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Júri:
Setembro de 2013
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Controlo de conversores de eletrónica de potência para integração com SMES na melhoria da
qualidade de energia elétrica.
Copyright © Luís Diogo da Silva Casimiro, Faculdade de Ciências e Tecnologias, Universidade Nova
de Lisboa.
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iv
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradeço a quem tornou esta dissertação possível, os meus orientadores, os
professores João Murta Pina e João Martins, quer por toda a colaboração prestada durante o
desenvolvimento desta dissertação, quer por aumentarem o meu interesse pela área das energias,
através dos conhecimentos transmitidos no decorrer do meu percurso académico.
Aproveito também para desejar a continuação de um bom trabalho aos futuros doutores da sala
1.8. Boa gente, sempre bem-humorada e pronta a ajudar quando solicitado, a todos vocês um forte
abraço.
A todos os colegas e amigos que me acompanharam ao longo deste percurso. Fizeram de mim
não só um melhor jogador de PES, como tornaram algumas das horas passadas a trabalhar em
momentos muito mais agradáveis. Não vale a pena referir nomes (vocês sabem quem são!), mas a
todos, continentais e ilhéus, um brinde da minha parte, sem dúvida que ficarão companheiros para a
vida.
Um agradecimento especial à minha família, principalmente aos meus pais. Ainda que nem
sempre fácil, investiram na minha educação e apoiaram-me em todos os momentos para que
continuasse a mesma. Outro dos meus agradecimentos maiores vai para a Ana, pela força e apoio
prestado nestes últimos anos do curso, bem como por me ajudar a organizar e escrever algumas
passagens deste documento. Um grande beijo para todos vocês.
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Resumo
A qualidade de energia elétrica (QEE) tem sido um aspeto da rede elétrica que ganha cada vez
mais importância, tanto na investigação académica como no desenvolvimento de soluções técnicas.
Neste campo, das várias tecnologias existentes para atenuar os efeitos das perturbações na
rede elétrica, o Unified Power Quality Conditioner (UPQC) apresenta bons resultados, pela
combinação das capacidades de filtragem e restauração de tensão dos conversores ativos, paralelo e
série. No entanto, em distúrbios de maior duração e situações de sobretensão, o UPQC apresenta
algumas limitações, que podem ser suprimidas através da integração de um sistema de
armazenamento de energia. Neste trabalho, optou-se pela utilização de uma tecnologia
supercondutora, os SMES (Superconducting Magnetic Energy Storage), dada a sua elevada
densidade de potência.
Desta forma, o objetivo desta dissertação é contribuir para a melhoria da qualidade da energia,
através do desenvolvimento de um sistema de filtragem ativa unificada integrada com SMES.
O trabalho envolveu uma reflexão sobre os principais problemas que afetam a QEE nas redes de
distribuição, as soluções já existentes e um estudo aprofundado dos vários componentes a integrar
no dimensionamento do sistema. Na implementação do sistema pretendeu-se fazer uma análise mais
detalhada sobre o comportamento desta solução, na compensação de alguns dos principais
distúrbios que atingem a rede elétrica. Desenvolveu-se ainda um método de controlo de sobretensões
que retira partido das características específicas da tecnologia SMES.
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viii
Abstract
The power quality (PQ) is an aspect of the electric network which has been gaining importance in
the academic investigation as well as in the development of technical solutions.
In this field, of the several technologies existent to attenuate the effects of the disturbances in the
electric network, the Unified Power Quality Conditioner (UPQC) presents good results, due to the
combination of filtrate and voltage restoration capacities of the active power converters topologies,
series and parallel. However, in disturbances of larger duration and overvoltage situations, the UPQC
shows some limitations that can be suppressed through the integration of an energy storage system.
In this paper, a superconductor technology was used, the Superconducting Magnetic Energy Storage
(SMES), due to its elevated density of power.
Being so, the objective of this dissertation is to contribute to the improvement of the power quality
through the development of a unified active filtering system integrated with SMES.
This work involved a reflexion about the major problems affecting PQ in the distribution networks,
the solutions already existent, and a more profound study of the several components to integrate in
the dimensioning of the system. In its implementation, a detailed analysis about the behavior of this
solution in the compensation of some of the major disturbances hitting the electric network was
intended. A control method of overvoltage taking advantage of the specific characteristics of the
SMES technology was also developed.
Evaluating the performance of the topology, it has revealed to be quite efficient in the control and
compensation of tension disturbances, apart from mitigating harmonic contents of current, in different
types of charges. Although the test has only been conducted in simulations in this work, it’s expected
that its practical application will also lead to interesting results.
Keywords: Power Quality, Active Power Converters, UPQC, SMES, Overvoltage Control.
ix
x
Índice
1. Introdução........................................................................................................................... 1
2. Revisão Bibliográfica....................................................................................................... 7
3. Dimensionamento e Implementação...................................................................... 41
6. Bibliografia ...................................................................................................................... 89
7. Anexos ............................................................................................................................... 95
xii
Índice de Figuras
Figura 2.1: Características das subtensões registadas em linhas aéreas (à esquerda) e
subterrâneas (à direita) de média tensão, entre os anos de 1996 e 1998 (EDP, 2005). ....................... 7
Figura 2.2: Distúrbios na QEE: a) interrupção, b) sobretensão, c) subtensão e d) harmónicas. .... 8
Figura 2.3: Filtro passa-baixo LC. .................................................................................................. 10
Figura 2.4: Filtro sincronizado de frequência única (à esquerda) e amortecido de segunda ordem
(à direita)................................................................................................................................................ 11
Figura 2.5: Diagrama unifilar de um filtro ativo série típico com VSI. Adaptado de (Monteiro,
2008)...................................................................................................................................................... 12
Figura 2.6: Esquema unifilar típico de um DVR com VSI. Adaptado de (Monteiro, 2008). ........... 13
Figura 2.7: Conversor trifásico constituído por três transformadores monofásicos independentes
com inversor em configuração full h-bridge (Pregitzer, 2006). ............................................................. 15
Figura 2.8: Topologia de DVR com energia extraída do lado da rede. ......................................... 16
Figura 2.9: Topologia de DVR com energia extraída do lado da carga. ........................................ 16
Figura 2.10: Diagrama do método de controlo feedforward baseado na utilização de um circuito
PLL. ....................................................................................................................................................... 18
Figura 2.11: Esquema unifilar típico de um Filtro Ativo Paralelo com VSI. Adaptado de (Monteiro,
2008)...................................................................................................................................................... 19
Figura 2.12: Princípio de funcionamento do FAP. Adaptado de (Monteiro, 2008). ....................... 19
Figura 2.13: Conversor trifásico de seis pulsos. ............................................................................ 20
Figura 2.14: Diagrama de funcionamento da Teoria p-q. .............................................................. 21
Figura 2.15: Diagrama de funcionamento do método SRF. .......................................................... 22
Figura 2.16: Simulação do cálculo das correntes de referência pelo método SRF sob tensões
equilibradas e desequilibradas. ............................................................................................................. 23
Figura 2.17: Esquema unifilar típico de um UPQC. Adaptado de (Monteiro, 2008). ..................... 24
Figura 2.18: Conversor bidirecional AC/DC trifásico de seis pulsos. ............................................ 24
Figura 2.19: Diagrama de funcionamento do método SRF com controlo da tensão no lado DC. . 25
Figura 2.20: Comparação entre tecnologias de armazenamento de energia elétrica. Adaptado de
(NIPE / UNICAMP, 2005) ...................................................................................................................... 27
Figura 2.21: Comportamento da resistência elétrica do mercúrio de acordo com a temperatura
(Onnes, 1913). ....................................................................................................................................... 28
Figura 2.22: Diagrama T-J-H típico de um supercondutor (Pina, 2010). ....................................... 29
Figura 2.23: Curvas de magnetização de supercondutores: tipo I (tracejado preto) e tipo II
(ponteado azul). Retirado de (Catalão, 2013). ...................................................................................... 29
Figura 2.24: Topologia tipo de um sistema SMES (Pina, 2010). ................................................... 31
Figura 2.25: Estruturas e topologias de implementação de bobinas supercondutoras. Adaptado
de (Amaro, 2013). .................................................................................................................................. 32
Figura 2.26: Topologia típica de um CSC comandado a 6 pulsos (Pina, 2010). ........................... 34
Figura 2.27: Topologia típica de um VSC (Pina, 2010). ................................................................ 34
xiii
Figura 2.28: Formas de comutação do chopper para os diferentes modos de funcionamento:
carga (à esquerda), modo persistente (ao centro) e modo de descarga (à direita). Retirado de (Pina,
2010)...................................................................................................................................................... 35
Figura 2.29: Controlo baseado em PWM. ...................................................................................... 38
Figura 2.30: Controlo por Histerese. .............................................................................................. 39
Figura 3.1: Representação unifilar do sistema implementado. ...................................................... 41
Figura 3.2: Conversor típico VSC com IGBT. ................................................................................ 42
Figura 3.3: Sistema de condicionamento de potência implementado. .......................................... 42
Figura 3.4: Circuito de dissipação da energia da bobina supercondutora. .................................... 43
Figura 3.5: Evolução da tensão no barramento perante uma sobretensão de 50%, para o
condensador utilizado (em cima), para um condensador com uma capacidade de armazenamento de
energia igual à SMES. ........................................................................................................................... 44
Figura 3.6: Funcionamento do sistema de controlo da bobina SC. ............................................... 45
Figura 3.7: Evolução da corrente na bobina do SMES e tensão no barramento contínuo. .......... 46
Figura 3.8: Evolução da corrente na bobina supercondutora, estando inicialmente descarregada.
............................................................................................................................................................... 47
Figura 3.9: Comportamento da corrente na bobina supercondutora durante sobretensões. ........ 47
Figura 3.10: Curva de descarga da corrente da bobina SC e respetiva corrente no condensador
do barramento DC. ................................................................................................................................ 48
Figura 3.11: Diagrama simplificado do FAP implementado. .......................................................... 49
Figura 3.12: Tensão mínima do barramento. Adaptado de (Rashid, 2011). ................................. 50
Figura 3.13: SRF com controlo da tensão DC através de um controlador PI. ............................... 51
Figura 3.14: Sinal de referência calculado pelo método SRF (a vermelho) e, corrente na saída do
FAP (a verde) para a fase correspondente ........................................................................................... 51
Figura 3.15: Funcionamento do sistema implementado durante uma interrupção total. ............... 52
Figura 3.16: Transitório de tensão antes e depois da aplicação do algoritmo de transição suave.
............................................................................................................................................................... 52
Figura 3.17: Representação simplificada do DVR implementado. ................................................ 53
Figura 3.18: Conversor monofásico full H-bridge implementado com IGBT e díodos................... 55
Figura 3.19: Sinal de referência calculado pelo método feedforward baseado na utilização de um
circuito PLL (a amarelo) e, corrente na saída do DVR (a rosa) para a fase correspondente. .............. 55
Figura 3.20: Bloco implementado para fazer a diferenciação entre subtensão e sobretensão. .... 57
Figura 3.21: Corrente durante a transição para uma interrupção. ................................................. 57
Figura 4.1: Onda típica de corrente de um conversor de 6 pulsos com indutor de alto valor de
filtragem (à esquerda) e onda gerada (à direita). .................................................................................. 59
Figura 4.2: Espetro harmónico e THD total da onda gerada na carga não linear 1. ..................... 60
Figura 4.3: Onda típica de corrente de um conversor de 6 pulsos com condensador de filtragem e
indutor série de filtragem (à esquerda) e onda gerada (à direita). ........................................................ 60
Figura 4.4: Espetro harmónico e THD total da onda gerada na carga não linear 2. ..................... 60
xiv
Figura 4.5: Onda típica de corrente de um conversor de 6 pulsos com condensador de filtragem
(à esquerda) e onda gerada (à direita). ................................................................................................. 60
Figura 4.6: Espetro harmónico e THD total da onda gerada na carga não linear 3. ..................... 61
Figura 4.7: Espetro harmónico e THD total, na tensão de carga (à esquerda) e na corrente da
rede (à direita). ...................................................................................................................................... 61
Figura 4.8: Evolução da corrente na bobina SC para uma carga resistiva de 5 kW sob diferentes
magnitudes de cavas............................................................................................................................. 62
Figura 4.9: Evolução da corrente na bobina SC para uma carga resistiva de 2,5 kW sob
diferentes magnitudes de cavas. ........................................................................................................... 62
Figura 4.10: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), para a carga resistiva em funcionamento normal. ............................................................... 63
Figura 4.11: Tensão na rede (em cima), tensão na carga (ao centro) e corrente na carga (em
baixo) durante uma cava de tensão monofásica. ................................................................................. 64
Figura 4.12: Tensão na rede (em cima), tensão na carga (ao centro) e corrente na carga (em
baixo) durante uma cava de tensão trifásica......................................................................................... 64
Figura 4.13: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), durante o distúrbio de tensão. .............................................................................................. 65
Figura 4.14: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 65
Figura 4.15: Tensão na rede (em cima) e tensão na carga (em baixo) durante uma sobretensão
trifásica. ................................................................................................................................................. 65
Figura 4.16: Corrente na rede (em cima) e corrente na carga (em baixo) durante uma
sobretensão trifásica. ............................................................................................................................ 66
Figura 4.17: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), durante o distúrbio de tensão. .............................................................................................. 66
Figura 4.18: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 66
Figura 4.19: Tensão na carga (em cima), corrente na rede (ao centro) e corrente na carga (em
baixo) durante uma interrupção total. .................................................................................................... 67
Figura 4.20: Espectro harmónico da tensão e corrente na carga, durante o distúrbio de tensão. 67
Figura 4.21: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 68
Figura 4.22: Corrente na rede (em cima), corrente na carga (ao centro) e tensão na carga (em
baixo). .................................................................................................................................................... 69
Figura 4.23: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita)................................................................................................................................................ 69
Figura 4.24: Evolução da potência reativa na carga e na rede elétrica, com e sem o FAP ligado.
