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† Inocência
"O tempo nos paga com Terra & pó, e com um escuro e silencioso
caixão.

Lembre-se, minha criança: Sem inocência a cruz é apenas ferro,

esperança é apenas uma ilusão..."

Bless the child – Nightwish - CENÁRIO: subúrbio de Sistinas. Noi-


te.
v 1.Câmera se aproximando lentamente de uma igrejinha isolada. Fachada simples, ilumina-
da. Flashes das pessoas saindo do sermão nocturno.
v 2.Close no padre, parado em pose conciliatória na porta da igreja. Sorridente, e um ar
apressado estampado no rosto. Ele entra rapidamente e tranca a porta, quando a multidão
se dispersa. Não é mais um jovem, e sim um quarentão charmoso, inclusive já meio grisa-
lho.

SEQUÊNCIA I - (interior da igreja)

v 1.Os serviçais da igreja trocam de roupa. Também apressados, um por um saem pela por-
tinhola lateral. Em minutos, o lugar está deserto. Excepto por uma noviça.
v 2.Close na noviça. Não aparenta muita idade. Ela está concentrada, limpando o altar. Seca
o suor que escorre pela testa. O silêncio no lugar é absoluto. A freirinha tão ocupada, não
percebe o par de olhos que a observa.

PADRE: Fez bem em continuar por aqui, filha.

v 3.Close no rosto assustado da freira, que olha para trás. A câmara corta rápido para o
padre, que continua a falar.

PADRE: Pensou no que eu te disse?

FREIRA: Sim, mas não estou pronta.

PADRE: (olhando maliciosamente) Está mais do que pronta, filha.

FREIRA: Então será... hoje?

PADRE: Sim, pensou nas coisas que te prometi?

FREIRA: Pensei, padre. Mas... mas, não é errado?

PADRE: Errado? Filha está querendo julgar algo que você não compreende?

v 4.Close na freira. Ela baixa a cabeça, em submissão.

PADRE: Será hoje. Agora.


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FREIRA: Sim, padre. Que seja feita sua vontade.

v 5.A câmara flagra o padre saindo com ar vitorioso. O salão parece ficar maior do que é,
deixando a freira com o ar enigmático. Seria tristeza, dúvida, ou.

SEQUÊNCIA II - (interior de um quarto na mesma igreja)

v 1.Câmera aberta num cubículo. O lugar é diminuto, com apenas uma cama e uma pequena
janela. A única luz do lugar vem do corredor, e entra pela porta semi-aberta. Um crucifixo
escondido no lado escuro da parede é a única decoração do lugar. Paredes aliás muito
brancas.
v 2.Close na cama. O padre está deitado, imerso em pensamentos negros e coberto com
lençóis brancos. Quando ouve um som diferente, ele se vira, ansioso.
v 3.Câmera fechada na porta. Como o quarto está escuro, tudo o que se vê é o vulto femini-
no parado. A luz ilumina e dá formato à freira. O padre confere com os olhos as curvas do
corpo da menina.

PADRE: Tire o hábito, e deite-se aqui.

FREIRA: Sim, padre. Que seja feita sua...

PADRE: (interrompendo) Pare de falar assim. Aja normalmente. Somos homem e mulher aqui
dentro.

FREIRA: Me desculpe. É que isso é novo para mim. Não sei como agir, padre.

PADRE: Basta me obedecer.

v 4.Close na freira. Ela suspira, e tira o hábito. Usa apenas uma calcinha, branquinha. Imacu-
lada.

PADRE: (olhando atentamente) Você não usa soutien?

FREIRA: (envergonhada, cobrindo os seios) Tenho seios pequenos. Ainda não uso.

PADRE: (visivelmente excitado) Deixe-me vê-los, criança.

v 5.Câmera filma o colo da freira. Ela deixa cair lentamente os braços, e mostra os seios
jovens, intocados ainda. São mesmo pequenos, e os mamilos rosados estão duros. Não se
sabe se de frio ou de excitação. Câmara fechando no rosto do padre.

PADRE: Deite-se ao meu lado.

v 6.A câmara filma cada detalhe do corpo juvenil, e ela se deita desconfortavelmente ao
lado do padre. A câmara dá close nos seios, e também no bumbum, grande e macio. A cal-
cinha some por entre as nádegas dela.

PADRE: Você sabe o que fazer agora?

FREIRA: Não, padre. Preciso que me ensine.


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PADRE: Coloque sua mão aqui, debaixo dos lençóis.

FREIRA: (envergonhada) Sim, padre.

v 7.Câmera mostra a cama em plano geral. A freira está ainda desconfortável, deitada e
encostada na cabeceira, com o olhar assustado. E curioso também. O padre guia a mão
dela até a virilha.

FREIRA: (curiosa) É, é aqui padre?

PADRE: Segure firme. Mas não tanto.

FREIRA: Está mole. É assim mesmo?

PADRE: Espere e verá, criança. Você precisa colaborar. Brincar com ele, entende?

FREIRA: (incomodada) Não padre. Como faço?

PADRE: (segurando a mão dela) Pegue assim. Isso. Agora, comece esse movimento... Isso. Suba
e desça. Vai-e-vem, sim... vê?

FREIRA: (assustada) Está crescendo. Ficando duro.

PADRE: É normal, filha.

FREIRA: Que devo fazer agora?

PADRE: Continue. Está gostoso.

FREIRA: (começando a gostar) Está maior, ainda mais duro. Sinto que está meio molhado tam-
bém.

PADRE: Você parece saber o que está fazendo.

FREIRA: (indignada) Não padre. Nunca fiz isso. Fiz votos!

PADRE: Outras freiras nunca lhe disseram sobre isso?

FREIRA: (masturbando o padre) Algumas, padre. E também me mostraram fotos. Mas me peni-
tenciei por isso.

PADRE: Ohhhhhhh... Ooooooooooogggggghhhh, não pare, pombinha!

FREIRA: (forçando o punho) Sim, padre.

PADRE: (expressão de gozo) Ohhhh... OOOOOOOHHHHHHHH!!!

FREIRA: (assustada) Padre? Está saindo algo melado!

PADRE: (rindo) Sinal de que você fez tudo certinho.

FREIRA: (cara de sapeca) Acertei padre?


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PADRE: Continue pegando nele. Massageie.

FREIRA: Sim, padre. Posso perguntar uma coisa?

PADRE: Claro, criança.

FREIRA: Algumas mulheres fazem... é, colocam ele na boca, ou a boca nele?

PADRE: Sim. Sodomitas. Morrerão e queimarão no inferno. O sexo não é para ser beijado. É
impuro.

v FREIRA: (parecendo contrariada) Sim, padre. Ele está crescendo de novo.

PADRE: Tire sua calcinha. Está na hora.

FREIRA: Tá.

v 8.A câmara filma toda a acção. A freira por baixo dos lençóis tira a calcinha, com cuidado.
Olha curiosa para o volume que se forma novamente entre as pernas do padre. Close na
mão dela, que segura o tecido branco da calcinha, e solta no chão ao lado da cama. Corta
para o rosto dela.

FREIRA: (curiosa e excitada) Eu posso vê-lo?

PADRE: (mostrando) Vê? Vou colocá-lo dentro de você.

FREIRA: Machuca? Parece ser grande.

PADRE: (molhando os lábios) Só no começo. Abra as pernas.

FREIRA: Tá. É assim que faço agora?

v 9.Câmera aberta sobre a cama. O padre levanta-se e fica parado, ajoelhado entre as per-
nas da menina. Close no rosto dela, olhando para o membro duro. A câmara abre mais, e
mostra todo o corpo nu e intocado. Lentamente filmando a barriga, os poucos pêlos
pubianos e as coxas. Close nas mãos dele, que exploram o sexo da freira.

PADRE: Você é muito bonita, minha criança.

FREIRA: Obrigada, padre. Farei tudo certinho de novo.

v 10.Plano geral da cama. Novo close nas mãos dele, que segura o membro. Com a outra
mão tacteia pelo sexo dela, e guarda posição.

PADRE: (encaixando) Vai doer um pouco agora, pombinha.

v 11.Câmera fechada no rosto dela. Parece ansiosa. Cerra os dentes, morde os lábios. Os
olhos fechados, como se estivesse contendo a dor. De repente, ela abre os olhos, cara de
assustada. O padre faz cara de alívio. Tinha penetrado a freira.

PADRE: Adoro vocês, virgens. Ahhhhhhh...


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FREIRA: Sim... sim, padre. Ai. Dói.

PADRE: (suado) Vou colocar tudo. Aguente.

FREIRA: (expressão de dor) Coloque. Pode colocar. Ai... me penetra fundo.

PADRE: (bombeando) Ainda sente dor?

FREIRA: Não sei o que estou sentindo. É... gostoso. Que devo fazer?

PADRE: Pode gemer. Baixinho.

FREIRA: Sim, padre. Ui... enfia mais?

PADRE: (surpreso) Está todo dentro de você.

FREIRA: Ui. Como é bom. Ai, que gostoso... Não devia ser pecado.

PADRE: (ofegante) Sem blasfémias agora, criança. Aproveite.

FREIRA: Sim, padre, aiii... Hummmmm... Estou fazendo certo?

PADRE: (falando pouco e mexendo mais forte) Sim, está.

v 12.Câmera aberta na cama. A luz agora reflecte nos lençóis. Cenas intercaladas dos movi-
mentos frenéticos do padre penetrando a freira, do rosto de prazer dela, e do rosto suado
dele. Como detalhe, a câmara mostra pequenos respingos de sangue virginal nos lençóis.
Close no padre.

PADRE: (gemendo) Antes que eu goze, quero que você mude a posição.

FREIRA: (animada) Aii... E como devo ficar? Ui...

PADRE: (tirando o membro) De quatro. Como uma cadelinha.

FREIRA: Sim, meu padre. (levantando-se) Assim?

v 13.Close na freira. A menina se apoia na cabeceira, e fica de quatro. Close valorizando o


bumbum grande. Fecha no padre, que molha os lábios. Close nas mãos quando ele a pega
pelas nádegas, e abre. Corte rápido para o rosto da freira. A expressão dela vai mudando,
lentamente. Mais uma vez sente dor, quando ele coloca. Depois prazer. Câmara geral, no
padre, empurrando o membro com cuidado para dentro da humidade da freira. Close nos
olhos arregalados dela, que procuram na escuridão explicar o que está sentindo.

PADRE: Está dentro de novo, pombinha gostosa.

FREIRA: Sim estou, ui.. Sentindo. Ai, gostoso... Vem mais forte?

v 14.Câmera fecha num ângulo esquisito no crucifixo na parede. Ele fica em primeiro plano,
com os dois trepando na cama em segundo plano. O padre grita algumas blasfémias sobre
o corpinho gostoso da freira, que geme e sorri. Quando ela joga os cabelos para trás, sua-
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da, ele dá as últimas estocadas. Chegam ao orgasmos quase juntos. Cenas intercaladas das
expressões dos dois no momento do gozo. Corte para a cama, minutos depois.

PADRE: (recuperando-se) Você gostou, criança?

FREIRA: (animada ainda) Sim, padre. Quando faremos de novo?

PADRE: (sonolento) Em breve, filha. Mas não hoje. Vá para seu alojamento, dormir.

v 15.Close no rosto desapontado da freira. A câmara segue os movimentos dela, que se


levanta, veste lentamente a calcinha. Intercalando imagens dos seios ainda excitados e do
rosto, que olha misteriosamente para o padre na cama.

FREIRA: (assustada) Padre? Meu senhor?

PADRE: (resmungando) Acabou pombinha, me deixe dormir!

FREIRA: Sangue... é normal?

PADRE: Sim. Foi só a primeira vez. Na próxima, não sangra mais. Vá se lavar, e depois, vá para
seu alojamento. E não se esqueça de rezar antes de dormir!

FREIRA: Não esquecerei. Boa noite.

v 16.Câmera filma apenas a porta. Quando ela se fecha, o quarto cai na escuridão. Close no
crucifixo.

CENÁRIO: subúrbio de Sistinas. Noite. Alguns dias após a noite


de sexo do padre com a freira. SEQUÊNCIA III - (interior da igreja)

v 1.Câmera fechada no rosto do padre. Expressão de puro ódio no rosto.

PADRE: (gritando) Como foi deixar acontecer?

FREIRA: (submissa) Eu... eu não sei! Como poderia evitar? Tentei avisar que estava no meu
período fértil. Foi a única coisa que aprendi com as madres, e elas ainda me puniram por ter
perguntado!

PADRE: (nervoso) Como soube? Como me prova que está grávida?

FREIRA: Fiz um teste mundano. Deu positivo. Que devo fazer, meu senhor?

PADRE: (pensando) Sei onde te levar. Vista-se para sairmos!

FREIRA: Sim, padre.

CENÁRIO: outro bairro de Sistinas. Noite. SEQUÊNCIA IV - (exte-


rior)

v 1.Câmera aberta. Mostrando padre e freira descendo de um carro. Close no relógio do


veículo, que mostra 23:45 da noite. A câmara lentamente segue os dois, padre e freira
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desde a saída do carro até uma porta residencial. Close na mão trémula dele tocando a
campainha.

FREIRA: (falando baixinho) Que lugar é esse, padre?

PADRE: Outro instrumento do senhor. Acalme-se.

v 2.Corta para a porta, que se abre mostrando um homem com cara de sono, que não pare-
ce surpreso com a visita. Por trás dele, aparece também uma mulher sonolenta, que tam-
bém parece conhecer o padre.

MORADOR: Que houve?

PADRE: Preciso de seus serviços novamente. Podemos entrar?

MORADOR: Claro. (em voz alta) Prepare a sala, mulher!

v 3.Close no sorrisinho maroto da mulher, que se afasta para preparar a tal sala.

MORADOR: Entre padre, por favor. Traga a moça para dentro.

v 4.Câmera filma os dois. O padre parece em casa, a freira se sente constrangida. Um close
no rosto mostra uma lágrima nos olhos, que ela limpa rapidamente quando o homem fala:

MORADOR: Quantos meses?

FREIRA: Semanas ainda.

MORADOR: (contente) Bom, bom. O senhor sabe que quanto antes, mais fácil, né?

PADRE: Sim. Por isso eu a trouxe já.

MORADORA: (sorridente) A sala está pronta. Vamos?

v 5.Câmera fecha no rosto assustado da freira. Volta a chorar, em silêncio, tirando um cruci-
fixo de dentro da camisa. Close na mão dela, que se fecha sobre o símbolo com força.
Câmara lenta agora, ainda segurando o pingente, ela dá a mão para a moradora que a
conduz para a sala preparada.
v 6.Close no rosto do padre. Ele olha para o morador, e sentencia:

PADRE: Cuide para que ela não tenha mais filhos.

MORADOR: O senhor quem manda, padre.

SEQUÊNCIA V - (interior de uma sala, ainda na mesma casa)

v 1.Câmera geral no lugar. Uma sala improvisada, com leitos e diversos instrumentos cirúrgi-
cos. A moradora agora já se veste irregularmente de enfermeira. O morador também está
vestido. A câmara passeia pelos instrumentos cortantes, pela aparelhagem e olhares con-
fiantes dos dois supostos médicos. O passeio da câmara termina na mão da freira, que
segura o pingente com tanta força que sua palma sangra.
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MORADOR: Ela está pronta. Como ainda está no início da gestação, será um trabalho de minu-
tos!

MORADORA: Sim. Vamos começar?

v 2.Câmera aberta do lado de fora da janela. O que aparece é o médico parado entre as per-
nas da freira, que estão erguidas e abertas ao máximo. Ele é assistido de perto pela enfer-
meira.
v 3.Close na mão da freira. O sangue desce pela palma da mão dela. Pouco, no início. Depois
aumenta o fluxo. Corta para os médicos.

MORADOR: Prontinho. Foi a raspagem mais fácil que já fiz. Mas o padre não quer passar por
isso de novo. Vou ter que fazer serviço completo. Ele não quer que ela engravide mais.

MORADORA: (rindo) Ele é esperto. Quer ter diversão para o resto da vida, sem preocupações.

v 4.Close na mão da freira. O sangue tinge toda a mão dela. Corta para os médicos.

MORADOR: (preocupado) Que está acontecendo com ela?

MORADORA: (indiferente) Você não sabe?

MORADOR: (assustado) Não! Apenas faço abortos! Já deveria ter terminado! Que é isso?

MORADORA: (assustada) Faça ALGO!

MORADOR: (em pânico) Fazer o QUÊ?

v 5.Close na mão da freira. Enfim ela solta o crucifixo, que cai no chão, coberto de sangue. A
mão cai também, inanimada. Corte rápido para o médico.

MORADOR: (nervoso) Que PORRA! Isso nunca aconteceu antes!

MORADORA: (tentando se acalmar) Tudo tem uma primeira vez. Foi muito rápido e estranho.

MORADOR: Que diremos ao padre? Ele sempre trouxe as meninas para nós! E ele paga bem!

v 6.Close no rosto assustado da enfermeira, que olha para o chão ao lado do leito da meni-
na. A câmara filma o olhar dela. Fecha no crucifixo, enquanto a mulher fala:

MORADORA: Diremos a verdade...

SEQUÊNCIA VI - (sala de estar e espera, ainda na mesma casa)

v 1.Close no rosto do padre descendo lentamente para o chão, onde os pés inquietos mos-
tram que foram os minutos mais longos da vida dele. Câmara fecha na mão crispada, segu-
rando ainda a chave do carro. Plano geral, mostrando toda a sala. Ele está assistindo TV.
v 2.Filmagem da TV. Um jornalista local lê matérias sobre futebol, política e promete no
próximo bloco falar com um enviado ao Vaticano, que teria um furo de reportagem.
v 3.Close no padre. Minutos intermináveis se passam. Suor e medo se passam no rosto dele
enquanto isso. Nervoso, se vira quando ouve algo. Câmara fecha na porta.
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MORADOR: (ainda nervoso) Padre... Foi um sucesso. Abortamos a criança. E ela nunca mais
engravidaria de novo.

PADRE: Você parece estranho, amigo. Aconteceu algo? Ela está bem?

MORADOR: (vacilante) Não padre. Aconteceu alguma complicação. Eu sinceramente não sei o
que houve. Ela... bem, ela morreu.

PADRE: (chocado) Como? Como... como assim... morreu?

MORADOR: Padre... sei como se sente. Mas estou pior que o senhor. Ninguém nunca morreu
em minhas mãos. Nem suas freiras. Nunca antes. Mas hoje não sei o que houve. Parece que
ela quis morrer. Simplesmente se convulsionou e parou completamente. Nem tivemos como
reanimá-la!

v 4.Close no rosto do padre. Ele tem uma expressão enigmática no rosto. Não se sabe se é
dor, tristeza, ou raiva de seu amigo médico. De fundo, um homem fala na TV:

REPÓRTER: O Vaticano admitiu nesta terça-feira a existência de casos de abusos sexuais prati-
cados por sacerdotes e missionários contra religiosas. Entretanto, segundo um comunicado
assinado pelo porta-voz da Santa Sé, os casos são restritos a áreas geográficas limitadas.

v 5.Câmera fechada no padre. Ele ameaça o morador, apontando o dedo:

PADRE: (nervoso) Você nunca mais fará abortos ilegais! Vou fechar essa espelunca!

MORADOR: Padre, padre. Você não tem provas contra mim. E se tiver, pago bem à polícia para
funcionar aqui. Mas, eu tenho provas contra o senhor. E muitas. Acha mesmo que nunca per-
cebi que engravida freiras? São todas meninas, e sempre fiz o serviço sujo. Me entregue, e o
senhor cairá comigo. Qual crime é mais grave?

v 6.Close nas mãos do padre. Ele cerra os punhos, e depois relaxa. Close no rosto decepcio-
nado.

PADRE: (triste) Aos olhos do Cristo, somos todos pecadores. Eu e você. Já estamos condena-
dos.

MORADOR: (estendendo a mão) Ela lhe deixou isto. Talvez lhe signifique algo.

v 7.Close no crucifixo sangrento, quando ele troca de mãos. Corta para o rosto assustado do
padre. De fundo, na TV, outro homem fala:

REPÓRTER: Padres temerosos de contrair Aids às vezes procuram jovens freiras, que são vistas
como parceiras sexuais seguras.

CENÁRIO: cemitério de Sistinas. Dia. -SEQUÊNCIA VII - (exte-


rior)
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v 1.Câmera se aproximando lentamente de uma pequena elevação no terreno. Podia-se


contar as pessoas com os dedos de uma única mão. O Sol iluminava o caixão da freira,
prestes a ser enterrado.

PADRE: (em sermão)...e ela foi mais uma alma justa, inocente, pura e casta que nos deixou.
Que sua alma descanse em paz, no lugar que ela fez por merecer estar. Amém.

TODOS: (em coro) Amém.

PADRE: Podem baixar o caixão.

COVEIRO: Sinto muito. Era uma bela criança.

PADRE: (triste) Sim, ela era. E muito devota também. Que Deus a tenha.

COVEIRO: (fazendo força) Claro que um anjinho desses vai... "unnnff"... Para o céu.

v 2.Câmera ao longe filmando o caixão descendo. As poucas pessoas vão embora nessa
hora, restando os coveiros e o padre apenas. O vento sopra forte, levando tudo. Close no
padre.

PADRE: (mandando) Deixe-me a sós por um minuto?

COVEIRO: Claro. Quando acabar, cobrimos com a terra. Nos avise.

v 3.Close na mão do padre. O crucifixo de sangue. Ele olha com desgosto para o pingente, e
o atira na cova... Em câmara lenta ele cai em cima do caixão, onde aparece o rosto da frei-
ra. Por um instante o padre poderia jurar que ela teria visto esse último gesto.
v 4.Um flash sobrepõe o rosto pálido e cadavérico da freira com o olhar de pura luxúria que
ela deu quando gozou na cama do padre. Corta para o rosto dele.

PADRE: (falando baixo) Leve nosso pequeno segredo com você. (faz o sinal da cruz)

v 5.Plano geral. A câmara começa a filmar a paisagem toda, cenário primaveril. Mostra ainda
ao longe o padre se afastando da cova, e os coveiros voltando ao trabalho. Um último clo-
se no crucifixo de sangue, quando uma pá de terra cai por cima dele. Plano geral nova-
mente, pelo alto, mostrando apenas o padre já bem distante, e os coveiros trabalhando. A
câmara se afasta.

† A morte dá carona
Juliana e Lúcios eram casados há cinco anos, mas o casal já vivia uma crise no casamento. A
começar pelo sexo, não se entendiam mais. Lúcio era descaradamente promíscuo, e Juliana já
havia percebido e dava suas escapadas diurnas para a cama de outro jovem. Após várias bri-
gas, resolveram ir a um terapeuta familiar para tentarem se reencontrar. Após a primeira con-
sulta, o terapeuta os fez enxergar que precisavam de estímulos para suas fantasias sexuais, e
Johnny resolveu, depois de ter uma conversa com a esposa em casa:
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-Sabe o que eu realmente gosto de fazer às vezes? Eu saio por aí após o trabalho e pego uma
prostituta pelo caminho. Acho que o que me excita é o gostinho de estar pagando, ser dono
dela por algumas horas...

-Eu tenho uma fantasia também, que é a do estupro. Eu aceito uma carona de um estranho e
ele me violenta! O perigo, o jeito rude de ser domada, me excita mesmo!

-Podemos marcar algo do tipo. Eu realizo minha fantasia e você realiza a sua. Que tal, Juliana?
– Propôs Lúcios.

Juliana relutou um pouco, mas acabou aceitando... “Se era um caminho, que mal podia haver
em tentar?” Após alguns dias, Lúcios violentou sua esposa. A jovem vibrou como nunca nas
mãos de seu homem. Eles entraram no mesmo autocarro, em pontos diferentes. Ele a bolinava
em pleno trânsito, se excitaram com esse exibicionismo barato e depois desceram num motel.
Transaram como dois selvagens.

27 de Maio de 1999:
Lúcios mal podia esperar. Era o dia que escolheu para realizar sua fantasia. Sabia que Juliana
estava querendo retribuir o prazer que tinha alcançado na semana passada. E não é que o
maldito terapeuta tinha razão? Agora eles falavam mais abertamente, conseguiam expor suas
fraquezas e medos para o outro, e o casamento ganhou vida nova. Dizem que o sexo não é
tudo, mas é fundamental! Para dar mais realismo à coisa, combinaram numa rua meio movi-
mentada no centro, ponto de prostituição conhecido. Juliana sentiu medo no início, mas
depois entrou no espírito da fantasia... Se vestiu de maneira provocante e saiu. Lúcios mal
podia esperar o final do expediente. Combinou a hora com Juliana e o relógio não colaborava...
Os ponteiros pareciam lentos, a noite nunca chegaria! Na hora combinada, Lúcios a viu parada
na calçada, ao longe. Resolveu prolongar seu próprio prazer, pois talvez fosse a última vez que
fariam aquilo, e voltou ao carro. Deu uma volta lentamente pelo quarteirão, sorriso malicioso
nos lábios. Parou e pediu os serviços para todas prostitutas que encontrou no caminho. Então
foi encontrar Juliana...Quando virou a esquina, se surpreendeu. Viu Juliana atendendo um
estranho carro escuro, preto como a morte. Vidros igualmente opacos e uma bruma sobrena-
tural saindo do veículo. Ia em direcção à sua amada, que olhou calmamente para ele. O brilho
em seu olhar dizia que o tinha visto. Lúcios encarou aquilo como mais uma brincadeira e parou
o carro. Achou certa graça na situação e riu nervosamente. Ela estava representando... Só isso.
Seu mundo desabou quando a porta do veículo negro se abriu. Olhou incrédulo para sua espo-
sa, que nesse momento entrava sorridente no carro desconhecido. Viu assustado o mesmo
arrancar deixando marcas de pneus no asfalto...Rapidamente tentou virar a chave no contacto
de seu carro, quando sentiu o vidro ao seu lado descendo sozinho. Virou-se depressa e uma
figura feminina, pálida e horripilante, colocou a mão em seu ombro. Em desespero, tentou
ligar o motor. Mas a maldita chave não girava no contacto. Parecia subitamente feita de plásti-
co mole. Olhou já em pânico para a mulher do lado de fora de seu carro, e viu seus lábios se
mexerem. Uma voz cavernosa soou, e ele sentiu o hálito fétido da criatura:

-Você não sabe o que existe na noite...


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† A virgem
Sharon já passava dos vinte e um anos. Apesar de toda sua juventude e beleza, tinha algo que
a diferenciava de todas as outras garotas: ela ainda tinha um hímen intocado, ou seja, ainda
era completamente virgem! Era o suficiente para atrair atenção e desejo, pois nunca fez força
nenhuma para esconder sua condição. Só que estava começando a se cansar da situação.
Sempre sonhou com o príncipe encantado, e com sua primeira vez. Tinha plena consciência
que eram apenas delírios de uma inocente, afinal todas suas amigas já tinham transado e nar-
rado que tudo era suado, desconfortável e dolorido. Antes, aos dezanove anos, ela já começa-
va a se preocupar, pois ficava escolhendo namorados, fantasiando, não queria perder a virgin-
dade com qualquer um. Aos vinte, já era quase uma obsessão. Hoje em dia, Sharon já pensava
nisso como um pesadelo. Era uma moça normal sob todos os aspectos, era sociável, e muito
assediada. Com o tempo acabou transformando a cobiça de seus amigos homens em respeito
por sua virgindade. Em suma, nenhum dos homens interessantes queria mais transar com ela,
e a tratavam como a segunda irmã, que devia ser preservada, e não desflorada. Mas era exac-
tamente isso que a incomodava. Queria ser desejada. Queria ser fodida, qual o problema?
Cuidava de si, e era adepta da masturbação. Quando sentia vontade, geralmente nos dias
quentes, durante as tardes ou madrugadas solitárias, ela não tinha pudor. E nesses momentos,
se entregava a homens imaginários, verdadeiros príncipes, que na sua concepção sabia que
não existiam. Apesar de não dispensar o contacto de sua carne eternamente quente e latejan-
te de desejo com o frio mármore do banheiro, um contraste que achava delicioso, ela preferia
o calor e a cumplicidade de sua cama. Em baixo dos lençóis, se entregava totalmente, dedilha-
va o clítoris às vezes com fúria, irritada por na verdade desejar uma penetração. Nunca coloca-
va o dedo dentro de si, pois às vezes suas masturbadas eram tão vigorosas, que corria sério
risco de romper o que andou guardando por tanto tempo: o precioso hímen.

"Um mísero pedaço filho da puta de pele." - Resmungava, suada, quando acabava de gozar. Na
verdade, estava cansada daqueles orgasmos clintonianos. Queria ser preenchida. Queria sentir
carne dura, pulsante, dentro de si!

Quantas vezes não pensou, até que enfim um dia entrou num sex-shop, bem longe de sua
vizinhança, por sinal, e comprou um belo, grande e quase realístico vibrador. Quantas vezes
não gozou simplesmente por segurar o poderoso instrumento, que tremia em seus dedos? Ela
o imaginava entre suas coxas, dentro de si, mas não podia, nem se permitia. Imagine, perder a
virgindade para um pénis artificial? "Quá-quá! Sharon, você é uma piada..."Numa tarde de
desespero sexual, ela comprou um lubrificante anal na farmácia, sendo literalmente "comida
com os olhos" pelo rapaz do balcão. Só de sentir que ele tremia de tesão ao empacotar o pro-
duto lhe rendeu duas horas de pura esfregação no solitário sofá da sala. No auge do tesão, ela
lubrificou o vibrador e pensou em introduzi-lo no rabinho, pois queria e precisava de uma
penetração. Mas não teve coragem, devido à grossura de seu brinquedo...Eram dias solitários,
tardes selvagens e noites molhadas, mas que passaram. Logo Sharon se transformou numa
mulher ocupadíssima, trabalhava e estudava até muito tarde, e com isso pouco tempo lhe
sobrava para devaneios e fantasias. Então, numa bela manhã de verão, a mocinha acordou
com um estranho gosto na boca. Levantou-se, foi tomar banho e, após muito tempo, acabou
por se masturbar. Foi rápido e burocrático, quase uma obrigação, e isso não a satisfez. Mas
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Sharon já sabia controlar seus desejos. Voltou corpo e mente para o trabalho, e também para
os estudos. Hoje em dia, ela já não despertava mais desejo por ser uma linda virgem, mas sim
por sua capacidade, independência e poder de decisão. O dia passou corrido como sempre. E
na manhã seguinte, ela acordou novamente com aquele gosto na boca. Era quente e prendia
um pouco o céu-da-boca e garganta...Naquela tarde, conversando com seu dentista, ela pediu
para ter sua gengiva examinada, pois achava que a mesma sangrava durante a noite. "Acho
que é gosto de sangue, que acordo pela manhã sentindo."Antes de dormir, Sharon estava
inquieta. Sua carne latejava, e um arrepio gostoso correu por toda sua pele, enquanto ficou na
janela, sentindo nos cabelos a brisa quente nocturna. Acordou com os lábios molhados, nova-
mente. Gosto de fruta verde, que ficava entre o salgado e o amargo, lembrava algo rascante,
morno...Então chegou o fim-de-semana, deu um tempo nos estudos, e saiu para se divertir e
dançar. Mas dessa vez foi diferente: Sharon ficou a noite toda procurando por alguém que
sabia não estar ali... Um parceiro que há muito tempo ela não sentia falta. Seus desejos
aumentaram meteoricamente, ainda mais com a bebida. Observava com interesse dois caras,
que estavam ali naquela noite. Um chamava-se Doug, e dançava muito! Era um profissional,
talvez. Mexia com a libido dela. O outro era mais reservado, apenas bebia e observava o
movimento. Descobriu depois com uma amiga que seu nome era Lúcios, e Sharon duvidou que
fosse seu nome real, enquanto ele a olhava de uma maneira esquisita. Levemente "alta",
resolveu ir para casa antes que algo não planejado acontecesse... Doug se empolgou e lhe
pediu carona, e ela não teve como recusar. Nervosa no volante, Sharon sentia de vez em
quando o roçar da perna dele em sua mão, a cada troca de marcha. Ele obscenamente abriu as
pernas, segurando o saco e olhando pelo retrovisor, falou:

-Não me diga que não está querendo, sua safada. Percebi seus olhares na pista de dança. Você
estava quase me comendo ali mesmo. Pois então, agora relaxa e goza...

Sharon não soube o que fazer. Claro que estava explodindo de tesão, mas trepar com um des-
conhecido, por mais bonito que ele fosse, no carro, e parados numa rua escura não era o que
tinha planejado. E Sharon era uma mulher que planejava tudo. Quando recusou as investidas,
Doug se irritou. Nunca soube onde estava escondido o canivete que ele sacou, mais rápido que
o olhar dela pôde acompanhar.

-Você é uma vagabundinha rica. Esses lugares só têm gente da sua laia. Ricos... jovens, fúteis!
Você, eu vou gostar de roubar e também de foder! - Então mandou Sharon descer do carro,
queria aproveitar, e a rua estava deserta, não?

Não, não estava... Quando Doug ameaçou colocar a mão nos seios (coisa que ela sinceramente
desejou por um momento), foi golpeado por trás, na cabeça, por outro homem. Sharon ficou
paralisada, e viu Doug passar o canivete zunindo em direcção ao estranho, mas foi pego no
contra-golpe, e derrubado ao chão. Levou um pisão na mão e outro na garganta, antes mesmo
de perceber que tinha caído. Levantou-se e correu, como se fugisse do próprio demónio em
pessoa.

-Calma moça, esse cara não volta mais. - Disse Lucius, se revelando à luz anémica da rua.

-Que melga! Que MERDA! Por isso eu odeio homens! - Desabafou Sharon, enfim.
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-Acalme-se... Deve tomar cuidado ao sair dando calonas há tipinhos como aquele. Quer um
conselho? Nunca pense que conhece totalmente uma pessoa que encontrar na noite. Só a
considere conhecida quando encontrá-la também de dia. As coisas acontecem à noite, você
sabe.

Sharon sentou-se na calçada, sentindo-se como uma menininha que leva bronca do papai, ou
irmão mais velho. Estava até envergonhada. Aliás, o que impediria Lucius de abusar sexual-
mente dela também? Estava ali, fragilizada, tentando sem sucesso não soluçar, e muito menos
chorar. Gostava de parecer forte, independentemente de quem estivesse por perto.

-Você está melhor?

-NÃO! Porra, não estou não! - Gritou, e depois soluçou forte, e continuou - Que filho da puta!
Ia me estuprar! Idiota frustrado do caralho! Eu nem sei como estou me sentindo! Até que a
culpa não é dele, sabia?

Lucius olhou de maneira estranha para ela, um misto de sorriso irónico com aquela cara de
interrogação.

-Ele deve ser casado. Deve chegar em casa e achar uma esposa gorda, fedendo a faxina e gali-
nha frita! Descabelada, toda fudida porque não tem amor- próprio e nem como se cuidar, sei
lá! Imagina a vida sexual frustrada desse casal imbecil? Aí ele sai pela noite, e encontra a Sha-
ron, burguesa, branquinha, gostosinha, malhada de academia, toda cheirosa... Porra!

Lucius fez um ar sério após o desabafo, mas ficou quieto. Ia fazer algum comentário do tipo "a
arrogância é uma merda", mas desistiu. Não valia à pena mexer mais ainda na ferida.

-Preciso ir agora moça, vá para casa. - E então saiu andando, se perdendo por entre os postes
que mal iluminavam a rua.

Sharon ficou olhando, confusa. Não disse nem obrigado nem tchau, não se despediram, mas
ela chegou quase a falar que queria ser fodida ali, sim, mas por ele! "Por que os homens são
gentis quando não precisam ser?"

