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NÍVEIS, PROCESSOS E SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ESFGOTOS

1. NÍVEIS DO TRATAMENTO DOS ESGOTOS

a) Tratamento Preliminar: remoção de sólidos grosseiros, predominando mecanismos físicos de remoção de poluentes. O tratamento preliminar deve existir
em todas as ETEs, independente do nível de tratamento. Destina-se à remoção de sólidos grosseiros e areia. Além das unidades de remoção, deve-se incluir
uma unidade de medição de vazão (calha Parshall, vertedores, tubulações fechadas). As principais finalidades da remoção de sólidos grosseiros são
proteger os dispositivos de transporte de esgotos (bombas e tubulações), proteger unidades subsequentes e proteger corpos receptores. A remoção de
sólidos grosseiros é feita por grades, que retém matérias de dimensões maiores do que o espaçamento entre as barras, podendo a remoção do material
retido ser manual ou mecanizada. As finalidades da remoção de areia são evitar a abrasão de equipamentos e tubulações, eliminar ou reduzir a possibilidade
de obstrução em tubulações, tanques, orifícios e facilitar o transporte do líquido. A remoção de areia é feita por desarenadores, com mecanismos de
sedimentação, onde grãos de areia, que possuem maiores dimensões e densidade, vão para o fundo do tanque, enquanto a matéria orgânica (com
sedimentação mais lenta) fica em suspensão e segue para unidades a jusante. Em ETEs que tratam efluentes industriais, pode ser necessária a inclusão de
um tanque de equalização após o tratamento preliminar, que objetiva reduzir a variação da vazão ao longo do dia, facilitando a operação das unidades, de
forma a aproximar-se da vazão média diária. Deve-se impedir a sedimentação de sólidos nesse tanque para evitar decomposição anaeróbia (maus odores),
mantendo os sólidos dispersos por meio de misturadores.

b) Tratamento Primário: remoção de sólidos sedimentáveis e flutuantes, predominando mecanismos físicos de remoção de poluentes. Após o tratamento
preliminar, ainda há sólidos em suspensão não grosseiros, podendo ser parcialmente removidos em unidades de sedimentação. Uma parte significativa
destes sólidos em suspensão é matéria orgânica, ou seja, sua remoção implica na redução da carga de DBO dirigida ao tratamento secundário. Os tanques
de decantação podem ser circulares ou retangulares, onde o esgoto flui vagarosamente pelo decantador, permitindo que os sólidos em suspensão
sedimentes gradualmente no fundo, formando o lodo primário bruto. Em tanques de pequenas dimensões, o lodo é retirado por uma tubulação única e em
tanques maiores por meio de raspadores mecânicos e bombas. Óleos e graxas, com menor densidade que o líquido, sobem para a superfície, onde são
coletados e removidos do tanque para posterior tratamento. Os decantadores primários são normalmente utilizados antes da etapa biológica de processos
de lodos ativados e reatores anaeróbios com biofilmes. Com a tendência da utilização de UASB, o uso de decantadores primários está diminuindo, pois a
remoção de DBO nos decantadores primários (25-35%) é menor que a dos UASB (70%), possibilitando uma redução do volume das unidades de tratamento,
além da economia de energia. A eficiência da remoção de sólidos em suspensão pode ser aumentada pela adição de coagulantes (tratamento primário
avançado), gerando mais lodo pela maior quantidade de sólidos removida. Os tanques sépticos (fossas) são basicamente decantadores, onde sólidos
sedimentáveis são removidos para o fundo, formando o lodo, permanecendo tempo suficientes (alguns meses) para se estabilizar, estabilização esta sendo
anaeróbia (decanto-digestores).

c) Tratamento Secundário: predominam mecanismos biológicos com objetivo principal de remoção da matéria orgânica e eventualmente nutrientes. O
tratamento secundário pode ou não vir imediatamente após o tratamento preliminar. Todos os processos de tratamento de esgoto deste item podem ser
utilizados como pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. A matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel ou filtrada) não é removida por processo
meramente físicos e a matéria orgânica em suspensão (DBO suspensa ou particulada) é em grande parte removida no tratamento primário. A essência do
tratamento secundário é a inclusão de uma etapa biológica, com remoção de matéria orgânica por meio de microrganismos. A base de todo processo
biológico é o contato entre organismos e matéria, servindo de alimento para tais, convertendo a matéria em gás carbônico, água e material celular (+
metanos em condições anaeróbias). A decomposição anaeróbia requer manutenção de condições ambientais favoráveis como temperatura, pH, tempo de
contato, oxigênio etc. Diante de um déficit sanitário, aliado ao quadro epidemiológico e ao perfil socioeconômico das comunidades brasileiras, constata-se
a necessidade por sistemas simplificados de coleta e tratamento de esgotos, com baixos custos de implantação e operação, pouca mecanização e
sustentabilidade do sistema como um todo, baixos requisitos de área, pouco ou nenhum problema com a disposição do lodo gerado, fluxograma de
tratamento simplificado, eficiência na remoção de diversas categorias de poluentes etc.
• Lagoas de estabilização: constituem-se na forma mais simples para o tratamento de esgotos com o objetivo principal de remoção da matéria carbonácea.
São bastante indicadas para as condições brasileiras por requererem alta disponibilidade de área, clima favorável (temperatura e insolação elevadas),
operação simples e necessidade de pouco ou nenhum equipamento. Lagoas com uma maior carga de DBO tendem a possuir uma maior camada anaeróbia.
As principais condições ambientais em uma lagoa de estabilização são a radiação solar (velocidade de fotossíntese), temperatura (velocidade de
fotossíntese, taxa de decomposição bacteriana, solubilidade e transferência de gases, condições de mistura) e vento (condições de mistura e reaeração
atmosférica). A mistura em uma lagoa de estabilização ocorre principalmente pelo vento e diferencial de temperatura visando minimizar curto circuitos
hidráulicos e zonas estagnadas, além de permitir a homogeneização da distribuição e transporte de oxigênio para as camadas mais profundas. Para
maximizar a influência do vento, a lagoa não deverá ser cercada por obstáculos e nem contorno muito irregular. A lagoa ainda está sujeita a estratificação
térmica (cama superior/quente não se mistura com a inferior/fria), com o ponto de divisão conhecido como termoclina (estratificação pode ser quebrada
com a inversão térmica). Os reatores podem ser de fluxo em pistão (maior concentração de DBO, predominantemente longitudinais) ou de mistura completa
(concentração igualada, menor eficiência na remoção de DBO, predominantemente quadrados). As lagoas podem ser arranjadas em série (para uma mesma
qualidade do efluente, tem-se uma menor área ocupada), células em paralelo (possui a mesma eficiência de uma lagoa única, maior flexibilidade e garantia
de que o sistema não será interrompido caso ocorra um problema ou manutenção), devendo-se levar em consideração a sobrecarga na primeira célula
(recebe toda a carga do efluente, com a possibilidade de atingir condições anaeróbias), podendo adotar células de diferentes tamanhos. As lagoas seguem
alguns aspectos construtivos como sua locação (disponibilidade de área, topografia, ventos, condições de acesso, custo do terreno, nível do lençol freático,
características do solo), desmatamento/limpeza/escavação do terreno, taludes, fundo das lagoas (não deve possuir permeabilidade para evitar
contaminação do lençol freático e reduzir dificuldade na manutenção), dispositivos de entrada (submersa para evitar gases, garantir homogeneização,
evitar solapamento dos taludes e fundo da lagoa), dispositivos de saída.
