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A COMUNICAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPLEMENTAR NO CUIDADO

FISIOTERAPÊUTICO GERIÁTRICO
SACHETO, Ricardo Mazzon. Especialista em Gerontologia. Docente do curso
de Fisioterapia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
SANDOVAL, José Maximiliano Henriquéz. Doutor e Pós-doutor em
Comunicação. Docente do Departamento de Saúde da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia - UESB

Resumo
A necessidade de comunicarmos uns com os outros é um fato que está dentro de nossos
corações desde o momento em que somos concebidos no ventre de nossa mãe até o
momento de nossa morte. Dessa forma, a comunicação, verbal ou não-verbal, não pode ser
colocada em segundo plano quando se busca um cuidado fisioterapêutico diferenciado para
a promoção da saúde, em especial com pacientes geriátricos. Assim, levando em
consideração a necessidade de buscar uma forma de tratamento que visualize o paciente
como um ser humano completo, as reflexões feitas no presente estudo delimitam-se em
obter respostas para compreender que condições / aspectos (relativos a relação existente
entre o profissional e o cliente) contribuem para que a comunicação possa ser considerada
como uma estratégia complementar no cuidado fisioterapêutico em pacientes idosos.
Enfatiza-se, com isso, que quando um paciente, e em especial o idoso, chega em um
ambulatório, não deve ser tratado como uma tendinite ou um esporão de calcâneo que
incomoda no pé dos profissionais que estão envolvidos no cuidado deste, sendo necessária
uma boa dose de comunicação como uma estratégia complementar deste tratamento.
Portanto, o presente estudo destaca que se deve associar ao cuidado fisioterapêutico
convencional a comunicação nas suas variadas formas, para que se desenvolva um
tratamento mais humanístico.

1. BUSCADO COMPREENDER O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E SUA


IMPORTÂNCIA NA PRÁTICA DO CUIDAR
É chegado o terceiro milênio. O conhecimento se expande e toma proporções mais
significativas a cada minuto. Novos meios e estratégias de comunicação cada vez mais
eficientes são desenvolvidos pelos cientistas. Os investimentos e pesquisas realizadas na
área da saúde proporcionam melhores condições de vida, acarretando, dessa forma, uma
melhor qualidade desta com uma longevidade maior. Entretanto, com tantos aspectos
positivos que podem ser citados com o avançar da ciência, tecnologia e saúde, o vínculo
existente entre as pessoas, no que tange a comunicação, parece estar cada vez mais fraco.
Famílias deixam momentos para trocar informações, experiências de vida pessoal e prática,
enfim, de relacionar-se entre si para meramente assistirem a um programa de televisão (isso
sem falar na qualidade deste).
Nas ruas as pessoas andam cabisbaixas e apressadas com suas vidas, não apreciando o
prazer de caminhar ou de atentarem para um simples gesto de um saudoso “bom dia”. O
simples fato de olhar nos olhos é privado de um paciente no hospital quando, por exemplo,
um auxiliar de enfermagem realiza a troca do soro deste. Estes e outros gestos estão cada
vez mais raros de serem observados e então vem o seguinte questionamento: em termos
humanísticos, aonde vamos parar? É um fato que todos temos a necessidade de estarmos
nos comunicando uns com os outros, seja de forma verbal ou não verbal. O ser humano, por
ser um ser social, vem sofrendo com essas transformações.
O envelhecimento da população é uma conseqüência desses avanços alcançados. Contudo,
isso não implica que estes irão proporcionar uma melhor qualidade de vida aos idosos, uma
vez que a felicidade é um importante fator a ser considerado quando pensamos nisso. Então
voltamos os olhares para um ambiente ambulatorial onde percebemos a falta de
comunicação que há, muitas vezes, entre os profissionais que atuam no estabelecimento e
os seres humanos que ali freqüentam para realizar seu tratamento de saúde, onde não há
uma liberdade, e nem são criadas situações, para que estes possam expressar seus estados
emotivos.
As considerações anteriormente apresentadas, aliadas a nossa prática profissional, enquanto
trabalhadores da área da saúde, motivou-nos fundamentalmente no desenvolvimento desse
estudo onde cotidianamente pudemos observar as angústias variadas dos pacientes com os
quais lidamos, quando os mesmos não sabem detalhar ou mesmo dizer aquilo que sentem,
devido à falta de comunicação que houve até então com os profissionais da área da saúde.
Também pudemos notar que uma injeção de conversa e diálogo, associadas ao cuidado
fisioterapêutico, contribui para a satisfação do paciente com o tratamento e uma melhora do
prognóstico. Então, entramos no dilema que existe entre a terapêutica clássica, a tecnologia
dos aparelhos de ponta e um outro tipo de tratamento, um cuidado mais comunicativo.

