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O Xamanismo de Carlos Castaneda

*Professor Mestre Marcos Spagnuolo Souza

O presente artigo foi fundamentado nos seguintes livros de Carlos


Castaneda: “Uma Estranha Realidade”. Terceira Edição. Rio de
Janeiro/São Paulo. Distribuidora Record. 1971. “Viagem a IXTLAN”.
Rio de Janeiro. Editora Record. 1972. “O Presente da Águia”. Rio de
Janeiro. Editora Record. 1981. . “O Fogo Interior”. Rio de Janeiro.
Editora Record. 1984. “A Arte de Sonhar”. Rio de Janeiro. Editora
Record. 1993. “Segundo Círculo do Poder”. Rio de Janeiro. Editora
Record. 1995. “ A Roda do Tempo”. Rio de Janeiro. Editora Nova
Era. 2000. O Poder do Silêncio”. Rio de Janeiro. Editora Nova Era.
2001. “O Lado Ativo do Infinito”. Rio de Janeiro. Editora Nova Era.
2002. “A Erva do Diabo”. Rio de Janeiro. Editora Nova Era.
2002.Para elaborar esse artigo utilizei a seguinte metodologia: cada
parágrafo escrito por Carlos Castaneda que, na minha concepção
fosse importante, foi fichado e o assunto recebeu uma denominação
de fácil identificação. Terminado o trabalho de fichamento, relacionei
as denominações de cada assunto, o que me possibilitou a
especificação das áreas abordadas por Castaneda. Depois de delinear
as áreas, procurei inserir em cada área os assuntos pertinentes,
transcrevendo as próprias palavras do autor. Em caríssimas ocasiões
fiz pequenas modificações em alguns parágrafos, para melhorar o
entendimento. Penso que esse trabalho vai possibilitar uma visão
abrangente das principais colocações feitas por Carlos Castaneda.

Áreas de Abordagem

Capítulo I
Quem é Carlos Castaneda.
Toltecas
Xamanismo
Regulamento

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Capítulo II
A Águia
O Intento
O Cosmo
Destino

Capítulo III
O Infinito
O Desconhecido
O Incognoscível
Os Mundos
O Espaço
O Espaço entre os Mundos
A Fresta Entre os Mundos
O Tempo

Capítulo IV
Mestres
Nagual
Conselhos do Nagual
O Guerreiro

Capítulo V
O Poder
Lugares de Poder
Objetos de Poder
Exercícios

Capítulo VI
Os Ventos
As Plantas
As Outras Pessoas

Capítulo VII
Tipos de Seres
Seres Orgânicos e Inorgânicos

Capítulo VIII
Predadores
Os Aliados

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Entes da Noite
Quatro Inimigos

Capítulo IX
Humanidade
O Homem
Dualismo Humano
Pontos de Aglutinação
Formas do Corpo Humano
Adotar outras Formas
O Homem Moderno
A Busca do Conhecimento
O Homem de Conhecimento
Ser Funcional
O Ponto mais Elevado da Evolução
O Principal Erro do Ser Humano

Capítulo X
A Consciência
Racionalidade
Intensão e Desejo
Desejo
Sexo
Ver
Percepção
O Medo

Capítulo XI
Campo de Batalha
Meditação
O Espreitador
Pequenos Tiranos
Escudos
História Pessoal
Diálogo Interno
Conhecimento Silencioso
Nada Fazer
Ponto de Ruptura
Loucura Controlada
Liberdade

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Capítulo XII
O Sonho
O Corpo Sonhador

Capítulo XIII
A Morte
Final da Vida
O Fim de Uma Era

Capítulo I

Quem é Carlos Castaneda

Carlos Castaneda era um antropólogo. Nasceu no Arizona em 1925 e


faleceu em 1998. Em 1960 quando ainda era estudante de
antropologia, encontrou numa cidadezinha mexicana, um índio velho
que se apresentou com o nome de Juan Matus, nascendo do encontro
toda uma iniciação mística para Carlos Castaneda, onde passou a ter
uma percepção ampliada de outros mundos e outras realidades. O
mestre de Dom Juan Matus foi Julian Osório. O mestre de Julian foi
Elias Ulloa que pertencia a uma linhagem de feiticeiros que viviam no
México em tempos antigos, durante vinte e cinco gerações. Dom Juan
possuía quatro discípulos: Taisha Abelar, Florinda Donner-Grau, Carol
Tiggs e Carlos Castaneda.

Os Toltecas

Séculos antes da chegada dos espanhóis ao México havia


extraordinários videntes toltecas. Eram os últimos elos de uma cadeia
de conhecimento que se estendia por milhares de anos. Conheciam a
arte de manipular a consciência, eram os mestres supremos dessa
arte, o mistério de estar consciente. Tolteca significa o receptador e
conservador dos mistérios. Um feiticeiro é um tolteca quando recebe
os mistérios de espreitar e sonhar. O modo como os toltecas
começaram a seguir a trilha do conhecimento foi consumindo plantas

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de poder. Tolteca significa homem de conhecimento. Alguns deles
empenharam-se em usar a visão de modo positivo e ensiná-la aos
seus semelhantes. Diz Castaneda que sob a direção dos toltecas, as
populações de cidades inteiras passaram para outros mundos e nunca
mais voltaram, antes da chegada dos espanhóis. Castaneda recebeu
os ensinamentos dos antigos Toltecas através do seu mestre Dom
Juan.

Xamanismo

Xamanismo é um estado de consciência, a capacidade de usar campos de


energia que não são empregados para perceber o mundo cotidiano que
conhecemos.

Regulamento

O regulamento é um mapa para procurar e encontrar uma abertura no


mundo, uma passagem. Regulamento é todo o ensinamento
transmitido por Dom Juan Matus. Regulamento é o conhecimento dos
Toltecas.

Capítulo II

A Águia

Os videntes viam a força indescritível que é a fonte de todos os seres


conscientes. Chamaram-na de Águia. Viam-na como algo que se
parecia com uma águia branca e preta, de tamanho infinito. Viram que
a Águia concede consciência. A Águia cria os seres conscientes para
que estes vivam e enriqueçam a consciência que ela lhes proporciona
com a vida. É a Águia que devora essa mesma consciência
enriquecida, depois de fazer com que os seres conscientes
abandonem o corpo no momento da morte. A consciência dos seres
conscientes levanta vôo no momento da morte e flutua como um tufo
de algodão luminoso diretamente para o bico da Águia, onde é
consumida. A consciência é o alimento da Águia.

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As emanações da Águia são imutáveis, englobando tudo que existe,
do conhecido ao incognoscível. São uma presença, quase uma
espécie de massa, uma pressão que cria uma sensação de
deslumbramento. A Águia é a fonte de todas as emanações. Mas não
existe Águia nem emanações. O que existe é algo que nenhuma
criatura viva pode compreender. É algo incognoscível, que se
assemelha vagamente a algo conhecido. Existe uma força que atrai
nossa consciência, como um ímã atrai a limalha de ferro. No momento
da morte, todo nosso ser se desintegra sob a atração dessa força
misteriosa. Ver as emanações da Águia é beirar o desastre. Apenas
uma pequena porção daquelas emanações está ao alcance da
consciência humana, e essa pequena porção é reduzida ainda mais, a
uma fração diminuta, pelas exigências de nossas vidas diárias. Essa
fração diminuta das emanações da Águia é o conhecido é a pequena
porção ao alcance da consciência humana. O desconhecido, o
incalculável restante, é o incognoscível.

Não existe mundo objetivo, mas apenas um universo que é um campo


de energia, o qual os videntes chamam de emanações da Águia. Os
seres humanos são feitos das emanações da Águia. Os seres
humanos são feitos das emanações da Águia e são essencialmente
bolhas de energia luminosas. Cada um de nós está envolto em um
casulo que aprisiona uma pequena porção dessas emanações. A
consciência é adquirida pela pressão constante que as emanações
externas aos nossos casulos, chamadas emanações livres, exercem
sobre as que se encontram dentro dos mesmos. Essa consciência dá
origem à percepção, o que acontece quando as emanações no interior
dos nossos casulos alinham-se com as emanações livres
correspondentes.

As emanações da Águia estão sempre reunidas em aglomerados. Os


antigos videntes chamavam esses aglomerados de grandes faixas de
emanações. Não são realmente faixas, mas o nome pegou. Existem
infinitas faixas. Na terra existem apenas quarenta e oito de tais faixas.
Há quarenta e oito tipos de faixas ou estruturas na terra. A vida
orgânica é uma delas. Sete faixas produzem bolhas inorgânicas de
consciência. Existem quarenta faixas que produzem bolhas sem
consciência, faixas que geram apenas organizações.

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O poder que governa o destino de todos os seres vivos é chamado de
Águia. Aparece ao observador como uma incomensurável Águia
negra, na sua postura ereta, com o corpo voltado para o infinito.
Quatro labaredas de luz revelam como a Águia é. Primeira labareda:
como um relâmpago, ajuda o observador a perceber os contornos do
seu corpo. A segunda labareda revela as asas ao vento em sua
negrura. A terceira labareda o observador nota o olho penetrante,
impiedoso. A quarta labareda vê o que a Águia está fazendo. A Águia
está devorando a consciência de todas as criaturas que, vivas até
pouco antes ou já mortas, flutuaram para o seu bico, como um
enxame incessante de vaga-lumes indo ao encontro de seu dono. A
Águia as consome, porque a consciência é o seu alimento. Não há
nenhum modo, portanto, do homem suplicar a Águia, pedir favores,
esperar sua misericórdia. A Águia concede um presente a cada um
desses seres. Qualquer um deles, se desejar, tem o poder de manter
a chama da consciência, o direito de transgredir os apelos de morrer e
ser consumido. Toda coisa humana recebe o poder, se desejar, de
buscar um abertura para a liberdade e atravessar a referida abertura.
A Águia concede esse presente a fim de perpetuar a consciência. Com
a finalidade de guiar as consciências até a abertura, a Águia criou o
Nagual. O Nagual é um ser duplicado para quem o regulamento foi
revelado. Seja na forma de um ser humano, um animal, uma planta,
ou qualquer coisa viva, o Nagual, em virtude de sua duplicidade, é
levado a buscar aquela passagem secreta. O Nagual aparece como
um ovo luminoso com quatro compartimentos. O lado esquerdo
dividido em duas longas seções e o lado direito dividido em dois. O ser
humano padrão, tem apenas dois lados, o esquerdo e o direito. O
Nagual vem aos pares, macho e fêmea. A Águia criou o primeiro
homem Nagual e a primeira mulher Nagual como observadores. Deu-
lhes quatro guerreiras, as espreitadoras, três guerreiros e um
mensageiro, aos quais são encarregados de nutrir, desenvolver e levar
as outras consciências para a liberdade. As guerreiras são chamadas
de as quatro direções, os quatro cantos de um quadrado, os quatro
ventos, refletindo as quatro personalidades existentes na raça
humana. Leste: ordem, leve, suave, persistente como uma brisa.
Oeste: sentimento, introspectiva, arrependida, astuta, dissimulada,
rajada fria de vento. Sul: crescimento, criativa, tímida, calorosa como o
vento quente. Norte: força, rude, direta, tenaz como um vento forte. Os
três guerreiros e o mensageiro são representantes dos quatro tipos de
temperamento masculino. O primeiro é o homem de conhecimento, o

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estudiosos nobre e capaz, sereno, dedicado, realiza a sua tarefa. O
segundo é ação, altamente volátil e engraçado. O terceiro é
organizador por trás dos bastidores, o homem misterioso e
desconhecido. O quarto é o mensageiro, é o assistente, taciturno e
sombrio, incapaz de agir por si próprio.

Tudo que nos rodeia é um mistério insondável. Devemos tentar


desvendar esse mistério insondável, mas sem jamais esperar
conseguir isso. O guerreiro vê a si mesmo como um mistério. Uma
pessoa é igual a tudo o que existe. O mistério de ser não tem fim, seja
uma pedra, uma formiga ou o próprio homem.

Já me entreguei ao poder que rege o meu destino. Não me prendo a


nada, para não ter nada a defender. Não tenho pensamentos, por isso
verei. Não receio nada, por isso me lembrarei de mim mesmo. Sou
totalmente desprendido. Passarei como um jato pela Águia para me
tornar livre.

Intento

(Intento é sinônimo de Águia, Espírito, Nagual, indescritível, o abstrato,


mar escuro da consciência.)

No universo há uma força imensurável e indescritível que os feiticeiros


chamam intento, e que absolutamente tudo o que existe no cosmo
inteiro está ligado ao intento por um elo de conexão.

Intento é a força que muda e reordena as coisas ou as mantém como


são. A única maneira de conhecer o intento é conhecê-lo diretamente
através de uma conexão viva que existe entre o intento e todos os
seres sencientes. Os feiticeiros chamam o intento de o indescritível, o
espírito, o abstrato, o nagual.

O espírito ou intento se revela a todos com a mesma intensidade e


consistência, mas apenas os feiticeiros estão sintonizados a tais
revelações.

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O espírito é parecido com um animal selvagem, mantinha distância de
nós até o momento em que algo atraía-o . É então que o espírito
manifesta.

O Espírito é um abstrato simplesmente porque ele o conhece sem


palavras ou mesmo pensamentos. É um abstrato porque não pode
conceber o que seja o espírito.

Como resultado da minha educação católica pensei que o intento


fosse Deus, mas disseram que o intento não podia ser Deus, porque
intento era uma força que não podia ser descrita, muito menos
representada.

A nossa grande falha é que vivemos nossas vidas negligenciando


completamente a conexão com o intento. O fervilhar de nossas vidas,
nossos incessantes interesses, preocupações, esperanças, frustações
e medo têm precedência, e no dia-a-dia não percebemos que estamos
ligados a tudo o mais. A idéia cristã de termos sido expulsos do jardim
do Édem era uma alegoria para o fato de havermos perdidos nosso
conhecimento silencioso, o conhecimento do intento. A feitiçaria é uma
volta ao princípio, um retorno ao paraiso.

O Espírito é a força que sustenta o universo. O intento não é algo que


alguém possa usar e comandar ou mover de algum modo, não
obstante, podia-se usá-lo, comandá-lo ou movê-lo como se desejasse.

Para que a magia tome conta da gente é somente banir de nossa


mente a dúvida. Depois que a dúvida é banida, tudo é possível.

Para fazer o ponto de aglutinação mover deve empenhar por intento.


Uma vez que não há maneira de saber o que é o intento, o feiticeiro
deixa que os seus olhos chamem o intento. Os olhos estão
diretamente ligados ao intento. Os olhos estão apenas
superficialmente ligados ao mundo da vida cotidiana. Sua conexão
mais profunda é com o abstrato. O nagual move o ponto de
aglutinação de outras pessoas com o olhar. Os olhos de todos os
seres vivos podem mover o ponto de aglutinação de outros,
especialmente se os seus olhos estiverem focalizados no intento.

O intento é experimentado com os olhos, não com a razão.

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O intento é o espírito e é o espírito que move seu ponto de
aglutinação.

O intento houve quando o discurso é feito através de gestos, que não


significa sinais ou movimentos corporais, mas atos de abandono
verdadeiro, atos de liberalidade.

O intento é uma força que o nagual pode visualizar quando vê a energia


fluindo no universo. É uma força que permeia tudo e intervém em todos os
aspectos do tempo e do espaço. É um ímpeto por trás de tudo . A única
maneira de afetar essa força é por meio de um comportamento impecável.

Para que o mistério do xamanismo se torne disponível para alguém, o espírito


deve descer sobre aquele que estiver interessado. O espírito permite que sua
presença, por si mesma, mova o ponto de aglutinação do homem para sua
posição específica. Este ponto determinado é conhecido pelos xamãs como o
lugar da não-piedade.

Não há um procedimento envolvendo no fazer o ponto de aglutinação se


mover para o lugar da não-piedade. O espírito toca a pessoa e seu ponto de
aglutinação se move.

Intento é uma força que existe no universo. Os feiticeiros chamam o intento e


o intento prepara o caminho para as realizações dos feiticeiros e os feiticeiros
concretizam aquilo a que se propõem. O intento só vem a eles para algo que é
abstrato

O mar escuro da consciência é responsável não só pela consciência dos


organismos, mas também pela consciência das entidades que não têm um
organismo.

O Cosmo

O cosmo inteiro é feito de filamentos luminosos que se estendem


infinitamente. Os filamentos vão a todas as direções sem jamais se tocarem
uns nos outros. Existem filamentos individuais, e que, ao mesmo tempo, esses

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filamentos se agrupam em massas inconcebivelmente colossais. O universo
inteiro era um universo de intento, e intento é o equivalente a inteligência.

Estamos sendo continuamente puxados, empurrados e testados pelo próprio


universo. O universo em geral é predatório ao máximo, mas não predatório no
sentido em que entendemos esse termo. A condição predatória do universo
significa que o intentar do universo é estar continuamente testando a
consciência. O universo cria quantidades incalculáveis de seres orgânicos e de
seres inorgânicos. Exercendo pressão sobre todos esses seres, o universo os
força a expandir a própria consciência deles, e dessa forma o universo se
esforça para se tornar mais consciente de si próprio. A consciência é o
resultado final. Consciência é o ato de estar deliberadamente consciente de
todas as possibilidades perceptivas do homem, não apenas as possibilidades
perceptivas ditadas por qualquer determinada cultura, cujo papel parece ser o
de restringir a capacidade perceptiva de seus membros. Liberar a capacidade
perceptiva total dos seres humanos não interferiria de nenhuma forma em seu
comportamento funcional. O comportamento funcional passaria a ter um novo
resultado extraordinário, porque iria adquirir um novo valor.

Destino

O Nagal disse que o nosso encontro tinha sido marcado com anos de
antecedência e que nenhum de nós tinha poder suficiente para
apressá-lo nem para rompê-lo.

Dona Soledade me perguntou se o Nagal tinha me ensinado a aceitar


o meu destino?

O Nagal já me tinha ensinado a não resistir o vento. Tinha-me


ensinado a ceder ao vento e a deixar que ele me guiasse.

A força que governa os nossos destinos está fora de nós e não tem
nada a ver com as nossas ações ou vontades. As vezes essa força
pode determinar que paremos de caminhar e nos baixemos para
amarrar os cordões dos sapatos. Fazendo-nos parar, aquela força
pode estar nos fazendo ganhar um momento precioso.

Dom Juan disse que, diante de minha falta total de controle sobre as
forças que decidem o meu destino, a minha única liberdade possível
consiste em amarrar os cordões do meu sapato de modo impecável.

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Um guerreiro aceita seu destino, seja ele qual for, e o aceita na mais total
humildade. ,Aceita com humildade aquilo que ele é, não como fonte de
remorso, mas como um desafio vivo.

O curso do destino de um guerreiro é inalterável.O desafio é de até onde ele


pode ir e quanto ele será impecável dentro desses limites rígidos.

O poder que governa o destino de todos os seres vivos é chamado a Águia,não


porque seja uma águia ou tenha alguma coisa a ver com uma águia, mas
porque aparece aos olhos do vidente como uma incomensurável águia negra,
em pé e ereta como as águias ficam em pé, com sua altura atingindo o infinito.

Capítulo III

O Infinito

O infinito é tudo o que nos rodeia. Os feiticeiros o chamam de infinito, o


espírito, o mar escuro da consciência, e dizem que é algo que existe ali fora e
que rege as nossas vidas.

O Desconhecido
O desconhecido é simplesmente as emanações descartadas pela
primeira atenção. É vasto, mas a aglomeração ainda pode ser feita.

Delimitar o desconhecido significa torná-lo acessível à nossa


percepção.

O desconhecido é alguma coisa velada para o homem, coberta talvez por um


contexto terrível mas que, não obstante, está ao alcance do homem. O
desconhecido se torna conhecido em determinado tempo. O incognoscível, por
outro lado, é o impensável, o imperceptível. É algo que nunca será conhecido
por nós e, ainda assim , está lá, fascinante e ao mesmo tempo aterrador em sua
vastidão.

O desconhecido está sempre presente, mas está fora da possibilidade de nossa


consciência normal. O desconhecido é a parte supérflua do homem comum. E

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é supérflua porque o homem comum não tem energia livre suficiente para
percebê-lo.

O Incognoscível

Nossa familiaridade com o mundo que percebemos, compele-nos a


acreditar que estamos rodeados de objetos que existem de fato, sendo
que na realidade, não há mudo de objetos, mas um universo formado
pelas emanações da Águia.

