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O TEATRO DE ORNITORRINCO

orgulhosamente apresenta

HAPPY END

COMÉDIA EM TRES ATOS

DE

(DOROTHY LANE) (ELIZABETH HAPTMAN)

MÚSICA

DE

KURT WEILL

TRADUÇÃO: MARCELO KHANS


CANÇÕES: CACÁ ROSSET
São Paulo, Abril/Maio de 1979

PERSONAGENS

Bill Cracker: Dono do Bills Ballhaus, jovem da pesada, só perde ao


rebolado na frente da “Dama de Cinza”; conhecido também
como “Bill Igreja”, por causa de suas inclinações religiosas.

Sam Worlitzer: Paletó cor de areia. Veste-se de mulher para assaltar; é


também conhecido como “Mammi”.

Dr. Nakamura: Japonês, batedor de carteira, também chamado de


“Governador”.

Jimmy Dexter: Cavanhaque cinzento, 50 anos, sempre com a sua maleta com
as ferramentas de assalto. Artista de variedades, conhecido
por “Reverendo”. Irmão gêmeo e sósia de

Bob Merker: Cavanhaque cinzento etc... (Ver acima Jimmy Dexter). Seu
apelido: “Professor”.

Johnny Flint: O mais jovem do grupo, que por qualquer coisa tem os seus
acessos de raiva, também chamado de “Baby”.

Major do Exercito da Salvação: (Frederick Schreiner)

Hanibal Jackson: Tenente do Exército da Salvação, ex-sargento de


polícia.

Lilian Holiday: Tenente do Exército da Salvação, também conhecida como


“Aleluia-Lilian”.
A Dama de Cinza: Viúva do sargento Jackson. No mundo do crime,
conhecida como “A Mosca”.

Miriam: Garçonete

Jane e Mary: Integrantes do Exército da Salvação

Policiais

Exército da Salvação

Dois Estranhos

1° ATO:

PRÓLOGO

Sam: Nos bares e nos porões, sob pontes escondido


Quase sempre mascarado e sempre muito atrevido
No dinheiro e na fartura vai vivendo bandido
Naturalmente

Não muito longe dalí, às vezes sozinho, às vezes com gente


Com pernas bonitas, sex-appeal e sempre muito atraente
Está a mocinha inocente, virgem e inexperiente
Naturalmente

Dentro do homem lutam ferozmente


O pecado e a virtude, eternamente
E a virtude sempre é reconhecida
E quem vence? A virtude, naturalmente

“Qual a visão de mundo?” Perguntam vocês. Hollywoodiana


obviamente

Como já se esperava ardentemente


E tudo termina “happyendianamente”
Naturalmente

1°ATO

(No Bills Ballhaus)

Projeção 1

No começo deste século, encontram-se no Bill Ballhaus, em Chicago, os reis


do crime.
Jimmy: O que você acha desta nova maneira de asfaltar as ruas,
Johnny?

Johnny: Eu não acho nada...

Jimmy: Pois eu acho que a cidade está esbanjando muito dinheiro


com estas novas técnicas.

Johnny: (levanta-se e atravessa a sala) Desculpe, Reverendo, posso


pegar a Tribuna de Chicago?

Jimmy: Pode.

(Johnny volta a seu lugar e pede um chá)

Johnny: Obrigado. Chá com leite, mas quente, por favor.

(Entra o Governador, com dois estranhos; o Governador entra


primeiro, assobia, desaparece, volta e conduz os dois homens
salão a dentro)

Governador: Por favor, meus senhores vamos entrando. Tomem lugar por
aqui, assim os senhores poderão apreciar melhor a paisagem -
daqui da para ver melhor. Boa noite. (Aos estranhos) Eu sou
muito conhecido por aqui. (Apresenta) Este aqui é o Johnny
Dutsch, o ex-campeão mundial dos pesos médios, e aquele lá,
não olhem por favor, é o Reverendo Dexter, um especialista de
primeira em matéria de assaltos delicados. E aqui (apontando
para uma fileira de ganchos na Parede, onde estão
pendurados chapéus) estão os chapéus das vítimas de Bill
Cracker. Na semana passada foi a vez de um vendedor de
flores - alí está o seu chapéu.

Johnny: Silêncio!

Governador: Um belo dia apareceu diante desse vendedor de flores uma


dama que lhe pediu fogo.
1° Estranho: Uma dama lhe pediu fogo? Mas esta é a história da Dama de
Cinza: Quer dizer então que ela existe realmente?

Governador: E como. Este é um dos mistérios mais misteriosos da rua 44.

2° Estranho: Mas quem é essa Dama de Cinza?

1° Estranho: Pst! Dizem que na zona leste de Chicago existe uma criminosa
muito perigosa, que é a Dama de Cinza. Ela é considerada a
rainha dos bandidos e o que é mais curioso é que quando ela
pede fogo para alguém é batata como essa pessoa não tem
mais do que três horas de vida. Não é verdade?

Governador: Exatamente!

Johnny: Silencio, por favor! (Fora ouve-se um apito)

1° Estranho: Interessante. E lá fora um policial fica parado o tempo todo.

Jimmy: Lá fora não tem nenhum policial.

Governador: Mas é lógico que tem um policial lá fora.

Jimmy: Vamos apostar - eu aposto 10 dólares com cada um dos


senhores.

Governador: 20 dólares.

Jimmy: (aproximando-se dos estranhos) Eu aposto com cada um dos


senhores 20 dólares.

1° Estranho: Feito. Vamos até lá? (Todos se dirigem até a janela, os três
começam a rir as gargalhadas)

Jimmy: Os senhores tem razão. Eu poderia jurar que lá fora não havia
nenhum policial. (Paga) Por favor.
Governador: Pois é, meu caro Reverendo, muitas vezes nos deparamos com
jovens muito sabidos, como estes prezados senhores. Venha
se sentar com a gente,

Jimmy: Olhem, eu sou um cara que aposta em qualquer coisa e nisso


às vezes a gente acaba perdendo todo o dinheiro. Por falar
nisso, na semana passada eu apostei que conseguiria sair e
entrar de novo por aquela porta em três segundos. Essa
aposta eu ganhei. Mas para conseguir isso eu treinei um
bocado.

Johnny: (lendo o jornal) É, mas ele ganhou raspando...

Jimmy: Agora eu estou me sentindo tentado a conseguir realizar esta


mesma proeza em apenas um segundo. Vejam bem, em um
segundo. Isto já está virando uma doença...

Governador: O coitado tem uma espécie de complexo.

1° Estranho: Você deu a volta à casa?

Jimmy: Isto mesmo. Posso tentar fazer isto em um segundo - acho que
eu consigo.

Johnny: Deixe disso, Reverendo. É impossível conseguir sair, dar a


volta à casa e voltar, tudo isso em um segundo; simplesmente
impossível.

1° Estranho: Eu gostaria de apostar, seu Reverendo.

Johnny: Certo. Mas tem que ser na base da honestidade. eu já fui


árbitro da luta entre Burns e Johnson.

Governador: Johnson - que sujeito incrível.

Johnny: Meus senhores, façam suas apostas.

Governador: Apenas para recapitular: você sai por lá e entra por lá.
Jimmy: Sim.

Governador: Você dá a volta `casa em apenas um segundo?

Jimmy: Sim.

Governador: A pé?

Jimmy: Sim.

Governador: 100 dólares. (Lá fora ouve-se um apito pela segunda vez)

2° Estranho: 200 dólares.

1° Estranho: 50 dólares.

Johnny: 350 dólares. 100 - 200 - 50 - 350 dólares.

Governador: Reverendo, desista.

Jimmy: Eu sou muito doente, mas eu não consigo desistir.

Miriam: Incrível como ele é obcecado por uma aposta!

Jimmy: (empolgado) 350 dólares. Governador, dá para você emprestar


50 dólares? Eu só tenho 300...

Governador: Aqui está 50 dólares (O Governador lhe dá 50 dólares. Jimmy


coloca dinheiro em cima da mesa, Johnny põe o dinheiro
embaixo do chapéu e segura-o firme).

Johnny: 350. Aos seus lugares.

Governador: Último controle. Johnny.

Johnny: Tudo OK! Atenção! Pronto! (Dá um tiro)

Jimmy: (corre para fora)

Johnny: (conta no seu relógio) Um e... e... (entra correndo Bob, que é
idêntico a Jimmy) um segundo e um quarto.
Governador: Que velocidade fantástica! Lapidar!

1° Estranho: Alguma coisa não está me cheirando bem nesta história


(segura o dinheiro).

Johnny: (coloca-se na frente do chapéu) O que é que há? O que ele


acabou de fazer foi uma proeza incrível. E isto deve ser
recompensado.

Sam: (acabando de entrar) Claro que isso deve ser recompensado.

Johnny: Ele poderia muito bem ter tido um ataque do coração.

Bob: (cai numa cadeira) Uísque!

Governador: O coitado está precisando de um uísque para o coração - e


vocês não querem lhe pagar uns poucos dólares. Que
vergonha.

Johnny: (dá o dinheiro a Bob) O vencedor! Você bem que mereceu este
dinheiro. Foi um desempenho colossal!

Governador: Muito colossal! Lamentável, senhores, lamentável.

Jimmy: (entrando) Boa noite. (senta-se ao lado de Bob)

2° Estranho: Mas o que é isso?!!

Governador: (Objetivamente) Gêmeos.

Bob: (para Jimmy) Você trouxe aquele livro policial que eu lhe pedi?

Jimmy: Não, só vai sair dia 3!

1° Estranho: (ao Governador) Você vai chamar a polícia?

Governador: Não se pode fazer nada. Por acaso o senhor pode provar que
não foi a mesma pessoa que entrou pela porta?

1° Estranho: (com raiva para o outro) Vamos embora, Smith.


Sam: (ao 1° Estranho) O senhor me desculpe. No meu último assalto
à uma igreja eu trouxe como lembrança um órgão. Ele está me
custando uma fortuna no depósito. O senhor não gostaria de
comprá-lo por um precinho bem camarada? É uma pechincha.
(1° e 2° Estranhos sae furiosos) Mas que modos! Estou
achando ótimo que “A Mosca” esteja preparando algo para
nós. Que alegria poder trabalhar de novo com vocês, afinal
gostamos de uma emoção. Esporte - nós somos todos
esportistas. Por falar nisso, vocês já sabem que o Gorila
Baxley assaltou o Buffalo-Express?

Governador: Não, mas eu acho que o Gorila Baxley é hoje em dia o maior
concorrente do nosso Bill.

Johnny: E cade o Bill?

Entra Bill. Projeção 2

Bill Cracker, proprietário do Bill`s Ballhaus.

(Bill entra com um chapéu na mão, atravessa a sala, pendura-o num gancho,
e embaixo marca as iniciais G.B.)

Governdor: Quem é?

Jonny: G.B.

Todos: Gorila Baxley!

Bill: Gorila Baxley já era! (Todos se levantam e tiram os chapéus)

Sam: Mas isso é uma catástrofe!

Bill: Por que?

Sam: Ele estava me devendo 100 dólares.

Bill: Com o fim de Gorila Baxley começa uma nova era para o Bill`s
Ballhaus e para mim. Quem foi que atirou no quadro?
Johnny: Mammi.

Bill: Aquele já era meu tio-avô, o general Cracker. Isto vai lhe
custar 20 dólares.

Sam: 20 dólares? Mas quebrou apenas o vidro.

Bill: O vidro também era uma recordação

Sam: E por que você foi pendurar o seu tio-avô justamente na linha
de fogo?

Bill: Nisso você tem razão. Não se deve pendurar um general na


linha de fogo. Esta cidadezinha vai ver o que é bom, do mesmo
modo que Gorila Baxley.

Sam: Gorila Baxley morreu. Isto quer dizer que agora chegou a hora
de Bill Cracker e de todo o nosso bando. E isso precisa ser
comemorado.

Governador: Bill, cante o Bilbao-Song para a gente.

Bill: Não.

Governador: Mas numa ocasião tão festiva...

Bill: Eu não vou cantar o Bilbao-Song.

Todos: Canta, por favor.

Bill: Não, eu não sei mais a letra.

Jimmy: É, quase ninguém se lembra mais da letra - esta canção deve


ter uns 300 anos.

Governador: 400.

Jimmy: Um século a mais ou a menos não faz muita diferença.

Johnny: Dizem que em Kentucky existe um velho caçador de peles que


ainda se lembra da letra.
Jimmy: É mas ninguém consegue encontrar esse caçador - bem, se
ele ouvir a música talvez se recorde da letra. Eu vou colocar
uma ficha. (coloca a ficha num piano elétrico).

Bill: Mas eu não consigo me lembrar da letra.

Sam: Tenta uma vez.

Bill: Está bem: por ocasião de chegada de um chapéu tão


esperado, um fragmento de Bilbao-Song. Mas mais do que isso
dá...