Chegou em casa quase de manhã, pois veio dirigindo lentamente, pensando no ocorrido. Será
que estava virando uma lunática sexual? Por que o tema mexia tanto assim com seu humor?
Esteve anos adormecida em relação à sexo, qual era o problema agora? Dormiu irritada, e
estranhamente quando acordou, não sentiu aquele gosto na boca. Percebeu então pela pri-
meira vez que sentiu falta daquilo.

Na semana seguinte, Sharon levou uma de suas amigas para sua casa. Yvana, a quem ela cari-
nhosamente chamava de Ivy, era uma descendente russa nata. Tinha a aparência de uma cza-
rina. Sharon criou um clima estranho, as duas beberam muito, em determinado momento
abriu uma caixa cuidadosamente embrulhada. Era um vibrador acoplado à uma cinta-liga.

-Sharon, para que serve isso?

-Ah, inocência, vai me dizer que não sabe? Tenho um pedido especial para você hoje. Faria
tudo por sua amiga?
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-Sim, eu adoro você, e somos quase irmãs, mas o que quer exactamente?

-Ivy, eu quero perder minha virgindade. Não aguento mais! Ando mordendo a fronha de meu
travesseiro todas as noites, já não sei mais até onde enfiar meus dedos e também acordar
ensopada. Me ajuda?

-Tu queres que eu... ou seja, você quer... não, é... eu devo... - engasgou Ivy.

-Vá ao banheiro. Vista isso. Volte aqui e me faça mulher. Simplesmente. - Entregou-lhe o
embrulho semi-aberto.

Ivana gaguejou mais um pouco, mas aceitou. Assim que desapareceu no box, Sharon caiu na
cama, tirando toda sua roupa apressadamente. Ergueu as pernas, e uma dúvida tão insistente
quanto idiota lhe martelava a cabeça: devia esperá-la de pernas abertas ou fechadas? A von-
tade era muita, então ela abriu o máximo que pôde. Só que quando Ivy apareceu contra a luz
do quarto, Sharon rapidamente colocou as mãos encobrindo o sexo nu, e cerrou as coxas. Teve
vergonha.

Sua amiga aproximou-se da cama, quieta. Subiu, e fez menção de deitar-se entre as coxas dela.

-Vamos acabar com essa cabacinha teimosa?

-Hahahaaahahahhha! - Sharon disparou a gargalhar.

-Que foi? - Perguntou Ivana, sem acção e sem graça.

-Hahahaha... Eu de pernas abertas... hahaha... esperando... hahaha... você pôr esse treco gela-
do dentro de mim hahahaha, ai meu Deus... duvido que um orgasmo seja tão bom quanto rir
assim! Hahahahaha!!

Ivy então olhou para si mesma, e percebeu o ridículo da situação... "Acho que estamos bêba-
das, é foda!"

-Hahahahaha! Completamente! Venha. hahahahahaha.... Tire minha virgindade!

Rolou de rir na cama, até ficar vermelha... Ivy destacou o vibrador da cintura, ameaçando colo-
cá-lo na boca de Sharon.

-Cala a boca pára de rir, sua louca! Hahahahaha! Tô me sentindo ridícula!

Sharon se acalmou aos poucos, e pediu desculpas à Ivy. As duas riram juntas com aquilo, e
prometeram nunca contar para ninguém. Imagine se a turma soubesse! Então sentaram-se
juntas na cabeceira da cama, e beberam mais vinho, ainda ligeiramente envergonhadas. Então
aconteceu algo.

Ivy demorou a perceber. Não tinha reparado, mas inconscientemente tinha molhado o vibra-
dor no vinho de sua taça. Viu um olhar estranho em Sharon, quando ela segurou sua mão, e
chupou demoradamente a peça molhada. Ameaçou rir, pensando que era mais uma gracinha
de sua amiga, mas conteve o riso quando ela passou a lamber seus dedos também. E deu um
olhar esquisito na direcção da cama.
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Deitou-se, como uma gata preguiçosa, e carinhosamente levou o vibrador entre as coxas. Ivy
sentiu tesão na hora com a cena. Sua amiga então ligou o aparelho, e começou a gemer, como
se estivesse sozinha no mundo, sentindo as vibrações no clítoris.

-Ohhhhh, Ivy, que vontade... Você não entende? Eu quero...

Não falaram mais nada. As duas mulheres se enroscaram numa sessão de sexo, ainda que con-
tido, mas recheado de mordidas, lambidas, chupadas, porém sem nenhuma penetração. O
vibrador foi esquecido no chão, assim como as roupas. Ivy acordou primeiro, horas depois, e
ligeiramente envergonhada saiu da casa, deixando Sharon dormindo um sono agitado, e vez
por outra ela resmungava por entre os lençóis que não tinha gozado... Quando acordou, mais
tarde, ainda cansada e sentindo uma inexplicável frustração, levou os dedos aos lábios, e não
sentiu o gosto que tanto ansiava.

O gosto aliás só molharia sua boca novamente na outra lua cheia. Demorou, e Sharon já come-
çava a contar as noites por sentir aquele sabor ácido, mas com uma pontinha doce perto dos
lábios. Não conseguia explicar aquilo direito, e nem podia contar à ninguém... Quase ninguém,
aliás, pois para seu dentista ela definia como sendo algo parecido com soro caseiro.

Foi quando começou a sonhar com algo que pulava sua janela. Sonhos confusos, estranhos,
mas que com o passar dos dias começaram a tomar forma. O rosto! Podia ver o rosto, mas
estranhamente não conseguia se lembrar a quem pertencia, não conseguia de maneira alguma
ligar o nome à pessoa. Sonhava com sexo selvagem. Acordava cada manhã mais húmida, como
nunca antes.

Só foi saber quem era o rosto nos seus sonhos tempos depois, numa noite em que foi enfim
conhecer a casa nocturna Devil´s Whorehouse. Conhecia a fama. Diziam ser um lugar estilo
depravado-chique. Mas não foi o que ela viu. Pelo menos, não enxergou assim. Via sexo em
cada homem que cruzava com ela pela pista de dança, até nas moças, beldades em couro que
circulavam por ali. Como queria ser uma anónima na noite, não foi acompanhada, nem mesmo
por suas amigas. Quando viu Lucius, e o reconheceu, seus sonhos se tornaram dramaticamen-
te reais. E ela soube, de alguma maneira, que era com o gosto dele que acordava nos lábios!

Não trocaram palavras, nem cumprimentos, foi como da primeira vez, e tudo muito rápido. Ela
o convidou para sua casa. Pouco mais de uma hora depois de ter passado pela entrada do
Devil´s, Sharon já estava deitada em sua cama, e Lucius mamava vigorosamente em seus seios.
Brincava com o elástico de sua calcinha, puxando de leve, e o arranhar do tecido em seu clíto-
ris, junto com a ligeira ideia de ser possuída por aquele estranho fizeram a mulher contorcer e
gemer, enquanto suas carnes soltaram um líquido abundante, onde ele molhou os dedos,
levando à boca, lambendo como se provasse algum néctar divino.

Olhava de uma maneira inexplicável para ela, como se despisse não só as roupas, mas sua pró-
pria alma e essência. Sharon sentia-se pequena, frágil e indefesa com aquele olhar faiscante,
safado e cheio de malícia. Viu seus lábios mexerem, e ela ouviu em sua mente:

-Tome. Sei o quanto você quer isso.


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Sharon engoliu com uma vontade impressionante. Parecia ser vital. Não sabia como proceder,
tentava se lembrar dos vários filmes pornôs que assistira, mas sua mente esvaziou. Nada cor-
respondia à textura, nem ao gosto. Enfim, lambeu, chupou, tentou engolir a fundo, e...

-Você já esteve em meu quarto antes, Lucius? - Perguntou arfando, enquanto enfiava na boca
com uma gula incrível.

Ele respondeu com um suspiro, e ela apertou os dedos ao redor de seu membro.

-Você já esteve em minha boca antes, não?

-E você adorou. - Ele disse, despreocupadamente.

Sharon já sabia a resposta antes mesmo de perguntar. Aliás, lá mesmo na casa nocturna já
sabia. Então segurou firme as coxas dele, e o puxou, sentindo até onde conseguia a carne dura
e latejante penetrar sua boca.

-Qual o gosto? O que sentia pelas manhãs.

Ela nunca soube definir, mas quando Lucius perguntou, parou de mamar e olhando para seu
amante, respondeu, com a voz embargada de tesão:

-É delicioso... Meio amargo no final, mas se sabe realmente o quanto esperei por isso, você
também sabe o que fazer.

Não foi preciso muito tempo, e ele gozou em enorme quantidade, enchendo a boquinha de
sua vítima, tanto que ela acabou engasgando um pouco, e escapou também em seu rosto.

-Que delícia... Quero mais, muito mais!

A noite foi quente e suada, como ela sempre quis. Perdeu enfim a virgindade, sentiu dor e
sangrou apenas um pouquinho, quando seu hímen enfim se rompeu. Estava tão extasiada, que
se permitiu literalmente ser inundada de porra. Lucius gozou duas vezes seguidas dentro dela.
Fizeram uma silenciosa pausa, mas a ex-virgem queria continuar... Sempre sonhava em ficar de
quatro para um homem, e queria tudo em sua primeira noite. Lucius penetrava com força,
segurando Sharon pelos cabelos. Ela ligeiramente arqueava as costas, e não gemia. Gritava.
Coisas sem nexo, às vezes pedidos, às vezes palavrões e às vezes confissões de uma menininha
que descobria o sexo...

Quando Lucius desabou na cama, ela quis cavalgá-lo. Sentou-se, e sentiu a mais profunda
penetração daquela noite. Sorriu, e começou ligeiros movimentos. Leves, depois com as mãos
dele na cintura, cadenciando, ela foi se empolgando, mais e mais. Enquanto ele chupava seus
seios, mordiscando os mamilos, Sharon perguntou:

-Como era?

-Mmm? - Ele pareceu não entender.

-Como gozava em minha boca? Como fazia?


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Lucius olhou para ela, e começou a contar, sentindo leves contracções vaginais lhe apertando,
enquanto falava...

-Eu pulava a janela. Coisa fácil para mim. Você tem o sono pesado. Seu tesão é tão evidente
que eu apenas passava meu pau nos seus lábios, e você prontamente chupava. Não era preci-
so muita coisa, você é muito safada. E nunca acordou.

Ela gemeu, e se contorceu. Fez a cara mais safada, que parecia ter guardado para essa ocasião.
Ele continuou falando, enquanto sentia as carnes quentinhas dela envolvendo seu membro.

-Às vezes eu chegava aqui mole. Ficava por minutos observando seu sono. Mas você sentia
minha presença, e então eu abria minha calça. Ia me aproximando de sua boquinha, sentir o
calor da sua respiração nele me deixava maluco... E então eu o esfregava nos seus lábios. Você
abria a boca, às vezes resistia, mas sempre mamava. Uma delícia!

Sharon sorriu, aumentando o ritmo.

-Mas às vezes eu já chegava excitado, e muito duro aqui. E nessas noites você parecia gostar
ainda mais, sua gostosa!

Dizendo isso, ele puxou forte os cabelos da menina agora mulher, que em minutos ficou tão
louca que literalmente pulava em cima do cacete. Gozou mais uma vez, sentindo Lucius bater
fundo dentro dela, e outra vez quando sentiu seu primeiro macho inundar suas entranhas pela
terceira vez...

Ela acordou feliz pela manhã, mesmo quando viu que ele não estava ao seu lado na cama. Mas
Sharon estava radiante. O mundo tinha mais cores e cheiros agora. Espreguiçou-se longamen-
te, pensando em cada detalhe de sua primeira vez. "Demorou, mas foi em grande estilo. Quan-
tas garotas podem dizer isso?"

Naquela tarde, todas suas amigas sabiam da novidade. Estavam reunidas numa mesa, beberi-
cando e falando sobre a noitada. Foi Ivy quem perguntou primeiro:

-Qual o gosto da porra? Você estava tão curiosa...

Sharon ficou sem graça, vermelha, mas deu a resposta padrão:

-É quentinho, com sabor de quero mais, adocicado, delicioso de se lamber. E na teoria faz bem
para a pele! Eu me lambuzei!

-Esqueça as teorias, agora você já sabe na prática! Quer saber? Para mim, tem um gosto curio-
so, morno e pegajoso. Eu ainda fico meio assim de engolir, mas sei que meu parceiro adora ver
a cena, então eu não deixo escapar nenhuma gota. - Resumiu Ivy.

-Ah gente, qual é? Tem cheiro de cloro e gosto de camisinha molhada. Eu deixo meu homem
molhar meu rosto, meus seios, mas não engulo, nem por decreto! - Disse uma terceira garota
que estava na mesa. Do lado dela estava a mais velha da turma, que olhava curiosa para as
reacções de Sharon diante das opiniões. Então falou:
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-Para eu, o gosto é melhor quando vem do marido de outra mulher. Ou de algum homem
proibido, misterioso. O meu parceiro habitual nunca gozou na minha boca.

Riram as quatro com as diferenças entre si, e continuariam ainda a tarde toda falando do
assunto do dia: a perda da virgindade de Sharon.

Foram dias de alegria, mas que infelizmente passaram. Após algum tempo de namoro firme
com Lucius, apesar de perceber algumas estranhezas nele, seu mundo simplesmente desabou
após uma consulta de rotina:

-Você está grávida.

Ela não sabia se estava feliz ou triste. Mas estava preocupada. Ser mãe? Estava pronta? E por
que não estaria? Sempre foi responsável, mas e Lucius? Quantas vezes ele não esporrou, inun-
dando seu útero? Era propositado? Será que queria um filho?

Na verdade, Lucius raramente a visitava durante o dia. Ela não reparava muito pois era muito
ocupada, então lhe reservava sua cama todas as noites, apesar de que em algumas ele sim-
plesmente não aparecia.

Mas aquela seria uma noite diferente. Tinha uma notícia muito especial a ser dada. Comprou
uma garrafa de Absinto, "La Fée Verte", a fada verde, como disse a mulher que lhe vendeu.
Preparou todo o clima, jantar à luz de velas, vestiu-se com o melhor modelito de seu guarda-
roupa sofisticado, e aguardou.

Lucius demorou. Chegou por volta das 22 horas, e estranhou a produção toda. Mas gostou, e
também gostava da presença dela. Eram opostos, mundos diferentes, mas ainda assim sentia-
se atraído por Sharon, não que fosse difícil negar os encantos daquela linda jovem, mas às
vezes sentia que seu sentimento era induzido, ou superficial, não era verdadeiro...

-Tenho algo para lhe dizer, meu querido. Está feliz de estar aqui comigo?

-Sim, e muito. Você é tão especial que só penso em estar ao seu lado.

-Não sei fazer cerimónia, então direi sem enrolar: Estou grávida!

Lucius cambaleou na cadeira. De repente, como se um véu caísse, descobrindo seus olhos
vendados há tempos, ele sorriu, puxou e beijou a mão dela por sobre a mesa. "Que notícia
maravilhosa, querida. Nosso bebé!"

-Vamos brindar? - Ela perguntou, balançando a exótica garrafa verde.

-Absinto? Uau! Segundo a bar tender do pub onde trabalho, o Devil´s Whorehouse, essa bebi-
da tem altíssima graduação alcoólica, algo em torno de 68 graus, mas é uma delícia!

-A moça que me vendeu essa garrafa cobrou muito caro, pois segundo ela isso aqui é proibido
na Europa quase toda.

Beberam, esperando ansiosamente os efeitos da green fairy. Beijaram-se como nunca, e ela
sentiu uma incontrolável vontade de trepar ali na mesa mesmo, sendo banhada pela rara
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bebida e depois sorvida por seu macho, o futuro pai de sua criança. Ele percebeu e se aproxi-
mou, parando ao lado dela.

-Eu quero sentir seu gosto. - Disse, descendo desajeitadamente as calças dele.

-Você está bêbada já, sua safadinha! - Ele riu, ajudando as mãos ávidas e apressadas.

-Sim, e com isso você vai sentir a chupada mais gostosa de sua vida. - Disse, ajeitando-se na
cadeira.

Realmente. Ela caprichou. Lucius gozou rapidamente, tal era a sede de sua amante. Ela não o
deixou amolecido por muito tempo. Provou mais um gole da bebida, e voltou a chupar. Em
segundos ele já fodia com força a boca faminta de Sharon. Segurava a cabeça e de vez em
quando puxava-lhe os cabelos. Quando estava quase gozando novamente, escutou:

-Chega.

O casal se assustou com a voz, e mais ainda com o tom de comando dela. Sharon parou de
mamar, e olhou confusa para os lados, procurando quem dissera aquilo. Seus cabelos estavam
despenteados e a primeira esporrada de Lucius ainda estava fresca em seu rosto. As bolas do
saco dele estavam vermelhas, marcadas pelo seu batom, assim com todo o pau e a glande
também. Confusa, olhou para cima.

Ficou assustada com o olhar de Lucius, fixo para uma das paredes. Ela instintivamente olhou
para trás também, e quase morreu de susto!

Parado, num canto escuro, onde a luz ténue das velas se recusava a chegar, estava um homem
forte, de olhos brilhantes, encarando os dois.

Sharon entrou em pânico, sem saber o que fazer, encolheu-se na cadeira. Piorou a sensação
quando viu que Lucius tremia, olhando temerosamente para a figura musculosa que sorria, e
lhes disse, usando um tom de zombaria como que querendo quebrar a tensão:

-Gelo. Vocês tinham que experimentar com gelo, meus caros pombinhos da luxúria. Sirva e aí
observem enquanto a forte tonalidade verde do Absinto vai se desbotando à medida que o
gelo derrete.

Silêncio. Apenas a respiração ofegante de Sharon.

-Eu acrescentaria ainda um torrão de açúcar, sabe? Apreciaria como nos cafés da Provence, e
me sentiria em Paris, no início do século, Lucas.

-Por que ele te chama assim? Quem é esse homem, Lucius?

-Lucius? - Resmungou a figura sombria - Ah, sim, claro. Quando o fiz meu escravo, tirei seu
nome mortal, Lucas, e lhe dei um nome mais apropriado. Agora ele me pertence.

Lucius quis correr. Conhecia a fúria de Sammael, seu mestre...

-Sou seu dono. E digo que seu tempo acabou, lacaio.


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Sharon não entendeu nada. Apenas gritou e caiu no solo quando seu amante foi erguido no ar
como um boneco, e literalmente rasgado ao meio, pintando toda a mesa e o chão, incluindo
ela, de vermelho-sangue.

-Oh, meu Deus, o que você quer? Não me machuque!

-Pense, cadelinha. Poderia ser pior, eu poderia tê-lo matado minutos atrás, enquanto ele esta-
va despejando porra na sua boca. Acho que não seria uma sensação muito agradável. - Ele
dizia isso enquanto bebia o sangue do cadáver mutilado de Lucius, e sua boca fazia um barulho
irritante e obsceno.

Sharon tinha muito autocontrole, apesar de não se aplicar naquela circunstância, mas criou
coragem e perguntou quem era Lucius/Lucas.

-Meu servo. Ele não era humano, caso você não tenha percebido. Mas também não é vampiro,
como eu sou. E não me olhe com essa cara incrédula de "Dããã, vampiros não existem", pois
existimos e cá estou eu.

Ela tentava em vão limpar sua pele, pois teve medo de que Sammael começasse a ter ideias
com a visão de seu corpo coberto de sangue. "Por que você o matou?"

-Ele serviu aos propósitos. Não tinha mais utilidade, e também nunca fui com a cara dele. -
Respondeu, ao mesmo tempo em que juntava os pedaços de seu ex-servo num canto.

Sharon ia perguntar o que ele, um vampiro poderoso e cruel, queria dela, mas teve medo da
resposta. Quando ele parou de mexer nos restos de Lucius, e a encarou, ela chorou:

-Por que eu? Sou uma mulher decente. Perdi a virgindade somente dia desses.

-Você? Me desculpe, mas conheço prostitutas mais decentes que você. Putas que se deitam
apenas para levar alimento para seus filhos. Mas você? Procurava por sexo com ânsia e luxúria
sem medidas!

-Você não me conhece, como pode dizer essas coisas?

-Nós vampiros não atacamos uma vítima à toa. Sabe, existem pessoas que carregam uma mar-
ca quase visível, que nos atrai. É como se o sangue fosse mais quente, saboroso. Não consigo
explicar. Até atacamos mocinhas incautas, inocentes sim... mas apenas por diversão, simples
prazer em corromper.

Sharon ficou quieta.

-Mas existem pessoas como você, que transpiram sexo. Cheiram ao pecado. É quase palpável,
e nós vampiros percebemos esse "cheiro" nos humanos. E o seu era tão forte que até mesmo
meu servo, que é apenas meio-vampiro, sentiu e te desejou.

Ela criou coragem enfim de perguntar: "O que quer de mim?"

Sammael chegou bem perto, observando a respiração dela se tornando difícil e ofegante, tra-
vada pelo medo, e encarou o olhar choroso:
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-Você carrega algo precioso. Algo que eu quero. Sou um filho das trevas e destruição, e por
isso não sou capaz de criar vida, mas meu servo foi. E agora, sua criança tem a semente vampí-
rica. Um pouco do meu sangue está nele.

Sharon tremeu visivelmente e não fez mais força alguma para conter o choro.

-Shhh, calma. Você carrega um bebé saudável aí dentro - continuou, apalpando a barriga dela -
que apenas tem um pouco de vampiro. E eu tenho interesse nele. Que tipo de criaturinha nas-
cerá? - Andou para longe de Sharon, gesticulando, empolgado.

-Espere. O feto já está desenvolvido? - Parou, de repente.

Ela balançou a cabeça, afirmativamente.

-Então se eu o matar, ele vai se tornar um vampiro, em seu ventre, antes mesmo de nascer!

Sharon começou a gritar quando Sammael a agarrou e a jogou na cama. O terror dela era
tamanho, que simplesmente não conseguiu hipnotizá-la. Então apelou para o Absinto, e a for-
çou tomar a garrafa toda. Apenas teve medo de induzir um coma alcoólico, pois queria e preci-
sava dela viva.

-Essa diabólica infusão de ervas, a Artemisia Absinthum, em sua forma original era capaz de
causar até mesmo a morte, sabia? - Disse calmamente o vampiro, enquanto despejava o con-
teúdo da garrafa esverdeada.

A mulher, muito bêbada, só sentiu suas pernas sendo afastadas. Sammael tirou sua calcinha, e
ela percebeu que fazia algo em suas entranhas. Estranhamente, não doeu.

Não fisicamente, pois com a última gota de sobriedade, ela percebeu que o vampiro estava
matando sua criança. Então doeu e Sharon gritou.

-Venha, eu te levarei para seu novo lar... - foi o que ela ouviu em meio aos próprios gritos -
Será uma cobaia minha, dia e noite sendo vampirizada pelo próprio ventre. Quando acordou
novamente, Sharon não conseguia se lembrar de muita coisa, e sua cabeça doía de ressaca.
Estava num quarto esquisito, todo forrado de preto e decoração em couro. Sentiu o cheiro de
Sammael ali, e começou lentamente a se lembrar dos fatos. Sentada na cama, desperta, sua
mente se recusava a acreditar em tudo o que tinha acontecido. Ela ainda estava grávida, e
nasceria um lindo bebé. Claro que nasceria.

-Calma criança. Mamã vai cuidar de você. - Disse calmamente, ainda com a mão na barriga,
massageando e confortando.

Mas o que sentiu foi uma dor aguda, uma pontada muito forte. Podia jurar que estava sendo
mordida por dentro. E seu sangue escorreu abundante pelas coxas...

OBS. O famigerado "gosto da coisa" depende da alimentação do


homem. Eu pesquisei que na Índia as mulheres costumavam presen-
tear seus homens degustando seus espermas, mas para isso os mes-
mos precisavam deixar de consumir bebidas alcoólicas por um longo
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período porque alteravam o seu sabor natural. O fato é que além da


alimentação, depende também de seu nível de stress, da proporção
de gordura do corpo, da idade, do tempo que ele está sem gozar, e
tantos outros factores que mexem com a composição básica do
esperma. O consenso geral das mulheres é que o "aspecto psicológi-
co" da esporrada no rosto deixa o gosto "per se" em segundo plano.

† De volta ao sangue
A Transylvania não é um lugar imaginário como a maioria pensa. Ele existe e é um vilarejo da
Romênia. Sei disso pois a família da minha adorável esposa é de lá. Catrina está grávida do
meu primeiro filho, depois de tantas tentativas frustradas. Sua velha bisavó - que aliás viveu
mais que a avó e a mãe - me disse uma enigmática frase na ocasião em que soube da notícia:

-Fique atento quando esse menino nascer. Cuidado com o 'strigoi' e o 'pricolici'. Essas coisas
atacam crianças.

-Essas coisas não existem aqui, bisa.

-Uma criança romena sempre deve temer essas coisas. Mesmo não estando em solo romeno.

Não era a primeira vez que a velha falava sobre "essas coisas" com aquela entonação sobrena-
tural... Falava deles com respeito. Respeito que eu não conseguia ter, já que não acreditava
nas mesmas crendices dos camponeses simplórios e atrasados da Romênia.

-Não me olhe com esse olhar descrente, meu jovem. É muita pretensão nossa pensar que um
ser deixa de existir completamente quando seu corpo é declarado morto pela ciência. Mas não
vou falar mais nada, para que não me tome por uma 'deochetoare', caso algo dê errado em
sua família...

Alguns meses se passaram e meu filho, minha alegria, estava prometido para nascer. Só que
certa noite antes do nascimento, eu trabalhei até mais tarde. Confesso que Catrina, grávida
como estava, já não era tão atraente assim aos meus olhos. Eu a amava - imagine, ela carrega-
va minha semente! - mas não sentia atração sexual. Procurei uma outra mulher que me fez
muito feliz por algumas horas. Chegando em casa tarde da noite deparei-me com a rua mais
escura que o normal, além de um silêncio onde podia ouvir minha própria respiração bêbada e
nervosa. Assim que abri a porta, antes de acender a luz, uma mão esquelética agarrou meu
colarinho. Meio tonto como estava, acabei caindo pesadamente no chão da entrada. Era a
velha, com uma expressão de terror inominável nos olhos, toda machucada como se tivesse
apanhado:

-É fácil... saber quando ele chega... junto com os stafie... nenhum cão ladra nas vizinhanças!

-Ele quem, bisa?

-Ele... está lá em cima... com sua esposa! Salve seu filho!


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Levantei-me tão rápido que nem sei como consegui, deixando a velha caída junto à porta. No
instante seguinte eu já chegava na escada, pensando em alguma justiça divino-poética que
estava me punindo por ter sido infiel com minha esposa. E eu nem sabia QUEM era lá em
cima! Então ouvi um urro, quase gutural. De prazer, deleite. De vitória. As pessoas ainda per-
guntam se os vampiros transam, algo um tanto óbvio. É o que eles mais fazem, profanando
continuamente os leitos das pessoas de bem. Esse aqui estava em minha cama, cavalgando
minha esposa. Segurava afastados os tornozelos de Catrina no ar enquanto retirava seu mem-
bro duro de dentro dela, respingando fluídos adúlteros em meus lençóis brancos. O urro. Ele
tinha gozado, sabe Deus quantas vezes, inundando Catrina.

"Salve seu filho!"

Percebi que na hora do medo todos nós nos tornamos camponeses, simplórios e atrasados.
Crentes. Toda e qualquer superstição fica aceitável! Eu agarrei firme meu crucifixo, tanto que
posso jurar que ele resplandeceu entre meus dedos. A criatura afastou-se imediatamente,
caindo da cama numa velocidade impressionante. Parecia dissolver enquanto se afastava em
direção à janela. Uma de suas unhas brilhou na luz do luar, e imaginei que ele poderia me abrir
com elas, caso tivesse essa chance. De sua boca vazava sangue, mas ele não falava nada. Ape-
nas me olhava intensamente, tentando diminuir minha fé, algo do tipo. Queria me mostrar
que o inferno existe, talvez, mas eu não dei chance à ele. Fui me aproximando lentamente, e
então Catrina gemeu. Corri um olhar preocupado para ela, o suficiente para a criatura desapa-
recer como névoa que se dissipa. Só consegui olhar para Catrina novamente após ouvir um
latido lá fora. Antes disso permaneci fixo na janela, olhando para o nada que se tornou o mal-
dito vampiro. Minha mulher ainda estava desacordada, mas gemendo em delírio. Suada, per-
manecia de pernas afastadas, obscenamente. Seu pescoço sangrava, assim como os mamilos.
Eu sabia que em algumas culturas mais atrasadas grandes quantidades de homens transavam
em público com uma única mulher, e que ao final desse verdadeiro espetáculo sexual o último
deles se abaixa e sugava todo o esperma grupal depositado naquela vagina. Mesmo entre os
monogâmicos mais antigos, essa ingestão de sémen era um recurso para se evitar uma gravi-
dez indesejada. Mesmo diante do bizarro da situação, eu não tive dúvidas. Ajoelhei-me lenta-
mente entre as coxas de Catrina, afastando os grandes lábios intumescidos de minha mulher,
rijos e avermelhados de tanto sangue, puro fruto da excitação gerada durante a transa. Abri
também os pequenos lábios, já encostando minha boca. Penetrei seu sexo com a língua pri-
meiro, sentindo o gosto agridoce da mistura de fluidos entre minha Catrina e aquele maldito.
Meus lábios então encaixaram-se perfeitamente nos vaginais dela, e comecei a sugar... Diz a
lenda que as transformações acontecem no limite de SETE em SETE, ou seja, sete em
sete horas, sete em sete dias, sete em sete semanas, sete em sete meses, sete em
sete anos...

-Eu vou morrer?

-Não querida, claro que não vai. - mas isso era mentira. O médico infelizmente não tinha dado
boas notícias.

-Me prometa que vai cuidar bem dele, Raymond? Meu filhinho...
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-Sua vez de prometer uma coisa, Catrina: você vai me ajudar a cuidar dele? - Ray fez aquilo
para ver se animava a mulher, que desde a maldita noite do ataque definhava mais e mais.

-Sim, sempre. Onde eu estiver. - ela respondeu, com uma certeza mórbida no olhar. E ainda
disparou:

-Eu sei que você foi infiel comigo, Raymond.

Ray levantou a cabeça, mas diante daquele olhar nem teve reação. Baixou-se novamente, e
deu um suspiro resignado.

-Não consigo te perdoar, nem entender. - o tom de voz dela era tão baixo e compassivo que o
irritou.

-Não vamos pensar nisso agora, Catrina.

-Não sei se vou sobreviver ao parto, então quero pensar nisso agora.

-Ok então, e como soube?

-A criatura me contou, enquanto fazia aquilo comigo...

-Bom Deus... - ele deixou escapar por entre os lábios. "Como seria a voz daquilo?"

-Acha que eu gostei de ter aquele monstro em minha cama?

Diante do silêncio de Ray, ela continuou:

-E o pior... pensar que não me protegeu daquilo por estar com outra!

Horas mais tarde, Raymond roía as unhas. Estava sozinho na ante-sala da maternidade, já que
a bisavó de Catrina tinha falecido na mesma noite do ataque do monstro... a velha 'deochetoa-
re' e sua má sorte, que lhe avisou antes de morrer que a 'strigoiaca' era ainda mais perigosa
que o macho, já que destruía casamentos e também chupava o sangue de crianças à noite.

-É um lindo menino, senhor. Mas infelizmente, como já era esperado, sua esposa não conse-
guiu, ela...

-Morreu.

-Posso vê-lo, doutor?

Raymond queria apenas certificar-se de que a ingestão desesperada que aplicou em Catrina
tinha salvo a criança. Não podia permitir que a natureza de seu filho fosse maculada por cria-
turas da Transylvania. Passou a língua pelos lábios, como que sentindo o gosto daquela noite
maldita tempos atrás...

3.Raymond

Ray passava com cuidado a tinta na cara do Ogar, desenhando mais um par branco de olhos no
cachorro. Segundo as crenças antigas, isso afastava os vampiros. A criatura demorou sete anos
para se fortalecer e escapar do túmulo. Raymond agradeceu ao bom Deus por ter dado à ela
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um enterro romeno, com todos os rituais. Isso a atrasou, com certeza. Agora ele precisava
proteger seu filho. Desde a colocação da máscara que já sabia que a criança - se fosse atacada
e morta - voltaria do inferno, e sabe-se lá para quê. Esfregou alho no pêlo do cão. Alho tam-
bém era uma boa defesa. Magia das boas, cura doenças e protege contra o mal, coisa que só
camponês acredita. Ray acreditava agora, mas antes precisou pagar pra ver, e sua descrença
quase lhe custou caro demais. Sabia que os vizinhos o observavam e até mesmo apontavam
para ele na rua. Seria um lunático, aos olhos deles? Aos olhos do mundo, tão ocidental e
dominado pela razão? A razão não explicava as coisas que Ray tinha visto, então a razão não se
aplicava. Por isso era normal subornar o segurança do hemocentro mais próximo e pegar bol-
sas de sangue para saciar o apetite peculiar de seu filho. Antes disso, o menino já não comia
nada, apenas bebia o sangue que vertia da carne crua que era jogada em sua cela. Sim, tinha
trancado seu próprio filho numa cela. Não sabia exatamente o que o garoto era agora, então
não podia arriscar ser mordido por ele.

4.o menino

O quarto do menino estava mergulhado em penumbra. Estranho, pois quando alguém de den-
tro de sua casa morre, você não apaga mais a luz antes de dormir. O homem pensava assim, e
seu filho estava na cama, assustado. Paralisado de medo, o que é normal quando se é atacado.
Tinha respingos de sangue até a janela, por onde aquilo desapareceu. Raymond seguiu a trilha
irregular da morte e respirou fundo olhando lá fora, tentando enxergar na escuridão. Nada,
nem mesmo o vulto vestido em seda, que enxergou de relance quando entrou no quarto. A
sorte é que resolveu ver como seu filho estava dormindo, assim que percebeu que seu cão não
tinha latido nenhuma vez naquela noite.

-Tô sentindo um frio por dentro, pai. Muito frio. - o menino tremia furiosamente.

Frio foi o que Raymond sentiu dentro de si mesmo - nas veias, enregelando seu coração -
quando lembrou da máscara que tinha comprado tempos atrás. Deixou o filho sozinho, indo
buscá-la.

-Pai? Que é isso?

Sem responder aos protestos e gritos, Ray parafusou e depois, indiferente, soldou aquela placa
de metal que recobria a mandíbula da criança. Sua pequenina boca agora aparecia apenas
através de um grotesco orifício escavado na máscara. O homem então começou a pensar em
como alimentar seu filho.

-Eu vô morrê? - o menino choramingou.

-Não filho, claro que não. - ele dizia isso segurando o pescocinho da criança, vítima de uma
terrível mordida na jugular. Sete longos anos haviam se passado desde a última vez que Ray-
mond respondeu uma pergunta dessas...

5.o vizinho

-Eu faço o sinal da cruz praticamente toda vez que vejo esse homem, esse tal Raymond. É meu
vizinho. É nesse número que faço denúncia anônima, liguei certo?
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-Ligou sim senhor, pode nos passar o endereço do seu vizinho?

-Ele tem um cachorro com seis olhos. É fácil saber, todo mundo tem medo dele!

-Perdão senhor... espero que não seja um trote. Nossos policiais já estão na rua e...

-Ele anda com bolsas de sangue, eu já vi! O banco de sangue não tem reclamado de roubos
não?

-Por favor, senhor... poderia me passar o endereço?

-Qual, o meu? Não, eu tenho medo desse homem. Se ele descobre que liguei pra polícia...

