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Giddens – O que é Sociologia?

A sociologia é o estudo da vida social humana, dos grupos e das sociedades. Seu objeto
de estudo é o nosso próprio comportamento como seres sociais. A sociologia mostra a
necessidade de assumir uma visão mais ampla sobre o porquê somos como somos e por
que agimos como agimos. Ela ensina que os “dados” da nossa vida são fortemente
influenciados por forças históricas e sociais. Portanto, compreender os modos sutis,
porém complexos e profundos, pelos quais nossas vidas individuais refletem os
contextos de nossa experiência social é fundamental para a abordagem sociológica. Um
sociólogo é alguém que é capaz de se libertar da imediatidade das circunstâncias
pessoais e apresentar as coisas num contexto mais amplo. O trabalho sociológico
depende daquilo que Mills chamou de imaginação sociológica, esta exige que pensemos
fora das rotinas familiares de nossas vidas cotidianas, a fim de que as observemos de
modo renovado.
Ao considerar o ato de tomar café, por exemplo, poderíamos dizer, a partir de um ponto
de vista sociológico, que o café possui um valor simbólico, uma vez que o ritual
associado ao ato é muito mais importante que o ato em si, pois pode promover a
interação social; o café é uma droga, pois contém cafeína, que estimula o cérebro, cria
dependência, mas é uma droga socialmente aceita; o café está inserido numa trama de
relacionamentos sociais e econômicos que se estendem pelo mundo, é uma das
mercadorias mais valiosas no comércio internacional, é cultivado principalmente em
países pobres; o ato de bebê-lo pressupõe todo um processo passado de
desenvolvimento social e econômico, vem de áreas que foram colonizadas por
europeus; o café é um produto que permanece no centro dos debates contemporâneos
sobre globalização, comércio internacional, direitos humanos e destruição ambiental.
A imaginação sociológica nos permite ver que muitos eventos que parecem dizer
respeito somente ao indivíduo, na verdade, refletem questões mais amplas (o divórcio, o
desemprego), assim um “problema pessoal” pode ser na verdade uma “questão pública”.
Sua decisão individual reflete sua posição numa sociedade mais vasta. No entanto,
embora sejamos influenciados pelos contextos sociais em que nos encontramos, nenhum
de nós está simplesmente determinado em nosso comportamento por aqueles contextos.
Possuímos e criamos nossa própria individualidade. É trabalho da sociologia investigar
as conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos.
O conceito de estrutura social se refere ao fato de que os contextos sociais de nossas
vidas não consistem apenas em conjuntos aleatórios de eventos ou ações; eles são
estruturados ou padronizados de formas distintas. Há regularidades nos modos como
nos comportamos e nos relacionamentos que temos com os outros. As sociedades
humanas estão sempre em processo de estruturação. Elas são reestruturadas a todo o
momento pelos próprios “blocos de construção” que as compõem, ou seja, os seres
humanos.
A sociologia nos permite ver o mundo social a partir de outros pontos de vista que não o
nosso, desse modo, temos consciência das diferenças culturais. A pesquisa sociológica
fornece ajuda prática na avaliação dos resultados de iniciativas políticas. A sociologia
pode nos fornecer auto-esclarecimento, uma auto-compreensão, pois quanto mais
sabemos por que agimos como agimos e como se dá o completo funcionamento de
nossa sociedade, provavelmente seremos mais capazes de influenciar nossos próprios
futuros.
O desenvolvimento do pensamento sociológico – Primeiros teóricos: O estudo objetivo
e sistemático da sociedade e do comportamento humano é datam do fim do século
XVIII, tendo a ciência como guia para compreender o mundo. O cenário que dá origem
à sociologia foi a série de mudanças radicais introduzidas pelas “duas grandes
revoluções” da Europa dos séculos XVIII e XIX. A Revolução Francesa marcou o
triunfo das ideias e dos valores seculares, como liberdade e igualde, sobre a ordem-
social tradicional. A Revolução Industrial promoveu transformações sociais e
econômicas que favoreceram o desenvolvimento de inovações tecnológicas, como a
energia e a máquina, além de colabora para uma enorme migração de camponeses para
a cidade introduzindo novas formas de relações sociais. A ruptura com os modos e vida
tradicional desafiou os pensadores a desenvolverem uma nova compreensão tanto do
mundo social, como do natural.
Augusto Comte: inventor da palavra sociologia para distingui-la de outras concepções.
Ele refletia sobre os eventos turbulentos como a Revolução Francesa, que introduzira
mudanças significativas na sociedade, e o crescimento da industrialização estava
alterando a vida tradicional da população francesa. Assim, ele buscou criar uma ciência
da sociedade que pudesse explicar as leis do mundo social da mesma forma que a
ciência natural explicava o funcionamento do mundo físico. Sua visão sociológica era a
da ciência positiva, desse modo, a sociologia deveria aplicar os mesmos métodos
científicos rigorosos ao estudo da sociedade que a física ou a química usam no estudo