- Lagoa Facultativa: preliminar + lagoa facultativa + corpo receptor. Quando lagoas facultativas recebem esgoto bruto, são denominadas lagoas primárias e,
quando recebe seu afluente de uma unidade anterior, é chamada de lagoa secundária. É o sistema mais simples dentro das lagoas de estabilização, dependendo
unicamente de fenômenos naturais. O esgoto entra continuamente em uma extremidade e sai na extremidade oposto. Parte da matéria orgânica em suspensão
(DBO particulada) tende a sedimentar, formando o lodo de fundo (zona anaeróbia), sofrendo então processo de decomposição por microrganismos anaeróbios.
A matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel) e a DBO finamente particulada não sedimentam e permanecem na massa líquida (zona aeróbia). A sua decomposição
se dá por bactérias facultativas, que sobrevivem com ou sem oxigênio. A produção de oxigênio é obtida pela fotossíntese e o consumo pela respiração das
bactérias, devendo o local ter elevada radiação solar e baixa nebulosidade. Profundidades de lagoas facultativas estão entre 1,5 a 2 metros e, à medida que a
lagoa se torna mais funda, o consumo de oxigênio é maior que a produção, além de que a fotossíntese só ocorre de noite, comprovando então a necessidade de
bactérias responsáveis pela estabilização da matéria orgânica serem facultativas. O período de detenção é alto, em torno de 20 dias e a área de ocupação é
grande pela necessidade de uma fotossíntese efetiva, além de ter maior simplicidade operacional. Os principais parâmetros de projeto são a taxa de aplicação
superficial (baseado na necessidade de oxigênio para estabilização da matéria orgânica), relacionando-se com a atividade das algas, profundidade e o tempo de
detenção, relacionando-se com a atividade das bactérias. Lagoas rasas permitem se comportar de forma totalmente aeróbia, maior área requerida, maior
penetração de luz, produção de algas maximizada, remoção de patogênicos maior, desenvolvimento de vegetação emergente, mais afetadas pelas variações de
temperatura ao longo do dia. Lagoas mais profundas possibilitam maior tempo de detenção para estabilização da matéria orgânica, performance menos afetada
pelas condições ambientais, mais estável, camada anaeróbia com menor taxa de remoção de DBO e mortandade de patogênicos. Há um ponto de profundidade
em que a produção de oxigênio pelas algas se iguala ao consumo pelas próprias algas e pelas bactérias, denominado oxipausa. Vantagens: satisfatória remoção
de DBO e patogênicos, construção/operação/manutenção simples, custo reduzido, ausência de equipamentos mecânicos, requisitos energéticos praticamente
nulos, resistência à variações de temperatura, remoção de lodo apenas depois de 20 anos. Desvantagens: elevados requisitos, de área, possível descaso com
manutenção pela simplicidade operacional, performance variável com as condições climáticas, possibilidade do crescimento de insetos.
- Lagoa Anaeróbia + lagoa facultativa: preliminar + lagoa anaeróbia + lagoa facultativa + cp. A lagoa facultativa, neste caso, recebe o nome de lagoa secundária.
O esgoto bruto entra numa lagoa de menores dimensões e mais profunda, onde a fotossíntese praticamente não ocorre, consumindo-se oxigênio mais que
produzindo, estabelecendo-se então condições anaeróbias. As bactérias anaeróbias têm taxa metabólica e de reprodução mais lenta que aeróbias, e o tempo de
detenção de 2 a 5 dias na lagoa anaeróbia faz com que a decomposição da matéria orgânica seja parcial (50-70% de DBO), porém que alivia a carga para a lagoa
facultativa. A lagoa facultativa recebe uma carga de apenas 30-50%, podendo então ter dimensões reduzidas, com eficiência similar ou ligeiramente superior à
de uma lagoa facultativa única, sendo também fácil e simples de operar. A unidade anaeróbia é aberta, possibilitando a liberação de maus odores. Devido ao
volume pequeno da lagoa anaeróbia, o acúmulo de lodo tem um maior impacto, devendo ser removido no intervalo de alguns anos. Os critérios de projeto para
as lagoas anaeróbias estão relacionadas ao tempo de detenção (3-6 dias) e a taxa de aplicação volumétricas.Vantagens: requisitos de áreas inferiores aos das
lagoas facultativas únicas, ausência de equipamentos, eficiência na remoção de DBO e patogênicos. Desvantagens: possibilidade de maus odores na lagoa
anaeróbia, afastamento razoável às residências próximas (pelo mau odor).
- Lagoa aerada facultativa: preliminar + lagoa aerada facultativa +cp. Sistema predominantemente aeróbio e de dimensões ainda mais reduzidas A principal
diferença desta para a convencional é a forma de suprimento de oxigênio, sendo a convencional suprida por fotossíntese e na aerada por aeradores, que causam
grande turbilhonamento na água, permitindo decomposição da matéria orgânica de forma mais rápida. O tempo de detenção pode ser menor, de 5 a 10 dias,
reduzindo também a área de ocupação. A lagoa é chamada de facultativa pelo fato do nível de energia introduzido pelos aeradores ser apenas suficiente para a
oxigenação, sem manter os sólidos em suspensão na massa líquida, sendo então sedimentados e constituindo o lodo de fundo, decomposto anaerobicamente. A
DBO solúvel e finamente particulada permanece na massa líquida e sofrem decomposição aeróbia. Por possuírem mecanização, são menos simples em termos
de operação e manutenção, consumo de energia elétrica e redução dos requisitos de área. Vantagens: eficiência na remoção de DBO superior, resistência a
variações de carga, reduzidas possibilidades de maus odores, mais independência das condições climáticas. Desvantagens: introdução de equipamentos, aumento
no nível de sofisticação, requisito de área ainda elevados, requisitos de energia relativamente elevados.
