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MOVIMENTO HUMANISTA EM PSICOLOGIA

Prof. Augusto Prado Fiedler

Fundamenta-se na tradição fenomenológica e existencial em


filosofia

1. A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO HUMANISTA

Historicamente as idéias do Humanismo evoluíram desde a Idade


Renascentista, no século XVI, como antítese aos ultrapassados valores
medievais:

do “teocentrismo”: Deus é o centro do universo e tudo ocorre “por


Sua vontade”,

ao “antropocentrismo”: o Homem é o centro dos acontecimentos, que


ocorrem não “graças a Deus”, mas, graças à determinação humana para
atuar e modificar a realidade, de forma livre e responsável, despojado,
portanto, do cômodo papel de agente passivo frente ao mundo.

Na atualidade, mostra-se como uma resposta ao fato de que o Homem


contemporâneo se acha de tal modo assoberbado pelo rítmo acelerado de
suas descobertas científicas, avanços tecnológicos e progresso material
desordenado, que se distancia cada vez mais de si mesmo e de suas
relações humanas significativas.

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Algumas definições:

 Aurélio: “....... doutrinas que afirmam ser o Homem o criador dos


valores morais, que se definem a partir das exigências
concretas, psicológicas, histórias, econômicas e sociais
que condicionam a vida humana. ...”

 Abbagnano:“....... é toda a filosofia que faça do Homem, de


acordo com a antiga sentença de Protágoras, ‘a medida
das coisas’ ......”

 São Tomás, E. Kant, K. Marx, Max Scheler, entre outros:


doutrina que atribui ao ser humano, à sua realização na
sociedade e na história, considerado individual e
socialmente, o valor de fim, de forma a nunca ser
considerado como meio ou instrumento para algo
alienado de si (humanismo ético).

No final do século XIX e até meados do século XX, surgiram os


movimentos filosóficos que acrescentaram um grande destaque às idéias do
humanismo:
 o EXISTENCIALISMO

 a FENOMENOLOGIA

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Tais movimentos apresentavam-se como antítese às idéias
predominantes na época:

 do POSITIVISMO, de A. Comte (só é compreensível e possui


sentido real aquilo que pode comprovar-se pela
experiência objetiva; negação de toda a subjetividade,
intuição e introspecção).

 do EMPIRISMO, de J. Locke (a experiência é a fonte única do


conhecimento; a dimensão da realidade é tão somente
física, empírica).

1.1. Pressupostos básicos do EXISTENCIALISMO

“A existência precede à essência” (Sartre). O HOMEM é aquilo que ele decide


ser e não o resultado de um determinismo biológico/instintivo ou ambiental.

Ainda que o homem exista na história, ele não se reduz a seu papel
histórico; sua vida não é determinada historicamente. Ele é o autor de
sua história.

“O homem está condenado a ser livre!”(Sartre).


Ou seja, a escolher com ou sem razão, ou antes de qualquer razão e a decidir
arbitrariamente sua vida.

O engajamento e a responsabilidade são os valores mais


fundamentais da existência.

É ao ser que cabe dar sentido a sua existência, através de um projeto de vida
movido pela vontade própria.

O desenvolvimento humano é um processo contínuo de


aperfeiçoamento e integração; uma busca incessante de auto-
realização: tornar real o que é potencial em cada um.
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Autores importantes:
• Soren A. KIERKEGAARD: “Conceito de Angústia” (1844)
“Desespero Humano” (1849)

• Martin HEIDEGGER: “O Ser e o Tempo” (1927)


“Sobre o Humanismo” (1947)

• Karl T. JASPERS: “Filosofia Existencial” (1938)


“Psicopatologia Geral” (2 Vol., 1942)

• Jean Paul SARTRE: “O Ser e o Nada” (1943)


“O Existencialismo é um Humanismo”(1946)

• Martin BUBER: “Eu e Tu” (1923)

• Rollo MAY: “Psicologia Existencial” (1960)


“O Homem à Procura de Si Mesmo” (1971)

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1.2. Pressupostos básicos da FENOMENOLOGIA

A existência pessoal e subjetiva é o fundamento sobre o qual o conhecimento é


construído.

É a ênfase do ponto de vista do sujeito, afirmando sua subjetividade e


a relatividade do objeto.

O foco da fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o modo como o
conhecimento do mundo se dá e se realiza para cada pessoa. É, antes de tudo,
a visão do mundo que o indivíduo tem.

Os sentimentos experienciados pela pessoa não podem sofrer


interpretações, modificações, arbitrariamente determinadas por
modelos ou constructos teóricos.

O objetivo do método fenomenológico é apreender a essência das coisas


como surgem na consciência; é abstrair-se de crenças, ideologias,
A

preconceitos, julgamentos apriorísticos e entregar-se por inteiro, livre, sem


distorções.

Tal método consiste no estudo da experiência humana, tal como é


acessível à consciência, em relação à objetos e à significados. É um
retorno à intuição e à percepção da essência.

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O método fenomenológico na psicoterapia:

• A pessoa que busca ajuda psicológica – o cliente – é considerada


em função do objeto idealizado que em sua mente corresponde à
realidade; independente da situação objetiva em que está inserida e do
quanto sua percepção do senso comum dos objetos ideais que
predominam nas mentes das demais pessoas à sua volta.

Em suma, o psicoterapeuta deverá encontrar significado nos


objetos do mundo ideal de seu cliente – conhecer a “sua
realidade” – e, dessa forma, poder ajudá-lo construtivamente.

Autores importantes:

• Edmund HUSSERL: “Idéias para uma Fenomenologia” (1913)


• Maurice MERLEAU-PONTY: “Fenomenologia da Percepção”
(1945)

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1.3. EXISTENCIALISMO + Fenomenologia = Humanismo

O HUMANISMO é, portanto, uma filosofia de vida, uma atitude


compreensiva do ser humano e de seu processo de desenvolvimento.

Enfatiza:

a busca do significado da EXISTÊNCIA humana e das condições


onde possa ocorrer a auto-realização.

 a visão do ser humano em sua totalidade, integrando e interagindo


com outros seres humanos, infra-humanos e seu ambiente (visão
holística).

a consciência da liberdade para ser e escolher seus próprios


caminhos e, sem dúvida, assumir a responsabilidade por seu ser e
suas escolhas.

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Em resumo, uma atitude HUMANISTA reorganiza e sintetiza uma
visão de HOMEM com a adoção das seguintes proposições:

 Confiança na capacidade e potencialidade do HOMEM de


resolver seus próprios problemas, baseado na razão, na emoção
e na atitude científica de busca da verdade.

 Confiança na liberdade genuína de uma nova escolha criativa e


na ação do HOMEM, conduzindo seu próprio destino, no aqui-e-
agora, para além de seu condicionamento histórico.

 Confiança no HOMEM como uma forma evolucionária da


natureza, como uma unidade inseparável e integrada, em
contínuo processo de vir-a-ser.

 Confiança no questionamento de pressupostos básicos de


acordo com o método científico e aberto às novas experiências.

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2. CARACTERÍSTICAS DO ENFOQUE HUMANISTA EM
PSICOLOGIA.

Seus temas mais freqüentes são: a relação pessoa-pessoa, a


liberdade com responsabilidade, a escala individual de valores, o
sentido e o valor da vida, a ansiedade, o sofrimento, a angustia
existencial, as perdas e os ganhos existenciais, etc.

Seu método principal é o fenomenológico, para enfoque das experiências


humanas subjetivas e da conscientização.

Suas principais contribuições tem sido ao campo da teoria da


personalidade, psicoterapia e aconselhamento.

Sua preocupação básica é com a valorização da liberdade, dignidade e valor


do homem e no desenvolvimento do potencial inerente a cada um.

Dá ênfase às qualidades distintamente humanas: livre arbítrio,


criatividade, auto-avaliação e auto-realização em oposição a uma
visão reducionista, mecanicista e dicotomizante do homem.

Nesta perspectiva é central a visão da pessoa como um processo de


descoberta do seu próprio ser, ligando-se a outras pessoas e grupos.

– a Psicologia HUMANISTA tenta completar, somar, e não


substituir outras orientações, tais como: a psicanalítica, a neo-
behaviorista (cognitivo-comportamental), entre outras.

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3. ABRAHAM MASLOW e a “Terceira força” da Psicologia

Maslow (1908 –1971) foi um dos fundadores da Psicologia Humanista,


denominada de “a Terceira Força”, em 1958. Presidiu a Associação Americana
de Psicologia, de 1967 a 1970.

Trabalhou junto com Harry Harlow, Clarck Hull, Alfred Adler, Erich Fromm,
Karen Horney, Max Wertheimer e Victor Frankl.

PROPOSIÇÕES À RESPEITO DA NATUREZA HUMANA:

a) Cada ser humano possui uma natureza que é intrinsecamente herdada e


cuja tendência é realizar-se. Nela incluímos: necessidades básicas,
capacidades, talentos, múltiplas inteligências, criatividade, emotividade,
capacidade de amar, imaginação, entre outras potencialidades.

b) Parte da natureza humana é universal e parte é individual,


idiossincrática.

c) É possível estudar cientificamente parte da natureza humana e


descobrir suas características. Também se pode fazer de modo subjetivo,
através da introspecção e da psicoterapia; as técnicas se completam: os
métodos formal e informal ou dedutivo e indutivo.

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d) Grande parte da natureza interna é inconsciente. O material reprimido
permanece no entanto, como determinante parcial do comportamento. A
fonte de repressão pode ser externa ou intra-psíquica.

e) O núcleo interno da personalidade ou o EU é formado desde a mais


tenra idade. A vida é uma sucessão de escolhas onde há um determinante
pessoal preponderante.

f) A neurose resulta da negação, da frustração ou da supressão da


natureza íntima e autêntica da pessoa. A frustração de necessidades
básicas não é a única fonte de doença.

g) A saúde psicológica não é possível a menos que o núcleo essencial da


pessoa – o Eu – seja aceito, amado e respeitado pelos outros e pela própria
pessoa. Na criança, denomina-se “crescimento sadio”. No adulto, a saúde
psicológica tem várias denominações: auto-realização, maturidade
emocional, individuação, produtividade, autenticidade.

h) A auto-realização (self-actualization) é definida como a aceitação e


expressão do EU, na realização das capacidades latentes e das
potencialidades e pleno funcionamento: é tornar real o que é potencial.

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3.1. A teoria de Maslow é dirigida basicamente para a motivação humana,
especialmente para o homem em crescimento.

Maslow propõe uma hierarquia na qual se organizam as necessidades


humanas. Considera que entre a multiplicidade de motivos humanos existe
uma tendência a buscar uma necessidade mais elevada quando as inferiores
estão relativamente satisfeitas, isto é, possuem um grau aceitável de satisfação
uma vez que não existe plenitude de satisfação. Na base da hierarquia estão
as necessidades fisiológicas; a seguir, necessidades de segurança,de
pertencimento (amar e ser amado), auto-estima e estima dos outros
(respeito pessoal).

No ponto mais elevado da hierarquia se localizam as necessidades


ligadas a auto-realização, que incluem o desejo de conhecer e
compreender o mundo e as necessidades estéticas.

A pessoa em déficit (carência) com suas necessidades básicas


está voltada para sua segurança; a pessoa que as satisfez,
motivação por superávit (abundância) volta-se para sua auto-
realização ou crescimento.

A pessoa motivada por déficit tende a ser centrada em si


mesma; a pessoa motivada pelo crescimento é capaz de
centralizar-se nos problemas e perceber situações e outras
pessoas de modo mais objetivo.

A pessoa motivada por déficit deve depender dos


outros para ser auxiliada quando encontra
dificuldades – heteronomia; ao contrário, a pessoa
motivada pelo crescimento, é mais capaz de
auxiliar-se por si mesma – autonomia.

