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A ARTE DE CONTAR
HISTÓRIAS COM MÚSICA
e m 9 p a s sos
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ÍNDICE
Pra c omeçar 4
In trod ução/ C omo su rgem a s hi s t ó r i a s 5
A i mportânci a d e ou v i r e conta r h i s t ó r i a s 6
S obr e a ar te d e conta r hi stóri a s 7
O cam i nho d o conta d or d e hi st ó r i a s c o n t e m po râ n e o 8
9 passos / Passo 1 – C onh eça se u pú bl i c o 9
Passo 2 – B u squ e sua p róp ri a l i n g u a g e m 10
Passo 3 – Es col ha o tex to – co m po n h a s e u r e pe r t ó r i o 11
Passo 4 - As si mi l e a h i stóri a e t ra ba l h e o t e x t o 12
Passo 5 - Aprend a a u sa r a v oz 13
Passo 6 - So l te o corp o e entre g u e - s e a o pu bl i c o 14
Passo 7 – D esp erte em v ocê o s u j e i t o m u s i ca l 15
Passo 8 – I nsi ra a músi ca em s u a pe r f o r m a n c e 16
Passo 9 – Cri e sua p erf orma nce 18
Tex to - Bô n u s - Crie s e u e s pe tá cu lo de c on tação de hist órias c om m úsica 19
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PRA COMEÇAR
Por meio deste e-book, pretendo compartilhar com todos os interessados na arte
de contar histórias com música, a experiência vivida por mim ao longo de 40 anos
dedicados à infância por meio da palavra. Da palavra cantada por via da canção; da
palavra dramatizada, por meio do teatro; da palavra escrita mediante a autoria de
livros infantis; da palavra falada, por intemédio da arte de contar histórias.
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INTRODUÇÃO
COMO SURGEM AS
HISTÓRIAS?
Segundo Yuval Noah Harari, autor do best-seller “Sapiens – uma breve história
da humanidade”, as histórias começam a ser contadas entre 70 e 30 mil anos atrás
aproximadamente, quando o homo sapiens protagonizava a revolução cognitiva,
dando origem à linguagem verbal. Gestos, gritos e grunhidos cedem lugar à palavra,
sofisticando gradualmente a comunicação entre pessoas, tribos e comunidades. As-
sim, os humanos podem não somente narrar verbalmente suas próprias experiências
ou as de outrem, mas também falar sobre coisas inexistentes. Ao longo de milênios,
narrativas ficcionais ajudam a fundar diferentes sociedades, culturas, religiões, im-
périos, reinados, governos e instituições.
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A IMPORTÂNCIA DE OUVIR
E CONTAR HISTÓRIAS
As histórias existem para tornar a vida das pessoas mais interessante, rica de
significados e plena de sentidos.
Fanny Abramovich, em seu livro “Literatura infantil – gostosuras e bobices” diz:
“Ouvir e contar histórias é viver um momento de gostosura, de prazer, de divertimen-
to dos melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução...”.
Segundo a autora, a história contada é o livro da criança que ainda não lê, o que
torna as narrativas orais um excelente meio de formar leitores. Ser leitor é descobrir
o mundo através da palavra escrita. Ser um bom ouvinte de histórias é desvendar a
beleza e os mistérios da vida por meio da oralidade.
Ouvir e contar histórias pode ser uma boa forma de ampliar a consciência, agu-
çar a sensibilidade e alargar a percepção e a compreensão do mundo, do outro e de
si mesmo. Os contos tradicionais, por exemplo, além de seu valor literário, tratam
de temas de ordem antropológica, mítica e psíquica, auxiliando-nos no processo
de autoconhecimento. Segundo Bruno Bettelheim, os contos de fadas trazem em si
representações simbólicas do psiquismo infantil que podem auxiliar a criança no
processo de maturação de sua vida afetiva e emocional.
Ouvir histórias é fundamental para a formação de toda criança. O bebê, por
exemplo, ao ouvir a voz da mãe, do pai ou do cuidador contando uma história ou
cantando a ele uma canção, além de sentir-se amado e acolhido, ingressa mais pron-
tamente no mundo da linguagem e do pensamento simbólico.