- Lagoa aerada de mistura completa + lagoa de decantação: preliminar + lagoa aerada de mistura completa + lagoa de decantação + cp. Forma de reduzir
ainda mais o volume da lagoa aerada é aumentando o nível de aeração, permitindo oxigenação e que sólidos em suspensão sejam mantidos em suspensão no
meio líquido. A mistura completa se refere ao alto grau de energia por unidade de volume. Entre os sólidos em suspensão, se encontram a matéria orgânica do
esgoto bruto e as bactérias, que formam a biomassa, proporcionando uma alta concentração de biomassa e, consequentemente, contato matéria-bactéria,
aumentando a eficiência do sistema e reduzindo sua área, além do tempo de detenção (2 a 4 dias). A biomassa permanece em suspensão em todo a lagoa, saindo
com o efluente sendo, em última análise, também matéria orgânica, que quando lançado no corpo receptor, gera DBO e implica na qualidade do efluente. Para
resolver este problema, é necessário que haja uma unidade a jusante, aonde sólidos em suspensão (predomina biomassa) sedimentam e se separam do líquido,
chamada de lagoa de decantação, com tempo de detenção reduzido (2 dias), onde o lodo é acumulado no fundo. A área requerida é a menor dentre os sistemas
de lagoas, porém com manuseio de lodo mais complicado pelo menor período de armazenagem na lagoa, além de ser cara sua remoção. Vantagens: boa remoção
de DBO, menores requisitos de área de todos os sistemas de lagoas. Desvantagens: introdução de equipamentos, energia e sofisticação, necessidade de remoção
periódica de lodo (2 a 5 anos).
- Lagoas de alta taxa: são concebidas para maximizar a produção de algas em um ambiente totalmente aeróbio, com profundidades muito reduzidas (inferiores
a 0,8 m), garantindo fotossíntese elevada, altas concentrações de OD e elevação de pH, fatores que aumentam a mortandade de patógenos e remoção de
nutrientes, principal objetiva das lagoas de alta taxa. A remoção de NH3 se dá pela volatização da amônia livre em pH elevado, escapando para a atmosfera. A
remoção do fósforo também ocorre a pH elevado, causando a precipitação de fosfatos. As lagoas de alta taxa recebem uma elevada carga orgânica por unidade
de área superficial, devendo introduzir moderada agitação com função de movimentar suavemente a massa líquida (não de aerar), melhorando o contato do
líquido com as bactérias e algas, reduzindo zonas mortas e permitindo maior quantidade de algas com luz solar. Podem vir após as lagoas facultativas, nas quais
a DBO foi em grande parte removida, restando às lagoas de alta taxa o polimento em termos de remoção de patógenos e nutrientes.
- Lagoas de maturação: preliminares + lagoa anaeróbia + lagoa facultativa + lagoa de maturação em série + cp. Possibilitam o polimento do efluente, com
objetivo principal de remoção de organismos patogênicos, e não da remoção adicional de DBO. São alternativas bastante econômicas à desinfecção, dependendo
de temperatura, pH, insolação, disponibilidade de alimento, competição, predação etc. Se tornam mais efetivos com menores profundidades da lagoa,
proporcionando mais radiação solar, elevado pH, + OD.
- Lagoas de polimento: preliminar + UASB + lagoas de polimento em série + cp. Conceitualmente similares às lagoas de maturação, diferenciando-se por
realizarem o polimento de efluentes de ETE, em particular dos UASB. Tal se deve ao fato de que estes reatores não atingem elevada eficiência de remoção da
DBO, requerendo pós-tratamento/polimento. Além de remover patógenos, têm uma efetiva remoção de material orgânica (o que não é um objetivo das lagoas de
maturação).

• Disposição no solo: os esgotos aplicados no solo conduzem à recarga do lençol subterrâneo e/ou evapotranspiração, suprindo a necessidade das plantas
em termos de água e nutrientes. Tem como destino a retenção na matriz do solo, retenção pelas plantas, aparecimento na água subterrânea e coleta por
drenos superficiais. A capacidade do solo em conduzir à assimilação de compostos orgânicos complexos depende de suas propriedades e condições
climáticas, assim como taxas de infiltração e tipos de cobertura vegetal. Para a degradação, é necessária uma boa aeração do solo, resultando na ação
filtrante do solo seguida da oxidação do material orgânico.
- Infiltração lenta (fertirrigação): preliminar +decantador primário/fossa + filtração lenta. Sistemas de infiltração lenta tem como objetivo principal tratar
esgotos, não levando em consideração requisitos de cultura. Já sistemas de fertirrigação têm como objetivo principal o reuso da água para produção agrícola.
As taxas de aplicação são baseadas nas necessidades de irrigação da cultura (nutrientes) e na eficiência do sistema de distribuição. A irrigação requer maior
área superficial, ao mesmo tempo que é um sistema natural com maior eficiência. As plantas são responsáveis pela remoção de nutrientes e os microrganismos
pela remoção de matéria orgânica.
- Infiltração rápida (alta taxa ou infiltração + percolação): preliminar + decantador primário/fossa + filtração rápida. Esse sistema é caracterizado pela
percolação da água residuária, purificada pela ação filtrante do meio poroso, constituindo-se de recarga para lençóis freáticos. As águas são dispostas em
tabuleiros rasos e sem revestimento com caminho unicamente vertical descendente. A aplicação é feita de maneira intermitente, permitindo descanso para o
solo.
- Infiltração subsuperficial: preliminar + decantador primário/fossa + infiltração subsuperficial. O esgoto pré tratado é aplicado abaixo do nível do solo. O meio
de enchimento mantém a estrutura da escavação, permitindo o livre fluxo dos esgotos e proporciona armazenamento dos mesmos durantes vazões de pico. O
esgoto penetra no solo, onde ocorre tratamento complementar. O sistema é o mesmo da infiltração-percolação, diferenciando-se pela aplicação não ser feita
por inundação (sobre a superfície do solo_ e sim por formas de condução e aplicação enterradas no solo. Normalmente conjugados a tanques sépticos (fossas)
complementados ou não por filtros anaeróbios ou UASB.
- Escoamento superficial: preliminar +decantador (optativo) + escoamento superficial + cp. Diferentemente dos acima, o escoamento superficial gera um
efluente final superficial, rampa abaixo até alcançar canais de coleta, devendo ser intermitente. O uso de culturas de crescimento é essencial para aumentar a
taxa de absorção de nutrientes e a perda de água por transpiração, além de servir como barreira ao livre escoamento, evitando erosão.