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Diante do exposto, abrimos caminho para a necessidade de buscar uma forma de tratamento
que visualize o paciente com um ser humano completo, de onde surge o seguinte
questionamento: que condições / aspectos (relativos à relação existente entre o profissional
e o cliente) contribuem para que a comunicação possa ser considerada como estratégia
complementar no cuidado fisioterapêutico em pacientes geriátricos? Assim, buscar
respostas a esse questionamento é o principal objetivo do presente estudo. Do mesmo
modo, acreditamos que tais respostas poderão servir de auxílio para profissionais que
trabalham com seres humanos, alertando-os a desenvolverem uma concepção mais
humanística nas relações interpessoais. Até porque, o prognóstico e a evolução do
tratamento fisioterapêutico dependem diretamente na relação entre o terapeuta e o paciente.
Para os que já tem isso em mente e na prática, pode servir para dar uma nova visão sobre
um raio de luz que incide em um prisma que há na prática daquilo que vem a ser um
cuidado fisioterapêutico mais comunicativo. Afinal de contas, como já dizia o nosso “velho
guerreiro” Chacrinha, “quem não se comunica, se estrumbica”. Tal velho ditado nos traz
várias reflexões quando nos reportamos à pessoa idosa que, dada as características do
próprio processo de envelhecimento, merecem atenção especial. Cabe ressaltar que o
processo de envelhecimento fisiológico traz consigo alterações das mais diversas formas,
repercutindo nas doenças crônico-degenerativas. Na maioria das vezes, elas vem
acompanhadas das dores, as quais podem ser visualizadas como uma sensação que causa
maior desconforto e impossibilita o indivíduo de realizar suas atividades normalmente,
sejam elas de vida diária ou da vida prática. Podemos dividi-la, basicamente, em
psicológica - a dor da perda da "mocidade da vida", e dor biológica. Esta pode ser colocada
no ranking dos maiores motivos que leva uma pessoa a procurar os variados serviços de
saúde. Pode ser definida, em sua essência, como uma sensação penosa e desagradável, em
uma parte qualquer do corpo (LAROUSSE. 1992). Mas, quando se pensa apenas no
sofrimento do corpo, deixam-se de lado as dores e as angústias, aflições ou amarguras
sofridas pela mente. Então, isso leva-nos a pensar em uma definição mais ampla do que
seja saúde, onde se considere possível agregar valores como a alegria, disposição, nutrição,
e outros sentimentos que caracterizem o ser humano, dentro dessa visão holística, como um
indivíduo dotado de um corpo físico, de sua essência e uma espiritualidade. Essas três

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partes devem estar interagindo entre si em harmonia, para que este possa gozar de uma
saúde plena. Quando ocorre um desequilíbrio entre as partes ou uma delas, vem o estado de
doença. O que ocorre nas instituições de promoção de saúde é que se busca tratar o
indivíduo doente olhando apenas uma das partes - a doença, sendo esta, na maioria absoluta
das vezes, o seu corpo físico. Com isso, deixa-se de lado a atenção devida, a qual deveria
ser prestada com zelo, ao “resto” da pessoa, ou seja, para a sua essência e para sua
espiritualidade. Roberto Crema (1999) coloca essa idéia como a base para o verdadeiro
significado de terapeuta, onde tem seu maior representante em Cristo. Explica que o papel
real do terapeuta é o de buscar escutar realmente as pessoas que necessitam de ajuda,
dando-se atenção ao ser humano como um todo. Dessa forma, não se deve negligenciar na
anamnese com o paciente fatores coletados que desvelam a origem do problema levando-o
apenas a um estado indolor. Isso poderia até servir para simples analgesia, mas poderia
abrir uma porta para uma recidiva dos problemas, uma vez que se buscou um tratamento
paliativo. Assim, o terapeuta pode ser visualizado como aquele que busca a cura para os
males, identificando todas as possíveis causas para o surgimento de determinados sintomas.
Com essa visão de terapia mais humanística, podemos refletir acerca de um significado
mais amplo do que vem a ser cuidar, colocando-o como um momento de encontro e troca
entre terapeuta e paciente, dimensionando para uma visão que associe emoção à técnica do
profissional (SILVA. 1999).
Diante do exposto, nossa missão, enquanto profissionais da área da saúde e seres humanos,
é a de buscar o tratamento do indivíduo com um maior compromisso pessoal e humano,
com uma visão mais holística de tratamento, onde se busque dar atenção ao físico, à
essência e à espiritualidade, e não tratando apenas uma fratura de fêmur, uma tendinite,
uma lombalgia. Essa forma de tratamento deve ser praticada por todos no dia a dia, a
qualquer hora e em qualquer lugar.
Vamos partir do fato notório que o ser humano é um ser social em sua essência, ou seja,
têm suas necessidades de estabelecer relações com outras pessoas. Assim, conforme vamos
convivendo no mundo da vida, estabelecemos relações interpessoais, isto é, começamos a
interagir com pessoas diferentes, onde trocamos experiências pessoais, de vida, de afeto,
afinidades, enfim, comunicamo-nos uns com os outros. Vale salientar ainda que, para que