Mudança de Luz

Música n°1: Bilbao-Song

Bill: Bill`s Balhaus em Bilbao, Bilbao, Bilbao


Era o mais lindo lugar que eu já vi.
Ali você fazia o que queria, o que queria, o que queria
Com um dólar você ia se esbaldar
Mas se você fosse hoje para lá,
Eu não sei se você iria apreciar
Ah, pernas, risos, e um copo de Brancy!
E depois dançar na grama
E a lua furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas o nosso chão.
E a música! Ah, meu Deus, que maravilha!
Hei Joe, toque aquela velha canção!
Oh! Lua de Bilbao (Tentando se lembrar da letra)
Oh! Lua de Abril...
Oh! Lua de Bilbao
Charutos do Brasil
Oh! Lua de Bilbao
Oh! Lua do amor
(falando) Eu não consigo lembrar da letra...
Faz muito tempo!
(cantando) Eu não sei se você iria apreciar, mas -
Era o mais lindo, era o mais lindo, era o mais lindo
Que eu já vi.
II
Bills Balhaus em Bilbao, Bilbao, Bilbao
Hoje está modernizado e familiar
Em vez de uísque, vende Coca-Cola, Coca-Cola, Coca-Cola
Como em qualquer lugar por aí
Mas se você fosse hoje para lá
Eu acho até que você iria apreciar
Mas para mim já não tem a menor emoção
Não tem mais grama pelo chão
Em vez de lua, uma lâmpada de neão
E a música?! Ai, meu Deus que vergonha!
Hei Joe, toque aquela velha canção!
Oh! Lua de Bilbao / Oh! Lua de Abril
Oh! Lua de Bilbao / Oh! Lua do Brasil
(Falando) Eu esqueci a letra... desculpem, faz tanto tempo...
(Cantando) Oh! Lua de Bilbao / Oh! Lua de Abril
(Falando) Faz tanto tempo...
(Cantando) Eu não sei se você iria apreciar, mas -
Era o mais lindo, era o mais lindo era o mais lindo
Que eu já vi...
(Falando e se desculpando)
Ah, faz tanto tempo.

(Luz da Música sai)

Guarda: (entrando) Lá fora, num táxi, uma senhora sentiu-se mal e eu


resolvi trazê-la para cá. Vocês tem um pouco de água gelada?

Sam: Claro!

Guarda: Além disso, ela machucou o tornozelo!

Jimmy: Machucou o tornozelo? Qual deles?

Guarda: O esquerdo.

Johnny: (baixinho para os outros) A Mosca. (O guarda sia)

Guarda: (traz a senhora para dentro, colocando-a numa cadeira) Se a


situação dela piorar, podem trazê-la até a delegacia - lá temos
um médico que poderá cuidar dela. Eu tenho que ir agora - vou
buscar um carro (sai).

(baixam a porta de ferro)

Projeção n°3

Uma visita misteriosa: A Dama de Cinza

Dama: (Levanta-se; para Bill) Mas o que é que está acontecendo


aqui?

Bill: Gorila Baxley.

Dama: Eu já disse uma centena de vezes para você deixar de lado


essas carnificinas privadas! Ah, mas lá está o Governador!
Boa noite, Governador!

Governador: Boa noite!

Dama: (passa a revista a todos, tira um revólver de Johnny e joga-o


no chão. para Bill) quando eu olho para a sua orelha começo a
passar mal.

Bill” Eu também!

Dama: Quanto às nossas contas, Governador, vamos acertá-las


depois. (Vai em direção à mesa, joga tudo o que está em cima
dela no chão e desenha, em giz, dois riscos) Unionstreet.
Amanhã, noite de Natal às 10:17 Jimmy na esquina da
L.C.D. ...L.C.D. Lloyd Chicago Deposit.

Bill: Mas justamente na noite de Natal!

Dama: Aqui vocês tem, por escrito, tudo o que tem a fazer. Mammi e
Baby vão de novo formar um casal, e irão passar pela
Unionstreet às 10:20 hs, dobram na Malony Street e
procurarão dominar o vigia que fica na guarita. A rua fica tão
escura que tudo não vai passar de brincadeira de criança.
Vocês poderão ir até o local para dar uma olhada, depois que
eu for embora. Mas por favor (para Sam) dessa vez leve a
garrafa de oxigênio numa frasqueira e não numa caixa de
sapatos, pois qualquer idiota sabe que depois das 11 horas
ninguém vai comprar sapatos.

Bill: Muito certo! Sempre essa pseudo-cultura!

Dama: Reverendo, dê uma checada na maleta, para não esquecer de


novo a chave mestre que serve para todas as portas de
banheiro. Senão vamos ficar de novo parados umas duas
horas em frente à uma porta que se pode abrir com um
grampo, Professor, como álibi, você irá ao Butler`s Saloon e lá
você poderá, quem sabe, jogar uma partida de xadrez com o
delegado MacDonald. Isso seria conveniente. (Bob pergunta
alguma coisa) Nada de perguntas, está tudo escrito no papel.
Bill como sempre passa pelo cordão fechado formado pelo
nosso pessoal e retira o dinheiro dos cofres abertos. e no que
diz respeito à tua exclamação: “Justamente na noite de Natal”
eu lhe advirto, você aos poucos está ficando com o coração
de uma lavadeira. O Bill mandou uma coroa de flores para o
enterro do vendedor de flores e com isso comprometeu todo o
Bill`s Balhaus. Ora, tenha dó! Ou a gente mata alguém ou a
gente manda flores. Agora desenhe o plano do assalto, mas à
tinta! (Bill faz menção de sair) Eu ainda vou ver o Bill sentado
debaixo de uma árvore de Natal com um Major do Exército da
Salvação no colo.

Sam: (Ri alto)

Bill: Você está rindo do quê? (sai)

Dama: Bom, agora vamos ao governador, é a sua vez. Você mandou


ontem 800 dólares, que você recebeu por ter levado os dois
carros até Detroit. Quanto foi que o homem te pagou? 800
dólares? Ele te deu foi 850 dólares. Você ficou lá uns três dias,
contando hotel, garagem, refeições e o resto. Quanto custou o
hotel?

Governador: 6 dólares. Aqui estão os recibos.

Dama: Ah, você trouxe recibos?

Governador: Hum, sim.

Dama: A Mary Potter não estava também em Detroit, por acaso?

Governador: É, por acaso, Mary Potter estava em Detroit.

Dama: Bem. E aquele Packard verde, que o Mammi roubou, só rendeu


400 dólares?

Governador: Olhe, os recibos estão aqui. e o carro teve de ser pintado de


outra côr.

Dama: Pois é, a tinta anda cara.

Governador: É, a tinta está muito cara.

Dama: Nós estamos conversando demais - por apenas 70 dólares -

Governador: Muito mesmo. E porque 70 dólares?

Dama: Tanto faz. Por que é que você está tão nervoso?

Governador: Tanto faz, não. Se estiver faltando alguma coisa eu completo


do meu bolso.

Dama: Bobagem, isso pode acontecer com qualquer um.

Governador: Não se trata disso. Por acaso há alguma coisa de errado com
recibos?

Dama: Essa história dos recibos...


Governador: Bom, então eu sou forçado a esclarecer tudo o que
aconteceu.

Dama: Formidável! foi um engano e isso pode ser resolvido. Por favor,
Governador, me dê fogo.

Governador: (grita apavorado) Não - por que?

Dama: (rindo) fogo! (O Governador pálido, lhe dá fogo) Bem, então


amanhã, na noite de Natal, todos aqui. Amanhã às 10:17, a
Mosca vai voar para dentro dos cofres da L.C.D.

(Depois de o governador ter dado fogo à Dama, ele senta-se à


mesa que está em frente e começa a chorar)

(Mais do que depressa, a Dama de cinza senta-se na cadeira)

Guarda: O carro chegou. (Leva a Dama para fora)

Bill: (entrando) Ela já foi?

Bob: Foi.

Bill: (dirigindo-se ao balcão) Um uísque. Mammi, venha cá. Então


mostre agora como é que você ri do seu chefe - vamos! (grita)
ria! (Derruba-o com um soco) Isso pertence ao capítulo:
“Como educar os seus filhos, para evitar problemas futuros”

Jimmy: Mas, Bill, justo hoje, véspera de Natal...

Bill: Cale a boca! Que besteira é essa - véspera de Natal! Eu vou


mostrar para vocês quem é Papai Noel. A Mosca já me vê
embaixo de uma árvore de Natal com um livro de cações
religiosas, cantando o hino de n° 33: “Em um berço tão
dourado...”

Jimmy: “Em um berço tão dourado...”


Bill: (para Jimmy) Quieto! (para o governador) Pare de chorar!
Vocês estão se derretendo, só porque amanhã é Natal. (pausa)

Jimmy: (lendo o jornal) Bill, te incomoda o barulho das folhas? (pausa)


Será que é melhor parar de ler o jornal?

Johnny: Podemos fumar, Bill? (Bill quieto) Ele não fala nada.

Jimmy: Para de fumar este charuto. Bill não gosta que se fume em
sua presença (Ela recolhe os charutos no seu chapéu)

Bob: Você tem alguma coisa contra nós, Bill?

Bill: (pega o seu copo de uísque e sai) Contando que o Exército da


Salvação não venha cantar aqui dentro, eu quero que vocês se
fodam... (sai)

O PALCO GIRA. RUA.

O exército da salvação vai em frente na sua incansável luta contra o pecado,


pelos becos mais escuros da cidade.

Música número 2: “O pequeno tenente do bom Deus”

(Lilian Holiday, também conhecida como Aleluia-Lilian, chega com a banda do


exercito da salvação)

Lilian: Todos alerta

Todos alerta

Todos alerta

Prestem bastante atenção

Por toda parte, desgraças

gritos, miséria, aflição.


Parem o tráfego: Fecham os sinais!

Muitos estão sofrendo. Quem vai ajudar?

Será que ninguém vê?

Irmãos desesperados que estão abandonados.

Não fique aí parado,

Isso tem que ser mudado,

Será que ninguém vê?

Será que ninguém vê?

Eu sei que vocês dizem: “Nada vai mudar

No mundo a injustiça há de imperar”.

Mas nós dizemos: Vá pra batalha

Marchando sem temer, como os soldados

Com carros e tanques blindados

E com aviões pelo ar

E com torpedeiros no mar

Prá lutar por um prato de sopa para os pobres (Bis)

Quando todos conosco marcharam

Então haveremos de vencer

Pois não deixaremos

Nenhum pecador se perder

Todos avante, eia com armas marchar:

Muitos precisam de ajuda


Quem vai ajudar?

Todos alerta

Todos alerta

Todos alerta

Prestem bastante atenção

Por toda parte, desgraças

Gritos, miséria, aflição

Parem o tráfego!

Fechem os sinais!

Coragem, estamos chegando prá vos ajudar

Ainda há tempo irmão

Escute o nosso brado de fé e salvação

Pois nós não te esquecemos

E não te abandonaremos

Nós vemos teu sofrer

Nós vemos teu sofrer

Não digam que o mundo nunca vai mudar

Porque a injustiça há de acabar

Todos: Se todos forem a batalha

Marchando sem temor, como soldados

Com carros e tanques blindados

E com aviões pelo ar


E com torpedeiras no mar

Só Lilian: Prá lutar por um prato de sopa para os pobres

Quando todos conosco marcharem

Para os pobres ajudar

Os anjos dirão: Aleluia

Pois todos irão se salvar

Todos, avante, eia, com armas marchar!

Coragem, estamos chegando prá vos ajudar!

O Palco Gira

(Eles marcham para dentro do Bills Balhaus)

Projeção número 5

(Sozinha e abandonada- Aleluia-Lilian está no covil do lobo)

Lilian: (distribui o “Brado de guerra”) Feliz Natal!

Bob: Pelo amor de Deus!

Lilian: O brado de guerra! O brado de guerra!

Jimmy: Contanto que tudo termine bem!

Lilian: O brado de guerra!

Bob: Essas aí tem coragem mesmo!

Johnny: Vocês querem fazer uma pequena representação? Esperem só


até o Bill chegar, ele vai mostrar a vocês.

Sam: Por que vocês são tão descorteses? Esta é a tenente Lilian
Holiday, comandante da conhecida tropa de choque, também
chamada de Aleluia-Lilian.
Lilian: Isso mesmo, irmão,e essas duas moças aqui com o caldeirão
são Mary e Jane, e aquele lá com o tambor é o tenente Brown
e aquele lá com o saxofone é o irmão Hanibal.

Sam: Mas a alma disso tudo é a Aleluia-Lilian, também chamada de


Lilian Mimosa, por ser tão delicada.

Lilian: Vamos cantar o número 5.

Música número 3: Vá pra luta meu irmão.

Lilian e o exército da salvação: Vá pra luta meu irmão

Para o pecado combater

cante aqui, canta lá,

cante ali e acolá

Um novo dia vai chegar

E Jesus Cristo vai ressucitar

Aleluia!

Jimmy: Eu preciso me confessar- posso? Hoje, na véspera do Natal,


eu, Jimmy Dexter de cabeça pra baixo, venho pedir à tropa de
choque minha absolvição: como eu nunca tive antes uma
chance de entrar em contato com os senhores, aconteceram
muitas coisas que eu não pude evitar.

Jane: Deixe disso, irmão.

Jimmy: Eu sinto muitíssimo. Minha pobre mãezinha foi levada ao


túmulo por minha causa- (para os outros) preciso contar a
história toda, voces vão ver que coisa incrível foi. E meu pobre
paizinho teve de vender o seu corpo, tudo por minha causa.

Jane: Que horror!


Jimmy: Eu peço que me perdoem minha contrição é sincera e o meu
arrependimento é grande.

Lilian: Irmão Hanibal!

Hanibal: Meus amigos! Meus amigos!...

Jimmy: Um momento! O que é que quer dizer com esse - “meus


amigos”? Eu e vocês não somos amigos, vamos deixar isso
bem claro.

Hanibal: Vocês todos conhecem o ditado: Há mais alegria...

Jimmy: Sobre nós do que sobre vocês, isso com certeza. Agora vamos
terminando com isso - olhe o pagamento! (Cospe no caldeirão)

Lilian: Que nojo! Nós vamos cantar mais uma vez (começa a cantar o
hino de guerra bem alto). Vá pra luta meu irmão etc... (em
seguida, enérgica) meus senhores, o nosso texto de hoje diz:-
És um rei ou és apenas alguém como os outros? Vives num
castelo ou num beco sombrio...?

Sam: Num castelo.

Lilian: meus senhores! Quando eu os vejo só posso dizer uma coisa:


esses moram num beco sombrio- e isso para não dizer pior.
Por que é que vocês nunca são vistos nas belas casas do
Senhor, espalhados por essa cidade?

Governador: É por quê?