- Terras úmidas construídas: preliminar + lagoa facultativa + terras úmidas de fluxo superficial + cp OU preliminar + decantador primário/fossa + terras
úmidas fluxo subsuperficial + cp. São banhados artificias que consistem em canoas ou canais rasos (inferior a 1 m), que abrigam plantas aquáticas, e se baseiam
em mecanismos biológicos, químicos e físicos para tratar esgotos. Usualmente possuem uma camada impermeável de argila ou membrana sintética e estruturas
para controlar a direção do fluxo, tempo de detenção e nível d’água. O fluxo pode ser superficial ou subsuperficial (sem água livre na superfície, contém um leito
que serve de suporte para crescimento de plantas) onde o nível de água permanece abaixo da superfície do leito e os esgotos fluem em contato com as raízes
das plantas. Podem ser de fluxo vertical ou horizontal. Alguma forma de tratamento primário ou secundário deve preceder este processo.

• Sistemas anaeróbios: o processo se mostra mais eficiente e mais econômico quanto mais os dejetos são facilmente biodegradáveis. A aplicabilidade da
tecnologia anaeróbia depende de forma muito mais significativa da temperatura dos esgotos, devido à baixa atividade das bactérias anaeróbias abaixo de 20ºC
e à inviabilidade de aquecimento dos reatores (esgotos domésticos são normalmente mais diluídos, com baixas taxas de produção de gás metano, responsável
por aquecer). Dessa forma, o tratamento anaeróbio de esgotos domésticos torna-se bem mais atrativo para países de clima tropical e subtropical. Dentre as
vantagens de um sistema anaeróbio, tem-se a baixa produção de lodo, baixo consumo de energia, baixa demanda de área, baixos custos de implantação, produção
de gás combustível (metano), possibilidade de preservação da biomassa, tolerância a elevadas cargas orgânicas, aplicabilidade em pequena e grande escala.
Como desvantagens, têm-se a partida lenta pela falta de um sistema adaptado, inibição de compostos pelas bactérias anaeróbias, usual necessidade de pós-
tratamento, possibilidade de geração de maus odores, possibilidade de efluente com aspecto desagradável, remoção insatisfatória de N/P/patogênicos. Em
comparação ao sistema aeróbio (40-50% degradação biológica, enorme biomassa 50-60% e material não degradado 5-10%), os sistemas anaeróbios tem a
maior parte do material orgânico biodegradável convertido em biogás (70-90%), pequena biomassa (5-10%) que vem a se constituir o lodo excedente com
melhores características de desidratação. Além disso, o material não convertido em biogás ou biomassa (compondo o efluente) é 10-30%.
- Tanque Séptico/Fossa: simplicidade construtiva e operacional, possuem fluxo horizontal, sendo destinados ao tratamento primário de esgotos de residências
unifamiliares ou pequenas áreas não servidas por redes coletoras. Tem como função separar gravitacionalmente a escuma dos sólidos, digestão anaeróbia e
liquefação parcial do lodo e armazenamento do lodo. Devido à baixa eficiência do sistema, principalmente em termos de DQO, nutrientes e patogênicos, é
necessária uma adequação com um pós-tratamento ou destinação final, além de remoção periódica do lodo. Os tanques sépticos podem ser de câmara única, em
série (primeira câmara retém maior parte dos sólidos sedimentáveis e flutuantes, assemelhando-se a um digestor de baixa carga) ou sobrepostas (inserção de
um compartimento de decantação na parte superior do tanque, que favorece a sedimentação dos sólidos sem a transferência dos gases gerados no
compartimento de digestão abaixo). Dispositivos de entrada em fossas são importantes para se evitar perturbações hidráulicas, direcionar o fluxo dos esgotos
para o fundo do tanque (diminuir zonas mortas e curto circuitos), evitar que novos dejetos afluentes ao tanque se misturem diretamente com o líquido já depurado
e evitar retorno de escuma à entrada do tanque. Dispositivos de saída são importantes para reter o lodo e os sólidos flutuantes no interior do tanque (efluente
com menores teores de sólidos suspensos) e melhorar as condições de escoamento no interior do tanque. Outros fatores são importantes como o tempo de
detenção hidráulica (elevada para sedimentação mais efetiva e depuração biológica), temperatura, remoção do lodo (bombeamento ou pressão hidrostática).
- Filtro anaeróbio: preliminar + fossa + filtro anaeróbio + cp. O tanque séptico remove grande parte dos sólidos em suspensão, que sedimentam e sofrem
digestão anaeróbia no fundo do tanque, sendo o filtro anaeróbio responsável pela remoção complementar de DBO. O lodo gerado pela fossa e pelo filtro são
levados para desidratação e disposição final. O filtro anaeróbio é um reator com biofilmes, onde se cresce a biomassa aderida a um meio suporte, sendo
diferenciado dos filtros aeróbios por ter fluxo ascendente, trabalhar afogado, carga de DBO é elevada, condições anaeróbias (reduz volume do reator) e unida é
fechada. A eficiência do sistema fossa-filtro é inferior à dos processos aeróbios, a produção de lodo é bem baixa, o lodo já sai estabilizado, sendo levado
diretamente para a secagem.
- Reator anaeróbio de mante de lodo e fluxo ascendente (UASB): preliminar + UASB + cp (lodo já estabilizado – desidratação – transporte- disposição final).
Servem como unidades únicas ou seguidas de alguma forma de pós tratamento. Diferentemente dos filtros anaeróbios, não há necessidade da decantação
primária. A biomassa cresce dispersa no meio e não aderida ao meio suporte. A própria biomassa pode servir de meio suporte para outras bactérias pela
formação de grânulos. A concentração de biomassa é bastante elevada, denominando-se manta de lodo, requerendo um volume para reatores bastante reduzidos.