O incognoscível é o indescritível, o impensável, o inconcebível. O


incognoscível é algo que jamais será conhecido por nós, e ainda
assim está ali, fascinando e ao mesmo tempo horrorizando em sua
vastidão. O mundo lá fora não é realmente como pensamos, achamos
que é um mundo de objetos, mas não é.

Tudo que esteja além de nossa capacidade de perceber é o


incognoscível.

Diante do incognoscível os videntes sentem-se exauridos, confusos, e


sofrem uma terrível opressão. Seus corpos perdem tônus, raciocínio e
sobriedade. Ficam desnorteados. O incognoscível não tem efeito
energizante. Não está ao alcance do homem e por isso não deveria
ser invadido totalmente ou mesmo com prudência. Paga-se um preço
exorbitante pelo menor contato com o incognoscível.

Ver é deixar a nu o núcleo de todas as coisas, é testemunhar o


desconhecido e ter um vislumbre do incognoscível.

O incognoscível é uma eternidade onde nosso ponto de aglutinação


não tem condição de aglomerar.

Os Mundos

O mundo que nos cerca é um mistério e os homens não são melhores


do que as outras que existem no mundo.

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O mundo é tudo o que está encerrado aqui: a vida, a morte, as
pessoas, e tudo o mais que nos cerca. O mundo é incompreensível.
Nunca o compreenderemos; nunca desvendaremos seus segredos.
Assim devemos tratar o mundo como ele é: um puro mistério.

Existem mundos sobre mundos, bem aqui na nossa frente.

O tonal e o nagual são dois mundos diferentes. Num você fala, no


outro você age.

Tonal é a consciência que temos do nosso mundo cotidiano e


também a ordem pessoal que carregamos pela vida em nossos
ombros. O Tonal pessoal de cada um de nós é uma pequena ilha
cheia de coisas que conhecemos.

O nagual é uma fonte inexplicável que mantêm aquela mesa no lugar


e faz ela aparecer mesa. É a vastidão do deserto.

O homem comum não tem o alcance que o feiticeiro possui, porque o


homem comum está bem sobre sua mesa, agarrado a cada artigo que
está na mesa. Alcançar a segunda atenção é reunir as duas
atenções (tonal e nagual) numa única unidade e essa unidade é a
totalidade do ser. Perder a forma humana é o requisito necessário
para unificar as duas atenções.

A fresta entre os mundos é mais do que uma metáfora. É antes, a


capacidade de mudar os planos de atenção.

Em um outro mundo: as rochas são muito velhas e poderosas e


possuem uma luz meio esverdeada. Plantas possuem uma luz branca,
os seres vivos possuem uma luz amarela. As pedras não se abrem
facilmente aos contempladores. As rochas possuem segredos
especiais, escondidas em seu âmago, segredos que podem ajudar os
feiticeiros nos sonhar.

Alguns seres dizem que o mundo deles é a coisa mais bela e perfeita
que pode existir.

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O nosso mundo é como parece, e entretanto não é. Não é tão sólido e
real como nossa percepção nos faz crer, mas também não é uma
miragem. O mundo é uma ilusão. Ele é real por um lado, e irreal por
outro.

Algo lá fora afeta nossos sentidos e esse algo é a parte real. A parte
irreal é o que eles dizem estar lá fora. Os nossos sentidos dizem que
uma montanha é um objeto. O objeto tem tamanho, corpo, forma. Os
videntes dizem que pensamos que existe um mundo de objetos, mas o
que realmente existe é a emanação ou emanações da Águia. Essas
emanações são fluidos que estão sempre em movimento.

O conhecimento secreto possui cinco conjuntos e em cada conjunto


existem duas categorias. As categorias são: a terra e as regiões
escuras; fogo e a água; o acima e o abaixo; o sonoro e o silente; o
movimento e o estacionário.
a) Terra: é o conhecimento de tudo que existe sobre o solo.
b) Regiões escuras: é o conhecimento de todas as entidades sem vida
orgânica, criaturas vivas que povoam a terra juntamente com todos
os seres orgânicos. O homem comum não os vê porque o casulo
do homem está enrijecido, não tendo uma interação possível com o
que existe.

c) Fogo: é o conhecimento do calor e da chama, que são usados para


transportar corporalmente o homem. O fogo se divide em calor e
chama.

d) Água: é o conhecimento da umidade e da fluidez e também


transporta o homem corporalmente. A água é dividida em umidade
e fluidez.

Observação: a unidade formada pelo calor e umidade é chamada de


propriedade menor. A unidade formada pela chama e fluidez é
denominada de propriedade mais elevada. A propriedade mais
elevada é o meio de transporte do reino corpóreo ao reino da vida não
orgânico.

e) Acima: conhecimento secreto sobre os vento, as chuvas, os


relâmpagos, as nuvens, os trovões e a luz do dia, que é o sol.

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f) Conhecimento do abaixo: nevoeiro, águas das fontes subterrâneas,
pântanos, terremotos, noite, o luar e a lua.

g) Sonoro e silente: conhecimento secreto que tinha a ver com a


manipulação do som e da quietude.

A umidade da água apenas molha ou ensopa, mas a fluidez da água


move. Ela corre em busca de outros níveis abaixo de nós. Existem
elos entre os níveis, sendo que um elo pode nos leva para outros
níveis abaixo. São sete níveis abaixo.

É possível ser transportado em essência para qualquer lugar. A água


corrente é usada para transportar no nível em que estamos. A água de
lagos profundos ou de nascentes transporta para as profundezas, são
utilizadas para nos levar a um encontro face a face com um ser
vivente do primeiro nível. A maneira mais segura de encontrar uma
dessas criaturas é através de uma porção de água.

Não existe profundeza, existe apenas manipulação de consciência.

As grandes faixas estão inexplicavelmente entrelaçadas, como um


feixe de feno que é mantido coeso em pleno ar pela força da mão de
quem o juntou.

Tudo o que existe na terra está aprisionado. Tudo o que percebemos é


construído de partes de casulos ou vasilhas com emanações. O
mundo total é feito de quarenta e oito faixas. O mundo que nosso
ponto de aglutinação aglomera para a nossa percepção normal é
construído de duas faixas; uma é a faixa orgânica, a outra é somente
uma faixa que tem apenas estrutura, mas não consciência. As outras
quarenta e seis faixas não fazem parte do mundo que percebemos
normalmente. Existem outros mundos completos que nossos pontos
de aglutinação podem aglomerar. São sete tais mundos, um para cada
faixa de consciência. Dois desses mundos, ao lado do mundo da vida
cotidiana, são fáceis de concatenar. Os outros cinco são outra coisa.

O deslocamento do nosso ponto de aglutinação para área abaixo de


sua posição normal, costuma permitir uma visão detalhada e estreita

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do mundo que conhecemos. Essa visão é tão detalhada que parece
ser um mundo inteiramente diferente. É uma visão fascinante.

A vida orgânica não é a única vida presente na Terra, a própria Terra é


um ser vivo. A Terra tem um casulo, existe uma bola circundando a
Terra, que é um casulo luminoso que contêm as emanações da Águia.
A Terra é um gigantesco ser consciente. A chave mágica que abre as
portas da Terra é feita de silêncio interno e mais qualquer coisa que
brilhe.

A Terra é um ser consciente e, como tal, pode dar aos guerreiros um


grande impulso, um empurrão que vem da consciência da própria
Terra no instante em que as emanações do interior dos casulos dos
guerreiros alinham-se com as emanações apropriadas do interior do
casulo da Terra. A Terra possui todas as emanações presentes em
todos os seres conscientes, orgânicos e inorgânicos. Os guerreiros
podem usar esse alinhamento para perceber, como todos os demais,
ou usá-lo como um impulso que lhes permita entrar em mundos
imagináveis.

Nosso mundo, que acreditamos ser único e absoluto, é apenas um


meio a um conjunto de mundos consecutivos, arrumados como
camadas de uma cebola. Apesar de sermos energeticamente
condicionados a perceber apenas nosso mundo, ainda temos a
capacidade de entrar nas outras regiões, que são tão reais, únicas,
absolutas e envolventes como o nosso mundo.

Por causa do nosso condicionamento somos compelidos a presumir


que o mundo de nossa vida cotidiana é o único mundo possível.

Perceber a essência nos fará compreender o mundo em termos


completamente novos.

A essência do universo lembra fios incandescentes, esticados até o


infinito em todas as direções concebíveis, filamentos luminosos com
consciência de si. A essência do universo é impossível de ser
compreendida pela mente humana.

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O nosso atual mundo existe devido a uma determinada posição do
nosso ponto de aglutinação. Existem outros mundos relacionados com
outras posições do nosso ponto de aglutinação.

O mundo é como uma cebola. Tem muitas peles. O mundo que


conhecemos é apenas uma delas. Algumas vezes atravessamos
fronteiras e entramos em outra pele: outro mundo, muito parecido com
este, mas não o mesmo.

No universo só existe energia; o mal é simplesmente uma


concatenação da mente humana, esmagada pela fixação do ponto de
aglutinação em seu posicionamento habitual.

O mundo é tudo o que está encerrado aqui: a vida, a morte, pessoas,


aliados e tudo o mais que nos cerca. O mundo é incompreensível.
Nunca o compreenderemos, nunca o desvendaremos seus segredos.
Assim temos de tratá-lo como ele é, um simples mistério. Mas o
homem comum não faz isto, o mundo nunca é mistério para ele e,
quando chega a velhice, está convencido de que não tem mais nada
por que viver. Um velho não esgotou o mundo, só esgotou o que as
pessoas fazem. Mas, em sua estúpida confusão, acredita que o
mundo não tem mais mistérios para ele. Que preço triste para pagar
por nossos escudos.

Fumei: abri os olhos ao máximo que pude. Dom Juan falou que eu
tinha de esperar um pouco e ficar de olhos abertos o tempo todo e
que, em dado momento, eu veria o guarda do outro mundo. Vi, é um
animal gigantesco e monstruoso. Este é o guarda. Se você quiser ver
tem que dominar o guarda. O guarda, as vezes, é para alguns de nós,
uma fera terrível, alto como o céu. Você não pode fazer o guarda
desaparecer por um ato de vontade. Mas a sua vontade pode impedir
que ele lhe faça mal. Poderá passar pelo guarda. Fumar não é o único
meio de ver o guarda, pode ver sem o fumo. Prefiro o fumo porque é
menos perigoso para a gente e mais eficaz.

O universo é uma aglomeração infinita de campos de energia,


semelhantes a filamentos de luz. Esses campos de energia, chamados
de emanações da Águia, radiam de uma fonte de proporções
inconcebíveis, metaforicamente denominada Águia.

19
O universo é feito de campos de energia que desafiam a descrição ou
a análise. Disse que pareciam filamentos de luz comum, exceto pelo
fato de ser inanimada comparada às emanações da Águia, que
exsudam consciência.

A terra é consciente e sua consciência pode afetar a consciência dos


humanos.

O universo é feito de campos de energia que desafiam a descrição ou


a análise. Disse que pareciam filamentos de luz comum, exceto pelo
fato de ser inanimada comparada às emanações da Águia, que
exsudam consciência.

O universo é uma aglomeração infinita de campos de energia,


semelhantes a filamentos de luz. Esses campos de energia, chamados
de emanações da Águia, radiam de uma fonte de proporções
inconcebíveis, metaforicamente denominada Águia.

O Universo é composto de um número infinito de campos energéticos que


existem no universo como filamentos luminosos. Esses filamentos luminosos
agem no homem como um organismo. A resposta do organismo é transformar
esses campos energéticos em informações sensoriais. As informações
sensoriais são então interpretadas, e essa interpretação se torna o nosso
sistema cognitivo. Minha compreensão da cognição me força a acreditar que
isso é um processo universal.

O Espaço
O espaço é uma região abstrata da atividade, é o infinito.

Espaços Entre os Mundos

O deserto é um lugar fora do mundo, um espaço entre o mundo que


conhecemos e o outro mundo. O deserto é uma área entre as linhas
paralelas. Podemos ir no deserto em sonhos. Mas a fim de deixar esse
mundo e alcançar o outro, o que fica além das linhas paralelas, temos
que atravessar essa área com nosso corpo todo. O deserto é rodeado
de pequenos montes arredondados, verdadeiras dunas de areia em

20
todas as direções, indo até a linha do horizonte. É semelhante a um
arenito amarelo-pálido, ou grânulos rugosos de enxofre. O céu
também possui a mesma cor e fica baixo e opressivo. Existem rolos de
neblina amarela, ou uma espécie de vapor amarelado caindo de certos
pontos do céu. Para mover precisa-se de muita energia, como que
pequenas explosões, seguidas de uma pausa.

A sensação que temos ao entrar pela parede de névoa, é como o


nosso corpo estivesse sendo torcido como as tranças de uma corda.
Do outro lado existe uma planície horrível e desoladora com dunas de
areia pequenas e redondas. Existem nuvens amarelas muito baixas,
mas não havia céu ou horizonte, barreiras de vapor amarelo-pálido
prejudicam a visibilidade. É muito difícil andar. A pressão parece muito
maior do que o corpo está habituado a sofrer. Quanto mais se afasta
da parede mais escuro fica e mais difícil de manter a posição ereta e
tem que se arrastar. O Nagual tem que nos puxar para nos retirar
desse lugar.

A Fresta Entre Dois Mundos

A coisa especial a se aprender é como chegar a fresta entre os mundos e como


entrar no outro mundo. Existe uma fresta entre os dois mundos, o mundo dos
diableros e o mundo dos homens vivos. Existe um lugar onde os dois mundos
se sobrepõem. A fresta está ali. Abre e fecha como uma porta ao vento. Para
chegar lá, o homem tem de exercer sua vontade. Posso dizer que ele deve ter
um desejo invencível de fazer isso, uma dedicação total. Mas ele tem de fazê-
lo sem o auxílio de qualquer poder, ou de qualquer homem. O indivíduo
sozinho deve ponderar e desejar, até o momento em que seu corpo esteja
pronto para empreender a jornada. Esse momento é anunciado por um tremor
prolongado nos membros e vômitos violentos. Geralmente, o homem não
consegue dormir nem comer e vai minguando. Quando as convulsões não
param, o homem está pronto para ir e a fresta entre os mundos aparece bem
diante dos olhos dele, como uma porta monumental, uma fresta que sobe e
desce. Quando a fresta se abre, o homem tem de deslizar por ela. É difícil
enxergar do outro lado dos limites. É ventoso, como uma tempestade de areia.
O vento rodopia. Então, o homem tem de andar,em qualquer direção. Será
uma viagem curta ou longa, dependendo de sua força de vontade. Um homem
de muita força faz uma viagem breve. Um homem indeciso e fraco faz uma
viagem longa e perigosa. Depois dessa viagem, o homem chega a um tipo de
planalto. É possível distinguir algumas de suas características claramente. É

21
uma planície acima do solo. É possível reconhecê-lo pelo vento, que se torna
ainda mais violento, batendo e uivando em volta. Em cima daquele
planalto,está a entrada para aquele outro mundo. E ali está uma película que
separa os dois mundos; os homens mortos passam por ela sem barulho, mas
nós temos de rompê-la com um grito. O vento torna-se mais forte, o mesmo
vento rebelde que sopra no planalto. Quando o vento já está bastante forte, o
homem tem de gritar e o vento o empurra para atravessar. Aqui também ele
tem de ser inflexível, para poder lutar contra o vento. Só precisa de um
empurrãozinho; não precisa ser soprado para os confins do outro mundo. Uma
vez do outro lado,o homem terá de vagar por ali. Se tiver sorte, encontrará um
auxiliar por perto, não muito longe da entrada. O homem tem de lhe pedir
ajuda. Em suas próprias palavras, tem de pedir ao auxiliar que lhe ajude e o
torne um diablero. Quando o auxiliar concorda, ele mata o homem no mesmo
lugar e, enquanto está morto, ensina-lhe. Quando você fizer a viagem,
dependendo de sua sorte, poderá encontrar um grande diablero no auxiliar que
o matará e lhe ensinará. Mas em geral a pessoa encontra brujos sem
importância, que têm pouca coisa a ensinar. Mas nem você nem eles têm o
poder de recusar. O melhor é encontrar um auxiliar masculino, para não se
tornar presa de uma diablera, que fará a pessoa sofrer de uma maneira incrível.
As mulheres são sempre assim. Mas isso só depende da sorte, a não ser que o
benfeitor da pessoa seja ele mesmo um grande diablero, e nesse caso terá
muitos auxiliares no outro mundo, e pode dirigir a pessoa para ver um
determinado auxiliar. Depois que voltar,você não será mais o mesmo. Está
comprometido a voltar para ver seu auxiliar freqüentemente. E compromete-se
a viajar cada vez mais longe da entrada, até que um dia irá longe demais e não
poderá voltar. Às vezes, um diablero pode pegar uma alma e empurrá-la pela
entrada e deixá-la em custodia de seu auxiliar,até roubar a pessoa de toda a
sua força de vontade. Em outros casos,como o seu, por exemplo, a alma
pertence a uma pessoa forte, e o diablero pode guardá-la dentro de sua sacola,
pois ela é muito pesada para carregar de outro modo. Em tais casos, como no
seu,uma luta pode resolver o problema... uma luta em que o diablero ou ganha
tudo ou perde tudo.

O Tempo

O tempo é como o pensamento; um pensamento pensado por alguma coisa


inconcebível em sua magnitude. O homem sendo parte desse pensamento,
preserva uma pequena percentagem desse pensamento. O tempo é como um
túnel de comprimento (roda do tempo) e largura infinitos, um túnel com

22
sulcos de reflexão. Cada sulco é infinito e existem um número infinito deles.
A criatura viva é obrigada, pela força da vida, a contemplar um determinado
sulco. Contemplar um sulco significa se agarrar a ele, para viver aquele sulco.

Capítulo IV

Mestres

O feiticeiro vêem para nos ensinar e depois que nos ensinam eles
partem.

O feiticeiro mestre é uma águia, que pode transformar-se em águia.

O feiticeiro mestre pode levar seu discípulo com ele e atravessar as


dez camadas do outro mundo, começando da camada mais inferior e
depois passar por cada mundo sucessivo até chegar ao topo.

O toque do Nagual modifica as pessoas, o toque modifica o seu corpo,


penetra dentro do seu corpo e coloca alguma coisa dentro dele, deixa
alguma coisa lá dentro e essa coisa toma conta e hoje eu sou o vento
do norte.

O Nagual é dividido em dois. A qualquer momento que ele precisar,


algo sai de dentro dele, algo que não é um sósia, mas sim uma forma
horrenda e ameaçadora, que parece com ele, mas é o dobro do
tamanho dele. Chamamos essa forma de nagual. Essa forma sai da
cabeça dele.

O Nagual não possui mais sentimentos humanos, para ele, tudo é


igual, aceita o seu destino.

O segundo ciclo do feiticeiro é quando ele não é mais humano.

Ser Nagual, significa não ter nenhuma posição a defender.

23
Carlos Castaneda diz que o seu benfeitor (mestre) era um homem
sereno, que dava tudo o que possuía, incluindo sua energia. Para ele,
não era difícil permitir que os aliados usassem sua energia para
materializarem-se. Houve um aliado, em particular, que podia assumir
uma forma humana grotesca.

O Nagual

O homem comum não tem energia necessária para lidar com feitiçaria.
Se usar apenas a energia que tem, não pode perceber os mundos que
os feiticeiros percebem. Para fazê-lo, os feiticeiros precisam usar um
grupo de campos de energia não usado normalmente. A medida que o
tempo passa, você está aprendendo a economizara energia. E essa
energia irá capacitá-lo a manipular alguns dos campos de energia que
lhe são agora inacessíveis. Feitiçaria é a habilidade de usar campos
de energia que não são empregados para perceber o mundo normal
que conhecemos. Feitiçaria é um estado de consciência. Feitiçaria é a
capacidade de perceber algo que a percepção comum não consegue.

O Nagual é um líder natural, uma pessoa capaz de ver fatos energéticos sem
prejuízo para seu bem-estar. Fatos energéticos é uma visão obtida por ver a
energia diretamente.

Não necessitamos de ninguém para nos ensinar feitiçaria, porque de


fato não há nada a aprender. O que necessitamos é de um professor
para nos convencer de que há poder incalculável ao alcance de
nossos dedos. Cada guerreiro pensa que está aprendendo feitiçaria,
mas tudo que está fazendo é permitir a si mesmo ser convencido do
poder oculto em seu ser, e que pode alcançá-lo.

