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PUC-SP
SÃO PAULO
2016
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
SÃO PAULO
2016
i
BANCA EXAMINADORA
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___________________________________
Dedico a Deus, que me capacitou e
abriu os caminhos de modo
sobrenatural, e ao meu esposo Aloisio,
pela paciência, incentivo e apoio.
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................IV
Modern society attaches great importance to the act of speaking in public, not unlike
the Ancient Greek, though with considerable change in the socio-historical context.
Evidence of this phenomenon are the emergence of companies specialized in
creating corporate presentations, the thriving market for speakers, and particularly
the substantial number of prominent broadcast lectures accessible on the Internet. A
significant example is the object of this research: the TED lectures, available on
video, that have reached more than one billion views in 2012, bringing together
professionals from different fields of study and different parts of the world. The
purpose of this research is to understand the functioning of such lectures in
contemporary times. What factors led to the widespread dissemination of TED talks?
Are such talks giving rise to a new genre of discourse? If so, what traits characterize
it? To answer these questions we examined videos of TED talks based on an
enunciative-discursive perspective, as proposed by Maingueneau. From the
theoretical and methodological point of view, we worked with the notion of
enunciation scenes, included therein the concepts of encompassing scene, generic
scene and scenography, and the relationship between medium and discourse. Three
videos were selected for this analysis based on their visibility, representativeness
and timeliness criteria. The results allow us to identify traits that indicate the
emergence of a new genre of discourse, as well as foment a reflection on the
possibility of thinking TED talks as a hipergenre. This research also enables us to
infer a relationship between TED talks and other genres, including their development,
with the necessary adjustments, in education.
vertentes: (i) estudo das práticas de linguagem em situação de trabalho; (ii) estudo
de discursos sobre o trabalho; (iii) estudo de discursos que circulam em diferentes
esferas: midiática, educacional, religiosa, jurídica etc. Nessa terceira vertente insere-
2
se a presente dissertação.
Uma problemática antiga, mas ainda muito presente para muitas pessoas,
é a atividade de falar em público. Para ilustrar o que essa questão representa, o
jornal inglês Sunday Times (apud FRUTUOSO, 2013) realizou uma pesquisa com
três mil pessoas na qual cada uma delas deveria hierarquizar os seus maiores
medos. De acordo com o resultado, 41% dos entrevistados tinham medo de falar em
público. A este, seguiam-se outros medos, como problemas financeiros (22%) e
receio de doenças e morte (19%). Conclui-se que falar em público é, para um
significativo número de pessoas, um enorme desafio, a ponto de ser mais temido do
que morrer. Acreditamos que o medo que assola boa parte das pessoas advém de
critérios de julgamento de valor. Pressupomos o que o outro pensará de nós, e
restará a dúvida sobre se o que eu falo é bonito, adequado, “politicamente correto”
ou, ainda, se está em conformidade aos critérios sociais.
A forma como construímos nossos discursos e nos comunicamos revela
muito sobre as relações que queremos estabelecer, ou a que já temos construída
com o outro. A linguagem como atividade fica ainda mais evidenciada quando
falamos em público – em uma reunião de trabalho, por exemplo. Cada pessoa, em
algum momento, irá julgar sua própria qualidade como comunicador e também será
juiz (ou algoz) do outro (SCHWARTZ E DURRIVE, 2010, p. 166) ao avaliar a sua
qualidade no uso da linguagem. Trata-se de uma atividade que atormenta muitas
pessoas, capaz de, se malconduzida, comprometer a reputação e a vida
profissional. Por meio do desenvolvimento desta pesquisa trazemos a exame essas
“preocupações do mundo real regidas pela linguagem fundamentalmente na sua
relação com assuntos práticos” (SOUZA-E-SILVA, 2015, p. 130).
O estudo sobre o gênero discursivo palestras TED impõe-se como uma
necessidade atual e latente, no contexto sócio-histórico contemporâneo, buscando
com a teoria caracterizar um processo de comunicação aplicado ao trabalho que
3
subjaz em uma prática – neste caso, a prática de fazer apresentações – que, para
alguns, é uma atividade profissional, como no caso de palestrantes. Para outros,
fazer apresentações não é uma atividade primária, mas uma entre as diversas
tarefas das quais é responsável, conforme a função que exerce efetivamente.
Estudar como se dá o processo enunciativo nas palestras TED é um
empreendimento importante, na medida em que é possível depreender e discutir os
novos modos de exercer o ato de falar em público contemporaneamente. O tema da
pesquisa surgiu incitado por dois fatores: um sócio-histórico e outro pessoal, que
será detalhado posteriormente. Em relação ao primeiro fator, é importante destacar
que fazer uma apresentação em público é uma situação que a maioria das pessoas
vivenciará em algum momento, seja no meio acadêmico, religioso ou corporativo;
em tal atividade, será preciso reter a atenção do público, transmitir a mensagem e
engajar a audiência a favor de um propósito.
Quem é capaz de expor as ideias de maneira envolvente e com domínio
das chamadas leis do discurso (MAINGUENEAU, 2013, p. 34-41) é, portanto,
detentor de uma habilidade muito valorizada no contexto contemporâneo.
Nos últimos dez anos, um movimento do mercado que aponta para a
valorização do ato de se fazer uma apresentação encontra-se no surgimento de
empresas especializadas1 no desenvolvimento de apresentações, que contam nos
seus quadros com profissionais dedicados à elaboração do discurso do
apresentador, à criação de recursos visuais que lhe sirvam de suporte e, claro, ao
1
Nos Estados Unidos, há 20 anos a empresa Duarte atua visando a melhorar o
desempenho de apresentadores e o desenvolvimento de apresentações. Ela já foi a responsável por
orientar os palestrantes de alguns TED Globais. Nancy Duarte, diretora executiva, escreveu o livro
“Slide:ology: The art and science of creating great presentations” (O'Reilly, 2008). Outra empresa
reconhecida é a PowerPresentation, de Jerry Weisman, consultor de presidentes de grandes
empresas e políticos (WEISMAN, 2009). No Brasil, em 2001 foi criada a LaGracia, que já atendeu
mais de 150 clientes de diferentes segmentos. Entre as companhias especializadas em
apresentações também podem ser citadas a All Presentations, que prioriza o preparo do
apresentador em detrimento da elaboração de slides; a SOAP, fundada em 2003, e empresas como
Kings, Monkey Business, Abre Aspas e Sociedade Brasileira de Apresentações Profissionais.
4
2
Chamamos de plataformas de apresentação as ferramentas disponíveis para apoiar o
apresentador no momento de expor ao público sua mensagem: podem ser recursos como os
programas PowerPoint e Keynote, ou mesmo o quadro branco.
3
Computação em nuvem é o conceito de armazenamento de informações em um sistema
operacional disponível na internet, de modo que se torna desnecessário ter um servidor físico para
arquivar dados. Outra característica do armazenamento e compartilhamento na nuvem é que, por
meio de qualquer computador, pode-se ter acesso às informações.
5
4
Site oficial Toastmasters. Disponível em: <https://www.toastmasters.org/About>. Acesso
em: 11 jul. 2016.
6
5
All Presentations é a nossa empresa de treinamento e coaching em comunicação, que
tem como propósito apoiar cada profissional para ser a sua melhor versão como comunicador. Para
isso, ela oferece workshops, coaching, consultoria de conteúdo e também a criação visual do material
de apoio do apresentador. Disponível em: <allpresentations.com.br>.
7
[...] A retórica é a outra fase da dialética, pois ambas se ocupam de questões mais ou
menos ligadas ao conhecimento comum e não correspondem a nenhuma ciência em
particular. De fato, todas as pessoas de alguma maneira participam de uma e de outra,
pois todas tentam em certa medida questionar e sustentar um argumento, defender-se ou
acusar. (REBOUL, 2004, p. 132)
que ela teve o seu nascimento estimado entre os séculos IV e V a.C. A retórica é a
única “faculdade” que se interessa exclusivamente pelo ato de persuadir, sem se
10
pensamento: menos interesse pelos deuses e mais por aquilo que os homens têm a
falar.
Durante alguns séculos, chamavam-se “homéricas” as narrativas em torno
de personagens divinos, sendo que, em geral, os personagens humanos eram seus
dependentes. No entanto, no século V a.C. o homem passou a ser visto como
cidadão-guerreiro que falava, combatia e aparecia assumindo o seu destino. A
concepção grega do mundo e do homem se secularizou e os “deuses”
desapareceram aos poucos devido às ações humanas (CHÂTELET, 1973, p. 18).
Atenas era o lugar de uma evolução exemplar que se manifestou, por
exemplo, na conquista política do estatuto cívico. A pólis vivia um tempo em que o
destino de cada cidadão não dependia da sua família, da sua lealdade ao chefe ou
da vontade dos deuses, mas, sim, da sua relação com a lei e da instauração da
democracia, devido às causas históricas já mencionadas.
Foi ainda nessa época que os gêneros culturais passaram por
transformações de estilo e sentido. A Tragédia, por exemplo, era religiosa, mas se
tornou cerimônia cívica. A Comédia deixou de lado o teatro satírico para assumir a
crítica política. Já a História-Geografia, que englobava descrições de lendas e
genealogias místicas, perdeu espaço para detalhamentos de lugares e costumes. A
Filosofia, por sua vez, deixou de ser divagação e mistério para reivindicar questões e
respostas do contexto da época (CHÂTELET, 1973, p. 29). A Medicina, que antes
dependia de recursos como “adivinhações”, passou a optar pela investigação
racional das doenças, assim como a Física, que deixou de contar com as
especulações mágicas para olhar pela lente dos estudos e das relações entre os
fenômenos.
Como abordamos a questão do gênero nesse trabalho e retomamos a
visão da Antiguidade clássica, acreditamos ser relevante destacar que Aristóteles,
que viveu de 384 a.C a 322 a.C, definiu três gêneros: o deliberativo, o judiciário e o
12
[A] Ideia de uma gênese tranquila que conduziria do imaginário ao real, da magia à
prática, da particularidade (social) ao universal (humano), do desejo ao discurso, é
comprometida à medida que se coloca a questão de sua articulação. (CHÂTELET, 1973,
p. 20)
É evidente que um novo estilo de discurso foi imposto com uma ordem
denominada lógica, de maneira tal que “não é mais a força aparente dos hábitos ou
o poder pseudorreal dos mantenedores da ordem que se impõe, mas a ordem da
palavra controlada” (CHÂTELET, 1973, p. 20). Platão, por exemplo, não queria
saber do utilitarismo, do convencionalismo e do relativismo fundamentais dos
sofistas, e os definia como mercadores de palavras corruptos.
A partir da dicotomia entre os pontos de vista aristotélico e platônico, por
muito tempo a Retórica continuou sendo estudada, inclusive nas primeiras
universidades, até que, por volta do ano de 1600, no período da Era Moderna, ela
perdeu espaço para o pensamento racionalista, disseminado por René Descartes
em seu trabalho “Discurso do Método”, no qual ele defendia o pensamento rigoroso
e metódico e a valorização das evidências ‒ ou seja, daqueles indícios concedidos
pelas ciências naturais. Sobreposta pela razão, por três séculos a retórica foi
deixada de lado, uma vez que era considerada engodo.
A verdade, porém, é que a lógica e a metodologia científica não eram
suficientes para resolver questões que envolviam juízo de valor, mas por muitos
séculos os estudos de Aristóteles foram deixados à margem por sucessivas
gerações de filósofos. Do legado aristotélico, apenas a forma analítica de raciocínio
foi valorizada.
Daí a importância do trabalho do jurista belga Perelman em conjunto com
15
A partir do excerto acima, podemos presumir que, para cada cultura e cada
situação, o orador tem a sua própria visão do auditório universal, o que,
consequentemente, inviabiliza conseguir a adesão total ou da maioria do público.
Portanto, para conseguir convencer a audiência é preciso levar em consideração a
quantidade de pessoas e a qualidade daqueles que expõem suas opiniões
(PERELMAN E OLBRECHTS-TYTECA, 1996, p. 35).
Existindo o risco de encontrar dificuldade em obter a adesão dos espíritos,
Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996, p.37) propõem que se recorra ao auditório de
elite, que definem como dotado de conhecimentos acima da média, capaz de validar
o argumento do orador e de qualificá-lo como digno de crédito. Dessa forma, o
auditório de elite torna-se o auditório universal a quem o orador se dirige, deixando
de lado a minoria obstinada em manter seu ponto de vista ou incapaz de enxergar
através de novas perspectivas por não reunir as habilidades necessárias para
compreender o argumento. Tal conceito será retomado adiante, em apoio à
importante análise do público presencial que assiste às palestras TED.
