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METODOLOGIA DO ENSINO DA GEOGRAFIA 2

PROFESSORA: PRISCYLLA MENEZES


ALUNO: EVERTON ESTEVÃO DE MELO

RELATO DA MESA 9 - IX SINGA.

Tema: Reforma Agrária e educação como forma de emancipação dos povos do campo,
das florestas e das águas

Rubineuza Leandro de Souza (Movimento Sem Terra) – Pernambuco

A integrante que deu início as discussões da mesa, Rubineuza do Movimento Sem


Terra (MST), começou sua fala destacando a questão agrária, dando considerável atenção a
concentração de terras no Brasil e ressaltou a indissicioabilidade dessa com a concentração
do conhecimento. Rubineuza salientou que a luta pela terra associou-se a luta pela educação
conduzida pelos diversos povos das florestas, das águas e do campo.
Ela ressalta que a emancipação humana, diferente da cidadania, é uma luta coletiva
orientada pela emancipação do trabalho e que, na luta pela terra, estão os embriões da
emancipação humana. Nesse sentido, a luta pela terra é compreendida como condição
fundamental desse processo emancipatório e a educação do campo deve trazer como
conteúdo essa realidade de luta. Nessa perspectiva, o processo de emancipação humana em
Paulo Freire é considerado desvelador da realidade e a educação do campo é pensada não
apenas sob a dimensão cognitiva.
Rubineuza salienta que com o advento da Revolução Verde o principal argumento
utilizado para expulsar as famílias do campo era o acesso ao conhecimento. Os sujeitos do
campo foram alijados do conhecimento em função do processo histórico do latifúndio, da
monocultura e da escravidão. Ela ressalta que na década de 1940, a luta pela terra organizada
pelas ligas camponesas, pelos movimentos sociais e por alguns quadros de partidos políticos
teve como centralidade a educação popular não formal. Após esse período, ainda no
contexto da ditadura militar, nos anos de 1980, a luta pela terra é retomada conjuntamente
com a educação popular impulsionada pela teologia da libertação.
Ela destaca que na contemporâneidade, trabalhadores da educação, comunidades e
estudantes constroem coletivamente, por meio da gestão democrática, um projeto de
educação. A articulação que passou a ser um movimento por uma educação do campo de
cunho emancipatório tem a condução desse processo desde a perspectiva da classe
trabalhadora e, portanto, é um projeto contra hegemônico, que busca dar centralidade aos
sujeitos, transferindo a responsabilidade do Estado para os movimentos sociais e a classe
trabalhadora o papel de conceber a educação, alterando a sua forma e o seu conteúdo. Nesse
contexto, o Estado por sua vez, será responsável por criar as condições necessárias que dão
viabilidade a esse projeto de educação.
Por fim, Rubineuza adverte que não existe um projeto de educação do campo
dissociado da luta pela terra, pela reforma agrária, assentado em um projeto societário de
emancipação humana. Nesse sentido, tal projeto deve estar atrelado a soberania territorial
dos povos das florestas, dos campos e das águas.

Juliana Alves Jenipapo-Kanindé – Articulação das Mulheres Indigenas do Ceará


A indígena Juliana Alves, Cacique Iyerê, do povo Jenipapo-Kanindé, inicia sua fala
salientando que a luta pela terra dos povos indígenas também está associada com a luta pela
educação. A educação escolar indígena tem que ser voltada para a luta pela terra. Nessa
perspectiva, a educação indígena forma guerreiros, lutadores, para que deem continuidade
as lutas históricas, mas também tem possibilitado que eles ocupem os espaços da academia,
como uma estratégia de luta e enfrentamento.
A líder do povo Jenipapo-Kanindé questiona de que maneira os povos originários
podem se defender do agronegócio, da bancada ruralista e do governo no atual contexto de
negação e violação dos direitos? Ela ressalta que como estratégia, busca-se ocupar o espaço
educacional nas escolas para trabalhar com os estudantes e dar continuidade as tradições da
aldeia, mas também prepará-los para ampliar seus conhecimentos em outros espaços, como
as universidades, para que munidos desse conhecimento possam retornar a seu povo e
fortalecer a luta.
A Cacique Iyerê ressalta que a união dos movimentos sociais pode ser uma estratégia
para a (r)existência de todos os povos, através do direito ao território, a educação, a saúde
e a moradia. Nesse sentido, o papel do acesso e permanência ao território deve ser
considerado central, pois sem o território as demais conquistas ficam soltas e portanto
vulneráveis.
Juliana salienta que os grandes projetos do Estado recorrentemente utilizam o
discurso desenvolvimentista para remover os indígenas dos seus territórios, alegando que
tais povos são um entrave aos projetos de desenvolvimento do capital. Por fim, a líder
Jenipapo-Kanindé exorta que a possibilidade de falar e expressar é uma estratégia utilizada
pelos povos indígenas. Falar em reforma agrária e emancipação dos povos nos espaços da
educação é falar que os povos (r)existem.

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