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3.2. Características de pessoas auto-realizadas:
(Motivation and Personality New York: Harper and Row, 1970)

1. “ Percepção mais eficiente da realidade e relações mais satisfatórias com ela

2. “ Aceitação (de si, dos outros, da natureza) ”

3. “ Espontaneidade, simplicidade, naturalidade ”

4. “ Concentração no problema”, em oposição em estar centrado no ego “

5. “Qualidade de desprendimento e necessidade de privacidade ”

6. “ Autonomia; independência em relação à cultura e ao meio ambiente ”

7. “ Intenção permanente de apreciação dos outros ”

8. “ Experiências místicas e culminantes ”

9. “ Sentimento de identificação com os outros ”

10. “ Relações interpessoais mais profundas e intensas ”

11. “ Estrutura de caráter democrático “

12. “ Discriminação entre os meios e os fins, entre o bem e o mal “

13. “ Senso de humor filosófico e não hostil “

14. “ Criatividade auto-realizadora “

15. “ Resistência à aculturação: transcendência a qualquer cultura específica. “

Maslow considerou “pessoas auto-realizadas”:


Abraham Lincoln, Albert Einstein,
William James, Albert Schweitzer,
Aldous Huxley, entre outros.

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3.3. Comportamentos que levam à auto-realização:
(The Father Reaches of Human Nature. New York: Viking, 1971)

a) Em primeiro lugar, auto-realização significa experienciar de


modo pleno, intenso e desinteressado, com plena concentração.

b) Se pensarmos na vida como um processo de escolhas, então a


auto-realização significa fazer de cada escolha uma opção para o
crescimento. Muitas vezes temos que escolher entre o crescimento e a
segurança, entre progredir e regredir. Escolher o crescimento é abrir-se
para experiências novas e desafiadoras, arriscar o novo e o desconhecido,

c) Realizar é tornar verdadeiro, existir de fato e não somente em


potencial. Assim, auto-realizar é aprender a sintonizar-se com sua própria
natureza íntima. Isto significa decidir com autonomia, independente das
idéias ou opiniões dos outros (Consciência Humanista – E. Fromm),

d) A honestidade e o assumir a responsabilidade de seus


próprios atos são elementos essenciais na auto-realização.

e) Os primeiros quatro passos ajudam-nos a desenvolver a


capacidade de “melhores escolhas de vida”. Aprendemos a confiar em
nosso próprio julgamento e em nossos próprios instintos e a agir em termos
deles.

f) Auto-realização é um processo contínuo de desenvolvimento das


próprias potencialidades. Isto significa usar suas habilidades e inteligência e
trabalhar para fazer bem aquilo que queremos fazer. Refere-se a um modo
contínuo de viver, trabalhar e relacionar-se com o mundo.

g) “Experiências culminantes” são momentos especialmente


felizes e excitantes na vida da pessoa. Em tais momentos pensamos,
agimos e sentimos mais clara e acuradamente. Amamos e aceitamos mais
os outros, estamos mais livres de conflitos interiores e ansiedade e mais
capazes de usar nossas energias de modo construtivo.

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h) Um passo além na auto-realização é reconhecer as próprias
defesas e então trabalhar para abandoná-las. Precisamos nos tornar mais
conscientes das maneiras pelas quais distorcemos nossa auto-imagem e a
do mundo exterior através da repressão , projeção e outros mecanismos de
defesa.

3.4. Os princípios da Psicologia Humanista e da Teoria de A. Maslow em


relação à Psicoterapia:

“Se eu tivesse que exprimir numa única frase o que a psicologia humanista
significou para mim, eu diria que constitui uma integração de Goldstein (e da
psicologia da Gestalt) com Freud (e as várias psicologias psicodinâmicas), o
todo combinado com o espírito científico que me foi ensinado pelos meus
professores na Universidade de Wisconsin”. (Introdução à Psicologia do SER.
Rio de Janeiro: Eldorado, 1968)

(Kurt Goldstein: O “organismo é um todo unificado, que é afetado na sua


totalidade pelo que acontece em qualquer uma das partes”.)

a) Um dos princípios da psicoterapia será mostrar que a vida é preciosa.


Se não existir alegria de viver não existirá valor em viver. As pessoas são
capazes de ter experiências culminantes, onde uma profunda alegria pode
ocorrer. Daí o encorajamento de situações onde possam sentir-se
competentes, importantes, solidários e criativos.

b) Outro importante objetivo da psicoterapia é ver se as necessidades


básicas da pessoa estão satisfeitas. Esta não pode alcançar auto-realização
enquanto suas necessidades de segurança, amor, dignidade, auto-estima e
respeito não estiverem satisfeitas. Em termos psicológicos, a pessoa está
livre da ansiedade quando sente-se amada, quando tem alguém que a
respeita e sabe que pertence ao mundo, e é querida pelos outros.

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c) Precisa ainda aprender a controlar seus impulsos, isto é, descobrir que o
controle não significa repressão. Adiar uma satisfação pode tornar mais
gratificante e prazerosa sua obtenção.

d) Transcender os pseudoproblemas e lidar com problemas realmente


importantes e existenciais.

e) A psicoterapia deverá auxiliar as pessoas a se observarem e desse


auto-conhecimento derivar um conjunto de valores. A pessoa em processo
de crescimento dirige-se para alvos que estão ligados a valores intrínsecos,
escolhidos pela pessoa como partes de si mesmo (Consciência
Humanista).

f) O psicoterapeuta deve ser mais receptivo do que intrusivo,


condicionador, acadêmico ou reforçador. Deve ser capaz de aceitar seus
clientes e auxiliá-los e apreender que tipo de pessoa cada um é, através de
uma atmosfera de aceitação da natureza da pessoa, que reduz o medo, a
ansiedade e a defesa ao mínimo possível.

g) Acima de tudo, o psicoterapeuta deve facilitar ao cliente a busca de seu


crescimento e auto-realização. Para tanto deve permitir sua auto-expressão,
deixá-lo ver-se. Isso pode estimulá-lo a trabalhar persistentemente,
absorvido numa tarefa de crescimento produtivo.

Finalmente, o psicoterapeuta precisa se dedicar a que o cliente possa


encontrar-se consigo mesmo, descobrir sua identidade, seu verdadeiro “eu”.
O encontro profundo da identidade, do estilo próprio de ser de cada um, leva o
indivíduo à descoberta não só de si mesmo como uma entidade única, como de
sua similaridade dentro da espécie humana, daquilo que possui em comum
com a humanidade.

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4. CARL R. ROGERS E A ABORDAGEM CENTRADA NA
PESSOA

Dados biográficos:

- Rogers (1902 – 1987) pertenceu uma família cuja formação religiosa era
muito rigorosa e crítica em relação ao senso comum da sociedade.

- Infância vivida em isolamento no seio familiar.


“ Era socialmente incompetente em qualquer tipo de contato que não fosse
superficial. ... Minhas fantasias eram nitidamente bizarras e se viessem a
ser diagnosticadas, provavelmente seriam classificadas como esquizóides,
mas felizmente nunca cheguei a entrar em contato com nenhum psicólogo.”

(Rogers, 1973, p.197)

- Libertou-se dos condicionamentos culturais familiares na Universidade


de Wisconsin:

“ Pela primeira vez em minha vida encontrei aproximação e intimidade reais


longe de minha família. “ (Rogers, 1967, p. 349)

- No segundo ano de Faculdade foi para a China assistir a uma conferência


da “Federação Mundial de Estudantes Cristãos”. Em seguida excurcionou
pela China:
“ A partir desta viagem, meus objetivos, valores, propósitos e minha
filosofia passaram a ser os meus próprios, bastante divergentes das
opiniões sustentadas por minha família... “ (Rogers, 1967, p. 351)

- Iniciou seus estudos em Teologia no Union Theological Seminary, mas


optou por terminar sua graduação em Psicologia no Teachers College, na
Universidade de Colúmbia.

- Seu primeiro emprego foi em Rochester, New York, no Centro de


Orientação Infantil (12 anos).

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- Em Rochester escreveu o livro “The Clinical Treatment of the Problem
Child” (1939) o que lhe abriu o trabalho como professor na Universidade de
Ohio.

- Em 1945 foi para a Universidade de Chicago para chefiar o Centro de


Aconselhamento Psicológico, até 1957. Escreveu o livro “Terapia Centrada
no Cliente” (1951). Enfrentou dificuldades pessoais e profissionais e
submeteu-se à Terapia com um de seus colegas.

- Em 1957 foi para a Universidade de Wisconsin como professor de


psicologia. Entrou em conflito com o Departamento de Psicologia: sentia
que a liberdade para ensinar, assim como a liberdade para aprender dos
estudantes estavam sendo limitadas.
“ Gosto de viver e deixar que vivam, mas quando não permitem que meus
alunos vivam, esta experiência se torna pouco satisfatória. ” (Rogers, 1970,
p. 528)

- Alguns pressupostos que Rogers não concordava eram:


“ Não se pode confiar em que o estudante busque sua própria
aprendizagem profissional e científica. ”
“ Avaliação é Educação; Educação é Avaliação. “
“ A exposição da matéria é igual à aprendizagem: o que é apresentado na
lição é o que o estudante aprende. “ (Rogers, 1969, p. 165)

- Escreveu “Tornar-se Pessoa”, em 1961.

- Em 1963, foi para o recém-fundado “Instituto de Ciência do


Comportamento” em La Jolla, Universidade da Califórnia, onde fundou o
“Centro de Estudos da Pessoa”. Escreveu “Liberdade para Aprender”, em
1969.

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- Resume sua própria posição citando Lao-Tsé:
“ Se eu deixar de interferir nas pessoas, elas se encarregam de si mesmas,
Se eu deixar de comandar as pessoas, elas se comportam por si mesmas,
Se eu deixar de pregar às pessoas, elas se aperfeiçoam por si mesmas,
Se eu deixar de me impor às pessoas, elas se tornam elas mesmas. “
(Rogers, 1973, p. 206 na Ed.
Bras.)

Citações bibliográficas:

Rogers, C. R., 1939. The Clinical Treatment of the Problem Child


Boston: H. Mifflin

1951. Terapia Centrada no Cliente. Lisboa: Moraes Editores


e São Paulo: Martins Fontes Editora, 1975

1961. Tornar-se Pessoa Lisboa: Moraes Editora e


São Paulo: Martins Fontes Editora, 1976

1967. In: E. Boring e S. Lindsey, History of Psychology in


Autobiography, Volume 5
New York: Appleton-Century-Crofitá

1969. Liberdade para Aprender


Belo Horizonte: Interlivros, 1973

1970. Com J. Hart, in: New Directions of Client-Centered


Therapy Boston: H. Mifflin

1973. In: A Pessoa como Centro


São Paulo: Edusp, 1977

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5. A IMPORTÂNCIA DA “EXPERIÊNCIA” NA COMPREENSÃO
DO HUMANO em C. R. Rogers

Premissa fundamental: as pessoas usam sua própria experiência para se


definir.

Alguns aspectos que se “integram nas categorias pessoais dos meus valores e
das minhas convicções” (Rogers, 1961, p.28 – 39), à seguir:

- “Nas minhas relações com as pessoas descobri que não ajuda, a


longo prazo, agir como se eu não fosse quem sou. ”
“Não serve de nada agir calmamente e com delicadeza num momento em que
estou irritado e disposto a criticar. ... ... agir como se soubesse as respostas
dos problemas quando as ignoro. ... ... agir como se sentisse afeição por uma
pessoa quando nesse determinado momento sinto hostilidade para com ela. ...
... agir como se estivesse cheio de segurança quando me sinto receoso e
hesitante. ... ... Não me serve de nada agir como se estivesse bem quando me
sinto doente.”

- “Descobri que sou mais eficaz quando me posso ouvir a mim mesmo
aceitando-me e quando posso ser eu mesmo.”
“ ... ... conseqüência desta aceitação de mim mesmo é que as relações se
tornam reais. As relações reais tem o caráter apaixonante de serem vitais e
significativas. Se eu posso aceitar o fato de estar irritado ou aborrecido com um
paciente ou com um estudante, então sou capaz de me dispor muito melhor
para aceitar as reações que a minha atitude provoca.”

