O documento resume as falas de duas líderes de movimentos sociais na Mesa 9 do IX SINGA sobre reforma agrária e educação. Rubineuza do MST destacou a ligação entre a luta pela terra e educação e como a educação do campo deve promover a emancipação dos trabalhadores rurais. Juliana Alves falou sobre como a educação indígena forma guerreiros para a luta pela terra e como os povos indígenas buscam ocupar espaços acadêmicos para fortalecer suas lutas.
Descrição original:
Relato de mesa do IX Simpósio Internacional de Geografia Agrária
O documento resume as falas de duas líderes de movimentos sociais na Mesa 9 do IX SINGA sobre reforma agrária e educação. Rubineuza do MST destacou a ligação entre a luta pela terra e educação e como a educação do campo deve promover a emancipação dos trabalhadores rurais. Juliana Alves falou sobre como a educação indígena forma guerreiros para a luta pela terra e como os povos indígenas buscam ocupar espaços acadêmicos para fortalecer suas lutas.
O documento resume as falas de duas líderes de movimentos sociais na Mesa 9 do IX SINGA sobre reforma agrária e educação. Rubineuza do MST destacou a ligação entre a luta pela terra e educação e como a educação do campo deve promover a emancipação dos trabalhadores rurais. Juliana Alves falou sobre como a educação indígena forma guerreiros para a luta pela terra e como os povos indígenas buscam ocupar espaços acadêmicos para fortalecer suas lutas.
Tema: Reforma Agrária e educação como forma de emancipação dos povos do campo, das florestas e das águas
Rubineuza Leandro de Souza (Movimento Sem Terra) – Pernambuco
A integrante que deu início as discussões da mesa, Rubineuza do Movimento Sem
Terra (MST), começou sua fala destacando a questão agrária, dando considerável atenção a concentração de terras no Brasil e ressaltou a indissicioabilidade dessa com a concentração do conhecimento. Rubineuza salientou que a luta pela terra associou-se a luta pela educação conduzida pelos diversos povos das florestas, das águas e do campo. Ela ressalta que a emancipação humana, diferente da cidadania, é uma luta coletiva orientada pela emancipação do trabalho e que, na luta pela terra, estão os embriões da emancipação humana. Nesse sentido, a luta pela terra é compreendida como condição fundamental desse processo emancipatório e a educação do campo deve trazer como conteúdo essa realidade de luta. Nessa perspectiva, o processo de emancipação humana em Paulo Freire é considerado desvelador da realidade e a educação do campo é pensada não apenas sob a dimensão cognitiva. Rubineuza salienta que com o advento da Revolução Verde o principal argumento utilizado para expulsar as famílias do campo era o acesso ao conhecimento. Os sujeitos do campo foram alijados do conhecimento em função do processo histórico do latifúndio, da monocultura e da escravidão. Ela ressalta que na década de 1940, a luta pela terra organizada pelas ligas camponesas, pelos movimentos sociais e por alguns quadros de partidos políticos teve como centralidade a educação popular não formal. Após esse período, ainda no contexto da ditadura militar, nos anos de 1980, a luta pela terra é retomada conjuntamente com a educação popular impulsionada pela teologia da libertação. Ela destaca que na contemporâneidade, trabalhadores da educação, comunidades e estudantes constroem coletivamente, por meio da gestão democrática, um projeto de educação. A articulação que passou a ser um movimento por uma educação do campo de cunho emancipatório tem a condução desse processo desde a perspectiva da classe trabalhadora e, portanto, é um projeto contra hegemônico, que busca dar centralidade aos sujeitos, transferindo a responsabilidade do Estado para os movimentos sociais e a classe trabalhadora o papel de conceber a educação, alterando a sua forma e o seu conteúdo. Nesse contexto, o Estado por sua vez, será responsável por criar as condições necessárias que dão viabilidade a esse projeto de educação. Por fim, Rubineuza adverte que não existe um projeto de educação do campo dissociado da luta pela terra, pela reforma agrária, assentado em um projeto societário de emancipação humana. Nesse sentido, tal projeto deve estar atrelado a soberania territorial dos povos das florestas, dos campos e das águas.
Juliana Alves Jenipapo-Kanindé – Articulação das Mulheres Indigenas do Ceará
A indígena Juliana Alves, Cacique Iyerê, do povo Jenipapo-Kanindé, inicia sua fala salientando que a luta pela terra dos povos indígenas também está associada com a luta pela educação. A educação escolar indígena tem que ser voltada para a luta pela terra. Nessa perspectiva, a educação indígena forma guerreiros, lutadores, para que deem continuidade as lutas históricas, mas também tem possibilitado que eles ocupem os espaços da academia, como uma estratégia de luta e enfrentamento. A líder do povo Jenipapo-Kanindé questiona de que maneira os povos originários podem se defender do agronegócio, da bancada ruralista e do governo no atual contexto de negação e violação dos direitos? Ela ressalta que como estratégia, busca-se ocupar o espaço educacional nas escolas para trabalhar com os estudantes e dar continuidade as tradições da aldeia, mas também prepará-los para ampliar seus conhecimentos em outros espaços, como as universidades, para que munidos desse conhecimento possam retornar a seu povo e fortalecer a luta. A Cacique Iyerê ressalta que a união dos movimentos sociais pode ser uma estratégia para a (r)existência de todos os povos, através do direito ao território, a educação, a saúde e a moradia. Nesse sentido, o papel do acesso e permanência ao território deve ser considerado central, pois sem o território as demais conquistas ficam soltas e portanto vulneráveis. Juliana salienta que os grandes projetos do Estado recorrentemente utilizam o discurso desenvolvimentista para remover os indígenas dos seus territórios, alegando que tais povos são um entrave aos projetos de desenvolvimento do capital. Por fim, a líder Jenipapo-Kanindé exorta que a possibilidade de falar e expressar é uma estratégia utilizada pelos povos indígenas. Falar em reforma agrária e emancipação dos povos nos espaços da educação é falar que os povos (r)existem.