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PROTEASE

ENZIMA

Introdução
Enzimas proteolíticas ou proteases catalisam a quebra das ligações peptídicas em
proteínas. São enzimas da classe 3, as hidrolases, e subclasse 3.4, as peptídeo-hidrolases
ou peptidases. Estas enzimas constituem uma grande família (EC 3.4), dividida em
endopeptidases ou proteinases (EC 3.4. 21-99) e exopetidases (EC 3.4.11-19), de acordo
com a posição da ligação peptídica a ser clivada na cadeia peptídica. Estas endopeptidases
podem ser ainda subdivididas de acordo com o grupo reativo no sítio ativo envolvido com
a catálise em serina- (EC 3.4.21), cisteína- (EC 3.4.22), aspártico-proteinases ou
endopeptidases (EC 3.4.23) e metaloproteinases ou metaloendopeptidases (EC 3.4.24). As
enzimas cujo mecanismo de ação não está completamente elucidado são classificadas no
subgrupo EC. 3.4.99.

Tipos de enzimas
1) Exopeptidases
As exopeptidases atuam somente nos finais das cadeias polipeptídicas na região N ou C
terminal. Aquelas que atuam na região amino terminal livre liberam um único resíduo de
aminoácido (aminopeptidases), um dipeptídeo (dipeptidil-peptidases) ou um tripeptídeo
(tripeptidil-peptidases). As exopeptidases que atuam na região carboxi terminal livre
liberam um único aminoácido (carboxipeptidases) ou um dipeptídeo (peptidil-
dipeptidases). Algumas exopeptidases são específicas para dipeptídeos (dipeptidases) ou
removem resíduos terminais que são substituídos, ciclizados ou ligados por ligações
isopeptídicas. Ligações isopeptídicas são ligações peptídicas diferentes daquelas entre uma
a-carboxila e um a-amino grupo, e estes tipos de enzimas são denominados omega
peptidases.
2) Endopeptidases
Endopeptidases atuam preferencialmente nas regiões internas da cadeia polipeptídica,
entre as regiões N e C terminal. A presença de grupos a-amino ou a- carboxila tem um
efeito negativo na atividade da enzima.

Tipos catalíticos
Hartley, em 1960, descreveu quatro mecanismos catalíticos distintos usados pelas
proteases. Suas observações iniciais foram desenvolvidas por Barret e em 1994 um
prático sistema de classificação para as proteases foi estabelecido. Nesta classificação, as
carboxipeptidases e as endopeptidases são divididas em sub-classes, tendo como base o
seu mecanismo catalítico.
As carboxipeptidases foram subdivididas em serina-, metalo- e cisteína- carboxipeptidases
e as endopeptidases em serina-, cisteína-, aspártico- e metaloendopeptidases.
Serina peptidases possuem um resíduo de serina em seu centro ativo, enquanto as
aspártico-peptidases têm duas unidades de ácido aspártico no seu centro catalítico.
Cisteína-proteases apresentam um aminoácido cisteína e as metalo-proteases usam um
íon metal no seu mecanismo catalítico.

PROTEASE: função e aplicação

Proteases representam uma classe de enzimas com importantes papéis em processos


fisiológicos. Além disto, elas possuem aplicação comercial, estando entre os três maiores
grupos de enzimas industriais, sendo responsáveis por 60% da venda internacional de
enzimas.
Estas enzimas estão envolvidas em processos biológicos essenciais, como a coagulação
sanguínea, morte celular e diferenciação de tecidos. Várias etapas proteolíticas
importantes ocorrem no mecanismo invasivo de tumores, assim como no ciclo de infecção
de um grande número de vírus e microrganismos patogênicos. Estes fatos tornam as
proteases um alvo quimioterápico valioso para o desenvolvimento de novos compostos
farmacêuticos.
As enzimas proteolíticas também participam no catabolismo de proteínas, tanto nas vias
degradativas como nas biossintéticas, e na liberação de hormônios peptídeos
farmaceuticamente ativos a partir de proteínas precursoras. Certas modificações
específicas e seletivas de proteínas durante a ativação de enzimas ocorrem via proteólise,
que também colabora no transporte de proteínas secretórias na membrana. As proteases
têm também uma variedade de aplicações principalmente na indústria de detergentes e de
alimentos.
Tendo em vista os recentes acordos mundiais para uso de tecnologias não poluentes, as
proteases começaram a ser usadas em larga escala no tratamento do couro, em
substituição aos compostos tóxicos e poluentes até então usados. Na indústria
farmacêutica, as proteases são usadas em pomadas cicatrizantes e têm um uso potencial
para outros medicamentos.
Proteases hidrolisam as proteínas em peptídeos e aminoácidos, facilitando a sua absorção
pelas células; devido seu papel despolimerizante, as enzimas extracelulares têm um papel
importante na nutrição.

