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A CONSTRUÇÃO DO FÓRUM DE DEFESA DA VIDA E DO MEIO AMBIENTE

NA REGIÃO DE MURIAÉ -MG: CONFLITOS TERRITORIAIS ENTRE A


MINERAÇÃO E AGRICULTURA FAMILIAR
Julio Cesar Pereira Monerat
PPGEO UFJF
IF Sudeste de Minas Gerais – Campus Muriaé

1- INTRODUÇÃO

Estudo realizado por Rothman (2010) relativos aos anos de 2007 e 2008
acompanhou as expansão dos projetos de barragens e mineração na Zona da Mata
Mineira, bem como as lutas de resistência dos atingidos, em especial aqueles vinculados
à agricultura familiar,. Esses estudos destacaram a atuação de dois sujeitos principais:
de um lados a barragem ou mineradora e, do outro, os agricultores familiares atingidos
articulados juntamente com ONGs, movimentos sociais, sindicais, pastorais dentre
outras que acabaram por se articular em uma Comissão dos Atingidos pela Mineração.
Ocupando-nos especificamente da atuação mineradora e da resistência à mineração na
região, orientamo-nos desde o início pela colocação feita por Rothman (2010), a partir
da conceituação de conflitos ambientais, onde “a expansão da mineração ameaça o tipo
ocupação histórica da região pela agricultura familiar, suas formas de apropriação e uso
material e simbólico do espaço”.
Partindo dessa abordagem de conflitos ambientais territoriais (Zhouri &
Laschefski, 2010) é que pretendemos atualizar os estudos de Rothman, incorporando
desdobramentos recentes das ações dos atores envolvidos – em especial a partir de de
2008 até o tempo presente – bem como propondo o acompanhamento da aplicação de
uma metologia participativa que será colocada em prática a partir de 2012, onde as
comunidades atingidas estarão sendo chamadas a refletir e se posicionar sobre o conflito
entre o projeto minerador e aquele da agricultura familiar.
A referida metodologia participativa será posta em prática pela Comissão dos
Atingidos pela Mineração e consiste basicamente na elaboração de um vídeo
documentário retratando a situação das comunidades atingidas pelo projeto minerador,
sendo que esse mesmo documentário, ao ser posteriormente exibido à população, será
debatido pela mesma com vistas a tomadas práticas de posição e mobilização. Ao
utilizar o vídeo, essa metodologia objetiva provocar inicialmente um “estramento” da
comunidade diante de sua própria condição de atingida pela mineração para, em
seguida, se desdobrar em debates que possam, por sua vez, gerar mobilização social.
Em Muriaé, a opção pela utilização do vídeo documentário como elemento de
conscientização e mobilização das comunidades pela Comissão dos Atingidos pela
Mineração, por sua vez, articula-se a um projeto mais amplo da mesma que, visando
uma maior abrangência e o envolvimento de outros atores parceiros, pretende estar
constituindo o Fórum de Defesa da Vida e do Meio Ambiente. Como primeira ação no
sentido de ampliar sua atuação, a Comissão estabeleceu uma parceria com o Fundo de
Solidariedade da Cáritas Leopoldina, que disponibilizou os recursos para a filmagem,
exibição e debate do mesmo. É essa transformação da Comissão dos Atingidos pela
Mineração em um Fórum Permanente de Defasa da Vida e do Meio Ambiente que
temos acompanhado em nosso estudo.