............................................................................................................................................................... 70
Figura 4.25: Tensão na rede (em cima) e tensão na carga (em baixo) durante uma cava de
tensão trifásica. ..................................................................................................................................... 70
xv
Figura 4.26: Corrente na rede (em cima) e corrente na carga (em baixo) durante uma cava de
tensão trifásica. ..................................................................................................................................... 71
Figura 4.27: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), durante o distúrbio de tensão............................................................................................... 71
Figura 4.28: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 71
Figura 4.29: Tensão na rede (em cima) e tensão na carga (em baixo) durante uma sobretensão
trifásica. ................................................................................................................................................. 72
Figura 4.30: Corrente na rede (em cima) e corrente na carga (em baixo) durante uma
sobretensão trifásica. ............................................................................................................................ 72
Figura 4.31: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), durante o distúrbio de tensão. .............................................................................................. 72
Figura 4.32: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 73
Figura 4.33: Corrente na rede (em cima) e corrente na carga (em baixo) durante uma interrupção
total. ....................................................................................................................................................... 73
Figura 4.34: Tensão na carga durante uma interrupção total. ....................................................... 74
Figura 4.35: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 74
Figura 4.36: Corrente na rede (em cima), corrente na carga (ao centro) e tensão na carga (em
baixo). .................................................................................................................................................... 75
Figura 4.37: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), para a carga não linear 2 em funcionamento normal. ......................................................... 75
Figura 4.38: Evolução da potência reativa na carga e na rede elétrica, com e sem o FAP ligado.
............................................................................................................................................................... 76
Figura 4.39: Tensão na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma cava de tensão
trifásica. ................................................................................................................................................. 76
Figura 4.40: Corrente na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma cava tensão
trifásica. ................................................................................................................................................. 77
Figura 4.41: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), durante o distúrbio de tensão. .............................................................................................. 77
Figura 4.42: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 77
Figura 4.43: Tensão na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
............................................................................................................................................................... 78
Figura 4.44: Corrente na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma sobretensão
trifásica. ................................................................................................................................................. 78
Figura 4.45: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita)................................................................................................................................................ 79
xvi
Figura 4.46: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 79
Figura 4.47: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), para a carga não linear sem filtros sincronizados 3 em funcionamento normal. ................. 80
Figura 4.48: Corrente na rede (em cima), corrente na carga (ao centro) e tensão na carga (em
baixo). .................................................................................................................................................... 80
Figura 4.49: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), para a carga não linear 3 em funcionamento normal. ......................................................... 81
Figura 4.50: Evolução da potência reativa na carga e na rede elétrica, com e sem o FAP ligado.
............................................................................................................................................................... 81
Figura 4.51: Tensão na rede (em cima) e tensão na carga (em baixo) durante uma cava de
tensão trifásica. ..................................................................................................................................... 81
Figura 4.52: Corrente na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma cava de tensão
trifásica. ................................................................................................................................................. 82
Figura 4.53: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), durante o distúrbio de tensão. .............................................................................................. 82
Figura 4.54: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 82
Figura 4.55: Tensão na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
............................................................................................................................................................... 83
Figura 4.56: Corrente na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma sobretensão
trifásica. ................................................................................................................................................. 83
Figura 4.57: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede
(à direita), durante o distúrbio de tensão. .............................................................................................. 84
Figura 4.58: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
............................................................................................................................................................... 84
Figura 7.1: Bloco que deteta o fim de uma interrupção. ................................................................ 99
xvii
xviii
Índice de Tabelas
Tabela 1.1: Perdas financeiras típicas resultantes de subtensões em alguns setores de atividade
(Chapman, 2001). .................................................................................................................................... 2
Tabela 1.2: Principais funcionalidades possíveis de um UPQC (Monteiro, 2008) ........................... 2
Tabela 2.1: Classificação dos problemas de QEE na tensão segundo a norma IEEE 1559-1995. 8
Tabela 2.2: Pontos fortes das configurações solenoidal e toroidal de bobinas supercondutoras.
Adaptado de (Oliveira, 2010)................................................................................................................. 32
Tabela 3.1: Principais parâmetros da bobina SC. .......................................................................... 41
Tabela 7.1: Limites de compatibilidade harmónica de tensão para redes BT. .............................. 95
Tabela 7.2: Limites percentuais de harmónicas de corrente para sistemas com tensões entre
120V e 69 kV. ........................................................................................................................................ 97
Tabela 7.3: Limites percentuais de harmónicas de tensão. ........................................................... 97
xix
xx
Simbologia
Ripple da corrente pico a pico de compensação fornecida pelo FAP (A).
Tensão de ripple no condensador do barramento contínuo (V).
xxi
Corrente de saída de cada fase do DVR (A).
Índice de modelação.
Fator de qualidade.
xxii
Razão entre o número de espiras dos lados primário e secundário dos
transformadores monofásicos do DVR.
Sinal de referência.
xxiii
xxiv
Notações
AC Alternating current ou corrente alterna, termo também aplicado a tensão
alternada.
AE Armazenamento de Energia.
EP Eletrónica de Potência.
FA Filtro Ativo.
FP Filtro Passivo.
GD Geração Distribuída.
IA Inteligência Artificial.
xxv
SC Supercondutor.
xxvi
1. Introdução
Desde pequenas coisas do nosso quotidiano como acender uma lâmpada até ao funcionamento
de máquinas industriais, a dependência de eletricidade é elemento comum. É por demais evidente a
sua importância no desenvolvimento social e económico no mundo que hoje conhecemos. Como tal,
garantir um fornecimento eficaz de energia elétrica tornou-se imprescindível.
O conceito de Qualidade de Energia Elétrica (QEE), ou em inglês Power Quality (Bollen, 2000),
surgiu pela primeira vez numa publicação em 1968. Por essa altura considerava-se que um sistema
elétrico tinha qualidade se garantisse um fornecimento de energia elétrica sem interrupções, ou seja,
qualidade era sinónimo de continuidade.
A evolução tecnológica e os novos problemas da rede alteraram os moldes que definem a QEE.
Hoje em dia, no Regulamento da Qualidade de Serviço (RQS) português, que é o instrumento que
estabelece os padrões de qualidade no fornecimento de energia elétrica, a QEE é abordada segundo
1
três padrões individuais :
Esta nova perceção de como deve ser a energia elétrica vai muito além da simples continuidade
do fornecimento, e tais preocupações são cada vez tidas em linha de conta, pois os prejuízos
económicos relacionados com perturbações na QEE são bastante elevados. Em (EDP, 2005) são
apresentados os resultados de alguns estudos dedicados a estimar estes custos. Segundo o estudo
de 1991 da Business Week, as perdas custam cerca de 26 mil milhões de doláres/ano só nos EUA.
Uma análise da Fortune Magazine de 1998, também realizada nos EUA, já refere prejuízos a rondar
os 10 mil milhões de doláres/ano. Na União Europeia, um estudo divulgado pela Copper Development
1
Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). [Consult. 25/08/2013]. Regulamento da Qualidade de
Serviço. Disponível em:
http://www.erse.pt/pt/electricidade/regulamentos/qualidadedeservico/Paginas/default.aspx
1
Association (2001), e que considera somente os setores industrial e comercial, estima um volume de
perdas de 10 mil milhões euros/ano, enquanto os custos associados à atenuação destes problemas
rondam investimentos na ordem 5% do total contabilizado com as perdas. Algumas disparidades de
valores devem-se à dificuldade de contabilizar tais efeitos, mas a tendência de grandes prejuízos é
comum.
Tabela 1.1: Perdas financeiras típicas resultantes de subtensões em alguns setores de atividade (Chapman,
2001).
Como tal, nas últimas décadas várias foram as soluções desenvolvidas para melhorar a
qualidade e a continuidade do fornecimento de energia elétrica, sendo os compensadores ativos os
mais destacados. Estes dispositivos possuem configurações em série e paralelo, sendo as primeiras
mais indicadas para solucionar perturbações ao nível da tensão da rede, e as segundas mais
direcionadas a controlar distúrbios na corrente. Da utilização conjunta destes conversores resulta o
Unified Power Quality Conditioner (UPQC), que permite assim compensar a grande maioria dos
problemas relacionados com a qualidade energética presentes num sistema elétrico, nomeadamente
no que à distribuição diz respeito (Boyra, 2012). A Tabela 1.2 indica as principais funcionalidades que
esta topologia unificada pode apresentar.
Conversor Função
Regular tensão
Filtragem ativa da tensão
Série
Compensar desequilíbrios de tensão
Prover estabilidade ao sistema
Filtragem ativa da corrente
Paralelo Compensar desequilíbrios da corrente
Correção do fator potência
Interface com dispositivos de energias renováveis
2
Na sua composição, o UPQC possui um barramento em tensão continua (DC Link) que é
partilhado pelos dois filtros ativos. Como será verificado na presente dissertação, manter uma tensão
contante no DC Link é bastante importante para assegurar um bom funcionamento do conversor
unificado, principalmente sob distúrbios ao nível da tensão. Para este efeito, são utilizadas cada vez
mais tecnologias de armazenamento de energia, que vão muito além de bancos de condensadores.
De entre todas as tecnologias de armazenamento de energia existentes atualmente, os
Superconducting Magnetic Energy Storage (SMES) são a solução que mais rapidamente consegue
descarregar grandes quantidades de potência. Embora ainda possuam um custo elevado, a
descoberta de novos materiais supercondutores nas últimas décadas, associado com novos
paradigmas de utilização, perfilam os SMES como uma solução de elevado potencial para aplicações
de qualidade de energia.
1.2. Objetivos
A literatura analisada sobre sistemas que incluem conversão ativa série, encontra-se muitas
vezes dedicada somente a estudar situações onde ocorrem cavas de tensão, descartando as
situações de sobretensão. Já em situações onde é analisada a resposta destes sistemas perante
sobretensões, também é frequente a ausência de informação sobre a evolução da tensão transferida
para o lado DC. A análise desta informação é importante, uma vez que na ocorrência de subidas de
tensão excessivas no lado da rede, os conversores série absorvem a energia a mais existente,
competindo aos elementos armazenadores de energia suportar este excedente (Monteiro, 2008). Em
situações onde os dispositivos de armazenamento já estão totalmente carregados, provocará um
aumento na tensão do DC Link. Esta situação é tanto mais evidente em montagens armazenadoras
de energia baseadas em conversores fonte de tensão com condensadores de capacidades
relativamente baixas, talvez por isso tão pouco encontradas em estudos.
4
1.4. Organização da Dissertação
A presente dissertação encontra-se dividida em 5 capítulos principais.
Neste primeiro capítulo é feita uma introdução sobre os temas abordados, incluindo-se os
objetivos que se pretenderam alcançar.
No capítulo 2 é feita uma revisão bibliográfica das temáticas estudadas. Aqui descrevem-se os
principais problemas que afetam uma rede elétrica ao nível da distribuição, bem como algumas
soluções que visam assegurar o cumprimento de padrões de qualidade de energia. Neste campo, os
conversores ativos são a solução mais enfatizada, sendo descritas ao longo do capítulo as
características e o funcionamento das suas principais configurações: série, paralela e unificada. É
igualmente apresentada a importância que um elemento de armazenamento de energia desempenha
na melhoria dos processos de compensação de perturbações, comparando-se a tecnologia SMES
adotada, com diferentes soluções de armazenamento existentes. Nesta secção são ainda ilustradas
diversas soluções de controlo e modelação utilizadas no comando dos vários componentes do
sistema.
5
6
2. Revisão Bibliográfica
No presente capítulo são abordados os conteúdos teóricos fundamentais às temáticas desta
dissertação. Aqui encontram-se caracterizados os principais problemas que afetam as redes elétricas
de distribuição, bem como um estado de arte sobre as soluções mais referenciadas, tendo como
maior foco os conversores ativos.
Melhorar a qualidade da energia elétrica é o principal mote da presente dissertação. Esta temática
é determinante não só para assegurar o bom funcionamento do setor industrial, garantindo bons
níveis de competitividade às empresas, como é sinónimo de menores impactos para o ambiente.
Se à saída das grandes centrais conversoras de energia elétrica a QEE é por norma muito boa,
até chegar aos locais de consumo uma série de agentes perturbadores conduzem à sua degradação.
Estas perturbações podem ter origens tanto no lado do fornecimento como no lado do cliente. As
primeiras por norma devem-se a fenómenos naturais, defeitos do próprio material ou até acidentes
decorrentes de obras, já as segundas são causadas pela não linearidade das cargas constituídas por
elementos de eletrónica de potência (EDP, 2005).
Como a generalidade das cargas ditas “poluidoras” se encontra ligada à rede de média e baixa
tensão, é na distribuição que o conceito de qualidade de energia ganha mais expressão, sendo os
2
problemas mais comuns harmónicas, subtensões e sobretensões (Teke, 2011). Embora tenham uma
ocorrência muito menos frequente (ver Figura 2.1), muitas vezes são também destacadas na
literatura as situações mais graves de cavas, ou seja, as interrupções. Na Figura 2.2 são mostrados
exemplos de formas de onda que caraterizam cada um destes fenómenos.
Figura 2.1: Características das subtensões registadas em linhas aéreas (à esquerda) e subterrâneas (à direita)
de média tensão, entre os anos de 1996 e 1998 (EDP, 2005).
2
Na literatura muitas vezes as subtensões e subtensões, quando inferiores a 1 minuto, são designadas
pelos seus termos ingleses sag e swell, respetivamente. Nesta dissertação, são utilizados os termos cava e
subtensão para fazer referência a abaixamentos de tensão na sua generalidade, isto é, independentemente da
sua duração ou magnitude. Da mesma forma que será utilizado o termo sobretensão para a situação inversa.
7
Figura 2.2: Distúrbios na QEE: a) interrupção, b) sobretensão, c) subtensão e d) harmónicas.
Uma classificação mais detalhada dos quatro distúrbios antes mencionados, em termos de
magnitude e duração das suas ocorrências, pode ser consultada na Tabela 2.1, assim como de
outras perturbações também existentes.
Tabela 2.1: Classificação dos problemas de QEE na tensão segundo a norma IEEE 1559-1995.
Categorias Duração Típica Amplitude Típica
Impulsos ns até ms -
Transitórios
Oscilações 3µ até 5 ms 0 a 8 p.u.
Subtensão 0.1 a 0.9 p.u.
Instantâneas 0.5 a 3 ciclos
Sobretensão 1.1 a 1.8 p.u.