17
minoritária. Ela “começa no coração das nações dominadoras” (MORIN, 2007, p. 42)
porque passa a considerar a perspectiva de cultura do outro e ideias humanistas
como os direitos humanos. Ele a exemplifica com movimentos históricos como a
cultura antiescravagista, que resultou na abolição da escravatura, ou mesmo os
movimentos mais atuais de organizações não-governamentais como os Médicos
Sem Fronteiras6 ou o Greepeace7, que atuam em causas de interesse comum.
Morin (2007, p. 43) também menciona o fenômeno ambivalente do
desenvolvimento das comunicações. O surgimento de telefone, fax, rádio, internet,
celular viabilizam uma comunicação instantânea entre as pessoas do planeta e
permitem entender e intercambiar informações. Mas, ao mesmo tempo, o autor
alerta que nem sempre comunicar é compreender.
De todo modo, podemos dizer que a tecnologia deixou o “mundo pequeno”
na medida em que a distância física não é mais impedimento para que haja o
compartilhamento da cultura, das perspectivas de mundo e dos desafios enfrentados
pelos cidadãos.
De acordo com a União Internacional das Telecomunicações, órgão vinculado
à Organização das Nações Unidas (ONU), o número de internautas no mundo todo já
alcança 3,2 bilhões. O resultado de tantas pessoas conectadas é o exorbitante
número de informações em circulação. Hoje, estão disponíveis no mundo quase 1
septilhão de bits de informação ‒ ou seja, o número 1 seguido de 24 zeros, total
similar ao de estrelas conhecidas no céu, segundo a Agência Espacial Europeia.
6
Organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde as pessoas em situações
extremas de risco como epidemias, misérias e conflitos de guerra.
7
Organização global independente que atua na preservação da natureza e em defesa da paz.
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8
The new multi-screen world study: pesquisa com 1.611 participantes de 18 até 64 anos
de idade, realizada de abril a junho de 2012, cujo objetivo consistiu em compreender o
o
comportamento do consumidor de mídia no período de um dia. Metodologia: 1 fase (qualitativa):
a
diários de texto, boletins on-line e entrevistas etnográficas em Los Angeles, Boston e Austin; 2 fase
(quantitativa): foram utilizados mecanismos de log para registrar interações dos participantes com
mídias tradicionais e digitais e questionário on-line.
20
apresenta, tem oportunidade de tecer novos pontos de vista e expor ideias com base
em seu próprio modo de enxergar o mundo. A concepção da construção do
conhecimento de Morin (2001, p. 29), portanto, assemelha-se nesse aspecto à
concepção da construção do conhecimento das palestras TED, cuja reunião no site
oficial oferece-se como uma genuína biblioteca virtual contemporânea. Após a
palestra ser disponibilizada no site TED quando publicada na internet, esta
apresentação, por sua vez, contribui para a construção de uma ampla base que,
tomada no conjunto, supera a soma das partes porque se estrutura e entrelaça na
composição de um grande “tapete” de informações. Esta base, objeto de interação e
assimilação pelo público, tende a fomentar novas conexões, sinapses e a estimular
que essa construção de conhecimento continue em aberto, sendo constantemente
retroalimentada.
Como sintoma dos movimentos mencionados anteriormente, uma possível
explicação para haver esse impulso na sociedade reside na sede por um
conhecimento palatável e acessível, em uma era de múltiplos recursos digitais de
comunicação e de acesso à informação, no qual há uma renovação no interesse das
pessoas em assistirem à exposição de ideias vindas de uma situação de
apresentação. A hipótese desta pesquisa é de que, em alguns casos, a valorização
de quem detém a palavra em situação de apresentação se dá porque o orador foi
capaz de traduzir fatos que, em um primeiro momento, são distantes da realidade da
audiência. Mas as palavras do orador em suas mensagens fazem sentido e geram
empatia, de tal modo que possibilitam a essa audiência realizar, por seu turno, um
tecer mais fácil do conhecimento. Desse modo, ocorre uma comunicação genuína
que vai além da mera recepção da informação, na medida em que ela embute a
compreensão da informação, como prega Morin (2007, p. 43).
22
Graham em 1998.
Com média de 1,5 milhão visualizações por dia, esses vídeos abordam
assuntos relacionados a ciência, liderança e histórias de vida de pessoas anônimas
e famosas, além de questões globais.
No site, há orientações do TED que estabelecem os padrões das palestras,
como o de transmitir a mensagem com uma duração total de 18 minutos. Em
primeiro lugar, tal regra pode ser justificada pelo fato de facilitar a viralização9
desses conteúdos, já que boa parte das palestras TED é convertida em vídeos para
publicação no site. Em segundo lugar, porque essa duração exige habilidades como
concisão e aproveitamento do tempo da parte do apresentador. A fim de esclarecer
e engajar a audiência, vários artifícios são válidos, como levar um piano de cauda
para o palco, reproduzir vídeos, usar o PowerPoint ou, até mesmo, exibir uma
“amostra” de cérebro humano para auxiliar na explicação. Essas características das
palestras TED podem explicar o motivo de repercutirem velozmente entre a
audiência mundial.
O site TED apresenta uma série de áudios e vídeos das conferências,
disponíveis gratuitamente on-line. Em quatro anos, 11 mil tradutores voluntários
fizeram 37 mil traduções de áudios e vídeos para 97 línguas, possibilitando que as
ideias ali reunidas também ajudassem a ultrapassar a desafiadora fronteira da
língua. Hoje o movimento TED se tornou uma entidade sem fins lucrativos dos
Estados Unidos conduzida por Chris Anderson, seu curador e principal executivo.
Atualmente, o evento é conhecido pela realização de palestras na Europa, Ásia,
América do Norte e América do Sul, bem como pelo perfil do público que pode ter
acesso presencial ao evento. O interessado deve acessar o site e preencher uma
ficha cadastral, respondendo a perguntas referentes às áreas de atuação
9
O termo é usado para designar um conteúdo que ganha repercussão na internet após
ser publicado e acaba sendo visualizado por milhões de pessoas.
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profissional. Após passar pela análise da equipe TED, o candidato aprovado precisa
desembolsar entre 6 mil e 17 mil dólares para assistir presencialmente ao evento.
Anualmente, a conferência TED seleciona um tema que permeará o
evento, definida pela equipe de Chris Anderson. Em outubro de 2014, o evento TED
Global aconteceu pela primeira vez no Brasil, com o tema South! (“Sul!”), no
tradicional Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Palestrantes de diversas
partes do mundo, inclusive brasileiros, falaram acerca de temas variados, como
cultura e culinária, neurociência e ativismo na internet. Dessa oportunidade
participaram mais de mil pessoas, que assistiram a 65 palestras, em cinco dias de
evento. As palestras eram transmitidas simultaneamente em telões, a fim de que
outras pessoas pudessem assisti-las também. Houve intensa cobertura da mídia
brasileira, nos principais jornais e em telejornais de grande audiência.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa, contatamos a organização do
TED, que fica sediada num escritório na cidade de Nova York, mas, infelizmente,
seus representantes alegaram não ser possível descrever ou colocar no papel quais
os critérios de seleção dos apresentadores e do público presencial do evento.
Diante disso, poderia ser aventada a possibilidade de que, na verdade,
esses critérios são subjetivos demais para serem descritos, ou de que a equipe quer
ter o controle sobre os processos que envolvem o evento, ou ainda, manter em sigilo
os procedimentos internos. De todo modo, ao lermos algumas reportagens a
respeito e obtermos informações sobre o perfil dos participantes dos últimos eventos
do TED Global, podemos dizer que, em geral, os apresentadores são executivos de
grandes empresas, empresários renomados, artistas de Hollywood, pesquisadores
já reconhecidos em sua área e ganhadores de prêmios como o Oscar e o Nobel.
Alguns dos vídeos mais vistos do TED são os do pesquisador Simon
Sinek, que aborda o tema da “liderança inspiradora” e já alcançou 19 milhões de
visualizações, e o da psicóloga social e pesquisadora de Harvard Amy Cuddy, que
26
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
10
Disponível em: http://www.ted.com/participate/organize-a-local-tedx-event/tedx-organizer-
guide/speakers-program/prepare-your-speaker. Acesso em: julho de 2015.
30
A partir daí, espera-se que: seis meses antes, o tema da palestra já tenha
sido definido; faltando cinco meses para o evento, que o palestrante elabore o
esboço detalhado da lógica a ser seguida; quatro meses antes, que esse esboço
feito pelo palestrante se transforme em um roteiro com o discurso oral formatado, a
fim de que se possam viabilizar os primeiros ensaios; com antecedência de três
meses, a expectativa é de que a redação final do discurso já esteja pronta e que
ocorram mais ensaios para que o palestrante seja espontâneo na sua apresentação;
dois meses antes, recomenda-se que sejam feitos ensaios quinzenais; faltando
que cada apresentador poderá se planejar e criar a sua própria linha do tempo ‒ e
enfatiza ainda que tudo depende do cronograma geral do evento e das
necessidades de cada palestrante.
No primeiro item do guia, que compõe a orientação relativa a esboço e
roteiro, são aprofundadas as definições de esboço, entendido como um mapa
mental com a ordem de abordagem das mensagens ao longo da apresentação, e o
de roteiro, que se refere ao detalhamento do discurso, à escolha das palavras e às
conexões entre as mensagens que serão expressas oralmente. O documento
também apresenta um alerta em relação à importância da coerência da estrutura
lógica do roteiro, ou seja, divisão em três atos (começo, meio e fim) e concisão, de
modo que seja possível expor a mensagem dentro dos 18 minutos de duração ‒
dado que, segundo os organizadores, o público se concentra melhor em um assunto
de cada vez e em exposições curtas. Além disso, o guia menciona a importância de
que o propósito do evento e da sua apresentação estejam claros para o
apresentador, isto é, que ele reflita acerca da mensagem que deseja deixar na
mente das pessoas. No site, destaca-se ainda que é responsabilidade do
apresentador se certificar de que os pontos importantes serão transmitidos em seu
discurso com clareza, a fim de que sejam compreendidos com facilidade pela
audiência.
Ainda no primeiro item do guia, há um detalhamento no site no qual, ao ser
clicado, leva a um manual com orientações, exemplificadas por meio de links de
outros palestrantes. Assim, pode-se ter referência do que se espera dos
apresentadores. Outra recomendação encontrada é a de que o palestrante assista a
uma palestra TED para se familiarizar com o modelo de apresentações feitas no
evento. No guia, a palestra recomendada como referência ao futuro palestrante é a
33
de Phil Plait11, que em sua apresentação explica como defender a Terra contra
asteroides.
Mais um item que os organizadores destacam em relação ao
desenvolvimento geral da palestra TED consiste na definição do que é uma boa
ideia que “merece” ser compartilhada no evento. Eles argumentam que uma ideia vai
além de uma boa história ou uma lista de fatos: ela precisa ter provas que endossem
a conclusão a que se quer levar a audiência.
Para palestrar no TED, os organizadores explicam que não é necessário
ser o maior especialista do mundo sobre um determinado tema, mas é importante
ser uma referência no assunto e garantir a credibilidade das informações que serão
expostas, já que o discurso será registrado e, provavelmente, visualizado milhares
de vezes pela internet. Por isso, o guia alerta sobre a importância de que a
apresentação contenha dados verídicos e confiáveis, além de cautela no uso de
anedotas históricas ou mesmo de estatísticas científicas. O ideal é usar fontes já
aceitas pelas pessoas e evitar polêmicas ou mal-entendidos.
A partir da análise dos temas gerais abordados nas palestras mais
visualizadas no site do TED, pode-se presumir que, para a equipe TED, uma “boa
ideia” a ser compartilhada é aquela que vai ao encontro das necessidades do
público. Em outras palavras: pressupõe-se que, ao escolherem os palestrantes, a
pergunta que está na mente dos organizadores do evento é: “O que o público quer
ouvir?”. Um indício que nos leva a essa percepção é o fato de que as palestras mais
visualizadas são classificadas pelo público ‒ no próprio site do TED ‒ como
inspiradoras. Percebe-se que há, por parte do público, uma busca por motivação,
inspiração e encorajamento ao ouvir pessoas bem-sucedidas (que estão com o
poder da palavra no palco consagrado como o do TED), capazes de engajar a
11
Disponível em: http://www.ted.com/ talks/phil_ plait_how_to_defend_ earth_ from_
asteroids .
