br/igce/pos/profmat/arquivos/dissertacoes/A%20Irracionalidade%20e%20Transcend%C3
%AAncia%20do%20N%C3%BAmero%20Pi.pdf>. Acesso em: 03 jan. 2019.
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