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haja uma comunicação efetiva, é imprescindível o “estar presente” de fato. Para isso, não
basta que estejamos com o corpo físico em um ambiente, aonde um ser humano está
colocando suas angústias e emoções. É preciso que haja interação entre as pessoas
envolvidas na conversa. Nessa situação, cada um dos indivíduos envolvidos nesse processo
deve estar, primordialmente, inserido em um estado comunicante, disposto a dar e receber
(TOURNEBISE. 1996). É evidente que devemos respeitar o fato de que cada pessoa é
única, é singular, podendo esta estar preparada ou não para o universo das relações
interpessoais, o que implica na individualidade da sua competência técnica e da sua
competência interpessoal próprias. A habilidade que tem um indivíduo para lidar com essas
relações de forma adequada, que satisfaça as necessidades de cada um e as exigências da
situação é o que chamamos de competência interpessoal (MOSCOVICI. 1996). Isso não
quer dizer que não podemos nos aperfeiçoar e treinar nossas singularidades, nos tornando
mais capazes no sentido de estarmos nos preparando para vivermos as experiências das
relações interpessoais. Pensando nisso, Carnegie (2000) criou uma série de recomendações
a serem seguidas para que possamos estabelecer contato de maneira mais eficaz,
despertando o desejo nas outras pessoas em estabelecerem relações para conosco. Assim
sendo, para que haja uma interação, é necessário que o interesse esteja de ambos os lados e
que estes funcionem como emissores e receptores, com um envolvimento real entre as
partes. Com isso, acabamos por nos satisfazer com nossa essência, tornando-nos seres
comunicantes de fato. Isso só é possível à medida que estamos dispostos e abertos para
novas relações com pessoas distintas, entre si e para conosco.
Vale salientar que de nada adianta os cientistas terem alcançado tantos êxitos nas suas
pesquisas com novas descobertas para o avanço das ciências se não for colocado em prática
uma interação entre terapeuta e paciente, onde possa ser desenvolvida uma prática
terapêutica mais comunicativa. É evidente que pensar com uma visão holística e em uma
nova forma de tratamento para o indivíduo enfermo, os modelos e os tipos de comunicação,
verbais e não-verbais, ajudariam, e muito, no processo de cura desses lados marginalizados
do ser humano, o qual está sendo encarado como um todo, com sua essência, com sua alma.
Cientificamente já foi comprovado, através de trabalhos e estudos, que uma boa dose de
conversa e humor faz bem para a saúde, liberando neurotransmissores na corrente