Interrupção 0.5 ciclos a 3s até 0.1 p.u.
Variações Momentâneas Subtensão 0.1 a 0.9 p.u.
de curta 30 ciclos a 3s
duração Sobretensão 1.1 a 1.4 p.u.
Interrupção até 0.1 p.u.
Temporárias Subtensão 3s a 1min 0.1 a 0.9 p.u.
Sobretensão 1.1 a 1.4 p.u.
Interrupção -
Variações de longa duração Subtensão acima de 1min 0.8 a 0.9 p.u.
Sobretensão 1.1 a 1.2 p.u.
Desequilíbrios de tensão Permanente 0.5 a 2 %
Offset DC 0 a 0.1 %
Harmónicas 0 a 20 %
Distorção da forma de onda Interharmónicos Permanente 0a2%
Notching -
Ruído 0 a 1%
Flutuações de Tensão Intermitente 0.1 a 7 %
Variações de Frequência 10s -
8
As consequências associadas às quedas de tensão vão desde o mau funcionamento do
equipamento, com diminuição do rendimento, perdas de dados e erros de processamento, ou nos
casos mais graves interrupção total do seu funcionamento. Já as situações de tensão excessiva
podem igualmente levar a perdas de dados em sistemas informáticos, bem como desgaste dos
isolamentos ou até destruição de componentes eletrónicos. Problemas de sobreaquecimento, erros
na obtenção de valores em aparelhos de medição, ressonâncias, degradação do fator potência e
correntes excessivas no neutro, estão entre as causas mais comuns da presença de conteúdo
harmónico (EDP, 2005; Seymour, 2005).
No capítulo introdutório já se salientou que o nível de prejuízos económicos que podem advir de
uma baixa qualidade energética são enormes. Por forma a assegurar um bom nível de QEE, vários
organismos têm definido normas que obrigam redes e equipamentos a funcionar de acordo com
determinados parâmetros estipulados. Neste campo o Institute of Electrical and Electronics Engineers
(IEEE) e a International Electrotechnical Commission (IEC) são os organismos de maior relevo a nível
mundial.
Na Europa a norma padrão é a EN 50160. Esta norma, definida pelo Comité Europeu de
Normalização Eletrotécnica (CENELEC), pode ter pequenas variações de país para país, como no
caso de Portugal onde a utilizada é a NP EN 50160 (EDP, 2005). Um exemplo de regulamentação
europeia pode ser encontrado no Anexo 1, neste caso para delimitar o conteúdo harmónico de tensão
em redes BT.
As normas IEEE são mais focadas no mercado norte-americano, no entanto, como possuem uma
estruturação mais simples e mais prática que as definidas pela IEC, são muitas vezes utilizadas como
referência de documentos de todo o mundo. As suas normas mais usuais no que toca a conteúdo
harmónico podem ser consultadas no Anexo 2.
9
2.2. Soluções para Mitigar Problemas na Rede Elétrica
De seguida irão ser apresentadas algumas das soluções mais comuns desenvolvidas nas
últimas décadas para mitigar os principais problemas que afetam a qualidade da energia nas redes
elétricas de distribuição.
A utilização de filtros passivos (FP) é a forma mais clássica de atenuar harmónicas. Trata-se de
uma solução barata, robusta e de fácil dimensionamento. Mas em contrapartida possuem pouca
flexibilidade, isto é, são projetados para filtrar apenas um determinado espetro harmónico, e no caso
de não estarem devidamente ajustados podem originar ressonâncias indesejadas (Pires, 2010). O
seu nome advém do facto de serem construídos apenas por componentes passivos: condensadores
( ), bobinas ( ) e resistências ( ). Consoante a banda de frequência que atenuam, podem ser
classificados por:
Passa-Baixo.
Passa-Alto.
Passa-Banda.
Corta-Banda.
A colocação dos FP pode ser feita em série ou em paralelo com a rede elétrica. No entanto em
aplicações de potência são as configurações em paralelo as mais utilizadas, pois ao contrário do que
sucede nas topologias série, estas não precisam de suportar toda a corrente, apenas aquela para a
qual estão dimensionadas. Isto permite utilizar componentes mais baratos e de menores dimensões
(Pires, 2010; Rashid, 2011).
A grande utilização de filtros passivos série encontrada na literatura prende-se sobretudo com a
atenuação de harmónicas de sinais provenientes de inversores comutados com sinais modulados por
largura de pulso. Nestas situações é muitas vezes aplicado um filtro passa-baixo LC (Figura 2.3) de
modo a filtrar as harmónicas de mais elevada frequência.
Relativamente à topologia paralela, esta pode ser dividida em filtros sintonizados e filtros
amortecidos. Os filtros sintonizados são concebidos para a filtragem de frequências específicas.
Nessa frequência para a qual são sincronizados apresentam uma impedância mínima, fazendo com
que as componentes harmónicas circulem por ele e não pela rede. Na Figura 2.4 é apresentada a
configuração mais comum deste tipo de filtro, cuja frequência de corte, , é definida, e à semelhança
da topologia série apresentada em cima, por (2.1). Para efeitos de dimensionamento deve ser 5%
abaixo da frequência pretendida, devido à dinâmica não ideal dos seus componentes (Rashid, 2011).
Figura 2.4: Filtro sincronizado de frequência única (à esquerda) e amortecido de segunda ordem (à direita).
Uma outra característica dos filtros sintonizados é o fator de qualidade, . Este deve estar
compreendido entre 50 e 150 (Rashid, 2011), sendo calculado por:
(2.2)
Os filtros amortecidos, por seu lado, não se limitam a atenuar uma frequência específica,
abrangendo uma maior largura de banda. Por norma os filtros sincronizados são aplicados na
atenuação das harmónicas de maior amplitude e mais baixa frequência (até ordem 11), sendo os
filtros amortecidos utilizados para as de maior frequência. O seu fator de qualidade é dado pelo
inverso da equação (2.2) estando normalmente compreendido entre 0,5 e 1,5 (Rashid, 2011). Na
Figura 2.4 é possível observar uma topologia de segunda ordem, bastante mais usual para estes
filtros, dado que a de primeira ordem requer um condensador de capacidade relativamente elevada e
não garante um nível de filtragem tão eficiente. Estas e outras configurações de filtros passivos
podem ser vistas com maior detalhe em (Santos, 2011).
11
Desde a sua criação muitas configurações têm sido desenvolvidas, hoje em dia podem ser
encontradas três topologias principais de FA:
O filtro ativo série (Figura 2.5) funciona como uma fonte de tensão controlada, cujo principal
objetivo é mitigar os desequilíbrios e distorções harmónicas da tensão fornecida pela rede elétrica. O
seu funcionamento é resumido pela equação (2.3), e assenta em fornecer (ou retirar) uma tensão, ,
no condensador, que somada à tensão da rede ( origina uma tensão sinusoidal na carga ( .
(2.3)
Figura 2.5: Diagrama unifilar de um filtro ativo série típico com VSI. Adaptado de (Monteiro, 2008).
Contudo este tipo de filtro é muito pouco utilizado, uma vez que na sua forma de funcionamento
típica não está dotado de um algoritmo capaz de manter a tensão na carga em situações de
variações momentâneas, limitando-se essencialmente à compensação de harmónicas de tensão
(Monteiro, 2008). No entanto este fenómeno tem uma ocorrência muito inferior às harmónicas de
12
corrente, tendo também por norma uma amplitude muito reduzida, o que não afeta o funcionamento
da generalidade dos sistemas (Pregitzer, 2006).
Uma evolução do conversor FAS surgiu na década de 90. Com o nome de Dynamic Voltage
Restorer (DVR), este conversor, apresentado na Figura 2.6, tem como principais funções mitigar as
cavas e as sobretensões de curta duração. Pode ainda reduzir alguns efeitos de harmónicas de
tensão e de transitórios (Monteiro, 2008; Galassi, 2006).
O seu princípio de funcionamento é similar ao FAS, pelo que também é regido pela equação (2.3).
Contudo, além de ser controlado de forma diferente, o Dynamic Voltage Restorer possui no lado DC
um elemento com maior capacidade de armazenamento de energia (AE). Segundo (Jesus &
Samesima, 2007) a adição de um elemento armazenador é fulcral para melhorar o desempenho do
compensador série. O que possibilita deste modo que o DC Link seja capaz de suprimir desníveis
energéticos causados por cavas, limitado claro está pela quantidade de energia existente, bem como
uma maior capacidade para armazenar as quantidades de energia em excesso aquando da
ocorrências de sobretensões. Neste campo, várias são as tecnologias existentes, e que podem ir da
simples adição de bancos de condensadores maiores até a soluções mais modernas. A escolha da
tecnologia de armazenamento utilizada será discutida com maior detalhe na subsecção
Armazenamento de Energia Elétrica.
Para além do sistema AE é possível aferir pela Figura 2.6, que o DVR é também constituído por:
Transformador.
Conversor de Potência e Filtro Passivo.
Sistemas de Controlo.
Figura 2.6: Esquema unifilar típico de um DVR com VSI. Adaptado de (Monteiro, 2008).
13
De seguida serão descritos os elementos constituintes do DVR.
Transformador
Nestes conversores os transformadores utilizados podem ser trifásicos ou constituídos por três
unidades monofásicas. No entanto a topologia constituída por transformadores monofásicos é a mais
usual nos DVR, pois permite que se possam compensar cavas e sobretensões, tanto monofásicas
como trifásicas.
Os filtros passivos são adicionados para filtrar as harmónicas de maior ordem resultantes do
processo de conversão. De modo a baixar a tensão sobre o transformador por norma colocam-se os
FP junto à fonte geradora de harmónicas, ou seja, na saída do conversor (Deshmukh & Dewani,
2012).
No seu modo de funcionamento a Full H-Bridge possibilita que se possa desabilitar o DVR,
evitando que potências indesejadas sejam inseridas na rede, tal como será explicado na secção
3.3.2. Também em (Pregitzer, 2006) é defendida a mais-valia de se utilizar os três inversores
3
Acrónimo do seu nome em inglês – Total Harmonic Distortion.
14
monofásicos independentes em configuração Full H-Brige para implementação do condicionador
série, resultando na solução apresentada na Figura 2.7.
Figura 2.7: Conversor trifásico constituído por três transformadores monofásicos independentes com inversor
em configuração full h-bridge (Pregitzer, 2006).
Sistema de Controlo
Cabe ao sistema de controlo gerir o funcionamento do sistema. Na Figura 2.6 estão igualmente
representadas as duas tarefas principais associadas a esta unidade: a geração de tensões de
referência e geração de sinais de comando do conversor. Em que a geração de tensões de referência
é a responsável por calcular o sinal de compensação a enviar ao conversor, enquanto a segunda
tarefa se incumbe pela modelação deste mesmo sinal.
Mais à frente nesta subsecção são descritas técnicas para calcular as tensões de referência,
sendo as técnicas de modulação apresentadas no subcapítulo 2.4. Também será visto nesta
dissertação (capítulo 3), que é a partir de sinais provenientes do sistema de controlo do DVR que é
construído o algoritmo utilizado na deteção de cavas.
Topologias DVR
A manutenção da energia no lado DC do DVR é essencial para que com maior eficiência se
compensem cavas e sobretensões, sendo para isso usual a adição de um retificador. Diversas
topologias deste sistema podem ser vistas na literatura (ver (Teke, 2011)), nomeadamente as
configurações onde a energia é extraída do lado da rede e onde é extraída do lado da carga.
15
Na primeira configuração (Figura 2.8) como o retificador que alimenta o DC Link está
diretamente ligado à rede, no caso de ocorrência de cavas ou sobretensões, a tensão no lado
continuo sofrerá uma variação proporcional à perturbação da rede, obrigando o DC Link a drenar
mais energia para compensar o distúrbio (Galassi, 2006; Jesus & Samesima, 2007). Tal situação
pode levar a que a tensão no condensador se torne inferior ao valor mínimo que assegura o
funcionamento controlado dos conversores, potenciando que o DVR possa fornecer correntes
assimétricas e distorcidas.
16
Técnicas Para Calcular as Tensões de Referência no DVR
Para que o DVR possa mitigar as cavas e sobretensões eficazmente, é primeiro que tudo
necessário calcular o sinal de compensação a enviar ao conversor. Na literatura é extenso o número
de técnicas destinadas a este fim, podendo-se agrupa-las em dois conjuntos principais, as de controlo
linear e as de controlo não linear.
Estas últimas apesar de mais complexas que as técnicas lineares, apresentam-se como mais
eficientes para controlar sistemas com maiores níveis de instabilidade. Neste campo as principais
estratégias existentes baseiam-se em algoritmos de redes neuronais artificiais e lógica difusa. Em
relação às técnicas de controlo lineares estes métodos permitem mais precisão, menores picos
transitórios e melhores desempenhos em baixas frequências de comutação (Sharanya, Basavaraja, &
Sasikala, 2012).
Contudo, as técnicas de controlo baseadas em métodos lineares são as mais usuais nos
compensadores série. O seu controlo assenta sobretudo na comparação de sinais da rede com sinais
de referência, sendo o sinal de erro daí resultante o utilizado na modelação dos sinais de comando do
conversor.
São três os principais métodos de controlo linear presentes na literatura (Pakharia & Gupta, 2012;
Sharanya et al., 2012):
Controlo feedforward.
Controlo feedback.
Controlo composto.
Pela simplicidade de implementação e pela sua grande capacidade de criar sinais de referência
adaptados à frequência da rede, decidiu-se utilizar neste trabalho um método de controlo feedforward
baseado na utilização de um circuito Phase-Locked Loop (PLL), bastante similar com o descrito em
(Nogueira, 2010).
17
Figura 2.10: Diagrama do método de controlo feedforward baseado na utilização de um circuito PLL.
O circuito PLL gera na sua saída um sinal sinusoidal com a mesma frequência e fase do sinal de
entrada. Assim, calibrando-se este mesmo sinal para a amplitude da tensão da rede em
funcionamento nominal é possível obter-se, por comparação com a tensão da própria rede, o sinal de
compensação a enviar ao inversor. A representação esquemática deste processo é apresentada na
Figura 2.10.
