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Cartroto 7 — A VARIEDADE HUMANA coeteone © objeto dx cltnela socis] — Posigéo do. cleitisia social frente A variedade humana — A unldade social: 0 Esta So.nagho — Depwnddneles internacioneis ~~ Estrutura social ¢ Sociologia — Citneia social e Antropologia — Limites das iaciplinas das Clnolax Socisis. Cartruvo 8 — USOS DA HISTORIA ....., © ‘estudo histérico — Problemas de metodo — Ciencias Sociais: disciplinas histérieas? — Pano-de-fundo histories = Histéria e ‘Sociologia — Psicslogia histérica e social — Cidncia social © Pricologia. Cartreno 9 — DA RAZAO E LIBERDADE 179 ‘A histériu © 0 tempo presente — O papel da razio nas ‘Questées humanas — 0 homem e 0 rob) — Cidncia e razie # lberdade — Metodos de analise da Tazio e liberdade Carte 10 — DA POLITICA . a2 © sentido politico do trabalho do cientista social — A esco- Wha de valéret Os meios de devisiv — A posigse do lentista social — © cientista social como professor — A ta. refa polities do clentiste. social Apbrotct: DO ARTESANATO INTELECTUAL mm A ciéncia social como oticio — A obra ¢ a vida — A ques: tio dos arquivos — A coleta de material — Or estudes cm. piricos — Como estimular a imaginagio soclolégica Eserever claro, AGRADECIMENTOS . 8 CAPITULO 1 A Promessa Hoss em dia, ot homens ssntem, freqiientemente, suas vidas privadas:'como uma série de armadilhas. Perce. bem que dentro dos mundos cotidianos, nao padem sup Far suas preocupagies, e quase sempre tém razdo nesse sen~ Himenta: tudp aquilo'de que os homens cowuns tém cons. | cifncia direta tudo o que tentam fazer estd limitado”pelas Srbitas privadas em que vives. Sua visio, sua capacidade, esto limitadas pelo cendrio préximo: o emprégo, a familie, 9 vizinhos; em outros ambientes, movimentam-se como es. tranhos, © permanecem expectadores. E quanto mais cons. cigncia tém, mesmo vagamente, das ambicdes e ameacas que transcendem seus cenérios imediatos, mais encurralados pa- recem sentir-se Subjacentes a essa sensacéo de estar encurralados esti mudangas sparentemente impessoais na estrutura mesma d sociedacles @ que 8 estendem por contineuites ineiros. A: realidades da historia contemporinea constituem també realidades para 0 éxito e o fracasso de homens ¢ mulheres individualmente. Quando uma sociedade se industrializa, camponés se transforma em trabalhador, o senhor feudal detsparece, ou passa a ser homem de negécios. Quando as classes ascendem ou caem, o homem tem emprégo on fica desempregado; quando a taxa de investimento se eleva ou desce, 0 homem se entusiasma, ou se desanima, Quando hi Guerras, 0 corretor de seguros se transforma no lancador de Foguetes; v catxeiro de loja, em homem do radar, a mulher vive 6, a crianca cresce sem pai. A vida do individuo ea 9 histéria da sociedade nfo podem ser compreendidas sem com- preendermos essas alternativas E apesar disso, o¢ homens néo defincm, habitualmente suas ansiedades em térmos de transformagio historia e con- tadigao institucional. O bem-estar que destrutam, nio atribuem habitualmente aos grandes altos @ haixos das socie dades em que vivem. Raramente tém consciéncia da comple-| xa ligagéo entre suas vidas ¢ o cuiso da historia mundial, ppor isso, os homens comuns nffo sabem, quase sempre, o que| essa ligacdo significa para os tipos de’ ser em que se estio| transformando € para o tipo de evalugio histérica de que| lem participar. Nao dispem da qualidade intelectual ésica para sentir o jOgo que se processa entre os homens e| a sociedade, a biografia e a histéria, 0 eu e o mundo. Nao podem enfrentar suas preocupagbes pessoais de modo a con- trolar sempre as transformagées estruturais que habitualmente estéo atrés déles. Isto niio causa surprésa, Em que periodo da histéi taptos homens estiveram tio expostos, © de forma liv to a transformagées tio rapidas e completas? | O fato de néo terem os americanos conhecido modilicagdes téo catastréficas quanto homens e mulheres de ontras sociedades se deve a fatos histéricos que se estio tornando, rapidamente, “apenas histéria”. A histéria que atinge todo homem, hoje, ¢ a histé- ria mundial. Dentro déste cendrio e déste periodo, no cut de uma tiniea geracfo, um sexto da humanidade