O líquido entra no fundo e se encontra com o leito do lodo, adsorvendo grande parte da matéria orgânica pela biomassa. O fluxo é ascendente e a atividade
anaeróbia forma gases (CH4 e CO2). Para reter a biomassa no sistema, a parte superior dos reatores de manta de lodo apresenta uma estrutura que possibilita
as funções de separação e acúmulo de gás e de separação e retorno dos sólidos (biomassa), estrutura essa chamada de separador trifásico (separa sólido,
líquidos e gases) na forma de tronco invertido. O gás é coletado na parte superior (reaproveitamento ou queima subsequente) e os sólidos sedimentam na parte
superior externa da estrutura do separador, deslizando pelas paredes até retornarem ao corpo do reator (retorno gravitacional), diferente do que acontece em
lodos ativados (retorno de lodo por bombeamento). O efluente sai do compartimento de sedimentação relativamente clarificado por meio de vertedores ou
tubulações perfuradas e a concentração de biomassa no reator é mantida elevada (pós tratamento ou corpo receptor). Deve-se fazer remoções periódicas da
biomassa (lodo) para manter o sistema em equilíbrio e o lodo do reator UASB já sai digerido e adensado, podendo ser apenas desidratado. O risco de mau odor
pode ser minimizado pela elaboração de um bom projeto, vedação do reator, saída submersa do efluente e minimização dos vertedores. Uma característica do
processo é a limitação na eficiência de remoção de DBO (70%) e, por isso, seguem para um posterior pós tratamento, sendo o tamanho desse sistema mais
reduzido. Obtém-se redução dos custos de implantação e de operação quando comparados com sistemas convencionais, não precedidos pela etapa anaeróbia.

• Lodos ativados: elevada qualidade do efluente com baixos requisitos de área, complexidade operacional, nível de mecanização e consumo energético
elevados. A classificação vai de acordo com a idade do lodo (convencional ou aeração prolongada), de acordo com o fluxo (contínuo ou intermitente) e de
acordo com os objetivos do tratamento (DBO ou remoção de N e P). O princípio básico do sistema de lodos ativados é que os sólidos são recirculados do
fundo da unidade de decantação, por meio de bombeamento, para a unidade de aeração. O sistema de lodo ativado é composto por um tanque de aeração
(reator), tanque de decantação (secundário), recirculação do lodo (bombeamento) e retirada do lodo biológico excedente.
- Lodos ativados convencional: preliminar + decantador primário + reator + decantador secundário com bombeamento para reator + cp (fluxo contínuo).
Quanto mais bactérias houver em suspensão, maior será o consumo de alimento, ou seja, maior será a assimilação da matéria orgânica no esgoto bruto. A
biomassa consegue ser separada do decantador secundário devido à sua propriedade de flocular. A concentração de sólidos em suspensão no tanque de aeração
do sistema de lodos ativados é mais de 10 veze superior à de uma lagoa aerada de mistura completa. O tempo de detenção do líquido é bem mais baixo (6-8 hs),
reduzindo o volume do tanque de aeração. No entanto, por conta da recirculação dos sólidos, estes permanecem no sistema por um tempo superior ao do líquido
(4-10 dias) e este tempo é chamado de idade do lodo, sendo essa maior permanência o que garante a elevada eficiência no processo de lodos ativados, já que a
biomassa tem tempo suficiente para metabolizar praticamente toda matéria orgânica dos esgotos. Os tanques são tipicamente de concreto, diferentemente das
lagoas de estabilização e, para economizar energia para aeração, parte da matéria orgânica (sedimentável) é retirada antes do tanque de aeração, pelo
decantador primário. Os lodos primário e aeróbio são posteriormente adensados, digeridos, desidratados e levados para sua disposição final. No tanque de
aeração, as bactérias crescem e se reproduzem continuamente pela entrada contínua de alimento que, em concentrações excessivas, dificultam a transferência
de oxigênio a todas as células, tornando o decantado secundário sobrecarregado. Para manter o equilíbrio, é necessário que se retire aproximadamente a mesma
quantidade de biomassa que é aumentada pela reprodução, formando-se o lodo biológico excedente, que pode ser extraído diretamente do reator ou da linha de
recirculação. A aeração é responsável tanto pela introdução de oxigênio, quanto pela manutenção da biomassa em suspensão em todo o tanque. Vantagens:
elevada eficiência na remoção de DBO, possibilidade de remoção biológica de N e P, baixos requisitos de área, processo confiável, reduzidas possibilidades de
maus odores, flexibilidade operacional. Desvantagens: baixa eficiência na remoção de coliformes, elevados custos de implantação e operação, elevado consumo
de energia, operação sofisticada, mecanização elevada, ruídos e aerossóis, necessidade de tratamento completo do lodo e sua disposição final.
- Lodos ativados por aeração prolongada: preliminar + reator + decantador secundário com bombeamento para reator + cp. A biomassa permanece no sistema
por um período mais longo (18-30 dias). Pela maior idade do lodo, o reator possui maior volume e, consequentemente, maior quantidade de biomassa. Porém, é
lançado no reator a mesma carga de DBO que o sistema convencional e, com o maior tempo de permanência, a disponibilidade de alimento por volume de tanque
e por biomassa é menor. Resultado disso é que as bactérias passam a utilizar nos seus processos metabólicos a própria matéria orgânica componente de suas
células, estabilizando a biomassa no próprio tanque de aeração, enquanto no sistema convencional a estabilização do lodo é feita em separado. Sendo assim, o
tratamento do lodo requer apenas adensamento (opcional) e desidratação, dispensando a digestão (estabilização). Sistemas de aeração prolongada normalmente
não possuem decantador primário, para evitar a necessidade de se estabilizar o lodo primário. A consequência dessa simplificação (sem digestão e decantadores
primários), tem-se um maior gasto de energia para aeração, para se estabilizar o lodo de forma aeróbia. Por outro lado, a reduzida disponibilidade de alimento
e sua praticamente total assimilação fazem com que a aeração prolongada seja um dos processos de ETEs mais eficientes na remoção de DBO. As principais
diferenças entre as modalidades de idade do lodo convencional e aeração prolongada são: aeração prolongada não gera lodo primário e geram menos lodo
secundário, não necessitam da etapa de estabilização do lodo (excedente já estabilizado). Vantagens: tem a maior eficiência na remoção de DBO, nitrificação
consistente, mais simples que o convencional, menor geração de lodo que o convencional, estabilização do lodo do próprio reator, elevada resistência a variações
de carga, independência das condições climáticas. Desvantagens: baixa remoção de coliformes, custo de implantação e operação, tem o maior consumo de
energia, mecanização elevada, necessidade de remoção da umidade do lodo e sua disposição final.