-Senhor, a denúncia é anônima. Não se preocupe...

-...ele com certeza vai soltar aquele cão dos infernos pra me matar!

2.a cela

-Esse cara só pode ser um vampiro! A denúncia tava certa!

-Tá vendo isso aqui? Bolsa de sangue. Por isso as manchas em toda a casa. - concluiu o oficial
de policia.

-Ilumine aqui. De quem foi a idéia de invadirem à noite?

-O vizinho que ligou na delegacia disse que ele some durante o dia...

-Tem alguma coisa aqui embaixo! É uma cela!

-Meu Deus, olhem para isso, é uma criança!

-Tirem essa máscara dele!

-Não tô conseguindo... Que pai é esse que parafusa uma máscara de ferro e imobiliza a boca
do próprio filho?

-Um pai louco, por isso que o vizinho dedurou o cara!

-Pode falar comigo? Onde está seu pai?

-Atrás... do senhor.

-Santo Deus, atirem, atirem! Ele tá ali!

Com os nervos à flor da pele devido ao cenário, os policiais abriram fogo. Os estampidos das
armas iluminaram o pequeno quarto.

-Parem! Não, não atirem, ele é só um homem!

-Tarde demais, tenente. Ele tá mais furado que peneira.


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-Tava reclamando de sangue, oficial? Agora tem mais, e é do... Raymond. Aqui os documentos.
Tem mais coisa aqui no bolso, fora a carteira.

-O que é?

-Alho e... um crucifixo velho.

6.adoção

-Tem certeza que quer adotá-lo? É uma criança muito especial.

-Imagino que seja mesmo, já que vocês o mantém aqui nessa ala escura da clínica. - disse a
jovem senhora, com um trejeito de reprovação no canto da boca.

-Ele não fica à vontade quando a luz é muito forte. Esteve tanto tempo preso numa cela no
porão que acostumou-se com a escuridão.

-Mas ele sai de dia, não?

-O pessoal da clínica não sabe responder, mas é óbvio que ele prefere a noite.

-E o que houve com os pais?

-Até onde sei, a mãe morreu no parto. O pai era problemático e veio a falecer recentemente,
com a mente perturbada e sofrendo de esquizofrenia e paranóia aguda. Os vizinhos percebe-
ram o comportamento esquisito do homem e ele foi denunciado às autoridades.

-Apesar de se esconder ali no escuro, ele é lindo!

-Sim, é uma linda criança... porém precisa de muito cuidado.

-Olha moço, não posso engravidar e a adoção tem muita burocracia. Por isso eu e meu marido
procuramos você. Só queremos um filhinho e ninguém precisa saber. Está sendo bem pago
para isso, então... por que a preocupação?

Naquela noite o casal esteve tão feliz que após o jantar se recolheram e fizeram amor inten-
samente. O homem dormiu por cima dela, mas foi acordado em plena madrugada:

-Amor, está ouvindo esse som? Parece chupada...

-Querida, volte a dormir. Te chupei tanto hoje que é até pecado você estar falando disso...

-Ouça! Nunca ouvi nada tão obsceno. Nosso menino está acordado?

-Você agora é a mãe, lembra?

Contrariada, a mulher levantou-se da cama vestindo o roupão e dirigiu-se ao quarto que


tinham construído para o filho que nunca puderam ter. Assim que abriu a porta, suas pernas
amoleceram e ela gritou. Uma criatura estava na cama por cima do menino, chupando num
ritmo violento, preciso e implacável!
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† Lilith
Aquele lugar era alto, alto demais, até mais! ALGOL, uma das torres mais altas da cidade de
Sistinas. O observatório que funciona no topo estava aberto à visitação. E logo abaixo estava o
Aces High Bar, um clube frequentado pela elite de jovens ricos e famosos, pois a visão pano-
râmica que aquele bar encravado no alto da cidade proporcionava era um espectáculo. Naque-
la tarde, o bar estava levemente cheio. Era impossível não reparar nas duas garotas sentadas
na mesinha de canto. Monique era alta, morena, cabelos negros longos e bem cuidados,
esvoaçantes. Seios fartos, protegidos por um decote insinuante. Na sua frente, sua amiga Lay-
la, louríssima, fruto de sua descendência germânica, um rosto redondo lapidado com perfei-
ção, mais ainda valorizado por olhos de um azul angelical. O Sol batia forte, aquecendo mesmo
ali a sombra onde as duas moças escolheram para sentar. O reflexo do Sol nos cabelos de Layla
fazia daquela uma das tardes mais vívidas desse último verão de Monique.

-Você parece que não percebe! "Girl Power", saca? Estamos em pé de igualdade com os
homens! Temos direitos iguais. Por que você não proclama sua independência também?

Monique sorriu meio sem graça, ainda absorvendo o delicioso puxão de orelhas que sua amiga
lhe dava naquele momento. Por fim resmungou, cabisbaixa:

-Eu gosto dele assim, é simples.

-Monique... Não precisa deixar de amar seu homem, mas não seja assim tão submissa. Você é
jovem, linda, bem sucedida, não precisa dele para nada. Não se submeta à ele!

-Ele ainda não quer filhos. Pediu que eu abortasse. Devo mesmo abortar.

-Não acredito! Não ouviu nada do que eu disse? Se ele te largar, choverão homens querendo
tê-la como esposa, mesmo sabendo que terá um filho. Será uma linda e sedutora mamã! Por
que abortar?

-Eu devo mesmo abortar... - Monique repetiu, mas parecia fazer isso tentando convencer ape-
nas a si mesma.

Layla jogou os cabelos, impaciente. Não suportava essa atitude de sua melhor amiga. Respirou
fundo, e falou:

-Não faça isso. Seja uma mulher independente. Seja mãe. Não aborte por um capricho de um
homem que te trata como lixo.

Monique suspirou em reposta, deu de ombros sem forças para responder.

-Nenhum filho da puta de cuecas me obrigaria a um aborto!

-Sabe... - começou a morena, relutante - Em parte a culpa foi minha. Eu deixei de tomar os
anticoncepcionais pois estavam me fazendo mal.

-Espera aí... E onde ficou a camisinha?

-Ele não usa. Não gosta. Por isso sempre tomei pílulas. Mas elas me fazem mal.
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-Que merda está me dizendo? Frank te obriga a se cuidar, mas ele não faz o mesmo? Vocês
trepam sem camisinha? O que você tem na cabeça?

-Mas ele é meu parceiro fixo. E outra; você sempre usa camisinha, Layla? Sempre, sempre?

A loura desviou o olhar, era claro que não. Na verdade, às vezes transava com caras que nunca
mais veria na vida, e, mesmo assim não se prevenia...

Monique se fortaleceu um pouco, tendo razão apenas dessa vez. Mas ainda sentia um enorme
desconforto, como naquelas conversas entre adultos e crianças. Encolheu-se na cadeira, e
quase lamentou:

-Sou muito boba, não é?

-Sim! Puxa, não foi comigo que você aprendeu a ser assim. Não mesmo!

As horas passavam rápidas. Layla já estava sem paciência com sua querida amiga. Não estava
disposta a deixá-la sozinha, mas precisava trabalhar.

-Olha, Monique, pense em tudo que eu lhe disse. Pense muito. Vão raspar seu ventre fértil. Ou
então você vai tomar alguma porcaria que vai mexer com seu corpo para sempre. Talvez aca-
bem com sua capacidade de ser mãe. Um homem não vale isso! Preciso voltar agora ao traba-
lho. Você ficará bem?

-Sim Layla, ficarei bem. Ainda vou beber mais alguma coisa, depois a gente se fala.

A loura beijou a amiga, e levantou-se. Checou o celular, e depois saiu apressada.

Minutos depois, Monique já estava indo embora. Olhou uma última vez para seu copo, e
quando pensou em levantar, uma mulher sentou-se à sua frente. Era baixa e estava, apesar do
calor, enrolada dos pés à cabeça.

-Fique, querida. Tenho algo a lhe dar. - Disse a estranha.

Monique sorriu, e estendeu uma nota à mulher. Depois guardou a carteira, sem olhar directa-
mente para ela. Não tinha percebido a música "Kashmir" do Led Zeppelin começando a tocar,
alta, de fundo.

-Eu te pedi dinheiro?

A morena pela primeira vez olhou direito para a estranha. Parecia "uma nativa de cultura islâ-
mica". - E foi exactamente essa frase descritiva que lhe passou pela cabeça - Não sentiu vonta-
de de levantar, pelo contrário. Acomodou-se na cadeira, e perguntou:

-O que você quer, então? Não é uma mendiga?

"Whoa, let the sun beat down upon my face"

Os véus que cobriam a boca da mulher se mexeram de maneira estranha. Seria um sorriso? Ela
faiscou um olhar para Monique, e tirou algo sabe-se lá de onde.
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-Pegue isto. - E lhe estendeu um estranho pingente, vermelho como sangue.

-Que trabalho bonito. De que é feito, que pedra teria essa coloração?

"And stars to fill my dream"

-De onde isso veio, pouco importa. Mas agora é seu.

A mulher tinha uma voz estranha, e um sotaque que parecia compreender todos os idiomas do
mundo. As únicas partes dela que podiam ser vistas eram um pedaço do pulso (as mãos eram
cobertas por luvas) e os olhos. Pretos. A pele do pulso parecia muito velha, mas a voz e desen-
voltura pareciam as de uma moça saudável.

"I am a traveler of both time and space"

-Que faço com ele? Por que está me dando?

-Saberá quando olhar de forma diferente para ele. Não peço nada em troca.

Monique colocou o pingente na bolsa, tomando cuidado para não perdê-lo por ser pequeno e
frágil, e quando pensou em agradecer, não viu mais a mulher sentada.

"All will be revealed..."

Levantou-se em dúvida. Bebida? Imaginação? Balançou a cabeça, e foi embora. De noite, esta-
va em sua casa quando o namorado chegou. Estava cansado, frustrado e até meio agressivo,
como sempre. Jantou em silêncio com ela, a beijou friamente e foi deitar-se cedo. Monique
ficava pensando se a fonte do desgosto dele era a criança em formação que trazia no ventre.
Não conseguiram falar sobre o assunto. Ela não sabia nem ao menos como começar a falar.
Frank ultimamente estava com o olhar raivoso, sério. Após lavar a louça e passar as roupas
dele para o dia seguinte, ela também foi deitar-se. Cansada, dormiu rápido, e teve um sonho
povoado de coisas inexplicáveis, todas elas mergulhadas em uma bruma avermelhada. O pin-
gente estranhamente aparecia e sumia, enquanto seres além da imaginação de Monique pare-
ciam copular como demónios. Acordou de repente, deitada de lado, com Frank lhe puxando os
ombros, roçando algo duro em suas nádegas por baixo dos lençóis.

-O que você quer, amor? Estou cansada... - disse, meio que sonolenta.

-Hoje quero atrás. - Ela o ouviu dizer, a voz embargada de desejo.

Antes que reagisse, foi obrigada a levantar a perna, pois Frank forçava a penetração. Sem lubri-
ficação alguma, Monique foi invadida por trás. A dor incómoda a deixaria acordada pelo resto
da noite... Monique não conseguia trabalhar direito. Em sua sala, ficou o tempo todo obser-
vando o estranho pingente avermelhado, que apareceu em seus sonhos durante a noite. Lem-
brava também das palavras de sua amiga, sobre sua relação com Frank e sobre a ideia do abor-
to. As noites seguintes passaram a ser meras repetições das anteriores. Frank sempre ficava
mais aborrecido, e cada madrugada abusava de uma maneira diferente e degradante de seu
corpo. Até que uma noite tudo aconteceu. Monique estava ajoelhada, entre as pernas de
Frank, numa das suas intermináveis sessões de sexo oral. Lambia e beijava devagar, sem pres-
sa alguma. Sabia que quando demonstrava pressa, ele a obrigava a se demorar mais. Quando
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simplesmente obedecia e chupava, Frank perdia um pouco do tesão e ela nem precisava capri-
char muito. Sentado em sua poltrona favorita, um presente dela, Frank observava aquela linda
morena engolindo suavemente seu membro, com olhar escravizado, e se sentia o melhor dos
homens. Tinha uma mulher perfeita, que fazia questão de exibir como um troféu há todos seus
amigos, e também costumava contar tudo que se passava na cama com ela. Era sua, uma
cadelinha eternamente no cio, e era invejado por todos seus amigos. Era a parte boa da vida!
Quando Monique levantou-se, usando os seios para massagear as coxas e as bolas dele, Frank
notou que havia algo diferente:

-Que merda é essa aí no seu pescoço?

Monique, sem entender, olhou para baixo. Surpresa, viu que estava pendurado em seu colar o
tal pingente. Não se lembrou de tê-lo colocado ali, e fez cara de confusa. Correu os dedos pelo
símbolo estranhamente quente, e o tirou. Mal sabia que já era tarde demais. Frank a pegou
pelos cabelos, forçando-a a continuar a chupada. Monique lambeu uma vez, usou toda sua
saliva, tentando engolir o membro, quando algo dentro dela gritou... O homem caiu da poltro-
na quando aquilo pulou em cima dele. Rolando pelo chão, Frank começou a ouvir chiados,
uivos e vozes estranhas. Monique estava por cima agora, e o segurava de tal maneira que ele
nem conseguia se mexer. Deu um tapa fortíssimo na cara dela, quando recebeu um de volta
que o deixou com o rosto vermelho. A mulher não parecia mais ser Monique. E de fato não
era. Tinha olhos avermelhados e uma voz estranha, nervosa, que falava usando várias línguas
diferentes, sempre urrando coisas contra Frank, pedindo para ser fodida, que queria o esper-
ma dele para gerar seus filhos, que ele era apenas um boneco de sexo, que só servia se esti-
vesse de pau duro, e outras coisas que a mente dele não conseguiu entender. O homem sen-
tiu-se devorado pela estranha Monique, que cavalgava insanamente em cima do cacete dele.
Transava com a energia de mil demónios, e logo esgotou todo o esperma e o apetite sexual de
Frank. Quando viu que seu parceiro não podia mais, desceu e começou novamente a chupá-lo.
O homem deu sinais de que conseguiria de novo, mas quando seu membro sumiu entre as
coxas dela, o calor que emanava pareceu queimá-lo mais do que conseguia suportar. Virou-se
para o lado, chorando envergonhado, quando ela saiu de cima do pénis flácido:

-Seu impotente filho da puta, machinho de merda... - ela sorria, nervosa.

Então a fúria vermelha se acalmou, e a mulher que antes fora Monique levantou-se, deixando
o homem febril caído, chorando como uma criança. Na penumbra da sala, Frank começou a
ouvir chiados estranhos, e procurou pela mulher. Tacteando no escuro, apoiou-se na poltrona,
e conseguiu parar de chorar. Abaixou a cabeça e fechou os olhos. Os chiados aumentaram.
Quando percebeu horrorizado que estava cercado, abriu os olhos e viu uma silhueta parada na
porta, ao longe. Ela apontava um dedo para ele, quando sussurrou:

-Devorem-no.

Então os chiados o atacaram. Layla resolveu passar pela casa da amiga. Achou estranho ela
dizer no celular que estava "bem, feliz como nunca estivera antes". Será que enfim tinha dado
um pé na bunda daquele cretino do Frank?
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A casa estava num ambiente escuro, estranho. A única luz amarelada vinha de um abajur, e
iluminava muito pouco o lugar. Layla enxergava as coxas grossas de Monique, cruzadas em sua
direcção. O rosto não aparecia muito, devido ao ângulo da luz. A loura estranhou o clima.

-Você está bem, Monique?

-Sim, Layla. Melhor do que jamais estive.

-Já sei! Você parou de submeter-se ao Frank?

-Ah, o Frank... Pobre coitado. Sim, me vinguei dele.

Aquilo soou estranho para Layla. Sua amiga sempre fora um doce de pessoa, passiva. Que
mudança radical era aquela?

-Quer ouvir uma pequena história, minha amiga?

Layla, muito desconfiada, apenas acenou com a cabeça.

-Sexo... Desde o início dos tempos o divisor entre o homem e sua divindade. O que significa
para você Deus ter criado o homem "à sua imagem e semelhança"?

-Que o primeiro homem era perfeito?

-Perfeição... - um brilho avermelhado no olhar dela - Não, o primeiro homem era uma criatura
patética, andrógina, assexuada. Que em sua imperfeição sentiu falta de algo e pediu à divinda-
de uma companheira.

-Peraí! Desde quando você discute religião? Você não é, como se diz... agnóstica?

-Acredite-me, não sou agnóstica. E não me interrompa.

A loura calou-se, em parte assustada, em parte interessada.

-O pobre Adão sentiu-se solitário por uma razão muito simples; todos os animais do jardim do
Éden tinham sido nomeados por ele, e cada um deles tinha sua contraparte feminina, sua
metade. Talvez tenha pensado em deitar-se com alguma fêmea de outro animal, acho que a
zoofilia é deturpação antiga (e nesse instante ela sorriu, debochada) mas o fato é que o pai da
raça humana não tinha uma parceira.

-E então? - Perguntou Layla, não levando a conversa tão à sério ainda.

-A divindade atendeu os desejos de Adão dando-lhe a primeira mulher. Textos maldosos dizem
que ela veio cheia de saliva e sangue...

Diante da expressão de nojo de Layla, ela ergueu um dedo e o molhou nos lábios:

-...O que é uma meia-verdade, claro!

"O que tinha acontecido com Monique?" - passou pela cabeça da loura, de repente.
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-Por ter sido criada com a mesma matéria que o homem, nada mais justo que ela tivesse direi-
tos iguais, mas não foi bem assim que aconteceu. No sexo ela devia ser submissa. Era óbvio
que ela se rebelaria, contra Deus e contra o filho d´Ele.

"O sexo, divisor entre o homem e sua divindade."

Layla pesou aquelas palavras, era tudo realmente muito simples e plausível. Como não sabia
dessas coisas antes? A voz de Monique soava de maneira quase sobrenatural, em um tom de
cólera e calmaria ao mesmo tempo. E aquele sotaque estranho?

-Adão queria sexo ao seu modo. Irritada, essa mulher renegou ao Deus e foi expulsa do paraí-
so. Adão, abandonado e já viciado em sexo, pediu há seu Pai uma segunda companheira, que
veio na forma de Eva, criada a partir de sua costela. Era submissa, como o homem sempre
quis. Essa parte toda cristã sabe.

-Quem era essa mulher? A que veio antes de Eva?

-Lilith, Lilitu, ou Lilah, de onde deriva o nome Dalila, aquela que cortou os cabelos do Sansão.
Uma das duas mulheres que foram ao Rei Salomão para que ele decidisse qual delas era a mãe
de uma criança que ambas reivindicavam. Lembra-se dessa passagem da bíblia?

Layla não lembrava, mas estava assombrada. De onde Monique tirava tudo aquilo agora?

"Ou talvez Salomé, a rainha de Sabá..."

-Expulsa do paraíso, essa mulher foi caçada por três anjos, cujos nomes eu não citarei aqui.
Esses a lançaram uma maldição, e ela foi condenada a vagar na Terra para sempre. Foi assim
criada a inimiga dos homens, a prostituta vampiresca de pés de coruja.

A loura deu um sorriso assustado, e segurou-se na cadeira. O tom dela agora era de ódio.

"Fornicadora de demónios..."

-Após o pecado original de Adão e Eva, quando também foram expulsos do paraíso, Lilith ata-
cou os dois, forçando Adão a transar com ela enquanto demónios estupravam a mãe da
humanidade. Cada uma das crias dessas trepadas transformaram-se em mais demónios. Os
Lilins. Centenas. Lilith também jogou irmão contra irmão, forçando Caim matar Abel. Ela é
vingativa, percebe?

-Monique... Onde está Frank? Você está me assustando.

-Ah, minha cara, logo você estará com ele.

Apesar do tom suave como aquilo foi dito, passaram as ideias mais terríveis pela cabeça da
loura quando ela viu o brilho vermelho de um pingente na escuridão, no pescoço de sua ami-
ga.

-Posso acender a luz, Monique?

-Sim, é claro. Eu tinha apagado tudo pois ultimamente meus olhos andam muito sensíveis.
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Layla quando acendeu a luz, quase morreu de susto. Caído perto do sofá, onde ela esteve sen-
tada o tempo todo ouvindo aquela história macabra, jazia o cadáver canibalizado de Frank.
Uma expressão de dor profunda nos olhos mortos, ainda abertos. Por um instante que durou
uma eternidade, a mente dela tentou imaginar o que tinha acontecido. Mirou instintivamente
os pés da sua amiga Monique, talvez pensando em ver pés de coruja, mas nunca saberia dizer
o porque olhou. Já Monique a encarava divertidamente, um sorriso que parecia vir de outros
tempos, de terras distantes. O pingente agora na luz estava opaco, mas ainda era vermelho.
Monique usava um simples roupão, que deixava transparecer runas e entalhes na carne dela.
Vários símbolos cabalísticos, pagãos, e até mesmo tatuagens mundanas. A loura estava muda,
sem saber o que dizer, como agir, em pânico total. Monique então disse, calmamente:

-Meus filhos gostarão de você, Layla. Será eternamente escrava dos caprichos sexuais deles.
São animalescos, insaciáveis e bestiais. Mas você agüentará firme. Por todo o sempre. Ou até
"o dia em que o Altíssimo com sua espada terrível decapitar a cobra tortuosa denominada
Lilith".

Layla viu sua ex-amiga mexer os lábios de forma silenciosa, e então, surgidos de lugar algum,
incontáveis demónios invadiram a sala. Horrendos, fora do alcance da descrição humana.

-Peguem-na. Ela servirá à vocês.

Quando Layla enfim conseguiu soltar o grito de seu mais profundo terror, já era tarde. Não
sabia mais onde estava, afundada em brumas vermelhas, sendo tocada e violada por diversos
membros, mãos, línguas, chifres e objectos que ela nunca saberia descrever... A polícia arrom-
bou a porta da casa uma semana depois. Os vizinhos reclamaram do mau cheiro. Encontraram
o cadáver canibalizado de um homem, "faltando diversos órgãos vitais e generosas porções de
carne e pele". Também encontraram um cadáver mumificado de uma mulher no banheiro da
casa, descrita apenas como sendo "nativa de algum lugar do Oriente Médio", essa era a citada
descrição, devido às roupas que vestia e seus traços étnicos. Um exame posterior revelaria que
o corpo tinha mais de um século e meio de idade. O corpo de Layla nunca foi encontrado, e ela
foi declarada apenas como desaparecida. A polícia também nunca encontrou a proprietária da
casa, Monique, descrita pelos vizinhos como sendo uma "santa", um exemplo de mulher ínte-
gra e dedicada ao lar. A última pista concreta do paradeiro dela foi o Hospital Central de Sisti-
nas, onde uma mulher que combinava com suas características deu entrada algum tempo
depois, na Maternidade. Na ficha hospitalar constou apenas que o parto foi difícil, "devido ao
monstruoso e desproporcional aspecto da criança, que já nasceu morta pelas deformidades".
Apesar de tudo, nunca se soube quem fez o parto, onde foi parar o cadáver do bebé, nem o
destino que levou a mãe, se é que era mesmo Monique. Tudo se perdeu na máquina burocrá-
tica do Hospital, e a polícia arquivou o caso como insolúvel.

OBS: A primeira feminista, Lilith (ou Lilitu), foi a primeira esposa de Adão,
anterior à Eva, expulsa do paraíso por querer uma relação de igualdade em
tempos patriarcais. Pode ter sido irmã siamesa do primeiro homem (unidos
pelas costas); ou lado feminino de um Adão andrógino; ou simplesmente
criada da imundície, no sexto dia da criação
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† A vítima e o algoz
"Eu sou o espelho amaldiçoado Eu sou a vítima e o algoz!

Onde a megera se olha aflita. Sou um vampiro a me esvair

Eu sou a faca e o talho atroz! - Um desses tais abandonados

Eu sou o rosto e a bofetada! Ao riso eterno condenados,

Eu sou a roda e a mão crispada, E que não podem mais sorrir!"

Heautontimoroumenos - Charles Baudelaire

Oceanário é Sistinas, mas não nos dias de hoje. No começo dos anos oitenta, quando Sammael
ainda não tinha chegado à cidade, e nem Valerie tinha seu status estabelecido com o Princess
of the Night, o point nocturno mais famoso era um estabelecimento duvidoso de nome "Club
69". Ele iria à falência anos mais tarde, quando então seria comprado, demolido, e de suas
cinzas nasceria o Princess. Mas, voltando ao Club 69, era basicamente uma casa de práticas
incomuns. Um lugar para se encher a cara de bebida, se drogar e enfim transar com quem e
como quisesse, ou assistir grupos de teatro amadores com suas incontáveis versões pornográ-
ficas de obras famosas. Às vezes aconteciam apresentações sadomasoquistas, e por aí a clien-
tela se divertia. O cardápio era mesmo variado, tinha para todos os gostos...

Inclusive para o gosto de Emily.

Deixe-me falar sobre ela. A moça era uma verdadeira beldade, corpo perfeito, jeito sensual de
caminhar. Ela rebolava mais que o necessário, é verdade, mas era algo bonito de se ver, e
tinha fala suave. Sua aparência ligeiramente anémica não combinava muito com sua alegria de
espírito, mas como tinha os cabelos mais negros já vistos numa mulher, ela raramente passava
despercebida quando entrava em algum lugar. Mesmo quando entrava num beco para vomi-
tar, pois naquela noite ela tinha passado todos seus limites. Bebeu e se drogou, muito, muito
mesmo. Aquela garota linda sentia-se vazia, e quis, por apenas uma noite que fosse, fazer algo
diferente. Caminhar sozinha até em casa foi ideia sua, mas quando se viu ajoelhada numa lata
de lixo no beco e colocando o dedo na garganta, quase se arrependeu.

-Olha isso, cara. A mina tá passando mal. Vamos ser bonzinhos e ajudá-la?

Emily olhou para trás e viu três homens, de tão bêbada. Na verdade, eram apenas dois. Um
negro enorme, o outro era um pouco mais baixo, mas igualmente forte.

-Oi gente. Eu já estava de saída. Não se preocupem comigo, tá?

-Já vai tão depressa? Vemos-te sempre no Club 69, somos seguranças lá, mas só hoje você veio
sozinha... - o fim da frase pareceu insinuar algo.

-Ah, que amáveis. Estão querendo saber se uma das clientes está legal. Ok, pessoal, circulando,
eu já estou bem. - Ela respondeu.
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-Não tão depressa, vaquinha. - Disse o negro, rindo, e a segurou pelo braço quando ela tentou
passar.

-Que isso? Me larga! - Ao lado, o outro segurança acendia um cigarro.

-Sua putinha. Sei do que você gosta. Você gosta da putaria que assiste lá dentro do clube. Aqui
também tem putaria, a diferença é que nesse beco vai ser de verdade...

Naquele beco, anos oitenta:

O negro segurava firme a cabeça de Emily, enquanto o outro segurança esfregava o pau nos
lábios cerrados dela.

-Vai Vic, fode a boquinha dessa vadia! Fode com força que estou segurando, e ela está gostan-
do, cara.

-Abre a boca, vagabunda. E ai de você se me morder, te encho de chumbo! - Ele ameaçou,


empunhando um revólver.

Ela obedeceu. No fundo, até começava mesmo a gostar da situação. Mas eles nunca saberiam.

-Que delícia. Como ela é quente, cara!

-Também quero meter na boca dessa gata, Vic.

-Não. Vamos comer logo essa puta antes que apareça alguém e acabe com a festa. Ela sabe
que se deixar a gente abusar direitinho e colaborar, sai dessa viva. Não é sua vaca? - Ele riu,
dando um leve tapa no rosto dela.

-Por favor - ela gemeu, o efeito das drogas e bebidas já quase passando - Faço o que vocês
quiserem, só não me machuquem...

-Escutou, negrão? Não queremos machucá-la. Não está a fim de traçar essa bunda branquela?

-Quietinha mina, senão te arrebento, e o Vic nem vai precisar gastar tiro com você. - Ele dizia
isso enquanto levantava a saia e tirava a calcinha dela - Vou foder gostoso seu rabo-branco, e
cê vai adorar!

Não, Emily não estava adorando. Não ainda. O negro a pegava por trás com violência, e tudo
doía, apenas. Sabia que logo, logo a dor passaria e começaria a ficar realmente gostoso, ainda
mais quando Vic deitou-se no chão, e a forçou sentar-se no pau dele:

-Agora negrão, manda bala aí atrás, que eu quero foder essa molhadinha dela até gozar! Que
delícia!

Dupla penetração era um sonho antigo da mocinha. Ela até podia disfarçar, mas seu corpo
não. Seus seios estavam duros, doloridos até, de tesão. Estava tão molhada que seu mel escor-
ria, ensopando o pau do tal Vic, que metia com força. Sem perceber, começou a gemer baixi-
nho...

-Caralho, que vadia! Ela está gostando mesmo!


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-É mesmo, então vou dar um negócio para ela que sempre quis fazer com uma mulher... mas
tinha que ser uma putinha como essa!

Emily gozou um monte de vezes. Estava entregue, e curtindo. Estavam abusando dela, Vic
metia os dedos dentro de sua boca, dava tapas na sua cara, enquanto lhe fodia. O outro
homem a preenchia por trás, rasgando suas pregas, fazendo com que sentisse dor e prazer
misturados.

-Ohhhhhhhh, vou encher sua bundinha de porra! - E o homem gozou mesmo. Emily, sentindo
tudo melado atrás, gozou também. O negro então puxou os cabelos dela, e começou a... uri-
nar!

-Ahhhhh... como é bom se aliviar depois de uma gozada dessas, cara!

-Porra negrão! Cê tá mijando no rabo dela, comigo aqui por baixo! Vai me molhar, filho da
puta!

-Sempre dou uma mijada para "limpar os canos", Vic. Mas nunca lavei um buraquinho assim
antes, me desculpa meu irmão, não resisti.

Emily gozou mais uma vez sentindo o aroma forte de urina, além do jacto quente queimando
suas preguinhas. Nunca tinha sentido aquilo antes. Ainda estava extasiada, perdera a conta de
quantos orgasmos teve, quando Vic levantou-se, jogando-a no chão. Encostou novamente o
membro nos lábios dela, e então gozou. Não satisfeito, quis também se aliviar:

-Segura a cabeça dela de novo, negrão. Vou querer aproveitar. - Dizendo isso, Vic mijou no
rosto dela. Isso sim a deixou revoltada. Todo seu prazer de ser dominada sumiu nesse momen-
to, e ela sentiu-se humilhada. É uma linha muito fina que separa as duas sensações.

Os dois seguranças, rindo entre si, vestem as calças e saem andando, deixando uma estuprada
Emily confusa entre realização e humilhação...

Anos oitenta:

Emily estava encharcada de esperma e urina, mas em compensação, totalmente recuperada


das bebidas e drogas. Ainda estava sentada naquele beco, sem saber o que fazer, quando teve
a estranha sensação de que uma porta escura ao longe a chamava. Como estava toda dolorida,
sem condições de andar, achou que entrar por aquela portinhola seria uma boa ideia.

"Uma boa ideia, como todas que eu tive nessa maldita noite. Espero não me arrepender dessa
também."O prédio estava abandonado, empoeirado, caindo aos pedaços, e, estranhamente,
nenhum mendigo morava ali. O lugar estava mesmo deserto, e não era muito pequeno. Assim
que entrou e encostou a porta, Emily enxergou aquilo: na parede oposta tinha enormes pregos
enferrujados perfurando a parede. Olhando direito como estavam pregados, ela percebeu que
tinha um em cima, outros dois nas extremas, um no meio, mas ligeiramente à direita, e o últi-
mo em baixo... Pareciam dispostos como uma cruz! Uma cruz que começava na altura exacta
da testa de Emily."Estou cansada... tão cansada." - virou-se, querendo encostar-se, quando
uma vontade maior que a sua fez com que se voltasse à parede. Então ela pegou firme no pre-
go corroído pelo tempo, justo de cima, aquele que estava bem de frente seus olhos. Assim que
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sua mão agarrou o prego e seus dedos se fecharam ao redor dele, sua palma grudou firme-
mente. Emily tentou soltar, mas fraca como estava, não dava, simplesmente não conseguia.
Começou a escorrer sangue de repente. Seu sangue. Fez a besteira de colocar a mão em outro
prego, o do centro, para se apoiar e se soltar, mas então ficou definitivamente presa. Algo
dentro da parede parecia se mexer, assim como os pregos pareciam sugar seu sangue. Quando
Emily já estava quase desmaiando com aquela estranha hemorragia, os pregos soltaram-se, e
algo libertou-se da prisão de concreto. Era uma mulher, esquelética, com umas poucas mechas
de cabelo dourado. Seus olhos eram totalmente vermelhos, assim como os lábios. Ela pegou
Emily pelo pescoço, e a mordeu. Sugou até se fartar, e então, já se parecendo mais com uma
humana, disse, calmamente:

-Por ter me libertado dessa parede, vou te dar um presente e uma maldição.

Foi a última coisa que Emily escutou em vida, e nunca mais viu aquela sinistra figura.

Acordou apenas na noite seguinte, sentindo um vazio que nunca mais preencheria. Mas tam-
bém enxergava tons desconhecidos de cores, e sentia cheiros que nunca experimentara antes.
Um, em especial, fez com que ela se levantasse...

Em algum lugar, perto do clube 69:

-Hei, Vic, olha só quem apareceu!

-Como encontrou a gente, sua vaquinha?

-Eu nunca me esqueci do seu cheiro - Emily respondeu.

-Hahahaha, a putinha gostou de cheirar seu saco cara! Vamos dar outro trato, que ela tá que-
rendo!

-Sim estou querendo chupar. Você está pronto para mim? - Quando ela disse isso, o negro
tirou o membro para fora, ainda amolecido, sem acreditar no que ouvia. Aquela menina era
mesmo muito depravada, mas ele a ensinaria uma lição. O outro segurança observava, descon-
fiado, e resolveu sacar seu revólver. Safada ou não, a putinha era muito estranha. Emily, ajoe-
lhada na frente do homem, lambia e engolia com vontade. Já sentia o pau endurecido bater
em sua garganta, era muito grande e grosso para engolir de uma vez só. Mas então ela come-
çou a chupar, e não parou mais.

-Hei, assim você está machucando.

-Que foi negrão? Não aguenta um boquete caprichado? - Brincou Vic.

-Solta, porra. Pára, pára! Larga, sua vaca!

Pelo rosto do negro, estava doendo. Seu amigo resolveu olhar, e viu que as veias do membro
dele estavam a ponto de estourar, e um filete de sangue escorria do canto da boca de Emily.

-Pára! - Ele puxava os cabelos da mulher, que agora enchia a boca de sangue - Tira ela daqui,
faz essa diaba soltar meu pau!
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Vic tentou chegar perto, e ouviu um chiado sobrenatural. Não pensou duas vezes, apontou o
revólver e atirou, estourando os miolos de Emily. A mulher tombou, mas não morreu. Ele ati-
rou de novo. Ela levantou, e ele gastou enfim seu último tiro. Viu de relance seu amigo agoni-
zando, tentando estancar a hemorragia genital com as mãos, mas vazava muito sangue...

-Morre, porra! - Gritou Vic, desesperado, e Emily sorria.

No quarto, presente:

"Morre porra! Eu já te arrebentei toda, por que não morre, sua vaca? Fecha os olhos, não olha
para mim!”Já sei. Tenho que arrancar seus olhos. Com minhas próprias mãos, nuas. É isso,
assim poderei ficar em paz. Não consigo me concentrar para sair daqui com ela me encarando
desse jeito. Ela está morta. Mortinha. Acalme-se.

Pense."