O nagual sempre esta ativa e permanentemente atento às


manifestações do espírito. Tais manifestações eram chamadas gestos
do espírito ou, de modo mais simples, indicações ou presságios. A
intuição é a ativação de nosso elo com o intento.

24
Os guerreiros preocupavam-se em discutir, compreender e utilizar o
elo de conexão com o intento. Estavam empenhados em limpar o elo
de conexão dos efeitos atordoantes causados pelas preocupações
comuns de suas vidas cotidianas.

É um homem ou uma mulher com energia extraordinária. Eles são


intermediários e canalizam paz, harmonia, alegria e conhecimento
diretamente da fonte, do intento, para os seus companheiros. O
nagual é o intermediário entre o indivíduo e o intento.

O feiticeiro manipula o espírito. Reconhece-o, acena-lhe, convida-o,


familiariza-se com ele, e expressa-o através de seus atos. O feiticeiro
encontra o abstrato sem pensar a respeito, sem vê-lo, tocá-lo ou sentir
sua presença.

É aquele que sabe mover seu ponto de aglutinação para uma nova
posição. A partir dessa nova posição, pode fazer todos os tipos de
coisas boas e más aos seus semelhantes. Os feiticeiros não se
encontram mais no mundo dos afazeres diários, porque não são mais
presa de sua auto-reflexão. Não está mais preso pelas preocupações
do mundo cotidiano. Permanecem num mundo cotidiano, mas não
pertencem mais a ele.

Os feiticeiros amadurecidos são capazes de mover-se para além do


mundo que conhecemos, o que não ocorria com pessoas
inexperientes.

O Nagual é o conduto do espírito. Ele, o Nagual, gasta uma vida


inteira redefinindo de modo impecável seu elo de conexão com o
intento, e uma vez que tem mais energia que o homem comum, pode
permitir que o espírito se expresse através através de si. A primeira

25
coisa que o aprendiz de feiticeiro experimenta é uma mudança em seu
nível de consciência, uma mudança provocada simplesmente pela
presença do espírito. Não há procedimento envolvido em fazer o ponto
de aglutinação mover-se. O espírito toca o aprendiz, e seu ponto de
aglutinação move.

O feiticeiro é o único ser na terra que treina a si mesmo a fazer duas


coisas transcendentais: primeiro em conceber a existência do ponto de
aglutinação e, segundo, fazer o ponto de aglutinação mover.

O feiticeiro para ter completa certeza sobre seus atos, sobre sua
posição no mundo dos feiticeiros, ou de ser capaz de utilizar com
inteligência sua nova continuidade, deve invalidar a continuidade de
sua antiga vida.

O feiticeiro nunca pode construir uma ponte para juntar-se às pessoas


do mundo.

O feiticeiro é capaz de injetar movimento na esfera de luminosidade


estática. Num milésimo de segundo o feiticeiro pode mover o seu
ponto de aglutinação a qualquer lugar em sua massa luminosa. Esse
movimento e a velocidade com o qual é realizado envolve um
deslocamento instantâneo para a percepção de outro universo
totalmente diferente. Ou pode mover seu ponto de aglutinação, sem
parar, através de seus campos inteiros de energia luminosa. A força
criada por tal movimento é tão intensa que consome instantaneamente
sua massa luminosa inteira.

Os naguais sempre estavam ativa e permanentemente atentos às


manifestações do espírito. Tais manifestações eram chamadas gestos
do espírito ou, de modo mais simples, indicações ou presságios. A
intuição é a ativação de nosso elo com o intento.

O feiticeiro comanda sua morte. Morre apenas quando precisa morrer.

Ser Nagual significa alcançar um nível de consciência que dá acesso a coisas


inconcebíveis. A ação do Nagual existe exclusivamente no reino do abstrato,
do impessoal. O Nagual luta para alcançar uma meta que nada tem a ver com
as buscas do homem comum. As aspirações do Nagual é alcançar o infinito e

26
ser consciente dele. A tarefa do Nagual é enfrentar o infinito e submergir nele
diariamente, tal como um pescador submerge no mar. O Nagual tem que
pronunciar o seu nome antes de entrar nele, dessa maneira, sua
individualidade é mantida diante do infinito.

O que faz o ser humano se converter em um Nagual é a capacidade de


perceber a energia tal como ela flui no universo e que quando percebe um ser
humano dessa maneira, vê uma bola luminosa,ou uma figura luminosa em
forma de ovo.

O Nagual é vazio, e que esse vazio não reflete o mundo, mas reflete o infinito.

Os feiticeiros estão divididos em dois grupos: os Sonhadores que são aqueles


que possuem grande facilidade em deslocar o ponto de aglutinação. Os
Espreitadores que são aqueles que possuem grande facilidade em manter o
ponto de aglutinação fixado na nova posição. Sonhadores e espreitadores se
complementam um ao outro e eles trabalham juntos com suas inclinações
inatas.

A arte do Nagual é manipular o ponto de aglutinação e fazê-lo mudar de


posição, à vontade, nas esferas luminosas que são os seres humanos.

Uma das grandes artes do feiticeiro é saber quando parar.

Conselhos do Nagual

Preocupa-se em pensar antes de tomar qualquer decisão, porém, uma


vez tomada, siga seu caminho, livre de preocupação e pensamento.

Aquele que pensa que está acima dos animais vive pior do que eles.

Para ser um guerreiro é preciso ser claro como o cristal.

Quando o homem apreender a ver, ele se encontrará.

Quando o homem aprende a ver, entende que não pode mais pensar
a respeito das coisas que ele olha, e se não pode mais pensar sobre
as coisas que olha, tudo fica sem importância.

27
Uma vez que o homem aprendeu a ver, tudo no mundo passa a não
ter importância. Tudo é igual, e dessa forma sem importância.

“Tive tempo de olhar para trás e examinar minha vida. Hoje, os


problemas do meu tempo são apenas histórias; e nem mesmo uma
história interessante. Talvez eu tenha desperdiçado anos de vida
perseguindo uma coisa que nunca existiu. Ultimamente, tenho a
impressão que acreditei numa farsa” (palavras de um advogado
político)

Os opressores e os oprimidos se encontram no fim, e a única coisa


que prevalece é que a vida foi muito curta para ambos.

Não somos meramente o que nosso bom senso quer que acreditemos
que somos. Somos na verdade seres luminosos, capazes de nos
tornar conscientes de nossa luminosidade.

Como seres luminosos conscientes de nossa luminosidade somos


capazes de ter consciência dos diferentes e separados aspectos de
nossa existência.

Deixar de lado a vontade e de se prender a ela. Não se prender as


coisas tais como: as comidas de que gosta, as montanhas onde vive,
as pessoas de quem gosta de conversar e ao desejo de ser querida
(o).

O curandeiro nos trouxe a realidade de que somos nada.

Como estou longe do céu onde nasci. Uma imensa nostalgia me


invade o pensamento. Agora que estou só e triste, qual folha ao vento,
às vezes quero chorar, as vezes quero rir da saudade.

Não adianta ficar triste, queixar-se, procurar justificativas, ou acreditar


que alguém está sempre nos fazendo alguma coisa. Ninguém faz
nada a ninguém, muito menos a um guerreiro.

“E as pessoas que eu amo?” Perguntei a Dom Juan. “O que lhes


acontecerá”. Serão deixadas para trás, disse ele. “Mas não há um
meio de recuperá-las? Eu não poderia salvá-las e levá-las comigo”.
Não.

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Genaro deixou sua paixão e Ixlan: seu lar, sua gente, todas as coisas
de que gostava. E agora ele vagueia em seus sentimentos, e as
vezes, como ele mesmo disse, quase alcançou Ixlan.

Parti e os pássaros ficaram cantando.

Tente analisar os seus sentimentos.

Durante toda a vida temos de lutar contra os nossos antigos seres.

O nosso grande inimigo é o fato de que nunca acreditamos no que


está acontecendo. Quando compreendemos o que se está
acontecendo, geralmente é tarde demais para voltar atrás. É sempre o
intelecto que nos engana.

Não há nada mais importante para nós, seres vivos, do que entrar
naquele mundo.

Para entrar no outro mundo a pessoa tem de ser completa. Para ser
feiticeiro, tem de ter luminosidade, nem buracos, nem remendos e
todo o fio do espírito. Um feiticeiro que for vazio tem de tornar a ser
completo. Para recuperar o fio Ele me orientou que a primeira coisa a
fazer e rejeitar o amor dos filhos, a não se interessar nem a gostar. No
dia em que meus filhos não significassem nada para mim, eu tinha de
tornar a vê-los, por os olhos sobre eles e as minhas mãos também.
Tinha de afagá-los delicadamente sobre a cabeça e deixar que o meu
lado esquerdo lhes roubasse o fio.

Entrei no outro mundo ainda em vida. Precisa ser completo. Para ser
completo, tem de rejeitar tanto a mulher que o esvaziou quanto o
menino que tem o seu amor.

Nada no mundo pode significar alguma coisa a não ser para cada um
de nós pessoalmente.

Renunciar ao mundo e no entanto estar nele.

29
É preciso todo o tempo e toda a energia que temos para vencer a
idiotice dentro de nós. É isso que importa, o resto não tem
importância.

O Nagual ensina a ser desapaixonado(a).

O Nagual disse que o mundo dos homens sobe e desce e as pessoas


sobem e descem com seu mundo: como feiticeiros, não temos nada
de acompanhá-los em suas subidas e descidas. A arte do feiticeiro é
estar por fora de tudo e passar despercebido. É nunca desperdiçar o
seu poder.

Se eu não focalizar a minha atenção sobre o mundo, o mundo


desmorona.

Só podemos escolher uma vez. Escolher entre ser guerreiro ou


homem comum. Não existe uma segunda escolha. Não nesta terra.

O Nagual exige que nos tornemos leves como a brisa.

Temos que ter controle, disciplina, paciência, oportunidade e vontade.

Agir com raiva, sem controle sem disciplina e não ter paciência é ser
derrotado.

As possibilidades humanas pertencem ao desconhecido.

Não são aquilo que somos capazes de escolher, mas aquilo que
temos capacidade de atingir.

De todos os itens do caminho o mais eficaz é perder a auto-


importância.

Ser impecável significa aceitar sua vida, objetivando reforçar suas


decisões, e em seguida dar muito mais do que o máximo de si para
realizar essas decisões.

Quando a gente não está decidindo nada, está meramente jogando


roleta com a vida.

30
Mover o ponto de aglutinação é tudo, mas não significa nada se não
for um movimento sóbrio e controlado. Portanto, feche a porta da auto-
reflexão. Seja impecável e terá a energia para atingir o lugar do
conhecimento silencioso

A auto-importância é o maior inimigo do homem. O que o enfraquece é sentir-


se ofendido pelos atos e omissões de seus semelhantes. A auto-importância
exige que se passe a maior parte da vida ofendido por alguma coisa ou por
alguém.

Zangar-se com as pessoas significa que se considera o ato delas importantes.

Um guerreiro deve sempre manter em mente que um caminho é


apenas um caminho; se achar que não deve seguí-lo, não deve
permanecer nele em nenhuma circunstâncias. Sua decisão de
permanecer no caminho ou abandoná-lo deve estar livre de medo ou
ambição.

Nós não nos damos conta de que podemos cortar qualquer coisa de
nossas vidas, a qualquer momento, num piscar de olhos.

Todos os caminhos são iguais: não levam a lugar algum.

Enquanto um homem acha que ele é a coisa mais importante no mundo, não
pode apreciar de verdade o universo em volta de si. É como um cavalo com
antolhos, só vê a si próprio separado de tudo o mais.

A única limitação dessa viagem maravilhosa é que para entrar nas maravilhas
deste mundo, ou nas maravilhas de um outro mundo, um homem tem de ser
um guerreiro: calmo, senhor de si, indiferente, amadurecido pelas investidas
do desconhecido.

O Guerreiro

O campo de batalha do guerreiro é a segunda atenção, uma espécie


de campo de treinamento para atingir a terceira atenção.

31
Quando o guerreiro aprendem a focalizar o lado fraco da segunda
atenção, torna-se caçador de homens, vampiros, mesmo depois de
mortos podem atingir sua presa através do tempo, como estivessem
presentes aqui agora, e nos transforma em presas se entrarmos em
uma daquelas pirâmides.

A recomendação para os guerreiros é não ter nenhuma coisa material


na qual focalizar seu poder, mas focalizá-lo no espírito, no verdadeiro
vôo ao desconhecido, e não em campos triviais.

O curso do destino de um guerreiro é inalterável. O desafio é o quão


longe ele pode ir dentro desses rígidos destinos, o quão impecável ele
pode ser dentro desses limites rígidos. Se há obstáculos no seu
caminho, o guerreiro luta impecavelmente para ultrapassá-los. Se
acha dificuldades e dores insuportáveis no seu caminho ele chora,
mas todas as suas lágrimas juntas não movem a linha do destino nem
um milímetro.

Ser um guerreiro é quando a pessoa sabe muita coisa. Significa que a


pessoa vê o mundo de diversas maneiras. Para ser guerreiro, é
preciso estar em equilíbrio perfeito com todo o universo visível e
invisível. O guerreiro deve ser indivíduo muito ajustado.

Ser guerreiro significa que a pessoa toca o mundo que o cerca


moderadamente. Não danifica, não expõe, não utiliza e não espreme
as pessoas. Evita esgotar-se a si e aos outros. Significa que não está
faminto nem desesperado. Não significa esconder-se, nem ser
misterioso, não significa que o guerreiro não possa lidar com as
pessoas. Um guerreiro usa seu mundo com parcimônia e ternura, trata
intimamente com seu mundo. O guerreiro toca o mundo de leve, fica o
tempo que precisa, e depois passa adiante rapidamente, quase sem
deixar marca.

A fim de ser um caçador, a pessoa tem que romper as rotinas de sua


vida.

Um guerreiro procura o poder e um dos caminhos para o poder é


sonhar. A diferença entre um caçador e um guerreiro é que este está a
caminho do poder, enquanto aquele não sabe nada, ou muito pouco a
respeito do poder.

32
Um guerreiro calcula tudo, isso é controle. Mas uma vez terminados os
seus cálculos, ele age. Um guerreiro não é uma folha à mercê do
vento. Ninguém pode empurrá-lo, ninguém pode obrigá-lo a fazer
coisas contra si ou contra o que ele acha certo. Um guerreiro é
preparado para sobreviver e ele sobrevive da melhor maneira
possível. Um guerreiro pode ser ferido, mas não ofendido. Para um
guerreiro, não há nada de ofensivo nos atos de seus semelhantes,
enquanto ele estiver agindo dentro da disposição correta.

O guerreiro constrói a gaiola e depois desliza para dentro dela e a


lacra por dentro. Se enterram para ter esclarecimento e poder.

Procurar a perfeição do espírito do guerreiro, é o único


empreendimento digno do guerreiro.

O Nagal disse: agora deve focalizar sua atenção sobre tudo o que
existe nesse topo de morro, pois este é o lugar mais importante de sua
vida. Este é o lugar em que você morrerá. No dia em que terminar o
seu prazo de estada na terra e sentir o toque da morte em seu ombro
esquerdo, seu espírito, que está sempre pronto, voa para o lugar de
sua predileção e ali o guerreiro dança até a sua morte. Se um
guerreiro agonizante tem um poder limitado, sua dança é curta, se seu
poder for grandioso, sua dança é magnífica. A morte tem de parar
para assistir a sua última posição na terra. A morte não pode alcançar
o guerreiro que está cantando a luta de sua vida pela última vez, até
ele terminar a dança.

Um guerreiro é impecável quando confia em seu poder pessoal, sem


considerar que ele seja pequeno ou grande.

Olhei para Dom Genaro e vi que ele devia ter tido muitos laços do
coração, muitas coisas de que gostava e que deixou para trás. Só
como guerreiro pode-se sobreviver no caminho do conhecimento. A
arte de um guerreiro é equilibrar o terror de ser homem com a
maravilha de ser homem.

Um guerreiro não procura nada para consolar-se.

33
A impecabilidade do guerreiro é deixar os outros como são e apoiá-los
no que forem.

O guerreiro trata o mundo como um mistério infindável.

A guerra para um guerreiro é a luta total contra aquele eu individual


que privou o homem de seu poder.

O guerreiro sempre faz o máximo, e então, sem qualquer remorso ou


arrependimento, relaxam e deixam que o espírito decida o desfecho.

Estágios pelo qual passa o guerreiro na sua longa trilha do


conhecimento. Em termos de sua conexão com o intento, o guerreiro
passa por quatro estágios. O primeiro é quando tem um elo
enferrujado, não confiável, com o intento. O segundo, quando
consegue limpá-lo. O terceiro, quando aprende a manipulá-lo. O
quarto estágio é quando aprende a aceitar os desígnios do abstrato.

Um guerreiro deve amar este mundo para que este mundo, que parece tão
trivial, abra-se e mostre suas maravilhas.

As ações das pessoas não afetam mais um guerreiro quando ele não tem mais
expectativas de nenhuma espécie. Uma paz estranha se torna a força que
governa sua vida. Ele adotou um dos conceitos da vida do guerreiro – o
desapego.

Um guerreiro sabe que é apenas um homem. Ele só lamenta que sua vida seja
tão curta que ele não possa agarrar todas as coisas que gostaria. Mas, para ele,
isso não é um problema: é só uma pena.

Um guerreiro tem de saber, antes de mais nada, que seus atos são inúteis e
que, no entanto, ele tem de proceder como se não soubesse. Esta é a loucura
controlada de um xamã.

Um guerreiro vive pelo agir, não por pensar em agir, nem por pensar no que
ele vai pensar depois de acabar de agir.

Um guerreiro não tem honra, nem dignidade, nem família, nem nome, nem
país; ele tem apenas a vida para ser vivida e, nessas circunstâncias, sua única
ligação com seus semelhantes é sua loucura controlada.

34
Um guerreiro não precisa de história pessoal. Um dia ele descobre que ela não
é mais necessária para ele, e abandona.

Como nada é mais importante do que qualquer outra coisa, um guerreiro


escolhe qualquer ato e age como se lhe importasse. Sua loucura controlada o
faz dizer que o que ele faz importa e o faz agir como se importasse, e contudo
ele sabe que não é assim; de modo que, quando completa seus atos, ele se
retira em paz e quer seus atos tenham sido bons ou maus, dado certo ou não,
isso absolutamente não o preocupa mais.

Um guerreiro pode escolher permanecer totalmente impassível e nunca agir, e


comportar-se como se ser impassível realmente lhe importasse; ele também
estará certo agindo assim porque isso também seria a sua loucura controlada.

O homem comum está demasiado preocupado em gostar das pessoas ou que


elas gostem dele. Um guerreiro gosta, e pronto. Gosta do que ou de quem
quiser, e dane-se o resto.

Quando um homem entra no caminho dos guerreiros, fica consciente, aos


poucos, de que a vida comum ficou para trás para sempre. Isso significa que o
mundo comum não é mais um escudo para ele; e que ele deve adotar uma
nova maneira de viver, para poder sobreviver.

Somente a idéia da morte torna o guerreiro suficientemente desprendido para


ser capaz de se entregar a qualquer coisa. Ele sabe que a morte o espreita e
não lhe dará tempo de se agarrar a nada, de modo que ele experimenta, sem
ansiedade, tudo de todas as coisas.

Sentir-se importante faz a pessoa tornar-se pesada, desajeitada e vaidosa. Para


ser um guerreiro, é preciso ser leve e fluido.

Somente a idéia da morte torna o guerreiro suficientemente desprendido para


ser capaz de se entregar a qualquer coisa. Ele sabe que a morte o espreita e
não lhe dará tempo de se agarrar a nada, de modo que ele experimenta, sem
ansiedade, tudo de todas as coisas.

O espírito do guerreiro não está preparado para a indulgência ou a queixa, nem


o está para ganhar ou perder. O espírito do guerreiro está preparado somente
para a luta, e cada luta é a última batalha do guerreiro sobre a terra. O

35
resultado importa pouco para ele. Em sua última batalha na terra um guerreiro
deixa seu espírito fluir livre e claro. Enquanto sustenta sua batalha, sabendo
que seu intento é impecável, um guerreiro ri e ri.