34
12
Disponível em: http://www.ted.com/participate/organize-a-local-tedx-event/tedx-
organizer-guide/speakers-program/prepare-your-speaker. Acesso em: julho de 2015.
35
estrutura da sua apresentação para o público – afinal, a lógica deve ser exposta
naturalmente, e isto é que mostrará que o roteiro foi realmente eficaz. A ideia é
evitar que o apresentador faça uma apresentação metalinguística, em que explica a
estrutura da palestra, ao invés de simplesmente seguir com a sua exposição no
momento da apresentação. Além disso, o guia alerta que contar histórias e provocar
emoções no público são meios para se atingir o objetivo (convencer, engajar,
motivar a audiência a fazer algo), e não o grande propósito da apresentação.
Os organizadores do TED sugerem que o apresentador evite falar de si o
tempo inteiro, abra a apresentação com um emaranhado de estatísticas ou conte
histórias com a função de apenas incluir uma “alegoria” no discurso. Na descrição
existente no site, constam ainda orientações sobre como selecionar as informações
mais importantes e que podem, de fato, ser úteis no transcorrer da palestra. O guia
propõe que o apresentador faça uma lista de todas as mensagens que pretende
partilhar e dos dados que podem sustentá-las. A partir disso, sugere uma reflexão a
respeito do que já é de conhecimento do público e o que podem ser informações
pertinentes para convencê-lo/engajá-lo.
Daí em diante, sugere-se que o apresentador avalie a melhor ordem para a
exposição das informações, bem como quais delas devem ser priorizadas e quais
podem ou devem ser excluídas, levando em consideração o objetivo e o perfil da
audiência que podemos considerar como universal, de acordo com a visão de
Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996, p. 29) conforme mencionado anteriormente.
A necessidade de concisão devido ao tempo restrito de 18 minutos é uma
variável importante para as palestras do modelo TED e uma exigência aos
palestrantes ‒ daí o fato de ser essencial o exercício do desapego das informações
e dos dados, de forma que a mensagem principal não seja comprometida.
No fim da apresentação, é fundamental que, mais do que resgatar os
pontos importantes, o apresentador instigue a audiência a uma ação, sensação e/ou
36
reflexão. Além disso, há uma lista de atitudes que o TED recomenda evitar ‒ no
último slide, por exemplo, nunca colocar logotipos, fotos de livros ou outro elemento
que enfraqueça o objetivo final da apresentação. Outra recomendação é eliminar o
uso de termos técnicos e jargões que possam não fazer sentido para parte do
público.
Um outro item das orientações disponíveis no site do TED se refere ao
preparo dos slides (Figura 3). Há liberdade para usá-los ou não; porém, se o
apresentador optar pela ferramenta, recomenda-se o uso de slides simples, ou seja,
com a mensagem representada por uma única imagem forte.
importante ou, ainda, duas a três palavras-chave podem ser utilizadas para servirem
de apoio ao palestrante durante o seu discurso. Além disso, recomenda-se que o
apresentador se certifique de que cada slide tenha um propósito e que se atente ao
tamanho do texto apresentado na tela, a fim de que ele seja legível ao público mais
distante do palco.
Por fim, outro ponto de destaque no guia são os direcionamentos em
relação aos ensaios e ao dia do evento.
das dicas inclusive é gravar, transcrever, editar e repetir tudo para se sentir ao
máximo confortável com a apresentação. É essencial também que o apresentador
fale de modo espontâneo – púlpitos, aliás, são proibidos nos eventos TED, pois,
segundo os organizadores, criam uma atmosfera muito formal e incentivam que os
palestrantes leiam as suas anotações. Durante os ensaios, o guia recomenda que
tudo seja testado, inclusive questões técnicas como o dimensionamento dos slides
na projeção, a resolução das imagens na tela e os computadores que serão usados
durante a apresentação. O intuito é averiguar a compatibilidade entre o arquivo e os
programas utilizados.
O guia chama a atenção para a demarcação do espaço de movimentação
do apresentador no palco. Como as palestras são filmadas e algumas são também
compartilhadas no site do TED, é preciso garantir que o palestrante se manterá no
enquadramento de filmagem. Além disso, há ainda algumas dicas gerais e alertas
para os organizadores e palestrantes, como, por exemplo, o cuidado na escolha de
um profissional para treinar os palestrantes, a fim de se evitar que as práticas do
preparador destoem das orientações definidos pelo TED.
Há também um alerta do que deve ser evitado pelo apresentador (Figura
5), como o uso de trocadilhos com a palavra TED, iniciar a palestra já se
desculpando, ser prolixo ou redundante e, principalmente, mencionar temas de
agenda política partidária ou extremista. Outro ponto problemático a evitar são
apresentadores que querem induzir a uma única religião e são radicais em relação a
outros pontos de vista, incluindo-se aí crenças da nova era, como por exemplo,
divulgar pontos de vista de religiões que incluem o uso de drogas para estimular
epifanias.
39
13
Site que permite que usuário compartilhem seus próprios vídeos.
42
principal ou no TED Global, pois seria um modelo de palestra TED mais aceito para
ser compartilhado no site oficial, que é composto, em sua maioria, de vídeos de
apresentações feitas nas grandes conferências, de duração média de cinco dias.
Em fevereiro de 2016, com o intuito de aprimorar o domínio do inglês para
sermos capazes de compreender melhor as descrições no site TED e a literatura
sobre a pesquisa, estivemos em Vancouver. A escolha da cidade canadense se
deve ao fato de que ali seria realizado a Conferência TED 2016, do dia 15 a 19 de
fevereiro de 2016. O tema definido era “Dream.”14 (“Sonhe.”) e segundo a descrição
do site, o objetivo do evento era lançar um olhar a respeito de temas em voga na
atualidade e ouvir pensadores, artistas e contadores de histórias. Alguns
palestrantes que participaram da Conferência TED 2016 foram Al Gore, Shonda
Rhymes e Joe Gebbia, entre outros profissionais15.
Os preços praticados para assistirmos ao TED presencialmente em
Vancouver eram inviáveis para a nossa realidade financeira, porém, na expectativa
de aproveitar a oportunidade de assistir presencialmente a uma palestra TED,
enviamos um e-mail aos organizadores nos apresentando, fornecendo explicações a
respeito desta pesquisa e pedindo permissão para assistir a um dia do evento. Em
contrapartida a essa concessão, propusemo-nos ao trabalho de preparo dos
apresentadores dos eventos TEDx no Brasil, além de enviar posteriormente, os
resultados finais do estudo em andamento. No entanto, os organizadores disseram
que não havia cota para participar do evento de modo gratuito, mas que poderíamos
assistir às palestras que seriam transmitidas ao vivo e gratuitamente em outros
locais da cidade.
14
https://conferences.ted.com/TED2016/.
15
Al Gore é político, ambientalista e ex-vice-presidente dos EUA; Shonda Rhymes é
produtora de televisão e escritora da popular série médica intitulada Grey’s Anatomy; e Joe Gebbia é
designer e co-fundador da Airbnb, um site onde as pessoas podem alugar acomodações em qualquer
lugar do mundo para se hospedar.
43
FONTE: TED
cada apresentador durante cinco minutos, entre uma palestra e outra. O evento
durou uma semana e a cada dia se apresentaram, em média, sete palestrantes14,
provenientes de diferentes campos profissionais e partes do mundo. Havia
neurocientistas, escritores, inventores, cientistas sociais, ativistas, músicos,
linguistas, e todos fizeram apresentações a partir do tema Dream.
O foco do tema divulgado no site oficial era abordar o presente e o futuro,
motivar as pessoas a nutrirem os próprios sonhos e também compartilhar a visão do
futuro sob a ótica de alguns profissionais reconhecidos em suas áreas de atuação,
portanto, podemos dizer que nessa fase da pesquisa, um dos desafios foi definir o
corpus deste estudo, já que havia (e há) centenas de palestras disponíveis, todas
44
com até 18 minutos. Para isto, foi muito importante o levantamento geral a respeito
do evento e o detalhamento das orientações na elaboração das palestras conforme
compartilhamos, mas também se fez necessária uma listagem dos vídeos e a
investigação desse material, o que nos possibilitou a definição de critérios alinhados
ao objetivo deste trabalho.
Todas as experiências e procedimentos descritos foram importantes para
viabilizar a delimitação do corpus da pesquisa. Diante disso, o primeiro critério de
delimitação do corpus surgiu do interesse em entender como, na prática, as
restrições impostas pelos organizadores das palestras TED se materializam. Para
isso, foram selecionados vídeos com mais de 15 minutos, como são a maioria das
palestras disponíveis no site.
Pela importância, foi levado em consideração o critério da audiência – a
seleção das palestras que obtiveram o maior número de visualizações desde a data
de sua publicação no site oficial. Para isso, acessamos o site e selecionamos a
opção de filtro que mostra as palestras mais assistidas. O resultado com a lista das
apresentações que encabeçam a audiência no site, todas com mais de 10 milhões
de visualizações, pode ser visto mais adiante, na Tabela 1.
Durante esse levantamento inicial, foi possível identificar um ponto
relevante comum aos vídeos mais visualizados: ao lado de cada vídeo, estão
palavras que permitem à audiência classificar de diferentes modos cada
apresentação (Figura 8). São opções para caracterizar as palestras por meio de
qualificativos, como “de queixo-caído”, fascinante, encorajador, inspirador, bonito,
prolixo, engraçado, informativo, persuasivo, engenhoso, OK, chocante, pouco
convincente e confuso.
45
aptas a serem disseminadas pelo canal oficial do TED. Por outro lado, são
publicadas no site todas as palestras dos participantes da conferência TED Global.
Em prol da busca da identificação dos traços dessas palestras que se viralizam, é
que optamos por priorizá-las no momento de escolher o corpus deste trabalho. Além
disso, optamos por um critério de visibilidade no sentido de manter também somente
as palestras com a transcrição em português extraídas do site oficial, já que
possibilitaria ao pesquisador uma análise mais fundamentada, por ser sua língua
materna. Apesar de preservar a integridade das transcrições feitas por voluntários,
foram realizados alguns ajustes textuais com o intuito de adaptar ao padrão
aceitável da língua portuguesa e adequar a tradução de algumas palavras, de modo
a depreender melhor os sentidos do discurso, mas sempre respeitando a versão
original, já que ela foi aceita como válida no site oficial.
Acumulamos então cinco critérios até aqui: aquelas a partir de 15 minutos
de duração, as mais vistas, transcritas para o português, predominantemente
inspiradoras na classificação feita pelo público, e que aconteceram nas conferências
principais do TED. O resultado dessas filtragens está exposto na Tabela 3.
TABELA 3: PALESTRAS TED SELECIONADAS
16
Rede social em que o indivíduo tem um perfil com seu descritivo pessoal e compartilha
o seu dia a dia. Informações disponíveis em: http://gizmodo.uol.com.br/giz-5-anos-as-tecnologias-e-
tendencias-que-moldaram-os-ultimos-5-anos/ Acesso em: 15 de Agosto de 2016.
17
Aplicativo para compartilhar fotos e pequenos vídeos nas internet.
18
Aplicativo de bate-papo pela internet usado pelo celular que possibilita compartilhar
fotos, vídeos e também fazer ligações.
19
Informações disponíveis em: http://www.tecmundo.com.br/whatsapp/71163-so-cresce-
whatsapp-possui-700-milhoes-usuarios-ativos.htm Acesso em: 15 de agosto de 2016.
50
dos introvertidos”, com 14 milhões de visualizações desde 2012 e com uma palestra
considerada “inspiradora” por 34% do público; e (3) Dalia Mogahed22, pesquisadora
sobre comunidades muçulmanas que conta com 1,7 milhão de visualizações desde
20
Disponível em: http://www.ted.com/talks/amy_cuddy_your_body_
language_shapes_who_you_are Acesso em 13 de julho de 2016.
21
Disponível em: https://www.ted.com/talks/susan_cain_the_power_of_introverts?
language =pt-br. > Acesso em 13 de julho de 2016.
22
Disponível em: http://www.ted.com/talks/dalia_mogahed_what_do_you_
think_when_you_ look_at_me.> Acesso em 13 de julho de 2016.
52
fevereiro de 2016 e cuja palestra é considerada “inspiradora” por 28% das pessoas
que a assistiram. As transcrições das palestras se encontram, respectivamente, nos
Anexos 1, 2 e 3.