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sangüínea, como a beta endorfina. Estas substâncias são produzidas nas situações de riso,
gargalhadas, alegria ou em momentos de bom humor (LAMBERT. 1999). Outro fato é que
diversas doenças que acometem a todos de uma maneira geral têm sua origem em
problemas enfrentados na vida diária, e que acabam sendo somatizados devido ao estresse
emocional provocado pelos mesmos. Comunicar-se pode ser a solução para esse tipo de
situação, visto que falar sobre nossos problemas, expressar os sentimentos, socializar-se,
enfim, interagir-se com outras pessoas que estejam preparadas simplesmente para ouvir ou
falar, quando a situação lhe convier, é uma necessidade intrínseca do ser humano. Às vezes,
um simples toque, um olhar carinhoso, um sorriso, um abraço, qualquer gesto que
demonstre que determinada pessoa é importante, que nos preocupamos com esta, pode
fazer a diferença na promoção da saúde (NIVEN. 2001).
O toque também não pode deixar de ser mencionado quando estamos nos referindo a
linguagem de comunicação não verbal. A pele, que é o órgão diretamente afetado por esse
tipo de “terapia do contato”, possui muitas terminações nervosas livres que liberam
substâncias quando é estimulada da forma correta (MONTAGU. 1988). Por exemplo,
quando recebemos um abraço, temos por costume acariciar as costas da pessoa que está
compartilhando conosco um momento de demonstração de carinho, afeto de um para com o
outro, e vice-versa; já no abraço formal (ou de político, como também é conhecido), pode-
se notar o tradicional “tapinha” nas costas, diferentemente do gesto descrito anteriormente.
Para o paciente, e, em especial, para o paciente idoso, a sensação do contato transmite uma
segurança extra para o tratamento; isso sem mencionar que o ato de tocar ou pegar,
dependendo da forma como é realizado, serve para colocar carinho na terapia, o que, sem
dúvidas irá refletir no prognóstico do mesmo.
Saber observar os sinais que o paciente está tentando nos transmitir, através da
comunicação não-verbal, pode ser um ótimo caminho para compreender melhor aquilo que
ele está querendo nos passar. Da mesma forma, gestos corporais transmitidos do terapeuta
para o paciente são de fundamental importância para que o mesmo sinta-se seguro em sua
terapia. Alguns desses podem ser citados, como, por exemplo, quando nos postamos a
conversar virado de lado para a pessoa; conversar com o corpo voltado de frente a quem se
está dirigindo é um excelente sinal de interesse e atenção. Temos ainda o poder de olhar

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nos olhos, o que transmite segurança e confiança naquilo que estamos afirmando ou, ainda,
interesse naquilo que estamos ouvindo. Saber ouvir também é uma grande estratégia para
ser desenvolvida uma boa interação de ambas as partes em um diálogo (WEIL,
TOMPAKOW. 2002). Isso não quer dizer que temos que encarar a pessoa que estamos
dialogando o tempo todo ou ficar mudo no meio de um diálogo. Em tudo que fazemos tem
que existir equilíbrio. Vale salientar que determinadas atitudes no ato de conversar, como
os citados acima, e alguns outros mais, são de extrema importância para pacientes idosos,
uma vez que estes podem estar com debilidade em algum dos órgãos dos sentidos, fruto do
processo do envelhecimento, como, por exemplo, a audição. Dessa forma, eles tendem a ser
muito mais sensíveis a gestos corporais do que outras pessoas. Assim sendo, o vínculo que
estabelecemos com o paciente geriátrico deve conter ingredientes de como se portar para se
comunicar, para que possamos estabelecer relações onde se torne propício o ato de dar e o
ato de receber (GALLAND. 1999). Há um provérbio que resume um pouco daquilo que foi
explanado acima: “o vento é como a mente e a areia é como o corpo; se você quiser
conhecer o vento, observe o movimento da areia”.
2. ASPECTOS DO PERCURSO METÓDICO
Para a construção deste estudo, optei por realizar uma pesquisa descritiva, do tipo
predominantemente qualitativa, por acreditar ser esta abordagem a que mais se aproxima da
problemática que está sendo estudada, uma vez que pretendemos compreender a
importância do processo da comunicação inserida no contexto ambulatorial da prática
fisioterapêutica. A abordagem qualitativa de um problema, além de ser uma opção do
investigador, justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza
de um fenômeno social (RICHARDSON. 1985). Dessa forma, é com essa perspectiva que
surgiu este estudo, a partir da observação na prática profissional, das angústias variadas dos
pacientes que acompanhamos. Diante do exposto, despertou-nos a necessidade de
compreender a importância do processo de comunicação inserida, especificamente, no
contexto ambulatorial.
De acordo com Minayo (1994), entende-se campo de pesquisa como o recorte que o
pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade empírica a ser estudada
a partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação. Nesta