As crianças, ao procurar traçar mentalmente uma rede de significados a partir das
ideias, imagens verbais e sonoras, formas e cores, sentimentos e emoções presentes
nas performances narrativas, ampliam a rede de conexões neuronais estimulando
assim o desenvolvimento de sua inteligência, seu senso crítico e sua sensibilidade
estética.
São inúmeras as motivações que podem levar uma pessoa a se interessar pela
arte de contar histórias. Cabe a cada um, ao longo de sua jornada, descobrir e forta-
lecer suas relações mais íntimas com essa arte.
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SOBRE A ARTE
DE CONTAR HISTÓRIAS
Contar histórias é suscitar imagens na tela mental do espectador por meio da
palavra, do corpo, da voz, dos gestos e das expressões.
Por isso é, antes de mais nada, uma performance. O termo performance provém
do latim e significa “tomar forma”, “dar forma”. Ela acontece quando o ato de se co-
municar coincide com o ato de receber a comunicação e refere-se ao modo como
alguém se comunica em público. Assim, o contador de histórias é um performer que,
por meio do corpo e da voz, busca criar com o público uma relação de empatia e
retroalimentação.
A narrativa oral assenta-se sobre o tripé Texto, Narrador e Público, chamados por
Elaine Gomes (2018) de eixos narrativos.
A princípio temos o texto, matéria-prima desta arte. Seja autoral ou oriundo da
tradição oral, pertencente a este ou àquele gênero literário, o texto estará sempre
sujeito à leitura e à interpretação particular do narrador, o segundo eixo narrativo.
Este, ao converter o texto em linguagem narrativa, imprime nele sua “digital” de
acordo com sua própria história de vida, personalidade, referências socioculturais e
suas habilidades técnicas e artísticas. Cabe ao narrador a tarefa de mediar a relação
entre o texto/história e o público, terceiro eixo narrativo. Sem o público não é possí-
vel existir o evento performático. É ele que complementa o circuito da comunicação,
recebendo e assimilando, conforme sua sensibilidade e visão de mundo, aquilo que
lhe foi apresentado.
Se o público será ou não tocado pela performance, dependerá da capacidade do
narrador de fazê-lo sentir que tudo aquilo que ele viu e ouviu está no lugar de algo
que lhe pertence, seja uma imagem, uma lembrança, uma sensação, uma ideia, um
sentimento ou uma emoção. Algo de sua vida deve estar refletido na história e/ou na
performance do narrador. Somente assim a narrativa alcançará seus objetivos mais
nobres: envolver, sensibilizar e encantar a plateia.
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O CAMINHO PARA SE TORNAR
UM CONTADOR DE HISTÓRIAS
Como já vimos, o contador de histórias contemporâneo é aquele que desenvolve
habilidades e competências técnicas e artísticas para contar histórias. Paralelamente
aos estudos contínuos – uma vez que essa arte está em constante processo de trans-
formação –, a prática da contação deve ser um permanente laboratório de pesquisa
e descobertas. Teoria e prática devem trilhar juntas o caminho que leva à excelência
da performance narrativa.
É recomendável que este percurso seja orientado e dirigido por profissionais da
área, pois a contação de histórias possui uma linguagem específica dentro da arte,
sujeita, como qualquer outra, a regras, códigos e princípios que norteiam sua prática.
Mas, afinal, em que consiste este percurso?
Por meio de aportes teóricos, bem como de um conjunto de práticas orientadas,
o aluno poderá desenvolver e aprender diferentes técnicas de contação de histórias;
trabalhar o corpo e a voz; conhecer, analisar e escolher textos de valor literário e ade-
quados à narrativa oral para compor seu repertório; aprender a se comunicar com o
público; tornar-se um leitor crítico, consciente e conhecedor de obras e autores; criar
seu próprio estilo narrativo e, principalmente, ser resiliente com os próprios erros e
humilde com as próprias conquistas.
Calma! Parece muita coisa, mas não desista antes de começar! Além desse per-
curso ser uma oportunidade única de autopercepção e desenvolvimento pessoal,
o estoque de conhecimento e experiências não precisa vir todo de uma vez. Um
workshop aqui, uma palestra ali, uma prática acolá, um e-book aqui e agora!
A seguir, apresentamos 9 passos para a criação de sua contação de
histórias com música, além de um texto-bônus sobre a criação de seu
espetáculo.