Lilian: Porque vocês não tem coragem. Porque vocês são covardes,
porque vocês têm medo.

Hanibal: É isso mesmo.

Lilian: Quieto! Vocês todos, ao pisarem o chão da casa de Deus


perceberiam que são bem diferentes do que vocês se julgam
(todos riem) Deus é um cavalheiro, o maior cavalheiro dessa
história (O exército: Aleluia!) E os seus santos são a melhor e
a mais fina companhia que se poderia desejar, e de quem
vocês já devem ter ouvido falar. (Exército: Aleluia!) Mas comi
vocês querem entrar nesse outro mundo, no estado em que
vocês se encontram?

Sam: E quem disse que nós queremos?

Lilian: Alguém como esse aí, ao se apresentar frente a Deus, já se


sabe a mais de 10 Km que ele está cheirando a uísque. E se
eu repetir, mais uma vez algo que é claro que não poderia
acontecer, mas digamos, se acontecer, mas digamos, se
acontecesse de um santo se aproximar de um vocês e dar um
tapinha nas costas? O que pode acontecer é ele levar um
soco na cara e ser ameaçado com um revolver. Nem mesmo
na cozinha do céu limpando os prato eu vejo vocês, enquanto
insistiram em perturbar a vida dos outros. Nós lhes
advertimos : vocês todos ainda vão cozinhar no fogo do
inferno. O que é que vocês estão olhando tanto assim? É por
causa daquele ali? (entra Bill) Vocês irão olhar de outra
maneira quando soarem as trombetas do Juízo Final! Aí estão
vocês vão ver tudo diferente a não ser que resolvam, no
último instante, arranjar um emprego honesto, seja como
contador numa filial do First National Bank ou como aprendiz
numa fábrica de motocicletas, como a Indian Speed ou a
Harley Davidson, ou coisa semelhante. Hoje em dia existem
tantas fábricas maravilhosas! (Exercito: Aleluia!) Pode ser que
entre vocês ainda exista alguém que aparente ter um pouco
de caracter. Para mim, no entanto, um bandidão desses que
fica ameaçando as pessoas com uma arma, não passa de um
moleque (Os bandidos: Vamos parar com isso! O que é isso!)
Eu repito mais uma vez : Um moleque que fugiu da escola,
porque porque para fazer uma coisa dessas não é preciso ter
muita coragem- basta que falta policiamento ou iluminação. É
isso o que eu tenho a lhes dizer - mas eles não querem ouvir,
eu sinto isso. Eles preferem ficar pastando como os animais e
o que é pior , enquanto o boi tem o estábulo, o pássaro o seu
ninho - o que é correto - eles não pertencem a lugar nenhum!
Onde é que vocês ficam? Num botequim infecto! É isso o que
eu queria lhes dizer na véspera de Natal. Nós agora vamos
cantar, mais uma vez: “Vá a luta, meu irmão!”

Música número 3 “Vá a luta meu irmão!”

Lilian e o exercito: Vá pra luta meu irmão

Para o pecado combater

Cante aqui, cante lá

Cante alí e acolá

Um novo dia vai chegar

E novo dia vai chegar

E Jesus Cristo vai ressuscitar

Aleluia!

Johnny: Eu só não entendo porque é que Bill não joga eles para o meio
a rua.

Bill: Quieto!

Lilian: Quem é esse tal de Bill?

Bill: Hiiii...!

Johnny: Bill Cracker.


Lilian : (em direção a Bill) É você? Então é voc^o Bill da Bill Ballhaus?
Será que você gosta realmente daqui?

Johnny Mas isso nunca aconteceu antes!

Bob: Isso ninguém jamais ousou!

Lilian: Não se esqueça que, assim, como você está sentado també
estava o rei Nabucodonososr.

Bill: (Sem levantar os olhos) Quem?

Lilian: Nabucodonosor. E ele foi um criminoso muito maior do que


você, que aterrorizava o seu povo. mas sabe o que aconteceu
com ele, quando ele perdeu o poder? Você sabe o que ele
acabou comendo? Ele acabou comendo grama!

Jimmy: Salta uma porção de grama para o Bill no capricho.

Bill: cale a boca!

Lilian: É muito gentil de sua parte senhor Cracker, me proteger


assim, mas se o senho tivesse esmurrado esse homem, isso
seria uma brutalidade inqualificável(grita). Que o senhor é um
canalha dos mais ordinários, isso se vê logo. É alguém que
não merece nem mesmo ser aceito no meio de vocês. Irmãos ,
se vocês conseguissem jogar fora essa maçã podre, isso aqui
ficaria muito melhor.

Sam: Bill, será que não chega?Não é hora de jogar todos para fora?

Bill: ë jogue todos para fora.

Lilian: Nós vamos ficar aqui.

Sam: Eu acho melhor vocês darem o fora daqui, antes que a gente
tenha de atirá-los para fora!

Lilian: Eu vou ficar aqui!


Bill: Essa aí quer ficar!

Jane: Lilian! Lilian!

Hanibal: Vamos, Lilian!

Lilian: Não, eu vou ficar aqui e pronto. Eu ainda não terminei o que
eu queria fazer.

Sam: Podem deixá-la aí, não vamos fazer nada com ela.

Hanibal: (saindo) nós vamos voltar e vai ser com a polícia!

Lilian: (gritando pra ele) Não precisa!

Bob: (quando o exército já se retirou) Escute, minha senhora, a


senhora não pode ficar aqui!

Johnny: Esse é o Bill Cracker.

Lilian: Mesmo que todos tenham medo de você eu não tenho.

Bill: Dois uísques.

Jimmy: Cade o governador?

Sam: Pela porta ele não saiu,eu fiquei olhando o tempo todo para
aquele lado.

Johnny: Então vai ver que ele se escondeu na cozinha.

Jimmy: Bem, então eu vou ver onde é que estão as minhas coisas.

Johnny: Bem, então eu vou ver como é que está o tempo.

Bob: Bom, por que é que não saímos todos?

Sam: (dá um copo de uísque para Bill e um para Lilian, e que faz
menção de sair )
Bill: (chama o Sam) Sam, a quem será que o tenente estava se
referindo quando falou de alguém que ainda aparenta ter um
pouco de caracter?

Sam: Eu sei muito bem quem é.

Bill: Pois bem, se eu pegar esse alguém que ainda aparente ter um
pouco de caracter eu faço um picadinho dele.

Sam: Bem, então eu vou até a cozinha prá ver como é que está o
tempo...

Página 22

Lilian: Quem é ele?

Jimmy: Ele bebeu demais.

Lilian: Ele não está bêbado, ele nem está se mexendo!

Sam: Ele está bêbado (Para Bill) Liquidado.

Bill: Puxem a porta de ferro para baixo. saiam pela cozinha com
ele.

Lilian: Mas por que vocês vão levá-lo embora? Ele não está bêbado?

Sam: Ele está bêbado.(mais uma vez) Ele está bêbado.

Lilian: Bem, eu acho que já vou indo.

Sam: Aonde a senhora pensa que vai? Não me diga que a senhora
pretende ir até a polícia apenas porque o homem está
bêbado?

Lilian: Eu não vou a lugar nenhum. Eu só quero ir embora.

Bill: Acho que agora não vai ser possível. É melhor ficar aqui. A
polícia deve chegar a qualquer momento, pois os seus amigos
a querem de volta. (pausa) Senhorita Holiday eu estava
curiosos por saber o que realmente aconteceu com
Nabucodonosor; é verdade que ele acabou comendo grama?
(para os outros) Mas quem é que desceu a porta de ferro? - só
faltava isso para as pessoas começarem a desconfiar que
aqui está acontecendo alguma coisa. (Para a Lilian) Agora
vamos ver se a gente se entende a respeito de toda essa
questão religiosa.

Lilian: Aquele homem não está bêbado?!

Bill: O negócio é o seguinte, a senhorita Holiday: às suas costas


está a estridente Babilônia às margens do lago Michigan e à
sua frente estão alguns homens acostumados a viver
intensamente a vida.

Projeção número 7

Depois de meia hora de conversa, a questão religiosa ainda não estava


resolvida, mas Lilian havia tomado mais outros uísques, e
arriscava agora, para domar os corações de granito uma
experiência perigosa.

Lilian: Mas não é nada disso!

Sam: É sim, se o trabalho no exército da Salvação não fosse assim


tão insoso. Seria um grande negócio. Com algumas mocinhas
bonitas a gente poderia fazer essa empresa subir a sua
cotação na Bolsa como se fosse a Standart Oil. Não há nada
de mal nisso. Era só colocar uma de suas bonitas
“Santinhas”com uns vestidos mais arrumados, um decote ...
Não estou falando do seu caso... Assim, nenhum brutamontes
conseguiria reistir.

Lilian: (Com uísque subindo à cabeça)- Pelo que eu vejo, meus


senhoores, nessa parte da cidade e em especial no meio dos
senhores, espalhou-se o mito de que o trabalho que nós
fazemos é chato e aborrecido. Eu gostaria de esclarecer isso.
Eu não sei se os senhores conhecem o que nós fazemos. Nós
temos um repertório muito variado de canções, que vão desde
as mais inocentes até as mais picantes, se me permitem
expressar-me assim. Isso acontece porque nós não queremos
atingir apenas uma espécie de pessoas - nós queremos
alcançar a todos . Por isso nós temos, por exemplo, uma
canção dedicada a jovens comerciários, uma outra muito
bonita para os operários e uma outra para os marinheiros.
Essa talvez seja uma que combine com os senhores. Eu vou
cantá-la agora para que os senhores possam entender melhor
o que estou dizendo.

Sam: É realmente divertida?

Lilian: É só prestar atenção.

Jimmy: Picante?

Lilian: Vocês vão ver! É uma canção sobre marinheiros, que como
vocês sabem, são muito fanfarrões. Eu só preciso de um
chapéu para começar.

Música número 4 - Tango do marinheiro

Lilian: Alô, nós vamos pra Birmania, que lindo.

Holiday: Temos uísques à bordo para dar e vender

e temos charutos, marca “Henry Clay”

E o que eu quero mesmo é zonear

Mas agora vocês vão me desculpar

Pois agora está na hora de zarpar

Não há nada nesse mundo melhor que fumar


E o navio vai navegando sobre as ondas do mar

E prá nós não existe esse deus lá no céu

Nem essa coisa banal que se chama moral

Agora goodbye!

O navio vai e volta

O navio volta e vai

Mas Deus não vai nem vem nem volta

E ele pode até mandar a tempestade pra cá

Pra esse Deus tô cagando eu aqui e ele lá

Agora Goodbye

Aqui tudo é permitido, meu bem

E nada está nos faltando

“E a fé , meu irmão?”

Nem por um milhão!

Eu quero que vá tudo pro inferno!

É o mar é azul, azul

É assim que tudo deve ser

E quando tudo acaba

Lilian: Tudo vai começar

Holiday: (Cont.) É o mar é azul, azul

Vai ainda demorar

É o mar é azul,azul
É o mar é azul, azul

É o mar é azul,azul

O mar é azul

II

Mas tome cuidado com a tempestade

Vai desabar!

Agora está longe da Birmânia

hei, você? O céu está escuro,

Não é pra rir!

Meus Deus! Olhe as ondas!

É um maremoto!

Meu Deus! A água invade o navio!

SOCORROOOOO!!!!!

Isso vai acontecer você vai ver,

Isso vai acontecer pode crer

Logo o navio vai direitinho pro fundo

Toda a tripulação no bucho do tubarão

lá não tem uísque

Nem charuto “Henry Clay”

Lá embaixo não dá pra zonear

E agora eu te digo goodbye

E agora eu te digo goodbye


A água invade o navio que naufraga

E pra vida nos salvar não existe nada

Não se vê um navio nem ilha no mar

Nada pois espera; Meu Deus que azar

Agora goodbye

O pecado rasgado agora não existe mais

Falta esta frase

Lilian: Solidão é a sua companhia

Holiday: (Cont.) E nem o blapt-blapt-blá

Do teu pai vai ti salvar,

Afinal você está no fundo do mar

Agora acabou.

E agora eu vou dizer,

Qual é da história a moral:

Sempre você muito falou e se gabou

Mas quando chegou o juízo final

Então você nas calças se cagou!

É o mar é azul...azul

É assim que deve ser

Mas quando tudo acaba

nada vai começar

É o mar é azul...azul
Já não vai mais demorar

É o mar é azul...azul

É o mar é azul...azul

É o mar é azul...azul

O mar é azul

(Volta o exército da salvação)

Hanibal: Mas irmã Lilian, o que significa isso(O exército da Salvação


ouviu os dois últimos versos pela porta entreaberta)

Guarda: É esse o ser tenente que eu deveria vir buscar aqui?

Hanibal: Eu acho que podemos ir embora. Se ela gosta de cantar essas


canções e de se embebedar num lugar desses, acho que nós
podemos deixá-la aí mesmo.

Guarda: Sim, nesse pantano até um trem de aço afunda em menos de


um minuto. (exército e o guarda saem)

Lilian: Meus senhores. Eu não queria que eles ouvissem essa


canção. Essa gente é burra! Eles ficam contando uma porção
de coisas para o major sobre mim. E como eu lhes dizia, se os
senhores continuarem assim, vão acabar no inferno.Repito
mais uma vez vão acabar no inferno (para Bill) E o senhor
também!(

Bill: Levanta-se de um pulo e grita) Agora chega! Você tá pensando


o quê, hein? Ficar falando essas coisas sem mais nem
menos?... Se eu quiser ir pro inferno eu vou, e quero ver quem
vai me impedir!

Lilian: (já na porta) Eu!


Bill: (Agarra uma cadeira como se quisesse atirá-la naquela
direção)

Cortina.

Segundo ato

(na sede do exército da salvação)

Projeção número 9

Anunciam-se tempos difíceis pra Lilian Holiday.