passou d tudo o que era fendal e atrasado para tudo 0 que ¢ moderno} avangado, terrivel. As colénias politicas esto libertadas; in: talaramrse novas formas de imperialismos, menos evidentes correm revolugées; os homens sentem de perto a pressio de novos tips de autoridade. Surgem sociedades totalitrias, # slo esmagadas desfazendo-se em pedagos ou obtém éxito fabuloso. Depois de dois séculos de ascendéncia, o ca- pitalismo visto apenas como um processo de transformar a sociedade num aparato industrial. Depois de dois séculos de esperancas, até mesmo a democracia formal esté limitada # uma pequena parcela da humanidade. Em todo o mundo subdesenvolvido, os velhos modos de vida se rampem e es- perangas antes 'vagas se transformam .em exigencias pre- mentes. Em todo o mundo superdesenvolvida, os meins de autoridade e violéncia tornam-se totais no alcance e burocré- ticos na forma. A prépria humanidade se desdobra hoje wo nossa frente, concentrando cada supemagéo, em seu respec- tivo pélo, seus esforgos coordenados e macigos na preparacio da Terceira Guerra Mundial A prépria evolucdo da histéria ulirapassa, hoje, a caps- cidade que tém os homens de se orientarem de acébrdo com valdres que amam. F quais slo ésses val6res? Mesmo quan. do no sio tomados de panico, éles véem, com freqiiéncia, que as velhas maneiras de pensar e sentir entraram em co." lapso, e que as formas incipientes so ambfguas até o ponto da estase moral. Serd de espantar que os homens comuns sintam sua ineapacidade do enfrentar os horizontes mais ex tensos & frente dos quais foram tio stbitamente colocados? |Que nao possam compreender o sentido de sua época e de suas proprias vidas? Que — em defesa do en — se tomem moralmente insensiveis, tentando permanecer como séres to- talmente particulares? "Seré de espuular que se tomem por suidos de uma sensacio de encurralamento? Nao é apenas de informacdo que precisam — nesta Idade do Fato, « informagio Ihes domine com freqigncia « atengio esmaga a capacidade de assimilé-la, Nao é apenas da habi- dade da razio que precisam — embora sua lula para con- la com frequéncia lhes esgote a limitada energia moral, “TS” © que precisam, ¢ 0 que sentem precisar, é uma quali- |dade-de-espiita que_Ihes Suda ausar a “inlormacio €4 de Senvolver a razio, a fim de perceber, com lucidez, 0 que esti ‘deorrendo no mundo ¢ 0 que pode estar acontecendo.dentro (wets a E essa qualidade, afirmo, que jomalistas ¢ [professdres, artistas e piblicos, cientistas e editdres e: megando a esperar daquilo que poderemos chamar de | ginacio socioldgica, te iT { A imaginagio sociolégica capacita seu possuidor a com- preenvier o cenirio histérleo mais amplo, em térmos de set significado para a vida intima e para a carreira exterior de uuinerusos individuos. Permite-Ihe levar em conta como os individuos, na agitacdo de sua experiéncia didria, adquirem freqiientemente uma conseiéneia falsa de suas posig6es socials Dentro dessa agitagio, busca-sc a cstrutura da sociedade mo- u $$ es derma, ¢ dentro desca estrutura sho formul de diferentes homens e mulheres. Através disso, @ ansiedade pessoal dos individuos € focalizada sobre fatos explicitos € a indiferenga do piiblico se transforma em participacio nas questoes publicas. © primeira fruto dessa imaginagao — e a primeira licko| da ciéncia social que a incorpora —é a idéia de que a indi viduo s6 pode compreender sua prépria experiéncia e avaliat seu_préprio destino localizando-ze dentro de seu periodo, 35} pode conhecer suas possibilidades na vida tornando-se ednscio Gas possibilidades de tOdas as pessoas, nas mesmas circuns Yancias em que éle. Sob muitos aspectos, é uma licka terrt| vel; sob muitos outros, magnifica. Nao conhecemos os limi- tes da caparidade que tem o homem de realizar eaforwus supremos ou degradar-se voluntariamente, de agonia on exul. tacdo, de brutalidade que traz prazer ou de deleite da razdo. las em nossa época chegamos a saher que os limites da “natureza humana” so assustadoramente amplos. Chegamos 1 saber que todo individuo vive, de uma geraglo até a seguin: te, numa determinada sociedad e uma biografis, © que vive dentro de uma seqiiéncia histérica. E pelo fato de viver, contribui, por