Uma limitação que se pode intuitivamente atribuir a este método, surgiria em situações de
ocorrência de oscilações na frequência da rede elétrica. Com esta topologia a tensão de referência da
carga teria uma variação igual à da rede. No entanto, nas redes elétricas fortemente interligadas,
como sucede com a rede elétrica nacional, as variações de frequência são praticamente
insignificantes (EDP, 2005). Deste modo, tal limitação pode ser desprezada.
Com este método é também possível saber-se exatamente onde começam e quando acabam os
distúrbios ocorridos ao nível da tensão, bem como a magnitude dos mesmos. Esta rapidez e precisão
da informação obtida foi crucial para o desenvolvimento dos algoritmos de deteção de cavas e
interrupções utilizados (secção 3.4).
As correntes harmónicas produzidas por cargas não lineares ( ) são anuladas através da
injeção de correntes de compensação ( ) produzidas no FAP, de modo a que as correntes na fonte
( se tornem sinusóides equilibradas e com fator de potência unitário, estando este último
dependente do método de controlo adotado (Pregitzer, 2006). No caso de cargas puramente
resistivas o FAP praticamente não injeta corrente, com a exceção de valores mínimos utilizados para
compensar perdas (Modesto, 2007).
18
Figura 2.11: Esquema unifilar típico de um Filtro Ativo Paralelo com VSI. Adaptado de (Monteiro, 2008).
Uma configuração típica de um filtro ativo paralelo é apresentada na Figura 2.11, estando o seu
princípio de funcionamento, que é dado pela equação (2.4), ilustrado na Figura 2.12.
(2.4)
Analisando com maior rigor a Figura 2.11, é possível observar que na sua estrutura típica o filtro
ativo paralelo é constituído por dois tipos de unidades principais:
O filtro ativo paralelo injeta correntes de compensação para atenuar os distúrbios na corrente do
sistema. À semelhança do que sucede com o filtro ativo série, no FAP a energia utilizada para criar as
correntes de compensação é colocada numa unidade que armazena energia na forma contínua,
sendo o inversor o elemento que fará a passagem para a forma alternada. Também aqui a existência
do condensador dependerá da topologia escolhida para o DC Link.
Apesar de não ser obrigatório, na maioria das ocasiões é a própria rede onde estão colocados os
filtros ativos que faz o carregamento do sistema de armazenamento de energia. Para isso é
necessário dotar o sistema também de um elemento retificador, ou em vez disso comanda-se o
inversor de modo a atuar como conversor bidirecional. Pois, na topologia mais usual, a trifásica de
seis pulsos (Figura 2.13), tanto retificador como inversor, são constituídos pelos mesmos dispositivos.
19
Figura 2.13: Conversor trifásico de seis pulsos.
Os restantes elementos dos FAP, filtros e passivos e sistemas de controlo, possuem funções
similares às dos seus elementos homólogos existentes no filtro série, pelo que a sua descrição já foi
efetuada na subsecção 2.2.2.1. Já as técnicas utilizadas na geração de referências de sinais de
compensação diferem das utilizadas no DVR. Tal como antes avançado, as harmónicas de tensão
não prejudicam o funcionamento da generalidade dos sistemas, adicionalmente, a ocorrência deste
tipo de harmónicas é pouco frequente, sendo muitas vezes até consequência direta da existência de
harmónicas de corrente (Schneider, 2003). Já estas últimas são cada vez mais usuais nas redes
elétricas, contribuindo com elevados conteúdos harmónicos e consequente aumento de potência
reativa, pelo que se torna fundamental que as técnicas de comando dos FAP consigam compensar
este teor reativo.
Na literatura são várias as técnicas utilizadas para calcular os sinais de referência utilizados no
comando dos FAP, e que possibilitam que sejam injetados sinais capazes de compensar harmónicas.
Dessas técnicas as duas mais destacadas são:
Teoria da Potência Reativa Instantânea (Rashid, 2011; Modesto, 2007; Pregitzer, 2006);
Método dos Eixos de Referência Síncrona (Rashid, 2011; Modesto, 2007);
Proposta por Akagi, esta técnica também designada por teoria p-q, é a forma mais popular de
controlo de filtros paralelos. O seu funcionamento tem por base a mudança das coordenadas do
sistema a-b-c, para o sistema bifásico estacionário α-β-0, tanto da tensão da rede como da corrente
da carga, através das transformações de Clarke respetivas, (2.5) e (2.6).
(2.5) (2.6)
20
Já em coordenadas bifásicas são calculadas as potências ativa ( ) e reativa ( ) por:
(2.7)
(2.8)
Finalmente são obtidas as correntes de referência no seu formato bifásico ( ), através de:
(2.9)
Todo este processo encontra-se mais detalhadamente explicado nas fontes em cima
mencionadas, estando na Figura 2.14 um diagrama ilustrativo do seu funcionamento.
Porém apesar de muito utilizada, a teoria p-q apresenta a desvantagem das correntes de
compensação serem extraídas a partir do cálculo das potências. Este facto impede que funcione
corretamente em tensões desequilibradas.
21
>> Método dos Eixos de Referência Síncrona
4
Tal como o seu nome sugere, o Método dos Eixos de Referência Síncrona, ou SRF , é
caraterizado por fazer uma transformação de coordenadas a-b-c para a forma de eixos bifásicos
síncronos e girantes, direto e quadratura, ou simplesmente eixos dq. Neste caso é a corrente de
carga que sofre a transformação do formato a-b-c para d-q-0, sendo sincronizada para girar à mesma
frequência da rede elétrica. Para esta transformação é necessário passar primeiro para o formato
bifásico estacionário, ou seja, aplicar a transformada de Clarke, equação (2.6), e só depois fazer a
passagem para o formato girante, através da transformada de Park, equação (2.10).
(2.10)
A Figura 2.15 ilustra o processo de funcionamento do SRF. Este método contrariamente ao que
sucede com a teoria p-q, não depende da forma de onda da tensão, o que lhe permite operar
normalmente mesmo sob tensões desequilibradas, tal como se comprova por uma simulação
4
Vem do inglês de Synchronous Reference Frame.
22
efetuada e apresentada na Figura 2.16. Este melhor desempenho levou a escolher este método para
o filtro ativo paralelo implementado.
Figura 2.16: Simulação do cálculo das correntes de referência pelo método SRF sob tensões equilibradas e
desequilibradas.
Com apenas uma aplicação comercial conhecida, desenvolvida pela empresa Hykon India
(Boyra, 2012), esta tecnologia unificada consegue tirar partido simultaneamente das funcionalidades
dos conversores série e paralelo (ver Tabela 1.2), conseguido desse modo atenuar muitas das
perturbações que afetam as redes distribuição. Como principais exceções surgem problemas
relacionados com transitórios rápidos e interrupções ou subtensões maiores, por parte da rede
elétrica (Pregitzer, 2006; Han, et al., 2006; Moghadasi, et al., 2010).
Uma outra topologia unificada muito conhecida é a Unified Power Flow Controller (UPFC), cuja
aplicação é mais direcionada para alguns dos problemas relacionados com sistemas de transporte de
energia, que consistem principalmente no controlo do fluxo de potência e na regulação da tensão,
desconsiderando-se assim, por exemplo, o problema das harmónicas (Boyra, 2012). Esta temática já
não entra no plano de estudos desta dissertação, contudo mais informações podem ser encontradas
na referência já citada neste parágrafo.
Na Figura 2.17 é apresentada uma das topologia mais usuais de UPQC, onde é possível
constatar a presença dos condicionadores, série e paralelo, bem como o barramento DC entre os
23
dois dispositivos. Outras topologias podem ser encontradas em (Teke & Tümay, 2011; Nogueira,
2010).
Figura 2.19: Diagrama de funcionamento do método SRF com controlo da tensão no lado DC.
25
2.3. Armazenamento de Energia Elétrica
Anteriormente já foi visto que para fazer face a subtensões torna-se necessário debitar energia na
rede elétrica, tendo-se apontado as lacunas do UPQC. Para fazer a esta limitação energética em
(Han, et al., 2006) é sugerido ligarem-se ao filtro unificado sistemas auxiliares de geração de
distribuída (GD) de energia elétrica. Neste campo podem ser encontradas conjugações de UPQC
com unidades de fotovoltaicas em (Cavalcanti, et al., 2006; Siahi, et al., 2011), e ao nível eólico em
(Hoseynpoor, et al.; Sajedi, et al., 2011). No entanto a utilização destas tecnologias dependentes de
fontes renováveis padece de uma limitação inata, a produção de energia só acontece na presença do
recurso natural.
No caso das energias renováveis, para fazer face à produção descontínua de energia, todos os
sistemas GD devem ser dotados de unidades de armazenamento de energia. A adição de alguma
capacidade de armazenamento garante uma pequena autonomia à central distribuída, o que permite
que se diminuam as trocas energéticas entre ela e a rede elétrica, evitando assim problemas no
fornecimento de potência decorrentes de uma produção irregular por parte das várias unidades
renováveis que compõem a central distribuída (NIPE / UNICAMP, 2005).
Uma vez que a utilização de geradores distribuídos não se inclui no âmbito desta dissertação,
daqui em diante apenas se fará referência às tecnologias de armazenamento de energia.
Como sistemas de armazenamento de energia têm-se por exemplo baterias, volantes de inércia
e sistemas de ar comprimido. Contudo todas estas configurações apresentadas possuem uma
característica comum, a energia não é armazenada na forma elétrica, obrigando a conversões. Com
os SMES a conversão é puramente elétrica e já provou ser um bom complemento aos filtros
unificados (Moghadasi et al., 2010; Kim et al., 2006). Esta característica possibilita que a bobina
tenha tempos de vida muito elevados e rendimentos superiores a 90% nos seus processos de carga
e descarga, o que supera em mais de 20% tecnologias típicas de armazenamento, e que envolvem
transformação de energia (Buckles & Hassenzahl, 2000; Patel, et al., 2011).
Outra marca distintiva destes dispositivos é a sua grande capacidade de descarregar grandes
quantidades de potência em curtos intervalos de tempo, como é dado a observar pela Figura 2.20,
muito mais até que os supercondensadores, outra tecnologia de conversão puramente elétrica. Tais
26
características tornam os SMES bastante apelativos para suprimir as carências dos compensadores
ativos na resolução de alguns dos mais comuns problemas da rede elétrica. A sua elevada densidade
de potência é mesmo o aspeto mais valorizado na literatura. É graças a ele que a tecnologia
consegue responder de forma rápida a carências energéticas, requisito indispensável para aplicações
que visam melhorar a qualidade de energia elétrica (Ali, Wu, & Dougal, 2010; Denholm, Ela, Kirby, &
Milligan, 2010), que é o objetivo principal desta dissertação.
Figura 2.20: Comparação entre tecnologias de armazenamento de energia elétrica. Adaptado de (NIPE /
UNICAMP, 2005)
Corria o ano de 1911 quando o físico holandês Heike Kamerlingh Onnes ao estudar as
propriedades das substâncias a temperaturas próximas do zero absoluto (0 K), verificou que a
resistência elétrica de tubos capilares de mercúrio diminuía de forma abrupta aquando colocados
abaixo de uma determinada temperatura, denominada por temperatura crítica. Estava assim
descoberto um novo estado da matéria, que Onnes no seu discurso de entrega do prémio Nobel da
física em 1913, designou por estado de supercondutividade (Onnes, 1913).
Na Figura 2.21 podem ser observados os resultados experimentais obtidos pelo físico holandês
no seu laboratório em Leiden. Como se pode constatar, abaixo dos 4,2 K a resistência do mercúrio
verifica uma diminuição para valores praticamente nulos.
27
Figura 2.21: Comportamento da resistência elétrica do mercúrio de acordo com a temperatura (Onnes, 1913).
A ausência de resistência elétrica foi só a primeira propriedade associada aos materiais
supercondutores. Além da temperatura crítica ( ), existem mais duas propriedades verificadas por
Onnes nos seus ensaios que caraterizam estes materiais: densidade de corrente crítica ( ) e campo
magnético crítico ( ).
A densidade de corrente crítica traduz o valor máximo de corrente elétrica que um supercondutor
pode transportar sem que passe ao estado normal. Esta grandeza é tanto maior quanto menor for a
temperatura a que o supercondutor se encontre (Pronto, 2010).
A influência do campo magnético foi explicada anos mais tarde, em 1933, pelos físicos alemães
Walther Meissner e Robert Ochsenfeld, ao verificarem que um supercondutor possui diamagnetismo
perfeito. Ou seja, até um determinado valor de e consegue repelir o fluxo magnético do seu
interior. Esta propriedade que recebeu o nome de efeito Meissner é de tal forma intensa que está na
origem da levitação magnética com supercondutores (Branício, 2001). Até essa altura todos os
materiais que possuíam a capacidade de a baixas temperaturas não apresentarem perdas de
condução, eram designados por supercondutores. Com a descoberta do efeito Meissner o desígnio
de material supercondutor mudou. Desde então passou-se a chamar de supercondutores apenas aos
materiais que além de uma resistividade nula também possuem um diamagnetismo perfeito, sendo
denominados por condutores perfeitos os que apenas possuem resistividade nula abaixo da
temperatura crítica (Saunders & Ford, 2004).
28
Figura 2.22: Diagrama T-J-H típico de um supercondutor (Pina, 2010).
Com o ano de 1957 surgiram os materiais supercondutores do tipo II, passando os existentes até
então a ser conhecidos como supercondutores do tipo I. Este novo tipo de supercondutores previsto
teoricamente por Alexei Abrikosov, é caraterizado por possuir três estados: o estado normal, o estado
supercondutor e um estado intermédio, designado por estado misto. O facto de possuir um estado
intermédio permite que a transição para o estado normal ocorra de forma gradual, ao invés de
acontecer abruptamente como nos do tipo I. Neste estado intermédio, compreendido entre os campos
críticos e da Figura 2.23, o material deixa de possuir um diamagnetismo perfeito, e passa a
permitir fluxo magnético no seu interior, coexistindo assim regiões do material em estado normal e
outras estado supercondutor (Pina, 2010).
Figura 2.23: Curvas de magnetização de supercondutores: tipo I (tracejado preto) e tipo II (ponteado azul).
Retirado de (Catalão, 2013).