- Lodos ativados de fluxo intermitente: preliminar + reator de decantação e reator de reação + cp. O princípio consiste na incorporação de todas as unidades,
processo e operações associados ao tratamento convencional em um único tanque, podendo ser utilizado também na aeração prolongada. O processo consiste
em um reator de mistura completa onde ocorrem todas as etapas de tratamento, através de ciclos de operação com durações definidas. A biomassa permanece
no reator durante todos os ciclos, eliminando a necessidade de decantadores primários. O ciclo do tratamento são o enchimento (entrada do esgoto), reação
(aeração/mistura da massa líquida), sedimentação, esvaziamento (retirada do esgoto tratado) e repouso (ajuste de ciclos e remoção do lodo excedente). A
quantidade e frequência de descarte de lodo são estabelecidas em função dos requisitos de desempenho. O lodo excedente já sai estabilizado, sendo necessário
apenas o adensamento (opcional), desidratação e disposição final. Vantagens: elevada remoção de DBO, satisfatória remoção de N e P, baixos requisitos de área,
mais simples que os demais, menos equipamentos que os demais, flexibilidade operacional, decantador secundário e recirculação de lodo não são necessários.
Desvantagens: baixa remoção de coliformes, elevados custos de implantação e operação, maior potência instalada que os demais, necessidade de tratamento e
disposição do lodo.
- Lodos ativados como pós tratamento de efluentes anaeróbios (UASB): preliminar + UASB + reator aeróbio + decantador secundário + cp. O lodo do
decantador secundário é bombeado para o reator aeróbio e o lodo aeróbio é levado para o UASB, onde sofre digestão. Neste caso, em vez de se ter o decantador
primário, tem-se o reator anaeróbio. O lodo aeróbio excedente gerado pelo sistema de lodos ativados, ainda não estabilizado, é enviado ao reator UASB, onde
sofre adensamento e digestão, juntamente com o lodo anaeróbio. O tratamento de lodo é grandemente simplificado, não havendo necessidade de adensadores e
digestores, sendo apenas desidratado. As maiores vantagens, quando comparada ao sistema convencional de lodos ativados, são a redução na produção de lodo,
redução no consumo de energia, redução no consumo de produtos químicos para desidratação, menor número de unidades diferentes, menos necessidades de
equipamentos e maior simplicidade operacional. Uma desvantagem é a menor capacitação para a remoção biológica de nutrientes. Vantagens: redução da
produção de lodo, redução do consumo de energia, redução no consumo de produtos químicos para desidratação, menor número de unidades diferentes a serem
implementadas, menor necessidade de equipamentos. Desvantagens: menor capacitação para remoção de N e P. Similaridade com lodos ativados convencional:
eficiência similar, volume total similar.

• Reatores aeróbios com biofilme: são reatores nos quais a biomassa cresce aderida a um meio suporte. Todos os presentes sistemas podem ser usados
como pós tratamento do efluente de reatores anaeróbios, substituindo os decantadores primários e o lodo excedente da etapa aeróbia, caso não esteja
estabilizado, é retornado ao reator anaeróbio, onde sofre adensamento e digestão. Ao invés da biomassa crescer dispersa em um tanque ou lagoa, ela
cresce aderida a um meio suporte. Um filtro biológico compreende um leito de material grosseiro sobre o qual os esgotos são aplicados sob forma de gotas
ou jatos, percolando em direção aos drenos de fundo. Esta percolação permite o crescimento bacteriano na superfície da pedra ou material de enchimento,
formando uma película fixa e, com a passagem do esgoto, há o contato matéria-microrganismos. Os filtros biológicos são sistemas aeróbios, pois o ar
circula nos espaços vazios entre as pedras, fornecendo oxigênio para a respiração das bactérias. O líquido escoa rapidamente pelo meio suporte e a
matéria orgânica é adsorvida pela película microbiana, ficando retida tempo suficiente para sua estabilização. A função primária do filtro não é a de filtrar
(devido ao tamanho de vazios ser grande), mas sim de fornecer suporte para a formação da película microbiana. À medida que a biomassa cresce na
superfície das pedras, o espaço vazio tende a diminuir, aumento a velocidade de escoamento nos poros, causando tensão de cisalhamento, desalojando
parte do material aderido. Este lodo desalojado deve ser removido nos decantadores secundários, de forma a diminuir o nível de sólidos em suspensão do
efluente final.
- Filtro de baixa carga: preliminar + decantador primário/fossa + filtro biológico + decantador secundário + cp (lodo secundário + lodo primário já estabilizados).
Nos filtros biológicos de baixa carga, a quantidade de DBO aplicada por unidade de volume do filtro é menor, reduzindo a disponibilidade de alimento, resultando
numa estabilização parcial do lodo (pelo autoconsumo da matéria orgânica celular das bactérias) e numa maior eficiência do sistema de remoção da DBO. Essa
menor carga de DBO está associada a maiores requisitos de área, quando comparado com o de alta carga, e são mais eficientes na remoção de amônia por
nitrificação. Pelo fato de o lodo biológico excedente já estar estabilizado, não há necessidade de sua digestão separada em digestores de lodo, sendo apenas
desidratado. Os decantadores primários podem ser a fossa, do qual todo o lodo é extraído já digerido. A operação é mais simples que o sistema de lodos ativados
convencional, porém menos flexível, com menor capacidade de se ajustar a variações do efluente, além de requererem área pouco superior. Apresentam também
consumo bastante inferior ao sistema de lodos ativados.
- Filtro de alta carga: preliminar + decantador primário + filtro biológico + decantador secundário com bombeamento de líquido para filtro + cp. Conceitualmente
similares aos de baixa carga, recebendo maior carga de DBO, menores requisitos de área, ligeira redução na eficiência de remoção de matéria orgânica e o lodo
não é diferido no filtro. Os objetivos principais são manter a vazão uniforme, equilibrar a carga de efluente, possibilitar nova chance de contato entre matéria
orgânica efluente e trazer OD para o líquido afluente. Diferentemente dos lodos ativados, a recirculação nos filtros de alta carga é do afluente, e não do lodo
sedimentado. Os lodos secundário e primário sofrem adensamento, digestão, secagem e disposição final. Algumas limitações dos filtros biológicos com leito de
pedra se referem ao entupimento dos espaços vazios quando operam com elevadas cargas orgânicas, devido ao crescimento excessivo da película aderida. O
volume de vazios é limitado num filtro de pedras, restringindo a circulação de ar no filtro e, por consequência, a disponibilidade de OD para microrganismos, além
da área superficial específica ser baixa, reduzindo áreas para aderência e crescimento do biofilme. Para superar essas limitações, outros materiais podem ser
utilizados para o enchimento dos filtros, que oferecem maiores áreas superficiais e aumentam significativamente os espaços vazios para circulação de ar, além
de serem mais leves que as pedras, possibilitando estruturas mais elevadas. O lodo biológico não é estabilizado pelo fato de haver suprimento suficiente de
alimento para a biomassa, a qual não tem a necessidade de se autoconsumir. Filtros biológicos percoladores podem ser utilizados como pós tratamento de
reatores anaeróbios (UASB), substituindo o decantador primário pelo UASB. O lodo secundário, originado do filtro percolador, é retornado ao UASB, onde sofre
digestão e adensamento, juntamente com o lodo anaeróbio, sendo o lodo misto levado apenas para a desidratação.
