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Saúde é Vital
Mente Saudável
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O que é, o que é? Tem sintoma, mas não é doença. Faz mal à saúde, mas não é
excesso de peso. Pode até matar, mas não é tabagismo. Acertou quem disse:
solidão.
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Saiba mais
Nesse contexto, a ONG inglesa Campanha para Acabar com a Solidão, fundada em
2011, lançou um vídeo com a seguinte pergunta: “Você conseguiria passar uma
semana sem falar com ninguém?” Em uma de suas enquetes, apurou que 52% dos
entrevistados gostariam de ter com quem conversar, 51% sentiam falta de ouvir
risadas de alguém e 46% se queixavam de não receber um abraço.
“Todos nós, governo e sociedade, temos uma missão a cumprir. De nossa parte,
criamos o movimento “Seja Mais Nós”, que encoraja pequenas conexões diárias,
como cumprimentar desconhecidos na rua, convidar os vizinhos para um chá ou
telefonar para algum solitário em potencial. Dez minutos de bate-papo fazem a
diferença”, conta Laura Alcock-Ferguson, diretora da entidade.
O fantasma da solidão não tira o sono apenas dos britânicos. Estimativas apontam
que uma em cada quatro pessoas no mundo não tem amigos pra valer, vive longe da
família ou se sente desconectada socialmente.
O brasileiro é solitário?
Por essas e outras, será que a criação de um Ministério da Solidão, parecido com
aquele do Reino Unido, teria serventia por aqui? Na opinião da psicóloga Cecília
Carmona, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, sim. Autora do estudo A
Experiência de Solidão e a Rede de Apoio Social de Idosos, ela acredita que uma
pasta ou uma estrutura para tratar exclusivamente do assunto seria essencial à
implantação de políticas públicas eJcientes.
“Estar só e sentir solidão são coisas diferentes. Estar só remete à ideia de prazer,
relaxamento e satisfação. Já solidão é sinônimo de abandono, tristeza e
desamparo. Sem o enfrentamento necessário, a solidão pode evoluir para a
depressão e, em casos mais severos, levar ao suicídio“, alerta Cecília.
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Se você está lendo SAÚDE, é porque nossos ancestrais – lá atrás, ainda na era das
cavernas – se sentiram sós. Sem vínculo social, a espécie humana já teria
desaparecido há muito tempo.
“A dor física protege o indivíduo dos perigos físicos. A dor social, também
conhecida como solidão, protegia o indivíduo de permanecer isolado”, escreve
Cacioppo em Solidão – A Natureza Humana e a Necessidade de Vínculo Social
(Editora Record). “Os primeiros humanos tinham mais chance de sobreviver quando
se mantinham juntos.”
Do ponto de vista médico, solidão não é doença. Mas possui sintomas – choro
frequente, perda de apetite, baixa autoestima… – e pode ser classiJcada como
crônica ou aguda. Todos nós, em algum momento, estamos sujeitos a “picos de
solidão”.
Existem evidências, aliás, de que, quanto mais jovem é a pessoa, mais solitária ela
se sente. A geração americana de 18 a 22 anos apresentou, em uma pesquisa da
Universidade da Califórnia, o maior índice de solidão, no comparativo com as turmas
de 23 a 37 e de 52 a 71 anos. Em uma investigação inglesa, a faixa dos 16 aos 24
também compõe a dos mais sozinhos.
“Na maioria das vezes, episódios de solidão, quando você muda de bairro e precisa
fazer novos amigos, por exemplo, são inevitáveis e não trazem sequelas. O
problema é quando essa sensação persiste”, analisa a psicóloga Pamela Qualter, da
Universidade de Manchester, na Inglaterra.
Um bom exemplo de solidão aguda que pode se tornar crônica é a do luto. Superar a
perda de um ente querido nunca é fácil. Mas a tarefa de seguir adiante pode se
tornar ainda mais difícil em casos de mortes repentinas, violentas, múltiplas ou de
Jlhos.
“Nesses casos, sentir raiva, culpa ou tristeza é perfeitamente normal. O que precisa
ser observado é se tais sintomas perduram por muito tempo ou impedem o
enlutado de retomar sua vida”, esclarece a psicóloga Ingrid Esslinger, do Laboratório
de Estudos sobre a Morte da Universidade de São Paulo. “Há pessoas que, mesmo
depois de anos, ainda se emocionam ao falar da perda que sofreram ou não
conseguem se desfazer dos pertences do morto.” Quando isso acontece, pode ser
bem-vinda uma sessão com o psicólogo.
Caso suspeite que a solidão já passou dos limites no seu caso, você pode fazer um
teste aprovado pela ciência para saber qual seu grau de isolamento e se é preciso
buscar ajuda.
Solidão e saúde
Antes das repercussões físicas, porém, é provável que a desconexão social impacte
a esfera mental. Indivíduos muito solitários estão no grupo que mais sofre de
ansiedade, fobia e depressão.
A solidão afeta uma área do cérebro, o córtex pré-frontal, responsável pela tomada
de decisões. E isso ajuda a explicar por que sujeitos que se sentem isolados do
mundo tendem a dormir menos, se alimentar mal, abusar do álcool e levar uma vida
sedentária.
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Por não se tratar de uma doença em si, não existe vacina ou remédio para a solidão.
Existem, porém, medidas eJcazes para minimizá-la e reduzir suas in{uências na
saúde.
Isso envolve desde tarefas simples, como fazer um favor a alguém, a atitudes que
demandam mais tempo e atenção, como exercer trabalho voluntário. A prática de
exercícios e a adoção de um animal também costumam dar bons resultados.
Outro conselho é engajar-se, aos poucos, em atividades sociais, seja num clube de
leitura, seja na academia do prédio. “A interação social tem que ser positiva para
ambas as partes. Ao puxar assunto, priorize temas agradáveis. Falar sobre impostos
ou doenças pode não ser uma boa ideia”, aconselha Stephanie Cacioppo.
“Fazer amigos virtuais não é a melhor estratégia para enfrentar o isolamento. Sugiro
sair da frente do computador e interagir com pessoas do mundo real”, recomenda
Melissa. “Somos animais sociais e, como tal, precisamos nos conectar com outros
para manter o bem-estar físico, mental e emocional”, defende a pesquisadora.
Não é preciso forçar a barra nem acabar com os momentos a sós. Mas, se a solidão
começar a bater, que tal convidar aquele amigo que você não vê há tempos para
tomar um café?
Ao contrário da solidão, estar só costuma ter seu lado positivo. Em 1997, o escritor
norueguês Jo Nesbo descobriu que o voo que o levaria de Oslo, na Noruega, onde
mora, até Sydney, na Austrália, onde passaria as férias, levaria 32 horas.
O que ele fez? Abriu seu laptop e começou a trabalhar ali mesmo. Seu primeiro livro
nasceu a bordo de um avião. “Às vezes, é bom tirar férias do mundo e passar um
tempo só com você mesmo”, aJrma o psicólogo Gregory Feist, da Universidade
Estadual de San Jose, nos Estados Unidos.