Uma vez que foram detalhados até aqui as orientações que permeiam o
objeto da pesquisa e os procedimentos para delimitação do corpus, a seguir serão
aprofundadas as noções que foram mobilizadas e as análises depreendidas.
A princípio, o levantamento dos dados e a análise das questões já
descritas as quais esta pesquisa se propôs a responder foram feitos a partir das
noções mencionadas na Fundamentação Teórica – especificamente, cenas de
enunciação e mídium –, discutidas a seguir. Por meio do nosso olhar como analistas
do discurso, identificamos as características predominantes nas palestras TED e de
que maneira elas se manifestam como gênero discursivo, além de identificar o que,
no contexto sócio-histórico contemporâneo, contribui para coerções do gênero.
53
levando em consideração:
Tal polivalência permite que “discurso” funcione, ao mesmo tempo, como referindo a
objetos empíricos (‘há discursos’) e como algo que transcende todo o ato de comunicação
particular (‘o homem é submetido ao discurso’). (MAINGUENEAU, 2015, p. 23)
Outro item importante é que ao falarmos, somos regidos por normas que
balizam as trocas verbais. Por exemplo, se um locutor faz uma pergunta, pressupõe-
57
com o intuito de, por exemplo, extrair sentidos de um documento categorizando seu
conteúdo de acordo com data, lugar ou mesmo o gênero de quem os produziu. E os
analistas do discurso que são “canônicos”, ou seja, aqueles que se interessam pelo
modo como em uma certa sociedade se estabelece uma ordem social por meio da
comunicação. Há um foco em entender o equilíbrio entre o funcionamento de um
discurso e ao mesmo tempo, depreender fenômenos de ordem histórica ou mesmo
psicológica. O propósito pode ser trazer à luz questões puramente discursivas, como
definição de gêneros de discurso, ou ainda ter como objetivo responder a questões
sociais de ordem educacional ou política.
Enfim, podemos depreender que o principal interesse na análise do
discurso é relacionar o modo como o texto foi concebido com o contexto que o
tornou possível, portanto, o analista do discurso se atentará as questões
relacionadas:
E sem dúvida, para conduzir com êxito sua tarefa, leva em consideração
as contribuições de outras disciplinas como a retórica, por exemplo, integrando com
base em procedimentos específicos do interesse da análise do discurso.
amplamente divulgado por diversos meios. Foram vendidas entradas para que as
palestras pudessem ser assistidas em salas de cinema da cidade e foi divulgado um
trailer23 que reúne os melhores momentos dos TED anteriores, para despertar o
interesse do público ‒ o que interfere na formatação do conteúdo e na experiência
das pessoas diante da mensagem transmitida.
23
Disponível em: http://www.cineplex.com/Movie/ted-16-dream-opening-night-live-in-
cinemas. Acesso em 22 de março de 2016.
63
de êxito.
Para evidenciar os pontos analisados, detalhamos a seguir os critérios de
êxito para um gênero discursivo que tem como base central a visão de Maingueneau
(2015, p. 122), que são: uma ou mais finalidades, papéis dos parceiros, um lugar
apropriado para o seu sucesso, um modo de inscrição na temporalidade, uma
composição, um uso específico de recursos linguísticos e um suporte.
À medida que a pesquisa foi se desdobrando, foi possível depreender
pontos como resultados da análise relacionados ao que foi discutido por
Maingueneau (2015, p. 123) em relação aos critérios de êxito, que ao nosso ver
auxiliam na identificação das características da palestra TED.
O primeiro critério de êxito mencionado por Maingueneau (2015, p. 120) é
“uma ou mais finalidades”, ou seja, partimos do pressuposto de que enunciador e
coenunicador são capazes de atribuir um propósito (ou vários) à atividade da qual
participam, para, assim, serem capazes de controlar as próprias estratégias de
produção e interpretação do enunciado. Na visão do analista do discurso francês
podemos resumir tal critério em uma pergunta: “Estamos aqui para dizer e fazer o
quê?”. Trata-se do objetivo central para que ocorra a comunicação e se desperte a
resposta esperada no outro. O objetivo pode ser claro, como, por exemplo, vender
um produto em uma conversa entre o vendedor e o cliente, ou a finalidade pode ser
parte de uma “agenda oculta”, ou seja, ser um objetivo indireto, como iniciar uma
conversa para manter os laços sociais e construir uma rede de relacionamentos. De
todo modo, é importante que ambas as partes tenham consciência do objetivo da
comunicação para que adotem um comportamento adequado ao gênero do discurso
utilizado. No caso de escrever uma dissertação (olhando-se pela perspectiva
genérica), o objetivo seria documentar uma pesquisa a fim de se obter uma
avaliação e o crivo de uma banca a respeito das aptidões do candidato. É como uma
espécie de trato subentendido entre os participantes do “jogo”, isto é, da
68
comunicação.
Com o intuito de ajudar a identificar nas palestras TED a finalidade
reconhecida da qual Maingueneau trata, acreditamos ser pertinente agregar mais
uma pergunta na rubrica finalidade: o que o enunciador quer que a audiência pense,
sinta ou faça ao fim da palestra TED? Assim, é possível que o locutor regule seu
discurso em prol desse objetivo. Levando-se em consideração, porém, o critério de
uma ou mais finalidades reconhecidas, e refletindo a respeito das palestras TED
mobilizadas nesta pesquisa, torna-se importante determinar qual é o objetivo comum
a todas elas.
Abaixo, reproduzimos o trecho do propósito das palestras que está
declarado no site TED e evidencia o seu propósito central: “espalhar ideias”, ou seja,
estimular o compartilhamento na internet das palestras TED.
conhecimento livre, por meio dos mais inspirados pensadores do mundo e uma
comunidade composta por pessoas engajadas de forma on-line ou presencial, por
meio dos eventos do TED. A última linha do excerto declara que o intuito é tornar
ideias acessíveis e fomentar conversas a respeito dos temas abordados.
Um dos pontos que podemos depreender do trecho acima é que o
propósito das palestras TED é estimular o público ‒ tanto aquele ali presente quanto,
posteriormente, aquele que as assiste pela internet, categorizados pelo próprio TED
como “uma comunidade engajada”, portanto, acreditamos que fica evidente nas
palestras compartilhadas nesta pesquisa o fato de as apresentadoras terem feito, na
conclusão, aquilo que os organizadores do TED chamam de call to action, ou seja,
um apelo à ação. Elas convidaram a audiência (tanto a presencial quanto a futura
audiência on-line) a adotar um novo modo de agir, em direção a uma atitude ou a
uma reflexão. Ao utilizar perguntas retóricas e estimular uma mudança de
comportamento em relação ao povo muçulmano, Dalia Mogahed, por exemplo,
provoca a audiência a uma reflexão durante a conclusão:
O que vocês escolheriam? O que escolheriam nessa hora de medo e intolerância? Vocês
escolheriam a segurança? Ou se juntariam aos que dizem “nós somos melhores que
isso”? (Trecho da palestra de Dalia Mogahed, linhas 695-697)
Passem adiante. Dividam com as pessoas, porque as pessoas que mais podem usar isso
são as que não têm recursos ou tecnologia, nem status ou poder. Mostrem a elas porque
elas podem fazer isso sozinhas. Elas precisam do corpo, privacidade e dois minutos, e
isso pode mudar o curso de suas vidas. (Trecho da palestra de Amy Cuddy, linhas 536-
538)
70
E Susan Cain também faz um apelo ao fim do seu discurso alinhado com a
finalidade reconhecida da conferência TED, quando ela diz:
novidades em diversas áreas do saber. Assim, caso haja mais interesse, cabe a
71
24
Disponível em: https://goto.ted.com/TED2017/apply. Acesso em 13 de julho de 2016.
25
Reportagens disponíveis em: http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2014/10/chris-
anderson-muitas-respostas-crise-global-virao-dos-bpaises-do-sulb.html, http://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2014/10/conferencia-ted-global-estreia-no-brasil-com-iniciativas-inovadora.html,
http://link.estadao.com.br/noticias/geral,ha-um-renascimento-do-falar-em-publico-como-modo-de-
dividir-ideias,10000031082, http://super.abril.com.br/comportamento/por-dentro-do-ted.
73
inscrição a frequência do público em redes sociais. Além disso, há uma lacuna para
o participante interessado inserir dados de outras pessoas que o conheçam bem
(provavelmente, para os organizadores entrarem em contato, se necessário) e
também um espaço para descrever se ele já tem alguma relação com as
conferências TED. Por fim, a última etapa corresponde ao pagamento do valor
cobrado para que o interessado se inscreva e, por isso, não foi possível inserir a
referida imagem neste trabalho.
serem dignos desse nome: o auditório de elite cria então a norma para todo mundo.
Nesse caso, a elite é a vanguarda a qual todos seguirão e à qual se amoldarão.
(PERELMAN E OLBRECHTS-TYTECA, 1996, p. 39)
26
FIGURA 15: FORMULÁRIO DE RECOMENDAÇÃO DE PALESTRANTE PARA O TED GLOBAL .
26
Disponível em: http://speaker-nominations.ted.com/. Acesso em: 22 de julho de 2016.
78
O que você diria àqueles que podem argumentar que você está dando uma palestra TED,
27
você é claramente uma pensadora, trabalha em uma think tank sofisticada, você é uma
exceção, e não a regra. O que você diria a essas pessoas? (Helen Walters, mestre de
cerimônia, linhas 699- 702)
Não deixem o palco enganar vocês, sou completamente comum. Eu não sou uma
exceção, minha história não é incomum. Eu sou muito comum. Quando você pensa sobre
os muçulmanos ao redor do mundo, eu fiz isso, eu fiz o maior estudo já feito sobre
muçulmanos ao redor do mundo, as pessoas querem coisas comuns. Querem
prosperidade para a sua família, querem empregos e viver em paz. Então, de forma
alguma eu sou uma exceção. (Trecho da palestra de Dalia Mogahed, linhas 703 - 707)
Ao mesmo tempo que ela contradiz o crivo que o TED dá à sua palavra e
tenta se mostrar como alguém comum, repetindo isso várias vezes em seu discurso,
27
Grupo de discussão e pesquisa sobre temas sociais, políticos, militares, etc.
81
ela também é incoerente na sua própria fala quando destaca que “fez o maior estudo
sobre muçulmanos”. Não seria esse, então, o motivo que a torna uma voz incomum?
Além disso, o cenário também é um modelador do gênero palestra TED, na medida
em que é um padrão seguido por organizadores de TEDx e por outras variações do
evento, o que dissemina a ideia de que essas apresentações seguem padrões TED.
Já em relação ao seu modo de inscrição na temporalidade, ou seja, qual a
frequência, a duração previsível, se haverá continuidade, o quanto a enunciação tem
prazo de validade, quanto tempo o enunciador terá para apresentar e qual o tempo
de duração recomendado, são pontos também relevantes, alguns deles
mencionados por Maingueneau (2015, p. 122).
Pode-se afirmar que as palestras TED global, especificamente, têm uma
periodicidade dupla: a primeira é anual, na qual acontecem as apresentações
presenciais; e a segunda é impossível definir, já que os vídeos ficam disponíveis na
internet para que cada pessoa os veja quando quiser e quantas vezes preferir. A
duração é previsível, pois se espera que cada palestra tenha até 18 minutos. Os
cientistas que têm estudado o poder de concentração do ser humano chegaram ao
resultado de que a faixa de tempo de concentração dura entre 10 e 18 minutos
(ANDERSON, 2016, p. 29). Decerto, há controvérsias a respeito, da mesma forma
como há quem questione a superficialidade de um discurso de 18 minutos.
Entretanto, podemos dizer que tudo depende do propósito do apresentador e claro,
do contexto sócio-histórico em que a enunciação está inserida. Churchill, por
exemplo, conclamou os ingleses para serem fortes diante do avanço das tropas
nazistas em 10 de maio de 1940 e, em seu discurso inicial de primeiro-ministro,
proferiu em apenas 5 minutos e 11 segundos a famosa frase: “Não tenho nada a
oferecer, se não sangue, trabalho árduo, suor e lágrimas”. Outro exemplo é o de
Martin Luther King, que, em 17 minutos, motivou o mundo na luta contra o racismo e
82
28
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-QT1IogxcZo. Acesso em: 22 de
março de 2016.
