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Promovendo Saúde na Contemporaneidade:

desafios de pesquisa, ensino e extensão


Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010

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DE CONTO EM CONTO: A CONSTRUÇAÕ DE HISTÓRIAS SINGULARES
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Cadore, C. ; Lüdtke, M. F. ; Cassel, P. A. ; Costa, A. M. da ; Ramos, M. dos S. ; Dias, H. Z. J.
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Projeto de Extensão
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Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil
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Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil
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Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil
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Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil
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Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil
E-mail: carlisecadore@yahoo.com.br ; manuludke@hotmail.com ; paula.acassel@gmail.com ;
alice.mor@ig.com.br ; micheleramos.rs@gmail.com; ckzogbi@gmail.com

RESUMO

Este trabalho consiste no relato da experiência de um projeto de extensão desenvolvido em


um Centro de Atenção Psicossocial para infância e adolescência, na cidade de Santa Maria. Tal
atividade refere-se a um grupo terapêutico, denominado Oficina Terapêutica de Contos Infantis, que
tem como proposta ser um meio lúdico e simbólico para que os participantes possam entrar em
contato com suas fantasias. O conto serve como mediador para que as crianças elaborem suas
conflitivas psíquicas por meio dos conteúdos das histórias. Pode-se observar que as crianças, ao
longo do grupo, tiveram substancial evolução em relação à socialização e à elaboração de suas
conflitivas psíquicas, além de ampliarem sua capacidade imaginativa e criativa. Dessa forma, o
trabalho realizado com as crianças no gupo é importante para que estas recebam novos olhares e
construam novos significados para si e para o outro, encontrando outras formas de se colocar como
sujeito desejante.
Palavras-chave: Oficina Terapêutica. Contos Infantis. Saúde Mental. Centro de Atenção Psicossocial
Infanto-Juvenil.

1. INTRODUÇÃO

O movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira, começado no fim dos anos 70, buscava
outro modelo, diferente do hospitalocêntrico, em que a reinserção social fosse possível para as
pessoas em sofrimento psíquico grave, longe dos muros da instituição e da exclusão. Assim, novos
dispositivos foram sendo criados para tratar estes que necessitavam cuidados psiquiátricos, porém,
isto foi se dando com a parcela adulta da população, diferentemente das crianças e dos adolescentes
que tiveram poucas iniciativas nesse setor (GUERRA, 2005).
Na verdade, não existiam políticas públicas na área da saúde mental infanto-juvenil, estes
eram tratados em instituições mais voltadas ao trabalho pedagógico. Este fator inviabilizava o cuidado
dessas crianças e adolescentes, o que depois acabava resultando na cronificação quando adultos. É
preciso destacar que a criança não era tratada pelo fato de que a concepção da infância tida
culturalmente não admitia a noção de doença mental para esta faixa etária.
Foi somente com Freud em 1909 que se faz uma análise de uma fobia em um menino de cinco anos,
o caso do Pequeno Hans (FERREIRA, 2004). Apesar de alguns avanços desde então, tal concepção
até nossos dias não foi completamente desconstruída, sendo preciso, pois, revê-la e a partir daí
investir em um cuidado nessa parcela da população e aos poucos construir suas especificidades na
forma de tratá-la.
Mesmo com o surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no início dos anos
90, a saúde mental infantil não foi considerada. Somente a partir da Portaria MS 336 de 2002, esta
população específica, que precisa de tantos cuidados, foi olhada e devidamente reconhecida em sua
importância. Esta portaria estabeleceu a abertura de Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenis
(CAPSi), tendo a função de oferecer a atenção em saúde mental de forma integral, contando,
portanto com os diversos profissionais necessários para atender crianças e adolescentes em
sofrimento mental grave. Esse serviços devem estabelecer relações na rede de saúde para que se
possa superar o antigo modelo manicomial procurando proporcionar que os sujeitos em atendimento