2- DA COMISSÃO AO FÓRUM

A construção do Fórum de Defesa da Vida e do Meio Ambiente apresenta-se à


Comissão dos Atingidos pela Mineração como um encaminhamento necessário na
direção de maior articulação das comunidades atingidas pelos projetos de mineração de
bauxita na região de Muriaé. Nas reuniões ocorridas no ano de 2011, os membros da
Comissão Regional de Atingidos pela Mineração na Zona da Mata que, por sua vez, já
atua na região desde 2003, perceberam que, no decorrer dos anos, as ações dos atingidos
e da própria Comissão passaram por ciclos de maior ou menor mobilização em devido
ao envolvimento das pessoas e organizações com suas próprias pautas de lutas, além, é
claro, em virtude da pressão e cooptação exercida pela mineradora. A criação e
articulação de um Fórum permanente apresentou-se, então, como instrumental
privilegiado para a retomada dos estudos sobre os impactos da mineração na agricultura
familiar, bem como a retomada/construção do do trabalho de base com vistas à criação
de mobilizações focadas nas alternativas ao projeto de minerador.
Ressaltando que o conflito de territorialidades não é recente, torna-se necessário
realizar um resgate histórico do mesmo. A partir do ano de 2003, pastorais e
movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores rurais começaram a se articular na
referida Comissão Regional de Atingidos pela Mineração na Zona da Mata para estudar,
avaliar e mobilizar as comunidades atingidas pelos projetos de mineração na região.
Segundo informações retiradas de boletins divulgados pela referida Comissão, “em
novembro de 2003 a população de Muriaé e Rosário da Limeira descobriu, por acaso,
que uma empresa mineradora, a Rio Pomba Empresa de Mineração, estava procurando
um licenciamento para a mineração de bauxita na Serra das Aranhas, em uma Área de
Proteção Ambiental no município de Rosário da Limeira” (Movimento Sindical, 2004).
Ao pesquisar sobre a mineradora, a Comissão constatou que a mesma fazia parte
da CBA - Companhia Brasileira de Alumínio – que, por sua vez, é integrante do Grupo
Votorantim. E para maior surpresa das comunidades da região, a Comissão constatou
que a mineradora “já tinha conseguido a segunda das três licenças iniciais requeridas
para começar a minerar na região da Zona da Mata, que inclui os municípios de
Miradouro, Muriaé, Rosário da Limeira, Fervedouro e Serrania”. Além disso, “a área a
ser minerada inclui todas as Áreas de Proteção Ambiental ao lado leste do Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro, até às divisas do próprio parque” (Movimento
Sindical, 2004).
A surpresa das constatações tardiamente levantadas pela Comissão justificam-se
pois, segundo a mesma, “o processo de licenciamento foi feito em sigilo absoluto, sem
audiência pública, e todos os avisos requeridos por lei foram publicados em jornais que
circulam em cidades localizadas distantes da região afetada. Os pedidos de
licenciamento foram avaliados em Belo Horizonte, sem consulta pública” (Movimento
Sindical, 2004). E nem mesmo a necessidade de anuência dos gestores da área de
conservação foi observada, em flagrante ilegalidade.
A Comissão preocupa-se especialmente com dois aspectos do projeto de
mineração: os impactos sobre o meio ambiente, e a questão socioeconômica. Sobre o
primeiro, deve-se destacar que “a Serra do Brigadeiro abriga um dos importantes
trechos de Mata Atlântica do estado, que, por sua vez, constitui um dos ecossistemas
mais ricos e mais ameaçadas do mundo”(Movimento Sindical, 2004).
Além disso, a questão sócio-econômica é motivo de preocupações, já que
população rural da região é formada por mais de 5000 famílias que sobrevivem da
agricultura familiar, pessoas que durante várias gerações estão trabalhando sua
territorialidade. O êxodo rural e a degradação das condições de vida na região serão
consequências da atividade mineradora, caracterizando um elevado custo social e
ambiental que não pode ser simplesmente enquadrado dentro das “externalidades” do
empreendimento.
Como ressaltam os agentes da Comissão Pastoral da Terra na região, o projeto
minerador ameaça a sustentabilidade da agricultora familiar local pois, além do já
referido êxodo rural, a oferta de empregos pela mineração com o objetivo de cooptar as
comunidades atingidas, reduz a disponibilidade de mão de obra para agricultura