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- “Atribuo um enorme valor ao fato de poder permitir-me a mim mesmo
compreender uma outra pessoa.”
“Se me permito a mim mesmo compreender, na realidade, uma outra pessoa, é
possível que essa compreensão acarrete uma alteração. E todos nós temos
medo de mudar. Por isso, como afirmei, não é fácil permitir a si mesmo
compreender outra pessoa, penetrar inteiramente, completamente e com
simpatia no seu quadro de referência. É mesmo uma coisa muito rara.”

- “Verifiquei que me enriquece abrir canais através dos quais os outros


possam comunicar os seus sentimentos, a sua particular percepção
do mundo.”
“Consciente de que a compreensão compensa, procuro reduzir as barreiras
entre os outros e eu, para que eles possam, se for esse o seu desejo, revelar-
se mais profundamente.”

- “É sempre altamente enriquecedor poder aceitar outra pessoa.”


“Qualquer pessoa é uma ilha, no sentido muito concreto do termo; a pessoa só
pode construir uma ponte para comunicar-se com os outros se primeiramente
se dispôs a ser ela mesma e se lhe é permitido ser ela mesma. Descobri que é
quando posso aceitar uma outra pessoa, o que significa especificamente
aceitar os sentimentos, as atitudes e as crenças que a constituem como
elementos integrantes reais e vitais, que eu posso ajudá-la a tornar-se pessoa:
e julgo que há nisto um grande valor.”

- “Quanto mais aberto estou às realidades em mim e nos outros, menos


me vejo a tentar a todo o custo remediar as coisas. ”
“ Quanto mais eu tento ouvir-me e estar atento ao que experimento no meu
íntimo, quando mais procuro ampliar esta mesma atitude de escuta dos outros,
maior respeito sinto pelos complexos processos da vida. É esta a razão por
que cada vez me sinto menos inclinado a remediar as coisas a todo o custo,
marcar os objetivos, modelar as pessoas, manipulá-las e impeli-las no caminho
que eu gostaria que seguissem. “

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- “Posso ter confiança na minha experiência.”
“ Um dos princípios fundamentais que levei muito tempo a reconhecer e que
continuo ainda a aprofundar é a descoberta de que, quando sinto que uma
atividade é boa e que vale a pena prossegui-la, devo prossegui-la. Por outra
palavras, aprendi que a minha apreciação total <<organísmica>> de uma
zsituação é mais digna de confiança do que o meu intelecto. “

- “A apreciação dos outros não me serve de guia.”


“Os juízos dos outros, embora devam ser ouvidos, e tomados em consideração
pelo que são, nunca me poderão orientar. Foi uma coisa que tive dificuldade
em aprender. ... ... acabei por achar que apenas uma pessoa pode saber que
eu procedo com honestidade, com aplicação, com franqueza e com rigor, ou se
o que faço é falso, defensivo e fútil. E essa pessoa sou eu mesmo. “

- “A experiência é, para mim, a suprema autoridade.”


“ A minha própria experiência é a pedra de toque de toda a validade. Nenhuma
idéia de qualquer outra pessoa, nem nenhuma das minhas próprias idéias, tem
a autoridade que reveste a minha experiência. É sempre à experiência que eu
regresso, para me aproximar cada vez mais da verdade, no processo de
descobri-la em mim.

Nem a Bíblia, nem os profetas – nem Freud, nem a investigação - nem as


revelações de Deus ou dos homens – podem ganhar precedência
relativamente à minha própria experiência direta.”

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- “Sinto-me satisfeito em descobrir uma ordem na minha experiência.”
“Parece-me inevitável procurar uma significação, uma ordem e uma
legitimidade em toda a acumulação de experiência. Foi esta curiosidade que
me levou a procurar uma determinada ordem no enorme amontoado de dados
clínicos sobre a criança, incitando-me a publicar meu livro The Clinical of the
Problem Child. Ela levou-me a formular os princípios gerais que julgo serem
pertinentes em psicoterapia, coisa de que dão testemunho inúmeros livros e
revistas.”

- “Os fatos são amigos.”


“Sempre experimentei um grande interesse pelo fato de a maior parte dos
psicoterapeutas, de modo particular os psicanalistas, se terem sempre
recusado a efetuar um estudo científico da sua terapia ou a permitir que outros
o fizessem. Sou capaz de compreender essa reação porque eu próprio a
senti.... ... ... ... O mínimo esclarecimento que consigamos obter, seja em que
domínio for, aproxima-nos muito mais do que é a verdade. Ora, aproximar-se
da verdade nunca é prejudicial, nem perigoso, nem incômodo.”

- “Aquilo que é mais pessoal é o que há de mais geral.”


“Acabei por chegar à conclusão de que aquilo que há de único e de mais
pessoal em cada um de nós é o mesmo sentimento que, se fosse partilhado ou
expresso, falaria mais profundamente aos outros. Isso permitiu-me,
compreender os artistas e os poetas como pessoas que ousam exprimir o que
há de único neles.”

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- “A experiência mostrou-me que as pessoas tem fundamentalmente
uma orientação positiva.”
“Nas minhas relações mais profundas em psicoterapia, mesmo com aqueles
que apresentavam as mais perturbantes atitudes, com aqueles cujo
comportamento era o mais anti-social possível, com aqueles cujos sentimentos
eram menos normais, a afirmação continua a ser verdadeira. Quando consigo
efetivamente compreender os sentimentos que exprimem, quando sou capaz
de aceitá-los como personalidades distintas, como é seu direito nessa altura
vejo, que tendem a orientar-se em determinadas direções. ... ... As palavras
que julgo descreverem com maior verdade essa direção são palavras como:
positiva, construtiva, tendente à realização da pessoa, progredindo para a
maturidade e para a socialização. Acabei por me convencer de que quanto
mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior tendência tem para
abandonar as falsas defesas que empregou para enfrentar a vida, e para
progredir numa via construtiva.

Eu não gostaria de ser mal compreendido. Não tenho uma visão ingenuamente
otimista da natureza humana. Tenho perfeita consciência do fato de que, pela
necessidade de se defender dos seus terrores íntimos, o índivíduo pode vir a
comportar-se de uma maneira incrivelmente feroz, horrorosamente destrutiva,
imatura, agressiva, anti-social, prejudicial. Mas não deixa de ser verdade que o
trabalho que levo a cabo com indivíduos desse gênero, a pesquisa e a
descoberta das tendências que estão orientadas muito positivamente neles
todos, ao mais profundo nível, constituem um dos aspectos mais animadores e
revigorantes da minha experiência.”

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- “A vida, no que tem de melhor, é um processo que flui, que se altera e
onde nada está fixado."
“É nos meus pacientes e em mim mesmo que descubro que a vida é mais rica
e mais fecunda quando aparece como fluxo e como processo. Esta descoberta
provoca uma fascinação e, ao mesmo tempo, um certo temor. Quando me
deixo levar pelo fluir da minha experiência que me arrasta para a frente, para
um fim de que estou vagamente consciente, é então que me sinto melhor.
Vogando assim ao saber da corrente complexa das minhas experiências,
tentando compreender a sua complexidade em permanente alteração, torna-se
evidente que não existem pontos fixos. Quando consigo abandonar-me
completamente a esse processo, é claro que não pode haver para mim
nenhum sistema fechado de crenças, nenhum campo imutável de princípios a
que me agarrar. A vida é orientada por uma compreensão e por uma
interpretação variáveis da minha experiência. A vida é sempre um processo de
devir. ... ...

Penso que é agora possível ver claramente porque razão não existe filosofia,
crença ou princípios que eu possa encorajar ou persuadir os outros a terem ou
a alcançarem. Não posso fazer mais do que tentar viver segundo a minha
própria interpretação da presente significação da minha experiência, e tentar
dar aos outros a permissão e a liberdade de desenvolverem a sua própria
liberdade interior... ...”

Referência bibliográfica: Rogers, C. R., 1961. Tornar-se Pessoa.

São Paulo: Martins Fontes Editora, 1976.

UnG – Universidade Guarulhos 25


6. AS “PROPOSIÇÕES” PARA UMA TEORIA DA CONDUTA, em
C. R. Rogers.

Concepção de ser humano:

a) Crença na dignidade humana.

Rogers acredita firmemente na dignidade e valor de cada indivíduo. Ele


afirma que o homem é capaz de fazer suas escolhas e tomar suas próprias
decisões e respeita o direito de cada um fazê-lo.

b) Predomínio da subjetividade.

“O homem vive, essencialmente, em seu próprio mundo pessoal e subjetivo


e mesmo sua atuação mais objetiva, nas ciências, nas matemáticas e em
outros setores semelhantes é consequência de um propósito e de uma
escolha subjetivos.” (Rogers, 1959 a, p. 191)

c) Tendência à Realização.

É definida como “a tendência inerente de um organismo para desenvolver


todas as suas capacidades de modo a servir para manter-se ou
desenvolver-se.” (Rogers, 1959, p.196 )

Rogers sugere que em cada um de nós há um impulso natural, em direção


a sermos competentes e capazes quanto o que estamos aptos a ser
biologicamente. Assim como uma planta que tenta torna-se saudável, como
uma semente que contém dentro de si o impulso para se tornar uma árvore,
também uma pessoa é impelida a se tornar uma pessoa total, completa e
auto-realizada.

UnG – Universidade Guarulhos 26


Em suma:

- A tendência à realização é a principal força motivadora do organismo


humano,

- É uma função de todo organismo, não somente de parte dele.


Embora o organismo possa procurar alimento ou sexo em um dado
momento, ele característicamente os procura de maneira a aumentar
sua auto-estima e não diminuí-la, assim como a outros objetivos pelos
quais luta. A hierarquia de necessidade de Maslow é similar à
concepção de Rogers, mas não idêntica,

- A vida é um processo ativo e não passivo. Rogers vê o organismo


como um “iniciador ativo e direcional” e rejeita o conceito de vida do
“organismo vazio”, significando que nada intervém entre estímulo e
resposta. Além disso, ressalta a tendência do homem para o
crescimento físico, maturação (como uma criança aprendendo a andar),
necessidade de íntimos relacionamentos interpessoais (“o homem é
incuravelmente social”) e sua tendência de adaptar-se ao seu ambiente
– procurar autonomia e fugir do controle externo,

- O homem tem a capacidade e a tendência ou motivação para


realizar-se. Essas capacidades, muitas vezes mais latentes do que
evidentes, são liberadas sob as condições apropriadas. A teoria da
terapia tenta especificar as condições que permitem a ocorrência do
crescimento e desenvolvimento da pessoa (congruência, aceitação
incondicional e empatia).

UnG – Universidade Guarulhos 27


d) O homem é digno de confiança.

Para Rogers o homem é basicamente bom e digno de confiança.


Entretanto, com certeza, está muito consciente de que o homem às vezes se
comporta de modo indigno de confiança, às vezes até de modo muito
destrutivo. O homem é certamente capaz de enganar, odiar, ser cruel e
destrutivo. Mas Rogers vê todas essas características desagradáveis como
resultados de uma posição defensiva que aliena o homem de sua própria
natureza, assim como, o produto de um “pervertido condicionamento social.”
À medida que essa atitude de defesa diminui e ele se torna mais
sensivelmente aberto a todas as suas experiências organísmicas, o homem
tende a comportar-se de modo social e digno de confiança.

e) O homem é mais sábio do que seu intelecto.

Estritamente relacionada com a citação acima, Rogers acredita que o


homem é mais sábio do que seu intelecto, mais sábio do que seu
pensamento consciente. Quando o homem está atuando não-
defensivamente e de forma produtiva, ele confia em sua reação organísmica
total, o que, muitas vezes, resulta em julgamentos melhores, embora mais
instintivos do que o pensamento consciente por si só. (vide a noção de
inconsciente, em Freud e Jung...!)

f) Cada pessoa tem seu próprio mundo particular de experiência:


CAMPO FENOMENAL OU EXPERIENCIAL.