Proteases de microrganismos
Proteases são encontradas em vários microrganismos, como vírus, bactérias,
protozoários, leveduras e fungos. A impossibilidade das proteases de plantas e animais
atenderem à demanda mundial de enzimas têm levado a um interesse cada vez maior
pelas proteases de origem microbiana. Os microrganismos representam uma excelente
fonte de proteases devido a sua grande diversidade bioquímica e facilidade de
manipulação genética. Proteínas são degradadas por microrganismos, que utilizam os
produtos de degradação como nutrientes para o seu crescimento.
A degradação é iniciada por proteinases (endopeptidases) secretadas pelos
microrganismos, seguida de hidrólise posterior por peptidases (exopeptidases) em um sítio
extra- ou intracelular. Numerosas proteinases são produzidas por microrganismos
distintos, dependendo da espécie, ou mesmo por diferentes cepas de uma mesma espécie.
Proteinases diferentes também podem ser produzidas pela mesma cepa, variando as
condições de cultura.
As espécies oportunistas Candida albicans e C. tropicalis, de importância médica, causam
infecções em pacientes imunocomprometidos por possuírem uma aspártico-proteinase
extracelular, que é considerada seu principal fator de virulência.
O vírus da imunodeficiência humana (HIV), agente etiológico da AIDS, apresenta também
uma aspártico-proteinase essencial para o ciclo de vida do retrovírus, e que tem sido um
excelente alvo para a quimioterapia desta doença, através do uso de inibidores específicos.
A maioria das serina proteinases comerciais, principalmente as alcalinas e neutras, são
produzidas por organismos que pertencem ao gênero Bacillus. As subtilisinas são enzimas
representantes deste grupo. Enzimas similares também são produzidas por outras
bactérias, como por exemplo, Thermus caldophilus, Desulfurococcus mucosus,
Streptomyces e pelos gêneros Aeromonas e Escherichia.
Os fungos também produzem serina proteinases; entre eles, estas enzimas são produzidas
por várias cepas de Aspergillus oryzae. As cisteína-proteinases não são encontradas tão
amplamente como as serina- e as aspártico-proteinases.
Entretanto, em protozoários da família Trypanosomatidae elas são muito distribuídas,
assim como as metaloproteinases, já tendo sido detectadas em vários gêneros como
Crithidia, Phytomonas, Herpetomonas, Trypanosoma, Leishmania e Endotrypanum. Neste
grupo de microrganismos, estas enzimas estão envolvidas na nutrição, ciclo de vida e na
diferenciação morfológica deste parasito. Trichomonas vaginalis, protozoário flagelado
responsável pela tricomoníase, uma das mais comuns doenças sexualmente transmitidas,
apresenta algumas metalo-proteinases e uma cisteína-proteinase que está envolvida com
o dano causado pelo parasito. Pelos dados coletados, tem sido demonstrado
inequivocamente que as proteases estão amplamente distribuídas entre os
microrganismos.
Proteases microbianas contam aproximadamente por 40% da venda total mundial de
enzimas. Proteases de origem microbiana são preferidas às enzimas de plantas e animais,
uma vez que elas possuem a maioria das características desejadas para aplicação em
biotecnologia.
Posologia
A Protease utilizada como substituto da secreção gástrica e como enzima digestiva
apresenta a faixa de dosagem usual de 100 – 300mg diários.

Referências Bibliográficas
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