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perspectiva, optamos por utilizar como campo de pesquisa o local de trabalho dos
profissionais fisioterapeutas informantes deste estudo.
Decidimos por denominar informantes, os profissionais fisioterapeutas entrevistados para a
coleta das informações deste estudo, por acreditarmos ser o termo que mais se enquadra,
quando estamos objetivando coletar desses profissionais informações em relação a que
condições / aspectos (relativos à relação existente entre o profissional e o cliente)
contribuem para que a comunicação seja considerada como uma estratégia complementar
no cuidado fisioterapêutico geriátrico. Segundo Minayo (1994), essas pessoas e esses
grupos são sujeitos de uma determinada história a ser investigada, sendo necessária uma
construção teórica para transformá-los em objetos de estudo. Com esse intuito, utilizamos
como critério de seleção, a escolha de profissionais fisioterapeutas, que tenham experiência
no cuidado fisioterapêutico junto a idosos, perfazendo um total de seis entrevistados, com
tempo de experiência profissional variando de 18 meses a 18 anos.
Assim, para atingir os objetivos propostos nesta pesquisa, utilizamos um questionário
aberto, por acreditar que, dentre as várias técnicas existentes, é a que mais se aproxima da
problemática deste estudo e por estar de acordo com Minayo (1994), a qual diz que o
informante aborda livremente o tema proposto. Nesse sentido, o questionário foi composto
de duas partes: a primeira, a qual buscava conhecer algumas características pessoais dos
informantes e a segunda, a qual tratava de questões específicas da temática em estudo.
Para o tratamento das informações, optamos por selecionar as principais idéias explicitadas
pelos informantes, por ilustrar com maior clareza os pensamentos por eles colocados. Para
isso, foram considerados todos aspectos éticos que uma pesquisa científica deve conter,
baseada na resolução 196/96, aonde as informações obtidas dos sujeitos, tiveram seu sigilo
garantido e registrado na pesquisa com o máximo de fidelidade, sendo obtidas com
consentimento livre e esclarecido dos informantes, mediante a assinatura do termo de
consentimento.
3. RESULTADOS
3.1 Concepção do que vem a ser um cuidado fisioterapêutico
- “Um cuidado fisioterapêutico é, ao meu ver, uma atenção dada ao paciente pelo
profissional fisioterapeuta, com o intuito de prevenir, tratar ou minimizar alterações

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funcionais que o paciente venha apresentar, melhorando sua qualidade de vida”. “É uma
série de medidas ou normas dentro da ética profissional que o fisioterapeuta põe em prática
quando avalia e cuida do paciente”. “É um processo de interação terapeuta / paciente com a
finalidade de se instaurar a integridade psicofísica do ser humano com necessidades
especiais”. “Um cuidado fisioterapêutico pode ser definido como um conjunto de medidas e
ações que visem prevenir, manter ou promover o bem-estar do paciente, de posse do
conhecimento científico à cerca do processo saúde-doença e métodos de intervenção
fisioterapêutica”. “Um cuidado fisioterapêutico são todas as técnicas aplicadas pelo
fisioterapeuta, juntamente com a assistência global (física / psicológica) que é dada ao
paciente”. “É reabilitar a funcionalidade e a reintegração desse paciente com o seu meio”.
Na perspectiva das questões discutidas neste trabalho, o “cuidado” fica melhor definido no
posicionamento de Silva (1999), quando explana, de forma brilhante, acerca do cuidado
como um momento de encontro e troca entre o cuidador e o paciente, aonde necessita
conter ingredientes como a afeição, ternura, respeito por nós e pelos outros seres, além da
habilidade e conhecimento, ao fazer com qualidade e competência, ao saber fazer de fato.
Tal posicionamento nos chama muito a atenção para o fato de reconhecer as complexidades
presentes no ato de cuidar, o que extrapola os limites de uma prática biomecânica. Nos
depoimentos apresentados anteriormente, percebem-se que grande parte deles (quatro)
explicitam um cuidado que tende a aproximar-se da perspectiva biomecânica. Isso nos
fornece subsídios para iniciar um processo de discussão sobre a importância que tem a
concepção do cuidar na prática cotidiana
3.2 Dificuldades para colocar em prática a concepção de cuidado com pacientes
geriátricos e os sentimentos e reações frente as mesmas
Dos informantes deste estudo, quatro encontram dificuldades para colocar em prática a
concepção que eles tem de cuidado, isso porque: “Em alguns casos é a falta de apoio e a
falta de paciência da família”. “Os idosos são pacientes especiais, que apresentam uma
série de alterações biopsicossociais. Também são pacientes (na maioria das vezes)
depressivos, sensíveis ao mundo moderno, principalmente aos conflitos das gerações, aos
problemas sócio-econômicos e ao medo de serem excluídos deste contexto (mundo
moderno)”. “A maioria dos idosos reluta a aceitar e colaborar com o tratamento por achar