“ 1- Todo indivíduo existe num mundo de experiências em contínua


mudança, do qual ele é o centro.” (Rogers, 1951, p. 483)

Este é o mundo particular da experiência de cada indivíduo e é, às vezes,


chamado fenomenal ou o campo experiencial.

UnG – Universidade Guarulhos 28


“ 2- O organismo reage ao campo do modo como o vivencia e o percebe.
Este campo perceptual é, para o indivíduo, a “realidade.” (Rogers, 1951,
p.84)

“ 3- O comportamento é fundamentalmente uma tentativa do organismo


para satisfazer suas necessidades como vivenciadas, no campo como ele o
percebe. Esta tentativa é dirigida a objetivos.” (Rogers, 1951, p. 484)

“ 4- O melhor ponto para observar o comportamento é o quadro de


referência interno do próprio indivíduo.” (Rogers, 1951, p. 494)

Rogers pretende nessas proposições ressaltar que somente o próprio


indivíduo pode conhecer seu mundo de experiência de modo completo e
genuíno. Jamais poderemos conhecer a plena experiência de outra pessoa.
Dessa forma, entender um outro indivíduo através do seu próprio quadro
de referência é concentrar-se na realidade subjetiva que existe na
experiência do indivíduo em qualquer momento. É necessário empatia para
alcançar esse entendimento.

Referências bibliográficas:

Rogers, C. R.,1951, Terapia Centrada no Cliente.

São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1975.

Rogers, C. R. e Kinget, G. M., 1959, Psicoterapia e Relações Humanas.

Belo Horizonte: Interlivros, 1977, Vol. 1.

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7. A TEORIA DO SELF E O COMPORTAMENTO em C. R. Rogers

Premissa básica:
“..... A maioria dos modos de comportar-se adotados pelo organismo
são os consistentes com o conceito do eu” (Rogers, 1951, p. 507)

O auto-conceito, o SELF ou estrutura do eu é um importante


constructo para o sistema teórico centrado-no-cliente. Para Rogers, é um
conceitual gestáltico organizado, que consiste na percepção descritiva (auto-
imagem) e avaliativa (auto-estima) que o indivíduo tem de si mesmo sozinho
e de si mesmo em relação a outras pessoas e objetos em seu ambiente. O
auto-conceito nem sempre está na consciência, mas sempre existe para ela.
Isto é, o auto-conceito, por definição, não considera a imagem e a avaliação
que o indivíduo faz de si mesmo inconscientemente, ou seja, que não estão ao
alcance da consciência. O auto-conceito é considerado fluido, mais um
processo do que uma entidade, mas, em um dado momento, é uma entidade
fixa.

O auto-conceito, apresentado de modo mais informal, é a figura que o


indivíduo tem de si próprio, juntamente com sua avaliação dessa figura:

Auto-imagem + Auto-estima = Auto-conceito ou SELF

A maior parte do comportamento adotado por uma pessoa é consistente


com seu auto-conceito, ou seja, o comportamento decorre da convergência
entre o SELF e a experiência.

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O SELF é seletivo!

“XI) À medida que vão ocorrendo experiências na vida de um indivíduo,


estas são: a) simbolizadas, apreendidas e organizadas numa certa relação com
o ego; b) ignoradas porque não se capta a relação com a estrutura do ego; c)
recusadas à simbolização ou simbolizadas de uma forma distorcida porque a
experiência é incoerente com a estrutura do ego.” (Rogers, 1951, p. 486)

As experiências compatíveis com o SELF são admitidas dentro do


campo fenomenológico (ou campo experiencial) da pessoa e atribuem
significado à sua percepção da realidade.

Aquelas incompatíveis são defensivamente excluídas ou deformadas


em sua “realidade”.

Essa seleção de experiência aceitas e não-aceitas, indica o grau de


“abertura à experiência” da pessoa frente ao mundo.

Podemos dizer, então, que determinada pessoa “tem uma ampla visão
do mundo”ou, ao contrário, “está confusa ou, mesmo, cega na sua percepção
da realidade”.

A reorganização do SELF é um dos objetivos primordiais da


psicoterapia centrada-no-cliente.

O SELF é formado através das experiências de relacionamento


interpessoal desde a mais tenra idade: ligação afetiva com a mãe, com a
família, na escola, na rua, na igreja, no clube, etc., estimulações presentes e
expectativas futuras.

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O SELF de uma pessoa pode variar dentro de um “continuum” entre o
SELF positivo e SELF negativo. O SELF positivo expressa:

• Congruência interna (fidelidade consigo próprio);


• Sentido de respeito pessoal e dignidade;
• Consciência de liberdade e independência;
• Sentido de autonomia;
• Confiança em si mesmo;
• Sentido de produtividade pessoal e competência;
• Maior definição de identidade;
• Capacidade de amar, tornar-se íntimo, solidarizar-se;
• Compromisso em assumir responsabilidade e engajamento;
• Aceitação do próprio momento histórico;
• Uma maior experiência “organísmica”;
• Percepção realística do mundo.
O SELF ideal:
É “o conjunto das características que o indivíduo mais gostaria de poder
reclamar como descritivas de si mesmo” (Rogers, 1959, p.165 na ed. bras.).
Assim como o SELF, ele é uma estrutura móvel e variável, que passa por
redefinição constante. A extensão da diferença entre o SELF e o SELF ideal é
um indicador de desconforto, insatisfação e dificuldades neuróticas. Aceitar-se
como se é na realidade, e não como se quer ser, é um sinal de saúde mental.
Aceitar-se não é resignar-se ou abdicar de si mesmo; é uma forma de estar
mais perto da realidade, de seu estado atual. A imagem do SELF ideal, na
medida em que se diferencia de modo claro do comportamento e dos valores
reais de uma pessoa é um obstáculo ao crescimento pessoal.
SELF = Como eu sou?
SELF ideal = Como eu gostaria de ser?

Referências Bibliográficas:
Rogers, C. R.,1951, Terapia Centrada no Cliente.

São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1975.

Rogers, C. R. e Kinget, G. M., 1959, Psicoterapia e Relações Humanas.

Belo Horizonte: Interlivros, 1977, Vol. 1.

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8. CONGRUÊNCIA E INCONGRUÊNCIA ENTRE O EU E A
EXPERIÊNCIA (SAÚDE E DOENÇA) em C. R. Rogers

CONGRUÊNCIA:

É definida como o grau de convergência entre a experiência da


comunicação e a tomada de consciência. Ela se relaciona às discrepâncias
entre experienciar e tomar consciência. Um alto grau de congruência significa
que a comunicação (o que você está expressando), a experiência (o que você
está ocorrendo em seu campo fenomenológico) e a tomada de consciência (o
que você está percebendo) são todas semelhantes.

Crianças pequenas exibem alta congruência. Expressam seus


sentimentos, logo que seja possível, com o seu ser total. Quando uma criança
tem fome ela toda está com fome, neste exato momento! Quando uma criança
sente amor ou raiva, ela expressa plenamente essas emoções.

A congruência é bem descrita por um Zen-budista ao dizer: “Quando


tenho fome, como; quando estou cansado, sento-me; quando estou com sono,
durmo.”

É fidelidade consigo mesmo e, consequentemente, com os outros. É


um estado de acordo interno, de harmonia.

“XV) A adaptação psicológica existe quando o conceito do ego é tal que


todas as experiências viscerais e sensoriais do organismo são, ou podem ser,
assimiladas de uma forma simbólica dentro do conceito do ego.” (Rogers,
1957, p. 495)

Congruência = Adaptação Psicológica = SAÚDE

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INCONGRUÊNCIA:

Ocorre quando há diferenças entre a tomada de consciência, a


experiência e a comunicação desta. As pessoas que parecem estar com
raiva (punhos cerrados, tom de voz elevado, praguejando) e que (se
interpeladas) replicam que de forma alguma estão com raiva, ou as pessoas
que dizem estar passando por um período maravilhoso, mas que se mostram
entediadas, isoladas ou fragilizadas, estão revelando incongruência.

Quando a incongruência está entre a tomada de consciência e a


experiência, é chamada repressão. A pessoa simplesmente não tem
consciência do que está fazendo. A maioria das psicoterapias trabalha sobre
esse sintoma de incongruência ajudando as pessoas a se tornarem mais
conscientes de suas ações, pensamentos e atitudes na medida em que estes
as afetam e aos outros.

Quando a incongruência é uma discrepância entre a tomada de


consciência e a comunicação, a pessoa não expressa o que está realmente
sentindo, pensando ou experienciando. Este tipo de incongruência é muitas
vezes percebido como mentiroso, inautêntico ou desonesto.

A pessoa não é capaz de expressar suas emoções e percepções reais


em virtude do medo e de velhos hábitos de encobrimento ou defesas, que são
difíceis de superar. Por outro lado, é possível que a pessoa tenha dificuldade
em compreender o que os outros esperam dela.

A incongruência pode ser sentida como tensão, ansiedade ou, em


circunstâncias mais extremas, como confusão interna. A ambivalência de
sentimentos não é rara; não ser capaz de reconhecê-la ou enfrentá-la pode ser
uma causa de ansiedade.

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“XVI) A desadaptação psicológica existe quando o organismo rejeita da
consciência experiências sensoriais e viscerais importantes que, por
conseguinte, não se simbolizam nem se organizam na gestalt da estrutura do
ego Quando se verifica esta situação, há uma tensão psicológica de base ou
potencial.” (Rogers, 1951, p. 493)

A tendência básica do organismo é ajustar-se de acordo com a


tendência à realização; entretanto, à medida que se desenvolve o auto-
conceito, esta mesma característica inerente é também expressa como uma
tendência para realizar o eu.

Enquanto o auto-conceito e a experiência organísmica forem


congruentes, o homem permanece integrado. Mas, quando se desenvolve
incongruência entre o eu e a experiência, o homem está em conflito, em dúvida
entre a tendência à realização básica e a realização de seu auto conceito,
ficando dessa forma vulnerável a desajustamentos psicológicos.

Já não pode mais viver como uma pessoa integrada. Torna-se uma
pessoa dividida, com uma parte de si coerente com a tendência à realização do
organismo e a outra coerente com seu auto-conceito impreciso e com suas
condições de valor incorporadas. Rogers considera essa situação como a
alienação básica do homem.

É infidelidade consigo mesmo e com os outros. É um estado de


desacordo interno, de desarmonia.

Incongruência = Alienação = DOENÇA

EM DIREÇÃO AO CRESCIMENTO (INTEGRAÇÃO):

Para Rogers o movimento em direção à saúde é facilitado por qualquer


relação interpessoal na qual um dos membros esteja livre o bastante da
incongruência para estar em contato com seu próprio centro auto-regulador
(referencial interno de valores).
UnG – Universidade Guarulhos 35
A maior tarefa da terapia é estabelecer tal relacionamento genuíno.
C
Aceitar-se a si mesmo é um pré-requisito para uma aceitação mais fácil e
genuína dos outros. Em compensação, ser aceito por outro conduz a uma
vontade cada vez maior de aceitar-se a si próprio.

A pessoa de “funcionamento pleno ou integral” ou “idealmente ajustada”


é completamente receptiva a todas as sua experiências = “aberta à
experiência”.

Neste sentido, suas experiências não estão sempre na consciência,


mas estão sempre disponíveis para a consciência, de uma forma precisamente
simbolizada. Isto é, essa pessoa não se mostra defensiva. Não há condições
de valor e o indivíduo experimenta uma autoconsideração incondicional
positiva. Seu auto-conceito é congruente com sua experiência em termos de
sua tendência básica à realização. Como suas experiências mudam à medida
que ele enfrenta diferentes situações de vida, a “estrutura do eu” torna-se uma
gestalt fluída, sempre no processo de assimilar novas experiências. O indivíduo
sente-se não como um ser estático mas sim dinâmico, em contínuo
aperfeiçoamento.