familiar, levando a um aumento da jornada de trabalho feminino com graves
consequências nas famílias (Rothman, 2010). Além disso, como os empregos gerados
na mineração são temporários e sabendo-se que a propriedade fundiária na região é
marcada por minifúndios, cuja compatibilização com a mineração é impossível, na
visão da CPT (Rothman, 2010), está dado um quadro de insegurança para a agricultura
familiar onde não se sabe se os pequenos proprietários poderão retornar um dia a sua
terra ou se irão preferir o deslocamento para a cidade.
A OSCIP Associação Amigos de Iracambi, que faz parte da Comissão Regional
de Atingidos pela Mineração na Zona da Mata, resume em documento sua preocupação
– e também dos demais integrantes da Comissão - com o projeto de mineração, dentre
as quais se destacam “o potencial impacto socioeconômico na vida de várias famílias
das quais a sobrevivência depende das atividades da agricultura familiar e que não
foram consultadas sobre esse assunto; o impacto na água [,pois,] todas as lavras de
bauxita estão localizadas próximos a riachos, sendo alguns acima de nascentes; [...] o
impacto na biodiversidade regional” (Iracambi, 2006), em uma área de Mata Atlântica.
Ainda dentro das preocupações com os impactos da mineradora, o agora deputado
federal Padre João defende que “a visão do problema seja global, envolvendo todo o
Estado”. Como exemplo de custos sociais envolvendo o transporte de minério nas
estradas da região ele cita “os problemas gerados na BR-040 pelos caminhões de
mineradoras, que trafegam com sobrepeso”, lembrando que "é importante distinguir
empreendedores de predadores" (Assembleia, S/D). Ou seja, impactos ambientais e
sociais decorrentes da atuação mineradora.
A atuação das autoridades públicas da região em relação à mineradora tem sido
marcada por um processo de cooptação, em especial sobre os prefeitos locais, que
incluem construção de estradas vicinais, pontes etc. Em troca as prefeituras oferecem
cursos de capacitação e profissionalização para pessoas afetadas.
A cooptação também passou a ser utilizada pela mineradora junto às
comunidades atingidas, incluindo a já referida contratação de mão de obra local bem
como a promessa de pagar um preço elevado pelo arrendamento aos pequenos
proprietários. Essas ações que visam minar as resistências das comunidades ao projeto
minerador foram recentemente ampliadas com a atuação do Grupo Gaia que, com o
patrocínio do Grupo Votorantim, articula o Fórum de Desenvolvimento Regional
Sustentável que, através de encontros regionais e utilizando-se de metodologias
participativas, visam envolver as comunidades em um projeto de desenvolvimento
sustentável onde as mesmas escolhem prioridades a serem atendidas pela mineradora.
Essas prioridades incluem a construção de infraestrutura local e realização de cursos de
capacitação, mas, conforme relato de membro da Comissão, não permitem contestação
ao projeto minerador. Em recente encontro promovido pelo Grupo Gaia na cidade de
Miradouro, a Comissão entregou uma carta (Território, 2011) onde manifestava o
repúdio à mineração que, apesar de lida na assembleia, não foi debatida ou incluída nas
deliberações finais da reunião. O mesmo Grupo Gaia atua ainda nas escolas locais com
programas de educação ambiental, ou seja, já visando reforçar sua visão socioambiental
junto às novas gerações.
Em vistas das complexidades das novas ações tomadas pela mineradora, a
Comissão reconhece que é preciso mais que reforçar sua atuação institucional em
reuniões públicas, conselhos regionais (Copam), audiências públicas e também não-
institucional em reuniões, manifestações e encontros, sendo necessário criar um
instrumento que articule o local ao global conforme defende Massey (apud Zhouri &
Oliveira, 2010), “a crítica ao global – como força que oprime e explora – só pode ser
efetuada a partir do local, onde o conhecimento é possível e as trincheiras da resistência
estão em curso”. Ou seja, a Comissão entende que um Fórum permanente seria uma
instância privilegiada para amplificar a divulgação das informações para que as
comunidades atingidas possam se posicionar e se mobilizar em relação aos modelos de
sustentabilidade que elas autônoma e territorialmente venham a escolher, mas isso se
deve dar articulando-se a outros movimentos de resistência e proposição em níveis
locais, regionais e globais.