Falamos incessantemente a nós mesmos sobre nosso mundo. De fato,


mantemos nosso mundo com nossa conversa interna. E sempre que
terminamos de falar a nós mesmos sobre nós mesmos, o mundo continua
sempre como devia. Nós o renovamos, o animamos com vida, o sustentamos
com nossa conversa interna. Não apenas isso, também escolhemos nossos
caminhos quando conversamos com nós mesmos. Assim repetimos as mesmas
escolhas até o dia em que morremos, porque ficamos repetindo a mesma
conversa interna sempre, até o dia em que morremos. Um guerreiro está
consciente disso e se esforça para silenciar sua conversa interna.

Ser guerreiro é uma maneira de viver, e essa maneira de viver é a única forma
de deter o medo, e o único canal que um praticante pode usar para deixar o
fluxo de sua atividade se mover livremente. Sem o conceito de guerreiro, é
impossível superar as dificuldades do caminho do conhecimento.

Guerreiro é aquele que toma a idéia da morte como uma companheira, uma
testemunha dos seus atos. Uma vez aceita essa premissa, mesmo de uma
forma mitigada, se forma uma ponte que se estende sobre o vazio entre o
mundo de nossos afazeres mundanos e alguma coisa que está diante de nós,
embora não tenha nome; alguma coisa que está perdida na neblina e não
parece existir; alguma coisa tão terrivelmente obscura que não pode ser usada
como ponto de referência e, no entanto, está ai, inegavelmente presente. O
único ser na terra capaz de cruzar essa ponte é o guerreiro: silencioso em sua
luta, ele é o homem que não pode ser detido porque não tem nada a perder.

Um guerreiro não precisa de história pessoal.

O guerreiro deve ser impecável em seu caminho para mudar, a fim de assustar
a forma humana e expulsá-la. Depois de anos de impecabilidade, chega um
momento em que a forma não pode suportar mais e parte. Quer dizer que
chega um momento em que os campos de energia distorcidos por ma vida
inteira de hábitos são endireitados. O guerreiro é profundamente afetado e
pode até morrer por causa dessa arrumação nos campos de energia, mas um
guerreiro impecável sempre sobrevive.

36
O caminho do guerreiro oferece a um homem uma nova vida, e essa vida tem
de ser completamente nova. Ele não pode trazer para essa nova vida os seus
velhos e horríveis hábitos.

A recomendação para os guerreiros é não possuir quaisquer coisas materiais


nas quais focalizem seu poder, mas focalizá-lo no espírito, no verdadeiro vôo
para o desconhecido, não em trivialidades. Qualquer um que queira seguir a
senda do guerreiro tende se livrar da compulsão para possuir e se apegar as
coisas.

O guerreiro que deliberadamente atinge a consciência total é uma visão que


deve ser presenciada. É nesse momento que queima de dentro. O fogo interior
o consome. E, em plena consciência, ele se funde à emanações da Águia e
desliza para a eternidade.

Não é que, à medida que o tempo passa, o guerreiro aprenda xamanismo;


antes, o que ele aprende enquanto o tempo passa é economizar energia. Esta
energia vai capacitá-lo a manipular alguns campos de energia que são
normalmente inacessíveis a ele.

O impulso do caminho do guerreiro é para derrubar a auto-estima. E tudo o


que os guerreiros fazem é no sentido de alcançar essa meta.

Os xamãs arrancam a mascar da auto-importância e descobriram que ela é a


autopiedade disfarçada em outra coisa.

Capítulo V

O Poder

O poder só vem depois que aceitamos o nosso destino sem


recriminação.

Precisamos de todo o nosso poder, de toda a nossa integridade a fim


de entrar naquele outro mundo.

O mundo dos homens sobe e desce e as pessoas sobem e descem


com o mundo. O feiticeiro não acompanha a subida e a descida do

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mundo. A arte do feiticeiro é estar fora de tudo e passar despercebido,
e nunca desperdiça poder, com a subida e a descida do mundo.

Lugares de Poder

Os lugares de poder são buracos para o desconhecido, para o outro


mundo. Aquele mundo e este que vivemos são duas linhas paralelas,
as vezes o alcançamos através do sonho. Em determinados lugares
existem aberturas naturais.

A única abertura para o mundo de um nagual é através do sul. O


portal é guardado por duas guerreiras. As duas guerreiras nos
cumprimentam e nos deixam passar, se assim elas desejarem.

O Nagual apontou para o campo bem abaixo de nós, ao pé do


penhasco. Explicou que o campo em questão era rodeado por um
curral natural de rochas. De onde eu estava sentado, podia ver uma
área de talvez uns cem metros de diâmetro e que parecia um circulo
perfeito. Eu não teria notado a redondeza perfeita se Dom Juan não a
mostrasse. Quanto mais perfeita sua redondeza, maior o poder. O
Nagual falou que ali é um lugar de poder, que neste lugar, há muito
tempo foi enterrados guerreiros. Falou que não era um cemitério e que
ninguém está sepultado ali. Ao falar que antigamente os guerreiros se
enterravam ali, quis dizer que eles vinham aqui para se enterrarem por
uma noite, ou por dois dias, ou pelo tempo que precisassem. O Nagual
disse que os ossos dos mortos não estão enterrados ali. Disse que
não preocupa com os cemitérios, não há poder neles. Há poder nos
ossos de um guerreiro, porem eles nunca estão nos cemitérios. E
ainda há mais poder nos ossos de um homem de conhecimento e, no
entanto, seria quase impossível encontrá-los.

Certas áreas geográficas não apenas ajudam o precário movimento do


ponto de aglutinação, mas também selecionam direções específicas
para esse movimento. O deserto de Sonora ajuda o ponto de
aglutinação a mover-se para baixo.

A maior parte dos animais se assusta com esses lugares (áreas


especiais de energia) e evita-os, com exceção dos leões da montanha
e coiotes, que se deitam e até mesmo dormem em tais lugares. Esses
lugares emitem imperceptíveis cargas de energia revigorante.

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Objetos de Poder

Existem dezenas de objetos de poder que são criados por homens poderosos,
com auxílio de espíritos benignos. Esses objetos são ferramentas, não
ferramentas comuns, mas sim ferramentas da morte. São instrumentos; não
tem poder de ensinar. São objetos de guerra destinados a luta: são feitos para
matar, para serem lançados

Exercícios

Primeiro Exercício: Queixo no ombro direito e lentamente inspira a


medida que vai virando a cabeça em 180 graus. A respiração termina
no ombro esquerdo. Terminada a inspiração, a cabeça fica relaxada.
Expira olhando para frente. A próxima expiração é da esquerda para a
direita.

Segundo Exercício: Existem três técnicas básicas de espreita. 1)


recapitular acontecimentos. 2) respiração. 3) engradamento. A
recapitulação é a técnica mais profunda para se perder a forma
humana. Fazer uso do não fazer, apagar sua história pessoal, perder a
auto-importância, quebrar as rotinas. Ficar sempre por trás dos
bastidores se houver conflito.

Terceiro Exercício: Nunca levar nada a sério, rir de si próprio, ter


paciência sem limite, nunca ter pressa, nunca se desesperar,
capacidade de improvisar.

Quarto Exercício: Olhar para as coisas indefinidamente.

Quinto Exercício: Estabelecer um lugar conhecido para ir. Obriga-se a


ir lá. Procure controlar o tempo de sua viagem.

Sexto Exercício: Arrumar uma tira para colocar na cabeça quando for
dormir. É você mesmo é que tem que faze-la, do princípio ao fim.
Faze-la depois que tiver uma visão dela no sonho. Pode ser um gorro
apertado. Sonhar fica mais fácil quando a gente usa um objeto de
poder em cima da cabeça.

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Sétimo Exercício: Para recuperar força tenho que dormir com a
cabeça para o leste.

Oitavo Exercício: Não se alimentar com comida preparada por mulher


fracas.

Nono Exercício: As mulheres possuem o seu próprio abismo, o


abismos que é o período menstrual. O Nagual disse que essa é a
porta para elas. Durante a menstruação elas se tornam outra coisa, o
Nagual insiste para que as meninas prestem atenção a tudo quanto
lhes acontecem no período menstrual. Nesses dias ele as levava as
montanhas e ficava lá com elas até que vissem a fresta entre as
montanhas.

Décimo Exercício: sentado e olhando para os morros. Ficar sentado


dias e dias até a fresta abrir-se.

Décimo Primeiro Exercício: Deixar o sol entrar pelos seus olhos,


especialmente o esquerdo, é a melhor maneira para adquirir energia.

Décimo Segundo Exercício: Ficar contemplando a chuva, o nevoeiro.

Décimo Terceiro Exercício: Dominar totalmente a consciência, a


espreita e a atenção.

Décimo Quarto Exercício: Os procedimentos chaves são os sonhos, a


espreita e a intenção.

Décimo Quinto Exercício: Três técnicas para deslocar o ponto de


aglutinação: Primeira é a espreita que é o controle sistemático do
comportamento, do comportamento diante das pessoas. Segunda
técnica é a intenção que é a orientação da vontade. A terceira técnica
é o sonho. O modo mais eficiente de deslocar o ponto de aglutinação
é aprender a sonhar. Nos sonhos o ponto de aglutinação se desloca
ligeiramente para a esquerda, de maneira natural. O ponto de
aglutinação relaxa quando o homem dorme. Sonhar é o controle do
deslocamento natural que o ponto de aglutinação sofre durante o
sono. O deslocamento do ponto de aglutinação é que produz os
sonhos. Interferir nos sonhos é interferir com o deslocamento natural

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do ponto de aglutinação. Exercícios como encontrar as mãos nos
sonhos, destina manter o ponto de aglutinação fixo num lugar para o
qual se desloca durante o sonho. O lugar para onde o ponto de
aglutinação se desloca nos sonhos é chamado de posição de sonho.

Décimo Sexto Exercício: Quando tiver impaciente, desesperado,


raivoso ou triste, gire os olhos na direção dos ponteiros do relógio, o
movimento dos olhos faz o ponto de aglutinação deslocar por um
momento.

*Especialista em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília e


Mestre em História pela Universidade Federal de Goiânia.

Capítulo VI

Os Ventos

Existem quatro ventos: o primeiro é a brisa na parte da manhã, traz a


esperança e a luz, é o vento do leste. O vento do meio dia é duro, é
quente, sopra cheio de energia, mas também cheio de cegueira, é o
vento do sul. O terceiro vento é o vento frio da tarde, triste e difícil,
esfria as pessoas e as fazem chorar, é o vento do oeste. O quarto
vento não é quente e nem frio, é o vento que protege e envolve tudo, é
o vento do norte, o poder dele anda junto com as trevas. Os quatro
ventos são mulheres. O vento do leste é alegre, o vento do oeste é
melancólico e pensativo. O vento quente do sul é feliz, largado e
saltitante. O vento duro da noite é dominador.

Plantas

Deve-se falar com as plantas antes de colhê-las. Para poder ver as


plantas, tem de falar com elas pessoalmente, tem de conhecê-las
individualmente, então as plantas lhe dirão tudo o que você quiser
saber sobre elas.

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Fui repreendido por não ter falado com as plantas que colhi. O Nagual
salientou que as plantas que eu matei também poderiam ter me
matado, elas me fizeram ficar doentes. Adoeci por ter ferido as
plantas.

As plantas são coisas muito especiais, elas são vivas e sentem.

Não importa o que você disse para as plantas, o que é importante é o


sentimento de gostar delas, de tratá-las como igual. Nem nós nem
elas são mais ou menos importantes.

Os eucaliptos são árvores dos naguais.

O casulo de uma árvore gigante não é muito maior do que a própria


árvore. Algumas pequenas plantas tem um casulo quase tão grande
quanto o corpo de um homem e três vezes a sua largura. São as
plantas de poder. Possuem as plantas tonalidades diferentes. São
rosadas em geral. Rosa amarelada pálido são as plantas venenosas.
Rosa violáceo brilhante são as plantas medicinais. Rosa
esbranquiçadas são as plantas de poder. O ponto de aglutinação das
plantas ficam na parte inferior do casulo, enquanto em outros seres
orgânicos fica na parte superior.

Peiote, mescalito e mitote são nomes da mesma planta.

Mescalito leva a pessoa a loucura. O mescalito leva a pessoa para a


loucura quando a pessoa a procura sem saber o que está fazendo.

Há um espírito no peiote.

Mescalito muda tudo. Existe um espírito dentro do Mescalito. É um


espírito que produz a modificação nos homens. Um espírito que pode
ser visto e tocado. Mescalito nos ensina a maneira certa de viver. O
mescalito protege quem o conhece, e quem o conhece passa a ter um
protetor. Se Mescalito aceita em ser seu protetor, você terá de atende-
lo, quer queira quer não queira. Mescalito o fará aproximar-se dele
com respeito. Não podemos aproximar do Mescalito do jeito que
estamos habituados a aproximar de outros protetores. Você tem de
querer conhecê-lo, e eu acho que isso é o mais importante. Depois,
tem de ser oferecido a ele, e tem de o encontrar muitas vezes, só

42
depois de muito tempo é que poderá dizer que o conhece. Deve-se ir
até ele sem medo e, pouco a pouco, ele lhe ensinará a levar uma vida
melhor.

O Mescalito revela seus segredos em particular a cada homem.

O corpo do Mescalito machuca a boca da gente, possui um gosto


horrível e faz a gente vomitar e urinar por toda parte.

O corpo do Mescalito é um botão e temos que mastigar bem devagar


e mascar por muito tempo. Dom Juam começou a cantar em voz alta,
ofereceu outro botão a Elígio e depois, que o rapaz terminou,
ofereceu-lhe frutas secas, mandando que mastigasse bem devagar.
Elígio levantou varias vezes dirigindo-se para o mato. Em certo ponto
pediu água. Dom Juan disse que não a bebesse e sim bochechasse
com ela. Eligio mastigou mais dois botões e Dom Juan lhe deu carne-
seca. Elígio mastigou o décimo botão e caiu para frente e bateu com a
testa no chão. Rolou e teve convulsões, remexeu, tremeu, gemeu por
mais de uma hora, deitado no chão. Mescalito lhe ensinou uma
canção da primeira vez que o encontrou e isso era realmente
extraordinário.

Importa para Mescalito que você se torne homem de conhecimento.

Mescalito é uma divindade, ou uma força contida nos botões de


peiote. Somente um feiticeiro, por meio de sua cabaça, pode fazer
você conhecer Mescalito.

Você fuma tudo e depois descansa. Então o guarda do outro mundo


virá. Você não fará nada a não ser observar. Repare como ele se
move. Veja tudo o que ele faz. O guarda, guarda o outro mundo.

As plantas de poder afastam o ponto de aglutinação de sua posição


normal. O efeito das plantas de poder sobre o ponto de aglutinação é,
em princípio, muito semelhante ao dos sonhos: os sonhos fazem-no
deslocar-se, mas as plantas de poder conseguem um deslocamento
numa escala maior e mais abrangente.

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Mescalito é um protetor, é um mestre. Não pode ser domesticado está fora da
gente. Ele resolve mostrar-se em muitas formas para quem estiver na frente
dele. Ele mostra com se deve viver. Ele tira a pessoa dela mesma para ensinar-
lhe.

O Mescalito assume qualquer forma. Ele aparece em qualquer forma para


aqueles que só o conhecem um pouco, mas para aqueles que o conhecem bem,
é sempre constante. Na sua constância ele aparece como homem, como nós,
ou como uma luz. Apenas uma luz. Se algum dia ele o aceitar, ele lhe dirá seu
nome. Esse nome será só para você usar, ou para chamá-lo em voz alta ou
para murmurar baixinho para si.

Mescalito é um protetor porque fala com você e pode guiar seus atos.
Mescalito ensina a maneira certa de você viver. E você pode vê-lo, porque ele
está fora de você. A erva por outro lado,é um aliado, transforma você e lhe dá
poder sem jamais mostrar a sua presença. Não pode conversar com ele, mas
sabe que ele existe porque ele leva embora seu corpo e o torna leve como o ar.

Mescalito pode te ensinar uma canção, ensina letra e melodia.

A Erva-do- Diabo não é para aqueles que querem o poder. O fumo é para
aqueles que desejam contemplar e ver.

O fumo não é para aqueles que buscam o poder. Só para aqueles que querem
ver.

O cachimbo e a mistura devem ser tratados com um cuidado íntimo. E o


homem que quiser aprender deve preparar-se levando uma vida sossegada e
dura. Seus efeitos são tão tremendos que só os homens mais fortes podem
suportar a mais leve fumarada. Tudo é aterrador e confuso a princípio, mas
cada nova baforada torna as coisas mais precisas. E de repente o mundo se
abre de novo! Imaginável! Quando isso acontece, o fumo torna-se nosso
aliado e resolve qualquer problema permitindo-nos a entrada em mundos
inconcebíveis.

O cachimbo e o fumo são uma coisa só. Um não pode passar sem o ouro. Este
cachimbo e o segredo dessa mistura pertenciam a meu bem feitor. Foram
passados a ele da mesma maneira que o meu benfeitor os deu a mim. A
mistura, embora difícil de preparar, é possível de ser reposta. Seu segredo
reside em seus ingredientes e na maneira de eles serem tratados e misturados.

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O cachimbo, por sua vez, é coisa de toda uma vida. Deve ser tratado com o
máximo cuidado. É resistente e forte, mas nunca se deve bater nem esbarrar
nele. Deve ser manuseado com mãos secas, nunca quando as mãos estão
suadas e só deve ser usado quando se está só. E ninguém, ninguém
absolutamente, deve vê-lo, a não ser que você pretenda dá-lo a alguém.

Vai fumar toda a mistura no fornilho e vai esperar. A fumaça virá. Você a
sentirá. Ela o libertará para ver tudo o que quiser. Mas quem o procurar tem de
ter um propósito e uma vontade irrepreensíveis. Ele precisa disso porque tem
de pretender e querer sua volta, do contrário o fumo não o deixará voltar. Em
segundo lugar, ele tem de pretender e querer lembrar-se de tudo o que o fumo
lhe permitiu ver, do contrário tudo não passará de uma neblina em sua mente.

A erva é apenas um entre um milhão de caminhos. Tudo é um entre um


milhão dês caminhos. Deve ter sempre em mente que um caminho não é mais
do que um caminho; se achar que não deve segui-lo, não deve permanecer
nele, sob nenhuma circunstância. Para ter uma clareza dessas, é preciso levar
uma vida disciplinada. Só então você saberá que qualquer caminho não passa
de um caminho, e não há afronta, para si nem para cós outros, em largá-lo, se
é isso o que seu coração lhe manda fazer. Todos os caminhos são os mesmos:
não conduz a lugar algum.

Deixe que o fumo lhe ensine tudo o que puder aprender. O fumo é tão forte
que a gente só pode enfrentá-lo com força; se não, a vida da pessoa será
despedaçada.

Chega-se a um ponto que não precisa mais fumar, porque o aliado vem mesmo
que você não fume. Isto é, pode-se ir a ele livremente, sem fumar.

As Outras Pessoas

Toda ajuda a outras pessoas deve ser de forma desinteressada.

A maior parte das vezes, todos os esforços para ajudar outras


pessoas, são atos arbitrários, guiados somente pelos nossos próprios
interesses.

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Capítulo VII

Tipos de Seres

Existem três tipos de seres. Primeiro: aqueles que não podem dar
nada, porque não tem nada para dar. É apenas uma sombra.
Segundo: aqueles que só podem causar medo, sempre paira junto da
morada do silêncio, torna a vida insuportável, aparecem como uma
sombra escura, fazendo uma barulhada danada ou produzindo o som
de vozes. Terceiro: aqueles que possuem dons, existem em lugares
desertos e abandonados, quase inacessíveis.

Seres Orgânicos e Inorgânicos

Existem dois tipos de seres conscientes perambulando na terra, os


orgânicos e os inorgânicos. Ambos são massas luminosas
atravessadas, de todos os ângulos imagináveis, por milhões de
filamentos de energia do universo. São diferentes na forma e no brilho.

Os seres inorgânicos são longos, parecidos com velas, porém opacas.

Os inorgânicos a vida é infinitamente longa, possuem consciência


calma e profunda, mas é uma consciência lenta em comparação com
a nossa.

Os orgânicos são redondos e brilhantes, sendo que a vida e a


consciência são curtas.

A energia necessária para mover o ponto de aglutinação dos feiticeiros


vem do mundo dos seres inorgânicos.

Todo o universo é composto de forças gêmeas, forças que são ao


mesmo tempo opostas e complementares entre si. É inevitável que o
nosso mundo seja um mundo gêmeo. Seu mundo oposto e

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complementar é habitado por seres que têm consciência, mas não um
organismo e são chamados de seres inorgânicos. O mundo gêmeo
está intimamente relacionado com o nosso mundo. Dois tipos de
consciência coexistem sem nunca colidir uma com a outra, pois cada
tipo é completamente diferente do outro.