No passado:

-Atire à vontade, animal. Nunca mais irei morrer. E ainda vou escutar você gritar!

Victor estava sem balas. Descarregou o revólver na puta, e ela continuava andando! Seu amigo
já estava morto, com o olhar vidrado, no meio de uma poça de seu próprio sangue.

-Isso é por ter mijado na minha boca, na minha cara! - Ela gritou, e enfiou a mão na barriga
dele, atravessando-o. O segurança agonizava, quando ela começou a chupar seu pescoço.

-Um último... beijo, sua vadia?

Emily achou graça naquilo. O último desejo de um moribundo? Encostou sua boca na dele, e o
beijou. Mas o homem, que se recusava a morrer, mordeu seus lábios com toda a força que lhe
restava, e a vampira sangrou. Ele não durou muito depois disso, e mesmo assim morreu.

-Filho da puta. - Ela cuspiu, e saiu andando.

Na noite seguinte, Emily estava de volta ao Clube 69. Seus gostos e prazeres tinham mudado, e
ela achou aquilo tudo extremamente entediante. Saiu para caminhar, quando ouviu o chiado
que nunca mais esqueceu na sua pós-vida. Atrás dela, parado, estava um revoltado Victor, e
agora renascido como vampiro...

O quarto preto, onde termina nossa história:

"Eu segurei seu rostinho lindo, pálido, e, com meus dedões em seus olhos perturbadores,
comecei a apertar. Mas quando os globos oculares quase saltaram das órbitas, eu tremi, e
recuei. Então resolvi furar os olhos dessa puta. Me cortei todo tentando tirar uma lasca de
madeira da cama, mas consegui. Sim, agora é só furar os olhos dela. Vaca filha da puta. Me
prendeu aqui o dia todo. Quero ver se ela vai gostar disso.

Olhe bem para mim, vacona. Estava vendo esse pedaço pontudo? Então, vou enfiar devagar no
seu olho, até vazar! Você está morta mesmo, nem vai sentir, mas assim vai me deixar em paz!
Quem sabe depois disso alguém vem aqui e..."
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A porta se abriu, e um vampiro furioso apareceu. Victor, procurando sua parceira


Emily."...abre essa maldita porta?" - foi o último pensamento do maluco. O vampiro pegou sua
cabeça e girou, quebrando seu pescoço como um graveto seco. Ele tombou com os olhos arre-
galados e o pedaço de madeira ainda na mão. Nesse exacto momento Emily despertava do
sono diurno dos amaldiçoados.

-Que deu em você, Emily? Trancar-se com um mortal durante o dia na câmara lacrada?

-Ah, quis um pouco de perigo, sentir adrenalina. Você sabe, ser uma vampira imortal é ente-
diante se não fizermos nada de diferente.

-Concordo, mas quase não acorda à tempo. Ele ia furar seus olhos. Sorte sua que eu saquei
onde você estava.

-Não teria perigo. Já fizeram coisas piores com meu corpo antes, e eu ainda estou por aqui.
Mas, e o meu convidado? Ele enlouqueceu, perdeu a sanidade? Deixei uma câmara gravando,
vamos assistir ao vídeo?

Victor sorriu discretamente, no fundo ele gostava das maluquices de sua parceira. "Claro, eu
também estou curioso para ver o que você aprontou com ele."

-Sabe, durante o dia sonhei com nosso primeiro encontro. Apesar de ter sido eu quem o criou,
você acabou se tornando meu mestre, Victor.

-Formamos um casal feliz, Emily. Só isso. - O vampiro respondeu, beijando sua parceira. Em
baixo do aparelho de vídeo, um panfleto envelhecido e amarelado do Club 69...

Sistinas, nos dias de hoje:

"Algumas pessoas são como doces armadilhas. Daquelas que você sabe que vai cair e vai se dar
mal, e mesmo assim você cai.

E eu que pensava que a maior das doces armadilhas que tinha caído fui com uma mulher casa-
da. Ela só me contou esse detalhe após transarmos três vezes. E eu continuei caindo na arma-
dilha. E continuei, e continuei, até porque era bom sexo e descomprometido. O problema só
veio quando o marido traído descobriu, e...Bem, então... doces armadilhas, eu dizia. Nenhuma
das armadilhas que já vi se compara a esta: Talvez tenha sido a combinação do bumbum gran-
de com os tornozelos grossos, torneados. Irresistível para mim... Já esteve com uma mulher
que lambe entre os dedos do seu pé, e depois engole e chupa o dedão? Então, essa aqui, que
está deitada na cama na minha frente, é assim. Trepa como bicho, sabe? Arranha, morde, xin-
ga, aperta e grita. Ela foi foda. Foi muito foda! Uma mestra do sexo. Tirei a sorte grande de
pegar uma mulher assim. E peguei gostoso, viu? Droga, perdi a linha de raciocínio de novo. Eu
falava de armadilhas, não? Vou te dar alguns detalhes, e você vai entender. Acho que estou
ficando meio maluco...Meu relógio mostra que passam das nove da manhã. Normal, já que
fiquei trepando com essa fera durante a noite toda. Eu dormi o sono dos justos, descansei, e
acordei. Aí começa o problema... Ela não acorda. Na verdade, ela não respira. E agora, nesse
momento, passou algo pela minha cabeça: durante a foda toda, ela não suou. Como deixei
passar esse detalhe tão estranho? Agora está caída na cama de maneira obscena, literalmente
largada. Não parece uma mulher dormindo, não parece que simplesmente fechou os olhos e
caiu no sono. Não. Parece sim com uma criatura que repentinamente perde os movimentos
como se estivesse... morta! Que porra, que aconteceu com ela? Ela tá MORTA mesmo! Será
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que se drogou e sofreu uma overdose? Será que teve um ataque cardíaco? Acordar ao lado de
um cadáver é o pior que poderia acontecer a alguém, e justo comigo! Mas o pior eu ainda não
contei...Estou com essa defunta numa sala fechada, porta lisa, sem maçaneta alguma, não tem
janelas, e excepto pela cama redonda, vermelha e macia, o lugar está vazio. Sem mobília. Sem
vidraças, sem nada! As paredes são pretas, de muito mau gosto, com alguns detalhes em
néon. O piso é bem sólido, por baixo de um tapete roxo. O teto é alto para caralho, se bem
que não tem abertura alguma lá, mas mesmo assim eu não alcançaria. Eu não sei mais o que
fazer. Já gritei demais, minha garganta dói. Ninguém me ouve, e eu também não ouço nada
vindo lá de fora. Acho que esse quarto é isolado. Pior que algumas ideias macabras me passa-
ram pela cabeça, coisas de maluco mesmo, que nem ouso pensar nelas novamente, mas... será
que vou ter que comer carne de cadáver para não passar fome?"

O quarto preto, no presente:

"Já é tardezinha, e eu aqui ainda trancado com uma morta. Estou perdido, sem saber o que
fazer. Só tenho a roupa do corpo, meu relógio que se tornou meu único elo com o mundo real,
e mais nada. Já chequei nas poucas roupas dela, que estão caídas no tapete roxo do chão, mas
não achei chave alguma. A porta por onde entramos aqui é totalmente lisa, tentei cravar
minhas unhas em algum lugar, mas não vejo sequer um vão. Como já disse, não tem fechadu-
ra, o que me leva à conclusão de que ela só abre por fora...Nada de janelas, e o próprio ar des-
se quartinho é abafado. Não consigo raciocinar mais nada. Já tentei quebrar os luminosos de
néon da parede, mas só consegui me machucar. Não sei no que isso me ajudaria, mas acho
que preciso quebrar alguma coisa. Quebrar? Sim, eu já bati na defunta. Te juro. Minha raiva é
tanta, que a espanquei. Ela não está mais na cama. Eu a joguei no chão, montei nela, e a esbo-
feteei toda! Pura frustração. Pensei em fazer sexo com ela, afinal, é muito bonita mas, mas...
ela é um cadáver com carnes endurecidas e gélidas. Então eu a chutei. Uma, duas, várias
vezes! Quebrei o maxilar dela e algumas de suas costelas, depois me arrependi e fiquei com
medo. Medo? É que ela parece tão morta nas últimas horas, que até evito encostar nela. Ao
mesmo tempo, estou com um temor quase irracional de que ela irá se levantar. Não sei de
onde tirei essa ideia, mas...

- Porra, socorro! Alguém abra essa maldita porta! Quero acordar desse pesadelo!"

O quarto preto:

"Eu estava deitado na cama, ainda pensando no que fazer, quando ela se mexeu! Eu juro, a
mulher-defunta se mexeu! Pode ser aquilo que os legistas dos seriados de tv sempre falam,
rigor mortis, que os mortos produzem movimentos involuntários. Pode ser, mas essa porra
abriu os olhos, e está me encarando! Não são olhos mortos, eles brilham, por Deus, eu juro!
Ela ainda está no chão, na mesma posição que a deixei, não moveu um músculo, mas o olhar...
Estou ficando maluco!

-“Eu quero que ela morra, definitivamente. Preciso matá-la. Mas, como? Como matar algo que
já está morto?”
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Passa das seis, quase noite. Passei o dia inteiro preso aqui dentro. Estou vendo coisas, imagi-
nando, preciso sair daqui. Já gritei demais, e ninguém apareceu para abrir a maldita porta. Não
ouço nada além de silêncio. Só minha própria respiração..."

† Alma-Mater
"Minha queda será por você E se você for aquele que me cortar

Minha queda será por você Eu sangrarei para sempre"

Meu amor estará em você

Ghost Love Score - Nightwish

"Droga, por que não está funcionando?"

O vampiro rasgou novamente o próprio pulso, que já tinha cicatrizado desde o último talho
feito poucos minutos atrás, e soltou novamente um pouco de seu sangue. Viscoso, bem mais
escarlate que o de Jolene, bem mais que o de qualquer humano. E mais potente também.

"O sangue é tudo. Tudo empalidece ante o sangue..."

Concentrado, como isso fosse fortalecer a maldição que queria impor à Jolene, ele deixou pin-
gar sete grandes gotas na já vermelha boca de sua amada. Olhou para o relógio, impaciente e
com medo. O visor verde brilhante marcava 21/02 - 01:02am.

"Já se passaram cinco horas! Jolene, meu amor, acorde, preciso de você!"

O cheiro de sexo do lugar já tinha se dissipado. Jolene aceitou enfim, após meses de tentação
do vampiro, ser transformada em sua amante eterna. Agora jazia na cama, morta, e mesmo
com todo o sangue que ele lhe dava, ela não se levantava da morte.

"Apenas uma questão de horas, mas não devia demorar tanto!"

Seu mestre tinha lhe dito, em outra era, que o processo de criação de um filho, parceiro e
amante era perigoso. Ele acreditava nisso, tanto que só agora, com mais de um século de exis-
tência solitária, decidiu que era hora de dar a dádiva do sangue para alguém. Escolheu Jolene,
a testou, atormentou e seduziu durante exactamente um ano. Era o mais próximo de uma
alma gémea que ele tinha encontrado. Percebeu que nunca tinha desejado tanto uma pessoa
em sua mísera pós-vida. A queria, e muito, para sempre. Tinha que ser para sempre! A mulher
estava deitada, nua. Antes de aceitar morrer, para renascer como vampira, fez apenas o der-
radeiro pedido: queria realizar sua mais louca fantasia sexual com ele. O vampiro olhou nova-
mente para o relógio, assaltado por lembranças do que conversaram dias atrás...

-Quero que seja numa data especial para você. E que seja significante para mim também! - Ela
disse certa vez.
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-Então quando. Não quero mais te deixar como humana, você é muito frágil. Quero lhe trans-
formar logo. - Respondeu ele naquela noite, tentando entender por que as mulheres são tão
ligadas em datas, muito mais que os homens.

-Sei quando poderá ser. Um dia ÚNICO em nosso tempo, que nunca acontecerá de novo!

O vampiro ficou curioso. "Quando?"

Com um sorriso lindo, e um brilho maravilhoso no olhar, como se tivesse enfim descoberto o
sentido da vida, Jolene ajeitou-se na cama e contou em detalhes como queria morrer:

-Será no dia 20 de Fevereiro do ano da graça de 2002. - Começou, cerimoniosamente.

-Yantra? - Ele sorriu, entendendo enfim.

-Sim. Nesse dia, que os calendários do mundo todo marcarão como 20/02 2002, eu me entre-
garei à você, pela última vez como humana...

-E?

-E então, exactamente às 20:02 dessa noite, você irá me penetrar. Com carinho, tesão, e selva-
geria em doses iguais. Quero sentir sua essência nesse exacto minuto!

O vampiro concordou com a cabeça, gostando da ideia. "Continue".

-Você vai transar comigo. Eu me entregarei à ti como nunca, nos completando como os maio-
res amantes, entre a vida e a morte. No fim, no auge do meu orgasmo, que você reconhece
tão bem, você me matará.

Qualquer pessoa soaria como maluca e suicida ao afirmar aquilo com tanta naturalidade e
paixão, mas Jolene não. Ela queria ser sua amante eterna, não conseguia pensar em prova
maior de amor. Eles queriam ficar juntos, apenas. Era tão aceitável, tão normal, que o bizarro
de alguém dizer que quer morrer gozando, sorrindo, desapareceu completamente.

-Tem que ser brutal. Será uma noite para guardarmos por toda a eternidade. E tem algo que
eu nem precisaria pedir, mas quero de você, Jolene.

-E o que seria?

-Você será minha putinha sombria. Farei de tudo com você, que obedecerá, sem reclamar, e
eu não pararei se doer, nem se te humilhar.

-Já parou para pensar que posso gostar disso?

-Continuando, quero você com um sensual vestido, meia-calça, e botas. Não acho que preciso
comentar a cor, não é mesmo Jolene?

-Eu usarei um modelito mais negro que seus olhos, meu vampiro.

No dia do fatídico palíndromo matemático, 20 de Fevereiro de 2002, o vampiro acordou no


exacto minuto do último raio solar.
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"Acordar" era um termo esquisito, já que ele não dormia realmente. Apenas não conseguia se
mover enquanto o Sol estava no céu. Ficava acordado, entre um mundo de sonhos e trevas, e
a dura realidade. E às vezes tinha pesadelos horríveis...

Não naquele dia. Imaginou apenas sua Jolene. O que faz uma pessoa no dia de sua morte?
Será que ela visitou alguém? Telefonou ao menos? Como foi seu último banho? Deixou algum

Recado, algum e-mail para os amigos? Dúvidas estranhas até para a mente de um vampiro.

Com a ideia fixa de enfim transformar Jolene em sua amante eterna, de possuir aquela que
desejou desde o primeiro momento que viu, chegou até a casa dela. A noite deveria estar lin-
da, mas não. Estava estranha. Teve uma péssima sensação, mas ignorou o que sentiu, e a cha-
mou. Não precisava bater à porta, nem tocar campainha, nada. Apenas chamar, à sua maneira,
quase um sussurro, mas tão poderoso que podia dobrar a mais ferrenha força de vontade.

Quando a porta se abriu, o vampiro só confirmou sua escolha. Ela estava deslumbrante. O
vestido mostrava o necessário, e encobria o que ele mais desejava. Sentiu a vontade de aper-
tá-la, agarrá-la com força.

E foi o que ele fez. Quando ela disse, baixinho, encarando seus olhos negros, "bem -vindo à
noite de nossas vidas", o vampiro a empurrou para dentro da casa. Não houve tempo para
conversa, nem ao menos para se trancar a porta. Ele a encostou na parede, e lhe deu o mais
ardente beijo, que a deixou totalmente sem fôlego.

Correu as mãos por todo o corpo dela, apertando, agarrando, arranhando e o marcando como
seu. Cada vez que alisava algo, ela gemia docemente, compartilhando com a boca dele seus
suspiros.

Os gemidos ficaram mais altos quando ele pôs as mãos por baixo do vestido. Arranhou a meia-
calça, e apalpou as coxas e o bumbum dela. O beijo já durava quase cinco minutos, Jolene já
queimava de tesão e desejo, e também procurava pelo corpo dele, puxava para si, alisava prin-
cipalmente o peito e cintura. Os mamilos duros apareceram por baixo do tecido.

Ele a virou de costas, bruscamente. Jolene adorava uma respiração masculina em seu pescoço
que não veio, não desse vampiro. Mas ela já era acostumada há esses pequenos detalhes.
Pensava nisso, quando ele ameaçou pôr o dedo por entre a virilha dela e a calcinha. Gemeu.
Então sentiu seus seios sendo apertados, e ouviu a voz sombria dizendo coisas em seu ouvido,
soube então, naquele momento, enquanto sentia o dedo dele invadindo a borda da lingerie
que usava, como seu vampiro queria comê-la. Ele sussurrava, mas ela acatava como se fossem
comandos, ditados por uma majestade negra, que preenchia suas fantasias. Quis fechar as
pernas, mas quando ouviu dele o que faria na cama, molhou totalmente a calcinha e o dedo de
seu sedutor.

De costas, ela rebolava, se esfregando nele, e de vez em quando erguia uma das botas, uma
visão excitante. Estava ficando difícil de controlar, queria seu vampiro logo. Então ele rasgou
de repente a calcinha negra, deixando suas carnes húmidas desprotegidas. Começou a se
esfregar nela também, insinuando... O leve vaivém dele atrás a deixava maluca.
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Apertou forte os seios macios, firmes, beijando-lhe as costas. Enroscava-se nos cabelos dela, e
dizia baixinho que enfim a teria por completo, para sempre. Forçou a mulher na parede,
ergueu o vestido, alisando e abrindo o bumbum dela. Viu nesse momento como sua amante
estava molhada, e apressadamente desfivelou a própria calça. Encostou seu membro ansioso,
sentindo o calor que emanava da carne, que ele não possuía, mas queria sempre.

-Ainda não... - ela gemeu, baixinho. - Apenas às 20...

Passou o membro entre as nádegas dela, cortando o raciocínio da mulher.

-OHHHHH - ela gemeu, tentando falar - Lembre-se, nós vamos ritualizar a coisa...

Começou a mexer no sexo dela, masturbando. Gostava de excitá-la. Adorava. Faltavam poucos
minutos para o palíndromo. Então a jogou na cama, exibindo o membro. Tão perto do rosto
dela, que instintivamente o abocanhou. Sugou com força e vontade, de vez em quando lambia
demoradamente, para depois alternar com chupadas rápidas. Em determinado momento, o
masturbou enquanto lambia e molhava todo o saco dele. Queria tudo. Ele segurou os cabelos
dela. Aos poucos, foi forçando a entrada do membro duro preenchendo toda a boca. Movi-
mentou um pouco, como sempre fazia, enquanto ela caprichava. Soltava as alças do vestido,
expondo os seios.

-Não goze na minha boca. Não ainda! Você sabe onde quero... - suspirou, continuando.

Sem aviso ele a forçou deitar na cama, e só então ela entendeu. Estava na hora. Abriu as per-
nas, e ele se aconchegou entre elas. A penetração foi facilitada por toda a lubrificação que as
preliminares tinham provocado. Olhou para o relógio... 20:02. Ele começou devagar, depois foi
aumentando o ritmo e a força. Em pouco tempo, pareciam dois animais no cio. Fodiam como
loucos, estocadas rápidas e violentas. Machucava o sexo dela, que então apoiou as botas nas
coxas dele. Apertou o salto, ferindo a carne do vampiro. Meteu mais forte que antes, e ela
gozou a primeira vez. Suava como uma louca, e gritava. Ele tirou lentamente o membro
molhado de dentro dela, e a virou. A mulher ficou de quatro, e com isso lhe dava a permissão
para fazer o que bem quisesse de seu corpo. Então sentiu o vampiro lhe tirando as botas
negras. Primeiro tirou uma das meias de seda. Colocou os braços dela para trás, e a amarrou
firmemente pelos pulsos. Indefesa, Jolene quase teve um orgasmo só de sentir o nó forte.
Sentiu então uma nova penetração, adorando cada estocada. Ele a controlava pela cintura,
puxando o vestido negro como se fossem as rédeas de sua fêmea submissa. Às vezes a segura-
va pelas mãos atadas, e ela delirava. Gozou mais uma vez, de maneira ainda mais intensa.

-Agora, Jolene, nosso grand finale. Te vejo do outro lado. Quando acordar dessa última gozada
que te darei, você verá o mundo de outra maneira. Relaxe e aproveite! - Disse isso afastando
as nádegas dela.

A mulher sorriu maliciosamente, ainda amarrada. Não o via, pois estava de costas, atada, mas
sentiu o vampiro lhe tirando a outra meia de seda. Que faria agora? Ele a penetrou, e Jolene
rebolou, colaborando. Seu buraquinho ardia, mas ela queria aquilo. Sentiu a meia de seda
encobrir seus olhos, e então ele começou a meter muito forte. A mulher sentia que seria ras-
gada, mas o tesão encobria tudo. A dor era irrelevante agora. Ele a fodia e puxava pela venda
improvisada, a sensação era deliciosa! Jolene gozou mais uma vez, mas nem percebeu isso,
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pois ele não parava. Já não ardia mais sua bundinha, agora aceitando o membro intruso
entrando e saindo naturalmente, quando a meia foi passada em torno de seu pescoço. Uma,
duas voltas... Ele iria sufocá-la! O vampiro meteu como nunca. Cavalgava Jolene e a domava,
puxando forte a meia de seda. Quis sentir as fortíssimas contracções vaginais dela, até pelo
outro orgasmo que chegava, mas principalmente por que o ar estava faltando à sua amante.
Então tirou o membro e penetrou rapidamente a vagina. Ela tossia, misturando gemidos com
pedidos de súplicas e inchamentos. Ele quase gozava, mas de repente percebeu que queria ver
a morte nos olhos dela... Afrouxou a meia, e sentiu o alívio da parceira, que gozou mais uma
vez, e então desabou respirando forte. O vampiro a virou, soltando as mãos atadas. Queria
sentir as unhadas. Ela entendeu que tinha enfim chegado a hora. Iria morrer. Ele nunca tinha
deixado Jolene tão molhada. Com um sorriso, afastou as coxas dela, e a penetrou de novo.
Deslizou fácil. Começou a enfiar forte, ela apertava seu bumbum, forçando mais e mais a
penetração. Então ele embolou a meia, e olhou cinicamente para sua amante. Antes que ele a
amordaçasse, ela perguntou:

-Você me ama, vampiro?

-Sim.

-Amará para sempre? - Ela gemeu.

-Pela eternidade que teremos juntos.

Jolene sorriu. Mal sabia que tinha dito suas últimas palavras. Ele enfiou a meia embolada na
sua boca, e em seguida fechou os dedos como aço por cima. Começou fodê-la de novo, com
toda a força que lhe restava. Olhando-se fixamente, os dois pareciam dizer "te amo" telepacti-
camente. Mas Jolene começou a entrar em desespero com a falta de ar. Teve um orgasmo
selvagem, intenso, enquanto arranhava todo o corpo dele. Debatia, tentava em vão escapar,
mas nada adiantava. Uma lágrima solitária apareceu no olhar dela, escorrendo até a mão do
vampiro. Olhar de súplica. Agora não tinha mais volta. Ele então realizou seu desejo, soltando
uma grande quantidade de sémen estéril dentro dela, vendo a morte capturada no olhar de
sua amante. Um último brilho no olhar de Jolene, que se apagou, enquanto o vampiro dizia
suavemente que ela voltaria para ser eterna. Mas a mulher já não ouvia mais. Estava morta...

OBS: Esse texto, Alma-Mater, originalmente era sobre cobiça, e fazia parte
do Se7e, meu projecto sobre os 7 pecados capitais, mas acabou se tornando
algo maior. Um conto individual, que enriqueci com o fato único desse 2002:
o palíndromo matemático. Sobre a fantasia do casal, trata-se simplesmente
de asfixia ou ANOXIA ERÓTICA, onde os adeptos se deliciam com a falta de
oxigénio, aumentando o prazer. É uma prática perigosa. Em 1996, por exem-
plo, uma americana louca chamada Sharon Lopatka procurou pela Internet
alguém disposto a estrangulá-la até o limite da morte durante a transa. Sha-
ron achou um parceiro e foi ao encontro do cara... Mas, durante a festa, ele
errou a mão e acabou realmente provocando a morte dela...

† Corpos sem alma


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Ao amanhecer do dia 7 de abril de 1903, a forca estava pronta. A taça de vinho, que fora seu
último pedido, era para erguer um brinde ao maligno. Seria pendurado até a morte.
MAETH.Tudo lembrava aquela criatura. Ela esteve no pensamento dele durante os últimos
quinze anos, e, mesmo agora, na última noite de sua vida, Severin Antoniovich Klosowski não
pode dormir. No começo, depois de sobreviver ao primeiro e único encontro com aquela...
coisa, ele dormia com uma faca escondida sob o travesseiro. Isso até a idiota da esposa - Lucy
Baderski - estragar tudo. Ele quis arrancar a cabeça gorda dela e enterrá-la no jardim; uma
imbecil incapaz de cuidar do filho do casal. O ano era 1891, e eles estavam em Nova Jérsey, na
América, bem longe do antigo endereço dele, uma discreta barbearia de Cable Street, 126.
Sim, acredite, ele era um barbeiro. Mas antes disso, aquele judeu polonês fora cirurgião no
hospital de Varsóvia até migrar para Londres. Londres, Whitechapel. Não, ele resolveu ir para
longe. Bem longe, na América, além do atlântico. Mas ainda assim Severin temia a criatura. Só
teve alivio quando encontrou aquela moça (Carrie, não era?), onde descontou toda a fúria pela
morte do filho. Ele tentou, engravidou Lucy, quis ter uma vida normal... Mas ele pode? Não,
não pode. Aquela moça, Carrie. Foi tão bom correr os dedos em seu pescoço, apertar e depois
abrir, brincar com ela... Tão bom, tão certo quanto antes.

Antes daquela criatura em Whitechapel.

Ele quis voltar à Londres, e realmente voltou no maio seguinte. Lucy não era mais sua. Ela vol-
tou sozinha para a Inglaterra antes, já ele voltou tão excitado após Carrie que casou-se nova-
mente, agora com Annie Chapman, um nome do passado coincidentemente, que soava tão
agradável aos seus ouvidos... Tanto que resolver mudar, passou a ser chamado de George
Chapman. Ele desistiu dela em 1894, tudo por causa daquela pianista. Mary. Suas mãos de
fada percorriam as teclas, tecendo melodias enquanto ele barbeava os clientes. Sim, ele voltou
a ser barbeiro, assim como voltou a maltratar a mulher ao seu lado, uma sina. Gostava de
espancá-la, e só agora, à beira de seu próprio enforcamento que ele relembra: a primeira vez
que bateu em Mary foi por ter visto claramente as feições da criatura sobrepostas ao rosto
dela... A criatura de Whitechapel sabia que ele estava de volta. Então ele não poderia... brincar
com Mary Spink. Decidiu que era hora de usar aquele molho sem cor nem cheiro que conse-
guiu comprar graças aos seus conhecimentos sobre as propriedades do antimônio. Sempre
que espancava sua mulher, ela obedientemente fazia tudo o que lhe era pedido, inclusive
beber das pequenas doses... A barbearia, obviamente, deixou de ser um sucesso com Mary
vomitando duas vezes (ou mais) por dia. O negócio acabou por falir. É nesse ponto, no ano de
1897, que pela primeira vez a lei dos homens se aproxima dele. George Chapman diz que a
esposa morrera de tuberculose, negando a verdade; que em anos de envenenamento metódi-
co e calculado ela já praticamente não tinha mais estômago. Uma morte lenta e dolorida para
ser apenas tuberculose, não? Para despistar a polícia ele casou-se com Bessie Taylor. Quis dei-
xar a poeira baixar, mas novamente a criatura voltou para assombrá-lo. Tinha que espancá-la
toda noite, até decidir que usaria antimônio novamente. Tratou de ser mais cuidadoso dessa
vez, controlava tanto as doses que podia decidir se ela teria diarréias ou apenas ânsia de vômi-
to. Bessie morreu em 1901. E ele descobre Maud Marsh, e também aprende que pior do que
uma mulher, só duas juntas. Ela tinha uma mãe que se importava, e muito, com a filha. Foi a
senhora que decidiu levá-la ao médico, estranhando as fortíssimas dores no estômago que a
afligiam. Mas George Chapman - que já tinha sido Severin - não deixaria outro médico analisar
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sua mulher no dia seguinte, e no jantar lhe dá tanto antimônio que ela nem chegou a deixar a
mesa, morrendo envenenada ali mesmo. Sua mãe exigiu a exumação do cadáver, e a polícia
exumou as outras falecidas esposas também, encontrando, claro, veneno em todos aqueles
corpos. O segredo macabro tinha sido descoberto e revelado! O envenenador olhou para a
forca, na aurora do século: "Mal sabem eles que isso pelo qual me enforcam não é nada..."
Então ele se vê pendurado; a corda fechando suas vias aéreas, fechando também sua jugular,
obstruindo a carótida, que por reflexo reduzirá suas batidas cardíacas devido à alta pressão
nas artérias, causando um colapso definitivo no coração. Imaginou-se morrendo, mas não era
sua hora ainda...

1888.
O bairro londrino de Whitechapel era um labirinto de pátios, becos e vielas mal iluminadas por
lamparinas a gás, atravessado por carruagens e prostitutas mal-vestidas, vagabundos, mari-
nheiros, estivadores, pedreiros e açougueiros. As ruas viviam atoladas de excrementos e san-
gue. Lixo e entulhos acumulados misturavam com água de esgoto, e o lugar exalava um cheiro
realmente horrível. Mas, fugidos de perseguições na Prússia e leste europeu, uma crescente
onda de imigrantes judeus se estabelecem em Whitechapel, atraídos principalmente pelos
aluguéis baratos. Com seus costumes e regras de higiene, eles acabam sendo benéficos,
melhorando as condições sanitárias daquela região, um lugar tão pobre "que era raro ver uma
camisa limpa e cabelos penteados". Os empregos mais comuns eram na confecção de bolsas,
chinelos e caixas de fósforo. As mulheres limpavam pisos, eram costureiras e lavadeiras. A
polícia estimava em torno de mil e duzentas prostitutas, sem contar as mulheres que even-
tualmente prestavam favores sexuais para complementar a renda. O incesto era muito
comum, e meninas de doze anos já faziam sexo por dinheiro, algumas até transavam com
marinheiros apenas para obter um passe, algo que lhes permitiria fugir dali. Mas o puritanismo
e o rigor moral da era vitoriana influenciava as pessoas, e algo despertou no meio das vielas
frias e escuras de Whitechapel, para desempenhar o papel de exterminador. Armado com sua
longa e afiada faca, escondido por entre o fog, a neblina londrina que parecia saída diretamen-
te do inferno para aquela região, ele decidiu começar seu trabalho macabro... Durante o dia os
gritos irritantes dos jornaleiros se misturavam com os dos animais mortos nos abatedouros.
Era como se o Banshee - criatura lendária escocesa cujo grito anunciava a morte - caminhasse
livremente pelas ruas. Mas nunca saberemos se ela gritou, naquela madrugada de domingo, 6
de agosto. Uma prostituta de trinta e nove anos foi encontrada assassinada em George Yard.
Ela foi esfaqueada várias vezes no corpo, pescoço e partes íntimas. Chamava-se Martha
Tabram, e era uma das nove mil almas perdidas que sobreviviam em pensões, que se não
tinham dinheiro para pagar por um leito, deviam encontrar alguém com quem dormir pagando
com sexo, para não ficarem pela rua. Poucas horas antes do crime, guiado por iluminação divi-
na, George Akin Lusk, um judeu empreiteiro de obras e membro importante da sinagoga de
Whitechapel, saiu acompanhado com outros dois homens de sua confiança. Estavam em
alguma margem do rio Tâmisa, moldando algo em barro, e demorariam em voltar para casa
naquela noite. Lusk era um grande homem, muito sábio e versado na Torah, no Talmud e na
Caballah:
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-E Ele insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo. - disse, e
uma estátua feminina se ergueu, nua, e o encarou. Ainda estava úmida da água do rio.

-Paracelso, o grande alquimista da Idade Média, afirmava ser capaz de criar criaturas vivas com
poderes mágicos, em ovos ou em recipientes de vidro misturando apenas terra e água, mas
nada se compara com isto! - disse um dos homens que ali estava.

-Homunculus? Não, meu amigo. Essa estátua é um golem, até mesmo a bíblia fala deles. Já o
Talmud, que guia minha vida, diz que somos formados por letras e números. Acredito que,
com as combinações certas, posso criar seres a partir do nada, como acabo de fazer...

Enquanto cobria a nudez da recém-nascida mulher de barro, George Lusk sabia que tinha cria-
do um milagre, mas, ironicamente, isso era sinal de que tempos negros se abateriam sobre seu
povo. Essa criatura, ainda sem um nome dado por seu criador, seria vista nas ruas caçando
numa madrugada de sexta-feira, 31 de agosto. Poucos notavam sua presença, e esses poucos
percebiam que havia algo de sobrenatural nela.

-Por que se prostitui, mulher? - alguém perguntava a Polly, uma bêbada de quarenta e dois
anos de idade.

-Preciso do dinheiro. - ela respondeu, e quando sorriu mostrou que lhe faltavam os cinco den-
tes da frente.

-Essas ruas estão imundas. Terei que lavá-las com sangue, e só então estarão purificadas!

Quando o comerciante George Cross saiu para trabalhar, um pouco antes das quatro da
manhã, a viela estava iluminada apenas por uma lamparina. Ele viu algo caído na calçada.
Parecia ser apenas um grande fardo, contendo alguma coisa, mas não... Era uma mulher, e seu
vestido estava erguido até a cintura. Achando que se tratava de uma vítima de assalto ou
estupro, George pediu ajuda para outro homem que passava por ali. Nenhum deles tinha idéia
do horror que estava em suas mãos. Apenas quando o policial chegou e iluminou o corpo com
sua lanterna é que Whitechapel, e conseqüentemente toda Londres, descobriram que um pre-
dador noturno, a personificação da morte agora silenciosa e sem face, mancharia ainda mais
com sangue as ruas dali até o rio Tâmisa! A infeliz prostituta, que permanecia com os olhos
abertos encarando o vazio, teve a garganta cortada de uma orelha à outra por duas vezes, com
tamanha brutalidade que a lâmina penetrou até sua coluna vertebral. Essa foi a causa da mor-
te, segundo o doutor que examinou o cadáver no necrotério. Seu abdômen estava totalmente
dilacerado, por onde as vísceras foram retiradas com uma lâmina de, no mínimo, vinte centí-
metros. O inspetor responsável pela investigação era o experiente Frederick George Abberline.
Ele identificou a mulher como Mary Ann "Polly" Nichols, uma vida que chegou ao fim cercada
pela pobreza de sempre: seus pertences eram apenas um pente, um espelho quebrado e um
lenço. Esse crime - junto com a morte de Martha Tabram, duas prostitutas miseráveis evisce-
radas- acorda de vez a opinião pública, que percebe que não se tratam de assaltos, nem de
estupros, pois não existem sinais de atividade sexual, nem vestígios de esperma. Todos agora
sabem que na escuridão da madrugada, um assassino maluco está solto! É quando surge o
boato do "Avental de couro", um judeu que conserta botas e que já foi visto espancando
mulheres.
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-Judeu assassino!

Gritava o jornaleiro, agitando a edição do "The Star" nas mãos.

- Saibam tudo sobre o estrangeiro que veste um avental de couro e usa bigodinho preto, leiam
os depoimentos das mulheres que se encontraram com ele e sobreviveram!