29
Sem entrarmos aqui em qualquer juízo de valor sobre esse conteúdo ser de
qualidade (nutritivo) ou não, até porque, ainda que a opção do cliente ao ir a uma lanchonete fast
food seja comer uma salada, ele continuará sendo alvo de críticas por ter optado por se alimentar no
lugar.
30
Opção oferecida pelas redes de restaurante fast food em que o cliente entra com o
veículo no local, solicita a refeição e a recebe sem precisar sair do veículo.
83
nomeado como roteiro da palestra, pode ser exemplificado com uma estratégia
adotada no decorrer da apresentação de Susan Cain. A orientação se concentra na
importância de, na hora de expor a ideia, não se ater somente à história ou a uma
lista de fatos, mas trazer argumentos baseados em observações, pesquisas e
experiências que avalizem a ideia que se pretende defender. E Susan atende ao
modelo de organização textual esperado para uma palestra TED, ao lançar mão de
argumentos endossados no meio acadêmico:
Quase todos nós trabalhamos em escritórios abertos, sem paredes, onde somos sujeitos
ao barulho e aos olhares constantes de nossos colegas. E, quando se trata de liderança,
os introvertidos, geralmente, são desconsiderados para posições de liderança, ainda que
costumem ser muito atentos, bem menos passíveis de correr riscos mal calculados, o que
é algo que, hoje, talvez todos valorizemos. Uma pesquisa interessante feita por Adam
Grant na Wharton School descobriu que líderes introvertidos costumam ter melhores
resultados que os extrovertidos, porque, quando gerenciam empregados proativos, são
mais passíveis de deixá-los seguirem suas próprias ideias, enquanto um extrovertido
pode, involuntariamente, ficar tão empolgado com tudo que suas ideias acabam
prevalecendo, e as ideias dos outros podem não vir à tona tão facilmente. (Trecho da
palestra Susan Cain, linhas 77-89)
De um terço das pessoas à metade é introvertida. Isso é uma em cada duas ou três
pessoas que conhecemos. Então, mesmo que vocês sejam extrovertidos, estou falando
de seus colegas de trabalho, seus cônjuges e seus filhos e da pessoa sentada a seu lado
agora ‒ todas sujeitas a esse preconceito que é bem arraigado e real em nossa
sociedade. Todos nós interiorizamos isso desde pequenos sem ao menos termos uma
linguagem para o que fazemos. (Trecho da palestra Susan Cain, linhas 44-50)
vivo, ou seja, pressupõe-se que a única edição seja a do diretor de imagem durante
o momento da palestra, se restringindo às mudanças das câmeras no ângulo que
retratam do apresentador.
Outro ponto importante é que todo gênero do discurso implica que os
participantes dominem determinado tipo de linguagem. Afinal, para cada atividade
de comunicação é preciso adequar o discurso, seja ele institucional, repleto de
termos técnicos e de siglas corporativas, ou uma conversa familiar descontraída no
jantar. A transgressão das normas pode dizer muito sobre o locutor, como a
possibilidade de que ele não as domine ou de que ele as tenha ignorado com algum
propósito ‒ o que é também significativo e deve ser levado em conta, devido ao
efeito que causará na comunicação. Há um repertório específico ao longo das
apresentações, com um viés mais voltado para o mundo corporativo, que fica
evidente no uso dos exemplos para ilustrar por exemplo a abertura da palestra de
Amy Cuddy, que relaciona o tema central da palestra à perspectiva do mundo do
trabalho. A pesquisa que ela compartilha aborda como o candidato pode, por
exemplo, se sentir mais confiante perante um entrevistador em um processo seletivo
Outro exemplo:
Quase todos trabalhos em ambientes de trabalho abertos, sem paredes, onde estamos
sujeitos ao barulho e olhares constantes dos nossos colegas. E quando se trata de
liderança, os introvertidos geralmente são desconsiderados para posições de liderança.
(Trecho da palestra de Susan Cain, linhas 77-81)
que enunciar é construir sobre essa base uma encenação singular: a cenografia”
(MAINGUENEAU, 2015, p. 60).
A cenografia só se desenvolve plenamente se o enunciador for capaz de
controlar o seu desenvolvimento. Ela tem como papel organizar o lugar de onde o
apresentador pretende falar. Em resumo, a cenografia é “ao mesmo tempo a fonte
do discurso e aquilo que ele engendra” (MAINGUENEAU, p. 98, 2013), e ela pode
se apoiar em cenas validadas, que são evocações de memórias do senso comum
que resgatam sentidos convenientes ao que se quer transmitir no discurso. Por essa
razão, a cenografia é uma noção importante para viabilizar a análise do corpus desta
pesquisa, a fim de que possamos depreender o que ele nos mostra a respeito das
palestras no contexto sócio-histórico atual. Lembrando que:
pessoas à adesão e à incorporação ao que ela diz logo nos primeiros 45 segundos
da palestra, seguindo o modelo de composição do discurso orientado nos descritivos
do site oficial (dirigido ao palestrante TED) – e também no livro lançado
recentemente pelo presidente do TED, Chris Anderson (“Guia do palestrante TED
para falar em público”), no qual o autor sugere iniciar a apresentação despertando a
atenção da audiência:
Quando eu tinha nove anos fui para um acampamento de férias pela primeira vez. E
minha mãe encheu minha mala de livros, o que me pareceu a coisa mais natural do
mundo, porque, na minha família, ler era nossa principal atividade em grupo. E isso pode
soar antissocial para vocês, mas para nós era apenas um jeito diferente de ser sociável.
Você tem o calor da sua família sentada bem a seu lado, mas você também é livre para
perambular pela terra das aventuras em sua própria mente. Eu tinha essa ideia de que o
acampamento seria assim, só que melhor. Imaginava dez meninas numa cabana,
sentadas confortavelmente, de pijamas combinando, lendo livros. (Trecho da palestra de
Susan Cain, linhas 1-9)
FIGURA 17: SUSAN CAIN COM BOLSA MENCIONADA DURANTE PALESTRA TED
O meu avô era um rabino e era um viúvo que vivia sozinho num pequeno apartamento no
90
Brooklyn, que era o meu lugar favorito quando era criança, em parte porque estava
imbuído da sua presença gentil e cortês e, em parte, porque estava cheio de livros.
Literalmente, todas as mesas, todas as cadeiras nesse apartamento tinham cedido à sua
função original para agora servirem de base a equilibrarem pilhas de livros. Tal como o
resto da família, a atividade favorita do meu avô no mundo inteiro era ler. (Trecho da
palestra de Susan Cain, linhas 191-197)
empatia com a audiência ao lançar mão da cena validada do avô viúvo solitário em
meio aos livros.
Na conclusão da palestra, Susan Cain dá dicas, sendo que, na última, ela
valoriza a bolsa que usou no início do seu discurso quando contou o caso de família
(sua história sobre a mala repleta de livros para ir ao acampamento com as
colegas). Ela reforça a mensagem central que pretendia deixar na mente da
audiência e convoca todos a uma mudança de comportamento, conforme o excerto
abaixo:
Deem uma boa olhada no que há em sua própria mala e no motivo daquilo estar lá.
Extrovertidos, talvez sua mala também esteja cheia de livros. Ou cheia de copos de
champanhe ou equipamento de paraquedismo. Seja o que for, espero que mostrem essas
coisas sempre que possam e nos agraciem com sua energia e alegria. Mas, introvertidos,
vocês sendo vocês mesmos, provavelmente têm o impulso de guardar cuidadosamente o
que há dentro de sua mala. E está tudo bem, mas ocasionalmente, só ocasionalmente,
espero que abram sua mala para as outras pessoas verem, porque o mundo precisa de
vocês e das coisas que carregam. Número três: Desejo-lhes a melhor de todas as
jornadas possíveis e coragem para falar suavemente. Muito obrigada. (Trecho da palestra
de Susan Cain, linhas 244-255)
Eu gostaria de começar oferecendo uma forma gratuita de melhorar a vida, e tudo que
precisamos é que vocês mudem suas posturas por dois minutos. Mas, antes de contar, eu
quero pedir a vocês agora mesmo que façam uma pequena auditoria de seus corpos e o
que estão fazendo com eles. Quantos de vocês estão meio que se encolhendo? Talvez
corcundas, cruzando as pernas, talvez cruzando os tornozelos. Às vezes, nós nos
92
seguramos em nossos braços assim. Às vezes, nos abrimos. (Risos) Estou te vendo.
(Risos) Quero que vocês prestem atenção no que estão fazendo agora. Voltaremos a isso
em alguns minutos, e espero que, se aprenderem a se ajustar um pouquinho, isso mude a
maneira como sua vida se desenrola. (Trecho da palestra de Amy Cuddy, linhas 256-265)
Essa expressão, que é conhecida como orgulho, Jessica Tracy estudou. Ela
mostra que pessoas que nascem com visão e pessoas que são cegas desde o
nascimento fazem isso quando ganham uma competição física. Então, quando
cruzam a linha de chegada e ganharam, não importa se nunca viram ninguém
fazer isso. Elas fazem isso. Os braços para cima em V, o queixo levemente
levantado. O que fazemos quando nos sentimos enfraquecidos? Fazemos
exatamente o oposto, nos fechamos, nos dobramos, nos fazemos menores.
(Trecho da palestra de Amy Cuddy, linhas 315- 322)
O que você pensa quando olha para mim? Uma mulher de fé? Uma especialista? Talvez
até uma freira, ou é oprimida, sofreu lavagem cerebral, uma terrorista. Ou apenas um
atraso na fila de segurança do aeroporto. Isso até é verdade. (Trecho da palestra de Dalia
Mogahed, linhas 540-543)
Eu estava sentada na minha cozinha, terminando o café da manhã, olhei para o vídeo e vi
as palavras ‘Notícia Urgente’. Tinha fumaça, aviões voando em direção aos prédios,
pessoas pulando dos prédios. O que era aquilo? Um acidente? Uma pane? Meu choque
logo virou indignação. Quem faria isso? Trocava de canal e ouvia: ‘...terroristas
muçulmanos...’, ‘... em nome do Islã...’, ‘... descendentes do Oriente Médio...’, ...'jihad'...,
‘...devíamos bombardear Meca...’. Meu Deus!
Não só meu país tinha sido atacado, mas, em um instante, as ações de outra pessoa me
transformaram de cidadã em suspeita (Trecho da palestra de Dalia Mogahed, linhas 573 -
581)
impactou a sua vida pessoal, ela gera empatia com a audiência, que é inclinada a se
colocar no lugar dela. Assim, no momento da enunciação, a apresentadora passa a
100
simbolizar o povo muçulmano, que não tem qualquer ligação com o terrorismo, mas
passou a ser rotulado dessa maneira.
Hoje, um pronunciamento político pode se manifestar ao mesmo tempo por uma forma
impressa, por um enunciado em um site da web, por uma gravação em áudio veiculada
por uma rádio, por um vídeo em um site de compartilhamento, por um DVD... Sem falar
das versões em número indeterminado que foram realizadas por câmeras ou gravadores
desse ou daquele espectador ou ouvinte. (MAINGUENEAU, 2015, p. 165 )
31
O Skype e o Hangout são recursos da Microsoft e do Google, respectivamente, que
possibilitam que os usuários façam chamadas de vídeo e áudio, compartilhem arquivos e enviem
mensagens digitadas via bate-papo.
103
32
Em meio ao atual e turbulento cenário político e às investigações da Operação Lava
Jato conduzidas pela Polícia Federal brasileira foram “vazados” alguns áudios de conversas entre
políticos supostamente envolvidos em esquemas corruptos.
104
33
Estratégia de marketing para escolher o melhor formato e mídia para divulgar conteúdo
relevante para a audiência, atrair atenção do público-alvo para gerar retorno.
105
pronunciado por cerca de uma hora. Não obstante, os fiéis recebiam uma versão
impressa do sermão para acompanhar a sua apresentação oral. Atualmente, o
sermão pode ser transmitido ao vivo e exibido também em canais pela internet.