Nos materiais do tipo II existe um grupo que cada vez mais ganha importância, são os
supercondutores de alta temperatura, ou simplesmente SAT (Branício, 2001). A descoberta dos SAT
marcou uma nova era na supercondutividade, feito que valeu o prémio nobel da física a Georg
Bednorz e Alex Müller em 1987, e contribuiu para a diminuição de custos com a criogenia, incitando
ao desenvolvimento de aplicações para estes materiais, nomeadamente para melhorar a qualidade
de energia em sistemas de potência, como é o caso dos SMES (Denholm, et al., 2010), que
seguidamente serão abordados com maior detalhe.
29
2.3.3. SMES – Superconducting Magnetic Energy Storage
Os Superconducting Magnetic Energy Storage (SMES) são dispositivos que permitem armazenar
energia magnética no núcleo de uma bobina supercondutora. Quando percorrida por uma corrente
contínua a resistência da bobina pode ser considerada virtualmente nula, preservando assim a
energia no seu interior sem que haja perdas.
A energia magnética, , armazenada pela bobina supercondutora é dada por (2.11), em que
representa o coeficiente de auto-indução da bobina e a corrente DC que a percorre.
(2.11)
Esta tecnologia surgida em meados dos anos 70, foi pensada para armazenar energia em
grande quantidade durante a noite e aplica-la na estabilização de picos de consumo durante o dia.
Porém um projeto desta escala requeria a construção de dispositivos SMES de grandes dimensões e
com custos elevadíssimos. Despesas relacionadas com criogenia (uma vez que os SAT ainda não
existiam) e com a construção de estruturas onde pudessem ser instalados, condicionadas pelas
elevadas pressões eletromagnéticas, tornando assim este projeto inviável (Boom & Peterson, 1972;
Hassenzahl, 1975, 1989).
Apesar destas dificuldades, a que acresce o facto do material supercondutor ser ainda muito
caro nos dias de hoje, a forma como se pensa esta tecnologia tem vindo a mudar. As novas apostas,
têm passado sobretudo por dispositivos de pequena escala, os micro-SMES (capacidade até 10 MJ),
construídos com materiais SAT (Taylor et al., 2012). Neste campo, alguns projetos já concluídos, ou a
decorrer, podem ser encontrados em (Taylor & et al., 2012; Amaro, 2013).
Este novo paradigma, leva a que se explore mais a grande capacidade que os SMES possuem
de debitar muita potência em pouco tempo, ao invés do seu alto rendimento de armazenamento,
sendo então classificados como dispositivos de potência e não de energia. Na literatura é possível
encontrar muitas potenciais utilizações desta tecnologia, estando em (Ali et al., 2010) condensada
uma grande panóplia de aplicações. Contudo, considerando que a principal finalidade dos SMES não
deve ser o armazenamento de energia em grande quantidade, têm-se como principais aplicações:
Qualidade de Energia: a capacidade que estes sistemas têm de injetar grande quantidade
de potência de forma quase imediata, permite que mitiguem eficazmente os efeitos
prejudiciais de interrupções, flutuações, cavas e sobretensões de curta duração (Molina &
Mercado, 2010; Pina, 2010).
Uninterruptible power supply (UPS): numa situação de interrupções de maior duração, isto
é, maior que algumas dezenas de ciclos, os SMES podem assegurar o fornecimento de
energia à rede durante o arranque de grupos geradores de emergência ou dispositivos de
30
armazenamento de energia maiores, cujos tempos de resposta são mais longos (Xue,
Cheng, & Sutanto, 2005).
O seu funcionamento pode ser feito segundo três modos mutualmente exclusivos: carga,
persistente e descarga. Assim, se a corrente da bobina estiver abaixo do seu valor de referência é o
modo carga que pode ser ativado para que seja armazenada energia. Uma vez carregada, é ativado
o modo persistente de forma a manter a corrente. Caso haja carência de energia na rede, a bobina é
descarregada.
A Figura 2.24 mostra os principais blocos constituintes do SMES, cuja descrição mais detalhada
será feita nas três secções seguintes. Nesta figura é também possível identificar um interruptor, que
representa o dispositivo de comutação. Este dispositivo é o responsável por fazer a troca dos modos
de funcionamento, e pode ser implementado por eletrónica de potência ou por interruptores de
corrente persistente (persistent current switches). Quando implementado com eletrónica de potência,
pode ser integrado no SCP, em vez de ser no bloco da Bobina Supercondutora, dado que o ambiente
criogénico dessa unidade por vezes afeta o funcionamento dos semicondutores (Pina, 2010;
Rosenbauer & Lorenzen, 1996).
As bobinas supercondutoras são por norma construídas em pequenos módulos, designados por
panquecas. Estas estruturas podem ser de camada simples (Figura 2.25-a, em cima) ou dupla
(Figura 2.25-a, em baixo), e quando necessário podem ser agrupadas, normalmente em série,
segundo duas configurações principais: toroidal (Figura 2.25-b) e solenoidal (Figura 2.25-c).
Em ambas as configurações existem pontos fortes, que estão expressos na Tabela 2.2. A
escolha da configuração dependerá sempre do tipo de projeto a que se destine, mas em termos
gerais é a solenoidal que melhor reúne eficiência e preço, sendo por isso a topologia mais utilizada
(Karasik & et al., 1999). Dentro desta configuração várias formas de agrupamento podem ser feitas,
nomeadamente a tetrapolar e hexapolar, a fim de mitigar a dispersão de campo magnético e diminuir
tamanho das bobinas, as suas maiores desvantagens face à topologia toroidal (Pina, 2010).
Tabela 2.2: Pontos fortes das configurações solenoidal e toroidal de bobinas supercondutoras. Adaptado de
(Oliveira, 2010).
Solenoidal Toroidal
32
2.3.3.2. Sistema de Condicionamento de Potência
São três as topologias básicas de um SCP que podem ser utilizadas num sistema com SMES
(Ali et al., 2010):
Baseada em tirístores.
Conversor fonte de corrente (CSC ).
5
Tanto para a topologia fonte de tensão como para a fonte de corrente, existem estudos que
utilizam configurações multinível. Apesar destas configurações garantirem melhores conversões,
dada a sua complexidade não se incluem no escopo desta tese, estudando-se apenas os
conversores de dois níveis. No entanto, mais detalhes de choppers e conversores multinível utilizados
nas montagens VSC, podem ser consultados em (Lee, 1999), e de uma configuração multinível CSC
em (Babei, Hosseini, & Gharehpetian, 2006).
A configuração típica de um conversor fonte de corrente pode ser vista na Figura 2.26, neste
caso utilizando como semicondutores os GTO. É a forma como comutam os semicondutores que
permite carregar, descarregar ou manter a corrente na bobina, sendo o modo persistente feito pela
comutação simultânea dos dois interruptores do mesmo braço (Imaie, Tsukamoto, & Nagai, 2000).
5
Acrónimo da sua designação em inglês Current Source Converter.
6
Acrónimo da sua designação em inglês Voltage Source Converter.
33
Contudo esta comutação dos conversores origina harmónicas na corrente de linha, que são
filtradas através do circuito ressonante formado pelos condensadores de entrada, , e a indutância
de linha, . Outra função essencial dos condensadores de entrada é auxiliarem nos processos de
comutação, providenciando um caminho de baixa impedância para os pulsos de corrente do
conversor (Bilgin, 2007).
A topologia em questão retira partido dos facto dos sistemas SMES serem inerentes fontes de
corrente, o que facilita a interação com a rede elétrica e garante grandes velocidades de fornecimento
de potência. Outro grande ponto forte desta montagem é a capacidade de diminuir o ripple na tensão
aos terminais da bobina, e consequentemente diminuir as perdas AC. Este efeito é ainda mais notório
através de uma montagem comandada por 12 pulsos (Jiang, et al., 2001; Iglesias, et al., 1995).
Uma configuração típica da topologia VSC com chopper pode ser vista na Figura 2.27, onde
mais uma vez os semicondutores ilustrados são os GTO. Nesta configuração, o VSC é o elemento
que faz a ponte entre a rede elétrica a bobina supercondutora, controlando o fornecimento de
potência. Aqui são utilizados díodos em roda livre para assegurar a continuidade da energia. O
chopper é o elemento que controladamente faz a comutação entre os três modos de funcionamento
do SMES, regulando a corrente que atravessa a bobina. Já o condensador, , funciona como uma
fonte de tensão controlável, que serve de suporte ao funcionamento do VSC e do chopper.
Figura 2.28: Formas de comutação do chopper para os diferentes modos de funcionamento: carga (à esquerda),
modo persistente (ao centro) e modo de descarga (à direita). Retirado de (Pina, 2010).
A utilização da configuração VSC com o conversor DC-DC é a mais comum, pelo que existe um
maior conhecimento desta configuração em relação à topologia CSC. O que ainda se torna mais
evidente em aplicações com filtros unificados, pois a configuração típica do UPQC possui um
condensador a interligar os seus dois conversores ativos.
Outro dos pontos fortes desta montagem é a necessidade de dispositivos eletrónicos de menor
potência, o que se traduz em menores perdas de energia na comutação e em menores custos com
semicondutores. Esta diminuição de perdas com a eletrónica de potência vai-se evidenciando cada
vez mais à medida que o nível de energia presente na bobina supercondutora vai diminuindo. Na
equação (2.14) é calculada a razão ( ) entre as correntes máximas e mínimas que podem circular na
bobina, ou seja, e . Para ter a mesma potência na saída, à medida que aumenta mais
energia terá que ser retirada da bobina supercondutora na montagem CSC, do que na VSC com
chopper (Lee, 1999). No entanto, para situações com razões pequenas, isto é, próximas de 1,
acontece o inverso. Mas uma utilização do SMES restrita a esses valores de limitava a que só uma
pequena parte da energia armazenada pudesse ser utilizada, cerca de 30% segundo o exemplo de
(Lee, 1999).
(2.14)
Pelos vários pontos favoráveis da topologia VSC face à CSC, utilizou-se na implementação
realizada um sistema de condicionamento de potência baseado em fonte de tensão com chopper.
35
2.3.3.3. Sistema de Controlo
Nos dois últimos tópicos anteriores, são apresentadas as tarefas relacionadas com a
manutenção da supercondutividade na bobina e os procedimentos a tomar em caso de falha. Quench
é a designação atribuída ao aquecimento súbito de uma região da bobina, levando a uma dissipação
de energia sob a forma de calor em espaços de tempo muito reduzidos. Este tipo de falha põe em
causa a salvaguarda do próprio material, pelo que uma rápida deteção se torna essencial. Em
(Catalão, 2013), é possível aferir um método de deteção de quench em fitas supercondutoras feitas
7
em Bi-2223 , baseado na leitura de campos de indução magnética.
7
Material supercondutor com composição química Bi 2Sr2Ca2Cu3O12. As fitas constituídas por este material
são pertencentes à primeira geração de fitas supercondutoras.
36
2.4. Técnicas de Modelação
Conhecidos os sinais de referência dos vários sistemas de controlo torna-se então necessário
controlar os interruptores de modo a que seja reproduzido esse sinal. Na literatura é grande a
panóplia de técnicas utilizadas na modelação dos sinais de comando de conversores, nomeadamente
as estratégias baseadas em Pulse-Width Modulation, ou simplesmente PWM.
Em (Sheikh & Mondol, 2012) é apresentada uma técnica PWM aplicada a topologias baseadas
em fontes de tensão, aqui o controlo da comutação é feito pelo ajuste do duty cycle do sinal de
disparo dos semicondutores do chopper. Também no comando do conversor DC-DC, em (Sutanto &
Aware, 2009) é sugerida a aplicação de um controlo histerético. Outras estratégias com algoritmos de
inteligência artificial (IA), como a baseada em redes neuronais e a lógica difusa, podem ser
consultadas em (Dahiya, et al., 2011) e (Ali et al., 2007; Dahiya, et al., 2011), respetivamente.
À semelhança do que sucede com o controlo do chopper, também para o comando dos
conversores série e paralelo podem ser encontradas diversas técnicas. Uma das estratégias mais
populares no comando de filtros ativos é o controlo por histerese (Rashid, 2011; Nogueira, 2010). Na
literatura também se pode aferir a existência de técnicas mais complexas como a Space Vector Pulse
Width Modulation (SVPWM) (Pregitzer, 2006; Rashid, 2011) e as técnicas baseadas em IA, onde
mais uma vez surgem as técnicas baseadas em redes neuronais (Rao & Dash, 2010; Ramchandra et
al., 2012) e a lógica difusa (Fatiha, Mohamed, & Nadia, 2011).
37
Os valores de e são determinados pelas equações (2.15) e (2.16), onde e
representam respetivamente os valores de tensão e frequência do sinal modulador, e e a
tensão e frequência da onda portadora.
(2.15) (2.16)
A Figura 2.29 ilustra um sistema de controlo SPWM. É da comparação entre o sinal modulador
(a verde) e a onda portadora (a vermelho) que resulta um trem de pulsos (a azul) que serve de
comando aos semicondutores.
38
Figura 2.30: Controlo por Histerese.
Esta situação pode ser atenuada aumentado a frequência da onda portadora no caso modelação
SPWM, ou diminuindo a banda de histerese no caso da segunda técnica. Ambas as situações levam
a um aumento da frequência de comutação dos semicondutores, o que provoca um aumento das
perdas de comutação, bem como maiores esforços mecânicos dos dispositivos de eletrónica de
potência (Hendawi et al., 2010; Patel et al., 2009), pelo que na sua escolha há que estabelecer um
compromisso entre as perdas e a qualidade do sinal gerado na saída.
39
2.5. Síntese do Capítulo
Neste capítulo analisaram-se alguns dos aspetos introdutórios mais relevantes para compreensão
da temática em análise. A partir da descrição dos principais problemas que afetam as redes elétricas
de média e baixa tensão, referenciaram-se as normas que definem padrões qualitativos da rede, bem
como algumas das soluções mais estudadas para auxiliar no seu cumprimento. Destas, a utilização
de conversores ativos mereceu um aprofundamento maior, através da análise do seu funcionamento
nas suas principais configurações - série, paralela e unificada – acompanhada de um estudo das
suas principais teorias de controlo e aplicações.