Mas um outro judeu, George Lusk, ficava cada vez mais irritado. Diziam na sinagoga que ele
era dono de poderes mentais e espirituais acima da média. Mas ele só conseguia ver as trevas
cobrindo as estreitas vielas, se espalhando junto com a neblina noturna. Agora sabia que tinha
tomado a atitude certa. Se o assassino não parecia ser humano, só algo parecido podia pará-lo.
A revelação de sua missão veio quando leu uma passagem do Talmud babilônico:

"Se desejassem corretamente, poderiam criar um mundo, porque está escrito: suas iniqüida-
des são uma barreira entre você e D'us."

E Lusk tinha criado algo, naquela noite às margens do Tâmisa. A criatura que quiseram batizar
de Shayne, que em yidish significava "linda". Ele, por sua vez, preferiu chamá-la de Samara, do
hebraico "guardião". Mas não, depois achou um nome muito melhor para sua cria... O inspetor
Abberline estava perplexo com os dois crimes. Em vinte e cinco anos de polícia, ainda não
tinha visto nada daquele tipo. Nos dias de hoje seria fácil identificar o assassino, mas naquela
época não existiam técnicas como análise das impressões digitais ou de tipos sanguíneos. A
única maneira seria pegar o criminoso em flagrante, ou caso alguma testemunha viesse depor
contra. Mas aquele assassino não deixava rastros, ninguém o enxergava, era quase sobrenatu-
ral! Annie Chapman tinha, sem saber, tuberculose. No dia 7 de setembro, plena sexta-feira, ela
disse à sua amiga Amelia que precisava se mexer para ter dinheiro onde passar a noite, apesar
de sentir-se doente. Conhecida nas redondezas como Dark Annie, ela era gorducha e também
faltavam-lhe dentes alguns na boca. Não tinha um lar desde que o marido morrera, e com isso
sofria de depressão e alcoolismo. Vendia flores e fazia costuras, além de se prostituir. Perto
das duas da manhã de sábado, Annie estava levemente bêbada e saiu do alojamento para con-
seguir algum dinheiro fácil, ou talvez o mais difícil de sua vida. Um pouco mais tarde, Elizabeth
Long estava saindo do mercado quando ouviu o relógio da fábrica de cerveja Black Eagle bater
cinco e meia da madrugada. Ela viu Annie conversando com um homem, na veneziana do nº
29. Mal sabia que tinha acabado de ver o assassino de Whitechapel, a cinco metros de onde
fora encontrado o corpo da segunda vítima, Polly Nichols!

-Vamos ali atrás?

-O que vai me mostrar? - Annie estava mais bêbada ainda, pois o dinheiro que conseguiu deu
para pagar a pensão e ainda comprar uma garrafa.

-Algo que você nunca esquecerá.

Dark Annie também não gritou. Ele segurou o queixo dela e passou a lâmina. Enquanto cortava
as entranhas da mulher, resmungava algo sobre metade das crianças de Whitechapel nem
completarem cinco anos de idade. Era um sinal, devia significar algo. "O mal deve ser arranca-
do pela raíz..."
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O assassino terminou o ritual e então parou, ouvindo a própria noite. Foi quando percebeu
que algo estava atrás dele. Correu como nunca, com a faca ensangüentada nas mãos, e agora
sabia que estava sendo perseguido por algo além da polícia. Algo que não parecia ser desse
mundo! John Davis era um morador da pensão em Hambury Street. Foi ele quem encontrou o
corpo de Annie às seis da manhã, também com o vestido erguido até a cintura. O abdômen
estava aberto e os intestinos estavam perto dos ombros dela. A parte superior da vagina e dois
terços da bexiga tinham sido totalmente removidos, levados pelo assassino. As incisões eram
precisas, evitando o reto, e dividindo a vagina o suficiente para evitar danificar o colo do útero,
demonstrando habilidade e conhecimento anatômico. O assassino tinha cortado a garganta de
Annie da esquerda para a direita, uma tentativa falha de decapitá-la. Não havia sinal de
estrangulamento. Por ironia, o corpo é levado no mesmo caixão usado para transportar Polly
Nichols. Naquele mesmo dia, a única testemunha ocular depõe; Elizabeth Long, que descreve o
homem (apesar dele estar de costas para ela): "Ele era alto, em torno dos quarenta anos e
usava um casaco preto. Parecia estrangeiro..." As ruas antes transbordantes de Whitechapel
agora estavam desertas à noite, e as pessoas raivosas com a falta de resultados da polícia, que
tem poucas informações. As mulheres estavam sendo mortas pelo mesmo homem, e pela
mesma lâmina. Tratava-se de uma faca de açougueiro ou então um instrumento cirúrgico mui-
to afiado. Um pedaço de couro é encontrado perto do corpo de Annie Chapman, e um avental
de couro é visto mergulhado num balde a alguns metros do corpo, e todos começam a falar
novamente no judeu "Avental de couro". Todos esses eventos, somados com o depoimento de
Elizabeth Long chamando o suspeito de estrangeiro, e todos na rua passaram a apontar para
os imigrantes judeus. Aquele pedaço de inferno vive então uma intolerante atmosfera anti-
Semítica. Um grupo de comerciantes judeus percebem o risco que correm, e criam o comitê de
vigilância de Mile End para fazer uma vigília ostensiva, patrulhando os arredores. O chefe do
comitê era ninguém menos que George Akin Lusk. Esse comitê formado por dezesseis homens
de negócios contava também com Samuel Montagu, que era membro do parlamento. Foi ele
quem deu vazão aos medos da comunidade primeiro:

-Ofereci uma gorda recompensa pela captura desse maldito assassino. Confesso que tenho
medo da população achar que essa besta matadora seja um dos nossos.

-E você acha que não é? - perguntou alguém. - Por quê?

-Porque são boatos! Pura discriminação contra nossa raça, por nossa higiene e prosperidade!
Apesar de estarmos na Inglaterra, nada mudou desde os pogrons do passado, em outras ter-
ras, quando católicos invadiam nossos guetos para nos saquear e promover matanças e
banhos de sangue!

-Lembram-se da calúnia de sangue que atingiu os judeus em Praga? - pergunta Lusk - A igreja
afirmava que bebíamos crianças cristãs durante o Sêder de Pessach. O cruel da situação era
que os sacerdotes católicos enterravam crianças mortas em nossos jardins e com isso criavam
os motivos para nos chacinar e confiscar as propriedades para a igreja.

-Tempos negros, mas nossa comunidade é forte contra os inimigos de Israel. Mesmo assim
precisamos tomar providências, ou então seremos novamente alvos de pogrons como no pas-
sado, torno a dizer! - respondeu Montagu.
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George Lusk baixou a cabeça por um minuto, e um silêncio se seguiu. Alguns pensavam no que
dizer, quando ele ergueu o olhar:

-Eu já tomei providências...

Cabalista, Lusk era um permutador das letras e dos valores simbólicos dos números. Dominava
a Temurah, combinando letras de uma palavra com outras para gerar efeitos místicos. Além
disso, era um estudioso da Gematria feita com o alfabeto hebraico, grego e fenício. Ele conti-
nuou a falar:

-Diferente de você, sei que o assassino é um judeu. E antecipando a ameaça, criei um guar-
dião. Lembra-se da mesma comunidade de Praga que citei, e da criatura do rabbi Yehudah
Loew?

-Está se referindo à criatura dos delírios de Goethe, o golem? - perguntou Montagu.

-Não são meros delírios, e estou me referindo ao guardião citado no Talmud. Vários rabbis e
mesmo o patriarca Avraham já o criaram antes de mim! - irritou-se Lusk.

-Besteira! Lendas, mesmo as judaicas, não vão nos salvar! - gritou alguém do comitê, mas que
logo se calou, assim como Montagu, que ficou pálido. Uma mulher tinha entrado silenciosa-
mente na sala, e parado entre os dezesseis homens.

Ela era maravilhosa. Tinha uma beleza que destoava das mulheres de seu tempo, todas acaba-
das pela miséria e prostituição. A pele quase parecia suave ao toque, mesmo com sua textura
diferente da normal. Seus olhos eram perturbadores, pois não tinham brilho de inteligência,
ela era servil. Uma mera escrava, uma guardiã, mas possivelmente era a mulher mais bela de
toda a vizinhança.

-Ela se chama Laylie, nome hebraico que significa noturna, que pertence à noite ou à escuri-
dão. - começou a explicar Lusk - Escolhi um corpo de mulher por razões óbvias. A missão desse
corpo moldado em barro é atrair e parar o assassino de Whitechapel. Precisamos de paz para
nossa comunidade sobreviver e prosperar.

-Não acha que esse corpo feminino tão bonito pode atrair um espírito imundo como Lilith?
Maligna, ela poderia possuir esse invólucro que você moldou. Tem meios de destruí-lo?

-Laylie será destruída assim que cumprir sua missão. Do pó ao pó. - sentenciou Lusk, olhando
fixamente para a criatura.

-Ela não fala, não se expressa? - quis saber Montagu.

-Apenas D'us pode conceder o dom da fala. Ela não tem uma alma humana. Eu apenas lhe dei
nefesh, a respiração dos ossos, a força básica para animá-la.

Todos saíram maravilhados da reunião do comitê naquela noite. Pegariam o assassino usando
seus próprios meios e não precisavam esperar a incompetência da polícia. Mas os judeus vol-
tariam a ser notícia alguns dias depois. Em 11 de setembro, John Pizer, o famoso "Avental de
couro" é preso, mas os boatos de que ele batia em putas nunca foram provados. Além disso,
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ele tinha álibis comprovados na noite dos assassinatos de Polly e Dark Annie. A faca de Pizer
também não correspondia à arma utilizada nos crimes.

No dia 27 de setembro o mundo conheceria uma das grandes fraudes sobre esses misteriosos
crimes, e também seria um dia raro: o assassino ganharia um nome, uma alcunha imortal que
o mundo jamais esqueceria: na agência central de notícias, chega uma carta em tinta vermelha
assinada por um tal... Jack, o estripador!

Endereçada ao "querido chefe", a carta ria dos esforços policiais e tratava o caso do "Avental
de couro" como uma piada. Ameaçava continuar estripando putas até ser finalmente preso.

O clima de tensão e intolerância aumentava cada noite mais e mais, até que em 30 de setem-
bro, Catherine "Kate" Eddowes sai de casa ao cair da noite para ir até sua filha, pois precisava
de dinheiro emprestado. Como todas as outras mulheres vitimadas, ela também tinha proble-
mas com álcool. E era apenas nessas horas, bêbada, que se prostituía, pois tinha um namorado
chamado John Kelly:

-Não quero você andando por aí, Kate. Tem esse Jack solto pelas vielas, você precisa ter muito
cuidado!

-Não tema por mim, querido. Sei me cuidar, não vou cair nas mãos dele. - foi a resposta.

Mas ela não chegou até a casa de sua filha. No caminho conseguiu dinheiro suficiente para se
embebedar. Foi presa por isso, e acordou numa cela da policia. Ficou detida até passar da
meia-noite, quando perguntou se podia ir embora. O policial a liberou, e ela tomou a direção
da deserta Mitre Square... Nesse momento uma outra mulher ganhava uma rosa, não muito
longe dali. Nunca tinha recebido uma flor na vida, nem em seus dias de juventude. E agora,
com quarenta e cinco anos, sentia-se tão feliz e agradecida que faria qualquer coisa que aque-
le homem de preto mandasse, até mesmo seguí-lo para a escuridão. Cheirou a rosa, sem acre-
ditar que ainda era alvo de galanteios. A lâmina brilhou refletida em seus olhos nesse instante,
e ela morreu enquanto caía. Laylie aparece ao longe como uma caçadora implacável, e o
assassino, que já se preparava para estripar sua vítima, é obrigado a fugir:

"Aquele golem de novo! Maldita estátua, e maldito aquele que a animou do barro!"

Ele pensava, enquanto corria. Secava sua faca no lenço da prostituta morta. Sua noite não
podia terminar daquela maneira! A criatura não tinha nenhum poder mágico, apenas a obsti-
nação de caçar aquele monstro. Para sua tarefa não precisava comer, não sentia sede e nem
cansaço. Achou a rosa desbotada caída na rua... Por volta de 1:00 da madrugada, Louis Diems-
chutz, um judeu russo, tenta sair com o seu cavalo da cocheira, mas o animal se assusta.
Diemschutz resolve acender um fósforo, e vê uma mulher caída no chão. Um filete de sangue
escorria, então ele grita pela polícia. Um policial chega ao local, e constata que ela foi morta
sem estrangulamento, e não há mutilações. Um longo corte na garganta que começava do
lado esquerdo, partia a traquéia completamente em duas, e terminava no lado oposto. Parecia
ser obra de Jack, mas seu ritual macabro parecia ter sido interrompido. A única pista dessa vez
é o lenço do pescoço da mulher, que é encontrado perto do local, todo ensangüentado. A
vítima, vestida de preto, é identificada como Elizabeth "Long Liz" Stride. Uma rosa adornava
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sua blusa. Minutos antes, o assassino vira uma esquina correndo e tromba com uma bêbada:
Kate. Ela caiu no chão, de onde não se levantaria mais.

-Olha por onde anda, seu idiota!

O homem de preto lhe oferece ajuda para levantar. Confiante, a mulher segura a mão dele
quando vê o brilho da lâmina. Nem teve como gritar. Foi arrastada até o canto.

-Isso é por me chamar de idiota, se bem que você não pode mais me ouvir. - resmungou, cor-
tando as orelhas dela - Agora terminarei o que comecei. Putas servem apenas para umedecer
as ruas desse inferno!

O assassino tinha conseguido despistar o golem, então teve tempo suficiente para mutilar sua
vítima, e ainda plantou uma pista para confundir mais ainda a polícia. Ele não queria ser pego,
pois tinha muito trabalho a fazer. Laylie chegou poucos minutos atrasada. Quando viu o corpo
da bêbada, sabia que o homem sumiria por uns tempos, pois estava saciado. Seria inútil pros-
seguir a caçada naquela noite. Quando percebeu os rastros meticulosamente arranjados por
ele, ela não teve muito no que pensar. Pegou um pedaço de giz, apesar de não saber direito o
que escreveria... Mitre Square era parte da ronda do policial Edward Watkins, que tinha estado
ali à 1:30, e agora passava novamente, britanicamente quinze minutos depois. Tudo parecia
calmo e deserto, mas quando ele acendeu sua lanterna e apontou para um dos cantos, desco-
briu um novo corpo numa poça de sangue! Catherine Eddowes foi encontrada com a garganta
cortada. Ela teve as orelhas decepadas, bem como a ponta do nariz. Um corte sobia desde o
reto até a altura dos seios. O abdômen estava aberto, e o rim tinha sido retirado pela frente, e
não pelo lado do corpo e, ainda assim não tinha danificado nenhum órgão ao redor. Os intesti-
nos estavam soltos, e parte do útero estava faltando, apesar do colo e da vagina estarem
intactos. O inspetor Abberline continuava perplexo, afinal o assassino tinha matado Kate
Eddowes na Mitre Square, estripado a mulher silenciosamente e sumido em um espaço de
apenas quinze minutos! Eram quase três da manhã quando um policial encontra um pedaço de
avental ensangüentado jogado perto da entrada de um prédio na Goulston Street. E logo aci-
ma, escrito em letras brancas sobre tijolos pretos do arco da passagem, estavam as palavras:

"Os Judios são os Homens que não serão Culpados por nada."

O pedaço do avental veio da mulher mutilada em Mitre Square e a todos acreditaram que as
palavras foram escritas pelo assassino. Quando viu aquilo, Sir Charles Warren, comissário da
polícia metropolitana, foi curto e grosso:

-Apaguem isso! Uma frase dessas, exposta no arco de uma passagem pública, visível a todos
sem poder ser coberta é muito perigosa.

Foi uma ordem polêmica, e nem todos concordaram com ela, mas o comissário se manteve
firme na decisão:

-Está mais do que óbvio que escreveram isso para afastar a polícia do verdadeiro criminoso, e
também pensem nos judeus, pois isso é claramente um ataque à comunidade deles, muitas
vidas poderão ser perdidas!
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Ninguém percebeu que a frase estranhamente dizia "judios" ao invés de "judeus"; assim como
até hoje ninguém sabe quem escreveu aquilo... Duas testemunhas tinham visto "Long Liz" Stri-
de, a primeira vítima da noite, minutos antes dela morrer. Ela não tinha nenhuma rosa na blu-
sa quando saiu da pensão onde morava. Tanto o policial William Smith quanto um homem
chamado Israel Schwartz falam sobre ela ter sido vista com um homem de cabelos e bigodes
pretos, acima dos trinta anos, que trajava um casaco também preto. Jack tinha atacado nova-
mente, e duas vezes na mesma noite! No dia seguinte, um cartão postal apelidado de "Jack, o
descarado", chega à agência central de notícias. Dizia que Liz Stride tinha gritado muito, então
ele não pode estripá-la, uma meia-verdade, e também falava sobre as orelhas de Kate Eddo-
wes. Assinado novamente pelo tal "Jack, o estripador", o exame de grafologia mostrou que
esse postal fora escrito pela mesma pessoa da primeira carta. Mas essas duas correspondên-
cias eram apenas fraudes, criadas pela mídia para pressionar a justiça. Até um nome foi criado
para o assassino, um golpe da imprensa. Fraudes. Mas então apareceu uma terceira carta, que
realmente assustou à todos. Endereçada especialmente a George Lusk, ela continha um peda-
ço de rim humano. Vinda "do inferno", o autor dizia ter fritado e comido a outra parte do rim.
Terminava com um desafio:

"Pegue-me se puder, mister Lusk."

Estava claro que era o verdadeiro assassino, rindo da ineficácia da criatura que obstinadamen-
te o perseguia: o golem. O comitê de Mile End resolve levar a carta à polícia e ao inspetor
Abberline.

-E então, senhores? - pergunta o inspetor.

-Bem - pediu a palavra o doutor Openshaw - esse rim pertenceu à alguém que sofria do mal de
Bright. Foi a única pista que pude encontrar, Abberline.

O cirurgião da polícia, doutor Brown, também estava na mesa, junto com o inspetor e George
Lusk. Ele ficou pálido como se de repente a afirmação "do inferno" ganhasse todo o sentido do
mundo:

-Que Deus tenha piedade de nós... É verdadeiro! O rim é verdadeiro!

-Por que afirma isso? - perguntou Lusk, apesar de não estar surpreso como aqueles homens,
pois sabia bem a verdade.

-Eu fiz a autópsia de Catherine Eddowes, e ela também sofre do mal de Bright. O rim dela foi
retirado!

A imprensa chamou as mortes de Liz e Kate de "duplo evento". A ansiedade e o temor pioram,
deixando as ruas praticamente desertas após o anoitecer. Putas só ficam o necessário nas ruas,
preferindo procurar abrigo e ficar com parentes e amigos. O comércio cai, e forasteiros temem
pisar em Whitechapel. Açougueiros e matadores são interrogados, assim como marinheiros
aportados no rio Tâmisa. O estripador está sumido, à espreita, esperando o momento certo de
atacar. Ele passeia pela noite, desfrutando do pânico que criou, até que se depara com algo
cômico, que ilustrava bem o desespero dos esforços em capturá-lo: um oficial estava disfarça-
do de prostituta, servindo de isca. Não havia mulheres na força policial na época, então coube
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ao infeliz esse disfarce tão ingrato. O assassino sorri. Poucos minutos e metros o separavam do
golem de George Lusk, pois a criatura também viu o policial travestido. Se tivesse inteligência
suficiente para analisar, ela acharia a situação ridícula. Pouco mais de um mês se passa. Aos
poucos, as ruas começam a voltar ao normal, apesar das pessoas ainda não se sentirem total-
mente seguras. Nenhum crime nesse período, parte disso por causa da pesada vigilância que
tanto a polícia quanto o comitê judeu de Mile End praticavam nas ruas. Mas o assassino bati-
zado de Jack pela imprensa provaria que mesmo assim ele seria capaz de chocar a população
novamente... O aluguel de Mary Jane Kelly estava atrasado. Ela era uma irlandesa de vinte e
quatro anos, uma beleza de olhos azuis que, ao contrário da maioria das mulheres dali, andava
sempre limpinha e arrumada. Sedutora, todos na vizinhança gostavam dela, apesar de passar
dos limites quando bebia. Era quase meia-noite quando Mary Cox, outra prostituta, passou por
ela, que estava ajoelhada em frente a um homem em Miller´s Court. O homem gemeu alto
segurando os longos cabelos dela, que iam até a cintura, depois ajeitou as calças e foi embora.
Mary Kelly estava tão bêbada que mal conseguia falar. Mary Cox lhe deu uma pastilha para o
hálito, e avisou, rindo:

-Não fique engolindo isso. Faz mal para os dentes, já viu essas putas velhas desdentadas que
andam por aqui?

-Pretendo engolir mais até essa noite acabar. Preciso de dinheiro para o aluguel. Meu homem
está desempregado. - ela cambaleou.

-Vá para casa Mary Kelly, e durma. Acorde antes das cinco, que é a hora que os homens vão
trabalhar no mercado. Lá você vai conseguir dinheiro fácil.

Mas a bela irlandesa não estava mais ouvindo. Tropeçando em si mesma, mais tarde ela aca-
baria encontrando um amigo... George Hutchinson gostava de ter sexo com Mary Kelly. Ela
cobrava mais caro que as outras, mas quando estava bêbada transava até de graça. Por isso
ele sempre rondava Miller´s Court como um fantasma, como naquela noite de sexta-feira. No
fundo, era apaixonado pela jovem prostituta. Quantas vezes não tinha sentido o gosto de
outro homem nos lábios dela, mas mesmo assim...

-Preciso de dinheiro.

Ela falou, com sua voz sedutora. Eram quase duas da manhã, e ele não tinha nada nos bolsos.
Ficou assistindo impotente quando ela parou de lhe encarar com os olhos azuis, e voltou-se
para um estrangeiro que passava. George não conseguiu ir embora, e ficou assistindo sua
meretriz favorita tentando seduzir o homem que vestia um longo casaco negro, com uma
jaqueta igualmente negra por baixo. Com suas golas e mangas enfeitadas, botas e polainas, ele
tinha um ar respeitável. Meio pálido, olhos e sobrancelhas pretas, assim como seu bigodinho e
cabelos. Tinha um jeito apressado, quase frenético e...

"Maldito judeu", pensou George, quando o desconhecido bem vestido colocou a mão direita
no ombro dela. O casal passou bem perto dele, que estava parado logo abaixo de uma lâmpa-
da. O estrangeiro deixou o chapéu preto de feltro cair por sobre seus olhos nesse instante.
Entraram na Dorset Street. George, enciumado e ainda esperançoso de pegar sua irlandesa
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naquela madrugada, seguiu os dois. Eles pararam na esquina do pátio, quando o estranho
falou algo como "estou cansado do meu trabalho".

-Claro querido. Venha, vai se sentir mais confortável.

Ela o acalmou, e então se beijaram

- Oh, perdi meu lenço!

O estranho tirou outro lenço vermelho do bolso e deu à ela. Entraram de vez no pátio, e Geor-
ge não pode mais seguí-los, nem espiar. Esperou por quase uma hora, talvez eles saíssem, mas
não. Desistiu de esperar e foi embora. Não sabia, mas sua irlandesa nunca mais seria vista
viva... Talvez tenha sido o cheiro da morte, ou então por que ele se demorou em seu ritual de
morte mais do que o normal, mas Laylie estava esperando quando ele fechou a porta atrás de
si. Ela, tanto quanto seu mestre Lusk, queria que os crimes do estripador terminassem naquela
noite.

-Você de novo?

Olha o que tenho guardado, venha até aqui sentir também! - ele disse, mostrando sua faca,
que ainda bebia o sangue de Mary Kelly. Quando Laylie o atacou, ele confiou em sua lâmina e
dessa vez não quis fugir. Mas, pela primeira vez, sentiu medo. Não sabia que ela era tão forte!
Foi facilmente dominado e erguido no ar. Sua única chance era cortar a garganta dela, mas
quando a lâmina fez o corte, não jorrou sangue como ele estava acostumado a ver. Saíram
lascas de barro, e Laylie continuou firme. Ela fechou os dedos em torno da garganta dele,
estrangulando. Seus olhos sempre vazios e sem vida agora brilhavam com chamas de vingança.
Ela o condenaria ao mesmo tormento que aquelas mulheres sofreram. O estripador sentiu o ar
faltar, e enquanto ainda podia raciocinar enfiou sua faca por todo o peito e pescoço do golem,
mas eram golpes inúteis. Ele começou a se debater desesperado, sentindo que iria morrer, e o
pior, morreria nas mãos de uma mulher! Sua faca caiu, sua última esperança. Seus dedos pro-
curavam debilmente pelo ar, já não agüentava mais, quando segurou a cabeça de sua executo-
ra. Procurava apertar os olhos, nariz e forçar a boca muda da criatura, algo sem alma assim
como ele, que friamente tirava sua vida. Mas o destino parecia ter outros planos... Na testa de
Laylie estava escrita a poderosa palavra AEMAETH, a verdade. No auge do seu desespero,
debatendo-se, o assassino acidentalmente apaga a primeira letra, o Aleph... Laylie pára de
apertar, seus dedos começam a se desmanchar em poeira. O assassino sabe exatamente o que
está escrito na testa dela agora: MAETH, morte! Se ela não fosse servil, choraria sua própria
destruição: uma criatura da magia feita de pó, e que ao pó fatalmente voltaria... O assassino
se liberta e cai pesadamente no chão, respirando com dificuldade e assustado. Talvez fosse
melhor parar com os crimes, dar um descanso para sua lâmina vingadora da decência e moral.
O comitê dos judeus quase tinha conseguido pegá-lo. O estripador guarda sua única arma de
volta, tomando a decisão que, sem saber, o tornaria uma lenda misteriosa e sem rosto pelos
anos e séculos vindouros. Sabia que se chamasse novamente a atenção da comunidade de
Mister Lusk, seria implacavelmente perseguido e morto. Sobrevivera à primeira criatura, mas a
sorte talvez não estivesse do seu lado numa segunda vez. Aos seus pés estavam os restos de
Laylie, agora um monte de poeira e barro ressecado. Montagu e Lusk chegariam meia-hora
depois, apenas para recolher o que tinha sobrado do golem. Os dois judeus ficaram perdidos
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entre sentimentos de impotência e desilusão. A missão principal da criatura era pegar o res-
ponsável pelos crimes, antes que a culpa recaísse sobre toda a comunidade judaica. Mas o
estripador sobrevivera ao encontro e ainda estava solto. Que D'us se apiedasse de Whitecha-
pel! Passavam das dez da manhã seguinte quando o cobrador de aluguéis bateu na porta da
irlandesa. Silêncio, então ele espia pela janela. Vê um corpo, e o chão lavado de sangue. Minu-
tos depois chega no local o oficial de polícia:

-Quando meus olhos se acostumaram com a luz fraca eu vi a cena que nunca esquecerei até o
dia de minha morte. - ele declararia depois.

Mary Jane Kelly estava morta na cama, deitada de bruços sem sinais de estrangulamento. Seus
seios foram arrancados, o rosto estava irreconhecível, cheio de fraturas, com apenas os olhos
azuis ainda intactos. O útero, um rim e um dos seios foram colocados perto de sua cabeça, que
estava quase decepada. O outro seio estava nos pés, junto com o fígado. O intestino e o baço
foram colocados ao lado do corpo, e o pior, o coração havia sumido. Uma vizinha diz à polícia
que viu George Hutchinson andando pela noite ali perto, e ele, quando interrogado, conta
tudo o que tinha visto naquela madrugada, sobre como tinha seguido a vítima e o misterioso
homem de preto. Ninguém percebeu uma lágrima solitária nos olhos de George. Após ouvir o
relato, o inspetor Abberline se calou. Ele se aposentaria e fecharia o caso do assassino que a
imprensa batizou de "Jack, o estripador" quatro anos mais tarde. A lenda, porém, viveria para
sempre!

1903. O assassino estava à caminho da forca, na aurora do


século.

Seu antigo inimigo do passado, o aposentado inspetor, finalmente descobrira quem era aquele
fantasma que se manteve sem nome por tanto tempo, e que agora assinava como George
Chapman: solteiro na época, um condenado que podia circular nas ruas livremente de madru-
gada, que tinha um emprego fixo que o ocupava mas o deixava livre nos finais de semana,
quando tudo acontecia; violento, um homicida que assassinou várias mulheres, além de ser
estrangeiro e ter habilidades médicas. Abberline preferiu não escrever aquelas conclusões em
lugar algum, afinal já tinha abandonado a polícia mesmo... O envenenador enfim estava na
forca, na aurora do século. Quando passaram a corda em torno de seu pescoço, ele desejou
que o peso de seu corpo deslocasse instantâneamente as vértebras cervicais, fraturando a
parte superior da medula espinhal. MAETH. Na verdade, Severin agora só tinha medo de uma
coisa, que acabou se cumprindo: no momento final de sua morte, tudo o que ele enxergou foi
o rosto de Laylie, a criatura de Whitechapel!

OBS: as pistas que apontam para Severin Klosowski/George Chapman


são impressionantes: quando ele chegou em Londres começou a série
de crimes em Whitechapel que só parou quando ele partiu para a
América, e recomeçaram de maneira similar por lá. O conto todo foi
construído sobre o clima anti-semítico que pesquisei e descobri exis-
tir naquela época, e sobre o que teria feito Severin mudar de estilo.
Esse foi o "toque especial" do Lewd aos fatos ocorridos em 1888. Os
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crimes de Jack mostravam puro ódio contra prostitutas e mulheres


em geral. Jack não estuprava suas vítimas, mas ao invés disso as
mutilava, mostrando toda sua ira e frustração sexual. O ato de enfiar
a faca nos corpos das mulheres era seu substituto ao sexo (chamado
de necrofilia regressiva).

† Baby-Sitter
Ela se apresentou como Joyce Sprenger. Impossível despregar os olhos daquela moça. Loura,
os cabelos presos em tranças que davam mil ideias de como segurá-las numa transa! E os
olhos.Pois são, os olhos. Era a coisa que não se encaixava direito naquela diva. Sabe, seria
natural que fossem azuis, ou mesmo verdes, pelos traços dela. Mas não, eram negros como a
noite... Mas uma noite de luxúria!

"Calma James. Esqueceu que ela é apenas a nova babá de sua filha?" - pensou o homem. Esta-
va imaginando coisas. Respirou fundo, e respondeu para a moça sentada à sua frente, calman-
te, controlando o olhar desejoso:

-Você é perfeita... Para esse serviço, quero dizer. Está contratada.

A mulher chamada Joyce sorriu, e estendeu a mão para cumprimentá-lo.

-Obrigada, senhor James. Eu sou nova na cidade, então imagine como está sendo difícil arru-
mar emprego. Puxa, nem sei como lhe agradecer pela confiança!

"Eu sei exactamente como você poderia me agradecer!"

-Posso conhecer sua filha agora? - Ela perguntou, séria, tirando da cabeça de James as ideias
libidinosas que lhe ocorreram no momento.

-Sim, claro! Meu anjinho está dormindo, lá em cima. Venha, vou te mostrar a casa toda.

Era uma casa espaçosa. Na verdade, era grande demais para um pai solteirão e sua menina
pequena, mas era aconchegante. James tinha um óptimo emprego e podia se dar ao luxo de
morar bem. Tinha um pacto com sua filha: o de não colocar nenhuma mulher no lugar de sua
mãe, pelo menos não enquanto ela fosse uma criança. Em partes, foi até mesmo por isso que
ele precisou contratar uma babá, pois precisava às vezes sair para se divertir, paquerar e tran-
sar com alguma garota que caísse em sua impecável imagem de quase quarentão bem sucedi-
do. Tinha também as escapadas que dava com Christina, no trabalho.

-Qual o nome dela? - Joyce perguntou, quando pararam de frente para a cama da menina, que
dormia um soninho muito gostoso. Dava inveja e vontade de se deitar ao lado dela, torcendo
para que seus sonhos de criança aflorassem pela casa.

-Mary.

-Que lindo nome, digno de uma linda criança. Será um prazer cuidar dela. - A babá sorriu,
falando baixo, e então perguntou: Devo te chamar de senhor, ou... apenas James?
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Da maneira como ela perguntou aquilo, lhe pareceu uma armadilha.

-Como quiser. - Ele respondeu, meio sem graça.

-James. É um bonito nome também. Soa mais simpático assim. "Senhor" lhe dá uma imagem
falsa de ser velho, ou carrancudo. - Ela sorriu de novo.

-Pode jantar conosco? Seria uma pena acordá-la agora. - Ele convidou, mudando de assunto.

-Sim, sem problemas. Volto à noite, e assim conhecerei sua filha. Será que ela vai gostar de
mim?

-Acho que sim. Ela é muito meiga, se apega fácil às pessoas. É muito sincera, como toda crian-
ça, mas acredito que irá gostar de ter você por aqui. Fique tranquila.

Quando Joyce foi embora, prometendo voltar para o jantar, James afundou-se no sofá. Teve a
sorte de arranjar uma linda babá!

-Eu atendo, pai! - A menina pulou da cadeira assim que a campainha tocou.

Era Joyce, e trazia uma sacola. Quando o olhar das duas se cruzou, ainda na porta, James per-
cebeu que realmente tinha acertado na escolha. Mary gostou de sua babá logo de cara.

-Entre, já vamos jantar!

Joyce abaixou-se, beijou o rosto da menina, e lhe entregou um doce. Disse também que tinha
algumas coisas na sacola, mas só as mostraria mais tarde:

-Agora vou ajudar seu papai preparar o jantar. Vamos?

A pequena gostou da ideia, e as duas invadiram a cozinha, alegres. Mas James era um homem
calejado pela solidão. Já estava com tudo pronto, para a frustração de ambas.

-Ah pai! Assim não vale, não vamos ajudar em nada?

-Bem querida, infelizmente já preparei o jantar sozinho mesmo.

-Seu papai cozinha bem, Mary?

A menina acenou com a cabeça, empolgada. "Sim, ele é o melhor homem do mundo!" James
foi preparando a mesa, enquanto sua filha sentou-se inquieta numa das cadeiras. Quando
voltou para a cozinha, Joyce passava o dedo pela calda do pudim.

-Isso está uma delícia, mas confessa: Já veio pronto, não?

-Só o pudim. Mas não espalhe para ninguém! - Ele sorriu.

-Experimente um pouco. - Ela retrucou, com o dedo indicador melado de calda, apontado para
ele.

Foi sem maldade alguma, e ele poderia jurar isso pelo olhar inocente de Joyce. Mas quando
encostou a boca no dedinho da moça e lambeu, segurou-se muito para não agarrá-la ali mes-
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mo. Ela saiu da cozinha, normalmente, e James se detestou por estar imaginando demais.
"Acho que preciso ligar para Christina, estou com falta de mulher!"O jantar foi servido, regado
a brincadeiras. Realmente a linda moça era muito boa em tratar de crianças. Mary adorou
Joyce, e aceitou a ideia naturalmente. Imaginou que quando precisasse sair, sua filha enfim
estaria em boas mãos, e não seria mais alvo dos ciúmes infantis dela.

-Mary, trouxe-te umas amiguinhas minhas que acompanham-me sempre. Você quer ser amiga
delas também?

Os olhinhos cheios de vida da menina brilharam. "Quero!" Então Joyce tirou algumas bonecas
da sacola que trazia. Mary sorriu, e gostou de cada uma delas. Mas James olhou estranho para
a babá pela primeira vez, pois sentiu algo inexplicável naquele momento. Um calafrio, que logo
descartou... Uma semana se passou, e parecia que Joyce sempre fora parte da família. Se
adaptou de tal maneira à eles que tudo era natural entre os três. Sua filha, principalmente,
tinha adoptado de vez a babá. Ela e suas bonecas.