É importante, no entanto, identificar o núcleo e os avatares que reverberam
a mensagem. O conceito de valência fica mais tangível quando associado à figura
mitológica da Hidra34, um monstro com diversas cabeças, uma delas, a principal,
situada no centro, que era a principal ‒ tanto que Hércules só conseguiu derrotá-lo
após atingir a cabeça central. Logo, transportando a comparação para o sermão, o
núcleo da valência genérica interna seria a apresentação oral destinada ao público
presente, ao passo que as cópias corresponderiam aos seus avatares, que se
distinguem em três: os prescritos, os previsíveis e os indesejados (MAINGUENEAU,
2015, p. 72). Para esclarecer, detendo-nos ainda no exemplo do sermão, os
avatares prescritos são, por exemplo, o vídeo gravado oficialmente durante o
sermão; os previsíveis podem ser as cópias oficiais em DVD vendidas ao fim da
missa com o sermão do dia; os indesejados são as gravações ou cópias produzidas
sem a autorização do locutor. As tecnologias viabilizam ofertar ao mesmo tempo
“diferentes versões do mesmo evento de fala” (MAINGUENEAU, 2015, p. 72). Por
exemplo, o público vê o cantor no palco ao vivo, mas ele o vê também em grandes
telões, como se fosse um espectador.
A segunda perspectiva de análise da valência genérica é a externa, que
pode ser definida como “as redes de gêneros de discurso de que faz parte um
gênero em uma mesma esfera ou lugar de atividade” (MAINGUENEAU, 2015, p. 73).
Exemplo disso é uma apresentação oral de resultados em uma empresa da qual, ao
fim da reunião, espera-se receber um material impresso com o detalhamento dos
números que foram compartilhados. Nesse sentido, é importante perceber que há
34 o
Maingueneau mencionou a metáfora da Hidra no 5 Colóquio da Aled de Análise do
Discurso, realizado na Universidade Federal de São Carlos em 2014.
106
uma sequencialidade dos gêneros que não ocorre por acaso. É o que o autor chama
de “irradiação de um gênero de discurso”, ou seja, a sua capacidade de instigar que
se fale do enunciado em outros gêneros. É como um filme que circula como uma
crítica de jornal, sinopse ou trailer de divulgação. Ou ainda como acontece nas
igrejas evangélicas, em que após o culto presencial ministrado pelo pastor, o sermão
além de ser publicado na internet por meio das redes sociais, em algumas igrejas, é
também transformado em livros de bolso a fim de que a mensagem possa se tornar
acessível ao maior número possível de pessoas.
Refletindo a respeito do nosso corpus de pesquisa, poderíamos dizer que
existe uma primeira relação com a metáfora proposta por Maingueneau: onde a
cabeça central da “Hidra” ‒ ou seja, o núcleo ‒ é a palestra que acontece ao vivo no
palco do evento TED com a audiência presencial, e os avatares são todas as cópias
que circulam. Um avatar prescrito são os vídeos disponibilizados no site do TED, ou
ainda as transmissões que ocorrem simultaneamente em outros ambientes por meio
do telão e são captadas pelas câmeras dos cinegrafistas, como ilustrado na Figura
23, em que, simultaneamente, a palestra ao vivo é vista tanto no palco quanto por
outras pessoas que assistem a um telão projetado no mesmo ambiente. Já os
avatares previsíveis que são os vídeos publicados no Netflix, compartilhados no
YouTube ou em outras redes sociais. E os avatares indesejados: quais seriam?
Podem ser consideradas como indesejadas as gravações feitas pelo público por
meio do celular, pois elas podem comprometer o modelo de qualidade pré-definido
pelo TED ou, ainda, as exibições feitas em eventos exigindo pagamento ‒ o que
infringe a regra do TED, de acordo com o exposto no próprio site.
Em Vancouver, assistimos ao evento da biblioteca pública da cidade e
decidimos fotografar o ambiente organizado pelo TED no auditório disponível com o
intuito de publicar as fotos nesta pesquisa. O objetivo era mostrar as pessoas
atentas às palestras e a dinâmica do evento, mas logo fomos censurados pelo
107
35
Disponível em: http://www.ted.com/about/our-organization/history-of-ted/ten-years-of-
ted-talks Acesso em 24 de agosto de 2016.
109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Liceu, ensinada nas cidades pelos sofistas aos homens ricos e usada pelos
cidadãos na defesa de seus interesses na pólis, tal como no resgate de suas terras
tomadas pelos tiranos.
Ainda que em um diferente contexto sócio-histórico, houve um momento
em que a arte retórica foi “jogada” ao espaço ordinário, sendo depois recuperada de
modo extraordinário para modificar, por exemplo, a vida do cidadão que vivia na
cidade e tinha necessidade de defender os seus direitos, fazendo com que
propostas pudessem ser aprovadas por toda uma comunidade por meio do exercício
da palavra. E, com base nas análises explicitadas ao longo deste trabalho, pudemos
verificar que esse movimento de valorização da palavra também ocorreu na
contemporaneidade, agora, motivado por outros fatores.
Nos dias de hoje, a palavra em um ambiente como o do TED ganha
legitimidade. É como uma espécie de reduto onde é possível, em poucos minutos,
“empoderar” o apresentador digno de proferir as suas ideias e ser ouvido
generosamente pela audiência. A palavra falada foi resgatada e colocada em um
lugar de “glamour” nos eventos TED: no centro do tapete vermelho onde o
apresentador pode ser ouvido por todos e ter o crédito da confiança.
Podemos dizer também que é uma palestra concebida com uma finalidade
reconhecida: ser compartilhada pela internet, seja por meio do site oficial ou redes
sociais. Além disso, a análise permite depreender que o TED é uma construção
midiática em que a moral, o lúdico, o ensino, a ciência e o conhecimento são
transformados e moldados pelo mídium, a partir da qual a palavra renasce com nova
vestimenta. Está havendo mesmo uma espetacularização do ato de falar em público
e um rito é seguido pelos apresentadores até chegarem ao momento mais esperado,
que não é o de receber as palmas do público presencial, mas conquistar milhões de
cliques pelo mundo, ou seja, uma outra forma de aplauso. Esse é o fruto da
“glamourização” das palestras TED.
112
36
A tendência gourmet é um movimento atual que consiste em adicionar aos alimentos
ingredientes de melhor qualidade, um preparo mais requintado ou mesmo um serviço de atendimento
diferenciado, com o intuito de agregar valor ao que é oferecido. Exemplo: picolé virou paleta de frutas,
brigadeiro de festa passou a ser produzido com ingredientes como chocolate suíço, amargo ou
Nutella, e comida de rua começou a ser servida em food trucks.
113
37
Meme vem do grego e significa imitação. O termo relacionado à internet representa
imagem, frase ou vídeo que foi viralizado devido ao humor e ganhou visibilidade nas redes sociais.
115
38
Disponível em: http://www.worldsciencefestival.com.au/about/world-science-festival/
Acesso em: 15 de agosto de 2016.
116
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de: Donaldson Garschagen e Renata Guerra. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016.
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28 out. 2014. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/com-45-
milhoes-de-usuarios-prezi-quer-ser-o-antipowerpoint>. Acesso em: 8 jun. 2016.
HELLFELD, Matthias von. Batalha de Salamina decidiu destino da Europa em 480
a.C. Deutsche Welle, [s. l.], 26 abr. 2009. Disponível em:
<http://www.dw.com/pt/batalha-de-salamina-decidiu-destino-da-europa-em-480-ac/a-
4200910>. Acesso em: 15 jan. 2015.
MACHADO, André. Estudo da EMC prevê que volume de dados virtuais
armazenados será seis vezes maior em 2020. O Globo, Rio de Janeiro, 10 abr.
2014. Disponível em <http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/estudo-da-emc-
preve-que-volume-de-dados-virtuais-armazenados-sera-seis-vezes-maior-em-2020-
12147682>. Acesso em 08 jun. 2016.
MAINGUENEAU, D. Gênese dos discursos. Tradução: Sírio Possenti. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008a.
118
ANEXOS
48. agora - todas sujeitas a esse preconceito que é bem arraigado e real em
49. nossa sociedade. Todos nós interiorizamos isso desde pequenos sem ao
50. menos termos uma linguagem para o que fazemos.
51. Para enxergar claramente o preconceito vocês precisam entender o que é
52. introversão. É diferente de ser tímido. Timidez tem a ver com o medo do
53. julgamento social. Introversão é mais sobre como alguém reage aos
54. estímulos, incluindo estímulo social, portanto, extrovertidos precisam de muito
55. estímulo, enquanto os introvertidos se sentem mais vivos, mais ativos e mais
56. capazes quando estão em ambientes mais silenciosos e calmos. Nem sempre
57. essas coisas são absolutas, mas a maior parte do tempo. Então o segredo
58. para maximizarmos nossos talentos é nos colocar na zona de estímulo que
59. nos seja adequada. Mas agora é que entra o preconceito. Nossas instituições
60. mais importantes, nossas escolas e nossos locais de trabalho, são
61. geralmente projetados para os extrovertidos e sua necessidade de muito
62. estímulo. E hoje também temos esse sistema de crença que chamo de o novo
63. 'pensamento de grupo', que considera que toda criatividade e produtividade
64. vêm de um lugar curiosamente gregário. Então, imaginem a típica sala de
65. aula atual: quando eu estava na escola, nós sentávamos em filas.
66. Sentávamos em filas de carteiras como essa e fazíamos a maior parte dos
67. trabalhos individualmente, mas hoje em dia, a típica sala de aula tem grupos
68. de carteiras - quatro, cinco, seis ou sete crianças frente a frente. E as crianças
69. fazem inúmeros trabalhos em grupo. Mesmo em disciplinas como matemática
70. e redação criativa, que pensamos que dependeriam de voos solo de
71. pensamento, espera-se que as crianças ajam como membros de um comitê.
72. E para as que preferem ficar sozinhas ou simplesmente trabalhar sozinhas,
73. elas costumam ser vistas como estranhas ou, pior, como problemas. E a
74. grande maioria dos professores acredita que o estudante ideal é o
122
102. introvertido puro nem um extrovertido puro. Ele disse que tal homem
103. estaria num hospício, se acaso existisse. Algumas pessoas caem bem
104. no meio do espectro introvertido/extrovertido e as chamamos de
105. “ambivertidas”. Costumo pensar que elas têm o melhor dos dois
106. mundos, mas muitos de nós se reconhecem como um dos dois tipos.
107. O que digo é que culturalmente precisamos de um melhor equilíbrio.
108. Precisamos de mais yin e yan, entre esses dois tipos. Isso é
109. especialmente importante quando nos referimos à criatividade e à
110. produtividade, porque quando os psicólogos observam a vida da
111. maioria das pessoas criativas, o que encontram são pessoas muito
112. boas em trocar ideias e em desenvolver ideias, mas que também têm
113. um traço forte de introversão. E isso porque a solidão é muitas vezes
114. um ingrediente crucial para a criatividade. Darwin, fazia longos
115. passeios sozinho no mato e declinava enfaticamente convites para
116. jantares. Theodor Geisel, mais conhecido como Dr. Seus, inventava
117. muitas de suas fantásticas criações num escritório isolado que tinha
118. num campanário atrás da sua casa em La Jolla, Califórnia. Ele até
119. tinha receio de conhecer as crianças que liam seus livros por temer que
120. elas esperassem que ele fosse uma pessoa animada como Papai Noel
121. e ficassem desapontadas com sua personalidade reservada. Steve
122. Wozniak inventou o primeiro computador Apple sozinho, sentado em
123. seu cubículo na Hewlett-Packard, onde trabalhava na época. Ele diz
124. que jamais teria se tornado um expert caso não fosse tão introvertido
125. para sair de casa quando estava crescendo. Claro que isso não
126. significa que devemos parar de colaborar - e um bom exemplo é o fato
127. de Steve Wozniack ter se associado a Steve Jobs para lançar o
128. computador Apple - mas significa, sim, que a solidão importa e que
124
183. dermos aos introvertidos para que sejam eles mesmos, maior a
184. probabilidade de eles surgirem com suas próprias e únicas soluções
185. para esses problemas. Então, gostaria de compartilhar com vocês o
186. que está em minha mala hoje. Adivinham? Livros. Tenho uma mala
187. cheia de livros. Aqui está Margaret Atwood, "Olho de Gato" Aqui está
188. um romance de Milan Kundera. E aqui está "O Guia dos Perplexos" de
189. Maimonides, mas estes não são de fato meus livros. Trouxe-os comigo
190. porque foram escritos pelos autores favoritos de meu avô.
191. Meu avô era um rabino e era um viúvo, que vivia sozinho num pequeno
192. apartamento no Brooklyn, que era meu lugar favorito quando criança,
193. em parte, porque estava envolto por sua presença amável e cortês e,
194. em parte, porque estava cheio de livros. Literalmente todas as mesas,
195. todas as cadeiras desse apartamento tinham cedido sua função original
196. para agora servirem de base para equilibrar pilhas de livros. Tal como o
197. restante da família, a atividade favorita de meu avô era ler.