Capítulo VIII

Os predadores

Possuímos um companheiro por toda a vida. Possuímos um predador


que veio das profundezas do cosmo, e assumiu o controle dos
preceitos de nossa vida. Os seres humanos são seus prisioneiros. O
predador é nosso senhor e mestre. Nos faz dóceis, indefesos. Se
quisermos protestar, ele suprime os nossos protestos. Se quisermos
agir independentemente, exige que não o façamos. Somos mantidos
prisioneiros. Eles assumiram o controle porque somos alimentos para
eles, e eles nos esmagam sem piedade porque somos seu sustento.
Assim como criamos galinhas em galinheiros, os predadores nos
criam em humaneros. Por tanto seu alimento está sempre disponível
para eles. Os predadores nos deram nossos sistemas de crença,
nossas idéias do bem e do mal, nossos costumes sociais. Eles são os
que causaram nossas esperanças e expectativas, e sonhos de
sucesso ou fracasso. Nos deram ganância, avareza e covardia. São
os predadores que nos tornaram complacentes, rotineiros e

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egomaníacos. Para nos manter obedientes, submissos e fracos, os
predadores se envolvem numa estupenda manobra. Os predadores
nos dão as mentes deles, que se tornam nossas mentes. A mente do
predador é contraditória, morosa, cheia de medo de ser descoberta a
qualquer momento. Através da mente,que afinal é a mente deles, os
predadores injetam nas nossas vidas de seres humanos o que lhes é
conveniente. Os bebês humanos são bolas luminosas de energia,
cobertas de cima a baixo com uma capa brilhante, algo como um
casaco de plástico que é ajustado e bem apertado sobre seu casulo
de energia. Essa capa brilhante de consciência é o alimento dos
predadores. Quando o ser humano alcança a idade adulta, tudo o que
sobrava daquela capa brilhante de consciência era uma franja que ia
do chão até acima dos dedos dos pés. Essa franja permitia a
humanidade continuar vivendo, mas apenas vivendo. Essa franja de
consciência é o epicentro da auto-reflexão. Ao jogar com a nossa
auto-reflexão, que é o único ponto de consciência que nos sobrou, os
predadores criaram lampejos de consciência que eles passaram a
consumir de forma implacável e predatória. Nos deram problemas
fúteis que forçam esses lampejos de consciência a surgir, e dessa
forma eles nos mantêm vivos em boa condição para que possam se
alimentar com o lampejo energético de nossas pseudopreocupações.
Tudo o que podemos fazer é nos disciplinarmos ao ponto de não
deixar que eles nos toquem. Os predadores também são chamados de
voadores porque eles saltam através do ar. É uma enorme sombra,
impenetravelmente escura, uma sobra preta, que pula através do ar.
Hoje os homens da terra estão sedados por causa dos predadores. O

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homem, o ser mágico que ele está destinado a ser, não é mais
mágico. É um mero pedaço de carne. Não há mais sonhos para o
homem, mas os sonhos de um animal que está sendo criado para se
tornar um pedaço de carne: banal, convencional, imbecil. A única
alternativa para a humanidade é a disciplina. Disciplina é o único meio
de detê-lo. Os feiticeiros entendem por disciplina a capacidade de
enfrentar com serenidade obstáculos que não estão incluídos nas
nossas expectativas, é a arte de enfrentar o infinito sem titubear. A
disciplina torna a capa brilhante da consciência não palatável ao
voador. Se os predadores não comerem nossa capa brilhante de
consciência durante um período, ela continua crescendo. Por meio da
disciplina, afastam os predadores por tempo suficiente para permitir
que a capa brilhante da consciência cresça além do nível dos dedos
dos pés. Uma vez ultrapassado esse nível, ela cresce de novo até seu
tamanho natural. À medida que a consciência atinge níveis mais altos,
as manobras de percepção se tornam um fato natura. Sobrecarregar
a mente dos voadores com silêncio interior, a instalação forânea
fugirá. Os voadores são assombrosos e monstruosos. Cada ser
humano nesta Terra parece ter exatamente as mesmas reações, os
mesmos pensamentos, os mesmos sentimentos. Parecem responder
mais ou menos da mesma forma aos mesmos estímulos. Essas
reações parecem ser um pouco obscurecidas pela linguagem que eles
falam, mas se eliminarmos isso, são exatamente as mesmas reações
que assediam todos os seres humanos na Terra, sendo que os
voadores são as causas da homogenização.

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Os Aliados

O aliado não está no fumo. O fumo leva a pessoa para onde está o
aliado e depois nunca mais precisa fumar.

Os aliados não são bons nem maus, mas são utilizados pelos
feiticeiros para qualquer fim que eles queiram. Os aliados assumem
formas diferentes, podem parecer cães, coiotes, pássaros etc.. Os
aliados só podem ser vistos na forma que aparecem e está forma
serve para tapear a vista, isto é, a nossa vista. Os aliados em
companhias de homens, comportam-se como homens. Os aliados na
companhia de animais, comportam-se como animais. Algumas
pessoas na rua não são pessoas, mas aliados.

Os aliados são bolhas amorfa de luz opaca e toma inúmeras formas.

Os aliados são forças que os feiticeiros aprendem a controlar. São


forças chamadas de aliadas. Os quatro aliados do Nagual: o primeiro
aliado é uma massa escura, retangular com três metros de altura e um
metro e meio de largura; o segundo aliado é um homem de cara
cumprida, calvo, extraordinariamente alto e brilhante e com calças
curtas; o terceiro aliado é uma onça negra com olhos amarelos e
brilhantes; o quarto aliado é um coiote enorme e faminto.

Os aliados em si, não possuem forma, são como uma presença, um


brilho, uma luminosidade. É apenas uma presença que não é nada e
no entanto é tão real quanto você e eu.

A cabaça, depois de encontrada, tem de ser tratada com muito


cuidado. Depois que o feiticeiro tiver a sua cabaça, tem de oferecê-la
aos aliados e induzi-los a morarem lá. Se os aliados consentirem, a
cabaça desaparece do mundo dos homens e os aliados tornam um
auxílio do feiticeiro.

Os aliados se alimentam diretamente da nossa força de vida, existente


no meio do estômago.

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Os aliados são seres de outras dimensões e são atraídos pelas
nossas emoções: pelo amor, pelo ódio, pela tristeza e pelo medo.

Quando a barreira é quebrada, os seres inorgânicos mudam e tornam-


se o que os videntes chamam de aliados. A partir desses momentos,
os seres inorgânicos podem prever o mais sutis pensamentos, estados
de espírito ou temores dos videntes.

Os aliados não possuem brilho interno, não possuem mobilidade


interna e não existe vida neles, no entanto eles são vivos. São
estranhas formas grotescas que pareciam sacos de dormir fechados
com fecho ecler. Os aliados não são figuras agradáveis, se movem
com se estivessem saltando para cima e para baixo, havendo um
pequeno brilho em seu interior. O brilho cresce em intensidade até que
fique realmente brilhante.

Algumas vezes estas entidades energéticas vêm dos outros mundos


até nós.

Os seres inorgânicos são compelidos a interagir conosco, são atraídos


nos sonhos. Quando mudamos o nosso ponto de aglutinação, criamos
uma carga energética especial que atrai a atenção dos aliados.

Os seres inorgânicos são separados de nós por barreiras


gigantescas. Estas barreiras são energias que se movem em
diferentes velocidades. Algumas vezes eles se materializam no mundo
cotidiano bem na nossa frente.

O segredo, com os seres inorgânicos, é não ter medo deles.

Os seres inorgânicos são chamados de aliados. Os aliados nos


ensinam a mover o ponto de aglutinação para fora dos limites do ovo,
para o universo não humano.

Essa amizade com os aliados consiste numa troca mutua de energia.


Os seres inorgânicos dão sua alta consciência e os feiticeiros lhes dão
sua alta energia. É uma troca eqüitativa.

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Duas figuras de aparência estranha. Eram finas, menos de trinta
centímetros de largura, compridas, com dois metros e trinta de largura.
Estavam curvadas sobre mim, como duas minhocas gigantes. A partir
de então as duas formas estranhas apareciam em todas as minhas
sessões de sonhar. Chegou a ser como se eu sonhasse apenas para
encontrá-los.

Aliado é um ser sem essência corporal que existe no universo, é também


conhecido como seres inorgânicos. Os aliados estão aqui, como nós; e talvez
estivessem aqui antes de nós.

O aliado é um poder que o homem pode introduzir em sua vida para ajudá-lo,
aconselhá-lo e dar-lhe a força necessária para executar atos, grandes ou
pequenos, certos ou errados. Este aliado é necessário para realçar a vida de um
homem, orientar suas ações e aumentar seus conhecimentos. Um aliado é o
auxiliar indispensável do conhecimento. Um aliado faz o homem compreender
coisas a respeito das quais nenhum ser humano poderia esclarecer.

Um aliado é um poder capaz de transportar o homem além dos limites dele


mesmo.

O aliado é um poder capaz de transportar o homem além dos limites dele


próprio, isto é, um aliado é um poder que permite a pessoa transcender o reino
da realidade comum. Conseqüentemente, ter um aliado implica ter poder; e o
fato de que um homem de conhecimento tem um aliado é em si prova de que o
objetivo operacional dos ensinamentos foi atingido.

O aliado é uma entidade que existe fora e independentemente da pessoa, e no


entanto, a despeito de ser uma entidade separada, ele não possui forma. Sem
forma como condição oposta a “com forma definida”. A condição sem forma
do aliado significa que não possui uma forma distinta, ou vagamente definida,
ou mesmo reconhecível, isto significa que o aliado não é visível em momento
algum. O aliado é percebido apenas como uma qualidade dos sentidos, sua
presença é observada somente por seus efeitos sobre o feiticeiro.

Os encontros com os aliados eram feitos para se aprenderem os segredos


deles.

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Entes da Noite

Entes que existem no mundo e que agem sobre as pessoas. Talvez


fosse mais apropriado chamá-los de entes das montanhas; não
pertencem realmente à noite. São percebidos no escuro com uma
maior facilidade. De dia, porém, é mais difícil percebê-los. São seres
reais, são tão reais que normalmente matam pessoas. Estão no mato,
onde não há pessoas em volta, especialmente o mato de altas
montanhas. A morada natural dos entes da noite são as rochas e
fendas. Os entes da noite se movem a esquerda procurando fundir-se
com sua morte. Imitar o pio das corujas o faz aparecer. Eles se tornam
malévolos não porque sejam naturalmente malévolos, mas porque
você não é impecável. Eles anunciam a presença por um ronco.

Quatro Inimigos Naturais.


O Homem tem de desafiar e vencer seus quatros inimigos naturais. O medo,
aa clareza de espírito, o poder e a velhice. O medo: cada passo da
aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a
crescer impiedosamente,sem ceder. Deve desafiar o medo e, a despeito dele,
deve dar o passo seguinte na aprendizagem, e o seguinte, e o seguinte. Deve
ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. É esta a regra. Clareza de
espírito: o homem já conhece os seus desejos; sabe como satisfazê-lo. O
homem sente que nada se lhe oculta. Dá segurança ao homem, pois ele vê tudo
claramente. Mas tudo isso é um engano e se o homem sucumbir a esse poder
de faz-de-conta, sucumbiu a seu segundo inimigo. Deve pensar que sua
clareza é quase um erro. Deve compreeder que sua clareza é apenas um ponto
diante de sua vista. Poder: o poder transforma o homem em um ser cruel e
caprichoso. Tem de compreender que o poder nunca é seu. A Velhice: é o
momento em que o homem sente o desejo de descansar. Se ele deitar e
esquecer, se ele se afundar na fatiga, terá perdido o ultimo round.

Capítulo IX

Humanidade

53
Carlos Castaneda disse que sente pena da humanidade.

O Homem
O homem é um ovo luminoso, quer seja ele um mendigo ou um rei. Os
videntes vêem o homem como um campo de energia que parece um
ovo luminoso.

O ser humano é uma bola luminosa de energia e nessa bola luminosa


existe um ponto brilhante na já brilhante bola luminosa de energia. O
ponto brilhante é o ponto de aglutinação, uma percepção aglutinada.
No ponto brilhante é que nosso conhecimento do mundo é fabricado.

O ser humano é um ovo luminoso ou uma bola luminosa de energia, com um


ponto brilhante na já brilhante bola luminosa de energia, que eles chamam de
ponto de aglutinação. A percepção é aglutinada. É no ponto de aglutinação
que o nosso conhecimento é fabricado.

O Homem é visto como campo de energia, aparecem como fibras de


luz, como teias brancas de aranha, fios muito finos que circulam da
cabeça aos pés. É um ovo de fibras circulantes. Os homens estão em
contato com tudo o mais por meio de um punhado de fibras compridas
que saem do centro de seu abdome. O homem é um ovo luminoso.

O ser humano não é objeto; não têm solidez. É um ser redondo,


luminoso. O mundo dos objetos e da solidez é somente uma descrição
que foi criada para ajudar a tornar mais cômoda a passagem sobre a
terra.

O Homem é visto como campo de energia, aparecem como fibras de


luz, como teias brancas de aranha, fios muito finos que circulam da
cabeça aos pés. É um ovo de fibras circulantes. Os homens estão em
contato com tudo o mais por meio de um punhado de fibras compridas
que saem do centro de seu abdome. O homem é um ovo luminoso.

O homem total possui dois segmentos perceptíveis. O primeiro é o


corpo físico, o segundo é o corpo luminoso. O corpo luminoso é o

54
casulo que só os videntes conseguem perceber, um casulo que nos dá
a aparência de ovo luminoso gigantesco. Uma das metas mais
importante da feitiçaria é alcançar o casulo luminoso; uma meta que é
conseguida pelo uso do sonho e por um empreendimento rigoroso e
sistemático a que se da o nome de não fazer.

O casulo luminoso é uma bolha de luz com uma altura de dois metros
e dez centímetros e uma largura de um metro e vinte centímetros.

Com o corpo objeto aborda-se o mundo conhecido, com o ovo


luminoso aborda-se o mundo desconhecido.

O ovo luminoso é o nosso Eu energético.

No interior da bola luminosa, existe em seu centro, uma outra bola do


tamanho de uma bola de tênis. Em relação ao corpo físico, ela fica
cerca de sessenta centímetros atrás da omoplata direita da pessoa, é
chamado ponto de aglutinação.

A luminosidade do casulo é feita daquela porção das emanações da


Águia que está englobada pelo casulo ovóide. Essa porção particular,
essa porção de emanações que está englobada, é o que nos torna
homens. As emanações são filamentos de luz e os filamentos tem
consciência. Os filamentos têm consciência de si mesmo, são vivos e
vibram.

As cascas em forma de ovo que parecem tão brilhantes para nós, são
na realidade opacas. A luminosidade emana do núcleo brilhante e a
casca diminui de fato a radiosidade do núcleo. A casca deve ser
quebrada a fim de liberar o núcleo. Deve ser quebrada de dentro para
fora no tempo certo. Se não for quebrada, o núcleo fica sufocado e
morre. Não há meio do guerreiro quebrar a casca de sua luminosidade
antes do tempo certo. Perder a forma humana é o único meio de
quebrar a casca, o único meio de liberar o núcleo luminoso
assustador, o núcleo da conscientização, que é o alimento da águia.
Quebrar a casca significa lembrar-se do outro eu, chegando a sua
própria totalidade.

Ter vida significa consciência, ter um ponto de aglutinação e o brilho


da consciência ao redor.

55
O ponto central no corpo humano é o verdadeiro centro de energia em
todos nós.

A essência humana é uma forma cheia de brilho que lembra ovos


gigantes, ovos luminosos. Nossa forma energética muda com o correr
do tempo. Os seres humanos tinham mais a forma de bolas ou mesmo
de lápides.

É necessário uma força enorme para desprender a intenção do


primeiro anel de poder. Deve-se colocar a atenção na casca luminosa.

Devemos fazer o corpo energético mover-se sozinho.

As criaturas humanas são criaturas frágis, compostas de muitas


camadas de luminosidades. Quando você as vê, parecem ter fibras,
mas essas fibras na verdade são camadas, como uma cebola.
Choques de qualquer tipo separam essas camadas e podem até
causar a morte dos seres humanos. Morremos porque as nossas
camadas se separam. Os choques estão sempre separando-as, mas
elas se afastam de novo. Mas as vezes, o choque é tão grande que as
camadas se soltam e não podem mais juntar-se. Quando os seres
humanos estão sadios, parecem ovos luminosos, mas se sofrem de
alguma coisa, começam a descascar-se, como uma cebola.

Os seres humanos possuem dois aspectos, um lado direito e um lado


esquerdo. O lado direito é denominado de tonal, englobando tudo o
que o intelecto pode conceber. O lado esquerdo é chamado de nagual,
é um reinado de aspectos indescritíveis, um reinado impossível de ser
descrito em palavras.

Nas duas margens das faixas de emanações do homem existem um


estranho acúmulo de refugos, uma incalculável pilha de lixo humano.
É um depósito muito mórbido e sinistro. Na margem direita,
encontramos infindáveis visões de atividades físicas, violência,
assassinato, sensualidade. Na margem esquerda, encontramos
espiritualidade, religião, Deus.

56
O homem é apenas a soma de seu poder pessoal, e essa soma
determina como ele vive e como morre.

O homem de conhecimento que, sem se precipitar nem se deter, foi


tão longe quanto possível para decifrar os segredos do poder pessoal.

O ser humano nasce com uma quantidade finita de energia que é


sistematicamente desdobrada, começando no momento do
nascimento, de modo que possa ser usada de modo mais vantajoso
pela modalidade do tempo.

As emanações da Águia formam uma aglomeração encapsulada que


se manifesta como uma bola de luz do tamanho do corpo da pessoa
com os braços estendidos lateralmente, como um ovo luminoso
gigante. Apenas um grupo muito pequeno de campos de energia no
interior dessa bola luminosa são acesos por um ponto de intenso
brilho localizado na superfície da bola. A percepção ocorre quando os
campos de energia desse pequeno grupo imediatamente ao redor do
ponto de brilho estendem sua luz para iluminar campos de energia
idênticos no exterior da bola. Os únicos campos de energia
perceptíveis são aqueles iluminados pelo ponto brilhante, esse ponto é
chamado de ponto de aglutinação.

O ser humano é uma massa luminosa, longa ou esférica, de


incontáveis, estáticos, e no entanto vibrantes campos de energia.

As emanações da Águia formam uma aglomeração encapsulada que


se manifesta como uma bola de luz do tamanho do corpo da pessoa
com os braços estendidos lateralmente, como um ovo luminoso
gigante. Apenas um grupo muito pequeno de campos de energia no
interior dessa bola luminosa são acesos por um ponto de intenso
brilho localizado na superfície da bola. A percepção ocorre quando os
campos de energia desse pequeno grupo imediatamente ao redor do
ponto de brilho estendem sua luz para iluminar campos de energia
idênticos no exterior da bola. Os únicos campos de energia
perceptíveis são aqueles iluminados pelo ponto brilhante, esse ponto é
chamado de ponto de aglutinação.

57
Dualismo Humano

Pela primeira vez em minha vida tive o conhecimento de um dualismo


em mim. Duas partes separadas estão dentro do meu ser. Uma é
muito velha, à vontade, indiferente. É pesada, escura, e conectada a
tudo mais. É a parte de mim que não se importa, porque é igual a
qualquer coisa. Desfruta das coisas sem expectativa. A outra parte é
leve, nova, agitada. É nervosa, rápida, preocupa-se consigo mesma,
incapaz de concentrar-se em qualquer coisa Está só e vive na
superfície, é a parte pela qual a gente olha para o mundo. O lado mais
velho, escuro, silencioso é a visão dos antecedentes da razão. A parte
mais velha do homem é chamada de conhecimento silencioso. É um
conhecimento ao qual ainda não conseguimos dar voz. Para localiza o
conhecimento escuro e silencioso é necessário uma quantidade
enorme de energia. O conhecimento silencioso é algo que todos nós
temos, mas perdemos a visão desse saber. Esse conhecimento
silencioso é o intento, o espírito, o abstrato. O homem renunciou o
conhecimento silencioso pelo mundo da razão. Quanto mais se agarra
ao mundo da razão, tanto mais efêmero se torna o intento. O
conhecimento silencioso é uma posição geral do ponto de aglutinação,
que eras atrás havia sido a posição normal do homem, mas que por
razões que seriam impossíveis de determinar, o ponto de aglutinação
do homem moveu-se daquela localização específica e adotou uma
nova, chamada razão.