“Viver no presente” é outra característica de uma pessoa congruente e


integrada, ou seja, realiza o mais possível cada momento.

Tem “confiança nas exigências internas” (foco interno de valores =


consciência humanista) e no “julgamento intuitivo”, ou seja, uma confiança
sempre crescente em si mesmo e na capacidade de tomar decisões e assumi-
las.

Tal pessoa “estará comprometida num contínuo processo de realização.”


(Rogers, 1959, p. 235)

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9. TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE de C. R. Rogers: O
Processo

Rogers foi um terapeuta praticante durante toda a sua carreira profissional.


Sua teoria da personalidade emerge de seus métodos e idéias sobre terapia e
é integrada a eles.

IDÉIAS CENTRAIS SOBRE O MÉTODO:

a. Essa abordagem coloca um peso maior sobre o impulso individual


em direção ao crescimento, à saúde e ao ajustamento.
A terapia é uma questão de libertar o cliente para um
crescimento e desenvolvimento normais.

b. Dá muito mais ênfase ao aspecto afetivo de uma situação do


que aos aspectos intelectuais.

c. Dá muito mais ênfase à situação imediata do que ao passado do


indivíduo.

d. Esta abordagem enfatiza o relacionamento terapêutico em si


mes-
mo como uma experiência de crescimento.

Rogers usa a palavra “cliente” ao invés do termo tradicional “paciente”.


Um paciente é em geral alguém que está doente, precisa de ajuda e vai ser
ajudado por profissionais especializados. Um cliente é alguém que deseja um
serviço e que pensa não poder realizá-lo sozinho. O cliente, portanto, embora
possa ter muitos problemas, é visto como uma pessoa inerentemente capaz de
entender/sentir sua própria situação. O cliente tem a chave de sua
recuperação, entretanto, o terapeuta deve ter determinadas qualidades
pessoais que ajudam o cliente a aprender como usar tais chaves.

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CONDIÇÕES (“NECESSÁRIAS E SUFICIENTES”) DE TERAPIA.

A qualidade e a quantidade da mudança construtiva na personalidade


que virem a ocorrer na Terapia dependerão do grau em que (Rogers, 1957):

1. O terapeuta foi congruente ou autêntico no relacionamento.

2. O terapeuta experimente uma consideração incondicional


positiva ou uma aceitação afetuosa do seu cliente.

3. O terapeuta mostre uma compreensão empática e precisa do


quadro de referência interno do cliente.

Três outras variáveis de condição não relacionadas com as atitudes do


terapeuta podem ser consideradas:

4. O cliente e o terapeuta estão em contato um com o outro.

5. O cliente está em estado de incongruência, estando vulnerável


e, provavelmente, ansioso.

6. O cliente percebe, pelo menos, em grau mínimo, que o terapeuta


está sendo autêntico, que tem por ele uma consideração incondicional positiva
e compreensão empática.

A quarta proposição simplesmente chama atenção para a necessidade


lógica de que deve haver pelo menos um relacionamento mínimo entre o
cliente e o orientador. Duas pessoas estão em contato se cada uma delas
afetar o campo experiencial da outra.

Em relação à sexta proposição é oportuno citar o livro “De pessoa para


pessoa” (C. R. Rogers e B. Stevens), no qual Eugene Gendlin relata sua
experiência em relação à esquizofrênicos. Há muitos relatos semelhantes
sobre o trabalho com psicóticos na literatura especializada.

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CONGRUÊNCIA OU AUTENTICIDADE DO TERAPEUTA.

O terapeuta é uma pessoa autêntica e integrada na relação de ajuda.

Se é autêntico é espontâneo. Está aberto tanto a sentimentos


agradáveis quanto desagradáveis. Em caso de sentimentos negativos, o
terapeuta pode empregá-los construtivamente, para facilitar a comunicação
honesta entre seu cliente e ele.

Como os terapeutas são seres humanos, não se pode esperar que


alcancem o ajustamento ideal, que sejam completamente congruentes. Se o
terapeuta for congruente em sua relação com o cliente, então o processo de
terapia se desenvolverá. Além disso, essa proposição, como as outras, deve
ser entendida como existindo em um continuum e não na base tudo-ou-nada.

Se o terapeuta está aborrecido ou irritado com o que seu cliente lhe diz,
não pode ser congruente com esse sentimento e, ao mesmo tempo,
experimentar uma consideração incondicional positiva pelo cliente e uma
compreensão empática do seu quadro de referência interno. O importante aqui
é que o terapeuta reconheça e expresse o sentimento negativo como seu e
não culpe o cliente por isso.

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CONSIDERAÇÃO INCONDICIONAL POSITIVA (OU ACEITAÇÃO
AFETUOSA E VALORIZAÇÃO).

Nessa condição o terapeuta experimenta um cuidado profundo e


autêntico pelo cliente como pessoa e esse cuidado não é afetado pela
avaliação dos sentimentos, pensamentos e comportamentos do cliente, como
sendo bons ou maus. O terapeuta dá valor ao cliente e o aceita com afeto,
mas este conceito vai ainda além e diz que esse valor e essa aceitação são,
incondicionais.

É uma experiência profunda e persuasiva para o terapeuta; ainda,


assim, não é cega, intensa ou possessiva. Talvez envolva basicamente um
sentimento e respeito profundo pela vida, pelo que seja, pelo ser e uma boa
vontade de experimentá-la inteiramente, sem reservas, conforme seja revelada
pelo cliente.

Trata-se de uma atitude de “amor produtivo” (E. Fromm: “A arte de


amar”), caracterizado por:

• Profundo respeito pela individualidade do cliente, sua liberdade e


dignidade como pessoa;

• Compromisso e responsabilidade na relação terapeuta – cliente, ou


seja, comprometer-se, colocar a si mesmo disponível em relação ao
outro;

• Desvelo na relação: refere-se ao cuidado e ao carinho pelo outro.

• Conhecimento do cliente em sua dimensão humana mais profunda;


relativo a amar o outro pelo que ele é como pessoa, em sua essência
mais humana, minimizando, assim, todas as formas de preconceito e
intolerância.

UnG – Universidade Guarulhos 40


COMPREENSÃO EMPÁTICA.

O terapeuta esforça-se para sentir precisa e completamente o mundo


interior da experiência subjetiva do cliente. O importante é o “aqui” e “agora”
do presente imediato. Através dessa compreensão empática, o terapeuta
espera ajudar o cliente a se aproximar mais de si próprio, a experimentar
sentimentos mais profundos e, assim, estimular o reconhecimento e a solução
das incongruências entre o “eu” e a experiência organísmica.

Rogers define empatia como a percepção do quadro de referência


interno de um outro com precisão e com os significados e componentes
emocionais pertinentes a esse outro, como se fosse a outra pessoa, mas sem
jamais perder a condição de “como se”. Assim, isso significa sentir a dor ou o
prazer de outra pessoa, como essa outra pessoa os sente e perceber as suas
causas, como a pessoa os percebe. Se não houver essa qualidade de “como
se “, então isso significa identificação (Rogers, 1959, pp. 210-211).

O componente afetivo da empatia caracteriza-se por uma tendência a


experimentar sentimentos de simpatia, de compaixão e de preocupação com o
bem estar da outra pessoa.

As Etapas da Empatia

a) Prestar Atenção

Para que ocorra empatia, é necessário estar atento de um modo


bastante especial, ou seja, prestar atenção em alguém significa estar com esse
alguém física e psicologicamente.

A atenção empática é apreciada pela outra pessoa, que se sente mais


encorajada a se abrir e a explorar as dimensões significativas de sua situação-
problema. Alguns comportamentos demonstram atenção empática:

• Fitar diretamente a outra pessoa, adotando uma postura que indique o


envolvimento e evitando ficar muito afastado;
UnG – Universidade Guarulhos 41
• Adotar uma postura aberta, pois braços e pernas cruzados podem
sinalizar menos envolvimento e disponibilidade;

• Inclinar-se em direção ao outro com a parte superior do corpo (inclinar-


se demais pode intimidar);

• Manter contato visual, evitando desviar o olhar com freqüência, o que


não significa olhar fixamente. O bom contato visual sugere interesse
em ouvir o que o outro tem a dizer;

• Adotar uma postura relaxada, o que não significa ficar inquieto ou se


engajar em expressões faciais distraídas;

• Estar atento às reações corporais e emocionais explícitas no


comportamento da outra pessoa – observar sentimentos de raiva,
ansiedade, alegria, tristeza, etc.

Além disso, o terapeuta deve procurar identificar as mensagens não-


verbais da outra pessoa que expressam emoções. As mensagens não-verbais
podem substituir, enfatizar ou contradizer a mensagem verbal. O rosto é a
principal área sinalizadora e a voz a mais verdadeira.

Ficar atento: Postura e movimentos corporais;


Expressões sociais; tom de voz; silêncio; respiração
acelerada;
Rubor, palidez;
Aparência geral: vestuário, enfeites. (Coleman, Nichols e
Roxo, PP. 275-287)

b) Ouvir sensivelmente

Ouvir sensivelmente significa estar em contato com e conhecer a


realidade do outro. O bom ouvinte é aquele que aprecia a outra pessoa tal
como ela é, aceitando os seus sentimentos e as suas idéias, tais como eles

UnG – Universidade Guarulhos 42


são; significa suspender o próprio desejo e julgamento e, ao menos por alguns
minutos, existir para a outra pessoa.

Ouvir sensível ou empático provoca efeitos positivos que incluem:

• Crescimento pessoal (ser ouvido reduz o medo e aumenta o auto-


conhecimento);

• enriquecimento do relacionamento (cada membro da relação torna-


se aberto a ouvir);

• redução da tensão e solução de problema (a capacidade de ouvir


profundamente a outra pessoa e de apreciar a sua realidade é crucial para
promover mudança); e

• desenvolvimento do conhecimento (aumento do conhecimento da


natureza humana e do auto-conhecimento).
(Barret – Lennard, in Abreu e Roso, pp. 27

Além disso, o ouvir sensível a uma pessoa que está furiosa, tem o
poder de reduzir a sua raiva, tornando-a também mais disponível para ouvir.
Da mesma maneira, procurar compreender as razões do comportamento de
alguém que provocou mágoa e raiva pode reduzir esses sentimentos e facilitar
um diálogo de entendimento (Coleman, Nichols, in Abreu e Roso, pp.275-
287)

c) Verbalizar sensivelmente

A verbalização empática faz com que a outra pessoa sinta-se


compreendida,além de ajudar a explorar as suas preocupações de forma mais
completa; essa é a maneira mais eficiente de demonstrar compreensão.

Algumas pessoas empregam estratégias altamente sensíveis de


conforto verbal, as quais legitimam e elaboram os sentimentos de outra
pessoa, tais como:

UnG – Universidade Guarulhos 43


• Promovem um maior grau de envolvimento com a outra pessoa e
com o seu problema;
• São mais neutras na avaliação, descrevem e explicam os
sentimentos do outro e as situações que produzem esses sentimentos;
• Tendem a focalizar as relações próximas ao estado de angústia
da outra pessoa;
• Aceitam e legitimam o sentimento do outro, bem como o seu
ponto de vista; (Burleson, in Abreu e Roso, pp. 275 – 287)

Muitas vezes, enquanto o cliente está contando um problema, não é


raro que o terapeuta procure aliviar o sofrimento da outra pessoa, dando um
conselho ou uma sugestão, ou então, tente minimizar o problema, sugerindo:
“Não precisa ficar tão preocupado” ou “a situação não é tão grave”. Esse
tipo de verbalização desvaloriza os sentimentos e a perspectiva do cliente.