198. Mas ele também adorava sua congregação e podíamos sentir esse
199. amor em seus sermões, todas as semanas, durante os 62 anos em que
200. foi rabino. Ele pegava os frutos da leitura de cada semana e tecia
201. essas tapeçarias intrincadas do pensamento antigo e humanista. As
202. pessoas vinham de todo lugar para ouvi-lo falar.
203. Mas eis algo interessante sobre meu avô. Debaixo dessa função
204. cerimonial, ele era muito modesto e introvertido - tanto que quando
205. pregava esses sermões, tinha problemas em manter contato visual
206. com sua congregação para quem havia falado por 62 anos. E mesmo
207. afastado do púlpito, quando vinham cumprimentá-lo, ele costumava
208. acabar logo a conversa com receio de estar tomando muito tempo dos
209. outros. Mas quando morreu aos 94 anos, a polícia teve que fechar as
127
210. ruas da sua vizinhança para acomodar a multidão que foi despedir-se
211. dele. E agora, tento seguir o exemplo do meu avô à minha maneira.
212. Publiquei, recentemente, um livro sobre introversão e demorei uns 7
213. anos para escrevê-lo. Para mim, esses 7 anos foram uma benção,
214. porque eu estava lendo, escrevendo, pensando, pesquisando. Era a
215. minha versão das horas que meu avô passava sozinho na biblioteca,
216. mas agora, de repente, meu trabalho é muito diferente e meu trabalho
217. é estar aqui falando sobre isso, falando sobre introversão. (Risos) E
218. isso é bem mais difícil para mim, pois por mais honrada que eu me
219. sinta de estar aqui com vocês agora, este não é meu ambiente natural.
220. Então, me preparei para momentos como este o melhor que pude.
221. Passei o último ano praticando oratória sempre que pude. E o chamo
222. de meu "ano de falar perigosamente". (Risos) E isso me ajudou muito,
223. mas o que ajuda ainda mais é meu sentimento, minha convicção,
224. minha esperança de que, no que diz respeito à nossa postura quanto à
225. introversão, ao silêncio e à solidão, estamos mesmo à beira de uma
226. mudança profunda. Quero dizer, estamos mesmo. E agora vou deixá-
227. los, antes fazendo três apelos aos que compartilham dessa visão.
228. Número um: Parem com a loucura de trabalho em grupo constante.
229. Parem. (Risos) Obrigada. (Aplausos) E quero ser clara no que estou
230. dizendo, porque acredito profundamente que os nossos escritórios
231. deviam encorajar as interações casuais, conversas de café - do tipo em
232. que as pessoas se reúnem, e, do nada, trocam ideias. Isso é ótimo. É
233. ótimo para introvertidos e extrovertidos, mas precisamos de muito mais
234. privacidade, liberdade e autonomia no trabalho. Na escola, a mesma
235. coisa. Claro que precisamos ensinar às crianças a trabalhar juntas,
236. mas também temos que ensiná-las a trabalhar sozinhas. Isso é
128
melhorar
257. a vida e tudo que precisamos é que vocês mudem suas posturas por dois
258. minutos. Mas antes de contar, quero pedir agora mesmo que façam
259. uma pequena auditoria de seus corpos e o que estão fazendo com eles.
260. Quantos de vocês estão meio que se encolhendo? Talvez cruzando
261. as pernas, talvez cruzando os tornozelos, às vezes nós nos seguramos em
262. nossos braços assim, às vezes nos abrimos. (Risos) Estou te vendo.
263. Quero que vocês prestem atenção no que estão fazendo agora. Voltaremos
264. a isso em alguns minutos, e espero que se aprenderem a se ajustar um
265. pouquinho, isso mude a maneira como sua vida se desenrola.
266. Somos fascinados pela linguagem corporal, e estamos particularmente
267. interessados nas linguagens corporais das outras pessoas. Sabe, estamos
268. interessados em... você sabe — (Risos) uma interação desajeitada, ou um
269. sorriso, ou uma olhadela contemplativa, ou talvez um olhar de desprezo ou
270. quem sabe um aperto de mão.
271. Narrador: Aqui estão eles chegando no “n o 10”(residência do 1o ministro
272. e olha, o policial sortudo conseguiu apertar a mão do presidente dos
273. Estados Unidos. E aí vem o primeiro ministro do — ? Não. (Risos)
274. (Aplausos) Amy Cuddy: Então um aperto de mão ou a falta dele pode nos
275. manter falando por semanas e semanas. Até a BBC e o New York Times
276. Obviamente, quando pensamos em comportamento não verbal ou
277. linguagem corporal – mas chamamos não verbal como cientistas sociais -
278. é linguagem, então nos remete à comunicação. Quando pensamos em
279. comunicação, pensamos em interação.
280. Então, o que o seu corpo está me dizendo? E o que o meu está
281. comunicando a você? E existem muitas razões para acreditar que essa
282. é uma maneira válida de olhar para isso. Cientistas sociais passaram muito
130
310. se, ocupa espaço, você basicamente se abre. É sobre se abrir. E isso é
311. verdade em todo o reino animal. Não está limitado aos primatas. E os
312. humanos fazem igual. (Risos) Eles fazem isso quando têm um poder
313. estável e também quando estão se sentindo poderosos naquele momento.
314. E esse é, especialmente interessante porque realmente nos mostra o quão
315. universais e antigas essas expressões de poder são. Essa expressão, que
316. é conhecida como orgulho, Jessica Tracy estudou. Ela mostra que pessoas
317. que nascem com visão e pessoas que são cegas desde o nascimento
318. fazem isso quando ganham uma competição física. Então, quando cruzam
319. a linha de chegada e ganharam não importa se nunca viram ninguém fazer
320. isso. Elas fazem isso. Os braços para cima em V, o queixo levemente
321. levantado. O que fazemos quando nos sentimos enfraquecidos? Fazemos
322. exatamente o oposto, nos fechamos, nos dobramos, nos fazemos menores.
323. Não queremos esbarrar na pessoa ao lado. Novamente, tanto animais
324. quanto humanos fazem a mesma coisa. E isso é o que acontece quando
325. você coloca juntos alto e baixo poder. O que tende a acontecer quando se
326. trata de poder é que complementamos os outros não verbais. Então se
327. alguém está exercendo poder sobre nós, a tendência é que a gente se
328. diminua. Não nos espelhamos neles. Fazemos o oposto do que eles fazem.
329. Então, eu vejo esse comportamento em salas de aula e o que eu percebo?
330. Eu percebo que estudantes de MBA realmente exibem todas as
331. características não-verbais. Algumas pessoas são caricaturas dos alfas,
332. quando entram na sala, elas vão para o meio da sala antes da aula
333. começar, como se quisessem ocupar espaço. Quando sentam, eles se
334. espalham. Levantam as mãos assim. Outras pessoas que estão
335. virtualmente em colapso quando entram, assim que elas entram, você vê.
336. Você vê em seus rostos e em seus corpos e elas sentam em suas cadeiras
132
391. moldar a mente, pelo menos no nível facial e também que mudanças de
392. papel podem moldar a mente. O que acontece, você muda de papel, o que
393. acontece se você fizer uma mínima manipulação? “Por dois minutos”, você
394. diz, “eu quero que você fique nessa posição, e isso vai fazer você se sentir
395. mais forte."Foi isso que fizemos. Decidimos trazer pessoas ao laboratório e
396. fazer um pequeno experimento e essas pessoas adotaram por dois
397. minutos, tanto poses de alto poder como de baixo poder e eu vou mostrar a
398. vocês cinco dessas poses, apesar delas terem feito apenas duas. Aqui está
399. uma. Algumas mais. Essa foi chamada de “Mulher Maravilha” pela mídia.
400. Mais algumas. Você pode ficar em pé ou sentado. E essas são as poses de
401. baixo poder. Você está se dobrando, se encolhendo. Essa é muito baixo
402. poder. Quando você toca o seu pescoço, você está na verdade se
403. protegendo. Isso é o que acontece. Elas entram, cospem em um recipiente,
404. nós dizemos por dois minutos o que devem fazer. Elas não olham fotos das
405. poses. Não queremos impor um conceito de poder. Queremos que elas
406. sintam o poder, certo? Dois minutos elas fazem isso. Então nós
407. perguntamos: "O quão poderoso você se sentiu?" em uma série de itens e
408. damos a elas a oportunidade de blefar e então recolhemos mais uma
409. amostra de saliva. É isso. Esse é o experimento completo. Resultado: com
410. Risco tolerância de blefar, quando vocês têm muito poder 86% de vocês
411. vão blefar. Quando você está numa posição de pouco poder, somente 60%
412. e essa diferença é significativa. Vejam o que descobrimos sobre o
413. testosterona. De suas linhas de base quando elas entram, pessoas com
414. alto poder experimentam um aumento de 20% e pessoas com baixo poder
415. experimentam queda de 10%. Então de novo, dois minutos e você vê essas
416. mudanças. Vejam o que acontece o cortisol. Pessoas com alto poder
417. experimentam aproximadamente 25% de queda e pessoas com baixo
135
472. corpos mudam nossas mentes e nossas mentes podem mudar nosso
473. comportamento e nosso comportamento pode mudar nosso destino, elas
474. dizem: "Eu não ... isso parece falso". Certo? Então eu disse, finja até
475. conseguir. "Eu não... Não sou eu. Eu não quero conseguir e depois me
476. sentir uma fraude. Não quero me sentir coo um impostor. Não quero
477. conseguir para depois sentir que eu não deveria estar
478. lá”. E isso realmente ecoou em mim, porque eu quero contar uma pequena
479. história sobre ser um impostor e sentir como se eu não devesse estar ali.
480. Quando eu tinha 19 anos, eu tive um acidente de carro muito sério. Eu fui
481. Eu havia sido retirada da faculdade e soube que meu QI tinha
482. reduzido o que foi muito traumático. Eu sabia o meu QI porque eu me
483. identificava como sendo inteligente e eu tinha sido chamada de super
484. dotada quando criança. Então, me tiram da faculdade e eu tento voltar. Eles
485. dizem, “Você não vai terminar a faculdade, mas tem outras coisas que
486. você pode fazer mias isso, vai mais dar certo para você". Eu sofri com isso,
487. e eu devo confessar, ver a sua identidade tirada de você, sua principal
488. identidade, que para mim eu era inteligente, ter isso tirado de você, nada
489. deixa você se sentindo mais sem poder que isso. Eu me senti
490. completamente sem poder. Eu estudei, estudei, e dei sorte, e estudei e dei
491. sorte e estudei. E acabei conseguindo me formar na faculdade. Levei
492. quatro anos a mais que meus colegas, e eu convenci alguém, meu anjo
493. conselheiro, Susan Fiske, a me ajudar e acabei em Princeton. Eu ficava...
494. “eu não deveria estar aqui”. Eu sou uma impostora. Na noite que antecedeu
495. meu primeiro discurso de primeiro ano e o discurso de primeiro ano de
496. Princeton dura 20 minutos para 20 pessoas, eu estava com tanto medo de
497. ser descoberta no dia seguinte que eu liguei e disse, "Estou saindo." Ela
498. disse, "Você não está saindo, porque eu apostei em você e você fica. Você
138
499. vai ficar, e isso é o que você vai fazer. Você vai fingir. Você vai fazer todos
500. os discursos que pedirem a você. Você vai fazer e fazer e fazer, mesmo se
501. estiver aterrorizada e paralisada e tendo uma experiência extra
502. corporal, até o momento em que você disser: Meu Deus, eu estou fazendo.
503. Eu me tornei isto. Eu estou fazendo isso agora." Foi o que eu fiz. Cinco
504. anos na graduação, em alguns anos, fui pra Northwestern, mudei para
505. Harvard, estou em Harvard, eu não penso mais nisso, mas por um bom
506. tempo eu pensei, "Não devia estar aqui. Não devia estar aqui".