40
3. Dimensionamento e Implementação
A larga maioria dos problemas com subtensões não ultrapassa 50% da tensão nominal (ver
Figura 2.1). A partir da informação anterior, e tendo esta dissertação como principal alvo a montagem
de um UPQC integrado com um sistema de armazenamento SMES (Figura 3.1). Ao longo do
presente capítulo serão descritos todos os passos que levaram ao seu dimensionamento, aplicado a
pequenas cargas trifásicas de estudo (até 5 kW), sendo cada um dos seus principais constituintes –
SMES, FAP e DVR – analisado individualmente.
O dimensionamento da bobina supercondutora não fazia parte do estudo desta dissertação, pelo
que no modelo implementado utilizou-se um indutor projetado numa outra dissertação anterior. Em
(Oliveira, 2010) está dimensionada uma bobina teórica com uma capacidade de armazenamento de 1
kJ e um coeficiente de autoindução, , de 0,41 H. Este elemento é constituído por fita
8
supercondutora feita de BSCOO-2223 e funciona abaixo da temperatura de ebulição do azoto
líquido, ou seja, até 77 K. A sua corrente crítica é de 90 A, mas por razões de segurança deve ser
considerada alguma margem, pelo que o mesmo autor, considerou como valor limite de referência,
, 70 A. Na Tabela 3.1 estão condensados os valores dos principais parâmetros considerados.
8
Lê-se “bisco” 2223 e é outra designação para o Bi-2223.
41
3.1.2. Topologia do Sistema de Condicionamento de Potência
O chopper é o elemento que controla a energia que circula entre a rede e a bobina. Como
anteriormente apresentado, isto pode acontecer de três modos: carga, descarga e persistente,
estando cada um deles ilustrado na Figura 2.28.
(3.1)
9
Learn About Electronics. [Consult. 10/09/2013]. LR time Constant. Disponível em: http://www.learnabout-
electronics.org/ac_theory/dc_ccts45.php
43
continuamente energia, conduzindo à descarga total do condensador, entrando-se numa situação
cíclica de difícil reversão.
Quando ocorrem distúrbios de tensão, o sistema de controlo tem como objetivo estabilizar a
tensão no barramento DC. Para tal o chopper deve descarregar a bobina supercondutora, quer seja
para compensar cavas e interrupções, transferindo energia para o DC Link, quer seja para mitigar os
efeitos de sobretensões. Contudo, neste último caso é para a resistência de dissipação que uma
pequena parte da energia armazenada na bobina é descarregada, possibilitando ao sistema de
armazenamento continuar a receber energia sem que se comprometam os seus limites por um tempo
teoricamente infinito. Nesta situação, o sistema de controlo além colocar o chopper em modo de
descarga, deve ainda desligar os semicondutores antiparalelos S e ativar o interruptor Ss, por forma a
acionar o circuito de dissipação ilustrado na Figura 3.4. Esta dinâmica de funcionamento só se torna
possível porque o SMES descarrega de forma quase instantânea, não causando oscilações
significativas na tensão do barramento.
Na Figura 3.5 é mostrada a evolução da tensão no barramento, durante uma situação onde a
tensão da rede sobe 50% acima da tensão nominal da rede e onde se desliga o sistema de
dissipação durante esta ocorrência. Como se pode aferir nesta figura, para condensadores de menor
capacidade mais pertinente se torna o sistema de dissipação.
Figura 3.5: Evolução da tensão no barramento perante uma sobretensão de 50%, para o condensador utilizado
(em cima), para um condensador com uma capacidade de armazenamento de energia igual à SMES.
Em todos os processos de funcionamento da unidade SMES, os sinais de comutação dos vários
interruptores foram modelados através de um controlo histerético. No fluxograma da Figura 3.6
podem ser vistas as várias dinâmicas do funcionamento do sistema de controlo anteriormente
descritas.
44
Figura 3.6: Funcionamento do sistema de controlo da bobina SC.
45
3.1.4. DC Link
Explicado o sistema de controlo, nesta subsecção será mostrado o seu funcionamento. Aqui será
analisado com maior detalhe o comportamento da corrente na bobina supercondutora e a tensão no
condensador do barramento DC, durante os processos de carga e descarga.
Na Figura 3.8 observa-se a evolução da corrente na bobina até se atingir o valor de 63.2%. Este
valor corresponde a cerca de do tempo de carga de um indutor num circuito RL de 1ª ordem com
10
tensão continua . Através de uma extrapolação, pode-se prever um tempo total para o
carregamento da bobina próximo de um minuto. Em termos de simulação, trata-se de um processo
que requer demasiado processamento, razão pela qual não foi simulado na totalidade. No entanto,
numa aplicação real não se prevê que este tempo de carga ponha em causa a manutenção da QEE,
ainda mais porque na ocorrência de um distúrbio o sistema responde com a energia armazenada até
então.
10
Learn About Electronics. [Consult. 10/09/2013]. LR time Constant. Disponível em: http://www.learnabout-
electronics.org/ac_theory/dc_ccts45.php
46
Figura 3.8: Evolução da corrente na bobina supercondutora, estando inicialmente descarregada.
Sobretensão no barramento
Ao contrário do que sucede no carregamento da SMES, o processo de descarga é de extrema
rapidez. Assim, sempre que a tensão no barramento ultrapassa um certo valor limite (definido como
5% acima da tensão de referência do barramento) é acionado o circuito de dissipação para que a
SMES perca um pouco da sua corrente (Figura 3.9). Esta forma de atuar é tanto válida para o
funcionamento normal, como para situações de sobretensão na rede, prevenindo desta forma
situações similares à verificada na Figura 3.5.
Cavas e interrupções
Em descarga, a energia na bobina não decaí linearmente. Segundo (Lee, 1999) quando a
corrente na bobina atinge 30% do seu valor máximo, apenas contém 9% do total de energia
armazenada. À medida que a corrente na bobina é menor, o seu declive aumenta, até chegar a um
ponto em que deixa de conseguir manter a tensão no condensador, ainda antes até, da sua energia
findar na totalidade. Na Figura 3.10 os pontos destacados representam respetivamente, o momento
em que a corrente na bobina acaba e o valor da tensão no condensador nesse instante.
47
Figura 3.10: Curva de descarga da corrente da bobina SC e respetiva corrente no condensador do barramento
DC.
48
3.2. Filtro Ativo Paralelo
Para o desenvolvimento deste componente adotou-se um SCP em fonte de tensão. Nesta
subsecção são mostrados os passos que levaram ao dimensionamento do condensador e do filtro
passivo , que em conjunto com o conversor trifásico de 6 pulsos, se constituem como os
principais elementos do filtro ativo paralelo, tal como ilustrado na Figura 3.11.
3.2.1. Dimensionamentos
Condensador
Para se ter um controlo total do conversor do FAP é necessário garantir que os díodos que
formam a ponte conversora não conduzam, ou seja, devem estar polarizados negativamente. Caso
contrário, durante a retificação, o FAP terá um comportamento similar a uma potente retificadora
comum, ou seja, terá uma tensão dada por (Rashid, 2011):
(3.2)
Uma forma de evitar esta situação não controlada, é garantindo que a tensão no lado contínuo
( ) esteja sempre acima da tensão composta da rede ( , tal como ilustrado na Figura 3.12.
Assim, com a representar o valor eficaz da tensão composta da rede, a tensão no barramento DC
deverá respeitar a seguinte condição (Teke, 2011):
(3.3)
(3.4)
49
com a representar a frequência de comutação em radianos por segundo, que também pode ser
calculada através do seu valor em Hz ( ), segundo:
(3.5)
Na equação (3.4) encontra-se ainda o valor da tenção de ripple do barramento , bem como a
corrente de saída do filtro ativo paralelo, simbolizada por . Esta última grandeza é calculada tendo
em conta a situação de maior fornecimento de corrente, que ocorre aquando de interrupções totais na
rede elétrica. Assim a partir da potência de uma carga trifásica ( ) puramente resistiva tem-se:
(3.6)
Filtro Passivo
Segundo (Chaoui et al., 2008) para o dimensionamento do elemento indutivo de filtragem ( ),
que estabelece a ligação entre o conversor paralelo e a rede elétrica, também não se tem em conta o
tipo de carga. Assim, este pode ser obtido considerando apenas a frequência de comutação do
conversor, o ripple da corrente pico a pico de compensação ( ) e a tensão do barramento.
Através de (3.7) e considerando um valor de 4% de ripple para a corrente , obtém-se um indutor
de 15 mH.
(3.7)
50
3.2.2. Sistema de Controlo
O método SRF também possibilita que se exerça controlo da tensão do barramento contínuo.
Para que esta ação seja mais eficiente, em (Rashid, 2011) é recomendado utilizar-se um controlador
PI, onde no seu dimensionamento devem ser consideradas as seguintes relações:
(3.8)
(3.9)
Como o FAP coloca a tensão da rede em oposição de fase com a corrente, então considera-se o
fator de potência unitário, e desprezando-se as perdas do próprio conversor ( ) tem-se:
(3.10)
O método de eixos de referência síncrona deve incorporar este novo componente, pelo que o seu
diagrama foi novamente reajustado, tal como mostrado na figura em baixo.
Figura 3.14: Sinal de referência calculado pelo método SRF (a vermelho) e, corrente na saída do FAP (a verde)
para a fase correspondente
51
3.2.3. Atuação durante Interrupções
Figura 3.16: Transitório de tensão antes e depois da aplicação do algoritmo de transição suave.
A forma como é controlado este modo de operação do FAP é similar à do compensador série,
pelo que uma explicação mais detalhada será feita na subsecção seguinte. Esta unidade deixa no
entanto de exercer a sua principal tarefa que consiste em compensar harmónicas de corrente.
52
3.3. Dynamic Voltage Restorer
O DVR projetado está habilitado a compensar distúrbios de tensão, cavas e sobretensões, com
uma magnitude até 50% divergente da tensão nominal de cada fase, ou seja, = 0,5.
3.3.1. Dimensionamentos
Transformador
Na escolha do transformador devem ser considerados fatores como a razão entre o número de
espiras dos lados primário e secundário e a potência do próprio transformador (Deshmukh & Dewani,
2012). Na topologia implementada utilizam-se três transformadores monofásicos, que a fim de se
evitarem saturações, devem ser projetados com uma certa margem de segurança. Segundo (Galassi,
2006), a potência de cada transformador ( ) deverá ser o dobro da potência fornecida por cada
fase do conversor série ( ), ou seja:
(3.11)
onde:
(3.12)
Para um fator potência unitário e igual à corrente calculada para o filtro paralelo, , obtém-se
uma potência de 836 W, pelo que deverá ter no mínimo, um valor próximo de 1700 W.
Utilizou-se 3,5 como valor para a razão ( ) entre o número de espiras dos lados primário e
secundário dos transformadores. Este valor foi ajustado através de simulações, mas teve como base
a seguinte equação (Teke, 2011):
(3.13)
53
Filtro Passivo
(3.14)
(3.15)
A parte da expressão anterior destacada dentro de parênteses, não é mais do que a tensão no
lado primário. Para se obter a impedância dos conversores, torna-se ainda necessário calcular a
corrente de saída do conversor, , dada através da equação (3.16). Aqui, o coeficiente
representa as quedas de corrente no condensador de filtragem, sendo o valor mínimo que a
tensão deve possuir no barramento. Para esta última grandeza considerou-se o valor obtido pela
equação (3.3), ou seja, 648 V.
(3.16)
(3.17)
A capacidade obtida para o filtro é de 9 μF, isto se for considerando o valor de 10% para os
coeficientes e . O valor de é calculado através da equação (2.1), considerando uma frequência
de corte de 500 Hz obtém-se um indutor de 13 mH.
Adicionalmente para aumentar a capacidade de filtragem, juntou-se uma resistência em série com
o condensador, considerando a mesma frequência de corte, obteve-se uma resistência R de 42 Ω,
segundo:
(3.18)
54
3.3.2. Controlo
O conversor utilizado no DVR implementado seguiu uma configuração em full H-bridge, similar à
ilustrada na Figura 3.18. Dependente do sistema de controlo, esta topologia pode apresentar vários
modos de funcionamento. Na forma mais comum de controlo, os comutadores são acionados aos
pares e de forma inversa, ou seja, só um par deve estar ON em cada momento, caso contrário
ocorrem curtos circuitos indesejados. Com base na nomenclatura atribuída à Figura 3.18, tem-se:
Figura 3.18: Conversor monofásico full H-bridge implementado com IGBT e díodos.
Quando não existem distúrbios na rede, o sistema de controlo ativa alternadamente os dois
modos de brake, acionando as restantes situações em casos de cavas e sobretensões. De modo a
não ativar inadvertidamente os modos de carga e descarga do condensador, no método feedforward
utilizado na geração de sinais, adicionou-se um bloco de Dead Zone para cortar o ruído decorrente do
funcionamento do sistema, tendo-se adicionado ainda um controlador PI, ajustado empiricamente,
para melhorar a magnitude da resposta. Segundo os ensaios de (Nogueira, 2010), o controlo por
SPWM revelou-se melhor que o método de histerese no controlo de um DVR, pelo que foi a técnica
de modelação utilizada nesta situação. Realça-se que a frequência de modelação aplicada foi de
9kHz, cumprindo desta forma as especificidades apresentadas na subsecção 2.4.1.
Na Figura 3.19 estão representados o sinal modulado e o sinal de referência calculado pelo
método feedforward, para uma simulação efetuada com o sistema implementado (capítulo 4). Alguma
da ondulação verificada nesta figura, quando o DVR não está a fornecer potência, deve-se às
dinâmicas dos seus elementos constituintes.
Figura 3.19: Sinal de referência calculado pelo método feedforward baseado na utilização de um circuito PLL (a
vermelho) e, corrente na saída do DVR (a verde) para a fase correspondente.
55
3.4. Algoritmos de Deteção de Distúrbios
Diferentes distúrbios de tensão obrigam a diferentes modos de atuação, apenas na compensação
de correntes harmónicas o sistema tem um funcionamento normal. Para cavas e sobretensões, o
DVR fornece ou recebe energia da rede elétrica, pelo que só se torna necessário colocar o SMES em
modo de descarga (por mais que um instante) aquando das primeiras. Interrupções são o tipo mais
grave de cava, logo é igualmente fundamental colocar a bobina no modo de descarga, e dada a
impossibilidade de se utilizar o conversor série, torna-se adicionalmente necessário alterar o modo de
funcionamento do FAP. Em seguida serão vistos com maior detalhe os blocos responsáveis por
efetuar estas tarefas no sistema implementado.