-Papai, Joyce pode morar convosco? - A menina soltou, de repente.

-Por quê?

-Você sabia que ela não tem onde morar? Podia ficar com a gente!

James sentiu medo. A ideia não era má, do ponto de vista masculino, claro, mas já pensava na
tentação que seria a garota morando em sua casa.

-Veremos, querida... mas você é muito novinha para ficar pensando nessas coisas.

-Ah, pai, deixa vai! Chama ela para morar com a gente! Por favor.

Adulação. E qual adulto não se derrete com isso?

-Nossa senhor James, quero dizer... só James! Que notícia boa! Eu não consigo arrumar um
lugar para morar. Obrigada por sua hospitalidade.

Ele não parou para pensar em nada. Talvez se arrependesse mais tarde, mas... Por exemplo,
que dificuldades ela teria em arrumar moradia? Como assim, se ele lhe pagava um óptimo
salário? Mas, no fundo, sabia que queria manter aquela doce babá por perto. "Perto demais!"
Seus temores se mostraram reais, pois com o passar do tempo a moça ficava mais e mais à
vontade, e de vez em quando ele flagrava cenas de nudez quando passava de madrugada pela
porta aberta do quarto que dera à ela. O primeiro incidente desse tipo aconteceu numa noite
muito quente, em que ele não conseguia dormir. Desceu até a cozinha, para bebericar algo...
Na volta para o quarto, teve curiosidade de espiar como dormia Joyce. Ela estava nua. O lençol
cobria muito pouco, e ele ficou maravilhado com a perfeição daquele corpo. De repente, sen-
tiu um arrepio estranho. Só descobriu a fonte de sua perturbação quando viu as bonequinhas
dispostas ao redor da cama. Todos os olhinhos brilhavam, e pareciam observá-lo! Todas as
boquinhas sorriam. Aquilo lhe pareceu um tanto macabro... Adormeceu, horas mais tarde,
levemente excitado com a visão que teve do corpo de Joyce.

-Bom dia! - Uma voz calma o acordou, e junto veio o aroma doce do café da manhã.
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-Bom dia... Que faz aqui? - James perguntou sem graça, pois ela tinha invadido seu quarto.

-Desculpe, percebi que o senhor dormiu muito tarde... Achei que gostaria de café na cama.

"Espere! Como ela percebeu? Me descobriu olhando para seu corpo ontem?" - pensou, e esses
pequenos detalhes, apesar de excitantes, começaram a incomodá-lo.

-Vou acordar Mary agora. Com licença, James. Espero que goste do café.

Não, o café não estava bom. Ele tomou apressadamente, e se preparou para um dia stressante
de trabalho. Antes de sair, foi dar um beijo em sua filha. Entrou silencioso no quarto, obser-
vando como o sono dela era sereno. Mary estava abraçada com um ursinho, que ele nunca
tinha visto antes por ali. "Presente da Joyce, claro."

-A menina é um doce. E parece que gostou do meu ursinho. Vê como ela sorri?

James tomou um susto, pois a babá estava parada atrás dele. Mas, realmente, Mary estava
com um alegre sorriso nos lábios.

-Sabia que na idade das trevas as mães costumavam dar tapinhas no nariz das crianças caso
sorrissem durante o sono? Isso era sinal de que Lilith, a mãe negra, estava brincando com
elas...

-Se minha filha sorri, é sinal de que está tendo um sonho muito agradável. Nada mais. Vou
trabalhar, cuide bem dela, sim? - Ele respondeu seco, olhando estranho para ela pela segunda
vez.

-É para isso que você me paga, James...

-Quem é "Joyce"? - Perguntou Christina, cruzando provocantemente as pernas, enquanto


James ajeitava sua mesa de escritório.

-É a nova babá de Mary. Por quê?

-Por nada... É que você se atrasou e liguei na sua casa. Ela atendeu, mas não me pareceu ser
uma mera babá. Não pelo tom de voz dela! Anda comendo essa moça, James?

-Não sabia que era ciumenta, Christina.

-Toda mulher é, em maior ou menor grau. E um solteirão como você abrigando uma babá é de
se estranhar. Sei que anda à perigo, senhor diretor-executivo! - Christina respondeu, brincan-
do com seu chefe. Era uma executiva também, mas que prestava contas à ele.

-Ambos andamos à perigo, querida. Seu casamento acaba quando mesmo?

-Não gosto que pergunte dessa maneira. Fica tão... vulgar! Meu casamento acabará quando
me for conveniente. A vida toda é assim, feita de conveniências e de oportunidades.

-Mudando de assunto... Você tem a tarde livre hoje, Christina?


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-Safado. Quer trepar, não é? Custa caro minha cama, você sabe. Estou de olho na próxima
dança de cadeiras, que fará por mim?

-O bom de se lidar com safadas é que acaba tudo sendo uma questão de preço, não é mesmo?
- Ele riu.

Christina levantou-se, sorrindo também. A relação entre os dois já tinha passado há muito
tempo do profissionalismo. Eram amantes, mas também dividiam as metas e objectivos nos
negócios com o mesmo ardor que compartilhavam uma cama... Christina estava deitada de
bruços, a cabeça apoiada nos braços cruzados, como que escondida daquela foda forçada.
Forçada sim, pois a executiva não tinha gostado do pedido dele:

-Amarre seus cabelos, faça duas tranças? Quero realizar uma tara...

Não queria mais encará-lo. Seria a putinha da babá que ela estava "encenando" para seu
amante? No fundo, ele era como seu marido, tanto no aspecto físico quanto no jeito de tran-
sar. E foi para fugir do mesmo marido que tinha se deitado com James pela primeira vez. Foi
tão bom que gerou a segunda trepada, a terceira, e não conseguiram mais parar de se encon-
trar, religiosamente nas quartas, no período da tarde. Era o dia menos suspeito da semana.
Mas começava a se tornar cansativo, como hoje. O quadril levemente erguido rebolava no ar,
enquanto James tentava encaixar-se nas carnes molhadas dela que agora estavam totalmente
abertas em sua frente, ao alcance de seu membro latejante. Gostava de pegá-la naquela posi-
ção, sentia-se realmente o macho dominador. Christina estava puta com aqueles movimentos
burocráticos, apesar de frenéticos, entre suas nádegas. "Ele está fodendo a babá, e não eu.
Filho da puta..." Quase preferiu que ele broxasse, ou que se acabasse logo, quando levou um
tapa forte na bunda, a senha para que se virasse de frente.

-Vou goz... Ohhhhh! - Na hora do gozo, James puxou forte as tranças de Christina, e encheu
sua boca com porra quente.

-Ah, James... Isso vai te custar um cargo bem alto! - Ela disse, lambendo o esperma dele dos
lábios melados.

Joyce serviu o jantar, e fez uma esquisita oração antes de comer. Estranhamente, Mary a
acompanhou, murmurando coisas ininteligíveis. James estava tão cansado da manhã de traba-
lho e da tarde de sexo que preferiu ignorar esse detalhe.

-Quem é "Christina"?

Ele desacreditou quando escutou a pergunta da babá. Engasgou com a comida, nem teve
como disfarçar. "É minha executiva na empresa. Algum problema?"

-Não senhor James, nenhum. Ela ligou hoje pela manhã, e a Mary me falou algumas coisas
sobre essa mulher, não é querida?

A menina, que jantava calmamente, acenou com a cabeça. Ela nunca gostou da "amiga" de seu
pai. Joyce olhou novamente para ele, com um certo ar de interrogatório.
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-Cheguei atrasado no trabalho, e tínhamos uma pauta urgente para discutir. É só. Obrigado por
anotar o recado. - Ele respondeu, ironizando a indiscrição da babá.

-Papai, o senhor passou a tarde toda fora. Eu tentei falar com você! Joyce me disse para ligar
na Christina, mas ela também não tava lá. Vocês saíram juntos?

James suspirou fundo, e não percebeu o leve sorriso de vitória nos lábios da babá...

-Hora de dormir, minha filha. E o papai também está cansado.

Disse com firmeza, pois sabia que se desse corda, a conversa iria mais longe que o necessário.
Teria uma séria conversa com Joyce depois... Levou Mary para a cama, e lhe contou uma histó-
ria para que dormisse. Sonolenta, ela resmungou que as lendas que Joyce contava eram mais
interessantes. Depois disse baixinho: "Boa noite papai."

-Boa noite, minha filha.

-Boa noite, NEBIRU. - ela disse, em seguida.

-Quem, minha filha? - James perguntou, mas ela já tinha adormecido. Pelo jeito que abraçou o
ursinho, imaginou que fosse o nome dele. "Nebiru... Que diabo é isso?"

Quando chegou na sala, Joyce estava com as três bonecas restantes, parecia uma criança
grande. Quase desistiu de dar-lhe a bronca que merecia:

-Que história é essa de mandar minha filha ligar na Christina?

-Desculpe senhor. Apenas quis acalmar a Mary, ela estava ansiosa para falar com...

-Mesmo assim! - Ele interrompeu, bravo - Não quero que isso se repita, ok?

-Se prefere me repreender e à sua filha, por essa mulher, tudo bem.

O jeito cínico com que disse aquilo lhe deu quase certeza de que ela sabia das trepadas sema-
nais que tinha com Christina. Mas como...? Levantou a mão, como se fosse falar algo, mas
desistiu. Preferiu ir também dormir. Saiu da sala, mas então voltou-se, e perguntou, com súbi-
ta curiosidade:

-Qual o nome dessas suas bonecas, Joyce?

-Ah, minhas lindinhas? Bem, essa aqui é MARUKKA, essa se chama ZISI e a aquela ali eu bapti-
zei de NINNUAM. Cada uma delas tem uma história, o senhor quer ouvir?

James negou com a cabeça, e foi para a cama pensando naqueles estranhos nomes. Teve um
sonho molhado com a babá... Acordou no meio da madrugada, incomodado. Então ouviu
vozes na casa. Escutando direito, pareciam crianças conversando, mas de maneira estranha.
Quando se levantou, a cama fez um leve barulho. Foi o suficiente para a conversação silen-
ciar... Mesmo assim, foi em frente e abriu a porta. Quem sabe não flagrava novamente a babá
dormindo nua? Sim, ela estava. Dessa vez estava de bruços, e sem lençol. A porta, escancara-
da. Estava faltando algo no quarto. Permaneceu ali, parado, observando cada detalhe do corpo
nu. A luz que vinha pela janela mostrava algo, e as sombras delineavam ainda mais. De repen-
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te, ele caiu em si. Que estava fazendo? Observando a moça dormir, igual um tarado? Resolveu
beber algo para voltar ao sono, e quando passou pela sala, percebeu o que faltava no quarto:
As bonequinhas! Todas as três, jogadas ao chão. Não tinha certeza se Joyce deixara ali mesmo,
pois estava brincando com elas, mas... Foi quando percebeu o telefone fora do gancho. Pegou
o telefone mas a linha estava muda. Teve curiosidade de apertar para rediscar, será que
alguém tinha usado?

"Pare de imaginar coisas, James! Coloque de volta no gancho e vá beber algo!" - pensou,
negando as próprias desconfianças. Chegou na cozinha, esquentou leite e tomou. O sono veio
assim que voltou ao seu quarto. As bonequinhas ficaram espalhadas pela sala, e ele resistiu à
tentação de novamente espiar a babá...

-Como assim, morta?

-James, eu nem sei como lhe dizer! Sei que Christina era sua melhor executiva, mas foi encon-
trada nessa manhã num apartamento perto daqui. Foi morta pelo próprio marido, num ataque
de ciúmes! Parece que o local era ponto de encontro dela com o amante, que nunca sabere-
mos quem é.

-Por que? E o marido dela? Ele não contou?

-Ele diz que não se lembra de nada, James. Está preso. Tudo aconteceu nessa madrugada, ele
descobriu algo e a obrigou ir até lá, então...

Inacreditável, mas Christina estava morta. Foi um golpe e tanto, mas e seu segredo? Era
naquele lugar que transavam todas as semanas, onde viveram as tardes mais quentes de suas
vidas. "Morta... Meu Deus!" James voltou para casa naquela manhã, sem condições de traba-
lhar. Se o marido dela descobriu tudo, então por que não o atacou também? E agora? E se ele
contou para alguém? Será que foi por isso, uma estranha premonição, que não conseguiu
dormir direito? Resolveu visitá-lo na delegacia. Não eram amigos, mas ele sabia que James era
chefe de sua falecida esposa. Durante o tempo da visita, se comportou de maneira desespera-
da por não se lembrar do motivo que o levou a cometer o crime. Quando James foi embora, de
certa maneira aliviado por imaginar que seu segredo morrera com Christina, o homem ficou
sozinho na cela. Minutos depois começou a ouvir estranhas vozes de criança... Joyce já cuidava
da casa, quando James chegou. Ela estava metida num calção minúsculo e camiseta húmida.
Perguntou por que dele estar de volta tão cedo mas não lhe pareceu, em momento algum,
surpresa com a notícia da morte da executiva. Imaginou que ela também não gostava de Chris-
tina.

-Eu limpei sua sala particular ontem, James. Não sei se o senhor gostou.

-Ah, limpou? Sim, tudo bem. Se precisar de mim, estarei lá.

-Papai, que bom que voltou cedo! Vamos no parque? Ou no shopping, ou no cinema?

-Hoje não, filha. Mas eu trouxe sorvete, e podemos brincar aqui mesmo, se você quiser.

-Claro, preciso te mostrar um truque que a Joyce me ensinou! - A menina correu para o quarto
e voltou com um gravador debaixo do braço.
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-Que faremos? Você quer cantar para o papai gravar?

-Não pai. Eu já gravei umas coisinhas, enquanto você trabalhava! Quer ouvir?

James passou a mão pelos cabelos dela, e ligou o aparelho. A fita, que já estava embutida,
começou a tocar. Era a voz da sua filha sim, mas não dava para entender muita coisa, pois até
parecia estar falando uma linguagem estranha!

-Mary, não estou entendendo. Qual é o truque? Tá parecendo só uma gravação boba. - Ele
perdeu a paciência, apertando o stop.

-Ah, pai! Bem que a Joyce me avisou que os adultos não entendem! Quer deixar a fita tocar?

Mary nunca tinha se irritado e nem desafiado James antes. Ele estranhou a maneira agressiva
que ela disse aquilo, mas deixou novamente a fita tocar. Parou antes do final:

-Ok, filha. Papai não entende mesmo. Quer me explicar? Hoje o dia não foi bom, estou com
pouca paciência para brincadeiras...

Mary apertou duas teclas, e o gravador tocou ao contrário a fita. Precisou de um tempo, mas
James se acostumou, e ouviu que era mesmo sua filha, apesar da impressão de ter outras
vozes ali, dizendo que o amava, e que o queria em casa todo dia, e que queria sorvete!

-Como você fez isso? - ele perguntou, espantado.

"É um truque papai, já lhe disse."

-Não quero que faça mais isso. E vou dizer para a Joyce que ela não deve te ensinar essas coi-
sas! - Com o grito dele, Mary levantou-se chorando, e saiu correndo. Foi para os braços da
babá.

-Óptimo, assim pego vocês duas juntas. - Ele apareceu na porta, nervoso - Eu não quero minha
filha gravando coisas ao contrário, está ouvindo Joyce? Você deveria tomar cuidado com o que
anda ensinando para ela!

-Está stressado com a morte de sua... amiga! Não desconte na sua filha, e muito menos em
mim. Eu vou ser cuidadosa com as coisas que ensino à Mary, mas...

-Quem é você para falar assim, ou julgar minhas atitudes, ou interferir na educação de Mary?
Acha que estou descontando algo nela... O quê, por exemplo?

-Eu não sou ninguém... - a babá disse, sombriamente, e James olhou estranho para ela pela
terceira vez.

O telefone tocou, interrompendo a briga:

-Alô, James? Cara, o marido da Christina se suicidou na cela da delegacia! Você foi o último
que falou com ele, e aí? Descobriu alguma coisa?

-Mas eu o deixei bem, e ele dizia estar arrependido do que fez, e que nem se lembrava do
motivo! Como pode ter se matado?
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-Se enforcou com o lençol. Que coisa estranha, não? Você vem trabalhar amanhã?

-Sim, logo cedo estarei na empresa...

Anoiteceu. Após o jantar, James ainda estava pensativo, achando bom que seu segredo nunca
seria descoberto, mas sentia falta de Christina, que além da competência nos negócios, era
uma mulher e tanto na cama... Insónia. Então algo o fez levantar-se, para novamente espiar a
linda babá que dormia nua todas as noites. Era óbvio que se tratava de uma provocação!
Quando chegou ao quarto, as três bonequinhas estavam com os olhos fechados. Joyce dormia
de lado, e nesse momento percebeu como era grande o quadril dela. Ficou apenas observando
por um longo momento, mas acabou cedendo. Entrou, e ficou ao lado da cama. Estava tão
excitado que nem se lembrava do dia difícil que tinha passado, apenas se concentrava naquela
delícia deitada, sem pudor algum, totalmente pelada... Abaixou-se e olhou bem de perto para
os grandes lábios vaginais, que de tão grossos, ligeiramente gordinhos, apareciam mesmo por
entre as coxas encostadas. Teve vontade de lamber, e não se fez de rogado. Primeiro, até com
medo, apenas encostou a pontinha da língua. Estava suadinha, e então lambeu uma, duas
vezes. O gemido que ela soltou o empolgou mais. Começou a chupar voraz, como um gato
faminto que bebe as últimas gotas de leite. Em segundos, ela voluntariamente levantou uma
perna, e James pode lamber tudo o que sempre quis. Segurava firme o bumbum dela, e enfia-
va a língua com força lá dentro, até onde podia alcançar. Deu atenção especial ao clítoris, o
maior que ele já tinha mordiscado em sua vida, e que agora estava muito duro.

-Enfim você veio.

Não imagina o quanto preciso de um banho de porra, James. - Ela gemeu baixinho, um quase
sussurro, que o excitou mais ainda. E para provar o que dizia, Joyce alcançou seu calção, e
sacou seu pau, abocanhando. Começou uma caprichada chupeta, com uma sede tão incrível
que o homem nem percebeu que as bonequinhas agora estavam todas de olhinhos abertos!

-Nossa, essa safadelas toda não combina com sua cara de boa menina...

-Não sou exactamente uma boa menina... Agora me dê o que andei esperando!

O jeito que ela disse aquilo... mesmo que estivesse tão excitada, pareceu meio que forçado...
Ela continuou falando, com uma voz mais rouca que o normal:

-Quero esvaziar seu saco... Lava meu rosto, molha minha boca!

O jeito que ela segurava suas bolas combinado com os pedidos insistentes, cada vez mais
agressivos, fizeram com que James gritasse, gozando como nunca em toda sua extensa vida
sexual. Nem com Christina, uma mulher bem mais depravada que sua falecida esposa, ele tive-
ra uma esporrada tão gostosa como aquela. Não teve muito tempo para se recuperar, quando
Joyce recomeçou as chupadas, lambidas e engolidas. Quando sentiu o membro duro crescer
novamente dentro de sua boca, ela o cavalgou com fúria. James gozou novamente, intensa-
mente, e então logo após o prazer começou a sentir aquela sensação de impotência. No fundo
sabia que não conseguiria uma nova erecção, mesmo com as vigorosas carícias que a babá
insistia em fazer. Desesperado, jogou-a com força na cama e abriu-lhe as pernas, deitando-se
entre elas. Sabia que se encaixasse seu membro flácido nas carnes húmidas e quentes de Joyce
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novamente se excitaria. Lambia furiosamente os pés dela, passando a língua por entre os
dedos. A babá não estava gostando, pelo contrário... Apoiou os pés em seu peito, e o empur-
rou:

-Eu ODEIO homens se deitando por cima de mim... Gosto de cavalgar, James! - Ela gemeu rai-
vosa, parecia outra mulher agora.

O homem sentou-se na cama, conformado, impotente. "Não dá mais esta noite, Joyce."

-Nem nessa, nem em mais nenhuma outra, querido. Devia ter escutado quando quis te contar
a história das minhas bonecas. - Os olhos negros dela ficaram vermelhos.

-O que tem a ver...? - Ia começar a perguntar, mas duas asas enormes, negras como de morce-
gos, brotaram das costas da até então adorável babá. Eram enormes, membranosas, e faziam
um barulho incómodo, como se algum líquido profano escorresse por elas.

-Nem pense em exclamar "Meu Deus". Poucos presenciaram minha transformação, mas seja
homem pelo menos nesse instante, seja corajoso. Não se levante dessa cama!

-O que é você? O que quer de mim? - Inconscientemente ou não, obedeceu.

-Já me deu o que eu queria. Precisava de seu esperma. O sémen tinha que ser dado por um
homem seduzido. Eu não podia simplesmente transar com você. Não funcionária de outra
maneira... - a voz dela já tinha mudado também, era gutural.

-Para quê, sua maluca? - Recuperou o raciocínio e a frieza, e então se lembrou do mais impor-
tante - Meu Deus, minha filha! O que você fez com Mary?

-Oras, ela está ali...

James nem tinha visto, na pressa de possuir a babá, mas era verdade. A pequena Mary estava
dentro do quarto, sentada no canto mais escuro, de frente para a parede, quietinha. Aquilo o
assustou, pois sua filha nem respirava.

-Mary, é o papai! Fale comigo. - Ele levantou-se da cama, dando as costas para o demónio que
abria e fechava as asas agora, como que se exercitando.

A menina caiu para trás assim que James encostou nela. Pálida, com os olhos vazios, estava
morta. Nas mãos, estava NEBIRU, o ursinho que estranhamente não parecia nada inocente
agora. Olhou em volta, as bonecas estavam sorrindo. Lembrou-se da madrugada em que ouviu
a conversação de crianças e do telefone fora do gancho.

-Mary dormiu todas as noites aqui, nesse quarto, enquanto eu roubava a alma dela. Você se
orgulha de ser um pai exemplar, mas estava mais preocupado em me espiar, ou me comer,
que nunca se deu ao trabalho de ir até o quarto de sua filha, James.

-Cala a boca, sua maldita! - Ele gritou. Pegou o ursinho, e o atirou com toda a força na parede
atrás dela. O bichinho caiu desajeitado no chão, e seu pescoço pareceu se partir.

-Olhe para o que fez.


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James olhou para o chão, e viu que vertia sangue de NEBIRU. Os olhinhos estavam virados,
arregalados, e aquele olhar subitamente pareceu ser o de sua filha!

-Sabe que é verdade, não? Não preciso contar, já percebeu. Mary morava dentro dele. Agora,
está morta realmente, para sempre. Você acaba de me fazer perder uma alma infantil, e não
imagina o quanto isso é precioso no lugar de onde venho...

-Sua vagabunda maluca! Você matou minha filha! Espere... você também matou...

-O marido de Christina? Errou duas vezes. Eu ainda não matei ninguém. Você matou sua filha,
James, no momento em que jogou NEBIRU na parede. São frágeis minhas crianças, sabia?
Quanto ao marido traído de sua executiva, quem ordenou o suicídio foi... Mary! Foi ela quem
ligou durante a madrugada, e implantou a ideia do assassinato na mente dele, de maneira
subliminar. Lembra do sorvete?

-Por isso você ensinou minha filha falar ao contrário... Mas como ele sabia o endereço?

-Ah, James... Você devia ser mais cuidadoso em guardar o endereço do seu "ninho de amor"
com Christina...

-Pegou quando limpou minha sala particular sem que eu pedisse... O recibo de aluguer do
apartamento estava lá! - Disse o homem, completando o quebra-cabeças.

-A mente humana é muito sugestionável, querido. O marido de Christina quando ouviu a crian-
ça falando com ele naquela madrugada, não entendeu do que se tratava, mas Mary forneceu o
endereço e lhe ordenou directamente que matasse Christina, a esposa adúltera, e que depois
se matasse caso fosse preso. Ainda diria mais coisas, mas você acordou... James começou a
chorar, mas de raiva. Confuso, não sabia se olhava para o corpo da menina caído no canto do
quarto, ou para o ursinho do outro lado, sangrando. O demónio na cama, agora com as longas
asas abertas, totalmente desenvolvidas, sorriu:

-Quanto ao banho de porra que me deu, era para que eu pudesse retornar ao lar, de onde vim.
Acredite, é frustrante ter poderes ocultos e não poder utilizá-los até cumprir determinados
critérios. Eu me alimento disso, James. De esperma, de sémen. Sou uma succubus e esta noite
você me fortaleceu, me libertou do casulo de carne, a adorável "Joyce". O homem procurou
pelos cantos algo com que pudesse atacar, ou se defender, mas não tinha nada por perto.
Estava com medo do que aconteceria agora que sabia toda a verdade. Então notou que as três
bonequinhas restantes estavam na janela, pareciam de partida, e tinham saído dos lugares
onde estavam sem que ele visse!

-James, relaxe. Eu não preciso matar você. Conte para todos sua história triste, mas não estra-
nhe se ninguém acreditar. Confesse, chegou a pensar que eram minhas bonecas no telefone
naquela madrugada, não? São alminhas inocentes presas, nada mais. Aliás, como você matou
Mary...

Doeu no fundo do peito de James ouvir aquilo. Mas ela continuou:

-...preciso agora de outra vítima, uma nova criança, mas para isso preciso conjurar outro
demónio, que servirá como receptáculo dessa alma. NEBIRU está morto, você não tem ideia de
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como me atrasou, James. Sua punição será conviver com a dor da perda de sua filha. Você será
um servo do mal na Terra, sabia? Homens como você, atingidos por uma tragédia dessas,
geralmente perdem a fé e o respeito pela vida humana. Foi reduzido à nada. O homem ajoe-
lhou-se diante da succubus, sem forças para reagir. Apenas segurava o choro com soluços for-
tes, sem saber o que fazer. Ela estava certa.

-Bem, sua utilidade terminou. Não tenho mais nada para fazer aqui. Adeus, senhor. Não nos
veremos novamente, não nessa vida. - Dizendo isso, o demónio pegou suas três bonecas e
levantou voo pela janela, sumindo na noite. Um estranho brilho de loucura passou pelos olhos
de James...

-Você é muito qualificada, pelo que vejo em seu currículo. Está contratada. Preciso mesmo de
uma babá com suas características. Onde encontrou meu anúncio de emprego, senhorita
Sprenger? - Perguntou o homem, sem disfarçar a cobiça carnal no olhar. A adorável moça,
agora ruiva, jogou um jornal em cima da mesa. Na primeira página, uma manchete dizendo
que "um maluco qualquer" tinha invadido uma grande loja de brinquedos e queimado toda a
sessão de bonecas do lugar. Acabou morrendo no meio das chamas.

-Ah, sim... os classificados de empregos, claro. - Ele não notou o sorriso irónico de Joyce Spren-
ger com a manchete - Minha filha está dormindo no quarto lá em cima, vamos subir?
-Sim, vamos. Tenho umas amiguinhas aqui comigo que ela vai adorar conhecer...

† Sodomia
"Em meus olhos você não vê o bri- Em meus olhos você não vê paixão
lho
Em meus olhos você vê meu ódio
Em meus olhos você não vê a luz
Em meus olhos você vê meu desti-
Em meus olhos você vê suas no."
lágrimas
All alone - The sins of Thy beloved
Em meus olhos você vê meus
medos

Claire andava inquieta ultimamente, mais do que o normal. As horas custavam a passar, e ela
queria que chegasse logo a noite. Sim, a noite, sua companheira. Sua diversão no momento
era freqüentar um círculo de jovens que não apenas acreditavam, mas agiam e trocavam san-
gue como se fossem vampiros.

"Não, Claire! Somos humanos e sabemos disso. Apenas apreciamos o modo negro de se viver,
a excitação da troca de sangue. Você nos entende?"

Claire não entendia. E nem estava aí para entender ou não. Queria estar ali, com eles, trocan-
do sangue e experiências sexuais. Eram orgias fenomenais, regadas a muito vinho (como
Bacantes), e sangue. Existia toda uma preparação para determinadas noites, quando todas as
garotas estavam menstruadas. Era o ápice, era bom demais.
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"Nenhum homem, ninguém nunca despertou toda minha sexualidade como esse grupo conse-
guiu."

Claire era branca, não muito alta, cabelos pretos, e grandes olhos castanhos. Eram muito boni-
tos, mas inexpressivos. Ela nunca conseguia dizer nada com apenas um olhar. Sua palidez con-
trastava com o sobretudo negro surrado que gostava de vestir. Um justo vestido, preto tam-
bém, fazia o resto do figurino. Calçava botas, o que a deixava com aquele ar de prostituta fra-
cassada. Ela costumava se maquiar, para logo depois dar uma leve borrada. Sempre parecia
estar acordando naquele exato momento. Menos pela boca, carnuda. Possuía lábios muito
grossos e enlouquecedores. Sempre caprichava no batom. Lábios vermelhos fatais. Assim
como as unhas, cuidadas com esmero. Se tinha algo que Claire fazia com muito carinho, eram
as unhas. Longas e escarlates. Morava sozinha, desde que se mudara para Sistinas. Fazia ape-
nas seis meses que ela chegara na cidade. Ainda estava descobrindo a noite, mas já tinha seus
amigos. Com seu jeito de ser, sempre recebeu propostas para ser prostituta. Sabia que podia
ser uma, e das boas. Mas não queria. Não agora. Ao contrário, tinha um emprego safado de
garçonete. Era bem tratada, até por que o patrão sabia que Claire atraía muita freguesia. E ela
sabia disso. Pedia um salário aceitável, e recebia em dia. Quando chegava em casa, tarde da
noite e sozinha, era a atração da vizinhança. Todos pensavam que ela se prostituía. Profissão
mais do que normal para as garotas dali. Imagine então para uma forasteira? Mas Claire não se
importava com os comentários. Olhou para fora. A tarde caía em Sistinas. Avermelhada, como
se colocassem uma lente vermelha frente ao Sol, que nunca parecia brilhar o suficiente naque-
la cidade. Esperava ansiosa para tirar aquele avental ridículo de garçonete. Faltava pouco ago-
ra. Em algumas horas estaria em casa, se prepararia e iria ao encontro do grupo. Esteve muito
excitada durante o dia todo. Chegou ao extremo de ter que se masturbar no horário de almo-
ço. Sabia exatamente o por que de sua libido estar tão alta. Sempre ficava mais propensa ao
sexo durante o período menstrual. Era inevitável. Antes, reprimia esse sentimento. Nenhum de
seus antigos homens transava com ela durante esses dias. Mas ultimamente tudo mudou. A
garçonete enfim descobriu ser um vulcão nesse período, e achou os parceiros certos para des-
frutar. Faltavam dois minutos para a meia-noite quando Claire entrou no local. Ficava mais
familiar cada vez que ela voltava, mas nunca se acostumaria de verdade. A "Caverna" - como
era chamado - tinha uma curiosa decoração pós-apocalíptica. Diversas correntes caíam do
teto, gaiolas vazias davam apenas uma certa idéia do que poderia ter ocorrido por ali, em
outras noites. A parte que mais chamava a atenção de Claire era na sala principal, onde a seita
costumava beber sangue. Tinha sempre algum detalhe a mais, de acordo com a época do ano,
ou alguns feriados pertinentes. Mas basicamente era o mesmo casal. Uma boneca inflável e
seu eterno parceiro, um "crash-test dummie", aqueles bonecos que as montadoras de veículos
criam para testar a segurança em seus carros. Estavam sempre na mesma posição. A bonequi-
nha de quatro, o rosto coberto por uma máscara de gás, sendo duramente currada pelo bone-
co, que usava um cinto equipado com um enorme pênis de borracha. Claire foi recebida por
um dos "sócios", e olhando para o casal boneco, sorriu:

-Por que vocês não tiram a máscara da pobrezinha? Ela quer gritar, dizer que está adorando,
essas coisas...

-Você já viu coisa mais feia do que a boca de uma boneca inflável? - respondeu o homem.
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Os dois entraram na sala rindo muito, quando Claire viu que tinha alguém novo no lugar. Sem
saber explicar direito, aquilo a excitou mais.

-Ah, Claire, aquele ali é o Sammael, o dono do clube Devil´s Whorehouse, acredita? E veio nos
visitar. Uma pessoa comentou que gostamos de trocar sangue entre nós, e ele se interessou.
Não é demais?

Claire não estava ouvindo. Estava olhando para a figura sentada dentro de um círculo de pes-
soas na sua frente. Era um homem muito forte, que se diferenciava por isso. Todos os outros
do salão eram magros, esguios. Assim como Claire, ele não era muito alto. Longos cabelos,
muito bem cuidados, lhe davam uma aparência exótica. De longe Claire olhava os detalhes do
homem, a pouca pele que aparecia por baixo da roupa pesada que usava era estranha, com
muitas cicatrizes. Algumas tatuagens de praxe, porém em nada parecidas com qualquer coisa
que ela já tivesse visto antes. Pareciam estranhamente antigas. Foi nesse momento de estudo,
que ele voltou-se para ela. Não foi um olhar comum. Claire já tinha sido alvo de olhares dese-
josos, cantadas sofisticadas e outras nem tanto. Mas aquele olhar... Como explicar? Sentiu-se
mais que desejada, sentiu-se despida, pequena, ingênua, indefesa, tudo ao mesmo tempo.
Sentiu-se explorada. Desviou os olhos, confusa. Nunca tinha negado um olhar, nem baixado a
cabeça antes. Mas, naquele momento, preferiu ceder. Sentiu, mesmo sem ver, o sorriso de
Sammael.

-Bem, Claire, você que chegou agora, quer assistir o ritual da leitura das treze regras para nos-
so mais novo membro?

Ela não era a única mulher do lugar. Suas outras duas amigas estavam ali também. Sentou-se
ao lado delas, e respondeu:

-Claro. Vocês já vão começar?

-Sim. Silêncio. Agora vamos aceitar Sammael como nosso novo membro. Uma honra, pela figu-
ra importante da noite de Sistinas que ele é. Sei que não poderá estar todas as noites conosco,
mas eu espero que esteja sempre que puder. Sammael concordou com a cabeça. Claire ainda
não tinha ouvido a voz dele. E percebeu que queria muito ouvi-la. O membro fundador da seita
começou a ler o código que eles adotaram como "regras de conduta".

-Regra número um. DISCRIÇÃO: Este estilo de vida é particular e sagrado. Respeite isto, não
faça dele um assunto secundário. Nós não temos que nos provar para ninguém. Aparecer na
televisão contando ao mundo que você bebe sangue é atrair atenção desnecessária. Nosso
lugar é nas sombras.

-Nunca esconda sua natureza, mas nunca mostre a quem não entende. - disse Cassandra, uma
das amigas de Claire, ao seu lado.

Sammael olhou para todos, e acenou que havia entendido.

"Por que o maldito não fala algo?" - pensou Claire. A maneira como Sammael lhe olhou em
seguida quase a fez acreditar que ele lia pensamentos.
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-Regra número dois. DIVERSIDADE: Nossos caminhos são muitos, ainda que a viagem em que
todos nós estamos seja essencialmente a mesma. Respeite todas as visões e práticas pessoais.

-Nossa diversidade é nossa força. Deixe que nossas diferenças de ponto de vista apenas nos
enriqueça, mas nunca nos divida. - entoôu Cassandra.

Sammael acenou novamente.

-Regra número três. SEGURANÇA: Alimente-se em lugares particulares e tenha certeza que
seus doadores serão discretos. Doadores que criam rumores e fofocas sobre nós não são bem-
vindos. Se você se empenha em beber sangue, coloque a segurança e o cuidado acima de
tudo. Doenças sanguíneas são uma realidade, e não podemos arriscar pôr em perigo nós
mesmos ou outros de nós por sua irresponsabilidade.