Major: (Para Lilian, que está ensaiando no harmonio) Bem, Lilian, eu


acho que é melhor você subir e arrumar suas coisas. Agora eu
não tenho tempo para me ocupar com aquilo que aconteceu
no Bill’s Ballhaus por causa da reunião, mas para mim bastam
as suspeitas sobre a sua mudança de comportamento. Vá até
o quartel general e procuro pelo major Irving, ele dirá o que
você deve fazer.

Lilian: Arrumar as minhas coisas? Mas o que foi que eu fiz? Pra onde
é que eu posso ir? Eu não tenho parentes. Eu tenho que
continuar podendo usar esse chapéu e esse uniforme.

Major: Eu sei, minha cara Lilian, você foi um dos meus melhores
oficiais.

Lilian: Eu fui?

Major: Mas é exatamente como oficial, que não posso mais mantê-la.

Lilian: Mas por que não? Eu não estou entendendo nada!

Major Qual foi a canção que você cantou naqule lugar?


Mary: Se o senhor não se importar, senhor major, eu não gostaria de
tocar mais no assunto daquela canção.

Lilian: Ah, então é a canção a causa de tudo isso. Ainda bem que não
se trata de algo mais sério. Eu até estou contente por se
tratar da canção. Não há mais nada nela, senhor major, isso
eu posso lhe assegurar a canção era... era aquela antiga e
conhecida canção dos Marinheiros.

Major: (frio) Ah é, então cante-a para nós por favor.

Lilian: Mas não na frente deles!

Hanibal: Nós também achamos que não queremos escutar essa


canção, seu major. Com licença. (Hanibal e as mocinhas do
exército da salvação saem)

Música número 4

O tango do marinheiro

Lilian: Alô, nós vamos pra Dirmânia, que lindo!

Temos uísque a bordo para dar e vender

E temos charutos, marca “Henry Clay”

E o que eu quero mesmo é zonear

Mas agora vocês vão me desculpar

Pois agora está na hora de zarpar

Não há nada nesse mundo melhor que fumar

E o navio vai navegando sobre as ondas do mar

E prá nós não existe esse deus lá no céu

Nem essa coisa banal que se chama moral


Agora goodbye!

Essa foi a canção.

Major: Continue.

Lilian: (Continuando a cantar) ... o navio vai e volta... o navio volta...

...agora eu vou dizer, qual é da história a moral:

Sempre você muito falou e se gabou

Mas quando chegou o Juízo Final

Então você ficou todo arrepiado!

Major: Como isso?

Lilian: É que essas pessoas não tem muita fé.

Major: Ah! Bem, essa última rima é um pouco fraca, mas eu


realmente não consigo encontrar nada de mal nela.

Lilian: (Aliviada e alegre, quer continuar a cantar) Aí continua: E o


mar é azul... azul...

Major: Chega. É o suficiente. Obrigado.

Bill: (Ao entrar ouviu as últimas palavras da canção: E o mar é


azul...) Esta é uma canção maravilhosa, bom dia.

Major: Bom dia.

Bill: (Para Lilian) Bom dia. ( para o major) O senhor tem nela uma
arma poderosa. Eu já tinha notado isso ontem. Eu e meus
amigos ficamos muito impressionados. Toda a rua 44 está
purificada. (olhando em volta) Bonito esse lugar.

Major: (Para Lilian) Quem é ele? (Para Bill) Que é o senhor?


Bill: Ah!, Desculpe. Bill Cracker. Eu achava que isso aqui seria um
pouco mais animado. O senhor sabe, assim com certos
truques espetaculares e complicados. Com muita música e
luzes vermelhas para amolecer as pessoas até a alma.

Lilian: O senhor veio aqui para me difamar, seu Cracker? Foi para
isso que o senhor veio aqui?

Bill: Mas por que? ( Para major) Essa mocinha é muito competente
seu major. Se o senhor quiser saber, ela fez o trabalho dela
direitinho com a gente. O senhor pode se orgulhar de ter
alguém assim.

Major: Por que o senhor veio aqui?

Bill: Talvez para ver como é essa reunião que vocês tem aqui.

Isso é permitido, não é? Hum, acho que compreendi. O senhor


está acostumado às pessoas subservientes, não é?

Aqui não há muito lugar para humor, não é?

Major: (Olha Bill e dá-lhe um tapinha nos ombros) Está bem senhor
Cracker. Está certo, Lilian. A reunião começa dentro de dois
minutos.

Bill: Não faltarei muito obrigado. (Major sai) Então não lhe ajudei a
sair dessa?...

Lilian: Ah, seu Cracker...

Bill: Por favor, nada disso. Mas agora, eu tenho que falar um
instante com a senhorita.É sobre meu revolver, sabe. Trata-se
do caso do governador.

Lilian: Mas, agora o senhor tem que sair daqui, senhor Cracker. A
reunião começa dentro de dez minutos. Por que o senhor não
fica lá no corredor?
Bill: Não dá pra ficar lá fora esse tempo todo. Isso vai estragar
minha reputação. Ninguém vai me respeitar se souberem que
estive aqui.

Lilian: Ah, seu Cracker, depende muito de quem o senhor acha que
deva lhe respeitar.

Sam: (Entra com alguma coisa às costas) Bom dia. Ah, Bill.

Bill: Que é que você quer por aqui, Sam?

Sam: O mesmo que você.

Bill: O que é que você tem aí?

Sam: Nada.

Bill: Mas isso aí é um vaso de flores.Mas o que é que você quer


aqui?

Sam: O mesmo que você.

Bill: OLhe que se você não parar com esse o mesmo que você”eu
te dou um soco no meio da cara. Que flores são essas?

Sam: Azaléias.

Bill: São bonitas.

Sam: É.

Bill: Ah, quer dizer que você está atrás da mocinha?

Sam: Não eu só queria te avisar. Isso aqui não é um lugar pra você,
que já tem uma inclinação para esse tipo de coisa. Você sabe
muito bem o que a gente tem pra fazer no dia 24.

Bill: E isso tudo que você queria me dizer com flores! (arranca as
flores e com o vaso dá na cabeça de Sam)

Sam: (Cambaleia)
Bill: (Empurra-o para fora) Até logo!

Sam: (Cambaleando) A-até lo-lo-go!

Bill: Azaléias! Essa canalha maldita!

Major: (Atrás do palco) Por favor, senhor inspetor. (Bill sai depressa.
O major trás o inspetor para dentro que ainda consegue
vislumbrar Bill).

Inspetor: Ei, Bill! Muito interessante! Desculpe-me, Major, mas com


quem aquele Senhor conversou aqui dentro? (Bill sai)

Major: Comigo.

Inspetor: Com mais alguém?

Major: Não que eu saiba. Por que?

Inspetor: É a respeito de algo que aconteceu. Eu preciso de algumas


informações. Aqui não existe uma senhorita Holiday, um de
meus melhores oficiais. É ela que aqui está.

Inspetor: Ah, cá está ela pessoalmente. Ótimo. Agora eu a estou


reconhecendo. Então, senhorita Holiday, a senhora esteve
ontem no Bill’s Ballhaus. Bem acontece que lá aconteceu uma
coisa sem muita importância - Alguém foi morto. E por isso
vou precisar da senhora para responder a algumas perguntas.

Lilian: (Assustada) Sim!

Inspetor: Senhorita Holiday! Quando deram aquele misterioso tiro da


cozinha do Bill’Ballhaus, a senhora se encontrava na cozinha?

Lilian: Eu?... Não

Inspetor: Ao que parece muitas pessoas se encontravam lá naquela


hora. A senhora ficou sozinha no salão?
lilian: Não.

Inspetor: Ah, então não ficou sozinha? E quem é que estava lá consigo?

Lilian: (depois de uma pausa) Muita gente.

Inspetor: Ah! Ah! E que gente era essa, senhorita Holiday?

Lilian: Eu não sei dizer ao certo.

Inspetor: Sei. O Bill estava lá?

Lilian: Sim, o senhor Bill também estava lá.

Inspetor: E o governador?

Lilian: O governador eu acho que...

Inspetor: Eu acho que a senhora está enganada. Pra dizer a verdade,


acho que tudo que foi dito não tem valor nenhum. Nós não
conseguimos saber ao certo se o Bill também estava lá fora
com os outros, quando foi dado o tiro. E como todos estavam
lá fora quando aconteceu esse pequeno incidente, chamou um
pouco de atenção o fato de que o Bill era o único que não
estava lá fora. isso ainda chamou mais atenção quando o
revolver utilizado par o crime, foi encontrado sozinho lá fora.
Esse revolver era do Bill. Se ele não estava lá fora, a senhora,
deveria estar sozinha com ele.

Major: Mas minha criança, você deve se lembrar do que aconteceu


lá.

Lilian: Não, seu major, eu não consigo me lembrar de nada.

Major: Engraçado. Se você estava no bar sozinha com o Bill, por que
é que você não quer admitir isso?

Lilian: Não.
Inspetor: Não o que?

Lilian: Eu não consigo me lembrar de ter ficado sozinha com o


senhor Bill lá dentro do bar.

Inspetor: Então o Bill devia estar lá fora quando deram os tiros.

Lilian: (encolhe os ombros)

Inspetor: Bem, então quer dizer que o Bill estava mesmo lá fora? Era
isso que queríamos saber. Desculpe seu major. (sai com
major) (entra Bill)

Bill: Então você conseguiu mesmo me estrepar. O que foi que você
disse á polícia?

Lilian: O que é que eu deveria ter dito?

Bill: A verdade, que eu estava lá dentro com você quando foi dado
o tiro, portanto não fui eu quem disparou o revolver. Você não
vê que se trata de um assassinato?

Lilian: Mas quem é que foi assassinado?

Bill: Foi o japa, o governador?

Lilian: Eu acredito, senhor Cracker que não lhe ajudei muito a sair
desta enrascada.

Bill: Mas por que? Ah, claro! Apenas conseguiu me envolver até o
pescoço. Só isso...

Lilian: Mas eu não queria...

Bill: Sei! Não queria, mas conseguiu de qualquer maneira. O que


foi que você falou?
Lilian: Eu não sei qualquer coisa. Pra mim tratava-se de outra coisa.
É que o momento era tão impróprio. Eu realmente não queria
lhe prejudicar.

Bill: Por que não? Por que você não queria me prejudicar? Será
que dá para explicar?

Lilian: Bill eu não tenho culpa. Senhor Bill, eu não queria lhe
prejudicar.

Bill: Então você me usou, não foi? Isso é incrível.

Lilian: Não, senhor Bill. Eu não me utilizei do senhor.

Bill: Mas me prejudicou, não?

Lilian: Sim.

Bill: (depois de uma pausa) Está bem, eu já entendi.

Lilian: (pequena pausa) Vai ser muito ruim pro senhor?

Bill: Absolutamente! Apenas sing-sing! Até que lá os quartos não


são ruins. São como os daqui e a gente é até melhor tratado
por lá.

Lilian: Bill, Bill, Bill! Eu falei que o senhor estava lá fora.

Bill: Claro, sabendo que eu estava dentro.

Lilian: Não adianta. De qualquer maneira eu vou ter que contar a


verdade!

Bill: Eu não deveria perguntar. Tem inclusive uma vozsinha aqui


dentro que me diz: Não pergunte Bill... Por que você não disse
a verdade?

Lilian: Eles me expulsariam.

Bill: Só porque estava comigo lá dentro?


Lilian: Sim.

Bill: A minha voz aqui dentro continua a dizer coisas: Não pergunte
mais nada, Bill. E por que você ficou sozinha comigo lá?

Lilian: Ora, o que é que o senhor sabe?Além do mais, o senhor não


tem voz aí dentro, coisa nenhuma.

Bill: Não, por que? Eu posso lhe afirmar que essa vozinha está
absolutamente certa, senhorita.

Lilian: Não precisa ficar fingindo, seu Bill. Quando estiver falando
com uma mocinha, por que não puxa logo o revolver contra
uma mocinha indefesa, abandonada... sozinha... (soluça)

Bill: É o que deveria fazer, usar o revolver. Isso aliás me faz


lembrar do que realmente aconteceu, senhorita Holiday.
Comigo não adianta vir com lágrimas, que nessa eu não caio!
Na verdade o que você quer é me ver em sing-sing, se não for
alguma coisa muito pior. Sua aproveitadora.

Lilian: Mas por que o senhor me diz isso?

Bill: Por acaso você não está pensando numa coisa assim, como
um casamento?

Lilian: É isso mesmo! O senhor adivinhou- era isso que eu estava


pensando! Você é o homem que eu quero. E justamente teve
de me aparecer pela frente!

Bill: Chega!

Lilian: Fique quieto você! Você não passa de um malcriado, um


atrevidinho.

Bill: Um canalha!
Lilian: É isso mesmo- um canalha! A sua cabeça está cheia de
pensamentos sujos.

Bill: Pensando em você!

Lilian: E o que mais? Isso tudo afinal não passa de uma encenação.
Você não precisa de mim. Afinal, você já está acostumado a
lhe dar com a polícia, muito bem acostumado, não é senhor
Cracker?

Bill: É por isso que a senhorita me arranjou isso não é?

Lilian: O que foi que eu fiz? Você mesmo se meteu nisso, com a sua
vida desregrada, com seu gosto pela podridão, e com sua
rejeição por tudo aquilo que é um pouco mais elevado.

Bill: Podridão?

Lilian: É nesses ambientes de podridão que você se sente bem- e


não quer saber de outra coisa!

Bill: Mas agora chega mesmo! Eu não quero mais saber de você.

Lilian: (chorando) Desculpe!

Bill: Pois não.

Lilian: (pequena pausa) Seu Cracker!

Bill: Sim, senhorita Holiday?

Lilian: O que é que eu devo fazer agora?

Bill: Nada.