3- OBJETIVOS

O presente estudo objetiva acompanhar a construção do Fórum de Defesa da


Vida e do Meio Ambiente na região de Muriaé em Minas Gerais a partir do ano de
2011-12 como contraposição ao projeto de mineração da CBA-Votorantin.
Sendo assim, essa pesquisa inclui desde o acompanhamento da elaboração do
vídeo documentário a ser exibido e debatido nas comunidades até as ações que possam
ser a partir daí articuladas. Nesse processo, estará sendo realizado um levantamento
sociogeográfico da região atingida pela mineração com base em uma abordagem de
conflituosidade ambiental territorial, além da processualidade de ampliação do enfoque
da Comissão dos Atingidos pela Mineração para a sua dimensão de Fórum permanente.
Ao utilizar o registro videográfico, estará também sendo realizado um estudo do
território entendido não somente enquanto instância político-administrativa, mas
incorporando a materialidade das populações envolvidas - enquanto reprodução de sua
vida material – e sua dimensão simbólico-cultural.

4- ANDAMENTO

Para desenvolver nosso projeto, buscamos uma melhor compreensão da da


dinâmica local através de uma bibliografia que nos possibilite uma reflexão mais
fundamentada dos processos em andamento. Para tanto, estamos percorrendo a seguinte
trilha: primeiramente acreditamos ser fundamental um entendimento do conceito de
território, entendido em sua conflituosidade. É nesse sentido que Ariovaldo Oliveira
(apudPaulino, 2007) entende o território “como um síntese contraditória, como
totalidade concreta do processo/modo de produção/distribuição/circulação/consumo e
suas articulações e mediações”. E desa maneira o território articula-se como “produto
concreto da luta de classes travada pela sociedade no processo de produção da sua
existência. (…) Dessa forma, são as relações sociais de produção que dão a
configuração histórica específica do território”. Ou seja, ao seguirmos essas indicações
de Oliveira, somos chamados a “buscar as contradições derivadas dos conflitos de
classe para compreendermos o território em sua dinâmica” (Paulino, 2007).
Ao entendermos a dinâmica conflituosa das territorialidades, evitamos o risco
que um mero entendimento do território como espaço político-administrativo que pode
ocultar as contradições em curso nos territórios como nos alerta Fernandes (2008) ao
afirmar que “o território, compreendido apenas como espaço de governança, é utilizado
como forma de ocultar os diversos territórios e garantir a manutenção da subalternidade
entre relações e territórios dominantes e dominados”. Mas é também Fernandes (2008)
que ressalta que o entendimento do território deve ter um caráter multidimensional: “o
princípio da multidimensionalidade nos ajuda a compreender melhor o da totalidade, já
que são as dimensões que a compõem. As dimensões são formadas pelas condições
construídas pelos sujeitos em suas práticas sociais na relação com a natureza e entre si.
As múltiplas dimensões do território são produzidas relações sociais, econômicas,
políticas, ambientais e culturais”.
Observações essas importantes quando articuladas porque reforçam a
conflituosidade e trazem à discussão a dimensão simbólico-cultural, onde tanto conflito
pode ser ocultado – quando restrito a interpretações político-administrativas - ou
desvelado - quando não só o conflito é explicitado, mas a própria territorialidade é
assumida enquanto um sentimento de pertencimento e identidade coletiva que se forma
“em torno de um projeto comum [que depende] muito mais dos efeitos de proximidade
organizacional e cognitiva de suas redes do que das divisões geopolíticas e
administrativas” (Pires, 2007).
Enfim, a reflexão sobre a territorialidade nos leva à caracterização dos “conflitos
ambientais territoriais gerados, na maioria dos casos, pela fronteira da expansão da
produção de commodities que se choca com a territorialidade de grupos que têm na base
de seus recursos elementos fundamental para sua reprodução sociocultural” (Zhouri &
Laschefski, 2010). Em um processo que recentemente se agrava no quadro de
globalização e acumulação flexível de capital, onde forças endógenas e exógenas
entram em confronto e disputal territorial com consequências ambientais e sociais, as
quais privilegiamos em nosso estudo.
Fundamentados no entendimento da realidade espacial em sua totalidade