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possam estar em contato com suas comunidades, sendo auxiliados por profissionais destas e
incluídos em atividades que acolham suas diferenças pessoais promovendo, assim, saúde mental.
A proposta de organização desses serviços redireciona o modelo assistencial em saúde
mental e abre possibilidades para a inserção de novos dispositivos terapêuticos. Nessa perspectiva,
idealizou-se a Oficina Terapêutica sobre Contos Infantis como um projeto de extensão. A Oficina
Terapêutica de Contos Infantis é realizada em um Centro de Atenção Psicossocial para infância e
adolescência (CAPSi). Este CAPSi, situado na cidade de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul,
recebe crianças e adolescentes (até 18 anos) com transtornos psíquicos graves e usuários de drogas
(com idade inferior a 12 anos). Atualmente esta oficina é coordenada por duas acadêmicas do curso
de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria e uma psicóloga do serviço já mencionado.
Esse projeto tem como objetivo a construção de um espaço terapêutico de escuta para
crianças com sofrimento psíquico, no qual, o lúdico e o simbólico sirvam como ancoragem para que
estas possam entrar em contato com a sua realidade psíquica. Para tanto, se usa o conto infantil, o
qual funciona como um mediador entre a criança e suas conflitivas, viabilizando à criança entrar em
contato com sentimentos e fantasias, através da projeção e da construção de uma narrativa própria,
quando possível. Além disso, questões concernentes ao momento atual de vida da criança, bem
como a convivência em grupo também são trabalhadas na oficina.
A opção pelos contos infantis como mediador simbólico entre as conflitivas das crianças e a
possibilidade de elaboração pela via da projeção é um dos fatores para sua utilização como
instrumento terapêutico. Além disso, os contos infantis, ampliam a capacidade imaginativa pela sua
riqueza de simbologia. Gutfriend (2003), apoiado em Pavlovsky, aponta que o conto proporciona uma
abertura de um “espaço lúdico”, o qual refere-se a
um espaço criado a partir das atividades lúdicas, imagens e ilusões, onde a
criança pode brincar, inventar, criar, imaginar, e também se refugiar nos
momentos mais difíceis, em vez de escolher a via da sintomatologia e da
doença. (GUTFRIEND, 2003, p. 98)

A oficina recebe o adjetivo terapêutico em função da própria convivência que ela promove.
Uma vez que muitos transtornos mentais são marcados pela tendência ao isolamento, pela
dificuldade de se estabelecer vínculos afetivos e sociais (COSTA & FIGUEIREDO, 2004), a principal
tarefa de quem coordena uma oficina dita terapêutica é possibilitar oportunidades de inserção social
na rede de trocas simbólicas que lhe conferem um valor, através do produto da oficina.
O produto da oficina seja ele pintura, teatro, música ou qualquer outro tipo de arte, importa
pelo seu valor simbólico, isto é, sua função simbólica. Ele se faz simbólico quando escapa do
automatismo, da pura repetição, do sem sentido; quando é tornado público investido pela cultura e
pelas relações sociais.
Assim, a idéia de trabalhar-se com histórias infantis está apoiada na aposta da capacidade
que estas têm para permitir simbolizar e “resolver” os conflitos psíquicos inconscientes das crianças
(Kehl, in Corso & Corso, 2006). Contar histórias não é apenas um jeito de dar prazer às crianças: é
um modo de ampará-las em suas angústias, ajudá-las a nomear o que não podia ser dito ampliar o
espaço da fantasia e do pensamento.
Além disso, a própria estrutura da Oficina Terapêuica de Contos Infantis, que tem em um de
seus momentos principais, como veremos a seguir, a contação da história infantil, estimula a
construção e a (re)invenção de uma narrativa da história pessoal de cada criança. De acordo com
Gutfriend, poder dizer, expressar-se, contar-se, é o método mais eficaz de superar desequilíbrios
psíquicos. “Narrar pode ser, enfim, melhorar” (GUTFRIEND, 2003, p. 111).