Cada ser humano tem duas mentes. Uma é totalmente nossa, e é como uma
voz fraca que sempre nos traz ordem, integridade, propósito. A outra mente é
uma instalação forânea. Nos traz conflito, auto-estima, dúvidas, desesperança.

Nossas mesquinharias e contradições, na verdade, são os resultados de um


conflito transcendental que aflige cada um de nós, mas que somente os
feiticeiros são dolorosa e irremediavelmente conscientes deles: o conflito entre
as nossas duas mentes.

Uma mente é a nossa verdadeira mente, o produto de todas as experiências de


nossa vida, aquela que raramente fala porque foi vencida e relegada a
obscuridade. A outra, a mente que nós usamos diariamente para tudo o que
fazemos, é uma instalação forânea.

58
O Ponto de Aglutinação

A percepção é governada pela localização do ponto de aglutinação.


Se o ponto muda de posição, a percepção de mundo do homem muda
de acordo. O feiticeiro conhece exatamente onde colocar seu ponto de
aglutinação para transformar-se em qualquer coisa que deseja.

Mover o ponto de aglutinação é tudo que importa. Esse movimento


depende de acúmulo de energia e não de instrução. Quem move o
ponto de aglutinação é o Espírito. Nenhum procedimento pode
ocasionar a movimentação do ponto de aglutinação. O Nagual atrai o
ponto de aglutinação ao movimento ajudando a destruir o espelho da
auto-reflexão. Mas isso é tudo que o Nagual pode fazer. Quem move
de fato é o espírito, o abstrato; algo que não pode ser visto ou sentido;
algo que não parece existir, e no entanto existe. Por essa razão, os
feiticeiros afirmam que o ponto de aglutinação move-se inteiramente
por conta própria.. Ou dizem que o Nagual o move. O Nagual move o
ponto de aglutinação, e no entanto não é ele próprio quem provoca
realmente o movimento. Seria mais apropriado dizer que o espírito se
expressa de acordo com a impecabilidade do Nagual. O Espírito pode
mover o ponto de aglutinação com a simples presença de um Nagual
impecável.

Para o homem racional é impensável que haja um ponto invisível onde


a percepção é aglutinada.

Quando um feiticeiro move seu ponto de aglutinação ao local exato


onde estava, revive a experiência total. Essa recordação do feiticeiro é
a maneira de recuperar toda a informação armazenada no movimento
do ponto de aglutinação.

O equilíbrio mental nada mais é que a fixação do ponto de aglutinação


num lugar ao qual estamos acostumados.

O pensamento do tipo cotidiano tinha que parar para permitir que o


ponto de aglutinação se movesse.

59
Qualquer comportamento que escapa à rotina causa um efeito
incomum em nosso ser total. Esse efeito incomum produz um tremor
no ponto de aglutinação e força o movimento do ponto de aglutinação.

Os seres humanos são como conglomerados de campos de energia que têm a


aparência de bolas luminosas. Cada uma das bolas luminosas está
individualmente conectada a uma massa energética de proporções
inconcebíveis que existe no universo; uma massa que é chamada de o mar
escuro da consciência. Cada bola individual está ligada ao mar escuro da
consciência por um ponto que é mais luminoso que a própria bola luminosa. O
ponto é chamado de ponto de aglutinação e é onde a percepção acontece. O
fluxo de energia é transformado, nesse ponto, em dados sensoriais.

O tamanho do ponto de aglutinação é determinado como sendo o equivalente a


uma bola de tênis moderna,somente um número finito de campos de energia,
ainda assim numa quantidade incalculável, convergem e passam através do
ponto.

O impacto dos campos de energia que passam através do ponto de aglutinação


é transformado em dados sensoriais; dados que são interpretados pela
cognição do mundo da vida cotidiana. A homogeneidade da cognição entre os
seres humanos é devida ao fato de que o ponto de aglutinação de toda raça
humana está localizada no mesmo lugar nas esferas luminosas energéticas que
nós somos: na altura das omoplatas, a distância de um braço por trás delas, nos
limites da bola luminosa.

O ponto de aglutinação muda de lugar sob condições de sono normal ou


extrema fatiga, doença ou ingestão de plantas psicotrópicas. Quando o ponto
de aglutinação está em uma nova posição, um feixe diferente de energia passa
através dele, trazendo como resultado um mundo novo e real para se perceber.
Cada novo mundo que surge dessa maneira é um mundo totalmente inclusivo,
diferente do mundo da vida cotidiana, mas absolutamente similar a ele no fato
de que se pode viver e morrer nele.

A possibilidade de se viajar para qualquer um desses mundos, ou para todos


eles, é a herança de todos os seres humanos. Estes mundos estão lá à vontade
para serem perguntadas, e que tudo o que um ser humano precisa para chegar
até esses mundos é intentar o movimento do ponto de aglutinação.

60
A Forma do Corpo Humano

A forma humana é uma força, é um molde. Tudo tem um molde, e todo


molde pode ser visto quando estamos imbuídos de poder, e
certamente por todos nós no momento de nossa morte. Os moldes da
forma humano brilha e é sempre encontrado nos olhos d’água e nas
gargantas estreitas. Os moldes se alimentam de água. Quando não
tivermos forma, então nada possuirá forma e no entanto tudo está
presente. O Nagual salienta que cada um guerreiro deve ser
impecável em seus esforços para mudar de forma, a fim de assustar a
forma humana e expulsá-la. Assim a forma humana não pode suportar
mais e parte. Estas mudanças de forma por parte do Nagual, prejudica
o corpo e pode até fazê-lo morrer, mas um guerreiro impecável
sempre sobrevive.

O molde do homem é um imenso feixe de emanações na grande faixa


da vida orgânica. Esse feixe aparece apenas no interior do casulo do
homem. É a porção das emanações da Águia que os videntes podem
ver diretamente sem qualquer perigo para si mesmo.

O molde do homem é uma matriz gigantesca que imprime os seres


humanos continuamente. Cada espécie tem um molde próprio. O
molde é o nosso Deus, porque somos aquilo com que nos estampa.
Somos simplesmente o produto de sua estampa, somos sua
impressão. O molde de homem é um padrão, uma forma, uma matriz
que dá forma a um certo punhado de elementos semelhantes, que
chamamos de homem.

O molde do homem é como uma luz resplandecente, cálida e


ambarina. Podemos ver o molde do homem de duas maneiras,
podemos vê-lo como homem ou vê-lo como uma luz. Isso depende do
deslocamento do ponto de aglutinação.

A nossa percepção tem uma parte social que é adaptada a um molde.


Devemos separar a parte da percepção social, porque o molde está
adaptado a esse tipo de percepção. Esse molde é a parte social da
percepção. A parte social da percepção reduz o âmbito do que pode
ser percebido e faz com que acreditemos que o que é percebido seja
tudo o que existe.

61
A fim de perder a forma humana, devemos desprender de todo lastro.
O perder a forma humana traz liberdade. A liberdade de lembrar-se de
você próprio.

Castaneda disse que tinha perdido a forma humana, tinha deixado cair
todos os seus escudos ou a maior parte deles. Sentia-se desprendido,
solto. Não importava mais o que as pessoas faziam. Não havia
nenhum rancor aberto ou oculto nele. Não era uma indiferença
negativa ou negligência ao agir, nem uma solidão desesperada ou
nem mesmo desejo, o desejo de estar sozinho. Era um sentimento de
afastamento, uma capacidade de imergir dentro de si mesmo por um
momento e não ter pensamentos de espécie alguma. As atividades
das pessoas não mais o afetavam, pois não tinha mais nenhuma
expectativa. Uma estranha paz tinha se tornado a força mestra de sua
vida. Ele sentia que de alguma forma tinha adotado um dos conceitos
da vida de guerreiro: desprendimento.

Enquanto a gente se agarra a forma humana, só podemos refletir essa


forma e a viver no mundo das formas.

Adotar Outras Formas

Para ser um especialista em adotar a forma de animais, é necessário


saber mover o ponto de aglutinação para a incomensurável área
abaixo. Escolhe-se diferentes animais como ponto de referência e
chamam esses animais de seu nagual. Movendo os pontos de
aglutinação para áreas específicas adquirir características do animal
de sua escolha e também a sua sabedoria, astúcia, agilidade ou
ferocidade. É uma transformação total.

62
Quando um feiticeiro se transforma num corvo é uma grande
realização, mas isso implica uma vasta e grosseira mudança do ponto
de aglutinação. Entretanto, movê-lo para a posição de um homem
gordo, ou um homem velho, requer a mudança mínima e o
conhecimento mais aguçado da natureza humana.

A percepção é governada pela localização do ponto de aglutinação.


Se o ponto muda de posição, a percepção de mundo do homem muda
de acordo. O feiticeiro conhece exatamente onde colocar seu ponto de
aglutinação para transformar-se em qualquer coisa que deseja.

O Homem Moderno
O homem moderno, um homicida egoísta é o devido a localização do
ponto de aglutinação, envolvido com a sua alto-imagem. Qualquer
movimento do ponto de aglutinação significa um movimento
afastando-se da excessiva preocupação com aquele eu individual que
é a marca do homem moderno. O homem moderno está envolvido
com a sua Auto-estima. Auto-estima é uma força gerada pela auto-
imagem do homem e esta força mantém o ponto de aglutinação fixo
onde está atualmente. Por esta razão, o ataque do caminho dos
guerreiros é voltado a destronar a Auto-estima. Assim que o ponto de
aglutinação se move a auto-estima se desmorona, a auto-estima não
pode mais ser sustentada. Auto-estima é a força que mantém o ponto
de aglutinação fixo. Quanto a auto-estima é podada, a energia que
requer não é mais gasta. Essa energia serve então como o trampolim
que lança o ponto de aglutinação, automaticamente e em
premeditação, para uma viagem inconcebível. A auto-reflexão foi que
desconectou o homem do espírito.

O mundo de nossa auto-reflexão ou de nossa mente era muito


inconsistente e era mantido coeso por algumas poucas idéias-chaves
que serviam como sua ordem subjacente. Idéias-chaves é a
continuidade. A idéia de que somos um bloco sólido. Em nossa mente,
o que sustenta o nosso mundo é a certeza de que somos imutáveis.
Podemos aceitar que nosso comportamento pode ser modificado, que
nossas reações e opiniões podem ser modificadas, mas a idéia de que
somos maleáveis a ponto de mudar de aparência, a ponto de ser
alguma outra pessoa, não é parte da ordem subjacente de nossa auto-

63
reflexão. Sempre que um feiticeiro interrompe essa ordem, o mundo
da razão para.

A Busca do Conhecimento.

O homem vai para o conhecimento como vai para a guerra, bem


alerta, com medo, com respeito e com uma segurança absoluta. Ir
para o conhecimento ou ir par a guerra de qualquer outra maneira é
um erro,e quem o cometer há de se arrepender de sua atitude.

O Homem de Conhecimento

O homem de conhecimento escolhe um caminho do coração e segue.


Sabe que sua vida terminará muito depressa, sabe que ele, como
todos os outros, não vai a parte alguma, sabe, porque vê, que nada é
mais importante do que qualquer coisa. Um homem de conhecimento
pode escolher o caminho do nada fazer, permanecendo totalmente
neutro, sem agir, comportando de uma maneira como se seu caminho
fosse realmente importante. O homem de conhecimento agindo
assim, está sendo sincero, pois sabe que é a sua loucura controlada.

A fim de se tornar um homem de conhecimento, a pessoa tem de ser


um guerreiro. É preciso lutar sem desistir, sem reclamar, sem hesitar,
até compreender que nada importa.

Um homem de conhecimento não pensa e não procura pensar. O


homem de conhecimento é o homem que sabe ver e que fica confuso
com o que vê.

Clareza é o segundo inimigo do homem de conhecimento.

O homem de conhecimento obtém conhecimento através da aprendizagem;


possui um objetivo inflexível; possui clareza de espírito; trabalha
exaustivamente para obter o conhecimento; ele é um guerreiro; está em um
processo incessante e finalmente possui um aliado. A clareza de espírito da ao
homem um sentido de direção.

Ser Funcional

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Ser funcional é obter a função de ver a energia diretamente, conforme
ela flui no universo. Se a energia flui de uma certa maneira, devemos
seguir o fluxo da energia.

A ponto mais elevado da evolução.


A culminação da busca dos xamãs é a jornada definitiva. Por jornada
definitiva entende-se a possibilidade de que a consciência individual,
ampliada ao seu limite máximo, quando pode ser sustentada além do
ponto no qual o organismo é capaz de funcionar como uma unidade
coesiva, o que quer dizer além da morte. Essa consciência
transcendental é a possibilidade de que a consciência ultrapasse tudo
o que é conhecido, e chegue ao nível de energia que flui no universo.
A busca chega no final quando o homem se transforma em um ser
inorgânico, energia cônscia de si mesma, atuando como uma unidade
coesiva, mas sem um organismo. Nesse nível atinge a liberdade total,
um estado no qual a consciência existe livre das imposições de
socialização e síntese.

O Principal Erro do Ser Humano.


O que está errado com os seres humanos, e está errado desde
tempos imemoriais, é acreditar que está no reino da imortalidade.
Comportamos como nunca fossemos morrer e apresentamos uma
arrogância infantil.

Somos seres a caminho da morte. Não somos imortais, mas nos


comportamos como se fôssemos. Essa é a falha que derruba como
indivíduo e que um dia nos derrubará como espécie.

Capítulo X
A Consciência
Em dado momento do crescimento dos seres humanos, uma faixa das
emanações interiores de seus casulos torna-se muito intensa; a
medida que seres humanos acumulam experiências, ela começa a
brilhar. Em certos casos, o brilho dessa faixa de emanações aumenta

65
tão drasticamente que se funde com as emanações do exterior. A
consciência é a matéria prima, enquanto a atenção é o produto final do
amadurecimento. A atenção é o controle e a intensificação da
consciência através do processo de estar vivo. É a maior realização
singular do homem.

A nossa consciência é dividida em três partes desiguais. A menor é


chamada “primeira atenção”, é a consciência que toda pessoa normal
desenvolve a fim de lidar com o mundo diário, ela abrange o
conhecimento do mundo físico. A outra parte maior é chamada de
“segunda atenção” que é o conhecimento de que precisamos para
perceber nosso casulo luminoso e para agir como seres luminosos. A
segunda atenção permanece como pano de fundo durante toda a
nossa vida, ela abrange o conhecimento do nosso corpo luminoso.

O campo de batalha dos guerreiros é a segunda atenção, uma espécie


de campo de treinamento para atingir a terceira atenção.

A fixação na segunda atenção tem duas faces. A primeira e a mais


fácil é a do mal. É quando os sonhadores usam os seus sonhos para
focalizar a segunda atenção sobre os itens do mundo, como dinheiro e
poder sobre as pessoas. A outra face é a mais difícil de ser alcançada,
é quando os sonhadores focalizam sua segunda atenção nos itens
que não são deste mundo, tais como a viagem ao desconhecido. Os
guerreiros precisam de impecabilidade total para alcançar este lado.

A segunda atenção pertence ao corpo luminoso e a primeira atenção


ao corpo físico. A nossa primeira atenção é presa às emanações da
terra, enquanto que a segunda atenção é presa às emanações do
universo.

A segunda atenção é como um oceano. É estar consciente de mundos


inteiros, tão totais quanto o nosso. A atenção sonhadora é estar
consciente dos itens de nossos sonhos.

Ao morrer, nossa conscientização entra na terceira atenção, mas só


por um instante, como uma ação purgatória, logo antes da Águia
devorá-la.

66
A essência do nosso ser é o ato de perceber, e que a magia de nosso
ser é o ato da consciência. A percepção e a consciência é uma
unidade única, uma unidade que possui dois domínios. O primeiro é a
atenção do tonal, isto é, a capacidade das pessoas comuns
perceberem e situarem sua consciência no mundo comum da vida
cotidiana ( primeiro círculo do poder). É a nossa capacidade de dar
ordem à nossa percepção do mundo de todo dia. O segundo domínio
é a atenção do nagual, isto é, a capacidade dos feiticeiros situarem a
sua consciência no mundo não-comum (segundo círculo do poder).

O Nagual disse que para ter a segunda atenção, basta tentar e tentar.

Os seres humanos possuem três níveis de atenção. Cada uma delas é


um campo independente, completo em si mesmo. Primeira atenção: é
a consciência animal. Tudo em que se pode pensar é parte da
primeira atenção. É um brilho fixado na superfície do casulo. É o brilho
que cobre o conhecido. Segunda atenção tem a ver com o
desconhecido. Estar consciente de um sonho é o prenúncio da
segunda atenção. A concentração é uma forma de consciência que
não está na mesma categoria que a consciência necessária para lidar
com o mundo cotidiano. A segunda atenção é a consciência do lado
esquerdo, e é o campo mais vasto que se pode imaginar, tão vasto
que , na verdade, parece não ter limites. A entrada para a segunda
atenção é muito simples e sua atração quase irresistível. A terceira
atenção é atingida quando o brilho da consciência se transforma no
fogo interior: o brilho que acende não uma faixa de cada vez, mas
todas as emanações da Águia no interior do casulo do homem. Entrar
na terceira atenção também é um presente, mas que tem uma
significação diferente. No momento de morrer, todos os seres
humanos entram no incognoscível, e alguns deles atingem a terceira
atenção, embora por um tempo muito breve e apenas para purificar o
alimento da Águia. A realização suprema dos seres humanos é atingir
aquele nível de atenção enquanto retêm a força da vida, antes de se
tornarem uma consciência desencarnada, movendo-se como uma
cintilação de luz na direção do bico da Águia para ser devorada.

A primeira atenção bloqueia o desconhecido, ela nega-o. O


desconhecido não existe para a primeira atenção. A primeira atenção
consome todo brilho da consciência que os seres humanos têm, e
nenhum pingo de energia é deixado em liberdade. Para entrar no

67
desconhecido, deve economizar sua energia. Economiza energia
erradicando hábitos desnecessários.

Não existem profundezas, existe apenas a manipulação da


consciência.

O homem tem dois tipos de consciência. O lado direito e o lado


esquerdo. O esquerdo é o estado de consciência normal, necessário
para a vida cotidiana. O segundo é o lado misterioso do homem, o
estado de consciência exigido para ele funcionar como feiticeiro e
vidente.

Uma parte de nós sempre é guardada sob chave, porque a tememos.


Para a nossa razão, essa parte de nós é como um parente louco que
mantemos trancada numa masmorra. Essa parte é a nossa segunda
atenção.

O corpo é a primeira atenção, a atenção do tonal. Quando ele se torna


a segunda atenção, simplesmente vai para o outro mundo.

A percepção é uma condição de alinhamento; as emanações no


interior do casulo ficam alinhadas com as exteriores, que se adaptam
a elas. O alinhamento é aquilo que permite que a consciência seja
cultivada por toda criatura viva. As emanações exteriores são os
mesmos filamentos de luz. A luminosidade dos seres vivos é
constituída pela porção particular das emanações da Águia que
sucede estar dentro de seus casulos luminosos. As emanações
exteriores ao casulo exercem uma pressão particular sobre a porção
de emanações interiores. Essa pressão determina o grau de
consciência que cada ser vivo tem. As emanações da Águia são mais
do que filamentos de luz. Cada uma delas é uma fonte de energia
ilimitada.

A pressão que as emanações livres exercem sobre as emanações no


interior é a mesma em todos os seres conscientes. Os resultados de
tal pressão são imensamente diferentes de um para o outro, porque
seus casulos reagem a ela de todos os modos concebíveis. Existem,
entretanto, graus de uniformidade, dentro de certos limites.

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A pressão das emanações livres se aplica às emanações do interior,
que estão sempre em movimento, e faz com que parem de mover-se.
As emanações livres se aplicam às de dentro do casulo e fazem-nas
parar de mover-se. As emanações de dentro do casulo estão
completamente em descanso, e combinam-se com algumas das que
estão no exterior.

A consciência sempre vêem de fora do casulo. O mistério real não


está dentro de nós. As emanações livres fixam as emanações que
está dentro do casulo. As emanações que estão no interior do casulo
se fundem com as emanações livres e se permitimos que isso
aconteça, tornamo-nos o que realmente somos: fluidos, sempre em
movimento, eterno.