-Observe cuidadosamente seus doadores, certificando-se de que eles são de boa saúde, tanto
física como mental. A segurança da comunidade inteira descansa sob os cuidados de cada
membro. - continuou Cassandra.

Claire esperou novamente pela voz de Sammael, que não veio.

-Regra número quatro. CONTROLE: Não podemos e nem devemos negar nossa escuridão inte-
rior. Nem devemos permitir que ela nos controle. Nunca permita a violência. Nunca machuque
quem te sustenta. Nunca alimente-se unicamente pelo fato de se alimentar, e nunca entregue-
se à sede de sangue descuidada.

-Não somos monstros: nós somos capazes de pensar racionalmente e temos auto-controle.
Celebre a escuridão e deixe que isso lhe dê poderes, mas nunca deixe que ela escravize sua
vontade. - disse Cassandra.

Sammael deu um sorriso irônico, que todos acreditaram ser apenas uma piadinha. Estavam
errados, todos eles, mas não sabiam.

-Regra número cinco. ESTILO DE VIDA: Explore e use sua natureza vampírica, mas coloque isso
na balança com as necessidades materiais. Lembre-se: nós podemos ser vampiros, mas ainda
fazemos parte deste mundo. Devemos levar nossas vidas normalmente, com nossos trabalhos,
nossas casas, e progredindo com nossos vizinhos.

-Ser o que somos não é uma desculpa para não participarmos desta realidade. Melhor, isto é
uma obrigação para fazermos dela um lugar melhor para vivermos.

Enfim Sammael falou:

-Podem ter certeza disso. É exatamente assim que penso.

Claire a princípio não notou nada de especial na voz dele. Era normal. Sentiu-se um pouco
decepcionada.

-Regra número seis. FAMÍLIA: Somos, todos nós, uma família, e como toda família, nem todos
os membros progridem. Entretanto, respeite a comunidade durante suas disputas.
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-Como toda família normal, devemos sempre fazer um esforço para apresentar uma aparência
estável e unificada ao resto do mundo, até mesmo quando as coisas não estão perfeitas entre
nós.

-Regra número sete. ABRIGOS: Nossos abrigos são locais seguros onde todos na comunidade
podem comparecer. Há também outros lugares públicos, onde costumamos ir para encontrar
pessoas que não sejam do nosso meio. Devemos sempre respeitar estes lugares e sermos dis-
cretos em nosso comportamento.

-O abrigo é o centro da comunidade inteira, e nós devemos respeitá-lo como tal, trabalhando
para melhorar seu nome na comunidade, de modo que nós todos possamos sempre chamá-la
de lar.

Sammael ouviu a última frase de Cassandra, e deu um risinho:

-É esse o espírito de meu Devil´s Whorehouse também. - concluiu.

-Regra número oito. TERRITÓRIO: Toda cidade tem suas maneiras diferentes de se fazer as
coisas, e regras diferentes de hierarquia. Quando entrar em uma nova cidade, você deverá
familiarizar-se com a comunidade local.

Antes que Cassandra acompanhasse o líder, Claire sorriu, pedindo:

-Essa regra eu conheço bem. Posso recitar o resto?

-Claro. - disse Cassandra, meio contrariada.

-Sempre siga seu melhor comportamento quando chegar em uma nova cidade, seja para visi-
tar ou ficar. Somos todos territoriais e prudentes por natureza, e somente causando a melhor
das impressões será possível ser aceito e respeitado em uma nova comunidade.

-Você é nova na cidade, criança? - perguntou Sammael, curioso.

-Sim, moro em Sistinas faz seis meses.

-Hum, que interessante...

Claire ficou durante as próximas regras tentando entender o que ele quis dizer com aquilo.

-Regra número nove. RESPONSABILIDADE: Este estilo de vida não é para qualquer um. Escolha
com cuidado suas crias.

-Você será responsável pelas ações de seus escolhidos, e o comportamento deles na comuni-
dade será refletido em você. - continuou Cassandra.

-Muito prudente. - limitou-se a dizer Sammael.

-Regra número dez. ANCIÕES: Existem membros que estabeleceram-se como líderes por sua
responsabilidade. Eles são as pessoas que ajudam a estabelecer as comunidades locais, que
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organizam os abrigos, e que trabalham e coordenam a rede de nossa cultura. Eles têm mais
experiência que muitos outros, e geralmente mais sabedoria também.

-Aprecie os anciões por tudo que eles têm dado à você: se não fosse pela dedicação deles, a
comunidade não existiria organizada como é hoje.

-Devo acatar as ordens de alguém, é isso? - questionou Sammael.

-Exatamente. Mas como estamos entre amigos, essa regra é mais decorativa que prática. Ape-
nas seja responsável, e tudo se encaixa. - respondeu o líder da seita.

O convidado sorriu, e acenou para continuar.

-Regra número onze. DOADORES: Sem aqueles que nos oferecem seus corpos e almas, não
seríamos nada. São os doadores que sustentam nossa natureza. Por isso, eles devem ser res-
peitados. Nunca maltrate seus doadores, física ou emocionalmente.

-Aprecie a camaradagem e aceitação que eles oferecem à nós, que tantos outros poderiam
recusar.

-Certo. Vou me lembrar disso. - aquela ladainha toda decorada parecia estar cansando Sam-
mael.

-Regra número doze. LIDERANÇA: Quando você escolhe tomar uma posição de autoridade na
comunidade, lembre-se de que você não fez nada sozinho. Liderança é uma responsabilidade,
não um privilégio. Um bom líder deve dar o exemplo para todos através de suas ações. Seus
motivos devem ser puros, e ele deve colocar os interesses da comunidade inteira acima de
tudo.

-Os melhores líderes são os que servem melhor para a comunidade e cuja pessoa e compor-
tamento não dão a ninguém - até mesmo aqueles de fora da comunidade - razões para criticá-
los. Eles devem lutar para estar acima de qualquer censura.

-Acho que não aspiro a liderança dessa seita, irmãos. Podem passar para a última regra.

-Regra número treze. IDEAIS: Ser um vampiro não é somente se alimentar da vida. Isso é o que
fazemos, mas não necessariamente o que somos. É nossa maneira de representar a escuridão
em um mundo cegado pela luz. É ser diferente, e aceitar essa diferença como a coisa que nos
torna únicos. É aceitar a escuridão que carregamos e abraçá-la para termos uma existência
plena. É celebrar corpo e espírito, prazer e dor, morte e vida.

-Nossas vidas devem ser vividas como uma mensagem ao mundo sobre a beleza de se aceitar a
pessoa inteira, de viver sem culpa e sem vergonha, celebrando a essência individual e bela de
cada alma única. - encerrou cerimoniosamente Cassandra.

Sammael pareceu ter refletido apenas sobre a última regra. Ficou pensando por uns instantes
e depois balançou a cabeça, como se estivesse negando alguma idéia que tenha surgido em
sua mente.
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-Você entendeu e aceitou todas as regras? Quer fazer parte de nossa comunidade? - pergun-
tou enfim Cassandra.

-Antes que responda, quero deixar claro que usamos o termo "vampiros" apenas no sentido
figurado. Somos pessoas normais, que trabalhamos, temos família, amigos e etc. Apenas usa-
mos essa alcunha para compartilharmos entre nós o fetiche do sangue. Vampiros não existem,
é claro.

-É claro. - Sammael repetiu sorrindo. Usou um tom de voz esquisito.

-Temos gente de todo tipo em nossa seita. Ou comunidade, como preferir. De banqueiros
prósperos, até garçonetes. Sabe que temos em nossas fileiras até mesmo um ex-torturador,
capaz de te dar o tipo de dor que você quiser? Existem pessoas que curtem dor e prazer. - dis-
se o líder.

-E quem é ele, o torturador? - quis saber Sammael.

Cassandra levantou a mão, com um sorriso no rosto. "Sou eu."

O estranho ficou surpreso por um instante, e soltou uma gargalhada. Estendeu a mão para
tocar Cassandra, e ficou subitamente sério.

-Os homens de hoje nada sabem sobre dor, comparado com os tribunais da Santa Inquisição.
Lá sim você sofria, ou se entregava à dor. - disse, sombriamente, Sammael.

Ninguém entendeu o significado daquelas palavras, mas ninguém estava mesmo afim de des-
cobrir. A noite prosseguiu, regada à vinho. As caixas de som do lugar duelavam músicas de Ian
Curtis e seu Joy Division contra o Bauhaus de Peter Murphy. Tocavam X-Mal Deutschland, Clan
of Xymox, The Cure, Siouxie, Sisters of Mercy, dentre outras bandas góticas famosas, outras
nem tanto. Um clima sombrio hipnótico tomou conta dos presentes.

-Sammael, por que o seu clube está fechado hoje? - perguntou Angélique, a outra amiga de
Claire, curiosa.

-Bem, o Devil´s Whorehouse está passando por... reformas de cenário! - ele respondeu, sério.
Depois engajou-se numa conversa sobre filosofia e religião, debatendo com outros membros
sobre assuntos diversos, inclusive defendendo que a destruição da mítica Sodoma não foi
motivada por sexo, como todos pensam:

-No Gênesis da bíblia é narrado que dois anjos chegaram à cidade, e que a população degene-
rada quis "conhecê-los". À partir daí a ira divina destruiu tanto Sodoma quanto Gomorra. Mas
esse termo "conhecer" não tem nenhuma conotação sexual, a não ser em nossa tradução
moderna. Tanto que na cidade havia velhos e crianças, e esses com certeza não compartilha-
vam do desejo carnal. Na verdade eles odiavam estrangeiros, e sempre procuravam humilhar
forasteiros.

-Sodoma foi destruída simplesmente por não ser hospitaleira? - indagou Cassandra.
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-Na verdade foi a soberba, a ganância, o orgulho, a ociosidade e a fartura desperdiçada. Mas
não foi o desejo de sexo com anjos. Nenhuma passagem bíblica sobre Sodoma e Gomorra fala
de sexo.

Claire prestava toda sua atenção no estranho. Não gostava da voz dele ainda. Mas sua excita-
ção subia como um termômetro. Já podia imaginar como seria sua madrugada. Na primeira
oportunidade em que ela se afastou do grupo, caminhou até sentar-se ao lado da boneca
inflável. Reparava com muita atenção nas nervuras do pênis vestido pelo boneco quando ouviu
aquela voz, mas agora soando de maneira muito diferente:

-Quero falar com você. A sós.

O corpo de Claire se arrepiou inteiro, e ela sentiu algo molhar entre as pernas. Aquilo não
podia estar acontecendo. "Quer falar sobre Sodoma ou Gomorra?"

-Sobre sodomitas...

-Onde está Claire? - perguntou o líder da seita, alguns minutos depois.

-Ela está bem... muito bem! - limitou-se a dizer Cassandra, sorrindo. Apontou maliciosamente
para a única suíte do lugar.

Nesse momento Claire estava experimentando todos os músculos do estranho Sammael. Ele
era viril, tinha uma agressividade que ela nunca tinha sentido antes, e só agora sabia que era
exatamente o que sempre procurou por toda sua curta vida.

-Eu farejo putinhas de longe sabia? E quando te vi pela primeira vez, você literalmente suava
luxúria. - disse Sammael.

Claire estava ajoelhada. Parou momentâneamente de trabalhar com a boca para conseguir
falar. No estado em que o estranho estava, ela sabia que dependendo da resposta, ele se aca-
baria de prazer e encheria sua boca.

-Você despertou minha libido. Quando te vi, não só transpirei. Molhei até a calcinha.

Sammael fez uma cara animalesca e segurou os cabelos de sua putinha. Colocou seu membro
todo dentro da boca dela e retesou os músculos. O que Claire engoliu sem querer tinha um
gosto estranho, sem aquela textura comum de esperma. Na verdade ela não soube o que
engoliu. Mas o ato ainda assim era muito excitante. Nem teve tempo de se levantar quando foi
jogada ao chão, com força mas sem exagero.

-Isso... me devora! Me mostra do que é capaz! - gritou, desafiando Sammael.

Foi virada de bruços, mas antes quase sentiu medo das feições dele. Claire gostava de usar
uma coleirinha de couro preto adornando seu pescoço. Sentiu um puxão forte que jogou sua
cabeça para trás quando ele a invadiu. A mente de Claire na hora voltou até o casal de bonecos
do salão, a cara de submissa da boneca inflável, impotente sem poder extravasar seu tesão.
Quando Sammael a domou pela coleira, puxando com força e a penetrando com violência, ela
passou a gritar como nunca.
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-Mais! Com foooorçaa!!! Esperei tanto por isso! Continuaaaaaaa!!! Vai, filho da puta!!!

Lá fora, os membros da seita ouviam os gritos, incomodados. Quando Angélique teve a idéia
de deixar alguém beber vinho nos seios dela, o clima enfim esquentou. A sala principal, que
estava fechada a poucos membros da seita naquela noite, virou o palco de uma suruba escar-
late regada à sangue e vinho. Cassandra e Angélique sumiram no meio da volúpia da maioria
masculina do lugar. Dentro da suíte, Sammael possuía Claire com toda sua força. Nunca uma
putinha o tinha desafiado antes, e por isso ele fazia questão de machucar. Tinha planos para
ela. Pensou também em Cassandra, a bela torturadora, que lhe seria útil no futuro. Claire era
penetrada e sua mente viajava em sensações contraditórias. Prazer, dor, poder, humilhação.
Não sabia o que estava curtindo mais. Sabia que todos lá fora estavam ouvindo, e com isso
compartilhando do prazer dela. Sentiu-se poderosa, a rainha da noite. Mas quando Sammael
puxava a coleira de couro, ela virava uma cadelinha sendo domada por um dono sádico. Então
agüentava as estocadas violentas machucando suas carnes molhadas, e sentia-se uma mulher
realizada. Sammael estava concentrado em sua vítima. Quando sentiu Claire molhar-se toda,
misturando seu ciclo menstrual com a excitação, ele a encostou na parede. Ergueu a mulher
com a maior facilidade, e ela teve a penetração mais profunda de sua vida. Nunca sentira nada
igual. Estava em êxtase. Quando Claire chegou a mais um orgasmo, contorceu-se toda nos
braços dele, que a deixou caída no chão e montou por cima. Penetrou de novo, e até com mais
vigor que antes. Claire olhava ainda com olhar desafiador, pensando em até quando agüenta-
ria aquele ritmo. Já estava dolorida, mas não queria que aquilo acabasse. Não ainda. Quando
ele colocou a mão fechando sua boca, ela ficou com medo. Dedos poderosos. O rosto como
uma máscara de ódio. Pela primeira vez temeu morrer. Isso a assustou e a excitou ao mesmo
tempo. Vendo a empolgação da parceira, Sammael a penetrou atrás, uma coisa que ela rara-
mente permitia. Impotente, segurou a dor de uma penetração seca, sem preparação e tensa.
Quando enfim conseguiu suportar, ele começou a entrar mais forte. A dor voltou, tamanha
que ela quase desmaiava, mas era essa a sensação única que perseguia. Olhava para ele, que
estava por cima, olho no olho, tão próximos, ela com a boca coberta pela mão forte, ele se
metendo vigorosamente entre suas coxas. Claire destilava todo seu ódio e prazer num único
olhar, e tentava enxergar o que Sammael sentia. Para ele o sexo parecia apenas um exercício
de dominação. Tinha os olhos estranhos, sombrios, sem vida. Avermelhados. Mas odiavam. Era
quase palpável. Ele a machucava e sentia prazer nisso. Foi quando teve uma espécie de visão
daquele macho viril deflorando virgens, tanto vaginais e anais, através dos tempos. Um delírio
próximo ao gozo? Ele não parecia ser velho, mas algo nele era tão... antigo? Em sua mente
Claire também imaginou que ele também arrebentava pregas masculinas, como um mentor
grego ou romano transmitindo sua virilidade para efebos através do sexo anal. A brusca
mudança de posição que Sammael forçou interrompeu os delírios de Claire. Colocada de qua-
tro como uma égua de exposição, ela sentiu seus joelhos doloridos contra o chão duro. Tão
duro quanto o membro pelo qual esperava ser invadida. Mas a mão forte de Sammael nova-
mente a levaria à uma região podre do prazer, aquela tênue linha entre a satisfação e a sensa-
ção de estar nadando na lama da depravação. Segurando o pulso de Claire, ele dirigiu a mão
dela até entre as nádegas e pediu impaciente que ela enfiasse o dedo indicador no rabo. Ela
soltou um gritinho de prazer quando enfiou. Primeiro um, depois ele pediu dois, até que a fez
enfiar três dedos. Ela já gostava da sensação quando encaixou o quarto, e então Sammael
aproximou-se, e ela sentiu o nervos do pau dele roçando os nós de seus dedos, tudo dentro
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dela. Ele enfiou tão fundo quanto pôde, ela viu estrelas e praticamente mijou nas próprias
pernas com tanto gozo. Ele fez um som parecido com sorriso, praticamente a imobilizando
naquela posição e então a penetrou. Seu membro entrava meio que por cima, ou excessiva-
mente de lado, forçando ainda mais a musculatura interna. Apesar do prazer aquilo doía muito
e o ritmo da investida dele foi aumentando gradualmente, até as lágrimas de Claire se mistura-
rem com a saliva num grito descontrolado. Havia perdido a batalha... Ela nunca mais desafiaria
Sammael! Ele agora se jogava contra as nádegas dela, com tanta força que Claire se dobrou,
encostando o rosto no chão. Não agüentando mais o braço esticado para trás, ela escorregou
os dedos para fora do rabo, deixando tudo aberto para seu novo mestre. As pernas poderosas
dele pareciam envolvê-la, até que ela sentiu o pé direito de Sammael pisando desdenhosa-
mente em sua cabeça enquanto a enrabava. Ela tinha sido vencida enfim, mas sem poder se
render. O estranho homem que não respirava não deixava. Qualquer outro naquela situação
estaria ofegante, mas não ele. Claire quis pensar nesse detalhe, mas sua mente não funciona-
va. Não para isso. Ela só sentia a incômoda invasão que a machucava seguidamente. Finalmen-
te Sammael retesou os músculos, seu membro pareceu aumentar de diâmetro e ele gozou.
Novamente algo estranho, parecia até frio, uma coisa esquisita que a mente dela começou a
não aceitar direito. O prazer tinha terminado. Sobrou a dor. Sammael caiu de lado. Não respi-
rava mesmo. E era o primeiro homem que trepava com ela e não suava. Nem uma única gota!
Ao contrário de Claire, que sentia um gosto horrível nos lábios, tinha todo seu corpo dolorido,
molhado de suor, de sangue, e secreções. E ela sabia que seu rabo agora estava aberto de
maneira obscena, a musculatura tentando voltar ao lugar natural. Juntou toda sua força de
vontade, apesar de que no estado em que se encontrava, sentia-se pequena e indefesa. Levan-
tou-se, sentindo em seu pescoço dolorido as marcas da coleirinha de couro. Olhou novamente
para ele, e enfim perguntou:

-Quem é você?

-Sou seu sonho. Ou seu pesadelo. Depende do que sentiu nos últimos minutos.

Claire hesitou. A palavra nojo veio em sua mente. Ela não disse, mas ele leu em seus olhos,
antes inexpressivos, mas que agora pareciam livros abertos.

-Você no íntimo gostou. Apenas não entendeu o que sou. Isso a deixou confusa.

A mulher baixou a cabeça, recusando-se a olhar para ele.

-Quanto ao que sou...

Claire esperou ele terminar a frase, mas isso não aconteceu. Um rosto horrível a encarou de
perto, com dois olhos injetados, vermelhos. Peludo? Por um instante, a mulher não sabia se
estava olhando para Sammael ou para um lobo. Apenas soube que já estava morta.

-Será minha eterna escrava. Terá dor e prazer por todas as noites da eternidade. Arrancada da
luz do Sol, terá que procurar outras formas de acalmar suas perdas.

Ele abriu a boca, e seus dentes quase arrancaram a cabeça dela do pescoço. Foi quase um bál-
samo perto de toda a dor que ela sentiu naquela noite. Quando a secou de todo o sangue,
Claire deu um sorriso irônico, e tombou morta. Mas não por muito tempo. Quando Sammael
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deixou a suíte, com sua nova escrava ao seu lado, observou uma cena grotesca. A seita dos
humanos bebedores de sangue, toda ela dormindo. Cassandra e Angélique molhadas de ver-
melho. Um cheiro forte de vinho, sexo, suor e esperma abalaram as narinas do vampiro.

-Suas amigas virão comigo. - sentenciou Sammael.

Os policiais encontraram no dia seguinte o lugar coberto de sangue. Denunciados por um vizi-
nho que disse ter ouvido toda a orgia da noite anterior, a seita inteira foi encontrada morta. Os
cadáveres estavam totalmente secos, sem sangue algum. Marcas de mordidas múltiplas nos
pescoços das vítimas davam idéia de uma chacina em massa, provocada pelo líder que, apa-
rentemente, depois se suicidou.

-Eles não se diziam vampiros bebedores de sangue humano? - perguntou o repórter, na cena
do crime.

-Sim. Eles costumavam beber sangue em orgias entre eles. O líder enlouqueceu, bebeu todos,
e se matou. Só uma autópsia pode dizer o quanto de sangue ele ingeriu.

-Eles eram vampiros, então? - insistiu o repórter.

-Só na mente doentia deles. Eram humanos, como eu e você. Apenas fantasiavam. E, todos nós
sabemos, vampiros não existem!

-Pelo jeito eles não sabiam disso, oficial?

O policial sorriu, e concluiu:

-Sim. O caso está encerrado. Agora abra espaço para o meu pessoal trabalhar, ok? Naquela
semana, o Devil´s Whorehouse abriu suas portas novamente. E com três novas empregadas...

† Princess of the Night

Valerie estava faminta, e a noite quente parecia pedir um parceiro especial. A dona do badala-
do Princess of the Night olhava para a pista de dança de sua casa nocturna com olhar preda-
dor. Observava como as pessoas dançavam alegremente, embaladas pelo som do violino de
Mãe e as poderosas pick-ups de seu DJ favorito. Ela nunca entendia direito a química dançante
que a instrumentista oriental conseguia unindo seu instrumento clássico com batidas dance
hipnóticas. Mas funcionava. E como! Valerie sentou-se na mesinha, e continuava a olhar a
pista lá em baixo. Para um ser de audição privilegiada, a vampira quase não suportava o baru-
lho. Mas não negava que gostava um pouco. Seu olhar parou numa mulher que dançava como
uma louca. Atraindo os olhares de todos ao redor, ela se entregava inteira ao ritmo, e como
era sensual! Mas dançava como se fosse sua última noite. Estranho... Valerie ficou o tempo
todo procurando por alguém na pista. Mas sabia, inconscientemente, que já havia escolhido
sua vítima. Seria ela. A dançarina. Era uma mulher não muito alta, mas dotada de um corpo
cheio de curvas perfeitas, delineadas por um vestido muito bem escolhido para a ocasião. Os
longos e esvoaçantes cabelos negros chamavam toda a atenção da casa para ela. Transpirava
sensualidade. Dançando ora com homens, ora com mulheres. Val assistiu a mulher durante
algumas músicas, até perceber que queria muito beber o sangue dela. Analisava mentalmente
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a situação. Ela estava desacompanhada. Se desaparecesse, ninguém saberia ao certo onde


procurá-la. Perfeita! A vampira ouviu claramente, mesmo através de todo o barulho ambiente,
quando um cara a abordou em plena pista:

-Você é muito interessante. Será que faz sexo com o mesmo tesão que dança?

-Eu não dou gostoso quando estou chateada. E hoje estou muito chateada.

-Pouco importa. Quero te comer assim mesmo. - Disparou o cara, era forte, atlético mesmo, e
com pinta de garanhão barato.

-Só estou a fim de dançar, ok? - Respondeu a mulher, com educação e graça cínica. A vampira
ainda viu o cara se decepcionar e se afastar, totalmente contrariado.

"Ok, querida. Que tal se você olhasse... para mim?" - mentalizou Val.

E a dançarina olhou. Val sorriu o melhor de seus sorrisos, e a cativou. Como sempre fazia. Não
havia nada de sobrenatural nisso, ao contrário do que alguns pensavam. Era apenas o conhe-
cimento da alma humana. Os humanos são mais imutáveis que os vampiros. Seja qual for a
época, sempre são guiados pelos instintos básicos. A vampira estava nesse jogo por tempo
demais para conhecer determinados sinais... Conhecer e interpretar!

Quando a música acabou, a mulher subiu para o mezanino. Causava furor onde passava. Sua-
da, ainda cansada da maratona, ela parou em frente à mesa de Val.

-Sente-se. Seja bem-vinda ao Princess of the Night. Sou Valerie, a proprietária.

A mulher cumprimentou Val e acomodou-se. Pediu para beber algo forte. O DJ da casa agora
tocava a música "Army of me", da Björk, que com sua voz doce e a batida forte da música
embalava há todos lá na pista, mas a vampira estava com a atenção toda concentrada em sua
própria mesa.

-São mulheres como você que atraem a clientela de minha casa, sabia?

-Obrigada. É a primeira vez que venho. Sua casa é muito bem recomendada. E com toda razão.

A bebida chegou, a estranha se serviu, e perguntou:

-Porque está aqui sentada comigo se poderia escolher qualquer homem para lhe acompanhar?

-Homens são maçantes às vezes. Mas, e você? O que faz aqui comigo, se pôs todos os homens
da casa há seus pés, com sua dança? - A vampira perguntou.

-Não estou a procurar homens. Ando cheia deles.

-Então resolveu procurar mulheres?

-Isso foi uma pergunta ou uma afirmação?

-Me responda você, cara dançarina.


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A mulher deu um longo gole em sua bebida, e ensaiou um sorriso. "Como ela poderia saber de
meus desejos mais íntimos?" Enfim resolveu falar:

-Ando meio chateada com homens. Terminei um longo e tedioso relacionamento. Quero expe-
rimentar coisas novas. Uma amiga minha anda me incentivando.

-Você já experimentou uma mulher?

A dançarina gostava do rumo da conversa. Estava mais solta, pela bebida, e com vontade de
contar alguns de seus segredos:

-Só a minha amiga. - Respondeu, sem embaraço algum.

-Qual o seu problema com os homens?

-Os homens são infiéis e nos esnobam... Mas ficam assustados e confusos quando encontram
uma gata que goste de mulher tanto quanto eles!

-Nossa, você já gosta tanto assim?

-Sim. Olho para uma mulher com tanto desejo quanto para um homem.

Val sorriu, entendendo perfeitamente a situação, pois durante as eras acumulou amantes,
escolhendo entre homens e mulheres. Serviu outra dose à ela.

-Eles são desajeitados, apressados na cama e fora dela. Nós, mulheres, temos mais tacto.
Conhecemos o corpo e a alma feminina. Os homens transariam melhor se usassem a outra
cabeça na hora do sexo! Eles são uns tolos.

A vampira olhava para a mulher, analisando. Era morena, uma cor maravilhosa de pele. Ah, a
pele! Era tão macia! Podia perceber a textura antes mesmo de tocá-la. E os olhos eram uma
mistura harmoniosa de cinza com azul-escuro, maravilhosos! Eram muito expressivos também.

-Você já tem experiência nesses relacionamentos homossexuais, Valerie? - Perguntou a


mulher.

A vampira saiu de seus devaneios, e resolveu não se alongar naquele assunto. Respondeu que
sim, secamente, olhando para os olhos encantadores dela.

-Eu estou procurando alguém, uma alma feminina que saiba me completar. Sabe, eu gosto de
homens. Gosto de me satisfazer com eles. Aliás, só conseguem me satisfazer na sedução. Me
excitei dançando com um homem ali, agora há pouco. Sei que não foi suor que molhou minha
calcinha. Mas o sexo com um homem já não me excita mais.

Valerie buscou na memória qual foi a última vez em que ela própria tinha molhado a calcinha
por alguém. Estranhamente não conseguiu se lembrar.

-Um cara que estava dançando comigo disse que queria me comer ali na pista mesmo. Eu
achei graça naquilo. Gostei do interesse dele, mas não correspondi. Silêncio. Valerie estava
com fome. Já tinha achado a vítima perfeita. Preferia não ouvir mais nada, para não se apegar,
não criar vínculos. Não queria nem ao menos saber o nome daquela estranha. Ela estaria mor-
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ta algumas horas depois, sugada até a medula. A mulher percebeu o silêncio inquietante. Quis
quebrar de vez o gelo com sua anfitriã misteriosa:

-Terminei com meu namorado mês passado. Sabe porquê?

-Me conte.

-Ele afirmou que a mulher é a pior parte da vagina... Acredita nisso?

-Hahahahaha! Que cretino!

A mulher olhava nervosamente para seu copo, meio constrangida com a gargalhada de Val.

-É. Cretino mesmo. Era apressado demais na cama, ou, nas raras vezes que queria ser demora-
do, era lento demais. Ele nunca me deu o prazer verdadeiro. E ainda me dividia com os amigos.

-Vou te contar uma coisa, pequena irmã: Eu nunca dividi a cama com mais de um parceiro, seja
homem ou mulher. Acho que o sexo é a dois, e com as paredes como testemunha.

-Eu concordo com você. Mas algumas vezes eu desejei dois homens. Quis saber se meu pro-
blema era quantidade. Não era, sabia? - Choramingou a mulher. Novo silêncio.

-Droga, eu estou bêbada. Me desculpe, Val. Devo estar sendo uma péssima companhia. O pro-
blema é que estou muito triste para ficar sóbria. Me sirva mais uma dose, por favor?

A anfitriã deu um risinho entre os dentes, e a serviu. Aquele sabor iria impregnar o sangue
dela, e com certeza deixaria Val levemente tonta após beber.

-Você quer me beijar? - Perguntou a mulher, confessando o desejo, enfim.

-Eu quero. Mas, por que você quer me beijar?

-Eu quero você. E, apesar de gostar, me cansei dos olhares masculinos me seguindo hoje. Que-
ro uma mulher. Uma como você.

-Tenho um lugar para nós, vamos? - "Uma como eu, não é?", pensou Valerie, maliciosa.

A mulher levantou-se graciosamente, após dar um último gole na bebida, e a acompanhou.


Mal sabia o que a aguardava na penumbra do quarto particular da vampira...

-Mmmmm, assimmmmm... Nossa, você é boa nisso! Mmm... Nunca tive uma amante com essa
fome toda.

Se a mulher pudesse enxergar o rosto de Val no escuro do quarto, enterrado entre suas coxas,
teria visto um sorriso irónico.

-Continua... que sensação é essa? Meu Deus!

"Tudo, menos Deus."

-Isso, aí mesmo... Uuuuuuuhh, Valerie que delícia...


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A vampira sabia de fato o que, onde, e como fazer. E caprichava... Aprendera com Sammael
em outros tempos que o sangue extraído de vítimas em êxtase sexual era mais saboroso.

-Você me deixa louca! Ahnnn, que sensação maravilhosa... que você está fazendo?

[chup]

-Meu Deus... Que chupada... Sinto me esvaindo na sua boca! Que loucura...

A mulher segurava as bordas da cama com força, mordia os lábios com aflição... Estava defini-
tivamente entregue! E como era bom! Mas estava se esvaindo sim. Em sangue. Num ímpeto
ergueu-se das almofadas e quis beijar Valerie. Puxou os cabelos da anfitriã, afastando a boca
faminta que agora mordia e lambia sua virilha. Mas o que viu foram os lábios vermelhos. E
dentes saindo por fora deles, tão vermelhos quanto... Sua mente não conseguiu reagir direito.

-O quê?

-Shhh, relaxe pequena irmã... Está para vir o melhor!

A mulher deitou-se novamente. Estranho como agora ela percebia que não era prazer que
sentia. Era dor. A bebida no instante seguinte parou de embriagar seus sentidos. Quando viu a
vampira atacar de novo sua intimidade, tacteou no escuro. Pegou a primeira coisa pesada que
tocou.

-Malditaaa! - Gritou, e destruiu um abajur na cabeça de Val.

A anfitriã nem conseguiu absorver o choque. Estava meio tonta pelo gosto da bebida que insis-
tia vir junto com o sangue da mulher, e o golpe na cabeça a derrubou no chão. A dançarina
pegou seu vestido e enrolando-se apressada, destrancou a porta, durou uma eternidade girar
a chave, e correu o mais rápido que pôde. Saiu novamente no mezanino. E mais uma vez cap-
tou toda a atenção da pista para si. Percebeu que sangrava entre as pernas, no pescoço, e até
seus pulsos estavam cortados. Como não tinha visto aquilo? Desceu correndo a escada, quan-
do Spot viu o espectáculo. O homem de confiança de Valerie correu pela multidão para alcan-
çar a mulher. Tirou uma pequena seringa do bolso. Uma massa humana desabou na direcção
da dançarina, e ela sentia-se cada vez mais fraca. Quando viu a porta, e sua liberdade, ela
achou que enfim estaria salva. Corria por sua vida, tropeçando em todos que atravessavam seu
caminho. Sentiu-se sendo violada, tocada, agarrada. Tudo ao mesmo tempo! Quando ela
alcançou a porta, tombou com Spot. "Me ajude", resmungou debilmente. Sentiu apenas o
abraço forte do segurança, e uma pequena picada em seu braço. Seu mundo escureceu, e
nunca mais brilhou novamente... No Departamento de Polícia de Sistinas, algum tempo depois,
o delegado de plantão observa o farrapo humano parado à sua frente, rindo de algo invisível.

-Qual seu nome? - Perguntou enfim o delegado.

-Me chama de Ziggy, bacana!

-Pode me dizer o que você viu?


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-Meu, a mina tava viajando! Eu só vi quando o Gardenal, meu chegado, me deu um toque. E
ele tentou passar a mão nela. É, tentou sim! Eu falei: " Cê tá maluco? A mina tá bem doida, vai
dá mó sujeira"

-Ok, Ziggy, obrigado pelo depoimento.

-Aê, bacana! A mina era muito gostosa, um pedação de mal caminho, cara. Parecia uma deusa!
Cê não vai zoar o Gardenal por causa disso, né?

-Não, Ziggy. Próxima testemunha!

Uma mulher impecável entra na sala. O delegado sente um perfume que sabe custar mais que
seu salário todo no mês.

-Qual seu nome?

-Nome de solteira ou de casada, delegado?

-Primeiro nome. O resto eu pego de sua assinatura no depoimento.

-Andrea.

-O que você viu hoje naquela pista de dança, Andrea?

-Aquela vagabunda veio toda ensanguentada. A vadia sujou meu vestido todo! Eu cheguei a
dar um tapa nela, mas vi que ela estava menstruada, sei lá! E também tinha cortado os pulsos.
Era sangue até nos cabelos, parecia um demónio!

-Obrigado.

-Como assim, "obrigado"? Meu vestido tá perdido! Quem vai me pagar por isso?

-A polícia é que não, madame. Tenha um bom dia. Próxima!

Entra uma moça. Olhar assustado.

-Qual seu nome, mocinha? - Perguntou pela enésima vez na noite o delegado.

-Shirley. Escuta, meus pais não vão ficar sabendo não, né? Eles nem podem sonhar que eu tava
lá. Por favor.

-Ok, mocinha. Apenas me diga o que viu. Eu prometo não divulgar seu nome. Mas quero sua
verdade.

-Bem. Essa mulher tava mesmo bem doida. Ela tava dançando. Eu nunca vi ninguém dançar
como ela. Ela, bem... Eu briguei com o Rick por causa dela. Rick é... quero dizer, era meu
namorado.

-Brigaram por quê?

-Ele deu em cima dela. Fazer o quê, se ela era muito mais gostosa, e dançava melhor que eu?
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-Viu o que houve depois? Quando ela estava ensanguentada?