Finalmente, a comunicação entre o Terapeuta e o cliente deve ser


simples e direta, livre de termos e conceitos sofisticados, principalmente os
psicológicos. Essa atitude poderá facilitar uma compreensão das vivências
mais imediatas, com seus significados e seu sentido.

CONSEQÜÊNCIAS POSSÍVEIS DA TERAPIA

Finalmente, segundo o modelo “se-então”, a teoria estabelece que, se


as condições de terapia apresentadas anteriormente são estabelecidas e
mantidas, durante um certo período de tempo, então, o processo que se segue
é desenvolvido:

1. O cliente torna-se gradualmente mais livre para expressar seus


sentimentos de forma verbal e motora;

UnG – Universidade Guarulhos 44


2. “Ele diferencia e discrimina progressivamente os objetos de seus
sentimentos e percepções, incluindo seu ambiente, outras pessoas,
seu eu, suas experiências, e o inter-relacionamento entre eles”
(Rogers, 1959, p.216). Dessa forma, as experiências do cliente
tornam-se mais precisamente simbolizadas em sua consciência e ele
se torna, gradualmente, cônscio de experiências que, anteriormente,
evitava e distorcia (defesas);

3. “Seus sentimentos expressos vão progressivamente tendo


referências com a incongruência entre a certeza de suas
experiências e seu conceito de eu” (Rogers, 1959, p.216);

4. O autoconceito (self) gradativamente vai se tornando reorganizado,


para incluir experiências antes evitadas ou distorcidas, na
consciência. Assim, há uma congruência crescente entre o eu e a
experiência, com menor necessidade de defesa;

5. O cliente sentirá progressivamente autoconsideração positiva e


reagirá em relação às suas experiências, menos em termos de
condições de importância, baseado em valores introjetados por
outros, e mais em termos de processo organísmico de
valorização, baseado nas suas tendências realizadoras (consciência
humanista versus consciência autoritária – E. Fromm: “Análise do
homem”).

Referências bibliográficas:

Rogers, C. R.,1951, Terapia Centrada no Cliente.

São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1975.

Rogers, C. R. e Kinget, G. M., 1959, Psicoterapia e Relações Humanas.

Belo Horizonte: Interlivros, 1977, Vol. 1 e 2.

Abreu e Roso (e colaboradores),. Psicoterapias Cognitiva e


Construtivista. Porto Alegre: Artmed, pp.275 – 287, 2003.

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10. ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO

Essa prática se qualifica como uma orientação voltada: 1) para a


pessoa enquanto um ser total, individual e social; 2) para uma relação autêntica
de ajuda psicológica entre o psicoterapeuta e o cliente e 3) para o estímulo ao
auto-conhecimento como instrumento de crescimento e emancipação.

Scheeffer (1986) conceitua o aconselhamento como ação educativa,


preventiva, de apoio, voltada para a solução de problemas. Esse processo
trabalha com material consciente e dá ênfase à normalidade. Seu objetivo é
facilitar à pessoa obter um sentido de realização adequado; e promover o
desenvolvimento através de escolhas acertadas.

No processo de aconselhamento trabalha-se com a problemática que


a pessoa expõe, acolhendo sua experiência em determinada situação.
Rosenberg (1987) comenta que “Esta característica de enfocar a experiência
da pessoa por seu próprio referencial está ligada a uma outra que se refere à
possibilidade de responder à pessoa que coloca sua demanda, já no momento
presente, no aqui-agora da situação do encontro”.

Dessa forma, o aconselhamento psicológico tem a finalidade de


“facilitar ao cliente uma visão mais clara de si mesmo e de sua perspectiva ante
a problemática que vive”. (Rosenberg, 1987)

Para que o atendimento psicológico ocorra de forma satisfatória será


preciso que a relação entre cliente e psicoterapeuta esteja fundamentada na
ação de ajuda mútua, em ambiente afetivamente acolhedor.

IV – Referências Bibliográficas:

Scheeffer, R. Teorias de Aconselhamento, São Paulo: Atlas, 1986.

Rosenberg, R. L. Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa, São


Paulo: EPU, 1987.

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11. FREDERICK PERLS E A GESTALT-TERAPIA

INTRODUÇÃO

Gestalt (palavra de origem alemã):


- Processo de dar forma ou configuração;
- Integração de partes em oposição à
simples soma das mesmas;
- Estrutura, conformação.

“Uma Gestalt é uma forma, uma configuração, o modo particular


de organização das partes individuais que entram em sua
composição. A premissa básica da psicologia da Gestalt é que a
natureza humana é organizada em partes ou todos, que é
vivenciada pelo indivíduo nestes termos, e que só pode ser
entendida como uma função das partes ou todos dos quais é
feita”. (F. Perls, 1977 p.19)

É o produto de um processo que não pode ser explicado como uma


mera combinação cega de causas desconexas.

As partes de uma Gestalt nunca podem explicar uma real


compreensão do todo; este é diferente da soma das partes.

A Gestalt refere-se a uma entidade perceptual concreta e individual.

A Gestalt-Terapia, de Frederick Perls (Fritz), propõe a forma flexível


de gestaltem sucessivas, adaptadas à relação sempre flutuante do organismo
com o meio, num permanente ajustamento criador. A gestalt-terapia pode ser,
então, definida como a arte da formação de boas formas.

Fundamenta-se filosoficamente, como a “Terapia-Centrada-no


Cliente”, de Carl R. Rogers, no Existencialismo e na Fenomenologia.

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12. DADOS PESSOAIS DE FRITZ PERLS

Perls (1893 – 1970) é considerado o pai da Gestalt-Terapia. Foi um


médico alemão interessado em neurologia e depois em psiquiatria. Aproximou-
se da Psicanálise, tendo se tornado psicanalista. De temperamento irrequieto e
muito criativo, foi desenvolvendo a sua visão psicanalítica, porém, cada vez
mais incompatível com a Sociedade de Psicanálise. Chegou a ter um encontro
com Freud, a partir do qual rompeu definitivamente com a Psicanálise.

Em 1952 fundou o Instituto Nova-Iorquino de Gestalt-Terapia e no


início da década de 1960 mudou-se para o Instituto Esalem, na Califórnia, onde
conheceu C. Rogers e B. Skinner, entre outros.

Além de ter sido influenciado diretamente pela psicanálise de Freud e


Reich e pela Psicologia da Gestalt, de Kohler, Wertheiwer, Koffka e Lewin,
também incorporou algumas idéias de Moreno (Psicodrama) e dos filósofos
existencialistas e da fenomenologia.

As divergências entre Perls e Freud estavam relacionadas


principalmente com os métodos de tratamento, mais do que com teorias
sobre a importância das motivações inconscientes, a dinâmica da
personalidade, os padrões de relacionamentos humanos, entre outros.

Para Perls a psicoterapia é um encontro existencial que visa a auto-


realização da pessoa e a Gestalt-Terapia considera todo o campo
biopsicosocial (organismo e ambiente) como muito importante.

Esta abordagem holística em que cada um dos elementos de


expressão do organismo está em íntima relação com o todo, levou Perls a dar
ênfase ao material evidente mais do que ao profundamente reprimido.
Acentuava a importância do exame da situação da pessoa no presente, ao
invés da investigação de causas passadas.

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Perls acreditava que a consciência do como a pessoa se comporta a
cada momento é mais relevante para a autocompreensão e a capacidade para
mudança do que uma compreensão do porquê de um determinado
comportamento.

Desde o início, a divergência de Perls com relação à abordagem


psicanalítica referiu-se à teoria dos instintos e da libido. Neste aspecto
nenhum instinto (por exemplo, Eros e Tanatos) é “básico”; todas as
necessidades humanas são expressões naturais do organismo.

Por outro lado, Perls concordava quanto à existência do fenômeno da


transferência, encarava-o como um aspecto importante da projeção; um
mecanismo neurótico ao qual atribuía grande importância. No entanto, ele não
considerava o trabalho através da transferência de importância fundamental
para o processo psicoterápico.

Perls discordava da colocação psicanalítica segundo a qual uma tarefa


terapêutica importante era a de liberação das repressões (catarse), após a qual
o trabalho e a assimilação do material ocorre naturalmente. Perls achava que
todo indivíduo, pelo simples fato de existir, tem muito material de fácil acesso
ao trabalho terapêutico.

Uma influência psicanalítica importante sobre Perls foi a de Wilhelm


Reich, em relação à noção de “couraça muscular”. Reich sugeriu que o
caráter se desenvolve cedo na vida do indivíduo e serve como um tipo de
couraça contra estímulos externos ou internos considerados ameaçadores
pelo indivíduo. Para Perls, essa couraça caracterológica funciona como
resistência ao insight ou mudança psicológica.

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13. OS FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA GESTALT

A Psicologia da Gestalt é uma das tendências teóricas mais coerentes


da história da Psicologia. Seus articuladores Max Wertheimer, Wolfgang
Kohler, Kurt Lewin e Kurt Koffka, baseados em estudos psicofísicos que
relacionaram a forma e sua percepção, construíram a base de uma teoria
eminentemente psicológica.

Os gestaltistas estavam preocupados em compreender quais os


processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico
é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na
realidade.

A percepção é o ponto de partida e também um dos temas centrais


dessa teoria. Os experimentos com a percepção levaram os teóricos da Gestalt
ao questionamento de um princípio implícito na teoria behaviorista, o de que há
uma relação de causa e efeito entre o estímulo e a resposta. Para os
gestaltistas, entre o estímulo que o meio fornece e a resposta do indivíduo,
encontra-se o processo de percepção.

Quando vemos uma parte de um objeto, ocorre uma tendência à


restauração do equilíbrio da forma, garantindo o entendimento do que
estamos percebendo. Esse fenômeno da percepção é norteado pela busca de
fechamento, simetria e regularidade dos pontos que compõem uma figura
(objeto). Estes pontos uma vez decodificados devem levar à percepção da
“boa-forma”.

A tendência do processo de percepção em buscar a “boa-forma”


permitirá a relação “figura-fundo”.

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A figura abaixo é um exemplo da forma através da qual dado estímulo
pode ser interpretado como representando coisas diferentes, dependendo do
que é percebido como figura e como fundo.

A escola gestáltica estendeu o fenômeno representado por esta


imagem para descrever a maneira pela qual um organismo seleciona o que é
seu interesse num dado momento.

Para um homem sedento, um copo de água colocado entre seus pratos


favoritos emerge como figura contra o fundo constituído pela comida; sua
percepção adapta-se, capacitando-o, assim, a satisfazer suas necessidades.
Uma vez satisfeita a sede, sua percepção do que é fundo provavelmente se
modificará de acordo com uma mudança nos interesses e necessidades
dominantes.

Porém, nem sempre as situações vividas apresentam-se de forma clara


e evidente que permitam sua percepção imediata, isto é, impedem a relação
parte/todo ou a definição da figura/fundo. Ocorre que, muitas vezes, de
repente, sem que se tenha feito qualquer esforço, a relação figura/fundo
elucida-se. A esse fenômeno a Gestalt dá o nome de insight. O termo designa
uma compreensão imediata, como uma espécie de “entendimento interno”.

Foi a partir desses aspectos teóricos que Fritz Perls ampliou a


Psicologia da Gestalt a fim de incluir a psicoterapia e uma teoria de mudança
psicológica: a Gestalt-Terapia.

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14. NOÇÕES CENTRAIS DA GESTALT-TERAPIA

Como já vimos, Perls descreveu a Gestalt-terapia como uma terapia


existencial, baseada na filosofia existencialista e fenomenológica.

Contestava ele, a idéia de que se poderia abranger o estudo do ser


humano através de uma abordagem científico-mecanicista inteiramente
racional (behaviorismo).

A partir dessa premissa, Perls associou-se à maioria dos


existencialistas insistindo que o mundo vivencial de um indivíduo só pode ser
compreendido por meio da descrição direta que o próprio indivíduo faz de sua
situação única.

