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Os megaeventos, segundo o artigo A Economia dos Megaeventos: impactos setoriais e

regionais, são vistos como uma estratégia para o crescimento econômico e social,
pensamento sustentado por uma visão de que os investimentos em grandes projetos
urbanos produzirão efeitos de transbordamento em cadeia em favor do país.

É necessário, primeiramente, apontar que gastos de natureza pública tangem


investimentos em grandes projetos urbanos ligados a megaeventos como as
Olimpíadas e, desta maneira, surge a consequente implantação de uma política fiscal
expansionista para que o aumento dos gastos públicos seja possível. Esse cenário fora
adotado por vários Estados como estratégia de captação de investimentos produtivos a
fim de fugir das restrições impostas pela crise de 1970, afinal, a recuperação dos
espaços atrairia aplicações financeiras, gerando efeitos imediatos sobre o emprego e a
renda, além de fazer surgir, no longo prazo, novas atividades econômicas.

Para que esse cenário se complete, o administrador deve alterar a expectativa de quem
observa de fora, aplicando dinheiro em propagandas que atraiam investidores e que
sejam preferencialmente mundiais; por isso a escolha em hospedar grandes eventos
culturais, de negócios, esportivos, ou de qualquer âmbito referente à mesma ordem de
grandeza. Num resumo, o planejamento estratégico por meio dos investimentos em
infraestrutura pública revelaria o caminho para o crescimento econômico através da
exploração da cidade.

No Brasil, o contrário do esperado aconteceu. A situação de certa folga orçamentária


ocasionada pelo crescimento econômico de 2011 recebeu e repeliu a implantação de
grandes projetos urbanos em detrimento da hospedagem de megaeventos. Desta
forma, como o investimento em infraestrutura não veio em conjunto e muito menos como
consequência da acolhida dos megaeventos, não houve um crescimento ou um
desenvolvimento econômico do País. Na melhor das hipóteses, o ocorrido foi uma
sensação efêmera de bem-estar populacional e uma expectativa ascendente que logo
voltou a cair.

A novidade advinda da experiência internacional com os megaeventos foi a garantia da


exploração econômica dos megaeventos com a transformação deles em instrumentos
de negócios. A primeira mudança foi em 1980, quando o vigente presidente do COI
(Comitê Olímpico Internacional) promoveu a negociação sobre os direitos de
transmissão e a transformação dos símbolos das Olimpíadas em propriedade do COI.
Ainda que essa mudança tenha feito com que o Comitê realizasse grandes
arrecadações e não somente gastos com os Jogos Olímpicos, somente nos Jogos de
Atlanta, em 1996, houve resultado superavitário (receita com a venda de direitos de
transmissão > gastos com a realização dos Jogos).

O problema desse grande desequilíbrio se encontra nas pressões exercidas pela


comercialização das atividades esportivas sobre a demanda de infraestrutura e seu
reflexo nas contas públicas, o que expressa que a vendagem do esporte se torna um
essencial impulso às reformas estruturais do país que sedia um megaevento esportivo.
Dito isto, é possível considerar novamente que as reformas urbanas foram feitas para
que houvesse uma espetacularização dos locais a fim de torna-los ímãs de investidores,
não para que houvesse um real crescimento e desenvolvimento econômico.

As Olimpíadas de Barcelona, em 1992, só tiveram seus jogos realizados em razão da


conjuntura política e econômica favorável daquele momento, oriundas, principalmente,
da farta disponibilidade de recursos originados da entrada da Espanha na Comunidade
Europeia, do processo de redemocratização e da ampliação da autonomia financeira
das províncias espanholas. Devido a isto, o país alçou o título de ícone das
transformações urbanas e das estratégias de crescimento econômico por meio da
hospedagem de megaeventos, sobretudo por ter bem utilizado dos princípios do
planejamento estratégico.

Ainda que o esperado, especialmente pela população, que está desenvolvendo maior
consciência econômica, seja que a discussão sobre a viabilidade financeira e os custos
de manutenção dos equipamentos esportivos ocupe posição de importância quando se
trata de hospedagem de megaeventos, grande parte dos recursos desprendidos não
possui essa destinação, nem é dedicada ao provimento de infraestrutura urbana. Em
verdade, os gastos com população são um conjunto restrito classificado como
necessário somente na ocasião de megaeventos, como, por exemplo, as despesas com
segurança.

É inconsequente esperar que um evento de qualquer porte tenha o mesmo efeito em


um país central e em um país periférico, a considerar que as economias são
grandemente divergentes e uma tentativa de imitação pode causar efeitos indesejáveis
devido à magnitude dos riscos envolvidos.

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