2. METODOLOGIA

A oficina terapêutica de contos infantis teve início em maio de 2008 e continua ocorrendo.
Inicialmente abriu-se o grupo para crianças que pudessem vir a se beneficiar deste dispositivo clínico,
sendo que não foi levado como critério para a entrada no grupo, um quadro sintomático homogêneo.
Mas, pelo contrário, pensa-se que crianças com dificuldades diversas possam vir a possibilitar trocas
significativas em relação à socialização, ao lidar com a alteridade. As crianças que participam da
Oficina são indicadas pela equipe técnica do serviço, a qual, avalia através do plano terapêutico
individual, os benefícios que a participação nessa modalidade de tratamento proporcionará ao

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paciente. A inserção na oficina ocorre também por meio de demanda espontânea dos familiares e
crianças.
Este projeto de extensão é desenvolvido com crianças a partir dos sete até doze anos de
idade e destina-se a atingir o público de pacientes atendidos no CAPS Infanto-Juvenil da cidade de
Santa Maria. A Oficina Terapêutica de Contos Infantis é composta por um grupo de, no máximo, oito
crianças. Consiste na realização de um encontro semanal de 1 hora em que ocorre a leitura de um
conto infantil e são realizadas atividades que permitem as crianças expressarem através da utilização
de materiais concretos, algo que se relacione à história, bem como, falarem sobre si com o
distanciamento que a produção e o conto possibilitam..
Optou-se pela composição de um grupo fechado, devido questões relativas ao sigilo e a
construção de laços mais significativos entre o grupo. A Oficina ocorre em uma sala de grupos do
CAPSi. Os diversos materiais utilizados para a realização das atividades propostas são,
disponibilizados pelo serviço, e correspondem a materiais gráficos como lápis de cor, giz de cera,
lápis preto, canetinhas, cola, tesoura, papéis diversos, tintas, pincéis, além de outros materiais para
recorte e sucata.
A oficina divide-se em quatro momentos: o primeiro é uma conversa inicial com as crianças
sobre questões que elas trouxerem e a realização de um contrato terapêutico em que se fazem
algumas combinações sobre o funcionamento do grupo; o segundo é a passagem da realidade ao
mundo do faz-de-conta por meio de uma música cantada com a participação das crianças, para
assim dar-se o início à leitura de algum conto infantil; o terceiro é a realização de alguma produção a
partir do conto e o quarto é o momento em que as crianças expõem ao grupo o que criaram.
O primeiro momento, conversa inicial e contrato terapêutico, se fez relevante para que se
consiga formar o vínculo necessário para operar com o grupo. Nessa conversa inicial, as crianças
falam espontaneamente sobre questões diversas de suas vidas. No contrato, conversa-se sobre as
combinações da oficina, do que ela seria, dos momentos desta, da freqüência semanal, da
necessidade da pontualidade e de como deveria ser a convivência com os colegas, sempre baseada
no respeito para com o outro. A importância das combinações é a de que assim constrói-se um
espaço organizado, com limites e regras, possibilitando um suporte para as criações subjetivas das
crianças.
No segundo momento, canta-se a música: “uma linda história agora eu vou contar e quem
quiser ouvir é só se aproximar, batam palmas minha gente, batam palmas outra vez, batam palmas
bem contentes vou contar era uma vez...”. Essa música, cantada antes de iniciar o conto, demarca a
entrada no mundo do faz-de-conta. Logo que se começou a realizar a oficina percebeu-se um
movimento de resistência das crianças para cantar a música. Conforme foi se estabelecendo uma
coesão grupal e se estabelecendo o vínculo terapêutico entre coordenadoras e as crianças e entre
elas mesmas, essa resistência foi sendo vencida E então, através de auxílio e intervenções, as
crianças passaram a cantar a música. Após cantar a música, realiza-se a leitura de um conto infantil.
Inicialmente as contadoras eram uma das coordenadoras e depois, por demanda das próprias
crianças, elas começaram a ser contadoras também.
O terceiro momento permite a criança externalizar sua produção subjetiva. Para isso delimita-
se uma atividade, organizada previamente pelas coordenadoras, para ser realizada, sobre o conto
lido. Essa delimitação é, de certa maneira, vista como terapêutica pelo fato de que uma folha em
branco pode ser muito angustiante para uma criança, principalmente, em sofrimento psíquico grave.
Desta forma, elas têm toda liberdade para criar e imaginar, porém sempre com um ponto de
ancoragem.
O quarto momento possibilita que a criança compartilhe, com o grupo, o que criou a partir da
proposta inicial, podendo falar sobre o que fez e a partir disso dar um sentido próprio à sua produção.
Além disso, este momento proporciona uma interação e um reconhecimento de sua singularidade e
criatividade perante o grupo.
Os contos infantis escolhidos para serem trabalhados na oficina são em sua maioria contos
clássicos, pois estes possuem uma característica de abordar diversas questões que dizem respeito