Lilian: Acho que tem razão. Eu lhe meti nisso e agora preciso ver
como tirá-lo disso.

Bill: É, seria bom mesmo. Quem sabe a senhorita saia purificada


disso.
Lilian: Agora também pouco importa. (sai)

Bill: Ei, tá indo pra onde? (entra Jane)

Jane: (conseguiu ainda ver Lilian) Ah, então o senhor estava aqui
com a Lilian. Me espanta muito o senhor não ter trancado a
porta.

Bill: Escute, você poderia me dizer como eu poderia falar com a


senhorita Holiday mais uma vez? Onde ela está? Ela está no
seu quarto?

Jane: Quer dizer que já estamos nesse ponto? Ela por acaso falou
pro senhor subir para o seu quarto?

Bill: Será que ela vai descer logo? Vocês tem uma reunião e ela vai
estar lá, não é?

Jane: Talvez!

Bill: Bom, enquanto isso eu vou até o bar e vou tomar uns tragos. O
ar aqui de dentro amolece até os ossos- se chegar mais
alguém e me fizer outro sermão com voz melosa, eu vou
acabar chorando (sai com Jane).

Lilian: Por favor seu major...

Major: Tenente Holiday?

Lilian: Eu falei mais uma vez com o senhor Cracker, eu preciso falar
com o senhor se ele estivesse lá fora, naquela hora, seria
perigoso?

Major: Para ele sim! Pois aí ficaria comprovado que ele matou
alguém.

Lilian: Meu Deus do céu! Mas ele não estava do lado de fora- ele
estava lá dentro!
Major: Mas você não disse que...

Lilian: Ele estava ,lá dentro. Eu não queria contar isso-sabe, porque
todos os outros estavam lá fora, e nós dois sozinhos lá dentro,
e eu lhe dei um beijo, seu major. (murmurando) Foi pela nossa
causa - os fins santificam os meios. Eu acho que isso ajudou
alguma coisa.

Major: Mas isso, já está passando da conta. Eu vou ligar para a


polícia, para que venham lhe ouvir de novo. Mas eu não quero
vê-la mais aqui. (sai)

Mary e Jane: (entrando) O mar é azul... (Rindo) Antes da queda vem o


orgulho.

Jane: Pois é, Lilian...

Mary: O que você acha, Jane? Sabe, pra dizer a verdade eu acho que
estes métodos modernos de aproximação tem as suas falhas.

Hanibal: (entrando) O que foi que aconteceu?

Jane: Ela foi expulsa!

Lilian: Do que é que vocês estão falando?

Mary: Ela ainda não se deu conta...

Hanibal: Para onde você vai agora Lilian?

Lilian: (ainda se fazendo de importante) Onde-onde-eu vou? Mas


vocês sabem eu- meu turno é na rua 44- é lá que eu deveria ir.
Hoje deveria ser-é o dia da parábola do rádio.Muita gente hoje
em dia acha que é muito moderno e chique zombar das coisas
mais elevadas, dizendo que não existe o bom Deus. Nós nunca
vimos Deus. Até um famoso astrônomo francês escreveu uma
vez num jornal: Eu procurei com meu telescópio por todo o
Universo, mas não consegui encontrar Deus (bis) incrível isso,
não? É por isso que eu digo: não é possível encontrar Deus
com telescópio. Para tanto precisamos de outro instrumento,
com os olhos não conseguimos ouvir a melhor das músicas -
como a de Wagner, por exemplo - e com os ouvidos não
podemos ver o mais bonito dos quadros, seja ele de Rubens
ou de Rembrant. E por que, pergunto eu? Por que para tudo
temos de ter o instrumento adequado - e não só isso, ele deve
ser usado corretamente. Pensem no rádio, por exemplo. De
repente, num belo dia, descobre-se que a atmosfera está
carregada de ondas de rádio. Vocês já viram uma onda de
rádio algum dia, pergunto? Não, e vocês nunca irão vê-las.
Apesar disso as ondas estarão sempre lá. Basta uma válvula
de rádio e aí tudo se torna realidade. Um toque e não se
escuta mais nada. Mesmo assim quando não se escuta mais
nada, a música não deixa de estar no ar. Mais um toque e tudo
está lá de novo! Por que? Porque o instrumento foi usado
corretamente.

Major: (entrando) Lilian, passe bem.

Lilian: Eu já estou indo. Hoje é um dia de sorte para vocês. Não é


Mary, não é, Jane? Vitória completa, não? Não faz mal. Mesmo
eu indo embora, ainda sobra muita gente boa aqui - a Jane,
por exemplo, é uma oradora de primeira. (saindo) Um bando
de sem vergonhas. (sai)

Sam: (entrando) Desculpe, aqui que é o exército da Salvação?

Jane: A reunião ainda não começou. O senhor ainda não pode


entrar.

Sam: Então aqui é o exército da salvação. É claro que aqui é o


exército da salvação. Olha aí o segundo sargento com esse
instrumento engraçado. Onde é que está a moça que fez o
sermão?
Major: O que o senhor quer com ela?

Sam: O senhor é o general aqui da zona.Claro que o senhor é o


general.Não precisa ser tão modesto. Eu queria falar com o
senhor.

Major: Então é isso! Mas um lá do Bill’s Bauhaus. Muito interessante.

Sam: Não é nada do que o senhor está pensando, seu general. Eu


queria fazer um negócio com o senhor - um negócio honesto!
Na minha última visita à igreja levei um órgão comigo. E esse
negócio está me custando uma fortuna no depósito. Por isso
eu queria lhe perguntar se o senhor não gostaria de comprar o
órgão para essa paróquia esquisita?

Major: Não, meu caro amigo, nós não precisamos do seu órgão.

Sam: Mas olha aqui, seu general, isso não é verdade. Olhe à sua
volta. Isso aqui por acaso é um empreeendimento que está
indo pra frente? Será que o senhor pode se dar ao luxo de
deixar escapar uma oferta destas, assim sem mais nem
menos? eu não acredito que o senhor possa fazer isso. Olhe
aqui, seu médico de batalhão, o nosso grande Henri Ford
sempre diz : Eu estudo qualquer oferta”. E o que é que o
senhor faz? Simplesmente diz não. Seu general eu não acho
que o senhor possa fazer isso. Se o senhor pensar com calma,
o senhor vai ver que existe apenas um instrumento no mundo
inteiro capaz de mexer com o mais empedernido dos corações
dos pecadores. E esse instrumento é o meu órgão, com tons
doces, suaves e sensuais. O senhor não quer comprar?

Major: A reunião vai começar. O senhor pode se sentar lá atrás.

Sam: O senhor é um amor!

Major: (para Hanibal) Então, irmão, a sua memória ainda não voltou?
Hanibal: Ainda não, major desde que eu levei aquela pancada na
cabeça, eu não consigo mais me lembrar de nada do que
aconteceu. Mas, nos últimos dias eu tenho tido a impressão
de já ter sido casado - mas eu não tenho certeza disso.

Major: Isso é muito grave - deixe as pessoas entrarem.

Projeção número 10

Para um bandido uma visita ao exército da salvação pode representar uma


série de grandes perigos morais

(entra Bill, totalmente bêbado)

Bill: Bom dia, Sam!

Hanibal: Aqui não é lugar para bêbados, meu senhor.

Bill: Lugar! (pisca para Sam, que faz de conta que não o conhece)
Você ouviu, Sam? Isso aqui não é um lugar.

Sam: Pare com isso!

Bill: Você falou lugar. Confesse. Você falou lugar.

Major: (entrando) O que é que está acontecendo?

Hanibal: Este homem está bêbado!

Major: Mas como é que ele se embebedou assim tão depressa?

Sam: Não foi tão depressa assim. (mascando) Eu vi quando ele foi
até o bar, porque não deixaram ele entrar aqui.

Bill: Eu escutei muito bem. Eu ouvi muito bem mesmo. Ele falou
lugar, eu ouvi.
Major: Pode ficar aí. Eu acho que ele tem todas as razões do mundo.

Bill: (berrando) Então vê se diz pra sua gente não usar palavras
desse tipo.

Major: (grita) Faça o favor de ficar quieto!

Bill: (olha-o aparvalhado e senta-se em seguida)

Major: Nós vamos cantar agora: “Pense sempre no Senhor” com


tambores.

Música número 6

(Canção do exército da salvação II)

“Pense sempre no Senhor”

Todos: pense sempre no Senhor

Nunca esmoreça

Pois se você tiver fé

Pois se você tiver fé

Nada poderá detê-lo

Pense sempre no senhor!

Pense sempre no senhor!

Pense sempre no senhor!

Aleluia!

Bill: (queixando-se e sussurrando alto para Sam) Ei, Sam, venha


para cá, pro seu velho Bill. (para Sam tudo isso é muito
lamentável) sabe Sam, eu queria te dizer algo- você está
olhando a bandeira? Olhe direito para ela- se você fizer isso
estará salvo. (ri)

Jane: (tomando a bandeira de Lilian) Ladies and Gentlemen! Antes


que o major fale, eu gostaria de contar para vocês a história
do rádio (imitando Lilian). As pessoas hoje em dia zombam de
Deus e afirmam que ele não existe. (procura aflita por ajuda-
olha o major- o major sussurra); telescópio. Pois é, um
astrônomo francês - um a-astro astrônomo fran-fran... (gritam:
Besteira!)disse inclusive - eu olhei o mundo inteiro com o meu
telescópio, mas não consegui achar Deus. Isso é muito
incrível, não é verdade?... Não é verdade? (gritam: Bobagem!
Cadê a Lilian?) Então, eu estava dizendo, isso se passa
também com o rádio, pois, quando vocês não tem os fones de
ouvido, não conseguem escutar nada. O importante é o
instrumento (gritam:Lilian!) Quando vocês não te- e- m o - o
olhos, vo-vocês não conseguem escutar a música de Wagner
no rádio! E isso aconteceu também com o bom Deus (gritam:
Lilian!) com o rádio acontece o seguinte: com apenas um
toque e também com o bom Deus, quando vocês não tem o
instrumento, aí vocês não vêem isso é claro, - isso é lógico.
(durante as últimas palavras - agitação, gritos: Lilian! Chega!
Holiday!)

Major: Silêncio!

Todos: (Confusão) Lilian! Lilian! Lilian!

Lilian! Lilian! Lilian!

Chega! Tudo besteira!

Lilian Holiday! Deixe a Lilian falar!

Bill: É isso mesmo!! Eu també quero falar com ela! Onde foi que ela
se meteu?
Major: Quietos! Assim não é possível. Jane... Hoje nós devemos ser
mais breves por causa das festividades do natal lá nas docas.
O versículo de hoje: Assim como o veado clama pela água
fresca...

Bill: Quem é que clama?

Sam: O veado, Bill.

Bill: Ah, sei, o veado! Eu só queria saber se era isso mesmo (as
pessoas começam a ficar inquietas)

Alguém: (do fundo) meu caro senhor, nós queremos ouvir as palavras
do senhor lá de cima. E não dessa merda aí.

Bill: Isso mesmo!

Mary: O pecado está se vangloriando mas ela jé está derrotado.


Vestida de escarlate está a maldição. Os seus seios nunca
estão vazios.

Aqueles que bebem da palavra do senhor não se sentirão


vazios.

Bill: Tomei nota disso tudo aí. (levanta-se) Quer dizer que você
disse que o veado clama por água, não negue, você disse que
o veado clama por água no centro de Chicago. Por favor, não
foi isso? O que a gente diz, tem que provar depois.

Hanibal: Assim falou o Senhor: Eu quero Exterminar essa cidade, eu


quero destruí-la com a água e o fogo. (todos: Aleluia!) Suas
casas cairão, seus navios ser˜ao destruídos(todos: Aleluia!) E
o braço do Senhor já está estendido, ninguém mais pode
impedí-lo. (todos: Aleluia!)

Bill: Aleluia! Aleluia! Aleluia! Muito bem- é isso o que você quer -
exterminar essa cidade!
Jane: Impérios inteiros desapareceram - o da Babilônia, o da Síria e
o do Egito. Onde estão Níneve, a dourada, Jerusalém, a altiva,
e Babilônia, que era mais alta do que sete cidades juntas.

Bill: (sonora gargalhada)

Major: Eu penso que nós estamos aqui reunidos para construirmos.


Antes de sair, gostaria de falar mais uma vez contigo, senhor
Cracker. Nós temos que trocar algumas idéias, não é?

Bill: É, isso mesmo. Pode começar mandando chamar a garota.

Major: Não, ela nós vamos deixar de lado. Agora tráta-se do senhor,
senhor Cracker.

Bill: Aonde foi que o senhor a escondeu? Alguma coisa não está
em ordem aqui.Sam, Sam! Acho que a gente tem de fazer
alguma coisa para esclarecer isso. (sobe no banco, em
direção ao Sam)

Major: Escute aqui, o senhor não tem vergonha?

Bill: Por que, por que eu não tenho vergonha? Se o senhor quiser...

Major: Eu estou vendo que vai ser muito difícil conversar com o
senhor nesse estado, senhor Cracker. Sente-se aí com calma,
nós temos tempo. O senhor quer beber alguma coisa?

Bill: Uísque!

Major: Não, isso o senhor não vai receber aqui. O senhor pode não
nos apreciar, mas nós também não apreciamos o uísque.

Bill: Vocês não gostam de uísque? Olhe, essa eu não entendo.

Major: Escute aqui, seu Cracker. O senhor é muito mais do que nós
todos aqui. Quando alguém lhe encontra pela rua, se desvia e
comenta: Aí vem o Cracker.
Bill: Senhor Cracker!

Major: Não. Apenas Cracker. Assim como se diz apenas Roosevelt. A


gente não fala: Aí vem o senhor Roosevelt, mas sim aí vem o
Roosevelt e tira-se o chapéu. Não é assim ?

