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Jaime Giolo: A Educação Redefinirá o Futuro Do Brasil. Por Régis Mubarak
Jaime Giolo: A Educação Redefinirá o Futuro Do Brasil. Por Régis Mubarak
JG - Sim, pode ser. Embora eu não usaria a expressão “ato de coragem”, porque a
atividade docente é muito significativa e não se vai a ela por um ato de coragem mas por
uma escolha. Entretanto, há um contexto muito difícil para a educação brasileira,
especialmente para a educação pública estadual (estou falando do Rio Grande do Sul).
Nesse caso, sob o aspecto da luta política em defesa dos direitos do professor, sim, é
preciso uma boa dose de coragem e determinação para fazer a necessária luta política.
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famigerada EC. Acreditas Professor Giolo que conseguiremos reverter esse
quadro a tempo de não afetar negativamente as próximas gerações?
JG - A Emenda Constitucional 95 foi um ato bárbaro realizado pelo Golpe. Sua natureza
é maléfica sob todos os pontos de vista. Ostentando a tese falsa de que o Estado é enorme,
se fez essa camisa de ferro para reduzir o tamanho do Estado, mirando, de modo especial,
os setores que executam as políticas públicas mais importantes. O Estado não é grande
para o tamanho do país e para as necessidades dos serviços públicos. Praticamente todos
os países melhor colocados no cenário mundial, têm um Estado mais representativo do
que o Estado Brasileiro (de todos os trabalhadores brasileiros, 12% são servidores
públicos; a média da OCDE é de 21%). Os proponentes da EC 95 enganaram o Congresso
Nacional que votou uma matéria sem compreendê-la. Agora apareceu a conta a ser paga.
É de se esperar que se crie um movimento amplo para acabar com ela. Por ora,
entretanto, todos os sacrifícios estão sendo jogados sobre os servidores públicos,
aposentados e destinatários das políticas sociais. O mercado financeiro ficou isento de
qualquer participação nesse programa de austeridade. A camisa de ferro não pesa sobre
o corpo das despesas financeiras da União; apenas sobre as despesas primárias. Uma
catástrofe.
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meio do caminho. Logo na apresentação tu escreves que “nesse sentido, o
caráter do trabalho é sobressaliente, embora também haja um esforço
analítico nada desprezível.” Considerando que tua parte analítica é sim,
imprescindível, fique à vontade para falar sobre: “O Future-se sem Futuro.”
(Ao final dessa entrevista acrescentaremos o link que leva ao artigo
completo do Professor Doutor Jaime Giolo na Plataforma ResearchGate.)
RM - Ainda no tocante ao teu artigo “O Future-se sem Futuro” lê-se que (...)
“uma sociedade formada apenas de empreendedores, se fosse possível,
seria uma sociedade infeliz. Mas ela não é possível, porque um corpo social
se estrutura muito mais em função de práticas cooperativas e solidárias do
que de práticas competitivas e individualistas. Por isso, o sistema escolar
não pode se concentrar na consecução e, sobretudo, sob pena de jogar a
juventude no vale sombrio da frustração e do abatimento.” (O Ministro da
Educação Abraham Weintraub que se considera um especialista em
startups e militante da causa reconheceu perante os deputados da Comissão
de Finanças e Tributação que há uma margem gigantesca de fracasso nesse
modelo a ser implantado.) Eis que o saudoso Professor e Antropólogo Darcy
Ribeiro (1922-1997) ao afirmar que “a crise da educação no Brasil não é
uma crise, é projeto” de certo modo foi um visionário dessa realidade
distópica que nos sufoca parcialmente?
JG - Sim, Darcy Ribeiro tinha razão. A crise da educação é, em grande parte, criada para,
nas trevas que surgem dessa crise, executar políticas elitistas discriminatórias. A
educação, nos últimos anos, tinha adquirido uma força extraordinária e uma
representativa imensa. Foi feita uma enorme expansão, aliada à descentralização e à
democratização. A inclusão social abriu perspectivas alvissareiras para as classes
populares. É contra isso que se abate a atual avalanche demolidora. É, de fato, um projeto
de destruição das políticas socais que está em curso. Isso quer dizer que estamos
tomando o caminho de retorno a uma sociedade estratificada e segregacionista.
RM - Poderias nos falar Professor Jaime Giolo, sobre tua participação ainda
a frente da Reitoria da Universidade Federal da Fronteira Sul, em Córdoba
na Argentina na III CRES: Conferência Regional de Educação Superior para
a América Latina e Caribe realizada em junho de 2018? Resumidamente
qual tua avaliação daquele momento tão especial da educação latino
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americana e os projetos ali delineados, antes obviamente de mirarmos no
horizonte essa série de conflitos, que seriam deflagrados em países irmãos
como o Equador, o Chile e a Bolívia?
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momentos especiais guardas na memória e poderia destacar que marcaram
profundamente esses 10 anos?
