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1 Contextualização e Definições
Suponha que queiramos resolver esta equação diferencial:
d ∂F ∂F dy
F (x, y) = + = 2xy + (x2 + 2y)y 0 .
dx ∂x ∂y dx
(F (x, y))0 = 0,
e, portanto, integrando em x nos dois lados, temos que a solução implı́cita da equação é
F (x, y) = C.
É natural que se pergunte como sabı́amos de antemão que a função F (x, y) teria as
propriedades ilustradas no exemplo acima. A resposta é: o exemplo foi feito pensando nela
primeiro e, depois, montando a equação diferencial, apenas para propósitos de exemplo. Mas,
caso apenas a equação diferencial nos fosse dada, como poderı́amos proceder? A ideia para
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esta aula é mostrar para que tipo de equações diferenciais podemos encontrar esta função
(chamada de função potencial) e como podemos encontrá-la.
Dada uma equação da forma
dizemos que esta é uma equação exata se existe uma função F (x, y) , chamada de poten-
cial, tal que
Fx = M
e
Fy = N.
Se a equação está definida em um conjunto aberto e simplesmente conexo D ⊂ R2 , com
M (x, y) e N (x, y) e suas derivadas parciais primeiras contı́nuas, então existe uma função
potencial F (x, y) se, e somente se,
My = Nx .
Esta condição é chamada de condição de reciprocidade de Euler.
A última parte pode ser parcialmente justificada pelo Cálculo II, onde aprendemos que, se
uma função G(x, y) é contı́nua, tem derivadas parciais primeiras contı́nuas e, além disso, tem
derivadas parciais segundas contı́nuas, então as derivadas parciais mistas são comutativas,
ou seja,
Gxy = Gyx .
Assim, se M = Fx , N = Fy e M e N são contı́nuas com derivadas parciais primeiras contı́nuas,
então (Fx )y = My = Nx = (Fy )x . Essa é uma condição necessária para a equação ser exata. A
equação estar definida para um domı́nio simplesmente conexo torna essa condição necessária.
Assim, se essas condições são cumpridas, basta fazermos essa verificação.
Fx = M (2)
e
Fy = N. (3)
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Nosso objetivo é encontrar F (x, y). Para isso, perceba que a condição (2) nos diz que
podemos encontrar F (x, y) integrando ambos os lados em x. Assim,
Z Z
Fx (x, y)dx = F (x, y) = M (x, y)dx.
No entanto, há um detalhe sutil nesta última integral: M é uma função de x e de y, então,
quando integrarmos em x, a ”constante”de integração é, em geral, não apenas um número
real, mas sim uma função de y. Isto acontece pois a derivada parcial em x elimina qualquer
função que depende só de y que é somada à função. Então, podemos escrever que
Z
F (x, y) = M (x, y)dx + g(y).
Portanto, para determinarmos a função potencial, precisamos determinar g(y). Para isso,
usamos a equação (3) e obtemos que
Z Z
∂ 0 0 ∂
Fy = M (x, y)dx + g (y) = N (x, y) ⇒ g (y) = N (x, y) − M (x, y)dx
∂y ∂y
Esta última equação tem uma restrição: o lado esquerdo depende apenas de y. Desta
forma, o lado direito também deve depender só de y. Mas como podemos demonstrar que
isso acontece? A ideia é a seguinte: para demonstrar que uma função não depende de x,
podemos calcular a derivada em x e, caso obtenhamos zero, mostraremos que a função não
tem dependência em x! Procedendo com esta ideia, derivamos em x dos dois lados:
Z
∂ 0 ∂ ∂ ∂
g (y) = 0 = N (x, y) − M (x, y)dx.
∂x ∂x ∂x ∂y
Como M (x, y), por hipótese, é contı́nua e tem derivadas parciais primeiras contı́nuas, as
derivadas parciais mistas podem ser comutadas. Assim, temos que
Z Z
∂ ∂ ∂ ∂ ∂
N (x, y) − M (x, y)dx = Nx − M (x, y)dx.