Bill: É assim mesmo, sabe, Sam, quando ele tem razão, ele tem
razão mesmo. Aí vem o Roosevelt. Mas quando as pessoas
vêem o senhor também se desviam. Não tiram o chapéu, mas
apenas se desviam. Por que será, hein?

Major: Porque eu não sou ninguém.

Bill: Oh!

Major: Mas o senhor é alguém.

Bill: SEi. Escute aqui. O Roosevelt não é um pecador?

Major: Isso eu não sei. Eu sei que sou um pecador.

Bill: Eu também sou um pecador.

Major: O senhor não quer nos mostrar por que o senhor é um


pecador?

Bill: Eu sou um grande pecador!

Major: É, eu acredito, mas fique sentado. Aqui dentro faz menos frio
do que lá fora. Vamos cantar agora: “Não perca a fé”.

Bill: Ótimo.

Música número 6

Canção do exército da salvação III

“Não perca a fé”


Todos: (cantando, alguns chorando)

Não perca a fé!

Não perca a fé!

Mesmo perdido na podridão, Deus te ampara com compaixão.

Deus é paz, gozo e salvação.

Não perca a fé!

Não perca a fé!

Não perca a fé!

Bill: (Nervoso) Acabaram? O que é que vocês querem com isso?

Major: nós só queremos construir! (para um que chora) Meu caro,


você não quer nos contar o que foi que lhe aconteceu desde a
última vez em que viu a sua mãe? Foi sabe como ela está
agora, nesse momento? (o homem: Não) Será que ela não está
doente?

Bill: Deixe esse homem em paz! Pare de falar tanta besteira para
ele. Por falar nisso, eu não tenho mais mãe.

(o homem continua a chorar)

Major: Chore, meu filho, chore a vontade. Chorar faz bem.

Bill: Faz bem por que ? (o homem é conduzido aos bancos dos
penitentes) Hei, deixe esse homem em paz. (o homem se
ajoelha)

Major: (para Bill) E o senhor? E a sua mãe? O senhor por acaso ainda
tem uma foto sua de tempos atrás? O senhor deve ter mudado
muito com o tempo.

Bill: É claro.
Major: O senhor sabe qual é a sua aparência hoje?

Bill: Não.

Major: Conte para nós como o senhor era antes.

Bill: Não, eu não quero fazer isso.

Major: Está bem, nós vamos cantar agora “Em um berço tão
dourado”, com sinos.

Sam: (para alguém ao seu lado) Desculpe, podia me dizer as horas?

Alguém: São quatro e meia. (Sam sai)

Música número 7

Canção do exército da salvação IV

“Em um berço tão dourado”

Todos: A infância se passou

em um berço tão dourado

Mas agora tudo é triste,

Esse tempo terminou.

Jane: (sentando-se ao lado de Bill, para Bill) o que está faltando


irmão?

Bill: O que você quer dizer com isso? Vocês são todos uns cães
amestrados. Por que é que ficam olhando para cá? Sam, Sam!
(Sam sumiu)

Major: A segunda parte com sinos.

Todos: (cantando)
Mas os sinos já proclamam,

Com seu lindo repicar,

O final do sofrimento,

Os bons tempo vão voltar.

Bill: (enquanto repicam os sinos) Pra que todos esses sinos? Ei,
isso não é pra gente! Todo mundo deveria se levantar e
impedir isso. Bando de covardes! Eu não aguento mais isso!
Não posso fazer mais nada! Por que eles não param? Quanto é
que vocês querem para parar com isso? Tomem. POdem ficar
com todo o meu dinheiro!

Jane: Dê-me sua mão, irmão.

Bill: Por que você está segurando minha mão assim?

Hanibal: (coloca-se do outro lado) Pode colocar a cabeça nos meus


ombros.

Major: Fique relaxado.

Jane: Não fique assim todo duro.

Major: Nós estamos entre nós, irmão.

Bill: Mas, o que é que está acontecendo? Como é que isso vai
acabar? (ele vê a mosca) A mosca! Ei, sua raposa velha, você
chegou mesmo a tempo. Espero que você tenha trazido um
par de revolveres consigo. Esse lugar aqui é espetacular. Eu
estou sentado aqui, muito calmo, esperando por uma moça,
com a qual eu tenho que ter uma conversa muito importante.
Ai eles começam a tocar o órgão e a cantar até a gente não
entender mais nada - e neca da moça aparecer. (Para o major)
Aonde está a moça? Tudo começou por causa disso, seu
tocador de sinos.
Major: Nós tivemos que mandar a moça embora.

Bill: (Berra) O que, mandaram embora? Por que é que só agora


vocês estão me dizendo isso? Por que não me disseram logo?
Aí eu já punha abaixo essa joça de uma vez, e não fica
escutando essa porcaria toda, seu tocador de sinos. (sai
quebrando tudo)

Major: (gritando atrás dele) Você voltará, irmão! Agora, meus


queridos, vamos ouvir uma linda história, a história da
conversão exemplar de um vendedor de vinho. (para Hanibal)
Pode começar.

Música número 8

“A canção do vendedor de vinho”

Hanibal: Olhos turvos, pálpebras caídas

Lábios roxos, bafo de matar

Vendedor de vinho, gordo e branco

Dorme em cima da mesa do bar.

E ele sonha com o paraíso

E que está diante do Senhor

E então bebe uns conhaquinhos

Para o medo espantar

Todos: Peguem as armas! Alma em perigo!

Peguem as armas! Alma em perigo!


Hanibal e salvacionistas: E ele vê que nada vai salvá-lo

E ele cai rolando pelo chão

E ele sente a espada no pescoço

E ele treme e geme de aflição

E ele fica envergonhado

E ele ouve uma voz falar:

Deus viu, todos os seus pecados

E agora, hás de pagar

Todos: Peguem as armas! Alma em perigo!

Peguem as armas! Alma em perigo!

Jane: E ele acorda muito assustado

Todo encharcado de suor

E ele faz então um juramento:

Vendedor de vinho não serei

Pros velhinhos desesperados

Para os orfãos e aleijados

Vou doar meu sujo dinheiro

Que me trouxe a perdição

Todos: Alma redimida! Alma redimida!

Fim do segundo ato.


Terceiro Ato

( no Bill’s Bauhaus)

Projeção número 11

Na noite de natal do ano de 1911 a mosca deveria voar para dentro dos cofre
do L.C.D....

(os bandidos estão se preparando par o assalto. Vê-se fios por todos os
lados. Jimmy está ocupado com uma instalação elétrica. Sam
já vestido de mulher coloca um chapéu na cabeça e coloca pó
de arroz no rosto)

Jimmy: Eu não sei onde é que estou com a cabeça! Querem


economizar em tudo aqui - assim não é possível. Eu sou o
responsável pelo sistema de comunicação e me dão uma
porcaria dessas para trabalhar. Ainda por cima correndo o
risco de levar um choque. Se tivesse comprado o material que
eu lhe pedi eu faria um trabalho perfeito.

Sam: Você já acabou de instalar o sistema de comunicação pra a


mosca? Ela deve nos passar os álibis.

Jimmy: Olhe, eu estou experimentando, três coisas ao mesmo tempo


e além do mais não sei ainda se do Amylyndróxigenio do ácido
carbonico dá pra tirar o nitrato que eu preciso.

Johnny: Por que você não experimenta um pouco de uísque?

Jimmy: Não enche o saco, espere, me passa isso...

Sam: Você esqueceu os grampos de novo, Jimmy.

Jimmy: Desculpe.
Sam: Quando eu estava enrolando a combinação eles ainda
estavam aí. A gente não tem mais tempo pra ficar correndo
até a venda da esquina para comprar essas coisas.

Jimmy: Que merda de magneto! Nada que se faz hoje em dia presta!
Eu espero que a experiência com o cofre dê certo dessa vez!

Sam: Silêncio! Como é que se pode fazer um assalto se nem juntar


todo o material as pessoas conseguem?!

Jimmy: Segure isso aí. É só juntar esses dois fios e aí a gente vai
ouvir a voz da Mosca - pelo menos, eu espero... Pode ligar.
Aaai! pa-pa-pa-pa-re, pare, pare! ...(Jonny para) Ainda não!

Sam: Vamos apressar isso minha gente!

Jimmy: pronto, pode ligar agora. (Jhonny liga o aparelho) Agora a


Mosca pode falar. Atenção!

Mosca: (voz) Alô, alô! A Mosca está voando. Vocês vão encontrar as
bilhetes com os álibis na gaveta da mesa. Deixem Mammi
distribuir os bilhetes. Vocês têm três segundos para ler.

Sam: Muito simples - na gaveta. Essa mulher é um gênio! (Distribui


os bilhetes, todos lêem ao mesmo tempo)Mammi, viajar de
carro até Seginaw, com táxi n 352, testemunha o motorista
Lardner, que mora na Clerkstreet 111. Maravilha!

Johnny e Bob: Festa de aniversário do capitão Wolff- uma festinha bem


íntima, só para a família, Taftstreet 134. Testemunhas: toda
família Wolf.

Jimmy: Entre 10 e 10:30 na Fredericks Saloon, testemunhas: a


Senhora Potter, a proprietária e a garçon Edwards.

Sam: Agora a gente já está sabendo de tudo.


Mosca: (voz) À questão de uma hora atrás vi o Bill Cracker na sede do
Exército da Salvação cambaleando em direção ao banco dos
penitentes. A três passos dele estava o porteiro de L.C.D.?

Sam: (para os outros)Será que o Bill ainda deveria chefiar o assalto


à L.C.D.?

Mosca: (voz) Apesar do que aconteceu com o Bill no exército da


salvação, ele deverá chefiar o assalto. Vocês todos, mais o Bill
e o dinheiro, devem estar às 11:48h na estação, na plataforma
de trem que vai para Nova York. Atenção! Agora são
precisamente 9 horas e 37 minutos. 9:37h. (Voz da Mosca
desaparece. Jimmy desconecta os fios)

Sam: Parece que o Bill ainda vai tomar parte no negócio da L.C.D.,
mas eu acho que ele não vai durar muito. Daqui ha pouco vão
lhe pedir fogo. Será que dá pra ir assim? Como é que eu estou,
hem?

Johnny: Você não parece uma viúva de um funcionário público- parece


mais uma Madame de puteiro.

Sam: O puteiro da Mãe Goddam em Madelay.

Johnny: Cante essa pra gente:

Música número 9

“A canção de Mandelay”

Sam: Goddan tem um puteiro em mandelay,

Quantas camas tem lá eu não sei!

Isso eu chamo de zona pra valer,


E tantos esperando sua vez de ir foder!

Não bobeia, aproveita bem,

Todos têm sua vez em Mandelay!

Ah! Os homens que tem por aqui!

Ah! Quanto dinheiro tem aqui!

Lá todos têm pressa, ninguém dá moleza

E se alguém demora mais do que é normal

Leva um tiro certo e fatal!

Se não for assim a coisa vai bem mal!

Anda, Johnny,hay!

Anda, Johnny, hay!

Cante a canção de Mandelay!

O amor é bom, mas não pode esperar mais!

Johnny vai logo, é agora ou jamais!

Lua assim nem sempre tem por aqui Mandelay!

Lua assim nem sempre tem por aqui.

Não tem mais puteiro em Mandelay!

O que aconteceu lá eu não sei!

Isso já foi um puteiro pra valer

Ninguém tá esperando sua vez de ir foder

E quem bobeou perdeu a vez

Ninguém tem mais vez em Mandelay!


Ah! Os homens que tinham aqui!

Apesar de hoje ser tão necessário

Quanto era antes,antes de seu fim,

Não existe mais puteiro assim!

Hoje não tem briga,não têm nada mais!

Anda, Johnny,hay!

Anda, Johnny, hay!

Cante a canção de Mandelay!

O amor é bom, mas não pode esperar mais!

Johnny vai logo, é agora ou jamais!

Lua assim nem sempre tem por aqui Mandelay!

Lua assim nem sempre tem por aqui.

O amor é bom, mas não pode esperar mais!

Johnny vai logo,é agora ou jamais!

Lua assim nem sempre tem por aqui,Mandelay!

Lua assim nem sempre tem por aqui.

Bill: (Bill entra) Mas o que é que está acontecendo aqui?

(Para Sam) E você? Desse jeito todos os marinheiros

vão correr atrás de você, se te virem na rua.

Jimmy: (espantado) Ei, Bill...

Sam: Já chegou?

Johnny: Como é? Já voltou da tua conversão?


Bill: Mas que barulheira é essa que vocês estão fazendo, dá pra
explicar?

Sam: Coronhinha!

Bill: Te acerto uma...

Jimmy: Você acha que pode deixar todo mundo aqui te esperando,
como se fosse uma prima-dona? E chegar cinco minutos antes
de uma ação tão importante?

Bill: Justamente. Vocês têm que ficar experimentando até eu


chegar.

Johnny: Ah, pra que você possa ficar experimentando os bancos do


Exército da Salvação, não é?

Bill: Eu sento onde eu bem entender, ta ouvindo?

Sam: Não precisa gritar tanto.

Jimmy: Você pensa que nós não sabemos o que aconteceu com você?

Sam: Nós não temos tempo de ficar falando nisso agora.

Bob: (entrando) Parece que toda a polícia está se concentrando


nos passos do Bill, Bill você não pode sair com a gente, você
tem que ficar por aqui e só sair no mínimo, uns cinco minutos
depois de nós.

Bill: Bom, hoje à noite as 10:17 a Mosca vai voar pra dentro dos
cofres da L.C.D. . Eu espero que todos saibam exatamente
quais serão as suas posições. Conforme o previsto, eu vou
executar a parte número 5, isto é, eu atravesso o cordão
formado por vocês e tiro dos cofres o meio milhão em dinheiro
mexicano. Entenderam?

Sam: Entendi. Você vai chegar na hora?