ao imaginário da infância. Esses contos são escolhidos previamente pelas coordenadoras ou então
sugeridos pelas próprias crianças. Prefere-se optar pela leitura de um livro e não pela contação de
alguma história, pelo fato de que, ao contar algo pode-se estar, por razões pessoais, incluindo ou
excluindo trechos, que fazem parte do conto.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao longo destes dois anos e três meses em que se realiza a Oficina, foi possível observar a
evolução das crianças em relação à socialização e à elaboração de suas conflitivas psíquicas.
Observou-se que a elaboração de conflitivas psíquicas se deu a partir da produção individual das
crianças. Além disso, percebeu-se a projeção das conflitivas das crianças, na própria escolha do
personagem da história, ao qual se identificavam, e ao falar da produção que é feita a partir do conto.
Isto permitiu uma abertura para a possibilidade de construção de recursos para lidar com suas
angústias.
Ademais, através do conto, pela sua riqueza de simbologia, as crianças puderam ampliar sua
capacidade imaginativa e criativa, podendo ir além do automatismo e da concretude próprios de suas
patologias. Em relação à socialização, observou-se que também ocorriam trocas entre elas,
interagiam entre si com brincadeiras e entre suas produções, dando outros sentidos para a sua
singularidade. Então, com o intuito de exemplificação, será trazido alguns recortes clínicos de uma
menina participante da oficina, atualmente com 12 anos.
No início de sua participação na oficina, há dois anos atrás, a menina demonstrava muita
timidez, inibição e quase não falava, mesmo quando solicitada. Demonstrava dificuldade em decidir o
que ela gostaria de fazer quando propúnha-se a atividade. Nesses momentos, as coordenadoras não
se posicionavam e ela conseguia fazer sua escolha. Isso remete a questão do lugar de vazio que
estas ocupavam e que possibilitava que ela pudesse decidir por si mesma, ao não responder a sua
demanda de que fosse falado por ela.
Com o decorrer da oficina a menina passou a participar mais ativamente, inclusive ajudando
na retomada das combinações que são feitas no início do encontro. Hoje ela consegue se expressar
mais em relação às suas questões familiares, escolares e também sobre suas produções. Começou a
se integrar com as outras crianças e com as coordenadoras, integrar suas produções com as
produções das outras crianças. Por exemplo, quando conta de si e de sua história, e nos momentos
em que estabelece trocas com outro menino do grupo, como no dia em que juntaram suas produções
em uma brincadeira. Nesta Oficina, foi contada a história da “Cachinhos Dourados” e a atividade
proposta era a de que construíssem a cama, a cadeira e a tigela de um dos personagens. A menina
construiu conforme a proposta e um menino do grupo fez um carro. A menina sugeriu que o carro
fosse para transportar os três ursos da história. A partir disso, as duas crianças iniciaram uma
brincadeira em que ele ia visitá-la com seu carro na casa construída por ela. Na brincadeira, o menino
começou a “atirar bombas” para destruir a casa e dizia à menina que esta deveria protegê-la. Após
esta brincadeira de “destruir”, a partir da intervenção das coordenadoras, as duas crianças
organizaram novamente a casa que fora destruída.
Inicialmente essa menina apresentava uma produção limitada, principalmente quando eram
realizados desenhos, os quais ela apenas copiava de uma figura pronta, sem conseguir colocar algo
de sua criação. Por vezes, fazia dois desenhos, um copiado e outro da sua maneira e perguntava aos
demais participantes do grupo qual era o mais bonito. Com o passar do tempo, a menina começou a
colocar elementos seus na produção. Como exemplo disso, na oficina em que foi utilizada a história
do Pinóquio, a menina desenhou a Fada Azul e fez cabelos com lã. Também começou a colocar mais
suas opiniões para o grupo, trazendo idéias próprias no momento da produção, não se atendo a
copiar.
Outro exemplo de sua evolução, pode ser visualizada a partir da oficina em que uma das
crianças leu a história. Nesse dia, a menina disse que tinha vergonha de ler na frente dos outros. As
coordenadoras disseram a ela que no momento em que quisesse tentar ler, poderia fazê-lo, poderia
ser a contadora. Passado alguns meses, a menina pede antes do início da oficina do dia para ver o
livro (A pequena sereia) e diz que se o lesse antes, o leria na oficina. E o fez. Leu toda a história, com
algumas dificuldades, mas pedia o auxílio das coordenadoras quando se deparava com palavras que
não compreendia.
Na oficina seguinte pede novamente para ler a história. Dissemos que conforme o combinado
revezaríamos o contador. Nesse dia foi lida a história “O canto do canário” e sugerimos que
desenhassem o lugar em que o canário viveria depois de sair da gaiola. Disse que não queria
desenhar porque não o sabia fazer. Utilizou então sucata para sua produção e tendo dificuldades em
fazer o canário, sugerimos que tentasse desenhá-lo. A menina, para a surpresa das coordenadoras,
disse que preferia se arriscar e fazê-lo com sucata. Demonstrou envolvimento, criatividade e grande