- Biofiltro aerado submerso: preliminar + decantador primário + biofiltro aerado (lodo no tanque de lavagem para voltar para decantador primário) + cp. É
constituído por um tanque preenchido com material poroso, onde esgoto e ar fluem permanentemente. O meio poroso é mantido em imersão e o biofiltro é um
reator trifásico (biofilme, líquido, aeração artificial). O fluxo de ar do biofiltro aerado submerso é sempre ascendente e o fluxo do líquido pode ser ascendente ou
descendente. BF com meio granular realizam, no mesmo reator, a remoção de orgânicos solúveis e partículas em suspensão nos esgotos. Além de servir como
meio suporte, o material granular é um eficaz meio filtrante, não sendo necessário lavagens periódicas para eliminar excesso de biomassa acumulada. Já BF
aerados submersos com leio estruturado não retém biomassa em suspensão pela ação de filtração e usualmente necessitam de decantadores secundários. Estes
podem operar em fluxo ascendente ou descendente e, como necessitam de ar para aeração, difusores de bolhas grossas são colocados na parte inferior do filtro
e alimentados por sopradores. A maior aplicação de BF aerados submersos são como pós tratamento de reatores UASB, sendo o decantador primário substituído
pelo UASB, economia de energia nos biofiltros, advinda da maior eficiência de remoção da DBO nos reatores UASB. O lodo em excesso, removido na lavagem dos
filtros, é retornado ao reator UASB, onde sofre adensamento e digestão com o lodo anaeróbio, sendo o lodo misto levado para desidratação e disposição final.
Além disso, tem boa eficiência de nitrificação e podem ser modificados para remoção biológica de nitrogênio, através da incorporação de uma zona anóxica no
reator.
- Biodisco: preliminar + decantador primário/fossa + biodisco + decantador secundário + cp. A biomassa cresce aderida a um meio suporte, o biodisco. O
processo consiste numa série de discos espaçados num eixo horizontal, que giram lentamente, mantendo metade da área superficial imersa no esgoto e o
restante exposto ao ar. Os microrganismos no esgoto começam a aderir às superfícies rotativas, crescendo e formando a fina camada biológica. À medida que
os discos giram, a parte exposta ao ar traz uma película de esgoto, permitindo a absorção de oxigênio, retornando ao líquido, misturando oxigênio com esgotos
parcialmente e totalmente tratados. Quando a camada atinge uma espessura excessiva, ela se desgarra dos discos, mantendo-se em suspensão no meio líquido,
aumentando a eficiência do sistema. As finalidades dos discos são servir de superfície de crescimento do biofilme, promover contato da película com esgoto,
manter a biomassa desgarrada dos discos de forma suspensa nos esgotos, promover aeração dos esgotos. A diferença é que os microrganismos passam através
do esgoto, ao invés do esgoto passar pelos microrganismos, como acontece nos filtros. Os decantadores secundários também são necessários, visando a
remoção dos organismos em suspensão. O sistema apresenta boa eficiência na remoção de DBO, o nível operacional é moderado e os custos de implantação são
ainda mais elevados. Podem ser precedidos por decantadores primários (principalmente a fossa) ou por reatores anaeróbios.

d) Remoção de Nutrientes: nem sempre é desejada a completa remoção pois, em dosagens adequadas, são nutrientes para a cultura irrigada. Quando sua
remoção ocorre na etapa biológica, usualmente enquadra-se na categoria de tratamento secundário com remoção de N e/ou P. Em lagoas, a remoção de
nitrogênio se da por volatização da amônia (elevação do pH, mais importante em lagoas de maturação, de polimento e de alta taxa, onde a profundidade é
reduzida, tem-se mais fotossíntese, atingindo maiores valores de pH), assimilação da amônia e nitratos pelas algas, nitrificação-desnitrificação,
sedimentação do nitrogênio particulado; a remoção de fósforo em lagoas é pela precipitação de fosfatos em condições de elevado pH. A remoção de
nitrogênio e fósforo em sistemas de disposição no solo ocorre pelas plantas. A remoção de nitrogênio em sistemas de lodos ativados e reatores aeróbios
com biofilmes se dá pela conversão satisfatória de amônia em nitrato; a remoção biológica de nitrogênio é alcançada em condições anaeróbias, mas na
presença de nitratos, convertendo este em nitrogênio gasoso (desnitrificação); a desnitrificação é importante pois economiza oxigênio e alcalinidade,
operação do decantador secundário (evita lodo ascendente) e controla nutrientes (eutrofização); já a remoção de P em sistemas de lodos ativados é
essencial a existência de zona anaeróbias e zonas aeróbias de tratamento, com a presença de organismos assimiladores de P (zona aeróbia) e remoção de
lodo contendo acumuladores de P (zona anaeróbia).
e) Remoção de Patógenos: a desinfecção de esgotos sanitários não visa a eliminação total de microrganismos (esterilização), buscando então inativar
seletivamente espécies de organismos que ameaçam a saúde humana. Os mecanismos de destruição envolvem a destruição ou danificação da parede
celular/citoplasma/núcleo (impedindo o desenvolvimento destes patógenos), alteração de importantes compostos envolvidos no catabolismo (alterando o
balanço de energia da célula), alteração nos processos de síntese e crescimento celular, mediante alteração de funções de síntese de proteína, ácidos
nucleicos e coenzimas. Processos naturais de desinfecção compreendem as lagoas de estabilização (maturação, polimento e alta taxa) e disposição
controlada no solo (remoção de nutrientes, SS, patógenos inativados por ação de raios/predação/dessecação. Processos artificiais envolver a cloração,
ozonização, membranas.
f) Tratamento Terciário: remoção de poluentes específicos (tóxicos e não biodegradáveis) ou remoção complementar de poluentes não removidos de forma
suficiente no tratamento secundário, patógenos.

2. OPERAÇÕES, PROCESSOS E SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ESGOTOS

Os métodos de tratamento dividem-se em operações e processo unitários compondo, de forma integrada, os sistemas de tratamento de esgoto.

• Operações físicas unitárias: métodos de tratamento onde predominam forças físicas (gradeamento, mistura, sedimentação, filtração etc.)
• Processos químicos unitários: métodos de tratamento nos quais a remoção ou conversão de contaminantes ocorre pela adição de produtos químicos
(precipitação, desinfecção).