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que estão velhos e doentes e não tem mais como melhorar”. "O fato de pacientes idosos
acreditarem que estão em idade avançada e o tratamento já não surtirá efeito”.
Os sentimentos expressos pelos informantes perante essas dificuldades referem-se a:
“Procuro passar segurança para o paciente e informar à família ou acompanhante a
importância do tratamento”. “As dificuldades me motivam a buscar novas estratégias de
intervenção ao cuidado ao idoso. Acima de tudo é necessário mostrar ao idoso que ele é
muito importante para a sociedade, com sua experiência de vida tem muito a contribuir e
como profissional de saúde tenho que superar essas dificuldades e promover melhor
qualidade de vida ao idoso”. “Às vezes sinto-me impotente diante das dificuldades maiores,
porém tento fazer o possível para ultrapassar certos obstáculos. O diálogo com o paciente,
por exemplo, é essencial”. “Extremamente incomodada e tento sempre reverter esse quadro,
dando o máximo de atenção, tratamento coerente e adequado para todos”.
Como pôde ser visto, as dificuldades expressas referem-se, de uma ou outra forma, a
questões relativas a comunicação, quer seja do ponto de vista do informante ou do idoso.
Vale destacar um depoimento de um informante que refere não ter dificuldades no cuidado
junto ao idoso, a qual relata que: "Cuidar do paciente idoso exige que sejamos mais
cautelosos desde a avaliação até o tratamento, isto devido ao próprio processo de
envelhecimento fisiológico que traz a este paciente algumas alterações na sua função,
porém, não diria que esta maior cautela ao cuidar do paciente idoso seria uma dificuldade".
Dentro da perspectiva do que vem a ser um cuidado fisioterapêutico, podemos entender que
existe a necessidade de uma interação entre o fisioterapeuta e o paciente para que este possa
ser colocado em prática. Todavia, as limitações que os pacientes idosos apresentam, nos
diversos aspectos, criam situações de dificuldade para que esse contato seja estabelecido.
Respeitar a individualidade do ser humano é um fator importante a ser considerado. Nesse
contexto, entramos na questão das relações interpessoais, como também foi colocado pelos
informantes. Estas relações estão sujeitas a imprevistos, com repercussões negativas ou
positivas (MAGALHÃES. 1999).
Saber lidar com gente, pois, é um passo fundamental para que o profissional consiga
minimizar os problemas encontrados no seu cotidiano. Assim, precisamos nos adequar aos
imprevistos que surgem a nossa frente para que criemos situações convenientes para

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estabelecer relações interpessoais favoráveis. É preciso que o profissional esteja apto tanto
no saber fazer como no processo de aproximação afetiva para com o paciente, criando uma
atmosfera propícia com o intuito de promover a saúde deste. Isso também envolve a
família, a qual necessita estar esclarecida da importância do processo da reabilitação bem
como das alterações e limitações que se fazem presentes no idoso que se encontra sob
cuidados. Enfim, cabe ao profissional estimular no paciente o desejo de melhorar e fazer
com que o mesmo acredite que isso é possível, mesmo com a idade avançada. Não existem
limites quando o pensamento está livre. O simples fato de um ser humano apresentar
restrições físicas não o torna impossibilitado de ter uma qualidade de vida boa e de poder
considerá-lo como um indivíduo saudável (PATCH ADAMS. 1999). Saber trabalhar as
limitações é um fator fundamental, o que vai proporcionar uma alegria e uma nova
perspectiva de vida para o paciente geriátrico e sua família.
As reações dos informantes frente às condições adversas no ambiente de trabalho são
similares aos profissionais de outras categorias também. Passamos pela necessidade de
inclusão em um grupo; satisfeita essa primeira etapa, nossas atenções se voltam para o
papel que desempenhamos dentro desse grupo, onde buscamos atuar e assumir
responsabilidades dentro deste; depois de terminado esse processo, entramos em outra
necessidade interpessoal, que é a necessidade de afeição, que vem a ser a aproximação com
as outras pessoas do grupo, na qual o indivíduo irá sentir-se valorizado, respeitado,
estimado, aceito como profissional e como pessoa (FRITZEN. 2001). Assim sendo, quando
encontramos dificuldades para trabalhar com pessoas ou estabelecer relações, é despertado
o sentimento de frustração, como foi mencionado por um dos informantes, justamente onde
somos levados a buscar caminhos ou alternativas para ultrapassar e vencer as barreiras
encontradas ou impostas na vida, saciando nossas necessidades como profissionais e seres
humanos.
3.3 Facilidades para colocar em prática a concepção de cuidado com pacientes
geriátrico e os sentimentos e reações frente as mesmas
Todos os informantes do estudo expressaram que tem facilidades para lidar com paciente
geriátrico. Isto porque "...consigo manter um bom vínculo, uma boa relação com estes
pacientes, o que facilita o cuidado fisioterapêutico; todavia, não podemos esquecer que esta