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avanço em sua desenvoltura. Em um dos encontros olhou-se no espelho e dançou uma música na
frente do mesmo e perante o grupo, demonstrando outra possibilidade de mostrar-se e ver-se.
Diante do exposto, indica-se que a Oficina Terapêutica de Contos Infantis mostra sua
eficácia, visto que através da utilização do conto, as crianças conseguem elaborar seus conflitos
psíquicos e isso, tem repercussão em suas vidas, na escola, na família, na interação social, entre
outros aspectos. Além disso, considera-se que o próprio espaço grupal auxilia no estabelecimentos
de vínculos significativos e de reconhecimento da alteridade, algo que é fundamental para a
convivência em sociedade.

5. CONCLUSÃO

Pode-se observar com a experiência da Oficina Terapêutica de Contos Infantis que um dos
objetivos do projeto de extensão foi alcançado, isto é, que através do conto, pela sua riqueza de
simbologia, as crianças conseguiramm ampliar sua capacidade imaginativa e criativa, podendo ir
além do automatismo e da concretude próprios de suas patologias. Do mesmo modo, as histórias
viabilizaram às crianças entrarem em contato com sentimentos e fantasias, através da projeção e
também, propiciaram a construção de uma narrativa própria, ou seja, de uma história singular.
Sendo assim, acredita-se que o trabalho realizado juntamente com as crianças é importante
para que estas recebam novos olhares e construam novos significados para si e para o outro,
encontrando outras formas de se colocar como sujeito desejante. De conto em conto cada criança
inventa e preenche lacunas na sua própria história, organizando um mundo com sentido e mais
seguro para se estar.
Através da criação deste espaço de escuta por meio da realização da Oficina Terapêutica de
Contos Infantis com as crianças do CAPSi, percebeu-se o quanto essas modalidades de tratamento
são importantes para a superação da visão da loucura e do modelo de assistência que ainda hoje é a
ela dirigida - o modelo manicomial. Além disso, ao trabalhar com a infância nota-se que há muito
ainda a ser construído no que diz respeito aos cuidados prestados a essa faixa etária, principalmente
em relação à saúde mental.

REFERÊNCIAS

BRASIL: Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990.

CORSO, D.L e CORSO, M. Fadas no divã: Psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed,
2006.

COSTA, C.M. e FIGUEIREDO, A.C. Oficinas terapêuticas em saúde mental: sujeito, produção e
cidadania. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2004.

FERREIRA, T. A criança e a saúde mental: enlaces entre a clínica e a política. Belo Horizonte:
Autêntica/ FCH-FUMEC, 2004.

GUERRA, A. M. C. A psicanálise no campo da Saúde Mental Infanto-Juvenil. Psychê; Ano IX; nº 15;
São Paulo, p. 139-154, jan-jun/200.

GUTFRIEND, C. O terapeuta e o lobo: a utilização do conto na psicoterapia da criança. São Paulo:


Casa do Psicólogo, 2003.

VASCONCELLOS, F. Ateliê: lugar de criação. In: Estilos da Clínica. Instituto de Psicologia,


Universidade de São Paulo. Vol 1, n.1. São Paulo: USP-IP, 1996.

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