menos que seja, para 0 condicionamento dessa sociedade © para o curso de sua histéria, ao mesmo tempo em que é.condicionado pela sociedade e pelo seul Proceso histérico. A imaginacao sociolig historia ea blogratia € as rel lagoes-entre.ambas, dentro_ dal sacledade._Essa a sua tarefa © a sua promesca A maren 3 analista social cléssico & 0 reconhecimento delas: 6 a carac- terlstica de Herbert Spencer grandiloqiieute, polisstlabico, geral; de E. A. Ross — gracioso, estrita, reto; de Auguste Comte © Emile Durkheim: do’ complicado ¢. sulil “Karl Mannheim. E a qualidade de tudo o que 4 intelectusimente excelente em Karl Mars; € a have da’ brilante ehovies perfeicio de Thorstein Veblen, das formulagies multilaterais que Joseph Schumpeter dé a realidade; ¢ a base da penetra. so psicolgica de W. E. H. Lecky, tal como da profundidade ¢ clareza de Max Weber. £ a marca do que hi de melhor ‘nos estudos contempordineos do homem e da sociedade. _Neuhum estudo social que nio volte 20 problema da biografia, da histéria e de suas interligaghes dentro de uma 10s permite compreender 1B 12 seciedadle completou_a sua’ jornada intelectual. Qualsquer ‘que sejam os ee ae alias sis Or. sicos, por mais limitadas ou amplas as caracteristicas da res. lidade social que examinaram, os que tiveram consciéneia imaginativa das possibilidades ‘de seu trabalho formularam Tepetida e coerentemente trés séries de pergumtas: 1) Qual a estrutura desea sociedade como um todu?) Quais seus componentes essenciais, © como se correlacionam? Como difere de outras variedades de ordem social? Dentro dela, qual o sentido de qualquer caracteristica particular ara a sua continuagdo e para a sua translormagao? 2) Qual u posisdo dessa sociedade na histéria humana? | Qual a mecinica que a faz modificar-se? Qual # seu lugar No desenvolvimento da humanidade ‘como um todo, e que sentido tem para @sse desenvolvimento? Como qualquer racteristica particular que examinemos afeta o perfodo his- ‘rico em que existe, e como € por éle afetada? E ésse pe. iodo — quais as suas caracteristicas essenciais? Como dife re de outros periodos? Quais seus processos caracteristicos de fazer a histiria? 3) Que variedades de homens predominam nessa sf ciedade ¢ nesse periodo? E que variedades ido predominar? De. que formas sio selecionadas, formadas, liberadas e repr! midas, tomadas sensiveis ou impermeivels? Que tipos de “uatureza humana” se revelam na conduta e'cardter que observamos nessa sociedade, nesse period? E qual 0 sentido que para a “natureza humana” tem cada uma das caracterfticas da cociedade que examiuainus? Seja o objeto da exame uma grande potéacia, ou uma passageira moda literaria, uma familia, uma prisao, um cerdo she seman om pergustas igus on meinen eae ee formularam. Sao os centros intelectuais dos estudos classics do homem na sociedade — e sio perguntas formuladas ine. vitivelmente por qualquer espirte que pocsws wre nagio sociolégica. Pois essa imaginagao @ a capacidade patsar de ume perspective a uulte =" da police ease ‘colOgica; do exame de uma finica familia para a andlise com- tiva dos orgamentos nacionais do mundo; da escola teo- ogica para a estrutura militar; de consideragses de uma in- diistria petrolifera para estudos da poesia contemporinea. Bs capavidade de ir das mai )— ¢ ver as relacbes entre as duas. Sua utilizacko, se fun: menta sempre fi essidade de conhe sentido social e histérico do individuo na sociedade ¢ no peslode no qual sua qualidade e seu ser se manifestam. E por isso, em suma, que por meio da imaginagéo socio. égica os homens esperam, hoje, pesveber o que esté acont cendo no mundo, e compreender © que esta acontecendo coun como minisculos pontos de cruzamento da biografia_e; da histéria, dentro da sociedade. Em grande parte, a visiol tutoconsciente que 0 homem contemporineo tem de si, con- siderando-se pelo menos um forasteito, quando nao um es. trangeiro permanente, baseia-se na compreensio da relativi- dade s da capacidade transformadora da historia, A imaginagde sociolégica & a forma mais frutifera dessa conseiéncia. Usando-a, homens cujas mentalidades descre, viam apenas uma série de 33

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