A consciência é um brilho no casulo dos seres vivos, chamaram-no de


brilho da consciência. A consciência do homem é um brilho de
luminosidade ambarina mais intenso do que o resto do casulo. Esse
brilho está em uma faixa estreita e vertical do lado externo direito do
casulo, correndo por todo seu comprimento. Os videntes procuram
mover esse brilho, em fazê-lo espalhar-se a partir de seu ponto
original na superfície do casulo, para dentro, por toda sua largura.

A percepção tem lugar porque existe em cada um de nós um agente


chamado ponto de aglutinação que seleciona as emanações internas
e externas para alinhamento. O alinhamento particular que
percebemos como mundo é produto da posição específica em que
nosso ponto de aglutinação está localizado em nosso corpo. O ponto
de aglutinação não está no corpo físico, mas no invólucro luminoso, no
próprio casulo.

A área onde está este ponto de aglutinação não é uma característica


permanente, mas está estabelecida por hábitos naquela região
específica. Quando o ponto de aglutinação é desalojado, a
consciência muda dramaticamente. O mundo que percebemos é o
resultado da localização dos nossos pontos de aglutinação em uma
área específica do casulo. A área precisa é determinada pelo hábito,
pelos atos repetitivos.

69
Quando olhamos para uma árvore, nosso ponto de aglutinação se
alinha com um número infinito de emanações e executa um milagre.
Nosso ponto de aglutinação faz a gente perceber um grupo de
emanações que chamamos árvore.

A fixação ou o deslocamento do ponto de aglutinação é tudo o que


existe para nós e para o mundo que testemunhamos, seja qual for
esse mundo.

Somos ensinados a entorpecer-nos de modo a manter o ponto de


aglutinação fixo em um lugar. A mudança do ponto de aglutinação
implica numa visão do nosso próprio mundo da vida cotidiana, por
uma perspectiva diferente.

Conseguindo alinhar a outro mundo poderemos ir até lá e lá estará o


outro mundo. Se eu deslocara meu ponto de aglutinação em plena
rua, no meio do transito de Los Angeles, Los Angeles irá desaparecer
como um sopro de ar, mas eu permanecerei.

A base de percepção deve mudar. Devemos ter um novo modo de


perceber. Em primeiro lugar notar que processamos nossa percepção
para adaptá-la a um molde. Em segundo lugar devemos perceber
diretamente a energia. Perceber a essência nos fará compreender o
mundo em termos completamente novos. O ato mais significativo é ver
a essência do universo.

O ponto de aglutinação faz com que percebamos. A percepção é


aglutinada naquele ponto. Milhões de filamentos de energia do
universo apenas um pequeno número passa diretamente através do
ponto de aglutinação.

O ponto de aglutinação pode ser deslocado, percebendo de modo não


familiar. Quanto mais o deslocamento do ponto de aglutinação, mais
incomum será o comportamento conseqüente e, claro, a consciência e
a percepção conseqüentes.

O ponto de aglutinação e o seu brilho ao redor são a marca da vida e


da consciência. A consciência e a percepção estão juntas e estão
ligadas ao ponto de aglutinação e ao brilho que o rodeia.

70
Temos dois tipos de deslocamento do ponto de aglutinação: primeiro é
o deslocamento no interior da bola luminosa, vamos perceber mundos
pertencentes ao domínio humano. Segundo é o deslocamento fora da
bola luminosa. O movimento vai captar filamentos que estão além da
compreensão, mundos inconcebíveis sem nenhum traço de
antecedentes humanos.

A percepção humana é universalmente homogênea porque o ponto de


aglutinação de toda raça humana é fixada no mesmo local.

Os homens modernos tem uma visão absurdamente irreal da


percepção e da consciência, porque seus pontos de vistas decorrem
de sua observação da ordem social, e de suas relações com ela.

A grande tarefa dos feiticeiros é trazer a idéia de que, para evoluir, o


homem deve primeiro libertar sua consciência das amarras da ordem
social. Uma vez que a consciência estiver livre, o intento irá
redirecioná-la para um novo caminho evolucionário.

A consciência é uma área infinita de exploração. Com o objetivo de


aumentar a consciência, não existe risco que não devamos correr,
nenhum meio que devamos recusar. Mas não se esqueça de que a
consciência só pode ser aumentada com a mente sã.

A Racionalidade

O racionalidade abrange apenas uma parte muito diminuta da


totalidade do ser.

A psique humana é infinitamente mais complexa do que o nosso


raciocínio mundano ou acadêmico nos leva a acreditar que seja.

A razão é o demônio que mantêm a pessoa acorrentada. Temos que


vencer a racionalidade se quisermos realizar os ensinamentos.

71
Estado impecável é o estar livre de suposições racionais e medos
racionais.

Intenção ou Desejo

A intenção é que constrói o mundo. As pessoas e todas as criaturas


vivas, são escravas da intenção. Estamos nas suas garras. Ela nos
obriga a fazer o que quer. Faz com que atuemos no mundo.

O Nagual mostrou que podia fazer as coisas aparecerem quando


apelava para a intenção. Ele me disse que se eu quisesse voar tinha
de instigar a intenção de voar.

Evocar a intenção. O segredo é o olhar, são os olhos que acenam


para a intenção. O ver parece visual porque precisamos dos olhos
para focalizar a intenção. Os olhos são os captadores da intenção.

Desejo

Tudo é possível se a gente deseja com um propósito inflexível.

O alinhamento é uma força que pode ajudar o ponto de aglutinação a


se deslocar, ou o manter agarrado à sua posição costumeira. O
aspecto do alinhamento que mantém o ponto estacionado é a vontade,
e o aspecto que o faz mudar é o desejo.

Para perceber as outras realidades, precisamos não apenas desejá-


las. Precisamos de energia suficiente para agarrá-las. A
inacessibilidade é conseqüência do nosso condicionamento
energético.

Sexo

Uma pessoa completa, todas as fibras estão completas, parecem


cordas esticadas. Numa pessoa vazia, as fibras são amassadas nas
bordas do buraco. Quando uma pessoa teve dois filhos, as fibras não

72
aparecem mais fibras, essas pessoas parecem dois pedaços de
luminosidade, separadas por uma ponte preta. É um espetáculo
terrível.

Um menino rouba a maior parte do fio do pai, a menina da mãe. O


Nagual disse que a pessoa que teve filho perde algum poder que tinha
antes. Os pais perdem os fios. As pessoas vazias são como vermes
que olham em volta antes de se mexerem um pouco e depois recuam
e depois se mexem mais um pouco de novo.

A energia sexual é algo de extrema importância, e que deve ser


controlada e usada com grande cuidado, economizar e recanalizar a
energia sexual. Temos que ter muita energia armazenada para
suportar o impacto do outro mundo.

A Águia ordena que a energia sexual seja usada para que haja vida.
Através da energia sexual a Águia confere a consciência.

Quando seres conscientes estão engajados em relações sexuais, as


emanações dentro de seus casulos fazem o possível para conferir
consciência ao novo ser que estão criando. Durante o ato sexual, as
emanações contidas dentro do casulo dos dois parceiros passam por
uma profunda agitação, cujo ponto culminante é uma junção, uma
fusão de duas partes do brilho da consciência, uma de cada parceiro,
que se separam dos seus casulos. A relação sexual sempre é uma
doação de consciência. As emanações do interior do casulo dos seres
humanos não conhecem o sexo por prazer. Se os guerreiros desejam
ter energia suficiente para ver, devem tornar-se avaros com sua
energia sexual. Ao terem um filho, o brilho da consciência dos pais
diminuem e o da criança aumenta. Á medida que as crianças
aumentam a consciência, uma grande mancha preta se desenvolve
no casulo luminoso dos pais, no exato lugar do qual o brilho foi
retirado. Isso ocorre geralmente na seção média do casulo.

Para mover o ponto de aglutinação a pessoa necessita de energia e


não pode desperdiçar esta energia sexualmente.

O sonho faz o ponto de aglutinação mover e a energia sexual é


necessária para sonhar. A energia sexual deve ser utilizada no sonho.
Quando o ponto de aglutinação move desordenadamente é porque a

73
energia sexual não está equilibrada. Para os sonhadores a energia
sexual tem que estar liberada do mundo. Os espreitadores são os
opostos.

Ver

Ver não é um assunto dos olhos, ver é alinhamento. O alinhamento


das emanações usadas rotineiramente é a percepção do mundo do
dia-a-dia, mas o alinhamento de emanações que nunca são usadas
ordinariamente é ver. É uma voz que lhe conta no ouvido o que é o
que. Errado afirmar que ver era ouvir, porque era infinitamente mais
que isso. A voz de ver para os novos videntes é algo praticamente
incompreensível; dizem que é o brilho da consciência tangendo as
emanações da Águia.

Ver é diferente do que olhar para as coisas. Os olhos do homem pode


desempenhar ambas as funções, mas nenhuma das duas, olhar e ver
é melhor do que uma da outra; no entanto, treinar os olhos apenas
para olhar, é um desperdício desnecessário.

Pensar é a idéia constante que temos de tudo no mundo. Ver elimina


esse hábito. Um homem de conhecimento vive pelos atos, não pelo
pensar nos atos.

No caso de ver o pensar não é a questão.

Se você quer ver tem que deixar o fumo guiá-lo.

Quando um feiticeiro tenta ver, ele está tentando conseguir poder.

Para quem vê, os seres humanos são seres luminosos compostos de


uma coisa como fibras de luz e conservam a aparência de um ovo e

74
uma série de fibras longas que saiam da região próxima do umbigo.
Essas fibras são da maior importância na vida do homem. Pessoas
fracas tem fibras muito curtas e quase invisíveis. Pessoas fortes tem
tentáculos longos e brilhantes.

Quando o homem apreende a ver, ele se encontra sozinho no mundo,


apenas com a sua loucura.

Percepção

Os seres humanos são percebedores, mas o mundo que percebem é uma ilusão
criada pela descrição que lhes foi ensinada desde o momento que nasceram..
Assim a essência, o mundo que a razão deles quer sustentar é o mundo criado
por uma descrição e suas regras dogmáticas e invioláveis, que a razão deles
aprende a aceitar e a defender.

O resultado dessa manipulação é a mudança no ponto de contato com o mar


escuro da consciência, que traz concomitantemente um aglomerado diferente
de milhões de campos energéticos na forma de filamentos luminosos que
convergem no ponto de aglutinação. A conseqüência de novos campos
energéticos convergindo no ponto de aglutinação é que a consciência de um
tipo diferente da que é necessária para perceber o mundo da vida cotidiana
entra em ação, transformando os novos campos energéticos em dados
sensoriais, dados sensoriais que são interpretados e percebidos como um
mundo diferente, porque os campos energéticos que o engendram são
diferentes dos habituais.

A feitiçaria é a manipulação do ponto de aglutinação com a finalidade de


mudar o seu ponto focal de contato com o mar escuro da consciência,
tornando-se assim possível perceber outros mundos.

Milhões de campos energéticos do universo em liberdade, na forma de


filamentos luminosos, convergem e atravessam o ponto de aglutinação dos
seres humanos. Esses campos energéticos são convertidos em dados
sensoriais, e os dados sensoriais são então interpretados e percebidos como o
mundo que conhecemos. O que transforma as fibras luminosas em dados
sensoriais é o mar escuro da consciência Os feiticeiros vêem essa
transformação e a chama de brilho da consciência, uma luminosidade que se
estende como um halo em volta do ponto de aglutinação.

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Existem seiscentos pontos na esfera luminosa que nós somos, e quando
alcançados a vontade pelo ponto de aglutinação pode nos dar um mundo
totalmente inclusivo; o que significa que, se o nosso ponto de aglutinação é
deslocado para qualquer desses pontos e permanecer fixo nele, perceberemos
um mundo como inclusivo e total, como o mundo da vida cotidiana, porém,
mesmo assim,um mundo diferente.

Manter o ponto de aglutinação fixo na nova posição assegura aos feiticeiros a


percepção do novo mundo que eles entram em sua absoluta plenitude,
exatamente como nós fazemos no mundo dos assuntos corriqueiros. O mundo
da vida cotidiana não é mais do que uma camada de um mundo total
consistindo em pelo menos seiscentas camadas.

O Medo

Temos medo quando temos alguma coisa, quando a gente nada tem,
perdemos o medo. O grande objetivo é expulsar o medo dos nossos
sonhos e da vida.

Capítulo XI

Campo de Batalha do Homem

O mundo da vida cotidiana não pode jamais ser considerado uma coisa
pessoal, que tenha poder sobre nós, algo que possa nos criar ou nos destruir,
porque o campo de batalha do homem não se encontra na sua luta com o
mundo ao seu redor. Seu campo de batalha está além do horizonte , numa área
que é inimaginável para um homem comum, a área onde o homem deixa de
ser homem.

A verdadeira luta do homem não é a disputa com seus semelhantes, mas com
o infinito, e isso nem chega a ser uma luta, é, na sua essência, uma
aquiescência. Nós devemos voluntariamente nos submeter ao infinito. Nossas
vidas se originam no infinito, e terminam exatamente onde se originou: no
infinito.

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Meditação

Meditar: sentar num tapete fino e macio, com as solas do pé juntas e


coxas encostadas no tapete. A melhor hora para sonhar é tarde da
noite ou bem cedo de manha. Nesses horários temos melhores
condições de solidão e ausência de inúmeras interferências.

Relaxe, solte-se, não tenha medo de nada. Só então os poderes que


nos guiam abrem o caminho e nos ajudam.

Deitar na cama e se esvaziar de todos os pensamentos e sentimentos


e depois deixar que as linhas do chão puxem as rugas e as apaguem.
Não deixar os pensamentos interferirem.
Contemplar um monte de folhas durante horas, os pensamentos vão
se aquietando. Sem pensamentos a atenção do tonal se enfraquece e
de repente a sua segunda atenção agarram-se as folhas e elas se
tornam outra coisa. O mundo para. Contemplar é apreender aquietar
os pensamentos. O único meio de fazer parar o mundo é tentar fazê-lo
parar .

Contemplar é aquietar os movimentos, desligar o diálogo interno,


desligar a atenção do tonal. Uma vez que paramos o diálogo interno,
também paramos o mundo.

Relaxe, deixe o diálogo interno cessar.

A maneira de parar de conversar com nós mesmos é usar exatamente


o mesmo método: precisamos exercer nossa vontade, precisamos ter
esta intenção.

Quando o silêncio interior é atingido, os laços que ligam o ponto de


aglutinação, fazendo com que o ponto de aglutinação permaneça no
lugar em que ele está localizado, começam a soltar-se, e o ponto de
aglutinação fica livre para se movimentar.

A dificuldade para o homem médio é o diálogo interno. A pessoa só


pode usar o impulso (impulso da terra) quando atinge um estado de
silêncio total.

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Sentar-se sozinho e deixar os pensamentos, memórias e idéias brotarem livremente.Deixar a voz das
profundezas falar.

O Espreitador

Espreitador é aquele que faz a recapitulação. Consiste em recordar a


vida até os mínimos detalhes. O espreitador usa engradado ou caixa
de terra a fim de se trancar dentro enquanto estiver revendo. O
espreitador deve recapitular sua vida completamente. O sonho e a
espreita tem a mesma finalidade, entrar na terceira atenção. É
importante que o guerreiro pratique os dois. O elemento chave da
recapitulação é a respiração. A respiração produz memória cada vez
mais profundas. O espreitador tem de lembrar de cada sentimento
que teve em sua vida e esse processo inicia com a respiração.

A recapitulação consiste em um escrutínio sistemático da própria vida,


segmento por segmento, um exame feito não ã luz da crítica e da descoberta
de falhas, mas à luz de um esforço para entender a própria vida e mudar o seu
curso

A recapitulação consiste em um escrutínio sistemático da própria vida,


segmento por segmento, um exame feito não à luz da crítica e da
descoberta de falhas, mas à luz de um esforço para entender a própria
vida e mudar o seu curso. Uma vez que o praticante olhe sua própria
vida da maneira distanciada que a recapitulação exige, não existe
mais a possibilidade de voltar à mesma vida.

A consciência é o alimento da Águia e ela, a Águia, pode ficar


satisfeita com uma recapitulação perfeita em lugar da consciência.
Soledade tinha ficado dentro do engradado de recapitulação durante
cinco anos e a Águia aceitou sua recapitulação no lugar de sua
conscientização e libertou Soledade.

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A tarefa de lembrar é ajuntar o nosso lado direito com o esquerdo, de
trazer essas duas formas separadas de percepção a um todo, é a
tarefa de consolidar a totalidade do eu através da reorganização numa
seqüência linear.

No momento em que a pressão das emanações livres fixa as


emanações do interior, a primeira atenção começa a observar a si
mesma. Nota tudo a respeito de si mesma. O fazer o inventário é a
ordem da Águia. O que está sujeito a vontade do homem é a maneira
como a ordem é obedecida. Ordem é emanação da Águia e é uma
emanação que ninguém pode desobedecer.

Nós seres humanos somos na realidade um ponto de aglutinação fixo


em certa posição. Nosso inimigo e ao mesmo tempo nosso amigo é o
nosso diálogo interno, nosso inventário. Desligue seu diálogo interno,
faça seu inventário e depois atire-o fora. Sem o inventário, o ponto de
aglutinação torna-se livre.

Um dos aspectos mais inflexíveis de nosso inventário é a nossa idéia


de Deus.

Espreitar a si mesmo ou limpar o elo.

Relembrar é ditado pelo tipo de pensamento cotidiano, enquanto


recordar é ditado pelo movimento do ponto de aglutinação. Uma
recapitulação da vida é a chave para mover o ponto de aglutinação. O
feiticeiro começa sua recapitulação pensando, relembrando os atos
mais importantes de suas vidas. Após apenas pensar a respeito deles,
move-se então para estar realmente no local do evento. Quando
conseguem fazer isso, estar no local do evento, foi porque moveram
com sucesso seu ponto de aglutinação ao lugar preciso onde estava
quando o evento teve lugar. Trazer de volta o evento total por meio do
movimento do ponto de aglutinação é conhecido como a recordação
dos feiticeiros.

A coleção de eventos memoráveis é o veículo para o ajuste emocional e


energético necessário a fim de se aventurar, em termos de percepção, no
desconhecido.

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A recapitulação consiste em fazer uma lista de todas as pessoas que conheceu,
desde o presente até o início da sua vida. Uma vez feita essa lista, pegue a
primeira pessoa da lista e lembra-se de tudo o que puder sobre a pessoa.
Lembre de tudo, de cada detalhe.

Ao recapitularmos a nossa vida, todo o entulho chega à superfície.


Percebemos a nossa inconsistência, nossas repetições.

Pequeno Tirano

Controle é dominar-se quando alguém está pisando em você.


Paciência é esperar calmamente, sem pressa e sem ansiedade.

Todo esforço deve ser feito para erradicar a vaidade da vida dos
guerreiros. A vaidade figura como atividade que consome a maior
quantidade de energia, daí o esforço para erradicá-la. Energia para
poder encarar o desconhecido com ela. A ação de recanalizar aquela
energia é a impecabilidade.

Dominar o pequeno tirano: é ter controle, é ter disciplina, é ter


paciência, é esperar pelas oportunidade, é ter vontade.

O guerreiro que tropeça num pequeno tirano é um guerreiro


afortunado. Se os videntes conseguem manter-se inteiros ao
defrontar-se com pequenos tiranos, podem certamente encarar o
desconhecido com impunidade, e então podem suportar até mesmo a
presença do incognoscível.

Os guerreiros que sucumbem a um minúsculo pequeno tirano são


eliminados pelo seu próprio senso de fracasso e inutilidade. Isto
significa alta mortalidade.

Lidar com os pequenos tiranos ajuda os videntes a realizarem uma


manobra sofisticada: essa manobra destina-se a mover seus pontos
de aglutinação. O fato de eu ter percebido um aliado significa que
havia movido meu ponto de aglutinação de sua posição costumeira.
Meu brilho da consciência move-se além de certo umbral, apagando

80
também meu medo. Acontece porque eu tinha energia suplementar
suficiente.

Escudo
O grande problema das pessoas é que elas confundem o mundo com
que as pessoas fazem. As coisas que as pessoas fazem são os
escudos contra as forças que nos cercam. O que as pessoas fazem é
muito importante em si, mas apenas como escudo. Nunca
aprendemos que as coisas que fazemos como pessoas são apenas
escudos e deixamos que elas dominem e transformem nossas vidas.
Para a humanidade, aquilo que as pessoas fazem é maior e mais
importante do que o próprio mundo.