contraditória, torna-se necessário compreender a atual dinâmica da reprodução
capitalista. Porto-Gonçalves e Haesbaert (2005) compreendem “que a ordem (territorial)
mundial é na verdade, sempre, uma des-ordem, ou seja, caminha dialeticamente num
processo concomitante de destruição e reconstrução de territórios – ou seja, num
processo de des-re-territorialização”. Mas, ainda que as forças exógenas queiram se
impor totalitariamente às dinâmicas locais, isso não se dá sem o embate que somente
um entendimento dialético da realidade nos permite captar. Ao refletir sobre essas duas
ordens que se opõem, Milton Santos (2002) lembra que as mesmas “constituem-se,
paralelamente, [como] uma razão global e uma razão local, que em cada lugar se
superpõe e, num processo dialético, tanto se associam quanto se contrariam. É nesse
sentido que o lugar defronta o Mundo, mas também o confronta, graças a sua própria
ordem”.
A dinâmica que confronta o projeto minerador ao da agricultura familiar na Zona
da Mata faz com que a primeira represente as forças exógenas – globais - que atuam no
sentido de des-territorializar os agricultores locais, mas que, por sua vez, dialeticamente
respondem adaptando-se e/ou resistindo. Na dinâmica global, o território da agricultura
familiar, ao ser disputado pela capital produtor de commodities minerais voltados para a
exportação ou vinculados a uma dinâmica de reprodução mundializada do modo de
produção capitalista, ameaça des-territorializar agricultores de sua base de reprodução
material e simbólica. Estamos diante de dois projetos: um que vê no território somente
recursos a serem explorados e outro que vislumbra sua dimensão material-simbólica
como meio de trabalho e de vida comunitária.
Cabe, ainda que sucintamente, justificar a utilização da expressão “agricultor
familiar” ao invés de “camponês”. Acreditamos que a palavra camponês traduz melhor
a condição de classe que, em diferenciação à classe capitalista detentora dos meios de
produção e à classe proletária, portadora de sua força de trabalho, caracteriza a sua
especificidade como controladora de sua força de trabalho e dos meios de produção
(Paulino, 2006), optamos por utilizar nesse trabalho a expressão agricultor familiar,
mesmo ciente dos riscos que isso implica, por ser aquela com a qual nossos pesquisados
melhor se identificavam nas entrevistas.
É essa agricultura familiar que precisa ser melhor compreendida e a produção do
vídeo será um momento importante da pesquisa nesse sentido. Essa pesquisa de campo,
por sua vez, terá o suporte bibliográfico como elemento que propiciará um maior
entendimento das dinâmicas e seus processos. Ianni (1988) afirma que “a comunidade
camponesa [manteremos a expressão do original, mesmo tendo em vista nossa
justificativa no parágrafo anterior] é o universo social, econômico, político e cultural
que expressa e funda o modo de ser do camponês”. E mais, ao entender essa classe em
contraposição ao capital, seja ele sob a forma de latifúndio ou agronegócio, Ianni (1988)
defende que o caráter revolucionário do agricultor familiar “não advém de um
posicionamento explicito, frontal, contra o latifúndio, (…) o mercado, o dinheiro, o
capital (…). O seu caráter revolucionário está na afirmação e reafirmação de sua
comunidade”. E completa: “a sua radicalidade está na desesperada defesa de suas
condições de vida e trabalho”.
Partindo da especificidade do modo de vida do agricultor familiar/camponês, é
preciso estudar o embate desse modo de vida com a lógica do capital. Entramos então
no campo onde devemos discutir sobre a monopolização da terra pelo capital, quando
ele explora a agricultura familiar através da sujeição da renda da terra, bem como a
territorialização da terra pelo capital, quando o mesmo, através de sua implantação no
campo extrai a mais-valia dos assalariados do agronegócio (Paulino, 2006; 2007;
Oliveira, 2002, Moreira, 2007). No confronto entre agricultores familiares e mineradora
na região estudada, percebe-se que “por um lado, depara-se com as terras de negócio,
voltadas à extração da mais-valia dos trabalhadores nela ocupados e ou objeto de
extração de mais-valia social; por outro, encontram-se as terras de trabalho, controladas
por camponeses que, mediante o trabalho familiar, extraem daí sua sobrevivência
(Paulino,2006).