JG - Eu poderia ter seguido muitas carreiras e, por certo, teria encontrado sentido e
realização. Mas a vida dá poucas possibilidades de escolha para quem nasce de família
pobre. Nesse caso, você tem de optar por aquilo que a vida lhe apresenta e, dessa forma,
enfileirar suas opções, pacientemente, uma coisa depois da outra, à medida que as
situações se descortinam à sua frente. O segredo está em fazer cada coisa da melhor
forma possível, com dedicação e zelo. Desse jeito se extrai o sentido da atividade e a
realização pessoal. Já me imaginei trabalhando em oficina mecânica e em fábrica de
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móveis de madeira. No terreno acadêmico, se me fora dada a possibilidade, teria
abraçado, com gosto, o caminho da matemática, da física, da computação, do direito, etc.
Se eu tiver sete vidas, farei tudo isso. As personalidades de referência são muitas. Minha
biblioteca é enorme e não saberia dizer quem é mais importante, porque, de fato, recebi
inspiração larga e profunda de muita gente. De qualquer maneira, no terreno da teoria
social, minhas referências são sempre de esquerda. Nas outras áreas, intelectuais e
cientistas racionalistas e evolucionistas.
JG - Estou preparando aulas. Vou entrar, com alegria na sala de aula. Tenho muitas
coisas para escrever, incluindo algumas epopeias em verso. Participarei de eventos
intelectuais na medida do possível. Serei chamado para palestras e bancas. Farei o que
estiver ao meu alcance. Isso já é bastante, pois pretendo também saborear as amizades e
as tertúlias.
JG - Estou lendo muitas obras, inclusive, para preparar as aulas. Recomendo: “Para uma
crítica da razão bioética”, de Lucien Sève; “A assustadora história da maldade”, Oliver
Thompson; “A elite do atraso”, de Jessé Souza; “Científica: o guia completo do mundo da
ciência”, de VV.AA; e “Como funciona a mente”, de Steven Pinker. Estou, de fato,
trabalhando em dois livros que estavam na gaveta, empoeirados. Estão dando mais
trabalho do que imaginava.
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JG - Desde que o primeiro rádio de pilha apareceu na nossa casa, no início dos anos 80,
a cultura musical do Rio Grande do Sul passou a fazer parte da minha vida. O lazer
cultural naquele tempo se resumia a ouvir programas de rádio. Ainda, hoje, embora mais
eclético, meu universo musical dá predileção à música regional, do estilo missioneiro. Li
grande parte da literatura feita no Rio Grande do Sul, sendo Érico Veríssimo o escritor
mais frequentado. Na poesia, Jayme Caetano Braun, Luiz Menezes e Apparício Silva
Rillo.
JG - O acordeom é meu instrumento predileto. Entretanto, não sou gaiteiro; apenas faço
barulho. (Risos.) O suficiente para animar tertúlias despretensiosas. Faltando gaiteiro,
todavia, sobram gaitas, especialmente uma Paolo Soprani, cromática, do Sistema B, com
120 baixos, duplo cassoto e 15 registros reais.
Então para quem quiser contratar “o gaiteiro Giolo ali das bandas de Passo
Fundo tchê” para uma apresentação “não se acanhe.” Acreditamos que “não
cobrará muito caro” pelo cachê. (Risos.) Tocará incluso por uma “picanha
bem passada” com certeza, por uma garrafa de vinho tinto da serra gaúcha
ou talvez, por um legítimo malbec tinto argentino safra 2013. Quanto as
demais especificações do contrato a ser negociado para “o tal entrevero”
podemos afirmar com absoluta precisão, que passam antes por “uma boa
prosa espichada” num final de domingo junto a um mate bem cevado. E
também garantimos além da boa música, a descontração e a alegria que
essas tertúlias proporcionam aos amigos, elevando a alma e renovando as
energias para continuar “a peleia” na construção de um Brasil mais
igualitário e justo para todos nós!
Régis Mubarak *
Jornalista
Mendoza – Argentina & Rio Grande do Sul – Brasil
Dezembro 2019
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https://www.researchgate.net/publication/337851329_Future-se_08_12
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=== Os demais artigos escritos pelo Professor Jaime Giolo, em datas
anteriores a dezembro de 2019, também estão disponíveis para leitura,
pesquisa e download na Plataforma ResearchGate, basta acessar a página
oficial em:
https://www.researchgate.net/profile/Jaime_Giolo
http://portal.inep.gov.br/web/guest/educacao-superior/indicadores-de-
qualidade/resultados
A GAITA DA BOSSOROCA
https://www.letras.mus.br/berenice-azambuja/1554435/
ANDIFES
http://www.andifes.org.br/
CHAPECÓ
https://pt.wikipedia.org/wiki/Chapec%C3%B3
DARCY RIBEIRO
http://www.academia.org.br/academicos/darcy-ribeiro/biografia
INEP
http://portal.inep.gov.br/web/guest/inicio
PASSO FUNDO - RS
https://pt.wikipedia.org/wiki/Passo_Fundo
UFFS
https://www.uffs.edu.br/
VILA MARIA - RS
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_Maria