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relação não é universal, pois cada paciente é único e reage de forma diferente independente
da idade”. "Tenho muita experiência com o idoso, pois já fiz especialização em
gerontologia e já trabalhei com o idoso durante nove anos numa instituição de idosos
(abrigo)”. Por que "através de atenção, carinho, saber ouvir o idoso, aceitar suas limitações”
"A maioria dos idosos, quando sentem que há pessoas que buscam ajudá-lo, se mostram
cooperativos e empenhados na ação intervencionista que está sendo desenvolvida. Isso
facilita o elo teórico-prático”. “Existem pacientes que colaboram e compreendem a
importância do tratamento, e isso facilita o trabalho, pois a fisioterapia não é apenas
reabilitar, e sim fazer com que o paciente acredite na recuperação”. "Uma vez que os
pacientes que acompanho são colaborativos e consigo despertar neles o desejo de melhora
e, dessa forma, tornam-se assíduos à terapia”.
Os sentimentos que tais informantes expressam diante das facilidades dimensionadas, assim
dizem: “...me sinto bem em conseguir manter uma boa relação com o paciente idoso e
poder ajudá-lo no que minha profissão permite”. “Sinto-me realizado, pois sei das
dificuldades que encontramos inicialmente junto ao idoso. Quando o conquistamos, tudo
fica mais fácil”. “Sentimento de prazer. Procuro valorizar as situações favoráveis à prática
do cuidar”. “As facilidades trazem um bem-estar ao terapeuta, mostrando que a conduta
tem variáveis facilitadoras. E claro, deve-se sugar todo proveito dessas variáveis”. “É muito
prazeroso trabalhar quando há facilidade, por isso sinto-me feliz e realizado diante dos
mesmos, executando meu trabalho de todas as formas possíveis”. “Sinto-me realizada,
principalmente quando alcanço os objetivos desejados. Busco cada vez mais aprimorar
meus desejos e condutas profissionais”.
O aspecto da interação entre o fisioterapeuta e o paciente foi uma unanimidade entre as
respostas dos informantes frente às facilidades encontradas por eles para cuidar do idoso.
Isso vem consolidar ainda mais o fator da competência interpessoal de cada indivíduo,
dentro de suas características próprias e singulares. A forma como nos comunicamos é um
aspecto importante a ser considerado quando almejamos um vínculo de proximidade maior
com outra pessoa. Os “segredos” de como empregar as formas de comunicações verbais e
não-verbais torna-se um forte aliado para se alcançar este objetivo. Dessa maneira, a
sensibilidade para que possamos perceber os sinais de aprovação ou reprovação, por parte