Cavas e Sobretensões
São vários os métodos existentes para fazer a deteção de cavas e sobretensões, de entre os
mais comuns estão (Mansor & Nasrudin, 2011; Naidoo & Pragasen, 2007):
Root Mean Square (RMS): A tensão e a corrente são analisadas no seu valor eficaz,
necessitando para isso de um conjunto de amostras prévias. Estas, além de não
corresponderem aos valores exatos da rede nesse momento requerem demasiadas
ações de processamento.
Análise da tensão de pico: A compensação só é iniciada após ser lido o valor máximo da
onda nesse semiciclo.
Missing Voltage: Trata a diferença entre o valor de tensão registado e o pretendido. Por
possuir um PLL que monitoriza a frequência e fase de amostras antecessoras, torna-se
mais eficiente que o RMS a detetar distúrbios que afetam a tensão, não só ao nível da
magnitude, mas também ao nível da forma de onda. Contudo, os seus cálculos também
são baseados em valores eficazes, pelo que o seu processamento é também
relativamente lento.
Em (Mansor & Nasrudin, 2011) é apresentado um método que além de simples, permite a
deteção de subtensões (ou sobretensões) de forma significativamente mais rápida que nos métodos
antes descritos. O seu princípio de funcionamento baseia-se na comparação do sinal sinusoidal de
tensão da rede com um sinal de referência que possuí o mesmo ângulo de fase e a amplitude em
funcionamento nominal, tal como sucede no sistema de controlo do DVR implementado. O sinal de
comando do DVR foi então utilizado como referência para o sistema de deteção de distúrbios.
Contudo, para que a bobina não entre inadvertidamente em modo de descarga, torna-se ainda
necessário separar as situações de cava das situações de sobretensão. Durante uma cava, como é
necessário fornecer energia à rede, o sinal de referência do DVR encontra-se na mesma fase da
tensão de entrada, estando em oposição de fase nas situações de sobretensão pois o DVR terá de
absorver energia. A partir deste princípio desenvolveu-se o bloco responsável por fazer a distinção
entre os dois distúrbios, e que se encontra ilustrado na Figura 3.20. Por o sistema implementado
poder atuar sobre distúrbios em cada fase de forma independente, é requerido utilizar-se este bloco
para cada uma das três fases.
56
Figura 3.20: Bloco implementado para fazer a diferenciação entre subtensão e sobretensão.
Interrupções
Nesta unidade analisam-se os momentos em que a corrente na rede está nula. Inicialmente só se
acionavam os mecanismos de resposta às interrupções quando a corrente nas três fases estava a
zero no mesmo instante. Contudo verificou-se que corrente não cai simultaneamente em todas as
fases. Neste sentido desenvolveu-se um algoritmo de forma agilizar o tempo de resposta, sendo o
sistema implementado capaz de apenas responder a interrupções trifásicas, o seu funcionamento
assenta no princípio de que basta uma das fases estar a zero por um certo número de amostras
consecutivas para que seja considerado interrupção.
57
3.5. Síntese do Capítulo
Neste capítulo descreveram os vários passos e os vários elementos considerados na constituição
da topologia implementada.
Para distúrbios com magnitudes de 50% da tensão nominal e cargas com capacidade até 5 kW,
procedeu-se ao dimensionamento dos três blocos principais sistema - filtro ativo paralelo, Dynamic
Voltage Restorer e SMES – ajustando-se o seu funcionamento para os vários distúrbios ocorridos na
rede elétrica
58
4. Análise de Resultados
Os resultados aqui apresentados consideram o teste do sistema com quatro tipos de cargas
trifásicas, de diferentes níveis de potência e comportamento harmónico.
Num primeiro ponto deste capítulo, são tecidas algumas considerações em relação às
simulações realizadas. Numa segunda parte, são feitas várias análises para os diferentes tipos de
carga: carga resistiva, carga não linear 1, carga não linear 2 e carga não linear 3. Para a carga
puramente resistiva o sistema é testado considerando os principais distúrbios: filtragem de
harmónicas de corrente, mitigação de cavas e sobretensões e sustento da rede em curtos períodos
de interrupção total. Com exceção do caso monofásico, repete-se igual bateria de testes para a carga
não linear 1, tendo sido analisado nas cargas não lineares 2 e 3 apenas situações de afundamentos e
sobretensões. Em todas as cargas avaliou-se o desempenho do sistema em termos de magnitude e
níveis de distorção harmónica, tendo sido feito nesta última situação avaliada, a comparação dos
resultados obtidos com os limites impostos pela norma IEEE 519-1992.
A primeira das ondas reproduzidas é referente à corrente de um conversor de seis pulsos com
indutor de alto valor de filtragem. A Figura 4.1 ilustra a forma de onda gerada e a onda da norma. A
taxa de distorção harmónica típica deste tipo de carga é de 28%, tendo sido obtida na onda gerada
uma TDH também dessa ordem (ver Figura 4.2).
Figura 4.1: Onda típica de corrente de um conversor de 6 pulsos com indutor de alto valor de filtragem (à
esquerda) e onda gerada (à direita).
59
Figura 4.2: Espetro harmónico e THD total da onda gerada na carga não linear 1.
Para a segunda carga não linear tentou-se reproduzir a corrente gerada por um conversor de seis
pulsos com um condensador de filtragem de baixa capacidade e um indutor série de filtragem. Este
tipo de onda, representado na Figura 4.3, tem valores de THD até 40%, estando na Figura 4.4
ilustrado o espetro harmónico da onda gerada.
Figura 4.3: Onda típica de corrente de um conversor de 6 pulsos com condensador de filtragem e indutor série
de filtragem (à esquerda) e onda gerada (à direita).
Figura 4.4: Espetro harmónico e THD total da onda gerada na carga não linear 2.
Conforme ilustrado na Figura 4.5, a carga não linear número três corresponde a um conversor de
seis pulsos com apenas condensador de filtragem.
Figura 4.5: Onda típica de corrente de um conversor de 6 pulsos com condensador de filtragem (à esquerda) e
onda gerada (à direita).
60
A magnitude da distorção harmónica deste tipo de carga vai até aproximadamente 80%, tendo-se
obtido na carga utilizada um valor bastante próximo, tal como representado na Figura 4.6.
Figura 4.6: Espetro harmónico e THD total da onda gerada na carga não linear 3.
Filtro Passivo
Aquando das simulações com as cargas não lineares verificou-se a existência de algum conteúdo
harmónico mais significativo nas mais altas frequências, tanto da tensão na carga, como na corrente
da rede. De forma a assegurar o cumprimento da norma IEEE 519-1992, decidiu-se implementar um
filtro passivo amortecido de segunda ordem. Aqui, seguindo-se as indicações retratadas na
subsecção 2.2.1, obteve-se = 26 Ω, = 12 mH e = 5 μF.
Figura 4.7: Espetro harmónico e THD total, na tensão de carga (à esquerda) e na corrente da rede (à direita).
Na Figura 4.7 está representado o espetro harmónico da carga não linear 2 durante o seu
funcionamento normal, antes da implementação deste elemento passivo de filtragem. O espetro
harmónico obtido após a aplicação do filtro é apresentado aquando da análise desta carga (secção
4.2.3).
Magnitudes Analisadas
Nas várias simulações que envolvem cavas e sobretensões, testou-se o sistema no limite do seu
dimensionamento, ou seja, 50% abaixo (ou acima) da tensão nominal da rede elétrica. Quanto à
duração, escolheu-se o valor intermédio do patamar até onde se verificam os afundamentos de
tensão mais comuns, ou seja, 0.3 ms, tal como ilustrado pela Figura 2.1. No entanto, para se ter uma
maior ideia da capacidade de resposta do sistema, estão ilustradas na Figura 4.8 as curvas de
descarga da corrente na bobina supercondutora para subtensões trifásicas com magnitudes entre 20
e 50% da tensão nominal da rede, numa carga puramente resistiva de 5 kW. Nesta mesma figura,
pode-se ver ainda a representação para a interrupção total. Repetiu-se este procedimento para uma
61
carga de 2,5 kW, também puramente resistiva (Figura 4.9). Ao comparar-se os dois casos, verificou-
se que apesar de uma das cargas possuir metade da potência da outra, o sistema não garante o
dobro do tempo de compensação. Esta situação torna-se mais evidente, quanto maior é o distúrbio.
Figura 4.8: Evolução da corrente na bobina SC para uma carga resistiva de 5 kW sob diferentes magnitudes de
cavas.
Figura 4.9: Evolução da corrente na bobina SC para uma carga resistiva de 2,5 kW sob diferentes magnitudes
de cavas.
62
4.2. Análise de resultados
Neste segmento foi analisada uma carga puramente resistiva de 4,5 kW. Por se tratar um
processo lento em termos de simulação, considera-se a bobina supercondutora já estando
inicialmente carregada. Como termo de controlo, é apresentado na Figura 4.10 o espetro harmónico
da fase A desta carga sem nenhum distúrbio. Ainda que se trate de uma carga puramente resistiva é
verificado algum conteúdo harmónico, possível de se justificar pela presença de elementos não
lineares no sistema.
Figura 4.10: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita), para
a carga resistiva em funcionamento normal.
Subtensão Monofásica
Na Figura 4.11 são apresentados os resultados obtidos na compensação deste tipo de distúrbio.
Apesar de serem o tipo de afundamento mais comum, segundo (Middlekauff & Collins, 1998)
representam cerca de 66% das cavas verificadas em sistemas de energia, porém apresentam uma
menor gravidade, quando comparados com os sentidos em mais que uma fase simultaneamente.
Como se verá visto mais à frente, o sistema implementado possui a capacidade de atenuar distúrbios
trifásicos, pelo que compensações monofásicas não serão mais testadas. Contudo, através destas
simulações comprova-se a capacidade que o sistema possui de mitigar distúrbios numa só fase,
razão pela qual se utilizou a configuração com transformadores monofásicos no compensador série.
63
Figura 4.11: Tensão na rede (em cima), tensão na carga (ao centro) e corrente na carga (em baixo) durante uma
cava de tensão monofásica.
Subtensão Trifásica
Inversamente ao que sucede com as subtensões monofásicas, as trifásicas, são as menos
comuns, contudo também as de maior gravidade. Nas próximas três figuras, são apresentadas as
magnitudes das ondas de corrente e tensão, tanto no lado da carga como no lado rede (Figura 4.12).
É ainda analisado espetro harmónico da corrente na carga e tensão na rede durante o tempo da
subtensão (Figura 4.13), bem como da evolução da tensão no barramento e corrente na bobina SC
(Figura 4.14).
Figura 4.12: Tensão na rede (em cima), tensão na carga (ao centro) e corrente na carga (em baixo) durante uma
cava de tensão trifásica.
64
Figura 4.13: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita),
durante o distúrbio de tensão.
Figura 4.14: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
Os resultados verificados são bastante satisfatórios, quer em termos de conteúdo harmónico,
quer em termos magnitude e forma de onda. Porém, observando-se com maior rigor a Figura 4.14,
percebe-se a existência de um ripple de tensão no barramento relativamente elevado no início do
distúrbio. Este facto supõe a existência de uma libertação excessiva de energia do SMES,
principalmente numa fase inicial.
Sobretensão Trifásica
Nas sobretensões trifásicas analisaram-se os mesmos parâmetros que nas cavas trifásicas, com
resultados ilustrados nas quatro imagens seguintes.
Figura 4.15: Tensão na rede (em cima) e tensão na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
65
Figura 4.16: Corrente na rede (em cima) e corrente na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
Figura 4.17: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita),
durante o distúrbio de tensão.
Figura 4.18: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
Mais uma vez verificou-se um bom comportamento do sistema. Quer ao nível de distorção
harmónica, quer em termos de magnitudes de onda. Ao contrário do caso anterior, não se verificaram
alterações nos níveis de ripple no próprio barramento ao longo do tempo. Desta forma foi possível
atestar a boa eficácia do método implementado de controlo de sobretensões. O sistema não alterou a
sua dinâmica de funcionamento, mesmo com uma sobretensão de 1,5 vezes acima da tensão de
funcionamento normal da rede. Indo muito além dos 10% apontados por (Pregitzer, 2006), como
sendo a ordem de grandeza das sobretensões que o DVR consegue compensar.
66
Interrupção Total
A única alteração relativamente ao procedimento das situações anteriores foi ao nível do tempo
de duração da perturbação. Com uma aproximação à curva da Figura 4.8 verifica-se que uma
duração de 0,3 s não dá para ser compensada, pelo que aqui se analisou uma interrupção com
metade do tempo.
Figura 4.19: Tensão na carga (em cima), corrente na rede (ao centro) e corrente na carga (em baixo) durante
uma interrupção total.
Figura 4.20: Espectro harmónico da tensão e corrente na carga, durante o distúrbio de tensão.
67
Figura 4.21: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
Por esta ser a perturbação mais grave era de prever que se obtivessem os piores resultados. Em
termos de magnitude das ondas compensadas, verificaram-se ligeiras sobretensões e sobrecorrentes
na carga. Na base deste fornecimento excessivo de energia poderá estar não só a menor apetência
que o FAP tem para fazer a compensação de distúrbios de tensão, como uma menor eficiência dos
controladores, pois o seu ajustamento foi feito com o intuito de se compensarem os principais
distúrbios de distorção da rede (cavas e sobretensões). Ainda assim, os valores em causa estão
praticamente dentro do intervalo de 10% admitido como funcionamento normal da rede elétrica.
A queda mais abruta da tensão do barramento, visível na Figura 4.21 logo após findar a
interrupção, deve-se precisamente ao algoritmo implementado para fazer a atenuação dos
transitórios. Este valor chega mesmo a transpor o limite mínimo de tensão que deve estar presente
no barramento, contudo pela sua curta duração, não foi considerado relevante.