Bill: Vou.
Jimmy: Com certeza?

Bill: Fora! E já!


Sam: Tchau pra você, Bill. (Todos menos Bill, saem)
Bill: Essa corja de canalhas!

Projeção nº12
...Aí está uma pobre mocinha expulsa do Exército da Salvação, derrubada por
uma conspiração a que trazia os criminosos de volta ao seio da
sociedade.

Lillian: (entrando, com uma maleta e um guarda-chuva, e sem


uniforme) Senhor Cracker, o senhor está espantado de me ver
aqui de novo? Só que agora eu não mais do Exército da
Salvação.

Bill: Ah, é!

Lillian: É que eu não tinha pra onde ir – eu não sabia o que fazer , nem
pra onde ir - pelo menos no momento – e aí eu pense: vou
procurar a o senhor Cracker.

Bill: Sei!É muito gentil da sua parte!É uma pena, mas infelizmente
não dá pra você ficar aqui. (começa a colocar uma barba
postiça)

Lillian: Quer dizer que hoje o senhor não pode precisa de mim. Eu
bem que imaginava isso, senhor Cracker.

Bill: Por que você imaginava isso, senhorita Holiday?

Lillian: O senhor vai sair logo?

Bill: Daqui a 4 minutos.

Lillian: Senhor Cracker, eu já sei o que o senhor vai fazer hoje à noite.

Bill: Ah é! E como você sabe? Hein?


Lillian: Eu ouvi o que o Sam lhe disse sobre aquilo que você têm que
fazer hoje à noite. Tire essa barba, Bill – isso é ridículo. Só dá
para dar risada! É uma besteira isso! Não faça isso,
justamente na noite de Natal.Pelo Amor de Deus, deixe isso.
Ponha a mão na consciência, pare à beira do abismo que se
abre à sua frete, não caia de volta nos seus antigos ideiais!

Bill: Senhorita Holiday, eu gostaria de lhe dizer uma coisa: Não se


meta nisso! Será que você sabe onde está?

Lillian: Como, aonde eu estou?

Bill: Você está aqui.

Lilian: No Bill’s Ballhaus.

Bill: Certo. No Bill’s Ballhaus. E o que mais? Aonde fica o Bill’s


Balllhaus?

Lillian: Na rua 44, esquina com a Kingslaystreet, em Chicago, se é


isso que o senhor que saber.

Bill: Está vendo – em Chicago! E agora vou lhe fazer uma segunda
pergunta, senhorita Holiday.

Lillian: Pode fazer senhor Cracker.

Bill: Quem é que o você acha que construiu essa cidade, essa
Chicago onde nós vivemos?

Lillian: As pessoas, eu acho.

Bill: As pessoas! Mas existem pessoas e pessoas. Que espécie de


pessoas?

Lilian: Todo mundo, o público.

Bill: Assim não dá, falta alguma coisa nesse seu raciocínio.
Chicago foi construída pelos homens – muito bem.
Naturalmente não por umas mocinhas. Essa Chicago,
senhorita Holiday, foi construída por homens e ninguém de
maneira alguma, em hipótese nenhuma, e sob quaisquer
circunstancias, conseguiu impedir que esses homens
construissem essa Chicago. Entendeu isso senhorita Holiday?
Como também não existe nada que possa impedir esse
homens, de maneira alguma, em hipótese alguma e sob
quaisquer circustâncias de botar abaixo essa cidade, essa
mesma Chicago, se isso lhes passar pela cabeça. Entendido?

Lilian: Para dizer a verdade, não entendi muito bem, senhor Cracker.

Bill: Eu pensei que você poderia concluir o final da história por


você mesma.

Lillia: Que final senhor Cracker?

Bill: Não se faça de ingênua, Srta. Holiday!...Ninguém vai conseguir


me impedir, Srta. Holiday, de maneira alguma.

Lillian: De maneira alguma?! (Olha constantemente para seu relógio)

Bill: É isso mesmo, Srta. Holiday.

Lillian: Está bem, está bem, senhor Cracker.

Bill: Srta. Holiday, eu queria lhe dizer que, talvez, eventualmente,


ou coisa parecida, bem, eu não queria dizer, que eu não tive,
um certo interesse por você – mas apesar disso como eu já
disse, não existe nada que possa impedir!

Lillian: Sei, sei. Seu Cracker, eu queria lhe perguntar mais uma coisa:
O senhor acha que a rua 44 já está falando de nós? Eu estou
perguntando porque os seus amigos...

Bill: Falando o que?

Lillian: Bem, eu sói estava achando, no fundo tanto faz.


Bill: Está vendo! Isso é típico de Srta. - começa a fazer, não diz
coisa com coisa, e fica tudo por isso mesmo...

Lillian: Ah Bill, não seja criança – você não vai. Você não está vendo
que você não vai? (Puxa uma poltrona em sua direção) Sente-
se aqui – bem confortável. Voce quer o seu uísque? Eu não sou
a favor do uísque, mas se você acha que isso é certo e pede:
eu quero meu uísque, eu não vou te impedir. Um homem é
sempre um homem e de certa maneira, irresistível. Nós
podemos começar e cantar alguma coisa.

Bill: Não, cantar não.

Lillian: Não, nada do Exército da Salvação – ouvir coisa.Pode ser


“Meu querido coração” ou “Os poderes do luar”, mas eu acho
melhor o “Surabaya-Johnny” – essa vai te interessar.

Bill: Não canta.

Lillian: Venha, sente-se aqui (Bill senta) Por que não o Surabaya –
JohnnyW

Bill: Não, eu não quero!

Lillian: Bem, então eu vou cantar o Surabaya- Johnny.

Mudança da Lua – Projeção nº 13

Música nº10

(A canção Surabaya – Johnny)

Lillian: Eu era uma criança quando te encontrei

Você de veio de Burma


E você disse: “Você gostaria de viajar?”

Você me prometeu até a Lua

Eu perguntei do que você vivia

E Deus é testemunha que você jurou

Que você trabalhava na ferrovia

E que nunca iria para o mar

Você falou muito, Johnny

Nenhuma palavra era verdade, Johnny

Você me traiu, Johnny, desde o começo

Eu te odeio, Johnny,

Não fique parado com este sorriso besta, Johnny!

Tire este cachimbo da boca, seu rato!

Surabaya, Johnny, porque você me trata tão mal?

Surabaya, Johnny, meu Deus, como eu te amo.

Surabaya, Johnny,porque estou me sentindo tão mal

Você não tem coração, Johnny, mas como eu te amo!

No começo sempre era domingo

Desde que eu te desse carinho

Mas apenas algumas semanas depois

Nada do que eu fazia dava certo

Nós íamos pra cima e pra baixo no Punjab

Pelo rio até o mar, mas agora,


Quando eu olho no espelho

Eu vejo uma cara toda encarquilhada

Você não queria amor, Johnny!

Você queria dinheiro, Johnny!

Mas os seus lábios, eu não posso esquecer

Você pedia tudo, eu não posso esquecer

Você pedia tudo, Johnny, e eu te dei até mais

Tira este cachimbo da boca se rato!

Surabaya, Johnny, porque você me trata tão mal?

Surabaya, Johnny, meu Deus, como eu te amo.

Surabaya, Johnny,porque estou me sentindo tão mal

Você não tem coração, Johnny, mas como eu te amo!

Eu devia ter prestado mais atenção

No seu apelido e no resto

Mas ao longo daquela horrível costa

Você era o hospede mais conhecido!

Numa manhã, numa cama barata,

Eu acordei com o barulho do mar

E o seu navio havia deixado o porto

E você nem acenou pra mim.

Você é cruel, Johnny! Você é um canalha, Johnny!

Por que você me abandonou, Johnny?


Eu te odeio, Johnny,

Não fique parado com este sorriso besta!

Surabaya, Johnny, porque você me trata tão mal?

Surabaya, Johnny, meu Deus, como eu te amo.

Surabaya, Johnny,porque estou me sentindo tão mal

Você não tem coração, Johnny, mas como eu te amo!

Mudança de Luz

(Bill está com os olhos marejados de lágrimas)

Lillian: A música te comoveu tanto assim, Bill?

Música nº 11

“A Canção da Noz dura”

Bill: Para ser um grande Homem

É preciso ser durão

E enfrentar os outros homens

Sam nenhuma compaixão


O forte vencer o fraco

É uma coisa tão normal

Não se iluda, meu amigo

Isso é muito natural

Não amoleça

Nunca, nunca amoleça

Não deixe o teu caminho o fraco atrapalhar

Ele reclama e sempre faz muito teatro

Mas não se deixe ele ficar de quatro

Não amoleça

Nunca, nunca amoleça

Não é preciso ser polido

Meta-lhe um pé de ouvido

Meta-lhe um pé de ouvido

Dama: ( A Mosca, disfarçada como um pequeno vendedor de jornais,


sai de trás do buffet, depois de ter ouvido a ultima parte da
canção) Me de fogo, por favor !

(Para Bill)

Bill: A Mosca? São 10:30 hs!

Lillian : Mas o que é que esse garoto quer aqui?

Dama : Me de fogo, por favor!(Para Lillian) Pegue as suas coisas e


deixe imediatamente a minha casa.
Lillian: A sua casa? Mas eu não fiz nada!Eu estava apenas cantando e
aí de repente ele começou a chorar...

Dama: (Para Bill) Fogo, por favor!

Bill: Por que fogo? Eu só fiquei um pouco sentado, só isso.(Olhando


o relógio)10:30h – agora já é tarde.

Dama: É tarde demais!

Bill: Meu Deus – e eu não estava lá!

Dama: Fogo, por favor!

Bill: Tá bom, te dou fogo! (ascende um fósforo ) Essas malditas


questões familiares! (sai)

Dama: (Para Lillian) Arrume as suas coisas e saia da minha casa.

Lillian: Está bem,já estou indo.Isso aqui não é alugar para mim. Eu
acho que vou voltar para o Exército da Salvação. Se eles não
me aceitarem mais como oficial, não faz mal – começo de
baixo de novo. Ninguém pode me jogar na rua na noite de
Natal. Eu também sou apenas uma pobre desgraçada! (sai).

Projeção nº14

O covil dos bandidos está abandonado

A Mosca se veste de novo como a dama de cinza, apaga a luz e espera no


escuro. Os bandidos estão voltando.

Sam: Bill!
Jimmy: Ele está aí?

Sam: (ascende a luz) Não, aqui não tem inguém.

Jimmy: Ele simplesmente não apareceu.

Bob: Eu deveria tê-lo visto.

Sam: E estou dizendo – além daquele menino vendendo jornais não


tinha mais ninguém por aqui. A gente nunca mais vai ver
aquele dinheiro.

Mosca: (De trás) O dinheiro está aqui.

Jimmy: A Mosca!

Sam: Agora eu sei quem era o vendedor de Jornais!

Mosca: Acertou.

Jimmy: Você conseguiu retirar o dinheiro?

Mosca: Consegui.

Jimmy: O Bill simplesmente não deu as caras.

Mosca: É, ele estava ocupado ouvindo uma canção.

Todos: Uma canção?

Mosca: Eu o encontrei banhado em lagrimas. ( Gritam: Não é possível!


Incrivel!) Meus senhores !eu pedi fogo ao senhor Craker.Meus
senhores! Vocês conhecem a historia de minha vida. Há cinco
anos que eu estou procurando o meu marido,o sargento de
policia Jackson,que desapareceu,para mim,agora,não me
importa mais nada.Meus senhores! Eu queria deixar claro que
o bando do Bill ‘s Ballhaus encontra- se em serio perigo –
talvez seja este o momento mais perigoso de sua
existência.Bill craker é um traidor.A qualquer momento ele
pode se sentar num banco de penitentes por aí e confessar o
que aconteceu em Chicago nesse ultimo meio ano e em
especial,o que aconteceu hoje a noite.

Sam: Mas isso é uma sacanagem!

Mosca: Meus senhores! Vocês Têm que pegar esse homem ainda essa
noite e silencia-lo.Antes que ele bote a boca no mundo...

Sam: Acho que tudo acabou para nós!

Jimmy: Só de ouvir que o Bill é um traidor,que o Bill é um traidor-me


da vontade de jogar tudo pro alto!

Johnny: Esse puto!

Sam: Se a gente conseguir acabar com ele ainda hoje,o que vai
acontecer amanhã!

Jimmy: Amanhã a policia vai nos pegar!

Mosca: Hoje não é amanhã...

Jimmy: Nós vamos todos parar no inferno!

Mosca: Pode ser,mas isso é só para amanhã! Hoje a gente ainda pode
fazer alguma coisa! Essas paredes ainda não são as paredes
de-sing –sing e (para Johnny) essas janelas ainda não tem
grades como na prisão da Columbia (para Jimmy) essa
cadeira aí,Jimmy,ainda não funciona a eletricidade.

Jimmy: Mas, e amanhã,o que vai ser amanhã!

Mosca: Amanhã!

(luz para canção)


Música nº12

(A balada do lírio do inferno)

Mosca: Se eu morrer e for pro inferno

Ninguém vai se importar

Se uma velha biriteira

Vai arder até queimar (bis)

Se eu morrer e for pro inferno

Ninguém vai se importar

Mas,porém: isso é só para amanhã

Hoje não é amanhã

Não me importa o amanhã

Não faça plano pra amanhã

Verdades de hoje não são as de amanhã

E todos batem as portas amanhã

E ninguém vai se importar

O amanhã á que se foda.

Se vocês estão pensando

Que fazem muito por mim

Estão muito enganados (bis)


Se vocês estão pensando

Que fazem muito por mim

Ouçam bem:

Não lamentem o meu destino

O amanhã, eu abomino

Não me importa o amanhã

Que se foda o amanhã

Não faça planos pra amanhã

Verdades de hoje não são as de amanhã

E todos batem as botas amanhã

E quem vai se importar?

