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1. Contextualizando o tema
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Trabalho apresentado ao GT- 10 - Gestão e Estudo dos Impactos do Turismo do VI Seminário de Pesquisa em
Turismo do MERCOSUL – Caxias do Sul, 9 e 10 de julho de 2010.
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Graduada em Turismo (UFJF), Mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (Programa
EICOS/IP/UFRJ), e Doutoranda em Engenharia de Produção (COPPE/UFRJ). Atualmente é Pesquisadora do Grupo
de Pesquisa "Biodiversidade, Áreas Protegidas e Inclusão Social" (GAPIS/EICOS/UFRJ) e do Instituto Virtual de
Turismo (IVT/LTDS/UFRJ). E-mail: edilainerumos@yahoo.com.br.
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uma “caixa preta” (que contém o legado cultural consciente ou inconsciente do grupo),
uma “caixa conceitual” (que inclui o saber acumulado em sua trajetória de
conhecimentos empíricos e/ou teóricos), e uma “caixa de ferramentas” (que abrangem o
saber-fazer, técnicas e modelos de ação apropriados ao seu contexto).
Esta discussão inspira alguns questionamentos norteadores do presente trabalho:
Como viabilizar o engajamento efetivo das populações locais no desenvolvimento do
turismo de base comunitária? Que tipo de turismo desejam? Que passos deverão ser
dados com este objetivo? Que concessões estarão dispostas a fazer? Quais os elementos
inegociáveis de sua postura relacional?
Com o intuito de contribuir para esta discussão, esta pesquisa parte do
pressuposto que a interpretação do olhar de quem vive no local, reconhecido e
valorizado como protagonista das mudanças ocorridas no lugar que lhe “pertence”, é
essencial para o êxito de qualquer iniciativa de TBC.
É neste sentido, que este trabalho tem como objetivo central apresentar e discutir
as ferramentas de gestão do turismo de base comunitária em Reservas Extrativistas na
Amazônia, a partir do estudo de caso da Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema, que
se localiza nos municípios de Sena Madureira e Manuel Urbano, no Estado do Acre, e é
considerada importante Unidade de Conservação de Uso Sustentável da região, que
abriga uma amostra expressiva do bioma amazônico, com suas riquezas naturais e
culturais.
O presente trabalho se fundamenta em uma abordagem interdisciplinar, tendo o
olhar psicossocial como seu fio condutor, a partir de análise qualitativa, baseada em
pesquisa bibliográfica, documental, observação simples e participativa, e realização de
entrevistas semi-estruturadas com interlocutores locais selecionados.
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Cazumbá, a partir do reconhecimento dos atrativos pela própria população local, estão
descritas a seguir: Horta comunitária de plantas medicinais, Agricultura Familiar
(sobretudo a produção da farinha), Castanhal (castanha - do – Brasil), Criadouros de
animais silvestres (queixada e jabuti), Unidade de Produção do Artesanato de borracha,
Pousadas Comunitárias, Rio Caeté, Açudes, Estrada de seringa e trilhas ecológicas.
Com essa perspectiva, o potencial de atratividade para o turismo na RESEX tende a se
vincular, de forma integrada, aos valores culturais e naturais, o que implica,
evidentemente, na importância de fortalecimento da cultura tradicional, do
empoderamento dessas populações e do uso sustentável dos recursos naturais
renováveis, tal como preconiza a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais (BRASIL, 2007).
No entanto, o turismo observado no contexto atual do Núcleo do Cazumbá leva à
reflexão dos moradores de que essa prática pode acarretar também impactos
indesejáveis, como a contribuição para a geração de diversos problemas e conflitos, a
interrupção da dinâmica social no Núcleo, colocando em risco o modo de vida
tradicional, o surgimento do sentimento de “ganância” na população local, e a
competição pelos mesmos recursos e investimentos, o que tende a afetar diretamente os
laços sociais e o sentimento de comunidade.
Dessa forma, os atores locais definem estratégias que precisam ser adotadas para
contribuir para que sejam minimizados os efeitos negativos no Núcleo do Cazumbá.
Segundo Irving (2008, p. 04), o planejamento turístico deve pressupor compromisso
ético, respeito e engajamento de “quem está” e de “quem vem” ao local, uma vez que
sem essa interação harmoniosa, a troca de valores não se efetiva e o “espaço da
interação” ganha expressões apenas circunstanciais. Para um intercâmbio real, Zaoual
(2008) salienta que os turistas devem ser atores responsáveis e solidários em seus
intercâmbios com outros mundos. E, os moradores do Núcleo reconhecem a
importância, para o turista, em conhecer uma realidade diferente do seu cotidiano, lidar
com o estranhamento do “exótico” e contribuir para o desenvolvimento do destino
visitado. Outro aspecto com este objetivo é a limitação de visitação no local que poderá
contribuir também para que sejam minimizadas as alterações no ambiente natural
visitado.
Sob essa perspectiva, os moradores locais determinam ser importante o
reconhecimento das normas estabelecidas no Plano de Utilização da RESEX no
planejamento e implementação do turismo no local, sendo fundamental o repasse das
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regras locais aos turistas, para que a troca de experiência entre turistas e anfitriões não
influencie, negativamente, o modo de vida da população local.
Então, diante das transformações que podem acontecer com o desenvolvimento da
prática turística na RESEX, alguns obstáculos emergem como reais entraves ao
processo, no que tange à organização política ainda insuficiente (apesar dessa ter sido
determinante no processo de criação da RESEX), e à carência de infraestrutura básica e
turística adequada.
Como proposta para a implementação efetiva do TBC será ainda necessário um
elevado investimento em recursos financeiros e humanos, para uma melhor preparação e
organização da população local para lidar com o processo.
Na pesquisa de Moraes (2009) foram levantadas diversas demandas locais
emergentes para o desenvolvimento do turismo na RESEX e essas são relacionadas
principalmente, à formação e à capacitação técnica continuada dos moradores locais
para que esses possam discutir e definir ações coletivas com este objetivo. Além disso,
foi reconhecida, sob a ótica local, a necessidade de fortalecimento organizacional e
implementação de infraestrutura adequada. Estas demandas podem ser viabilizadas por
meio de estabelecimento de parcerias estratégicas.
Neste sentido, é importante enfatizar que o processo de capacitação dos
moradores do Núcleo do Cazumbá em turismo tende a envolver a participação de
agentes externos. Mas Weignand Júnior (2002) salienta, como importante estratégia
com este objetivo, a integração da população local com a equipe técnica, em um
processo conjunto de fortalecimento da capacidade participativa de planejamento e
implementação de projetos.
Nesse processo, é importante também que a formação e capacitação em
planejamento e gestão do TBC sejam aprimoradas e monitoradas permanentemente,
com base na valorização do diálogo e cooperação, respeitando os diferentes tempos de
resposta local. Dessa forma, o processo tem maiores chances de continuar sendo
controlado pela própria população local, que assim, assume o protagonismo na
iniciativa, sendo possível, talvez, assegurar a repartição dos benefícios a todos os
envolvidos.
Assim, o que parece claro é que a participação efetiva da população local no
planejamento e gestão do TBC na RESEX seja requisito para o seu êxito, em
consonância com os princípios de funcionamento dessa categoria de manejo de UC, e o
momento atual do contexto de políticas públicas, destacando-se a Política Nacional de
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4. Considerações finais
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5. Referências Bibliográficas
______. Lei nº 11.771. Dispõe sobre a Política Nacional de Turismo. Brasília: DOU de
18 de setembro de 2008.
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