Em conseqüência, sustentou que o encontro do terapeuta com um


paciente constitui um encontro existencial entre duas pessoas, e não uma
variante do clássico relacionamento médico-paciente.

Para ele, as pessoas criam e constituem seus próprios mundos; a


realidade existe para um dado indivíduo como sua própria descoberta do
mundo.

“A psicoterapia, então, deixa de ser uma escavação do passado,


em termos de repressões, conflitos edipianos e cenas primárias,
para se tornar uma experiência de viver no presente. Nesta
situação de vida, o paciente aprende por si como integrar seus
pensamentos, sentimentos e ações, não só quando está no
consultório, mas no curso da vida cotidiana.”(F.Perls, 1977, p.30)

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CONCEITOS BÁSICOS:

a. O “CONTATO”

O comportamento humano é uma função da relação homem/meio.


Quando essa função é mutuamente satisfatória o indivíduo é chamado
“normal”; se é conflitiva, pode ser descrito como “desajustado”.

O funcionamento do indivíduo no seu ambiente reflete o que acontece


na fronteira de CONTATO entre ele e o meio. É nessa fronteira que acontecem
os processos psicológicos: emoções, defesas, pensamentos, ações, enfim, os
comportamentos saudáveis ou não.

Perls acrescenta que as pessoas tendem a se apropriar de objetos ou


pessoas de seu meio que têm uma CATEXIS positiva, por exemplo, o jovem
que quer namorar com a garota de sua escolha ou o homem faminto que quer
comer. Dessa forma, o indivíduo CONTATA com seu meio, vai em direção a
ele. De forma contrária, tem um comportamento oposto em relação aos objetos
ou pessoas que têm uma catexis negativa.

“O contato e a fuga são opostos dialéticos. São descrições dos


caminhos pelos quais encontramos os fatos psicológicos. São
nossos meios de lidar na fronteira de contato com objetos do
campo. No campo organismo/meio, as catexis positiva e
negativa (contato/fuga) se comportam de maneira muito
semelhante às forças de atração e repulsão do magnetismo.
De fato, o campo total organismo/meio é uma unidade
dialeticamente diferenciada. É diferenciada biologicamente em
organismo e meio, psicologicamente em si mesmo e o outro,
moralmente em egoísmo e altruísmo, cientificamente em
subjetivo e objetivo, etc.” (Perls, 1977, p. 36)

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Portanto, CONTATAR o meio é uma maneira de formar uma
GESTALT. A busca do “fechamento” das gestalten, através do contato com o
meio ou fuga dele, da aceitação ou rejeição da situação, é a função primordial
da personalidade.

Sobre o indivíduo neurótico, Perls acrescenta:

“Agora vemos algo mais sobre o neurótico. O rítmo do seu


contato-afastamento está fora de forma. Não pode decidir por
si mesmo quando participar e quando fugir porque todas as
vivências inacabadas de sua vida, todas as interrupções do
processo contínuo, perturbaram seu sentido de orientação e
ele não é mais capaz de distinguir entre os objetos ou pessoas
do meio que têm uma catexis positiva e os que têm uma
catexis negativa; não sabe como ou do que fugir. Perdeu a
liberdade de escolha, não pode selecionar meios apropriados
para seus objetivos finais porque não tem a capacidade de ver
as opções que lhe estão abertas.” (Perls, 1977, p.38)

b. O organismo como um todo

Na teoria de Perls, a noção de organismo como um todo é central –


tanto no plano intrapessoal como interpessoal. Para ele os seres humanos são
organismos unificados com integração entre aspectos físicos e mentais.
Corpo e mente, forças internas e externas, não têm nenhum sentido em si, uma
vez que os efeitos causais de um são inseparáveis do outro.

Perls sugere que, diante da “hierarquia de necessidades” que motivam


o comportamento das pessoas, aquelas dominantes emergem como primeiro
plano ou figura contra o fundo da personalidade total; ou seja, o
comportamento é dirigido para a satisfação de uma necessidade dominante.

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Os neuróticos são freqüentemente incapazes ou de perceber quais de
suas necessidades são dominantes ou de definir sua relação com o meio, de
forma a satisfazer tais necessidades. Desta forma, há uma distorção na
existência do indivíduo enquanto organismo unificado.

c. O Aqui e o Agora

A visão holística da Gestalt-Terapia deu ênfase particular à importância


da autopercepção presente e imediata que um indivíduo tem de sua realidade.

Os neuróticos são incapazes de viver no presente pois carregam


cronicamente consigo situações inacabadas (gestalten incompletas) do
passado. Sua atenção é pelo menos em parte, absorvida por essas situações e
eles não têm nem consciência nem energia para lidar plenamente com o
presente, daí, sentirem-se incapazes de serem felizes.

A Gestalt-Terapia não investiga o passado com a finalidade de procurar


traumas ou situações inacabadas, mas leva o cliente a tornar-se consciente
de sua experiência presente, pressupondo que os fragmentos de situações
inacabadas e problemas não resolvidos do passado emergirão inevitavelmente
como parte desta experiência presente.

A ansiedade é a tensão entre o “agora” e o “depois”. A inabilidade


das pessoas para tolerar essa tensão, leva-as a preencher a lacuna com
planejamentos, ensaios e tentativas de tornar o futuro seguro. Isto não apenas
desvia a energia e a atenção do presente, mas também impede o tipo de
abertura, para o futuro, decorrente do crescimento e da espontaneidade.

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Além da natureza estritamente terapêutica deste enfoque ligado à
conscientização do presente, uma tendência saudável que pode ocorrer é a de
viver com a atenção voltada para o presente, ao invés do passado (depressão)
ou futuro (ansiedade). “Cavocar” o passado é desenterrar mágoas,
arrependimentos, rancores e culpas; viver o futuro significa projetar-se no
absolutamente imponderável; é “sofrer por antecedência”. Essa atitude
existencial de viver no “aqui-e-agora” é muito produtiva e leva ao crescimento
psicológico.

d. Conscientização (awareness)

Na Gestalt-Terapia, a ênfase está em ampliar constantemente a


consciência da maneira como a pessoa se comporta, e não em esforçar-se
para analisar a razão pela qual a pessoa se comporta de tal forma (por que).
Desta forma, uma relação causal não pode existir entre elementos que
formam um todo: porquanto todo elemento causa e é causado por outros.

O processo de crescimento é, assim um processo de expansão das


áreas de autoconsciência; o fator mais importante que inibe o crescimento
psicológico é a fuga da conscientização.

“Eu acredito que esta é a grande coisa a ser compreendida:


a tomada de consciência em si-e de si mesmo-pode ter efeito
de cura”. (Perls, 1969 p.34)

Perls confiava plenamente na “sabedoria do organismo”. Considerava o


indivíduo maduro e saudável como auto-apoiado (supporting) e auto-regulado.
Via a autoconscientização como dirigida para o reconhecimento da natureza
auto-reguladora do organismo humano.

Segundo a Gestalt-Terapia o princípio da “hierarquia de necessidades”


(A. Maslow) está sempre operando na pessoa. Ou seja, a necessidade mais
urgente, a situação inacabada mais importante, sempre emerge se a pessoa
estiver simplesmente consciente da experiência de si mesma a todo momento.
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Estar consciente é prestar atenção às figuras emergentes de sua
própria percepção. Evitar a tomada de consciência é estereotipar o livre fluir
natural da dinâmica figura e fundo.

Há três zonas de consciência: consciência de si mesmo,


consciência do mundo e consciência do que está entre essas duas – um
tipo de zona intermediária da fantasia, do mito, da ficção. O exame desta última
zona (que impede a conscientização das outras duas) é a grande contribuição
da Psicanálise. A Gestalt-Terapia leva a uma tentativa muito deliberada de
ampliar a conscientização e obter contato direto consigo e com o mundo.

e. Saúde psicológica

A Gestalt-Terapia define a saúde e a maturidade psicológicas como


sendo a capacidade de emergir do apoio e da regulação ambientais para um
auto-apoio e uma auto-regulação. O processo terapêutico representa, assim
um esforço na direção desta emergência.

Uma das proposições básicas é que todo organismo possui a


capacidade de realizar um equilíbrio ótimo consigo e com seu meio. As
condições para realizar esse equilíbrio envolvem uma conscientização cada
vez mais lúcida de suas necessidades.

A imaturidade e a neurose implicam uma percepção inadequada do


que constitui esse ritmo ou uma incapacidade de regular seu equilíbrio.

Indivíduos saudáveis, ou seja, auto-apoiados e auto-regulados


caracterizam-se pelo livre fluir e pelo delineamento claro da formação figura-
fundo nas expressões de suas necessidades básicas. Tais indivíduos têm
consciência das fronteiras entre eles mesmos e os outros e estão
particularmente conscientes da distinção entre suas fantasias sobre os outros
(ou o ambiente) e o que experienciam através do contato direto.

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O crescimento psicológico pode se dar:
a. Quando envolve o “fechamento” de situações ou “gestalten”
inacabadas.
b. Libertação da neurose: Resolução na passagem pelas cinco
camadas que formam a “estrutura das neuroses”:
. Camada dos “clichês”: Todos os sinais superficiais de contato (bom
dia!, como vai?, oi!, etc).
. Dos “papeis ou jogos”: do “como se” (em que as pessoas fingem
que gostariam de ser: a menininha sempre obediente!, o professor
sempre competente! a dona de casa sempre dedicada! etc
. Camada do impasse, ou da anti-existência: experiência do vazio,
da solidão, do “nada”.
. Camada implosiva: consiste em não se submeter as forças
opostas/contradições. Pode levar à contração e à implosão
(ambivalências).
. Camada explosiva: é a emergência da pessoa autêntica, do
experienciar e expressar suas emoções livremente.

“Agora, não se apavorem com a palavra explosão. A maior parte


de vocês sabe dirigir um carro. Existem milhares de explosões
por minuto dentro do cilindro. Isto é diferente da violenta explosão
do catatônico: esta seria como a explosão num tanque de
gasolina. Outra coisa, uma única explosão não quer dizer
nada”.(Perls, 1969 p.85)

Há quatro tipos de “explosões”:


. Do “pensar”: como lidar racionalmente com uma perda efetiva.
.Do “organismo”: em pessoas sexualmente bloqueadas, por
exemplo.
. Da “raiva”: através da expressão verbal ou de sentimentos.
. Da “alegria de viver”: livre expressão do amor, do riso, da alegria.

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f. Mecanismos neuróticos básicos

A fuga da conscientização e a conseqüente rigidez da percepção e


do comportamento são os maiores obstáculos ao crescimento psicológicos.

Os neuróticos (aqueles que interrompem seu próprio crescimento) não


podem ver claramente suas necessidades e tampouco podem distinguir de
forma apropriada entre eles e o resto do mundo. Em conseqüências, são
incapazes de encontrar e manter um equilíbrio adequado entre eles próprios e
o resto do mundo; a neurose consiste em manobras defensivas destinadas ao
equilíbrio e proteção contra este mundo invasor.

A Gestalt-Terapia sugere que existem quatro mecanismos neuróticos


básicos que impedem o crescimento e que operam basicamente na segunda e
terceira camadas da “estrutura das neuroses” e que visam reduzir a
ansiedade:

Introjeção. Ou “engolir tudo” é o mecanismo pelo qual os indivíduos


incorporam padrões, atitudes e modos de agir e pensar que não são deles
próprios e que não assimilam ou digerem o suficiente para torná-los seus. Um
dos efeitos prejudiciais da introjeção é que os indivíduos introjetivos acham
muito difícil distinguir entre o que realmente sentem e o que os outros querem
que eles sintam e isto pode levar tais indivíduos a se tornarem divididos.

Projeção. Num certo sentido, é o oposto da introjeção. A projeção é a


tendência de responsabilizar os outros por seus próprios conflitos interiores.
Envolve uma negação de seus próprios impulsos, desejos e comportamentos.