Sam: O amanhã que se foda

Mosca: Quando para Jesus Cristo

Meus pecados confessar

É capaz é bem possível

Que ele vai me perdoar (bis)

Quando para Jesus Cristo

Meus pecados confessar

Mas, porém:

Isso vai ser o amanhã

Hoje não é amanhã

Não me importa o amanhã


Que se foda o amanhã

Não faça planos pra amanhã

Verdades de hoje não são as de amanha

E todos batem as botas amanhã

E ninguém vai se importar

O amanhã que se foda

(A luz da canção se apaga)

Mosca: Agora vamos! Procurem o nosso homem! Onde quer que ele
tenha se escondido, é lá que iremos acertar as contas com
ele.

Johnny: (com um assobio todos saem)

(Pequena cortina)

(No exercito da Salvação)

Projeção n° 15

Lilian: Para onde vocês acham que Bill foi? (Lilian está sentada no
banco, a esquerda, Jenny distribui pratos e percebe a
presença de Lilian. Jenny chama Hanibal.)

Hanibal: Mas isso é uma sem-vergonhice!

Jenny: (Para Hanibal) Ela simplesmente se sentou aí com os outros!


Eu vou chamar o Major. (Sai pela direita) A Lilian voltou!

Hanibal: Inacreditável! (Balança a cabeça)


Mary: Senhorita Holiday, o Major mandou dizer para senhora deixar
esse lugar imediatamente!

Lilian: Ah é?... Podem dizer ao Major que eu lhe mando um abraço e


diga pra ele também, que eu não passo de uma pobre
desgraçada!

(Mary sai, encontra com o Major na porta e quer lhe dizer algo
)

Major: Pst!...Então , Lillian, a final você se convenceu de que não


havia muito o que fazer no Bill’s Ballhaus, não é? (Lillian
quieta) Sinto muito, mas você não pode ficar aqui.

Mary: Ela disse que é uma pobre desgraçada, mas mesmo assim
nós não queremos vê-la aqui.

Lillian: Mas o que é que o senhor sabe? O senhor não sabe nada!
(Para si mesma) Também tanto faz (para o Major) Eu não tenho
nada. Eu não tive culpa. Eu sou a melhor daqui, eu sou a única
que sabe onde mora Deus. Vocês podem confiar em mim.

(Entra Bill)

Bill: Irmãos, irmãos, saúdem a chegada do senhor Cracker!(Senta-


se ao órgão e começa a a tocar e cantar: Uma canção de
boas vindas.). Por que vocês não estão cantando?(Para o
Major) Será que dava pra ficar aqui, morar aqui, para sempre?
Eu estou interessado na causa de vocês.

Lillian: Billl, é claro que você pode ficar aqui. Mas o que é que há?
Parecem bobos! Este é o senhor Cracker, propritetário do
Bill’s Ballhaus, o star da rua 44, um “star” tão grande como
Rockfeller – claro no seu ramo. E agora ele está se juntando a
nós, como um homem simples – e assim como ele virá toda
44. E eu sou a responsável por tudo isso!
Jimmy: (entrando) Ah, Bill, é aqui que você está? Boa noite. Até já!
( Corre para fora)

Bill: (Para Lillian)Escute, você acha que vão me jogar pra fora? Eu
não gostaria de ficar lá fora hoje a noite . Afinal hoje é noite
de Natal e aqui existe um pouco de calor humano.

Lillian: Voce pode ficar aqui o tempo que quiser, Bill.

Major: Srta. Lillian, eu receio que o Senhor Cracker não tenha vindo
até aqui porá causa da distribuição de presentes de Natal.
(Para Bill) Sente-ali.

Lillian: Aqui.

Bill: (num banco) Obrigado.

Lillian: Vocês não querem realmente festejar a chegada do seu


Cracker? Afinal não acontece os dias de uma pessoa como ele
juntar-se a nós! Fazer ele chegar até aqui foi uma façanha! Ele
apenas está querendo um pouco de calor ( Gritos : Fora!)Com
um pouco de tato a gene pode transformar qualquer
pessoa.Quando alguém não tem onde dormir todos se
purificam. (Gritos; Mas o que é que ela está dizendo?)Mas
minha gente, trazer pra cá , pra vir festejar junto a essa
raquítica árvore aqueles que podem se dar ao luxo de ir morar
num hotel, não é nda fácil. Isso aqui afinal não é um dos
lugares mais finos que existem. Isso eu já queria dizer há
muito tempo. Quando não se investe no negócio que se tem,
não dá esperar lucro nenhum! (Gritos: Aonde já se viu? O que
é que está acontecendo?)Quando se celebra a conversão de
um pecador, pessoa da mais poderosas, com uma bandinha
miserável e uns cinco gatos pingados, essa celebração não
causa nenhuma impressão ao pecador que está acostumado a
tomar o seu chá das cinco no Hotel Astoria, ouvindo a
Withman Salon Band. Se o céu que vocês oferecem não
oferecer mais que o Astoria, então não dá pra esperar que se
consiga muita gente assim para esse céu.Pois esses público
afinal, está acostumado a um outro nível e é esse público que
nós precisamos ter aqui.

Hanibal: Sem vergonha!

Jane: Era só o que faltava . Que mulher mais atrevida ! Ontem ela foi
mandada embora por causa de suas atitudes indecentes e
hoje ela está de volta , e ainda por cima com o noivo.

(Toca a campainha)

Lillian: Silêncio! Vamos cantar todos juntos. Agora!

Seja bem vindo oh hóspede tardio

Saúdem a chegada do irmão tardio (bis)

Dê-nos a sua mão

O que você já sofreu...

(A canção é interrompida. Entra o Bando de Bill’s Ballhaus)

Sam: Boa noite! (sentem-se, quietos ao lado de Bill) Boas Festas!

Major: Meus senhores! O que é que vocês querem aqui?

Sam: Nós queríamos festejarcom vocês. Não precisa ficar


preocupado.

Jimmy: Que árvore bonitinha vocês tem aqui!

Lillian: (coloca-se frente ao púlpito) Meus senhores! Vamos começar


a reunião! Meus senhores! Seu Worlitzer! Nós estamos
esperando por vocês , não é verdade, seu Major? Como é que
vão, Johnny e Bob? Jimmy, como é, tudo bem? Irmãos e irmãs,
essas são as pessoas da rua 44, que eu lhes falei. Elas estão
muito infelizes. Eu sabia que vocês acabariam infelizes pelo
tipo de vida que estavam levando...

Sam: Srta. Lillian, é isso mesmo. (Para Bill) Você não esteve lá, não
é?

Bill: Por que?

Sam: Você esteve lá por acaso?

Bill: Mas é claro que sim.

Sam: Por que você não respondeu?

Bill: Eu estava rouco!

Sam: Cadê o dinheiro?

Bill: Qual dinheiro?

Sam: Você sabe, o dinheiro.

Bill: O dinheiro está aqui.

Sam: Aqui, onde?

Bill: Aqui no bolso.

Lillian: O que é que vocês querem de seu Cracker em paz. Ele está no
melhor dos caminhos. Ele foi mais longe, senhor Cracker.

Sam: Sim, muito longe. E agora nós vamos acabar com ele. (Todos
se levantam. No mesmo instante Johnny, que está à janela, dá
um assobio)

Johnny: A polícia!

Inspetor: (Entrando) Arrombaram o cofre do L.C.D. hoje à noite.


Roubaram tudo o quer tinha lá dentro. Senhor Worlitzer onde é
que o senhor estava entre 10 hs e às 10:30hs?
Sam: Eu seu Inspetor? Das 10 às 10:30 hs ? eu estava num táxi indo
para Serginaw Táxi nº 263, testemunha o motorista Lardner,
que mora Ciankstreet, 111.

Inspetor: E o senhor, Reverendo?

Jimmy: Das 10 h às 10:30 h eu estava jogando um poquerzinho no


Fredericks Sallon; testemunhas: Sra. Potter, a proprietária e o
garçon Edwards.

Inspetor: (Para Johnny e Bob) E os senhores?

Bob e Johnny: (No mesmo tempo) Numa festinha da família do capitão Wolff,
Tartstreet 143 – Testemunhas: Toda a família Wolff.

Inspetor: (Não agüenta mais) Um assalto desses! E todos inocentes!

Sam: Seu inspetor, o senhor não quer perguntar ao senhor Cracker


sobre o caso do Governador?

Inspetor: E então, Bill?

Lillian: Ele é inocente, seu inspetor, ele é totalmente inocente.

Bill: Isso será difícil provar, enquanto o governador não ressuscitar


dentre os mortos. (Toca a campainha – de trás, entra o
Governador)

Lillian: (Grita) O Governador, seu inspetor, o Governador!

Governador: Boa noite. Não conseguiram me matar – o tiro passou de


raspão. Vocês me jogaram num canal que não era fundo. Eu
consegui escapar. Eu não estou morto, apenas levemente
ferido!

Inspetor: De novo nada!

(toca a campanhia)
Mosca: (entrando) Seu Cracker! Chegou a hora de acertamos as
contas!

(O bando se levanta, cercando Bill e apontando os revólveres)

Inspetor: Isso é uma ato de violência! Eu vou me retirar!

Lillian: Irmãos! Irmãos! Não permitam que o crime chegue até aqui.
Lutem como leões pelo pecador arrependido, que está sendo
ameaçado pelo crime.

Mosca: O destino é inexorável. A traição e o pecado devem ser


castigados.

(toque de clarim)

Hanibal: (grita) Saidie!

Mosca: (Vira-se, dá um grito e joga-se nos braços de Hanibal)


Hanibal...você é ....

Hanibal: O sargento Hanibal Jackson, que há cinco anos atrás


desapareceu na rua 44, durante uma batida de polícia , sem
deixar vestígio.

Todos: Não é possível!

Lillian: Bill, agora nós podemos nos casar!

Bill: Um momento! Eu quero pensar sobre o assunto! (Pensa)

Mosca: (Para Hanibal) Eu tenho uma pequena poupança.

Hanibal: Como é que você conseguiu?

Mosca: Fazendo costura à noite!

Bill: (Para Lillian) Aceito!

Sam: (Para Lillian) Srta. Holiday, será que daria para você dizer o
que nós vamos fazer agora?
Todos os outros: Sim, e nós? O que é que vamos fazer agora?

Lillian : É...vocês...não sei o que dizeer...O Exécito da Salvação! Mas


vocês não iriam querer isso.

Johnny: Eu acho que nós estamos preparados para isso!

Jimmy: Ganhar muito dinheiro nós vamos ganhar mesmo.

Sam: A vontade de viver se acabou!

Bob: Não nasci pra trabalhar!

Governador: Trocar a noite pelo dia!

Lillian: Venham para junto de nós para junto de nós. No Exército da


Salvação! É só experimentar. É só experimentar.!

Mosca: Vamos sentem-se no banco dos penitentes. Acabaram-se os


tempos dos biscates, dos macetes para arrombar cofres, das
mãos machucadas pelo esforço e onde no final só se achava
encontrando duplicatas e promissórias. Vocês agora não tem
mais vez! Agora é a vez das grandes empresas, que têm, os
bancos por trás. O que é um pé de cabra cmparado com uma
ação, o que é um assalto a um banco comparado com a
fundação de um Banco?

Todos: Nada!

Major: (Seguido de Jane e de Mary, entra o Major com o uniforme de


coloca-o na posição de quem vai ajudar Lillian e coloca-o na
posição de quem vai ajudar Lillian a vestir) Lillian o mérito é
todo seu!

Lillian: (Para Bill, enquanto Jane e Mary colocam-lhe um quepe) Bill,


você faz parte do nosso Exército da Salvação com esse
uniforme. Amanhã começaremos a nossa cruzada pela rua 45.
Você irá na frente com o tambor e eu com a bandeira.
Bill: Não, você leva o tambor e eu a bandeira.

Lillian: Não, você carrega o tambor e eu a minha velha bandeira!

Hanibal: Bravo!

Música nº 13

(O Pequeno tenente do Bom Deus)

Lillian: Todos alerta

Todos alerta

Todos alerta

Prestem bastante atenção

Por toda parte, desgraças

Gritos, miséria, aflição.

Parem o tráfego! Fechem os sinais!

Muitos estão sofrendo. Quem vai ajudar?

Será que ninguém vê?

Será que ninguém vê?

Eu sei que vocês dizem: “Nada vai mudar

no mundo a injustiça há de imperar”.

Mas nós dizemos: Vá pra batalha

Marchando sem temor, como os soldados


Com carros e tanques blindados

E com aviões pelo ar

E com torpedeiros no mar

Pra lutar por um prato de sopa para os pobres

Quando todos conosco marcharem

Então haveremos de vencer

Pois não deixaremos

Nenhum pecador se perder

Todos avante, eia com armas marchar!

Muitos precisam de ajudo – Quem vai ajudar?

Todos alerta

Todos alerta

Todos alerta

Prestem bastante atenção

Por toda a parte desgraças

Gritos, miséria, aflição

Parem o trafego! Fechem os sinais!

Coragem, estamos chegando prá vos ajudar

Ainda há tempo irmão

Escute o nosso brado de fé e salvação

Pois nós não te esquecemos

E não te abandonaremos
Nós vemos teu sofrer

Nós vemos teu sofrer

Não digam que o mundo, nunca vai mudar

Porque a injustiça há de acabar

Todos: Se todos forem para a batalha

Marchando sem temor, como os soldados

Com carros e tanques blindados

E com aviões pelo ar

E com torpedeiros no mar

Lillian: Pra lutar por um prato de sopa para os pobres

Quando todos conosco marcharem

Para os pobres ajudar

Os anjos dirão: Aleluia

Pois todos irão se salvar

Todos, avante, eia, com armas marchar!

Coragem, estamos chegando pra vos ajudar!

FIM

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