Ao nível da distorção harmónica é verificado que o seu valor total está ligeiramente acima dos
limites estipulados pela norma IEEE 519-1992. Na origem deste valor poderá estar alguma
ressonância indesejada oriunda de um elemento passivo de filtragem.
68
4.2.2. Carga Não Linear 1
Nesta subesecção é testado o funcionamento do sistema com recurso a uma carga não linear
com aproximadamente 4,3 kV. Na Figura 4.7 foi analisado o espetro harmónico desta carga em
funcionamento normal sem o filtro passivo. Aplicado o filtro, obtém-se em funcionamento normal as
formas de onda da Figura 4.22 e cujo espetro harmónico é mostrado na Figura 4.23. Como se pode
constatar a distorção harmónica nesta carga passou de níveis iniciais de 28% (Figura 4.1), para
valores abaixo de 4%, respeitando a norma IEEE 512-1992 em todo o seu espetro.
Figura 4.22: Corrente na rede (em cima), corrente na carga (ao centro) e tensão na carga (em baixo).
Figura 4.23: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita).
As cargas não lineares caraterizam-se por aumentar o conteúdo da potência reativa na rede
elétrica, e cabe ao conversor paralelo a responsabilidade de atenuar este efeito. Na Figura 4.24 é
mostrado o comportamento das potências reativas, no lado da carga ( ) e no lado da rede
elétrica ( ), ao longo do tempo. Até aos 0,15 s o FAP encontra-se desligado, como se pode
69
observar ambas potências apresentam níveis bastante aproximados. A pequena diferença verificada
deve-se essencialmente ao filtro passivo utilizado. Quando ligado, o conversor paralelo faz decair a
potência reativa da rede para cerca de 1/3 do valor registado na carga. O pico de potência verificado
nesta mesma figura deve-se a transitórios decorrentes do momento em que o conversor paralelo é
ligado, o que em funcionamento normal não acontece, pois o FAP estará sempre ligado.
Figura 4.24: Evolução da potência reativa na carga e na rede elétrica, com e sem o FAP ligado.
Subtensão Trifásica
A análise efetuada é em tudo similar à realizada para o mesmo distúrbio na carga resistiva. Como
poderá ser constatado nas quatro figuras seguintes, os resultados são igualmente similares com os
obtidos no ensaio anterior correspondente. Apenas se constou um pequeno aumento no ripple da
tensão do barramento, mas que ainda assim não alterou os níveis de distorção harmónica verificados
durante o distúrbio.
Figura 4.25: Tensão na rede (em cima) e tensão na carga (em baixo) durante uma cava de tensão trifásica.
70
Figura 4.26: Corrente na rede (em cima) e corrente na carga (em baixo) durante uma cava de tensão trifásica.
Figura 4.27: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita),
durante o distúrbio de tensão.
Figura 4.28: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
71
Sobretensão Trifásica
Figura 4.29: Tensão na rede (em cima) e tensão na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
Figura 4.30: Corrente na rede (em cima) e corrente na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
Figura 4.31: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita),
durante o distúrbio de tensão.
72
Figura 4.32: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
Mais uma vez os resultados obtidos demonstraram ser globalmente bastante satisfatórios.
Contudo, através de uma análise mais detalhada verifica-se no espetro da corrente que a 23ª
harmónica, embora ligeiramente, supera o valor de 0,6 definido pela norma IEEE utilizada como
termo de comparação.
Interrupção Total
É novamente na perturbação mais extrema que se verificam os piores desempenhos do sistema.
Embora aqui já fosse uma situação espectável, dado que durante uma interrupção o filtro ativo
paralelo deixa fazer a compensação de harmónicas, limitando-se apenas a debitar potência ativa na
carga, razão pela qual este distúrbio não será mais analisado em cargas não lineares.
Como se pode constatar pela Figura 4.33, a tarefa de manter a corrente até é conseguida, no
entanto as carências de filtragem levam a grandes distorções da tensão da própria carga (Figura
4.34). Já ao nível do DC Link, tanto bobina como condensador, verificaram um comportamento similar
ao registado aquando da interrupção com a carga puramente resistiva, tal como ilustrado na Figura
4.35.
Figura 4.33: Corrente na rede (em cima) e corrente na carga (em baixo) durante uma interrupção total.
73
Figura 4.34: Tensão na carga durante uma interrupção total.
Figura 4.35: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
74
4.2.3. Carga Não Linear 2
Através dos mesmos procedimentos das simulações anteriores, nesta subsecção é avaliado o
desempenho do sistema perante uma outra carga não linear, mais concretamente uma carga de
aproximadamente 3 kV e com algum conteúdo capacitivo.
Figura 4.36: Corrente na rede (em cima), corrente na carga (ao centro) e tensão na carga (em baixo).
Na Figura 4.36 está patente o desempenho do sistema sem a ocorrência de distúrbios, onde para
a tensão na carga e corrente na rede se obtiveram os valores de distorção harmónica indicados na
Figura 4.37. Comparando com o espetro inicial (Figura 4.3) torna-se evidente a ação de filtragem do
sistema, passando-se de níveis de distorção harmónica acima de 30% na corrente da rede, para
valores em torno dos 3%.
Figura 4.37: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita), para
a carga não linear 2 em funcionamento normal.
75
À semelhança do que sucedeu para a carga não linear 1 analisou-se da ação do filtro ativo
paralelo na compensação da potência reativa (Figura 4.36), onde se verificou que mais uma vez o
FAP fez decair a potência reativa da rede para cerca de 1/3 do valor registado na carga. Aqui,
verifica-se porém que a ação de compensação do filtro ativo é simultaneamente causadora de
variações relativamente pequenas no valor da potência reativa no lado da carga, contudo este efeito
não é passado para rede elétrica.
Figura 4.38: Evolução da potência reativa na carga e na rede elétrica, com e sem o FAP ligado.
Subtensão Trifásica
Como poderá ser percecionado pelos resultados apresentados, nas próximas quatro figuras mais
uma vez se verificou que em situações de afundamentos de tensão o sistema implementado dá uma
boa resposta. Nos sinais compensados registaram-se formas de onda aproximadas às do
funcionamento com a carga puramente resistiva, resultando em baixos níveis distorção harmónica.
Figura 4.39: Tensão na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma cava de tensão trifásica.
76
Figura 4.40: Corrente na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma cava tensão trifásica.
Figura 4.41: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita),
durante o distúrbio de tensão.
Figura 4.42: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
77
Sobretensão Trifásica
A concisão dos resultados verificados na compensação de afundamentos de tensão, antevê que
também na resposta a sobretensões o sistema apresente um bom desempenho, situação que se veio
a comprovar tal como ilustrado pelas próximas imagens. Apenas na tensão do barramento foi
verificado algum ripple de maior magnitude, nos momentos que sucederam a compensação.
Figura 4.43: Tensão na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
Figura 4.44: Corrente na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
78
Figura 4.45: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita).
Figura 4.46: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
79
4.2.4. Carga Não Linear 3
No último ensaio, subiu-se em relação à carga não linear 2, a potência ativa da carga, passando
para 3,75 kV. Apesar deste tipo de carga apresentar um conteúdo harmónico próximo de 80% (Figura
4.6), o sistema implementado levou-o até níveis inferiores a 10%, que ainda assim não permite o
cumprimento da norma IEEE 519-1992. Como se pode verificar no espetro harmónico da Figura 4.47,
é grande a magnitude verificada nas baixas frequências, nomeadamente na 5ª e 7ª harmónica.
Nestas duas harmónicas procedeu-se à aplicação de um filtro sincronizado seguindo-se os passos da
secção 2.2.1. O espetro harmónico decorrente desta filtragem encontra-se na Figura 4.49, sendo
possível verificar que os sinais de tensão e corrente já se enquadram dentro da norma, estando as
formas de onda correspondentes representadas na Figura 4.48.
Figura 4.47: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita), para
a carga não linear sem filtros sincronizados 3 em funcionamento normal.
Figura 4.48: Corrente na rede (em cima), corrente na carga (ao centro) e tensão na carga (em baixo).
80
Figura 4.49: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita), para
a carga não linear 3 em funcionamento normal.
Figura 4.50: Evolução da potência reativa na carga e na rede elétrica, com e sem o FAP ligado.
Como se verifica pela observação da Figura 4.50, o aumento da distorção na corrente da carga
não impediu a ação do FAP de atenuação da potência. Na carga 3 foi verificada uma potência reativa
na ordem dos 200 VAr, o que representa um valor cerca de 75% inferior ao registado na carga.
Subtensão Trifásica
Nas próximas figuras são apresentados os resultados decorrentes da simulação da carga não
linear 3, quando sujeita a uma subtensão trifásica.
Figura 4.51: Tensão na rede (em cima) e tensão na carga (em baixo) durante uma cava de tensão trifásica.
81
Figura 4.52: Corrente na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma cava de tensão trifásica.
Figura 4.53: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita),
durante o distúrbio de tensão.
Figura 4.54: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
Numa perspetiva mais geral, dado os acentuados níveis de distorção harmónica da carga e o
profundo afundamento de tensão da rede, consideram-se os resultados obtidos bastante satisfatórios.
No entanto, como se verifica pela Figura 5.52, a ação de compensação provoca aumentos nos
valores pico a pico da corrente e na tensão de ripple do barramento, levando a que a compensação
harmónica ao nível da corrente fique um pouco acima dos valores da norma. Destaca-se ainda que a
82
grande capacitância da carga criou ainda algumas situações adicionais de picos de corrente
transitórios (Figura 4.52).
Sobretensão Trifásica
O último ensaio efetuado serviu para avaliar o comportamento de uma carga de maior caráter
capacitivo sujeita a fenómenos de swells.
Figura 4.55: Tensão na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
Figura 4.56: Corrente na rede (em cima) e na carga (em baixo) durante uma sobretensão trifásica.
83
Figura 4.57: Espetro harmónico e THD total da tensão na carga (à esquerda) e corrente na rede (à direita),
durante o distúrbio de tensão.
Figura 4.58: Evolução da corrente na bobina SC (em cima) e tensão no barramento (em baixo).
84
4.3. Síntese e Conclusões do Capítulo
Neste capítulo apresentaram-se e analisaram-se os resultados obtidos com as simulações
efetuadas nas diferentes cargas utilizadas.
No geral ficou clara a eficácia que o sistema implementado demonstrou perante alguns dos mais
comuns distúrbios verificados na rede elétrica. Aqui, verificou-se igualmente o bom desempenho
demonstrado pelo sistema de dissipação de sobretensões, superando assim uma das lacunas dos
Dynamic Voltage Restores.
Verificou-se ainda o papel fulcral desempenhado pelos filtros passivos. Estes dispositivos
permitiram complementar as ações de filtragem do sistema global, possibilitando que em quase todas
as perturbações fossem cumpridos os limites harmónicos impostos pela norma IEEE 512-1992.
85
86
5. Conclusões e Trabalho Futuro
5.1. Conclusões
Ao longo desta dissertação foram apresentados os principais constituintes de um sistema que
combina filtros ativos com um dispositivo de armazenamento de energia baseado em
supercondutores.
87
dinâmicas do sistema. A resposta a este problema pode passar pela utilização de um controlador
dinâmico. Crê-se que com este tipo de dispositivo, também os tempos de carga da bobina
supercondutora possam melhorar. Um controlador dinâmico implementado através de lógica difusa
pode ser encontrado em (Ferdi et al., 2010).
Das pesquisas feitas inicialmente, ficou patente a gama de opções que podem contribuir na
melhoria da performance do sistema desenvolvido. Nomeadamente:
Apesar de existir um consenso geral em trono das vantagens dos dispositivos supercondutores, o
seu elevado preço ainda se torna um entrave à sua prospeção. Neste documento já foi referido que
cada vez mais se procura utilizar SMES de menores dimensões. Seguindo esse paradigma, e
pensando na utilização de um dispositivo similar ao estudado para implementação numa rede eletrica
real, uma das formas de economizar a quantidade de material supercondutor necessário, poderia
passar por um processo de racionalização das cargas a proteger. Todas as cargas têm a mesma
importância? Valerá a pena proteger tudo? Assumindo-se que não, poderia ser interessante o estudo
de dispositivos que detetassem a presença (através de uma assinatura própria) de uma carga
considerada importante na rede e adptassem a própria instalação elétrica de uma forma automática e
fléxivel, para que apenas esta carga seja protegida pelo sistema implementado, e apenas enquanto
estiver conectada à rede elétrica.
88
6. Bibliografia
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94
7. Anexos
95
96
Anexo 2- Norma IEEE 519-1992
Tabela 7.2: Limites percentuais de harmónicas de corrente para sistemas com tensões entre 120V e 69 kV.
THD
ISC/IL h<11 11≤h<17 17≤h<23 23≤h<35 h≥35
Total
<20 4 2 1,5 0,6 0,3 5
20<50 7 3,5 2,5 1 0,5 8
50<100 10 4,5 4 1,5 0,7 12
100<1000 12 5,5 5 2 1 15
≥1000 15 7 6 2,5 1,4 20
h designa a ordem harmónica.
≤69 kV 3 5
69,001-161 kV 1,5 2,5
> 161 kV 1 1,5
97
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Anexo 3 – Bloco Fim de Interrupção
Este bloco deteta o momento em que uma interrupção deixa de existir, mas mantém no sinal de
saída por mais 4 ms, a informação de falha.
Função fim_falha:
function [saida,clk_fim_falha_aux,transicao_aux] = fim_falha(anterior,atual,clk,clk_fim_falha,transicao)
if (transicao==1),
transicao_aux=1; %por default a 'transicao' esta off, pois so é acionada dps do final de uma falha
else
transicao_aux=0;
end;
clk_fim_falha_aux=clk_fim_falha; %por default a 'transicao' esta off, pois so é acionada dps do final de uma
if(anterior==1)&&(atual==0),
transicao_aux=1;
clk_fim_falha_aux=clk; %é iniciado o periodo de transicao (este estado só deve ser assim durante uma
amostra)
end;
if (transicao_aux==1)&&(clk-clk_fim_falha_aux>=0.004),
clk_fim_falha_aux=0;
transicao_aux=0;
end %se passam os 4ms acaba o perido de transicao
if(transicao_aux==1),
saida=1;
else
saida=0;
end;
99
100