5- METODOLOGIA E DESDOBRAMENTOS

O projeto de pesquisa aqui descrito é trabalhado no programa de mestrado em


Geografia da UFJF, mas ele já havia sido proposto como projeto de extensão no
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais. Sendo assim, é um projeto que já foi
constituído com envolvimento do pesquisador e que, por isso, tem sido trabalhado como
pesquisa-ação. Nossa participação em reuniões não se limita à observação, mas inclui
um envolvimento ativo, propondo questões, participando dos debates e
encaminhamentos. Prova dessa participação é que o autor do presente trabalho assina o
roteiro do vídeo que já foi finalizado e estará sendo exibido às comunidades a partir de
julho de 2012.
A expectativa agora é com o início das exibições do vídeo nas comunidades.
Espera-se que os debates que se seguirão às exibições possa desencadear o interesse na
formação de comissões ou minifóruns que se articularão ao Fórum Permanente de
Defesa da Vida e do Meio Ambiente. A construção/retomada do trabalho de base é o
caminho que os participantes do Fórum acreditam ser necessário percorrer para que o
projeto da agricultura familiar não seja mortalmente atingido pela mineração.

6- REFERÊNCIAS

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Disponível em:


http://www.almg.gov.br/not/bancodenoticias/Not_692517; (acesso em 17 de maio de
2011).

HARPER, Jéssica Lane. Buscando sustentabilidade no desenvolvimento industrial: a


mineração de bauxita na Serra do Brigadeiro, MG. 24 p. (trabalho da disciplina
Sociologia do Desenvolvimento, do Curso de Mestrado em Extensão Rural da
Universidade Federal de Viçosa), 2006.

IRACAMBI (2006). Amigos de Iracambi - Considerações sobre mineração de bauxita


no entorno da Serra do Brigadeiro, Minas Gerais. Rosário de Limeira: Amigos de
Iracambi, Janeiro de 2006, 21 p. (atualizado em 02/08/2006). Disponível pelo e-mail
iracambi@iracambi.com.

Movimento Sindical dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais da Zona da Mata


Pastorais e Movimentos Sociais, Mandatos Populares e ONG’s. Desenvolvimento
Sustentável na Região do entorno da Serra do Brigadeiro. (Boletins diversos, 2004).

ROTHMAN, Franklin Daniel. A Comissão dos Atingidos pela Mineração e a Luta de


Resistência à Expansão da Mineração de Bauxita (e a Favor da Agricultura Familiar) na
Zona da Mata de Minas Gerais. Trabalho apresentado ao II Seminário Nacional
“Movimentos Sociais, participação e democracia”, 25 a 27 de abril de 2007, UFSC,
Florianópolis, SC.

ROTHMAN, Franklin Daniel. A expansão dos projetos de barragens e mineração na


Zona da Mata – Articulando as lutas de resistência a favor da agricultura familiar. IN:
ZHOURI, Andréa & LASCHEFSLI, Klemens. Desenvolvimento de conflitos
ambientais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

TERRITÓRIO Rural Serra do Brigadeiro. Diferentes visões de desenvolvimento


sustentável no entorno da Serra do brigadeiro – carta aos participantes do Fórum de
Desenvolvimento Rural Sustentável (comunicado 02/2011). Miradouro, setembro de
2011.

ZHOURI, Andréa & LASCHEFSLI, Klemens. Desenvolvimento de conflitos


ambientais – um novo campo de investigação. IN: ZHOURI, Andréa & LASCHEFSLI,
Klemens. Desenvolvimento de conflitos ambientais. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2010.

ZHOURI, Andréa & OLIVEIRA, Raquel. Quando o lugar resiste ao espaço-


colonialidade, modernidade e processos de territorialização. IN: ZHOURI, Andréa &
LASCHEFSLI, Klemens. Desenvolvimento de conflitos ambientais. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2010.

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