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esfera criminal. Até porque não houve a mais mínima alteração, no ordenamento
jurídico constitucional e infraconstitucional, permanecendo incólume a exegese
sistemática, já defendida, por parte de tantos autores, que escreveram, sobre o
tema, segundo os quais refulge a nulidade dos inquéritos presididos, diretamente,
pelo Ministério Público.
Tanto assim que, mesmo após a rejeição da PEC-37, continua, em
trâmite, no STF, a ADI 3309, de relatoria do Ministro Ricardo Levandovski,
aforada pela Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol-Brasil),
conjurando o art. 8º,4 da Lei Orgânica do Ministério Público da União e a Re-
solução 77/2004, aprovada, recentemente, pelo Conselho Superior do Ministério
Público Federal, para regulamentar os procedimentos de investigação criminal
dos procuradores da República, em todo o país.
Enfatize-se que a atuação do Ministério Público, ainda que seja, meramente,
subsidiária ou secundária, não se poderá excogitar de legitimidade ministerial,
por isso que a sua atribuição, delimitada, constitucionalmente, na fase pré-
-processual, adstringe-se, pura e tão-somente, à requisição de instauração de
inquérito policial e de diligências investigatórias à polícia judiciária.
Em hipóteses assemelhadas, o oferecimento de denúncia, com escoras,
meramente, em elementos, colhidos, em investigação ministerial, pode, eventu-
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almente, inquinar todos os atos procedimentais de mácula irremissível, a qual,
todavia, merece temperamentos, só e somente, quando a denúncia vier esta-
deada, também, em outras peças informativas, tais como, prova documental,
ou pericial, suficientes e bastantes para consubstanciar o lastro probatório mínimo.
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LC 75 - Art. 8o Para o exercício de suas atribuições, o Ministério Público da União poderá, nos procedimentos de sua competência:
I- notificar testemunhas e requisitar sua condução coercitiva, no caso de ausência injustificada;
II- requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades da Administração Pública direta ou indireta;
III- requisitar da Administração Pública serviços temporários de seus servidores e meios materiais necessários para a realização
de atividades específicas;
IV- requisitar informações e documentos a entidades privadas;
V- realizar inspeções e diligências investigatórias;
VI- ter livre acesso a qualquer local público ou privado, respeitadas as normas constitucionais pertinentes à inviolabilidade
do domicílio;
VII- expedir notificações e intimações necessárias aos procedimentos e inquéritos que instaurar;
VIII- ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caráter público ou relativo a serviço de relevância pública;
IX- requisitar o auxílio de força policial.
§1o O membro do Ministério Público será civil e criminalmente responsável pelo uso indevido das informações e documentos
que requisitar; a ação penal, na hipótese, poderá ser proposta também pelo ofendido, subsidiariamente, na forma da lei processual
penal.
§ 2o Nenhuma autoridade poderá opor ao Ministério Público, sob qualquer pretexto, a exceção de sigilo, sem prejuízo da subsistência
do caráter sigiloso da informação, do registro, do dado ou do documento que lhe seja fornecido.
§ 3o A falta injustificada e o retardamento indevido do cumprimento das requisições do Ministério Público implicarão a
responsabilidade de quem lhe der causa.
§ 4o As correspondências, notificações, requisições e intimações do Ministério Público quando tiverem como destinatário
o Presidente da República, o Vice-Presidente da República, membro do Congresso Nacional, Ministro do Supremo Tribunal
Federal, Ministro de Estado, Ministro de Tribunal Superior, Ministro do Tribunal de Contas da União ou chefe de missão diplomática
de caráter permanente serão encaminhadas e levadas a efeito pelo Procurador-Geral da República ou outro órgão do Ministério
Público a quem essa atribuição seja delegada, cabendo às autoridades mencionadas fixar data, hora e local em que puderem
ser ouvidas, se for o caso.
§ 5o As requisições do Ministério Público serão feitas fixando-se prazo razoável de até dez dias úteis para atendimento, prorrogável
mediante solicitação justificada.
O art. 129, VI, da CF, ao atribuir ao Ministério Público poderes para “expedir
notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando
informações e documentos para instruí-los”, o faz, com referência aos inquéritos
civis públicos e outros, também, de natureza administrativa, não abrangendo,
contudo, o inquérito penal, cuja presidência não incumbe ao órgão ministerial.