Confluência. Os indivíduos não experienciam nenhum limite entre eles


mesmos e o meio ambiente. Este mecanismo também impossibilita a tolerância
E

das diferenças entre as pessoas, uma vez que os indivíduos que experienciam
a confluência não podem aceitar um senso de limites e, portanto, a
diferenciação entre si mesmo e as outras pessoas.

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Retroflexão. Significa literalmente “voltar-se de forma ríspida
contra”; indivíduos retroflexores voltam-se contra si mesmos e, ao invés de
dirigir suas energias para mudança e manipulação de seu meio ambiente,
dirigem essas energias (geralmente, negativas) para si próprios.

Estes mecanismos raramente operam isolados um do outro, embora


as pessoas equilibrem suas tendências neuróticas entre esses quatro
mecanismos em variadas proporções.

“Na verdade, esta confusão da identificação é, de fato, a neurose. E


se ela se apresenta inicialmente pelo uso dos mecanismos de
introjeção, ou projeção, ou retroflexão, ou confluência, seu sinal
característico é a desintegração da personalidade e a falta de
coordenação entre pensamento e ação. A terapia consiste em
retificar as falsas identificações. Se a neurose é o produto de “más”
identificações, a saúde é o produto de identificações “boas”. Isso
deixa em aberto, sem dúvida, a questão de quais são as boas
identificações e quais as más. A resposta mais simples e, penso eu,
mais satisfatória – baseada na realidade observável – é que “boas”
identificações são aquelas que promovem as satisfações e
preenchimentos de objetivos do indivíduo e seu meio. E más
identificações são aquelas que resultam em esmagamento e
frustração do indivíduo, ou em comportamento destrutivo com
relação ao meio. Pois o neurótico não apenas se faz um miserável;
ele pune todos os que os que se preocupam com ele, com seu
comportamento autodestrutivo.” (Perls, 1973 p.56).

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g. Ansiedade

Ansiedade é a reação básica do ser humano a um perigo que ameaça


sua existência ou um valor que ele identifica com sua vida.

Num acidente de trânsito ou numa prova decisiva na Universidade, por


exemplo, qualquer pessoa ficaria ansiosa, em menor ou maior grau. Desta
forma todo ser humano experimenta, de diferentes maneiras ansiedade
normal, á medida que evoluiu e enfrenta as várias crises existênciais. Esta é
inevitável e deve ser francamente admitida.

Em determinadas circunstâncias, entretanto, como conseqüência de


fatores pessoais e por questões ligadas à complexidade de nossa civilização e
suas rápidas transformações, a ansiedade normal torna-se ansiedade
patológica, também chamada de “neurótica”, determinando quadros clínicos
onde há muito sofrimento para a pessoa acometida.

Para F. Perls a ansiedade traduz-se no intervalo vazio - no vácuo –


que existe entre o momento presente e a projeção do futuro: entre o “agora” e
o “depois”. A ansiedade ocorre com maior ou menor intensidade em função
do quanto uma pessoa se distancia do presente para viver somente a
perspectiva do futuro. A ansiedade é viver “depois”.

“A ansiedade é a excitação, o élan vital que carregamos conosco, e


que se torna estagnado se estamos incertos quanto ao papel que
devemos desempenhar. Se não sabemos se vamos receber aplausos
ou vaias, nós hesitamos; então o coração começa a disparar, e toda
excitação não consegue fluir para a atividade, e temos “medo de
palco”. Assim, a fórmula da ansiedade é muito simples: a ansiedade é
o vácuo entre o agora e o depois. Se você estiver no agora, você será
criativo, inventivo. Se seus sentidos estiverem preparados, e seus
olhos e ouvidos abertos, como em toda criança pequena, você achará
a solução.” (Perls, 1976 pp. 13-17)

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Diante da ansiedade patológica, qualquer que seja E sua
especificidade, é importante que a pessoa tenha sempre em vista de que
quanto mais forte o núcleo de sua personalidade, ou seja, o seu “EU”, isto é,
quanto maior a capacidade para preservar a consciência de sua
individualidade, elevar sua auto-estima, perceber realisticamente o mundo
objetivo á sua volta – tanto menos será ameaçada ou dominada em sua
integridade e equilíbrio pessoal.

15. COMO LIDAR COM OS SONHOS

Para Perls os sonhos são mensagens existenciais que podem nos


ajudar a compreender quais as situações inacabadas que carregamos
conosco, o que nos falta, o que evitamos fazer e como evitamos e nos
desapropriamos de partes de nossas vidas. Acrescenta ele que:

“Em Gestalt-terapia nós não interpretamos sonhos. Fazemos com eles


algo muito mais interessante. E em vez de analisar e contar o sonho, nós
queremos trazê-lo de volta à vida. E o jeito de trazê-lo à vida é reviver o sonho
como se ele estivesse ocorrendo agora. Em vez de contar o sonho como uma
estória do passado, encene-o no presente, de modo que ele se torne parte de
você, de modo que você realmente se envolva.

Se você compreender o que pode fazer com os sonhos, poderá


fazer muita coisa por você mesmo, sozinho. Pegue um velho sonho ou
fragmento de sonho, não importa. Enquanto você ainda se lembra dele, ele
ainda está vivo e é acessível, e ainda contém uma situação inacabada, não
assimilada. Quando trabalhamos com sonhos, geralmente pegamos apenas
um pedaço do sonho, porque se pode tirar muito de cada pedacinho.” (Perls,
1976, p. 116)

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16. A PRÁTICA DA GESTALT-TERAPIA

Como já vimos, os principais conceitos utilizados na Gestalt-Terapia


são:
• O organismo como um todo (visão holística);

• A ênfase no aqui-e-agora (auto-percepção presente e imediata


que o indivíduo tem de si e de seu meio);

• A ênfase do como sobre o porquê (importância da


compreensão da experiência de uma maneira descritiva e não-
causal);

• A conscientização (awareness-processo de expansão das


áreas da autoconsciência para o crescimento pessoal).

• A compreensão de que o indivíduo é capaz e responsável por


si mesmo;

• A ausência de privilégio do verbal sobre o não verbal;

• A postura do terapeuta como pessoa e, conseqüentemente, a


relação de pessoa-para-pessoa no processo de psicoterapia.

Para a Gestalt-Terapia o ser humano nada mais é do que o ele decide


ser, do que ele projeta ser, sua essência é resultante de seus atos.

É sendo livre que ele escolhe o que quer ser ou o que será. É o fato de
poder fazer opções que constitui sua essência e lhe permite criar seus próprios
valores. E, se é livre para escolher, é também responsável por tudo o faz.

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A função da Gestalt-Terapia, a partir das idéias de projeto, liberdade
e escolha, é levar o cliente a estar consciente (awareness) do seu projeto de
vida; de como vem realizando esse projeto, de acordo com suas opções
singulares; e de como levá-lo em frente, num continuum de conscientização,
sempre de acordo com sua realidade pessoal em sua relação com o mundo.

A Psicoterapia é, então, um encontro cuja a finalidade será ajudar o


cliente a se descobrir até que ele possa identificar e experienciar seu conceito
de si próprio, seus desejos, em sua própria realidade.

Seu processo é um questionamento que vai tendo resposta a partir do


momento em que o projeto existencial se torna compreensível, na medida em
que as figuras vão se configurando ou as Gestalten vão se fechando.

É, assim, um processo permanente de busca, de procura, de


compreensão e aceitação dinâmica da própria realidade.

Tomada como modelo existencial-fenomenológico, a Gestalt-Terapia


ressalta a crença no homem, aqui e agora presente, capaz de se tornar cada
vez mais consciente de si próprio, a partir da experiência vivida agora e com a
certeza de sua extensão para o futuro. Este “ser gestáltico” que, amando-se,
aprendeu que seu amor por si se transforma no amor aos outros. Pode,
então, trabalhar e vivenciar a noção de solidariedade-no-mundo.

Desta forma, sua visão prioritária da existência humana, faz constante


apelo á liberdade, á individualidade e á responsabilidade pessoal e social.

A Gestalt-Terapia é uma Terapia de “auto-realização”, mais que de


“ajustamento”. Neste sentido, estimula o cliente a buscar desenvolver seus
próprios recursos e talentos pessoais.

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No processo de psicoterapia, a Gestalt-Terapia funciona como uma
tela de projeção na qual o paciente vê seu próprio potencial ausente; a tarefa
da terapia é a recuperação deste potencial do cliente. O terapeuta é
sobretudo um cuidadoso frustrador. Embora dê satisfação ao cliente dando-lhe
atenção e aceitação, frusta-o recusando-se a dar-lhe o apoio de que carece, o
“colo” almejado. O terapeuta age como um catalisador que ajuda o cliente a
passar pelos pontos da “fuga” e do impasse; o principal instrumento catalisador
do terapeuta consiste em ajudar o cliente a perceber como ele constantemente
se interrompe, evita a conscientização, desempenha papéis estereotipados e
assim por diante.

“Quando trabalho não sou Fritz Perls. Torno-me nada-coisa


nenhuma, um catalisador, e eu gosto de meu trabalho. Esqueço
de mim mesmo e mergulho no seu problema. E, uma vez que nós
tenhamos terminado, retorno á platéia, a prima donna que exige
uma apreciação. Não posso trabalhar com sucesso com todo
mundo...” (Perls, 1969 a)

A Gestalt-terapia propõe, finalmente, a busca incessante do


sentido de viver, de forma congruente, autêntica, solidária, simples e
realista.

“....Nós descobrimos que produzir coisas, viver para coisas e


trocar coisas não é o sentido fundamental da vida. Descobrimos
que o sentido da vida é que ela deve ser vivida e não
comercializada, conceituada e restrita a um modelo de sistemas.
Achamos que a manipulação e o controle não constituem a
alegria fundamental de viver.......Para conseguir isto apenas um
caminho: tornar-se real, aprender assumir uma posição,
desenvolver seu centro, compreender a base do existencialismo:
uma rosa é uma rosa é uma rosa. Eu sou o que sou, e neste
momento não posso ser diferente do que sou. É isto que trata
este livro. Dou-lhes a oração da Gestalt, talvez como uma diretriz.
A oração da Gestalt-terapia é:
UnG – Universidade Guarulhos 65
Eu faço minhas coisas, você faz as suas.
Não estou neste mundo para viver de acordo com suas
expectativas.
E você não está neste mundo para viver de acordo com
as minhas.
Você é você, e eu sou eu.
E se por acaso nos encontramos, é lindo
Se não, nada há a fazer.” (Perls, 1976, pp. 13-17)

Sob o enfoque mais direcionado para um compromisso com o social,


Ruth Cohn (in Burrow, Quitman e Rubeau. “Gestalt Padagogik in der práxis”.
Salzburg: Otto Muller Verlag, 1987, p.16) propõe uma outra versão para a
oração da Gestalt, traduzida por Luiz Lilienthal, e que merece ser conhecida:

“Eu me preocupo com as minhas coisas, eu sou eu.


Você se preocupa com as suas coisas, você é você.
O mundo é nossa tarefa.
Ele não corresponde ás nossas expectativas.
Mas se nos preocuparmos com ele, ele será muito bonito.
Se não, ele não será”. (apud Frazão, 1998, p. 54)

VI- Referências Bibliográficas


Frazão, L.M., 1998. “Gestalt-Terapia: Passado, Presente, Futuro”, in
Revista de Gestalt, nº 7, 1998, p.54.
Perls, F.S., 1969. Gestalt-Terapia explicada. São Paulo: Summus
Editorial, 1976.
Perls, F.S., 1969 a. “In and Out The Garbage Pail” Lafayette, Calif:
The Real People Press. Obra em português: Dentro e fora da lata
de lixo. Editora Summus.
Perls, F.S., 1973. A abordagem gestáltica; Testemunha Ocular da
Terapia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.

Prof. Augusto Prado Fiedler

UnG – Universidade Guarulhos 66

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