História Pessoal
Não tenho história pessoal. Um dia descobri que a história pessoal
não me era mais necessária, eu a deixei de lado.

Você tem necessidade de renovar sua história pessoal para contar a


seus pais, seus parentes e amigos, tem necessidade de contar tudo o
que faz. Se não tiver história pessoal, não há necessidade de
explicações e acima de tudo, ninguém o prende com seus
pensamentos.

É melhor apagar toda história pessoal porque isso nos deixaria livres
dos pensamentos estorvantes dos outros.

Como posso saber o que sou, quando sou tudo isso que existe. Deve
apagar tudo em volta de si até que nada possa ser considerado coisa
sabida, até não haver nada de certo nem de real. Seu problema agora
é que você é real demais. Precisa começar a se apagar.

Comece a se apagar com as coisas simples, assim não revela o que


está fazendo. Depois deve abandonar todas as pessoas que o
conhece realmente bem. Assim, você construirá uma névoa em torno
de si.

Eu tinha de estar ciente da inutilidade de minha importância própria e


de minha história pessoal. Aqueles que o conhecem a muito tempo,
você tem de abandoná-los rapidamente.

81
Não tenho história pessoal e não me sinto mais importante do que
alguma outra coisa, e também porque minha morte está sentada
comigo bem aqui.

Diálogo Interno

O diálogo interno é o que prende as pessoas no mundo cotidiano. O


mundo é assim e assado, desta ou daquela maneira, só porque
dizemos a nós mesmos que ele é assim e assado, desta ou daquela
maneira. A passagem para o mundo dos xamãs se abre depois que o
guerreiro aprendeu a silenciar seu diálogo interno. Mudar nossa idéia
sobre o que é o mundo é o ponto crucial do xamanismo. ,E parar o
diálogo interno é o único meio de conseguir isso.

Quando o guerreiro aprende a parar o diálogo interno, tudo se torna possível;


as coisas mais difíceis podem ser alcançadas.

Conhecimento Silencioso
O conhecimento silencioso nada mais é do que o contato direto com o intento.

Silêncio interior significa a suspensão do diálogo interno,sendo um estado de


profunda quietude. É um estado que a percepção não depende dos sentidos. O
que funciona durante o silêncio interior é outra faculdade que o homem tem, a
faculdade que o torna um ser mágico. O silêncio anterior se acumula,
aumenta. O importante és formar um núcleo do silêncio interior.

Silêncio interior é o caminho que leva a uma verdadeira suspensão do


julgamento, a um momento em que a informação sensorial que emana do
universo em liberdade deixa de ser interpretada pelos sentidos; o momento em
que a cognição cessa de ser a força que, através do uso e da repetição, decide a
natureza do mundo.

Devemos viajar através do mar escuro da consciência. O silêncio interior faz


isso.

Nada Fazer

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O não fazer é parar o diálogo interno. Parar o diálogo interno traz a
paz necessária e descansa a mente dos praticantes, e isso por sua
vez ajuda-nos a controlar os sonhos.

Ponto de Ruptura

Em um dado momento a continuidade de suas vidas tem de se quebrar para


que o silêncio interior comece esse torne uma parte ativa de suas estruturas. O
ponto de ruptura é interromper a sua vida como você a conhece. Deve deixar
seus amigos, deve dizer adeus a eles para sempre. Não é possível continuar no
caminho dos guerreiros levando sua história pessoal com você. O Nagual só
tem um ponto de referência, o infinito.

Não quero que seu corpo morra fisicamente. Quero que sua pessoa morra. Sua
pessoa é a sua mente. O critério que indica que um feiticeiro está morto é
quando não faz diferença para ele se tem companhia ou se está só.

Loucura Controlada

Temos que saber que nossos atos são inúteis e, no entanto, temos
que proceder como se não soubéssemos. Os atos devem ser
sinceros, mas são atos de um ator. Tudo o que eu faço é loucura
controlada. Nada importa e não devemos ligar realmente a nada ou a
ninguém. Devemos continuar a viver com base na vontade, mas uma
vontade limpa e sadia. A vontade é usada para controlar a loucura da
vida.

Meu riso é real, é loucura controlada. O meu riso é inútil; não altera
nada e, no entanto, continuo a fazê-lo. O meu riso é uma loucura
controlada.

Um homem de conhecimento não tem honra, nem dignidade, nem


família, nem nome, nem prática, mas apenas a vida a ser vivida, e,
nessas circunstâncias, sua única ligação com seus semelhantes é sua
loucura controlada. O homem de conhecimento se esforça, transpira e
bufa; e, se olhar para ele, parece um homem comum, só que tem que
a loucura de sua vida está controlada. Como nada é mais importante
do que outra coisa qualquer, um homem de conhecimento escolhe
qualquer ato e age como se lhe importasse. Sua loucura controlada o

83
leva a dizer que o que ele faz importa e o faz agir como se importasse.
O homem de conhecimento sabe que depois de qualquer ato ele se
retira em paz, quer seja um ato bom ou mau. A bondade e a maldade
não o afeta.

Minha loucura controlada só se aplica a mim. O único ato na vida de


um homem de conhecimento que não é loucura controlada é aquele
que ele pratica com seu aliado ou com Mescalito. O aliado e Mescalito
não estão no plano de igualdade com os seres humanos.

A loucura controlada é a única maneira que existe de lidar consigo


mesmo, em seu estado de consciência e percepção expandida, e com
todos e tudo no mundo dos afazeres diários. A loucura controlada
como arte do engano controlado ou a arte de fingir estar
profundamente imerso na ação. A loucura controlada não é um
engano direto, mas um modo sofisticado, artístico, de estar separado
de tudo permanecendo ao mesmo tempo uma parte de tudo. Muitos
feiticeiros não suportam a loucura controlada, não porque haja alguma
coisa inerentemente errada com a arte, mas porque é preciso muita
energia para exercê-la.

A consciência ocorre quando os filamentos no interior do casulo estão


iluminados. A energização dos filamentos é feito por uma força
independente, chamada vontade. A vontade é a força que mantêm as
emanações da Águia separadas, sendo responsável pela nossa
consciência e também por tudo no universo. A vontade é outro nome
para intento. O intento possui consciência total e possui uma conexão
viva com tudo no universo.

Liberdade

Para ser um Nagual a pessoa precisa amar a liberdade e deve ter um


despreendimento supremo.

Busca de liberdade: liberdade de perceber, perceber a essência


energética das coisas.

Perceber a essência das coisas é uma capacidade que chamamos de


ver. Ver é perceber a energia diretamente.

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A liberdade é a força capaz de impulsionar em direção ao infinito.
Liberdade de voar até aquele infinito. Liberdade para se dissolver,
para decolar, para ser como a chama de uma vela que mesmo diante
da luz de um bilhão de estrelas, permanece intacta, porque jamais
pretendeu ser mais do que é, uma simples vela.

Liberdade total é o momento em que o homem escravo torna-se um


ser livre, capaz de ter percepção que desafiam a nossa imaginação
linear.

Capítulo XII

O Sonho

O sonho deve ser iniciado de um ponto de luz que tenha cor.

Se eu estiver sonhando a noite as minhas visões no sonho devem ser


de noite. O que a pessoa experimenta sonhando tem de ser
congruente com a hora do dia em que o sonhar realiza.

Sonhar é real quando a gente conseguiu focalizar tudo. Depois, não


há diferença entre o que você faz quando dorme e o que faz quando
não esta dormindo.

Focalizar o olhar sobre suas mãos, como ponto de partida. Depois


desvia o olhar para outras coisas e olhe para elas de relance.
Focalizar o olhar sobre o máximo de coisas que puder. Olhar só
rapidamente. Voltar para suas mãos. Cada vez que olhar para suas
mãos, estará renovando o poder necessário para sonhar. Assim que
as imagens começarem a mudar e você sentir que está perdendo o
controle, volte para suas mãos, senão as visões no sonho poderá ser
uma visão de sonho comum.

A arte de sonhar é conservar a imagem de seus sonhos.

Guardar a imagem dos sonhos era uma arte Tolteca: encontrar as


minhas mãos em meus sonhos, encontrar objetos, buscar coisas

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significativas, olhar para si mesmo dormindo na cama, significa o
praticar o sonhar.

O sonhar comprime as camadas do casulo.

Contemplar as sombras das pedras e depois no sonhar descobrir que


estas sombras tem luz, de modo que no sonho vá procurar a luz nas
sombras até encontrá-la. Contemplar e sonhar estão juntos. Levei
muito tempo contemplando as sombras para poder conseguir o meu
sonhar de sombras.

A arte de sonhar é a arte de deslocar à vontade o ponto de


aglutinação com o objetivo de ampliar o âmbito do que pode ser
percebido.

Através dos contatos de sonhos com os seres inorgânicos, os


feiticeiros tornaram-se versados na manipulação do ponto de
aglutinação.

Corpo Sonhador

O corpo sonhador é as vezes chamado de sósia ou o outro, porque é


uma réplica perfeita do corpo do sonhador. É basicamente a energia
de um ser luminoso, um esbranquiçado, uma emanação
fantasmagórica, que é projetada pela fixação da segunda atenção
numa imagem tridimensional do corpo. O corpo sonhador é um
fantasma, sendo tão real quanto qualquer coisa que lidamos no
mundo. A segunda atenção é inevitavelmente levada a focalizar sobre
o nosso ser total como um campo de energia, e que transforma essa
energia em qualquer coisa apropriada. A coisa mais fácil é
naturalmente, a imagem do corpo físico. O que canaliza a energia do
nosso ser total a produzir qualquer coisa que esteja dentro dos limites
de possibilidades é conhecido como vontade. Desta forma a energia
de um ser luminoso pode ser transformada, através da vontade, em
qualquer coisa. O corpo sonhador se envolve e se prende a qualquer
coisa. Ele não tem sentido.

Sósia é o outro corpo que a gente adquire ao sonhar, parece


exatamente com a pessoa.

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Os antigos videntes ficaram tão especializados em manter sua posição
de sonho que eram até mesmo capazes de acordar enquanto seus
pontos de aglutinação estavam ancorados ali, usando-o como um
corpo mais prático, o que quer dizer que recriavam-se de maneira
cada vez mais estranhas. O corpo sonhador é uma bolha de luz. O
deslocamento do ponto de aglutinação sendo caótico, o sonho será
caótico.

O corpo sonhador é conhecido por diferentes nomes: o outro, o duplo


e é uma bolha de luz. O deslocamento do ponto de aglutinação além
da linha média do casulo do homem faz com que o mundo inteiro que
conhecemos desapareça instantaneamente de nossas vistas, como se
tivesse sido apagado, pois a estabilidade, a substancialidade que
parece pertencer ao nosso mundo perceptível é apenas a força de
alinhamento, e nosso mundo é apenas isso. A integridade do mundo
não é miragem; a miragem é fixação do ponto de aglutinação em
qualquer posição. Quando os videntes deslocam seus pontos de
aglutinação, não se defrontam com uma ilusão, defrontam-se com
outro mundo, esse novo mundo é tão real como o que estamos
olhando agora, mas a nova fixação de seus pontos de aglutinação,
que produz esse novo mundo, é tanto uma miragem quanto a antiga
fixação.

Capítulo XIII

A Morte

A morte é nossa eterna companheira, está sempre a nossa esquerda,


à distância de um braço. Como é que alguém pode sentir-se tão
importante quando sabe que a morte está no seu encalço? A morte é
a única conselheira que possuímos.

No mundo em que a morte é a caçadora, não há decisões pequenas


ou grandes. Só há decisões que tomamos diante da morte inevitável.

Só há uma coisa errada com a gente, pensamos que temos muito


tempo. A felicidade é agir com a plena consciência de que não temos
muito tempo. Os atos tem poder, especialmente quando a pessoa que

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age sabe que o ato que está praticando faz parte da sua última
batalha. Há uma estranha felicidade em agir com o pleno
conhecimento de que o ato que está praticando agora, pode bem ser o
seu último ato sobre a terra.

Concentre sua atenção no elo entre você e sua morte, sem remorsos,
nem tristeza, nem preocupação. Focalize sua atenção sobre o fato de
que você não tem mais tempo e deixe que seus atos fluam
naturalmente. Deixe que cada um de seus atos seja sua última batalha
na terra. Só nessas condições é que tais atos terão seu devido poder.

A morte não é como uma pessoa, é mais uma presença. Podemos


dizer que ela não é nada e, no entanto é tudo. E ambas as coisas
estarão certas. A morte para cada um possui a sua própria
característica e para mim, ela é uma pessoa. A maneira pela qual o
guerreiro vê sua morte é um assunto pessoal. Pode ser qualquer
coisa, um pássaro, uma luz, uma pessoa, um arbusto, uma pedra,
uma névoa, ou uma presença desconhecida.

Determinados feiticeiros não são colhidos pela morte, mas escolhem o


momento e o modo de sua partida deste mundo. É então que os
consome um fogo interior e desaparecem da face da terra, livres,
como se nunca tivessem existido.

Atravessar para a liberdade significa uma vida para sempre. No


momento da travessia a pessoa entra na terceira atenção, e o corpo,
em sua totalidade, é iluminado pelo conhecimento. Cada célula torna-
se de repente consciente de si própria, e também consciente da
totalidade do corpo.

Nossa morte era um ponto negro exatamente atrás do ombro


esquerdo. Quando uma pessoa está próxima para morrer o ponto
negro se transforma em uma sombra móvel do mesmo tamanho e
formato da pessoa a quem pertence.

Sem uma visão clara da morte, não há ordem, nem sobriedade, nem
beleza. O feiticeiro luta para ganhar essa percepção crucial de modo a
ajudá-lo a perceber no nível mais profundo possível que não têm
segurança sequer de que sua vida continuará além do momento. Essa

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percepção dá ao feiticeiro a coragem de ser paciente e no entanto
entrar em ação, coragem de aquiescer sem ser estúpido.

A idéia da morte é a única coisa que pode dar coragem ao feiticeiro.


Coragem de ser atencioso sem ser vaidoso, ser implacável sem ser
convencido.

A morte é o único inimigo real que temos. A morte não é um inimigo,


embora cause esta sensação. A morte não é nosso destruidor, embora
pensemos que seja. A morte é o único oponente valoroso que temos.
A morte é nosso desafiante. Nascemos para aceitar este desafio,
homens comuns ou feiticeiros. A vida é a arena e nessa arena há
apenas dois contendores: o próprio indivíduo e a morte. A morte
estabelece o ritmo de nossas ações e sentimentos e empurra-nos
incansavelmente até que nos quebra e ganha o prêmio, ou então nos
elevamos acima de todas as possibilidades e derrotamos a morte. O
feiticeiro derrota a morte e a morte reconhece a derrota, deixando que
o feiticeiro parta livre, para nunca mais ser desafiado. Isto não significa
que o feiticeiro se torna imortal. A morte deixa de desafiá-lo, significa
que o pensamento deu uma cambalhota para o inconcebível. Uma
cambalhota do pensamento para o inconcebível é a descida do
espírito; o ato de quebrar nossas barreiras perceptíveis. É o momento
no qual a percepção do homem atinge seus limites. Descida do
espírito, ou ser movido pelo intento.

Não a deseje, apenas espere até que ela chegue. Não tente imaginar
como é a morte. Apenas esteja ali para ser apanhado em seu fluxo.

Morri naquele campo. Senti minha consciência fluindo para fora de


mim e dirigindo-se na direção da Águia. Mas como eu havia
recapitulado impecavelmente minha vida, a Águia não me devorou a
consciência. A Águia cuspiu-me para fora. Por que meu corpo estava
morte no campo, ela não me deixou seguir diretamente para a
liberdade. Era como se me dissesse para voltar e tentar outra vez.

A morte é a nossa eterna companheira. Está sempre ã nossa


esquerda, à distância de um braço atrás de nós. A morte é a única

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conselheira sábia que um guerreiro tem. Toda vez que ele sente que
tudo está errado e que ele está preste a ser aniquilado, pode virar-se
para sua morte e perguntar se é assim mesmo. A morte lhe dirá que
ele está errado; que nada realmente importa, além do toque dela. Sua
morte dirá a ele: “Ainda não o toquei.”

Em um mundo em que a morte é o caçador, não há tempo para


remorsos ou dúvidas. Só há tempo para decisões. Não importa quais
decisões. Nada pode ser mais ou menos sério do que qualquer outra
coisa. Em um mundo em que a morte é o caçador, não há decisões
pequenas ou grandes. Só há decisões que um guerreiro toma em face
de sua morte inevitável.

Um guerreiro deve focalizar sua atenção no elo entre ele e sua morte.
Sem remorso nem tristeza nem preocupação, ele deve focalizar sua
atenção no fato de que ele não tem tempo e deixar que seus atos
fluam de acordo. Ele deve deixar que cada um de seus atos seja sua
última batalha sobre a terra. Só nessas condições é que seus atos
terão o devido poder. Senão eles serão, enquanto ele viver, os atos de
um tolo.

Um guerreiro-caçador sabe que sua morte o está esperando e o


próprio ato que ele está executando agora pode muito bem ser sua
última batalha sobe a terra. Ele o chama de uma batalha porque é
uma luta. A maioria das pessoas passa de um ato para outro sem
qualquer luta ou pensamento. Um guerreiro-caçador, ao contrário,
avalia cada ato; e como tem um conhecimento íntimo de sua morte,
procede judiciosamente, como se cada ato fosse sua última batalha.
Só um tolo deixaria de perceber a vantagem que um guerreiro-caçador
leva sobre seus semelhantes. Um guerreiro-caçador dá à sua última
batalha o devido respeito. É natural que seu último ato sobre a terra
seja o melhor dele. É agradável assim. Amortece o seu medo.

O xamã é capaz depois da morte, reter sua consciência e propósito individual.


Para o xamã, o estado idealístico e vago que o homem moderno chama “a vida
depois da morte” é uma região concreta e repleta de questões práticas de uma
ordem diferente das questões práticas da vida cotidiana, porém, com uma
praticabilidade funcional semelhante. Colecionar os eventos memoráveis em
suas vidas era para o xamã a preparação para entrar nessa região concreta que
é chamada pelo xamã de o lado ativo do infinito.

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Na morte a sua consciência acaba, tanto para os seres orgânicos como para os
seres inorgânicos. Existe uma opção oculta para a morte que é exclusiva para
os feiticeiros. Para os seres humanos comuns, morte significa o fim da
consciência, o fim do seu organismo físico. O impacto da morte é o ato de ser
sugado para o mar escuro da consciência. As consciências individuais,
carregadas com as suas experiências de vida, quebram as suas fronteiras, e a
consciência enquanto energia se perde no mar escuro da consciência. Para um
feiticeiro, a morte é um fator unificador. Em vez de desintegrar o organismo,
como comumente acontece, a morte o unifica. A morte para um feiticeiro
termina o reino dos temperamentos individuais do corpo. A morte para os
feiticeiros é um ato de unificação e quando a unificação ocorre não há
cadáver. Não há decomposição. O corpo em sua totalidade se transforma em
energia, e a energia que possui consciência não é fragmentada. Os limites que
são causados pelo organismo são interrompidos pela morte. Ocorre uma
transformação, o feiticeiro se transforma em ser inorgânico de alta velocidade,
ser capaz de manobras estupendas de percepção e o infinito se torna o seu
reino de ação.

Pulei no abismo e não morri porque antes de alcançar o fundo do abismo


deixei que o mar escuro da consciência me engolisse. Entreguei-me a ele, sem
medos nem arrependimentos. E esse mar escuro forneceu-me tudo o que era
necessário para eu não morrer.

Final da Vida

Durante nossas vidas ativas nunca temos a chance de ir além do nível


da mera preocupação, porque desde tempos imemoriais a rotina dos
afazeres diários os entorpeceu. É apenas quando nossas vidas quase
se encontram por terminar que nossa preocupação com o destino
começa a assumir um caráter diferente. Começa a fazer-nos ver
através da neblina das ocupações diárias. Infelizmente, esse despertar
sempre vem de mãos dadas com a perda da energia causada pelo

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envelhecimento, quando não temos mais força para transformar nossa
preocupação em descoberta pragmática e positiva. Nesse ponto, tudo
que é deixado é uma angústia amorfa e penetrante, um desejo por
algo indescritível, e simples raiva por ter errado o alvo.

O Fim de Uma Era

O fim de uma era significa que a unidade de uma cognição estrangeira está
começando a tomar conta. A unidade da atual cognição está começando a se
desvanecer.

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