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9 PASSOS
Passo 1 - Co nh eça seu p úb l i co
9
Passo 2 - Busqu e sua p róp ri a l i n g u a g e m
Entende-se por narrativa simples aquela que prescinde de qualquer recurso que
vá além dos três eixos já citados: história, narrador e público.
No entanto, outras linguagens artísticas vêm sendo utilizadas pelos narradores con-
temporâneos, compondo um rico mosaico de formatos e estilos de performance nar-
rativa.
O uso do livro e suas ilustrações, bonecos, fantoches, teatro de sombra, dobradu-
ras e todo tipo de acessórios e adereços cênicos tem sido recorrente nas contações
de histórias.
A música é uma linguagem que guarda especial afinidade com a arte de contar
histórias. Em momento oportuno, falaremos mais sobre isso.
O estilo de um contador de histórias contemporâneo também é marcado pela
forma com que trata o texto literário, fonte de sua narrativa.
Considerando que a história é “o que” está sendo contado pelo escritor, e o texto
é o “como” ele conta a história, durante o processo de migração da arte literária para
a oralidade, a história pode vir a ser “descolada” do texto ganhando a sintaxe própria
do narrador. Neste caso, o estilo da performance aproxima-se do estilo narrativo do
contador tradicional.
Quando o narrador é fiel ao texto literário e constrói uma performance mais
técnica, com base na elaboração de gestos e expressões vocais, faciais e corporais,
reflete maior identificação com o estilo do contador contemporâneo.
Assim, é desejável que o narrador domine ambas as técnicas e, dependendo do
texto e do público, escolha a melhor forma de contar a história.
Diante de diferentes desafios, ambas as formas requerem do contador preparo e
dedicação, pois o que importa, ao fim e ao cabo, é que aconteça a comunicação, e a
performance seja capaz de envolver e encantar o público.
A seguir, discorreremos acerca da arte de contar histórias a partir de uma visão
mais purista desta arte que apregoa a fidelidade ao texto e maior rigor técnico no
preparo da performance narrativa.
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Passo 3 - Es col h a o tex to / com po n h a s e u r e pe r t ó r i o
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Passo 4 - As si mi l e a hi stóri a e t ra ba l h e o t e x t o
Uma vez feita a escolha do texto baseada nos critérios aqui sugeridos, chegou a
hora de transportá-lo da palavra escrita para a oralidade. Antes, porém, é necessário
que o narrador dedique uma boa parte de seu tempo à assimilação da história e ao
estudo do texto.
Já vimos que o texto literário carrega implicitamente uma história e dela é in-
separável. A história, no entanto, pode remanescer ao texto literal ganhando nova
sintaxe na voz do narrador. Isso significa que texto e história podem ser trabalhados
separadamente.
As primeiras leituras do texto possibilitarão ao leitor/narrador a assimilação
da história (sequência dos acontecimentos) e a compreensão da trama (relações de
causas e efeitos). Oportunizará sua familiaridade com o tema, o reconhecimento das
personagens e seus traços psicológicos, a localização no tempo e no espaço da his-
tória.
Uma vez incorporados a história e o enredo, novas leituras devem ser feitas,
agora de forma mais atenta e minuciosa, pois chegou a hora de o contador voltar-se
à sua análise e estudo.
Perceber o estilo narrativo do autor ajudará o narrador a encontrar o tom de sua
performance. Destacar as paisagens verbais e sonoras e suas intenções, deixando-
-as desfilar várias vezes e de forma sequencial em sua própria tela mental, além de
facilitar sua memorização, torna mais eficiente sua tarefa de evocar essas mesmas
imagens na mente dos espectadores durante a narrativa.
Observar a estrutura e a sintaxe, a cadência rítmica, as pausas, a dinâmica, enfim,
a musicalidade do texto, é pré-requisito para o narrador construir sua “embocadura”,
ou seja, definir a forma como o enunciará ao público.
Neste ponto, noções básicas de técnica vocal como: respiração, articulação,
entonação, ressonância, projeção, dinâmica, aquecimento e desaquecimento vocal,
permitem ao narrador imprimir ritmo, clareza e fluidez à narrativa.
Por fim, o texto deve perpassar o corpo do narrador. Gestos, expressões e movi-
mentos devem fluir espontaneamente a serviço do texto, com economia e precisão.
Nessa hora, a consciência corporal do artista pode ser definitiva para o sucesso da
comunicação.
