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Thais de Bakker
Quilombo does not mean escaped slave, as the conventional definitions say. It
means fraternal and free reunion, or encounter; solidarity, living together,
existential communion. Quilombist society represents an advanced stage in
sociopolitical and human progress in terms of economic egalitarianism. Known
historical precedents confirm this position. As an economic system, Quilombismo
has meant the adaptation of African traditions of communitarinism and/or Ujamaa
to the Brazilian environment. In such a system, relations of production differ
basically from those that prevail in the capitalist economy, based on the
exploitation and social degradation of work, founded on the concept of profit at
any human cost, particularly the cost of the lives of enslaved Africans (do
Nascimento, p.161).
O Quilombo não se trata de um romântico mundo ideal, pelo contrário: é o fruto de uma
condição de precarização extrema e de adversidade constante, mas, ao mesmo tempo, por criar
modos de vida divergentes, é também a chave para um horizonte futuro de democracia radical
baseada no resgate daquilo que já existiu e na criatividade necessária para gerar novas formas de
lidar com o que se apresenta como dificuldade presente. Nesse sentido o Quilombismo articula-se,
também, com o movimento panafricanista que Muryatan Santana Barbosa descreve, este também
surgido a partir de um cenário de profunda opressão, visando um futuro de emancipação em relação
a essas condições. A partir do panafricanismo, não apenas surgiram vertentes teóricas que quebram
com o vazio do universalismo eurocêntrico, mas também emergiram movimentos culturais que
deram origem a núcleos de resgate de memória e de compartilhamento por meio de música, dança
e outras formas de arte. Desse modo, ambos o Quilombismo e o panafricanismo apresentam-se
como movimentos globais, porque atravessam a limitação das fronteiras estatais e nacionais para
pensar uma condição que é compartilhada através de espaços e tempos diferentes. Eles permitem
uma visualização do mundo não como um conjunto de unidades independentes (Estados-nação)
que conectam-se através de economia e instituições, mas sim como fluxos hegemônicos que
partem do Ocidente, incorporando muitos outros territórios e que acabam criando pequenos
núcleos de resistência interna a Estados-nação, bem como tentativas de emancipação em larga
escala.
Ngcoya, por outro lado, apresenta a filosofia Ubuntu como forma de atualizar e
democratizar o cosmpolitismo kantiano, comum na área das Relações Internacionais. A definição
de Ubuntu que ele mobiliza é a seguinte:
Segundo o autor, a filosofia Ubuntu pode ser útil para que a ideia do cosmopolitismo
também pare de se amparar em uma individualidade radical e em uma universalidade vazia que
apaga o peso do local e das raízes que este evoca. Assim, escreve que:
Enquanto a definição de Ubuntu que o autor fornece é muito parecida com os princípios
predominantes no Quilombismo de Nascimento, o movimento dialético de Ngcoya para com a
filosofia Ocidental me parece pretensamente menos radical do que o Quilombismo – Abdias do
Nascimento é explícito em afirmar a necessidade de saberes teóricos partindo exclusivamente dos
povos negros e indígenas para que o conhecimento humano possa dar conta da particularidade
dessas experiências, bem como afirma que atualizações do capitalismo neoliberal e de sua filosofia
jamais poderão de fato levar à emancipação de grupos subalternos, no máximo procrastinando esse
feito. Ambos esses movimentos, no entanto, parecem dialogar com vertentes diferenciadas do
panafricanismo, e todos compartilham de um mesmo diagnóstico: não é possível mais ignorar as
particularidades de uma série de experiências de opressão no fazer político global, porque esse ato
de invisibilização da base apenas serve ao fim de perpetuar formas históricas e profundas de
opressão e segregação.