∂x ∂x ∂y ∂y ∂x
Sabendo que a derivada de uma integral na mesma variável recupera a função:
Z
∂ ∂ ∂
Nx − M (x, y)dx = Nx − M (x, y) = Nx − My .
∂y ∂x ∂y
Percebam onde chegamos: por hipótese, nossa equação diferencial é exata e, portanto,
My = Nx ⇒ Nx − My = 0,
como querı́amos demonstrar! Assim, concluı́mos que a solução implı́cita da nossa equação
diferencial é dada por Z
F (x, y) = M (x, y)dx + g(y),
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onde
Z Z Z
0 ∂ ∂
g (y) = N (x, y) − M (x, y)dx ⇒ g(y) = N (x, y) − M (x, y)dx dy
∂y ∂y
Z Z
= N (x, y)dy − M (x, y)dx.
My = Nx ⇒ My − Nx = 0,
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como querı́amos demonstrar! Assim, temos que a função potencial é dada por
Z
F (x, y) = N (x, y)dy + g(x),
onde
Z Z Z
0 ∂ ∂
g (x) = M (x, y) − N (x, y)dy ⇒ g(x) = M (x, y) − N (x, y)dy dx
∂x ∂x
Z Z
= M (x, y)dx − N (x, y)dy
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3 Fatores Integrantes
Suponha que queiramos resolver a seguinte equação diferencial:
Uma resolução através do método de separação de variáveis parece inviável. Portanto, po-
demos testar se a equação é exata e ver se chegamos em algo que nos ajudará. Desta forma,
My = (y + e−x y 3 )y = 1 + 3e−x y 2 ,
Podemos checar novamente o critério de exatidão da equação, com Mnova (x, y) = ex M (x, y)
e Nnova (x, y) = ex N (x, y):
Mnovay = (ex y + y 3 )y = ex + 3y 2 ,
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Vamos começar considerando uma equação diferencial da forma
Agora, temos que nossa nova M (x, y) é dada por M 0 (x, y) = µ(x)M (x, y) e a nova N (x, y)
é dada por N 0 (x, y) = µ(x)N (x, y). Com isso, para a nova equação ser exata, é preciso que
My0 = Nx0 .
O resultado (7) nos diz duas coisas: a primeira é que, como o lado esquerdo depende apenas
de x, o lado direito também deve depender apenas de x. Ou seja, se MyN−Nx depende apenas
de x, então conseguimos encontrar um fator integrante que depende de x. A segunda é que
é possı́vel obter este fator integrante resolvendo a equação separável obtida em (7) e, assim,
multiplicar a equação diferencial por este fator e proceder com o método visto anteriormente.
Podemos proceder de maneira análoga supondo um fator integrante µ(x, y) = µ(y), ou
seja, um fator integrante que depende apenas de y. Multiplicando a equação diferencial
original por µ(y), temos que
e, portanto, M 0 (x, y) = µ(y)M (x, y) e N 0 (x, y) = µ(y)N (x, y). Para que a equação seja
exata, precisamos ter que
My0 = Nx0 .
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Desenvolvendo, obtemos que
De forma análoga, o resultado (8) nos diz que o lado direito deve depender apenas de y para
termos um fator integrante que depende apenas de y. Além disso, podemos obter este fator
integrante resolvendo a equação separável obtida no resultado (8). Assim, multiplicando
a equação por este fator, podemos proceder com a resolução utilizando o método visto
anteriormente.
Para finalizar este texto, vamos resolver o exemplo (5):
Vamos supor que a equação admita um fator integrante µ(x, y) = µ(x). Multiplicando,
temos que
µ(x)(y + e−x y 3 )dx + µ(x)(1 + 3xe−x y 2 )dy.
Para a equação ser exata, My0 = Nx0 . Portanto,
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Finalmente chegamos ao fator integrante! Como queremos apenas um fator integrante,
e não uma famı́lia deles, podemos escolher a constante C como quisermos. Assim, vamos
escolher C = 1. Portanto,
µ(x) = ex .
Então, ao multiplicar toda a equação por µ(x) = ex , conseguimos transformá-la em uma
equação exata e, assim, podemos utilizar o método das equações exatas para resolvê-la!