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Passo 5 - Aprend a a usa r a v oz
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Passo 6 - Sol te o corp o e entre g u e - s e a o pú bl i c o
A música guarda uma relação ancestral com a arte de contar histórias. Durante a
Idade Média europeia, os menestréis, artistas errantes que vagavam de uma cidade
a outra, entretinham o povo com suas canções, poemas e histórias acompanhados
de seus instrumentos musicais. Também havia os trovadores, músicos que divertiam
a nobreza com suas cantigas lírico-amorosas ou satíricas.
Hoje, muitos contadores de história inserem a música em suas performances
narrativas por meio da interpretação de canções, acompanhadas (ou não) de instru-
mentos musicais e/ou objetos sonoros.
É interessante observar que, mesmo na ausência de canções ou interpretações
instrumentais, o próprio discurso narrativo está impregnado de elementos musicais
como pulsação, andamento, cadência, colorido, entonação e dinâmica.
Uma narrativa oral com musicalidade é como uma árvore frondosa, carregada
de folhas verdes e deliciosos frutos. Daí a importância de o contador de histórias
musicalizar-se, desenvolver o sentido rítmico, melódico e harmônico, aprimorando
a acuidade auditiva, trabalhando a voz e o corpo e, quem sabe, aprendendo a tocar
um instrumento musical. E por que não? Basta dar um passo na direção certa, e o
caminho se fará ao caminhar.
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Passo 8 - I n si ra a músi ca em s u a pe r f o r m a n c e
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presença nas narrativas orais é rara, se comparada com a canção, mas pode exercer
um grande poder de encantamento junto ao público.
A sonoplastia explora as possibilidades expressivas do som e tem como função
criar imagens sonoras que despertem o imaginário do espectador. É aconselhável
que sua execução seja acústica (executada ao vivo), feita pelo próprio narrador ou
por músico ou músicos acompanhantes, evitando a sonoplastia gravada.
Sons de trovão, batidas de porta, sons de animais, de vento, cachoeira, chuva,
entre outros, são muito bem-vindos em uma contação de histórias pois, uma vez
contextualizados, criam diferentes ambiências sonoras acentuando a dramaticidade
da narrativa. Tais sons podem ser emitidos pela voz humana – nas chamadas onoma-
topeias – ou por instrumentos musicais de corda, sopro ou percussão.
Os instrumentos de percussão, especialmente os de efeito (idiofones), são muito
recomendáveis para imitar sons da natureza, de animais e objetos. Eles podem ser
encontrados em lojas de instrumentos musicais, feiras de artesanato ou em lojas de
produtos diversos. O contador de histórias que deseja sonorizar sua performance
deve ficar atento às oportunidades de aquisição desses instrumentos para, aos pou-
cos, constituir seu acervo sonoro.
Objetos diversos também podem ser usados na sonoplastia de um espetáculo
narrativo. Garrafões de água, potes de iogurte, talheres, molhos de chaves e semen-
tes, entre outros materiais, quando manipulados adequadamente, tem o poder de
evocar imagens sonoras interessantíssimas.
A construção de instrumentos musicais a partir de materiais recicláveis é um
universo à parte, e a ele o narrador deve dar atenção especial se o seu objetivo é
surpreender e encantar a plateia.
Para além do canto, da música instrumental e da sonoplastia, o universo da Tra-
dição Oral Brasileira – poemas, adivinhas, brinquedos cantados, parlendas, trava-lín-
guas, entre outros gêneros da cultura popular brasileira e de outros povos – pode
enriquecer, e muito, o seu espetáculo de contação de histórias. Atividades musicais
e lúdicas tornarão sua performance original, dinâmica e interativa.
Por fim, o diálogo entre músicas, efeitos sonoros e narrativas orais, enriquece a
performance do contador de histórias e aumenta seu fascínio junto ao público.
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Passo 9 - Cr i e sua p erf orma nce
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FICHA TÉCNICA
Autoria: Rosy Greca
Revisão de textos: Cláudia Ortiz
Projeto gráfico: Giulia Fontoura
Fotografias: Bianca Siqueira, Mariza Tezelli
Produção: Cântaro Arte-Educação e Cultura
2019
Rua Santa Catarina, 65, sala 803 A
Curitiba-PR
CEP: 80620 100
Fone: (41) 3203 7989
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