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do paciente, de uma determinada conduta ou ação adotada, bem como ao preparo do
profissional às relações humanas, tornam-se mais um aspecto a ser desenvolvido e
utilizado. Assim, podemos atingir com maior facilidade nossos objetivos na terapia e
otimizar o prognóstico e a evolução do paciente com vista à promoção da saúde, dentro de
uma visão holística do ato de cuidar. Tomando isso como preceitos a serem seguidos, nos
aproximamos cada vez mais do verdadeiro significado do que vem a ser um terapeuta,
procurando as reais causas das angústias dos pacientes, devido a uma relação interpessoal
de afeto, carinho, compreensão, carisma e confiança uns para com os outros. Expressam
também, a idéia de "nada melhor que o sentimento do dever cumprido". Quando
conseguimos atingir nossos objetivos ou metas, superando os obstáculos, é esperado o
sentimento de prazer e realização pessoal (FRITZEN. 2001). Isso serve para a elevação da
auto-estima, o que nos torna mais confiantes para as realizações do cotidiano e satisfeitos
com nossas realizações e resultados alcançados. Dentro dessa perspectiva, os relatos dos
informantes consolidam essas afirmações, tornando palavras com significado de
“realização” e “sentir-se bem” freqüentes nas respostas emitidas.
3.4 Palavras que expressam a idéia de comunicação entre fisioterapeuta e paciente
geriátrico
Para conseguir identificar a idéia que os informantes deste estudo tinham a respeito da
comunicação entre fisioterapeuta e paciente geriátrico, utilizamos a técnica de associação
livre de palavras, de onde obtivemos as três principais palavras que caracterizam a idéia
referida: paciência, respeito e carinho.
Uma palavra que representa todas as citadas pelos informantes, com exceção de “escassez”,
é o CUIDAR. Como foi colocado por Crema (1999) e Silva (1999), o ser humano deve ser
visto como um todo, onde o profissional da área da saúde deve assumir a função de um
agente promotor do bem-estar, devendo existir, para tal, humanismo nas suas ações, as
quais devem ser "recheadas" com "afeição, ternura, respeito, interesse, paciência, vontade,
perseverança" e, acima de tudo, com muito "amor ao próximo" e à profissão. Dessa forma,
estaremos agindo como verdadeiros profissionais promotores da saúde, o que terá grandes
repercussões no processo de legitimar a fisioterapia como ciência do cuidar humanizado.

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3.5 Visão sobre a comunicação como estratégia complementar no cuidado
fisioterapêutico em pacientes geriátricos
Todos informantes foram unânimes em expressar que a comunicação pode ser considerada
como uma estratégia complementar no cuidado fisioterapêutico junto ao paciente geriátrico.
Os depoimentos de tais informantes assim expressam: “Ainda ousaria a dizer que às vezes é
complementar e muitas vezes essencial, pois acredito que uma boa comunicação e uma boa
relação com estes pacientes nos leva a uma boa atuação. Isto me foi e cada dia mais é
possível observar na prática”. “Considero que a comunicação seja a estratégia
fundamental”. “Este paciente é, muitas vezes, carente. Vive de suas reminiscências e gosta
de dividir com os outros os fatos que marcaram suas vidas. Sentem-se valorizados, melhora
sua auto-estima, o que pode significar uma melhora acentuada no seu processo de
reabilitação”. “Não complementar, mas fundamental. A comunicação é um fator
importantíssimo no cuidado geriátrico. É preciso que se tenha em mente uma pessoa, um
ser humano, que precisa ser ouvido (quando possível) e ser assistido globalmente, sendo
estes só possíveis através da comunicação”. “...a fisioterapia não é apenas reabilitar, e sim
fazer com que o paciente acredite na reabilitação. E a comunicação é o ponto chave desta
compreensão”. “...o tratamento inicia-se sempre a partir de uma boa e sincera conversa,
evoluindo para tratamentos específicos posteriormente”.
Os depoimentos acima referidos denotam claramente uma perspectiva de cuidado holístico,
onde a comunicação foi adotada como uma estratégia complementar por quatro dos seis
informantes, e dois a colocaram como fundamental, em relação ao cuidado fisioterapêutico
com pacientes geriátricos. Assim, fica evidente que a comunicação constitui-se na chave
para uma terapia de resultados positivos utilizando-se das suas formas verbais e não-verbais
como estratégia complementar no cuidar.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão resultante desta jornada nos deixa mais esclarecidos à cerca do processo
que torna a comunicação como uma estratégia complementar no cuidado fisioterapêutico
geriátrico. Mostrou-nos, veemente, que não é apenas um fator que possibilita a interação
entre terapeuta e paciente, mas, sim, são aspectos multidimensionais relativos às relações
interpessoais do cotidiano hospitalar, ambulatorial, domiciliar e comunitária, levando-se

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sempre em conta a singularidade que existe dentro de cada um. Manter essa idéia viva é um
grande desafio pessoal e profissional a ser cada dia mais enfrentado, no sentido de
promover um cuidado mais comunicativo e, atuar de forma mais humanística, pondo em
prática o verdadeiro ato de cuidar.
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