do mundo físico. Uma abordagem positivista da sociologia acredita na produção de
conhecimento sobre a sociedade, baseada em evidência empíricas tiradas a partir da
observação, da comparação e da experimentação. Comte formulou a leis dos três
estágios para entender o mundo deve-se passar pelo estágio teológico, metafísico e
positivo.
Émile Durkheim: via a sociologia como uma nova ciência que poderia ser usada para
elucidar questões filosóficas tradicionais ao examiná-las de uma maneira empírica.
Devemos estudar a visa social com a mesma objetividade com que os cientistas estudam
o mundo natural. Estude os fatos sociais como coisas, a vida social pode ser analisada
tão rigorosamente como os objetos ou os eventos da natureza. A principal preocupação
intelectual da sociologia é o estudo de fatos sociais – os aspectos da vida social que
modelam nossas ações como indivíduos, tais como o estado da economia ou a
influência da religião. Os fatos sociais são meios de agir, pensar ou sentir que são
externos aos indivíduos e têm sua própria realidade fora das vidas e das percepções das
pessoas individuais. Além disso, os fatos sociais exercem um poder coercitivo sobre os
indivíduos. Os fatos sociais podem forçar a ação humana numa diversidade de maneiras,
indo da punição absoluta (no caso de um crime, por exemplo), à rejeição social (no caso
de um comportamento inaceitável) e a simples incompreensão (no caso de uso
inapropriado da língua). O suicídio como fato social, pois fatores sociais influenciam no
comportamento suicida, como, por exemplo, a anomia – sentimento de falta de
objetivos ou de desespero, provocado pela vida social moderna.
Karl Marx – buscava explicar as mudanças que estavam ocorrendo durante a época da
Revolução Industrial. A maior parte de seu trabalho se concentrou em temas
econômicos. As mudanças mais importantes estavam estreitamente ligadas ao
desenvolvimento do capitalismo que possui dois elementos principais: o capital,
qualquer bem, incluindo dinheiro, máquinas ou mesmo fábricas, que possa ser usado ou
investido para produzir bens futuros. A acumulação do capital anda de mãos dadas com
o segundo elemento, a mão-de-obra assalariada, que se refere ao conjunto de
trabalhadores que não possuem os meios de sua sobrevivência, mas precisam encontrar
emprego fornecido pelos detentores do capital. Capitalistas versus proletariados vivem
relações caracterizadas pelo conflito, uma vez que a relação entre classes é de
exploração, pois os trabalhadores têm pouco ou nenhum controle sobre o seu trabalho, e
os empregadores são capazes de gerar lucro ao se apropriar do produto do trabalho dos
operários. Sua concepção materialista da história propõe que a mudança social é
estimulada primeiramente por influências econômicas. Os conflitos de classes
proporcionam a motivação para o desenvolvimento histórico – eles são o “motor da
história”. Marx acreditava na inevitabilidade de uma revolução dos trabalhadores, que
poderia derrubar o sistema capitalista e introduzir uma nova sociedade na qual não
haveria classes – nem visões em larga escala entre ricos e pobres.
Max Weber – defendia que as ideias e os valores têm exatamente o mesmo impacto na
mudança social que os fatores econômicos. A sociologia deveria se concentrar na ação
social e não nas estruturas. Os indivíduos teriam a habilidade de agir livremente e de
moldar o futuro. As estruturas na sociedade eram formadas por uma complexa interação
de ações. Os indivíduos estavam cada vez mais se pautando em avaliações racionais,
instrumentais. O capitalismo estava dominado pela ascensão da ciência e da burocracia.

Segundo Mills, a imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida intima e para
a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem freqüentemente uma
consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agitação, busca-se a estrutura da sociedade moderna e dentro dessa estrutura são formuladas as psicologias de diferentes
homens e mulheres. Através disso, a ansiedade pessoal dos indivíduos é focalizada sobre fatos explícitos e a indiferença do público se transforma em participação nas questões
públicas. O primeiro fruto dessa imaginação _ e a primeira lição da ciência social que incorpora _ é a idéia de que o individuo só pode compreender sua própria experiência
e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu período; A imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre
ambas, dentro da sociedade. Essa é sua tarefa e sua promessa. Essa imaginação e a capacidade de passar de uma perspectiva a outra – da política para a psicológica; do
exame de uma única família para a análise comparativa dos orçamentos nacionais do mundo.... é a capacidade de ir das mais impessoais e remostas transformações para as
características mais íntimas do ser humanos – e ver a relação entre as duas. Sua utilização se fundamenta na necessidade de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo na
sociedade e no período no qual sua qualidade e seu ser se manifestam.

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