Realce-se, ainda, que a exegese que melhor calha ao texto legal, estam-
pado no art. 129, da Lei Maior, é aquela, em consonância com a qual não se pode
inteligir, nem com o auxílio de “lupas aplanáticas”, autorização, outorgada pelo
constituinte de 1988 ao Ministério Público, para substituir-se à polícia judiciária,
em sua função de investigar crimes.
O constitucionalista Manoel Gonçalves Ferreira Filho, em lição prestantíssima
à espécie fulcral, pontua:
[...] Ora, se a Constituição dá ao Ministério Público o po-
362 der de requisitar a instauração de inquérito policial é porque
obviamente não lhe dá o poder de realizar a investigação
criminal que se faz por meio de tal inquérito. Se o Ministério
Público pudesse realizar tal inquérito, para que autorizá-lo a
requisitar a sua instauração?’
[...]
É falaciosa, por outro lado, a tese do Ministério Público
- constituindo forma dissimulada de burlar o texto consti-
tucional - pretender iniciar investigação através de inquérito
civil, para, ao final da apuração, dar ao conteúdo investigado
conotação penal e, com base nele, oferecer denúncia. Não
existe nada no texto constitucional que autorize o Ministério
Público a instaurar e presidir investigação criminal, ao
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contrário das pretensões do Parquet.
5
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Apud BITENCOURT, Cezar Roberto. A Inconstitucionalidade dos Poderes
Investigatórios do Ministério Público. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo: RT, ano 15, n. 66, p. 245,.
maio/jun. 2007.
6
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso de Habeas Corpus 66.176-9/SC, de Relatoria do Ministro Carlos Madeira,
julgamento 26.04.1988.
7
______. Recurso Extraordinário 205.473-9/AL, a Segunda Turma, pelo voto do Ministro Carlos Velloso, julgamento
15.12.1988.
8
BITENCOURT, Cezar Roberto. A Inconstitucionalidade dos Poderes Investigatórios do Ministério Público. Revista
Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 15, n. 66, p. 244-246, maio/jun. 2007.
9
Apud VIEIRA, Luís Guilherme. O Ministério Público e a Investigação Criminal. Revista de Estudos Criminais, Porto.
Alegre: Notadez, ano 4, n. 15, p. 30, 2004.
Luís Guilherme Vieira, a seu turno, chega mesmo a fazer uma breve inter-
pretação histórica, trazendo a informação de que, no Brasil, as tentativas de incluir,
dentre as atribuições ministeriais, a de realizar as investigações preparatórias
da ação penal, foram frustradas:
Em várias ocasiões tentou-se modificar esse regime, mas as
propostas foram rejeitadas. Isso foi o que aconteceu quando,
em 1935, se procurou instituir juizados de instrução, proposta
apresentada pelo então Ministro da Justiça, Vicente Ráo. O
mesmo se passou, em várias ocasiões, quando se tentou
conferir atribuições investigatórias ao Parquet; propostas
nessa linha foram rejeitadas na elaboração da Constituição
de 1988, nas discussões que deram origem à lei comple-
mentar relativa ao Ministério Público, em 1993, e também
nos debates que envolveram as propostas de emendas
constitucionais discutidas em 1995 e 1999. Especificamente
nas discussões da assembléia constituinte, o texto aprovado
10
SILVA José Afonso da. O Ministério Público pode realizar e/ou presidir investigação criminal? Revista Brasileira de
Ciências Criminais, São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 12, n. 49, p. 371-373, jul./ago. 2004.
11
VIEIRA, Luís Guilherme. O Ministério Público e a Investigação Criminal. Revista de Estudos Criminais, Porto
Alegre: Notadez, ano 4, n. 15, p. 35-36, 2004.
12
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Segunda Turma, Recurso Extraordinário 233.072-4/RJ, julgamento 18.05.1999.
.
13
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 3 ed. São Paulo: RT, 2004. p. 73-74.
14
Ibidem, p. 73-74.
15
PRADO, Geraldo. A investigação criminal e a PEC 37. Boletim IBCCrim, ano 21, n. 248, jul. 2013.
16
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 10. ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2011. p. 585.
.
17
BITENCOURT, op. cit., p. 244-246.
18
MORAES FILHO, Evaristo. O Ministério Público e o Inquérito Policial. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São
Paulo: RT, ano 5, n. 19, p. 105-110, jul./set.1997.
19
BITENCOURT, op. cit., p. 249-250.
20
GRINOVER, Ada Pellegrini. Investigações pelo Ministério Público. Boletim IBCCRIM, São Paulo, v. 12, n. 15, p. 4,.
dez. 2004.