-Sim. O Rick foi quem viu primeiro. Ela tinha sangue no pescoço e nos pulsos. Parecia também
que um dos seios dela estava mordido. E ela tava... Bem, ela tava menstruada, eu acho.

-Obrigado. Onde está Rick? Posso falar com ele?

-O Rick? Sei lá onde tá aquele babaca!

-Obrigado assim mesmo. Tenha um bom dia.

A mocinha saiu da sala, e o oficial de polícia pensou em dar um tempo. "Maldição, eu preciso
de um cigarro!". Nem percebeu o homem alto parado na porta, até que ele falou:

-Delegado?

-Sim? Quem é você?

-Me chame de Spot. Levante minha ficha. Verá que trabalho há mais de vinte anos como segu-
rança de casas nocturnas. Eu que tirei a garota do tumulto. Alguém disse que tentaram violar a
vítima no meio da pista de dança?

-Mesmo? Que juventude perdida! E pensar que a garota morta tinha a idade da minha filha...

-Pois é. Venho até aqui em nome da proprietária. Ela está muito abalada, pois isso denigre a
imagem de nosso clube. Ao que parece, a garota já chegou lá drogada, e disposta a armar con-
fusão. Sabe aquelas pessoas que querem morrer e levar audiência junto?

-Sim, foi o que me pareceu. Todos os depoimentos falam que ela dançava como uma maníaca
sexual. Não foi à toa que quiseram atacá-la depois. Mas onde ela ficou durante o período em
que subiu ao mezanino de sua casa e a volta dela toda ensanguentada? Foram cerca de trinta
minutos, meu caro!

-Está convidado a ir até o Princess. Posso lhe mostrar as dependências. É um lugar amplo,
amplo demais às vezes. Ela poderia ir a qualquer lugar, delegado.

-O que acontece naquela casa nocturna, Spot?

-Shows de rock, gótico, essas coisas, que aliás, eu não entendo muito. Meu negócio é evitar
tumultos. Nada mais que isso. O problema é que juntar muitas pessoas num lugar de vez em
quando dá confusão. Mais alguma pergunta?

-Não. Pode ir. Estamos ainda apurando fatos. A causa da morte foi perda maciça de sangue e
intoxicação aguda. Ela estava mesmo muito doida! Qualquer novidade, nos avise.

O homem chamado Spot virou-se e saiu. Era a última pessoa que saía da delegacia naquela
madrugada. Aliás, já raiava o dia.

-Policial Nielsen!!!

-Sim, delegado.
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-Precisamos observar direito essa casa. Apesar de tudo parecer suicídio, confesso que não
fiquei totalmente convencido.

-O que o senhor pretende fazer?

-Você gosta de shows de Rock, Nielsen? - Respondeu com pergunta o delegado, ajeitando o
uniforme com olhar distraído. Tinha algo errado, e ele iria descobrir exactamente o que era!

† Ladra de Corpos - Parte 1

"Apontando para o céu sobre mim Caminhando por entre o cemitério

Eu não posso continuar aqui sozi- Desenterrando os ossos dela..."


nho
Dig up her bones - Misfits
Ronnie estava saindo de casa para trabalhar. Saía cedinho, manobrando o carro na garagem.
Como sempre sua vizinha estava chegando naquele horário. Ela morava na casa em frente, e
adorava caminhar pela manhã. Usava uma roupa colante própria para isso, o que a deixava
mais bela ainda.Porém, sempre que a olhava com cobiça, Ronnie lembrava-se de Heather, sua
esposa, que ele amava mais que tudo. Mas apesar do amor, era inegável que a vizinha lhe des-
pertava desejo. Era mais velha que Heather, mais bonita e solteiríssima. Engraçado... Um ami-
go de Ronnie comparava o casamento à uma ida ao restaurante: o prato principal da mesa ao
lado sempre é mais agradável e apetitoso que o seu. E ela já tinha lhe lançado olhares malicio-
sos antes. Olhares que não teve coragem de retribuir, pois era casado e gostava de ser fiel à
Heather. Porém, naquela manhã, Ronnie olhou mais do que o normal para sua vizinha. Se ima-
ginou lambendo o suor que escorria por todo o corpo daquela bela mulher. Sorrindo, balançou
a cabeça afastando a idéia, e deu partida no carro. O dia seria duro. E foi. Mais do que o nor-
mal. Tão atribulado, que esqueceu completamente de sua vizinha. Mas não da esposa. Às
vezes, ele dizia a si mesmo que estava se matando de trabalhar por ela. Mas sabia que era o
correto a fazer. E esse pensamento aliviava a tensão.
Quando o dia chegou ao fim, Ronnie só queria beijar sua esposa. Ia direto para casa, mas
antes passaria num lugar para comprar uma agradável surpresa à ela. Heather estava feliz.
Fazia poucos meses que moravam em Sistinas, e as coisas começavam a dar certo. Ela ainda
não trabalhava, mas ele já estava estabelecido em um bom emprego, então era questão de
tempo para as coisas se ajeitarem de vez! Ainda não tinha filhos, mas com a estabilidade
financeira o desejo de se tornar mãe seria facilitado. Sorrindo, ela tirou o jantar do microon-
das, e já aprontava a mesa, pois seu marido chegaria em minutos. Ela já quase podia ouví-lo,
com suas frases irônicas sobre como hoje em dia as pessoas recebem mensagens de anjos via
WAP em seus celulares e também o horóscopo, que os textos são reprisados após alguns
meses, e que existem idiotas que conseguem ler e acreditar naquilo tudo. O cliente que ele
visitaria hoje trabalhava com todas essas coisas. Aliás, Ronnie não gostou do clima de Sistinas
quando se mudaram. A cidade tinha fama de ser mística, cheia de lendas de vampiros, bruxas
e seitas sanguinárias, mas Heather não a via assim. Era uma cidade comum apenas tão perigo-
sa quanto todas as outras por onde eles já haviam passado.

"Ronnie está chegando. Ele sempre chega às sete!"


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Quando alguém bateu na porta, não perguntou quem era, e simplesmente abriu. Um estranho
homem olhou para ela e a jogou no chão. Antes mesmo que pudesse reagir, ou gritar, ele
fechou a porta atrás de si, e caiu em cima dela.

-Socorroooooooooo!!! Saia daqui!!!

O homem sorriu, faltando alguns dentes na boca, e deu um murro na cara dela.

-Se ficar quietinha, em quinze minutos já terei ido embora. Se gritar de novo, te mato. Dizendo
isso, ele mostrou um revólver. Quando Heather tentou correr em pânico, ele a agarrou pelas
pernas, e começou com sua diversão.

A mulher se debatia, e ainda de pé tentava escapar dele, mas também sabia que não podia
enfurecê-lo. Não sabia direito o que fazer. Foi quando ele desceu a saia dela, e começou puxar
a calcinha pelas pernas abaixo.

-Isso eu quero para mim. - e pegou a calcinha dela do chão. Passou pelo rosto, como um aluci-
nado, e cheirou. Seus olhos reviraram, e Heather percebeu que ele estava no auge da excita-
ção, pelo volume que de repente se formou dentro das calças sujas do homem.

-Por favor, não me machuque... Eu lhe dou o que quiser... Temos dinheiro...

-CALADA! Fica quieta, porra! Você sabe bem o que eu quero. Todas vocês sabem!! Sempre
souberam!

Heather assustou-se mais ainda, seminua e indefesa. Ele a derrubou no chão, voltando a
empunhar arma, e a calça dele caiu. Não usava cueca por baixo, então o membro saltou
batendo nas coxas dela. Um cheiro forte de urina e esperma queimou suas narinas. Era nau-
seante! Ele afastou as coxas de Heather, e a penetrou, em uma única estocada, e gritou feliz!
Começou a tentar beijá-la, e ela desviava o rosto, evitando. Então ele cuspiu uma, depois duas
vezes, enquanto enfiava tudo com força. Mexia freneticamente em cima de sua vítima, e
gozou rapidamente. Heather odiou sentir o esperma dele. O estuprador então a jogou de lado,
e para se excitar novamente, ficou esfregando o cano do revólver pelo corpo dela. Começou a
insinuar que a penetraria com o revólver mesmo, e sorriu alucinadamente.

"Ronnie onde está você? Esse homem vai me matar! Deus, me ajude!"

Violentamente, o homem a colocou de quatro, e então a penetrou de novo. Enfiava com mais
força do que o necessário. Heather pensava apenas que morreria, mas tinha a esperança do
marido chegar e a salvar. A porta estava só encostada. Ouviu então que o estuprador estava
chupando algo, fazendo um barulho obsceno com a boca. Ela criou coragem e olhou para
trás... O maluco estava chupando o cano da arma! Quando ele abriu os olhos, a pegou pelos
cabelos e bateu sua cabeça na parede, gritando:

-Não olhe para mim, vadia! Se olhar de novo te mato!!!!

Ele continuou metendo, mais forte do que antes. A cada estocada, Heather se apoiava mais
firme para não cair. Agora tudo doía, sua cabeça, os cabelos que ele puxou, o rosto que ele
esmurrou. Achou que já estava sentindo dor suficiente. Com medo de olhar para trás, passou
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apenas a sentir e tentar adivinhar o que o maluco estava fazendo. Tremeu quando sentiu algo
metálico roçando seu ânus. "Não"... O estuprador sorriu, e afastou as nádegas dela, ainda
enfiando o pau ritmadamente. Antes que a mulher pudesse emitir qualquer som, sentiu seus
dois buracos sendo preenchidos violentamente... E então Heather gritou muito! Ronnie estava
ligeiramente atrasado. "O que são quinze minutos numa cidade grande como esta?" Heather
já deve estar com o jantar esfriando, mas paciência. Estava num sex-shop no momento, com-
prando algumas novidades para apimentar as noites de sexo com sua esposa. De repente, lhe
passou pela cabeça que estava fazendo aquilo como uma compensação por ter desejado a
vizinha pela manhã. Mas afastou a idéia. Certa vez, Heather mencionou algo sobre querer um
vibrador, para tentar uma dupla penetra ção. Será que ainda queria??? Heather estava caída
no chão, dolorida e humilhada. Suas nádegas estavam vermelhas, de tantos tapas que levou.
Suas carnes ardiam, tanto por dentro quanto por fora. O estranho agora estava de pé, forçan-
do-a chupá-lo. Heather olhava com nojo, se recusando, mas fraca demais para resistir quando
ele a pegou pelos cabelos. Sentia o gosto agridoce do esperma, e algo de sangue, e tentava
não pensar no que poderia estar sangrando. Só pensava na dor. Passaria muito, mas muito
tempo sem sentar direito...

-Agora, vaquinha, que já deixou eu fazer tudo, já mamou e limpou meu cacete, está na minha
hora. Sabia que posso voltar? - ele jogava com o medo dela, sorrindo.

Heather estava ajoelhada, presa entre as pernas dele, que posicionou o revólver apontado
para o centro da testa dela e sorria. Foi quando a porta se abriu, e Ronnie entrou, assustado.
Instintivamente, o estuprador disparou dois tiros que abriram a cabeça de Heather. Quando
ele conseguiu raciocinar direito, apontou o revólver para Ronnie, e atirou mais uma vez, mas
errou. Ronnie correu para fora, gritando. O estuprador correu também para fora da casa e
fugiu a pé. A polícia só chegaria no local vinte demorados minutos depois...

v Cemitério de Sistinas, dois dias depois.

Ronnie já tinha enterrado sua esposa no dia anterior. Ainda estava sem saber direito o que
fazer com sua vida. Naquela manhã após o incidente, chegou a pensar em suicídio. Agora,
sozinho em frente à lápide de Heather, apenas chorava. Chorava muito.

-Eu estou desesperado. Como eu queria poder esquecer você, Heather, e encarar isso friamen-
te como um homem de verdade. Mas não esqueço seu jeito de me olhar, o calor da sua boca,
o conforto do seu corpo, sua voz quando você me chamava de Ron. Faz três dias desde que
você disse isso pela última vez, mas eu ainda te ouço! Ronnie soluçou alto, e olhou para os
lados novamente, para ter certeza de que estava sozinho.

-Por Deus! - continuou - Não é justo, por que você teve que morrer, e ainda dessa maneira tão
cruel! Deus... Se existisse mesmo, não permitiria que as coisas acontecessem assim!!

A chuva começou cair mais forte. Estava sozinho, mas quando disse outra vez "te amo", a lápi-
de... respondeu? Estaria louco? Não, não a lápide. Era um homem, que estava de pé atrás dele:

-Eu posso trazê-la de volta.


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-Respeite minha dor, seu lunático. Acabo de perder minha esposa, e estou sofrendo. Saia
daqui agora mesmo.

-Eu entendo... Por isso, lhe aviso. Enquanto ainda é recente, posso trazê-la de volta. Se demo-
rar muito, não será mais possível. A alma dela estará mesmo perdida.

Ronnie olhou para trás, devagar, e o que viu foi um idoso, estranhamente vestido. Usava uma
capa de chuva por cima de algo que parecia ser uma toga, não sabia ao certo. O estranho lhe
estendeu um cartão:

-Se mudar de idéia, se quiser sua esposa de volta. - dizendo isso o velho foi embora.

Ronnie leu rapidamente o cartão, e, perturbado, o guardou no bolso molhado. Voltou para
casa, que nunca mais seria a mesma sem sua esposa. Passou o resto do dia letárgico, sem
saber direito o que fazer. Até que de repente percebeu que não haveria mal algum em tentar
trazer sua esposa de volta, seja lá como fosse. E como o velho mesmo tinha dito, não havia
tempo a perder! Procurou pelo cartão, que não continha nenhum telefone. Só um endereço.
Ronnie vestiu uma roupa pesada contra a chuva que ainda caía, e saiu, decidido a encontrar o
velho. Quando chegou no endereço indicado, sentiu medo. Era um galpão mais do que aban-
donado. Ruínas do que parecia ter sido uma próspera fábrica outrora. Mas agora Ronnie esta-
va ali. A que ponto tinha chegado na obsessão de ter sua Heather de volta!

-Venha! Por aqui!

Ronnie viu o senhor no andar de cima, e passou pela escada semi-destruída. Ele estava lá, sen-
tado, vestido com sua toga e um ar de falsa sabedoria no rosto. "Posso mesmo trazê-la de
volta. E você, sendo um homem tão cético, sabe que falo a verdade."

O velho não abriu a boca, mas Ronnie pensou ter ouvido aquilo. Estava enlouquecendo?

-Sem mais demoras, vou te explicar. Se concordar, ótimo. Se não, suma daqui e esqueça que
me viu. Compreende?

-Sim, velho. Estou disposto a tudo.

-A tudo? Que interessante. O amor é mesmo uma força construtiva... ou destrutiva!

-Que devo fazer? Sei que não há mais volta. Diga logo!

-Precisa de um corpo. O corpo de sua esposa está mutilado, e não servirá mais. Ache um corpo
de seu agrado, e traga-o para mim. Eu colocarei a alma de sua esposa nele. Só isso.

Ronnie pensou um pouco, em silêncio. Após alguns segundos, murmurou "sim".

-Você precisa matar essa mulher. O corpo deve estar morto, assim a alma de sua esposa se
acomodará sem maiores traumas. Ache um jeito de matar a carne sem mutilar, pois será usada
por sua amada. Agora vá.
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Ronnie saiu dali ainda pensando à respeito. Deveria destruir uma vida, para ter de volta outra.
Valeria à pena? Sim, SIM! Estava obcecado, e acreditava que aquela era a única chance. Tinha
que tentar, tinha que amar Heather novamente!

Voltando para casa, lembrou-se da vizinha. Era solteira, e morava sozinha. Sem contar o corpo
malhado que atiçava a mente de Ronnie. "O velho quer um corpo? Então terá o melhor que eu
poderia arranjar!!" Achou a vítima perfeita!

A vizinha estava dormindo. Luzes todas apagadas na casa, rua deserta, típico pelo horário. Já
era tarde. Se bem que em Sistinas Ronnie percebia que não precisava ser muito tarde para as
pessoas se recolherem. Bateu decididamente na porta. Não tinha mais volta a partir daquele
ponto. Estava condenado. Esperou impaciente alguns minutos, até que uma luz acendeu na
sala. Ronnie ainda olhou para si mesmo. Estava um trapo! Olheiras horríveis no rosto, roupa
amassada... Causaria uma péssima impressão naquela deusa. Quando ela abriu a porta, olhou
penalizada para Ronnie:

-Meu vizinho... Olha, eu sinto muito. Soube da morte de sua esposa. Eu posso ajudá-lo em
alguma coisa?

Ronnie nunca tinha ouvido a voz daquela mulher. Por um desses milagres de cidade grande,
moravam na mesma rua, mas nunca tinham conversado. Assim tão de perto, era mesmo per-
feita. E que voz!

-Vizinho? Diga. Você não parece bem. Por que não entra?

Ronnie emudeceu por não saber o que fazer. Fraquejou por um instante, mas quando ouviu o
convite, entrou rápido pela porta.

-Sente-se - ela disse, apontando o sofá da sala - Sei como se sente. Perdi meu noivo num aci-
dente, uma semana antes de nosso casamento. Sofri com isso, e não quis mais saber de rela-
cionamentos. Quer chá?

-Sim, seria bom. - ele respondeu, abrindo a boca pela primeira vez.

Quando a mulher saiu da sala, Ronnie afundou-se em pensamentos negros. Como a mataria?

-Prontinho! Chá quente. Espero que você aprecie.

Alguém apagara as luzes, e a sala estava escura. Sem luz alguma, nem a da rua, pois as pesadas
cortinas estavam fechadas. Ela procurou por Ronnie, mas não o enxergou em lugar algum.

-Onde está você? - ela perguntou, em voz alta.

De repente, um saco plástico envolveu sua cabeça. Ela deixou cair a bandeja das mãos, e se
debateu muito. Tentou chutá-lo, arranhar o rosto dele, as mãos, e também respirar. Mas não
conseguiu. Tudo levou cerca de um minuto e meio. O velho já estava com tudo pronto. Símbo-
los desenhados no chão, coisas que Ronnie só tinha visto antes em filmes. Era fantástico
demais, mas precisava acreditar naquilo!
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-Hummm, bela moça você arranjou. E a matou de maneira impecável. O corpo está intacto.
Sabe, você tem instinto assassino, meu rapaz!

Ronnie resmungou algo, e sentou-se no canto da sala imunda. O velho vestiu novamente sua
toga ritualística, acendeu muitas velas, e pediu silêncio e paciência. Colocou o cadáver da vizi-
nha no centro do círculo desenhado no chão, e começou a resmungar. A princípio, o tom de
voz era de pedido, depois um tom ameaçador... Ronnie ignorava a língua que ele falava. Após
horas de cânticos, orações e blasfêmias, Ronnie já tinha ficado triste, depois conformado, já
tinha chorado, mas agora ria histericamente daquela situação tão macabra. Afinal, tinha mata-
do sua deliciosa vizinha, e agora estava sentado no chão de um depósito abandonado, olhando
para o corpo morto dela, e para um velho que cantava sem parar. Ronnie ainda estava sorrin-
do quando o velho deu um grito horrível, e então o cadáver da vizinha se levantou...

† Ladra de Corpos - parte 2


"Navegando nos mares da danação Sua vida será posta à teste
eterna
Negros são os véus da morte
Atravessando o deserto da desgra-
Onde pode estar a salvação,
ça e desespero
agora que seu espírito é livre?"
ou bebendo no cálice de ambrósia
divina Dare the veils of death - Candle-
mass

Ronnie ainda estava pasmo! Afinal, a mulher que ele matara algumas horas antes estava de pé
na frente dele! Olhava para baixo, os cabelos cobrindo o rosto. Ela então ergueu os olhos, que
brilhavam com o milagre da vida!

-Como é possível?

O velho levantou-se, deu de ombros, e perguntou, com cinismo:

-Não era isso o que queria? Por que as perguntas?

Dizendo isso, ele sussurrou mais algo estranho, e então apagou seis velas específicas na frente
da mulher. Por ali ela saiu, e pareceu se equilibrar como se há muito não andasse.

-Leve-na daqui. Sua esposa está "em nela". - disse o velho, por um momento confundindo-se
com os dialetos que orava, e com a linguagem normal.

A volta para casa foi estranha para Ronnie. Ele ainda não acreditava. A mulher que estava ao
lado dele, no carro, estava calada, de cabeça baixa. Não tinha reflexo algum, e virava a cabeça
lentamente quando ele perguntava algo. Muito lentamente, mas com uma expressão estranha
nos olhos. Ela ainda não tinha dito nenhuma palavra. Somente quando chegaram em casa,
onde ela entrou com dificuldade, é que ele teve certeza que o ritual havia funcionado... A
estranha sorriu. O sorriso era da vizinha, mas a ternura era de sua esposa Heather!
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-Ron... resmungou.

Ninguém o chamava assim, exceto ela! Tinha funcionado!

-Por Deus! Obrigado! Funcionou! - ele gritou, pegando-a no colo. Pensou de repente que era
um assassino, mas depois sorriu novamente! Era perfeito! O corpo que sempre quis possuir e a
alma da mais carinhosa mulher que ele conhecia.

-Ron... - repetiu ela.

-Sim Heather?

O rosto dela contorceu-se, como que estranhando aquele nome, mas depois ela sorriu meio
tímida e pediu enfim:

-Faz amor comigo?

Ronnie chorou. Lágrimas escorreram, e ele a abraçou como nunca antes! A luz única do abajur
denunciava cada curva do corpo dela, mas não mostrava tudo. Ronnie adorava aquele jogo de
esconde-esconde. Sempre preferiu transar com sua esposa na penumbra. Ficava totalmente à
mercê da imaginação. Como agora. Tateava. Sentia cada pedaço. Mas, ao mesmo tempo, tudo
era novidade. O corpo de sua amante tinha mudado. E para melhor. Agora era malhado, per-
feito. Ela estava nua. Examinando melhor seu objeto de desejo, Ronnie viu duas tatuagens:
uma quase na virilha, pequena, e outra que parecia um grande círculo trabalhado ao redor do
umbigo. Passou a mão pelo pescoço dela, que estranhamente grunhiu algo baixinho. Ele igno-
rou e desceu as mãos para os seios. Eram mais firmes que os de Heather. Menores, gostosos, e
macios. Tinha mamilos grandes, que estavam duros pelas carícias. Quando encostou a boca ela
jogou a cabeça para trás e gemeu. Atitudes típicas de Heather. Desceu a mão para a virilha
dela. Percebeu os pêlos pubianos, bem depilados, tão macios, diferentes dos de Heather, que
eram mais crespos. Na verdade, ela tinha tirado quase todos os pêlos, e a ponta dos dedos
dele sentiam até as leves irritações da depilação.

-Eu depilei nesta tarde, antes de você me matar.

Ronnie estranhou aquela declaração... Se a mulher estava morta, quem disse aquilo?

-Continue querido. Eu gosto. Por que não colocou ainda seu dedo grosso e safadinho em mim?

O homem acalmou-se. Heather sempre dizia aquilo quando estava excitada. Enfiou primeiro o
médio, e depois o indicador, lentamente. Veio a lubrificação natural, e ele levou os dedos à
boca. Era estranho olhar para o rosto daquela nova mulher, por isso evitava. Quando ela quis
beijá-lo, ele desviou, e resolveu chupá-la.

-Você, safadinho, nunca gostou do meu caldo que escorre... Então por que me lambe agora?

Ronnie ficou sem responder. Era verdade. Nunca praticava sexo oral na esposa. Mas queria
provar tudo que o corpo da vizinha proporcionava. Sorriu entre as coxas dela e continuou lam-
bendo. Após alguns minutos de sexo oral, ele a penetrou. O estranho era observar as mudan-
ças. As posições tinham mudado. A disposição dela em tentar algumas variantes, como sexo
anal, também. Ronnie aproveitava e aos poucos ia se esquecendo. A voz era da vizinha, o cor-
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po maravilhoso também... Mas era sua esposa que articulava as frases. Ainda era, bem no
fundo, sua eterna Heather. Estava sendo a melhor trepada da vida de Ronnie.

-Não goze agora meu homem. Não ainda. Deita, me deixa cavalgar em você. Posso te amarrar?
Posso Ron? - perguntou, parecendo ansiosa.

-Sim, meu amor. - ele concordou, e deitou-se.

A mulher primeiro juntou os pulsos dele à cama, e então com a calcinha, deu um nó fortíssimo
no punho dele. Depois com o sutiã, amarrou a outra mão. Ronnie sentiu-se impotente, que-
rendo apertar os seios dela, segurar aquela bunda grande e gostosa que cobiçava todas as
manhãs, mas amarrado não podia. Era muito excitante. Ela subiu, e segurando o membro
encaixou-se. Começou devagar, e aos poucos aumentou a velocidade. Em segundos, estavam
em brasa de novo. A mulher apoiava-se no peito dele, e jogava todo seu peso, rebolava de vez
em quando, o que dava à Ronnie uma sensação deliciosa.

-Agora meu homem... goza em mim! Sabia que vítimas que morrem em êxtase sexual vão
parar no inferno?

-Ohhhh, que delícia... vou... goooo...

-Goza, meu putão... Sabia que ele deu dois tiros na minha cabeça?

-Ahhhh.... - Ronnie tentava segurar o gozo inevitável.

-Isso tá muito gostoso... Seu filho da puta, filho da puta tesudo. Você nem imagina as atrocida-
des que aquele estuprador fez comigo. Onde você estava, seu porra? Vai meu macho...
Uhhhh...

Ronnie estava em transe, totalmente concentrado no orgasmo que ia sentir em breve.

-Continua enfiando... Sente como tô molhada, como ele desliza dentro de mim... Enfia mais
forte... mais rápido... Gosto mais rápido que isso. Vou matar você sabia....? Mmm, sabia?

O homem aumentou o ritmo. Queria gozar de vez.

-Agora! Agora! Agor.... - ela murmurava, pedindo - Me dá, GOZA!

Ronnie cerrou os lábios com força, segurando, então gritou e soltou toda sua porra. Ela, que se
apoiava em seu peito, com um movimento rápido das mãos, abriu o tórax dele. Ronnie ainda
estava urrando de prazer, quando o grito morreu.

-Seu filho da puta!!! Você me asfixiou!! Quero ver você respirar sem pulmões!!!

Ronnie via em pânico seu peito aberto, exposto. Como aquela mulher conseguiu aquilo, só
usando as próprias unhas? Os nós que o amarravam na cama estavam tensionados, quase
cortando os pulsos dele.

-Por que me matou? Por quê? Seu filho da puta! Sua esposa estava morta!! E agora eu te
mato!
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Ronnie morreu também em um minuto e meio, grotescamente amarrado na cama. A mulher


desceu de cima dele. Olhava atentamente para o corpo. Então caiu de joelhos e começou a
chorar...

-Não! Amor... Não morra! Sou eu, estou aqui, sua Heather está aqui. Voltei para você! Fique
comigo! - repetia, mexendo no corpo vermelho que tingia os lençóis.

Ele era conhecido como Ed. As pessoas nunca souberam seu nome verdadeiro. Estudava as
casas de família por um tempo, observava os horários dos maridos e filhos. Quando sabia que
as esposas estavam sozinhas, atacava. Nunca o pegaram. Era esperto. Mas dessa última vez
tinha vacilado. Sim, o marido chegou antes do previsto. Assustado, Ed deu dois tiros na cabeça
da dona. Mas foi a vítima mais gostosa que ele provou. Deixou ele fazer tudo! Tudo o que ele
sempre quis. Até viu a morte na face dela, quando atirou. E o pânico na cara do marido? Foi
demais, impagável! Mas, Ed a queria de novo. A dona era gostosona. Deixou tudo. Tudo! Sim,
ela deixou tudo. Nunca tinha feito tudo com outras mulheres. A vacilada foi matá-la.

"Foi sem querer! Quando o marido abriu a porta, disparei por instinto. Esqueci que apontava a
arma para a testa dela."

-Cale a boca! - gritou Ed, para si mesmo. A rua estava deserta. Ligou o carro. Já tinha observa-
do bastante e escolhido a próxima casa. Ou a próxima esposa.

Sim, os jornais de Sistinas noticiavam sobre o "assassino de esposas". Traçaram até um perfil
de assassino serial para ele. Esqueceram que Ed nunca matava. Estuprava sim, mas só matava
se ameaçado. Apenas duas mulheres morreram na mão dele, e um cachorro.

-Sim, cachorro... desses que latem! - ironizou Ed.

Deixou o carro parado na rua, e entrou apressado no lugar que chamava de abrigo. Nunca
andava armado, para não causar suspeitas. Sempre escolhia a vítima, depois voltava para casa,
pensava a respeito, curtia a ansiedade, pegava seu revólver e ia de encontro ao destino.
Quando virou a chave na porta da sua casa, teve a ligeira sensação de que já estava aberta.
Ignorou isso, e entrou. Quando acendeu a luz, quase caiu de susto. Tinha uma mulher sentada
no sofá, esperando por ele!!!

-Você demorou. Sabe quem sou eu?

Ed coçou a cabeça. Era a mulher que ele tinha matado? Quer dizer, não era ela. Ou era?

-Afinal, dona, quem é você?

-Acho que você sabe... Não me reconhece?

Ed achou tudo estranho. Era como se conhecesse a mulher, mas nunca tinha a visto!

-O que você quer? - perguntou, vacilando.

-Achei que não ia perguntar nunca. - dizendo isso, a mulher levantou-se do sofá. Tinha o revól-
ver dele na mão...
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-Ei! Calminha aí? Que vai fazer comigo?

-Ah, outra pergunta interessante... Vou refrescar sua memória. Você meteu duas balas bem
aqui, no meio da minha testa... Está lembrado? Não faz muito tempo!

-Ah! Quer se vingar, sua puta! Então por que não atira? Me mata, se é isso o que quer! Me
mata logo! - gritou Ed, enraivecido.

-Ainda não. Antes de me matar, bem... Você fez algumas coisinhas comigo. Coisas que eu não
gostei muito. Mas naquela noite, era você que tinha a arma na mão... Eu era apenas a esposa
assustada. Acho que hoje vamos inverter os papéis, certo?

Ed suou frio, e quis recuar. Encurralado, pela primeira vez, sentiu medo. Mas não por muito
tempo. Cerca de quinze minutos depois, estava morto. Antes disso passou por todas as humi-
lhações que a mulher pôde imaginar, e quando levou dois tiros na testa, já tinha sofrido por
tudo que fizera à Heather... A mulher saiu da casa de Ed contente. Já tinha cumprido seu des-
tino. Mas, era tão divertido! Tinha matado as duas pessoas responsáveis por suas mortes. Era
estranho. Sentia-se como um anjo vingador que volta à Terra para atormentar os assassinos.
Heather matara seu estuprador. E a vizinha, seu novo corpo, matara o marido de Heather.
Agora, o corpo dividido em duas almas andava sem destino, sem rumo, e sem propósito. Uma
profusão de pensamentos contraditórios que brigavam entre si:

"Sabia que seu marido me cobiçava Heather?"

"Cala sua boca, Ronnie me amava, e apenas por isso te matou! Para que eu voltasse!"

"Está enganada. Seu marido quis ter meu corpo. Por isso me escolheu."

"Escolheu para ser minha hospedeira!"

"Só que algo deu errado..."

"Agora estamos ambas mortas."

"Sim Heather. Só falta um culpado para matarmos."

"Quem?"

"Aquele maldito velho, que profanou sua alma e o meu corpo. Aquele à quem Ronnie pediu
ajuda. Ele também deve morrer, não acha?"

"Sim, concordo. Ele não me deixou ter o descanso eterno, e tirou sua vida."

"Sei onde ele está, Heather."

"Vamos... afinal, ele é só um velho!"

Nadya chegou a tempo de ver o homem caído no chão. Parecia ter sido vítima de um estupro.
Tinha marcas de abuso sexual pelo corpo todo. As balas que lhe abriram a cabeça apenas ali-
viaram o sofrimento. Sofrimento merecido, por ser ele próprio um estuprador. Nadya era um
anjo. Condenada a viver na Terra desde tempos imemoriais, perdeu suas asas na rebelião de
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Lúcifer. Seu corpo, apesar de sua herança e poderes divinos, ainda é mortal. Ela nunca morre
totalmente, mas sempre que volta da morte tem problemas de memória. Precisa relembrar
sempre quem é, e desenvolver novamente seus poderes. Ela não sabe se é por causa da pro-
ximidade do apocalipse, mas sabe que antes já fora muito mais poderosa. Em algumas de suas
encarnações, Nadya passou como simples humana. Sem desenvolver poder algum. Mas nessa
vida ela acordou plena. Sabia de seus poderes, e o que estava fazendo entre os filhos do
Homem.

"Eu caço e destruo o Mal."

Nadya olhou novamente para o estuprador morto, e pelo cheiro residual que saía da sala, ela
conseguiu captar um perfume forte, feminino... O mesmo que sentira impregnado em Ronnie,
um homem que encontrou com o tórax aberto horas atrás. Estava perto da assassina. Tinha a
pista dela, e pelo estado do homem, tinha sido morto a poucos minutos.

"Estou à caminho, sanguinária."

Uma brisa soprou pela sala, e quando cessou, Nadya já tinha partido. O velho estava sentado
desajeitadamente. Um sorriso irônico no rosto, enquanto apagava o círculo do chão. Já fazia
algum tempo que tinha libertado as duas almas.

-Viemos buscar você agora.

Ele olhou para trás, como se tivesse sido pêgo de surpresa, mas riu enquanto olhava para a
mulher.

-Qual é a graça, velho?

-Por que voltaram aqui?

-Você é o último. Viemos matá-lo pelo que fez conosco.

-Hahahahaha! - gargalhou o velho.

A mulher lhe deu um tapa forte, e o derrubou. Caiu em cima dele, achava que ia matá-lo
quando uma das janelas se quebrou, atrás deles. Heather olhou para trás, quando viu aquilo.
Era uma mulher vestida de branco, que olhava com olhos faiscantes, até que achou o demônio
que procurava. O velho aproveitou-se da confusão, escapou dos braços de Heather e fugiu
correndo.

-Você matou dois homens - apontou Nadya - Está na hora de voltar para o inferno de onde
escapou.

Heather ficou confusa por um instante. Não sabia se corria ou se lutava. Lutava? Lutar como?
Aquela mulher parecia um anjo celeste!

-Está bem. Você nos pegou. Ainda não acabamos o que viemos fazer aqui, mas preferimos
parar antes que mais mortes aconteçam...

Nadya aproximou-se da mulher, que se ajoelhou em submissão.


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-Sábia decisão. Dois crimes hediondos pesam contra você. Sou a justiça divina.

-Somos duas. Mate-nos. Libertará duas almas presas num único corpo.

Nadya colocou a mão na testa de Heather, orou baixinho, quando de repente, como que numa
combustão espontânea, a mulher pegou fogo por completo, gritando. Antes de queimar com-
pletamente, os lábios chamuscados das mulheres ainda disseram uma última e enigmática
frase:

-Os verdadeiros demônios nunca morrem...

Dias depois, no cemitério de Sistinas, um homem sofria com a morte da filha adolescente. Era
um negro, muito alto, e chorava convulsivamente. A foto da moça colocada ao lado da lápide
só trazia o sorriso dela, não o sofrimento de uma morte agonizante em um incêndio. Quando o
homem ficou só, ouviu algo atrás de si. Virando-se, viu o velho esquisito. A boca dele se
mexeu, dizendo calmamente:

-Se você quiser, eu posso trazê-la de volta...


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Nome do ficheiro: A virgem


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Autor: Geral
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Data de criação: 09-12-2008 18:30:00
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Guardado pela última vez em: 27-12-2008 19:16:00
Guardado pela última vez por: Geral
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