507. Então, no fim do meu primeiro ano em Harvard, uma estudante que não
508. havia dito nada o semestre todo a quem eu tive que dizer, "Olha, você
509. precisa participar senão você vai ser reprovada,” veio a minha sala. Eu na
510. verdade nãoa conhecia. E ela disse, ela veio totalmente derrotada, e disse,
511. "Eu não devia estar aqui." E esse foi o momento para mim, porque duas
512. coisas aconteceram. Um, eu percebi ah... eu não me sinto mais assim. Eu
513. não sinto mais isso, mas ela sente e eu entendo. E a segunda foi, ela devia
514. estar aqui! Se ela pode fingir ela pode se tornar. Então eu disse, "Sim você
515. devia. Você devia estar aqui! E amanhã você vai fingir, você vai se fazer
516. poderosa, e, você vai..." (Aplausos (Aplausos) "E você vai entrar na classe
517. e vai fazer o melhor comentário que já se ouviu." E sabe? Ela fez o melhor
518. comentário de todos e as pessoas se viraram e ficaram assim, nossa, eu
519. nem havia notado ela aqui, sabe? (Risos) Ela voltou a mim meses depois e
520. eu entendi que ela não havia apenas fingido até conseguir, ela havia fingido
521. até se tornar. Então, ela havia mudado. Euquero dizer a vocês, não finjam
522. até conseguirem. Finjam até se tornarem. Sabe? Façam o bastante até se,
523. porque as pessoas que mais podem usar isso são as que não têm recursos
524. tornarem aquilo e internalizem. Vou deixar uma última coisa com vocês.
525. Ajustes mínimos podem levar à grandes mudanças. Isso vai levar dois
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540. O que você pensa quando olha para mim? ) Uma mulher de fé?
541. Uma especialista? Talvez até uma freira ou é a oprimida, sofreu lavagem
542. uma terrorista ou apenas um atraso na fila de segurança do aeroporto. Isso
543. até é verdade. (Risos) Se algumas percepções forem negativas, eu
544. realmente não culpo vocês. Isso é apenas como a mídia tem retratado
545. pessoas que se parecem comigo. Um estudo identificou que 80% das
546. notícias sobre o islã e muçulmanos são negativas. Estudos mostram que os
547. americanos dizem não conhecer um muçulmano. Acho que as pessoas não
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548. conversam com seus motoristas do Uber. (Risos) Bem, para aqueles de
549. vocês que nunca conheceram um muçulmano, é um prazer conhecê-los.
550. Deixem que eu diga quem sou. Sou mãe, amante de café, expresso duplo,
551. creme separado. Sou introvertida. Sou fanática por querer entrar em forma.
552. E sou muçulmana espiritual praticante, mas não como diz a Lady Gaga...
553. porque, amor, eu não nasci assim. Foi uma escolha.
554. Quando eu tinha 17 anos, decidi me assumir. Não, não como homossexual
555. como alguns amigos, mas como muçulmana e decidi começar a usar
556. "hijab", o lenço que cobre minha cabeça. Minhas amigas feministas ficar
557. horrorizadas: "Por que você está se oprimindo?" O engraçado é que, n
558. verdade, aquilo era, naquele momento uma declaração feminista d
559. independência da pressão que eu sentia, como uma jovem de 17 anos de
560. me ajustar a um perfeito e impossível padrão de beleza. Eu não aceite
561. passivamente a fé de meus pais. Eu me debati com o Alcorão. Eu li, refleti
562. questionei, duvidei, e por fim, acreditei. Minha relação com Deus não f
563. amor à primeira vista. Foi confiança e uma lenta rendição que aumentava
564. cada vez que eu lia o Alcorão. Sua beleza rítmica, às vezes, me tra
565. lágrimas aos olhos. Eu me vejo nele. Sinto que Deus me conhece. J
566. sentiram como se alguém enxergasse vocês, entendesse você
567. completamente, e ainda assim amasse vocês? É assim que eu me sinto.
568. Mais tarde eu me casei e como toda boa egípcia, comecei minha carreir
569. como engenheira. (Risos) Mais tarde tive um filho, depois de casar,
570. basicamente, estava vivendo o sonho egípcio-americano.
571. Até aquela terrível manhã de setembro de 2001. Acho que, provavelmente
572. muitos de vocês se lembram exatamente onde estavam naquela manhã.
573. estava sentada na minha cozinha, terminando o café da manhã, olhei para
574. vídeo e vi as palavras "Notícia Urgente". Tinha fumaça, aviões voando e
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575. direção aos prédios, pessoas pulando dos prédios. O que era aquilo?
576. acidente? Uma pane? Meu choque logo virou indignação. Quem faria iss
577. Trocava de canal e ouvia: "... terroristas muçulmanos...", "... em nome d
578. islã...", "... descendentes do oriente-médio...","...'jihad'...", "...devíam
579. bombardear Meca...". Meu Deus! Não só meu país tinha sido atacado, m
580. em um instante, as ações de outra pessoa me transformaram de cidadã
581. suspeita. No mesmo dia, tivemos que dirigir de um lado ao outro do país
582. para mudar de cidade e começar uma pós-graduação. Lembro-me de estar
583. sentada no assento do passageiro enquanto dirigíamos em silêncio
584. agachada ao máximo no meu assento, pela primeira vez na minha vida co
585. medo que alguém soubesse que eu era muçulmana. Naquela noite nos
586. mudamos para nosso apartamento na cidade nova, na qual me sentia
587. um mundo completamente diferente. E então eu ouvia, via e lia alertas d
588. organizações muçulmanas nacionais dizendo coisas como "fiquem alertas"
589. "fiquem informados", "fiquem em locais iluminados", "não se agrupem".
590. Fiquei dentro de casa toda a semana. Então chegou a sexta-feira, daquela
591. mesma semana, o dia em que os muçulmanos se reúnem para orar. E d
592. novo os alertas eram: "Não vão nesta primeira sexta-feira, pode ser u
593. alvo". Eu via as notícias, coberturas completas. As emoções eram muito
594. recentes, compreensivelmente, e eu também ouvia sobre ataques
595. muçulmanos ou pessoas reconhecidas como muçulmanas send
596. empurradas e apanhando na rua. Mesquitas foram, de fato, atacadas com
597. bombas. E eu pensei que devíamos ficar em casa.
598. Mas algo não parecia bem, porque aquelas pessoas que atacaram nosso
599. país. Eu entendo que as pessoas estivessem com raiva dos terroristas.
600. Adivinhem? Eu também tinha. E ter que explicar-se o tempo todo não é fáci
601. Não me importo com perguntas. Eu amo perguntas. As acusações é que s
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602. difíceis. Hoje, realmente ouvimos pessoas dizendo coisas como: "Existe um
603. problema nesse país e se chama muçulmanos. Quando vamos nos livrar
604. deles?" Então algumas pessoas querem banir os muçulmanos e fechar as
605. mesquitas. Elas falam sobre minha comunidade como se fôssemos um
606. tumor no corpo dos Estados Unidos. E a única pergunta é: nós somos
607. malignos ou benignos? Vocês sabem, um tumor maligno é extraído e um
608. tumor benigno só precisa ser mantido sob vigilânciaa.
609. As opções não fazem sentido, porque essa é a pergunta errada
610. Muçulmanos, como outros americanos, não são um tumor no corpo do
611. EUA, nós somos um órgão vital. (Aplausos) Obrigada. (Aplausos
612. Muçulmanos são inventores e professores, são socorristas e atleta
613. olímpicos. Agora, fechar as mesquitas vai deixar os Estados Unidos mais
614. seguros? Isso pode liberar vagas de estacionamento, mas não vai acabar
615. com o terrorismo. Ir regularmente à mesquita, na verdade, está associado a
616. ter uma visão mais tolerante sobre pessoas de outras crenças e mais
617. engajamento civil. E como me disse, recentemente, um chefe de polícia da
618. região de Washington, DC, na verdade as pessoas não se tornam radicais
619. nas mesquitas. Elas se tornam radicais no seu porão, ou no seu quarto, em
620. frente a um computador. E o que se descobre sobre o processo de
621. radicalização é que ele começa on-line, mas a primeira coisa que acontece é
622. a pessoa ser isolada de sua comunidade, até da sua família, para que o
623. grupo extremista possa fazer lavagem cerebral fazendo a pessoa acreditar
624. que eles, os terroristas são os verdadeiros muçulmanos e todos os outros,
625. que abominam seu comportamento e ideologia, são vendidos ou infiéis.
626. Então, se queremos prevenir a radicalização, devemos manter as pessoas
627. indo às mesquitas. Alguns ainda vão argumentar que o islã é uma religião
628. violenta. Afinal, um grupo como o ISIS baseia sua brutalidade no Alcorão.
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629. Agora, como muçulmana, como mãe, como ser humano, acho que temos
630. que fazer tudo que pudermos para parar um grupo como o ISIS. Mas,
631. estaríamos nos rendendo ao discurso desse grupo se o escolhêssemos
632. como representantes da crença de 1,6 bilhão de pessoas. (Aplausos)
633. Obrigada. O ISIS tem tanto a ver com o islã, quanto a Klu Klux Klan tem a
634. ver com o cristianismo. (Aplausos) Os dois grupos alegam basear suas
635. ideologias em seu livro sagrado, mas se olharmos para eles, eles não são
636. motivados pelo que leem em seu livro sagrado. É a brutalidade deles que faz
637. com que leiam essas coisas na escritura.
638. Recentemente, um eminente imã me contou uma história que me deixou
639. surpresa. Ele disse que uma jovem veio até ele porque estava pensando em
640. se juntar ao ISIS. Fiquei realmente surpresa e perguntei a ele se ela tinha
641. tido contato com um líder religioso radical. Ela disse que o problema era
642. exatamente o oposto, todos os clérigos com quem ela tinha falado a
643. rejeitaram e disseram que a raiva dela, a sensação de injustiça no mundo, só
iriam colocá-la em apuros. Então sem um espaço para canalizar e dar sentido
644. a sua raiva, ela era um alvo fácil de ser explorado por extremistas que
645. prometiam uma solução para ela. O que esse imã fez foi reconectá-la a Deus
646. e a sua comunidade. Ele não a culpou por sua raiva, em vez disso, deu
647. formas construtivas para ela fazer mudanças reais no mundo. O que ela
648. aprendeu naquela mesquita evitou que ela se juntasse ao ISIS.
649. Já falei um pouco sobre como a “islamofobia” afeta a mim e a minha família,
650. mas como ela impacta os americanos comuns? Como ela impacta todos os
651. outros? Como sentir medo 24 horas por dia afeta a saúde da nossa
652. democracia e a saúde do nosso pensamento livre?
653. Bem, um estudo, na verdade, vários estudos na neurociência mostram que,
654. quando estamos com medo, pelo menos três coisas acontecem. Passamos
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682. depois de 11/09? Nós fomos à mesquita ou não nos arriscamos e ficamos
683. em casa? Bom, nós conversamos sobre isso e pode parecer uma decisão
684. pequena, mas para nós era sobre o tipo de país que queremos deixar para
685. nossos filhos: um que vai nos controlar pelo medo ou um no qual poderemos
686. praticar nossa religião livremente. Então decidimos ir à mesquita. Colocamos
687. meu filho no carro, colocamos o cinto nele e dirigimos silenciosamente,
688. intensamente, até a mesquita. Tirei ele do carro, tirei meus sapatos, entrei na
689. sala de oração e o que eu vi me fez parar. O local estava completamente
690. cheio. E o imã fez uma declaração, agradecendo e dando boas-vindas aos
691. nossos convidados, porque metade da congregação era de cristãos, judeus,
692. budistas, ateístas, crentes e descrentes, que tinham vindo, não para nos
693. atacar, mas para serem solidários a nós. (Aplausos) Nessa hora, eu chorei.
694. Essas pessoas estavam lá porque escolheram coragem e compaixão em vez
695. de pânico e preconceito. O que vocês escolheriam? O que escolheriam
696. nessa hora de medo e intolerância? Vocês escolheriam a segurança? Ou se
697. juntariam aos que dizem "nós somos melhores que isso"?
698. Obrigada. (Aplausos)
(Helen Walters – mestre de cerimônia)
699. O que você diria àqueles que podem argumentar que você está dando uma
700. palestra TED você é claramente uma pensadora, trabalha em uma think
701. tank39 sofisticada, você é um exceção, e não a regra. O que você diria
702. essas pessoas?
(Dalia Mogahed)
703. Não deixem o palco enganar vocês, sou completamente comum. Eu não sou uma exceção,
704. minha história não é incomum. Eu sou muito comum. Quando você pensa sobre os
705. muçulmanos ao redor do mundo, eu fiz isso, eu fiz o maior estudo já feito sobre muçulmano
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Grupo de discussão e pesquisa sobre temas sociais, políticos, militares, etc.
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706. ao redor do mundo, as pessoas querem coisas comuns. Querem prosperidade para a sua
707. família, querem empregos e viver em paz. Então, de forma alguma eu sou uma exceção.