• Processos biológicos unitários: métodos de tratamento onde a remoção de contaminantes ocorre pela atividade biológica (desnitrificação, nitrificação,
remoção da matéria orgânica carbonácea)
• Operação, processo e sistemas de tratamento: gradeamento, desarenador, sedimentação, disposição no solo (sólidos em suspensão); lagoas de
estabilização, lodos ativados, reatores aeróbios com biofilmes, tratamento anaeróbio, disposição no solo (matéria orgânica biodegradável); lagoas de
maturação. Disposição no solo, desinfecção química, desinfecção por radiação, membranas (patógenos); nitrificação e desnitrificação, lagoas de maturação
e de alta taxa, disposição no solo, processos físico-químicos (nitrogênio); remoção biológica, lagoas de maturação e de alta taxa, processo físico-químicos
(fósforo).
• Digestão anaeróbia: na conversão de matéria orgânica em condições anaeróbias são utilizados aceptores de elétrons inorgânicos. A digestão anaeróbia
ocorre em dois estágios, sendo que no primeiro, um grupo de bactérias facultativa e anaeróbias (formadoras de ácidos/fermentativas) convertem os
orgânicos complexos em outros compostos por meio da hidrólise, fermentação e biologicamente convertidos em materiais orgânicos mais simples,
principalmente ácidos voláteis. No segundo estágio ocorre a conversão dos ácidos orgânicos, CO2 e H2 em produtos gasosos (metano e gás carbônico),
efetuada por bactérias formadoras de metano, estritamente anaeróbias. Uma vez que as bactérias metanogênicas são responsáveis pela maior parte da
degradação do resíduo, a sua baixa taxa de crescimento e de utilização dos ácidos orgânicos representa um fator limitante no processo de digestão. De
forma resumida, as sequências metabólicas são as seguintes: primeiro a hidrólise de orgânicos complexos realizada por bactérias fermentativas,
transformando-os em moléculas mais simples (que podem atravessar as paredes celulares das bactérias fermentativas); após, os produtos oriundos da
fase de hidrólise são metabolizados no interior das bactérias fermentativas, sendo convertidos em compostos mais simples (ácidos voláteis, hidrogênio,
açúcares), processo conhecido como acidogênese (realizado por bactérias fermentativas acidogênicas); depois, ocorre a acetogênese, onde as bactérias
acetogênicas oxidam produtos gerados na fase acidogênica em substrato apropriado para bactérias metanogênicas, gerando hidrogênio, dióxido de carbono
e acetato. Durante este processo, uma grande quantidade de hidrogênio é formado (reduz pH), podendo ser consumido por meio de bactérias metanogênicas
(utilizam hidrogênio e dióxido de carbono para produzir metano) ou por meio da formação de ácidos orgânicos; por fim, ocorre a metanogênese, onde há a
degradação de compostos orgânicos em metano e dióxido de carbono, realizada pelas bactérias metanogênicas. Esse grupo de bactérias é dividido em
dois, sendo um que forma metano (acetoclásticas) e outro que produz metano com hidrogênio e dióxido de carbono (hidrogenotróficas).
• Reator biológico e a recirculação de sólidos: reator sem decantação e sem recirculação - reator de fluxo contínuo e mistura completa e pelo fato de
não haver retenção de biomassa no sistema, o fluxograma sem decantação secundária e sem recirculação não caracteriza um sistema de lodos ativados;
reator com decantação e sem recirculação- os sólidos biológicos formados e presentes no reator saem no efluente com a mesma concentração que
possuíam no reator, sendo estes, em última análise, matéria orgânica que, se lançadas no corpo receptor, sofreriam processo de estabilização, criando
uma DBO em suspensão, que deteriora a qualidade do mesmo. Sendo assim, utiliza-se a unidade de decantação após o reator, com objetivo de reter os
sólidos biológicos, visando impedir que atinjam o corpo receptor com a mesma concentração em que se encontravam no reator, melhorando grandemente
sua qualidade final; reator com decantação e com recirculação- o lodo acumulado até um certo período no fundo do decantador secundário é constituído,
em sua maioria, por bactérias ainda ativas do ponto de vista da capacidade de assimilar matéria orgânica. Deste modo, é atrativa sua recirculação ao
sistema para que mais DBO seja removida. A recirculação da biomassa é um princípio básico do sistema de lodos ativados.
• Sistemas de aeração: introduzir ar ou oxigênio no líquido (aeração por ar difuso) ou causar grande turbilhonamento, ocasionando a entrada de ar
atmosférico no meio líquido (aeração superficial ou mecânica).
- Mecânica: transferência do oxigênio atmosférico por gotas e finas películas de líquidos, transferência do oxigênio na interface ar-líquido, onde as gotas em
queda entram em contato com o líquido no reator, transferência de oxigênio por bolhas de ar transportadas da superfície ao seio da massa líquida. Os aeradores
mecânicos podem ser agrupados em aeradores de eixo vertical (baixa rotação ou alta rotação) e eixo horizontal, podendo ser fixos ou flutuantes. Aeradores de
baixa rotação tem a maior parte da absorção do oxigênio por ressalto hidráulico, tendo elevada transferência de oxigênio, flexibilidade no projeto, elevada
capacidade de bombeamento e de fácil acesso para manutenção, além de ter custos iniciais elevados e manutenção cuidadosa. Aeradores de alta rotação faz a
absorção de oxigênio por aspersão e turbulência, tendo custos iniciais reduzidos e facilmente ajustável a variações de nível d’água, porém é de difícil acesso
para manutenção, tem menor capacidade de mistura e transferência de oxigênio não muito elevada. Por fim, aeradores de eixo horizontal tem a areação por
aspersão e incorporação do ar, com custo inicial moderado, fácil de fabricar e de manutenção, porém com geometria de tanque limitada, requisito de baixas
profundidades e transferência de oxigênio não muito elevada.
- Por ar difuso: o ar é introduzido próximo ao fundo do tanque, através de formação de bolhas. Os principais sistemas por ar difuso estão relacionados pela
porosidade do difusor e tamanho da bolha produzida, tendo o difusor poroso (bolhas finas e médias), não poroso (bolhas grossas), jatos etc. Difusores porosos
são mais baratos e com reduzido peso, porém menos resistentes. Quanto menor o tamanho da bolha, maior a área superficial disponível para transferência de
gases. A eficiência de difusores porosos diminui com o uso, por colmatação interna (impurezas do ar não removidas no filtro) e externa (crescimento bacteriano
na superfície ou precipitação de compostos inorgânicos).

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