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De Vilarejo À Cidade Conurbada: A Expansão de Sarandi Condicionada Pela Ação de Três Agentes Imobiliários e Pelo Parcelamento Rural
De Vilarejo À Cidade Conurbada: A Expansão de Sarandi Condicionada Pela Ação de Três Agentes Imobiliários e Pelo Parcelamento Rural
De Vilarejo À Cidade Conurbada: A Expansão de Sarandi Condicionada Pela Ação de Três Agentes Imobiliários e Pelo Parcelamento Rural
Mapa 01: Propriedade loteada pela CMNP com as cidades loteadas por esta companhia.
Fonte: Souza et al., 2009, adaptado pela autora.
Espacialmente, o resultado deste expressivo sentido definido por Castex (1995), que o propõe
crescimento urbano – direcionado principalmente como uma atualização e ampliação do campo de
pela ação de agentes do mercado imobiliário – se atuação dos estudos morfológicos. Neste sentido,
expressa por: desordenamento e segmentação da não se trata apenas de descrever o tecido urbano,
expansão urbana; formação de bairros periféricos, mas também de evidenciar suas transformações e
bem como, pelo atendimento desigual, entre as seus problemas temporais, os agentes sociais que
áreas centrais e aquelas mais dispersas, no que promoveram as alterações no tecido, as mudanças
concerne à infraestrutura e aos serviços públicos. de referências e de comportamentos.
Um diagnóstico do Plano Diretor de Maringá (1991)
destaca aspectos da urbanização de Sarandi, cuja Em sua forma atual, [o estudo da forma
expansão, segundo este documento, pode ser urbana] descreve o processo de transformação
considerada, do tecido construído da cidade. Ele trata de
uma estrutura hierarquizada, ela mostra as
alterações, os desaparecimentos, como um
[...] caótica, pois se deu obedecendo à lógica
signo se destrói e muda de significado, a
exclusiva da especulação imobiliária, que
reconstrução de uma outra estrutura por um
muitas vezes não respeitou, sequer o princípio
processo de crescimento e desenvolvimento.
preliminar da manutenção das diretrizes do
Parece que devemos preferir o termo
sistema viário. A resultante deste processo é
morfogênese (o estudo do processo de
um tecido urbano desarticulado, apoiado em
formação e transformação do espaço
padrão de parcelamento bastante inadequado,
construído) ao invés de morfologia (estudo das
e num sistema viário no qual é de difícil
formas). A morfogênese estuda um objeto em
percepção a hierarquia (Plano Diretor de
vias de modificação e não um objeto estático
Desenvolvimento de Maringá, 1991)
[...]. (CASTEX, 1995:79)
Até a década de 1960, Sarandi contava apenas Observa-se, que originalmente, ambos eram
com o patrimônio fundado pela CMNP e um acessados por uma estrada que ligava as cidades de
povoado chamado Vila Vera Cruz (de iniciativa Londrina e Maringá, a atual Avenida Maringá, e,
privada e desvinculada do projeto de colonização posteriormente, também passaram a conectar-se
regional), como áreas destinadas à ocupação urbana também pela ferrovia (1953). Em 1965, foi
(Fotografia 01). De acordo com José Lazaro Pereira5 inaugurada a via que passaria a ter maior
(2008), antigo morador do município, estes importância na conexão regional, a rodovia BR-376,
assentamentos também eram conhecidos como hoje o principal acesso à cidade.
“quilômetro 118” e “quilômetro 115”, Os primeiros estabelecimentos do patrimônio
respectivamente, valores que representavam a (Fotografias 02 a 05) dos quais se tem registro,
distância destes até Londrina. Estes assentamentos foram instalados logo nos primeiros anos de
foram traçados com arruamento e parcelamento fundação de Sarandi: uma venda de secos e
demarcados, tendo o núcleo principal, parcelado molhados (cujo início do fucionamento não possui
pela CMNP, lotes de 560 a 600m² (Mapa 03) e a Vila data precisa) e um comércio de mercadorias que
Vera Cruz terrenos de 1000m². data do ano de 1949 (ROZEIRA, 1999:11). Quanto aos
As imagens em seqüência (Fotografia 01) equipamentos institucionais tem-se: em 1950 foi
mostram a localização do patrimônio Sarandi e da fundada a primeira Igreja; em 1953 foi construída a
Vila Vera Cruz na década de 1950 e 1960, assim como, Estação Ferroviária; e, em 1958, foi instalada uma
as estruturas regionais às quais estavam vinculadas. Agência dos Correios (SARANDI, 1987).
5
Entrevista concedida em junho de 2008. O termo de
consentimento encontra-se em posse da autora.
Fotografia 01: Imagens aéreas de 1953 e 1963 com destaque para os patrimônios Sarandi e Vila Vera Cruz, bem como para as
estruturas regionais.
Fonte: Acervo iconográfico do Instituto Ambiental do Paraná (2008), modificado pela autora.
Fotografia 02: Um dos primeiros estabelecimentos Fotografia 03: Construção da primeira Igreja.
comerciais de Sarandi, um armazém de secos e molhados. Fonte: PMS (2008).
Fonte: PMS (2008).
Fotografia 04: Fotografia de um trecho da estrada que Fotografia 05: Construção da Antiga Estação Ferroviária
ligava Maringá à Londrina, a atual Av.Maringá (sem data). (1953).
Fonte: Acervo iconográfico PMS (2008). Fonte: Acervo iconográfico PMS (2008).
O projeto do núcleo urbano é de autoria do urbano que conduzia ao centro da cidade, onde se
Engenheiro Wladimir Babkow, com levantamentos abria a praça principal e se erguia a igreja”. Observa-
topográficos do Engenheiro Alexandre Rasgulaeff e se que o traçado do patrimônio foi quase que
cálculos analíticos de Shigeoki Yokyama (SARANDI, totalmente implementado de acordo com o projeto
1987). De acordo com Rego e Meneguetti (2006:103), original. Somente a praça central sofreu alteração:
o desenho idealizado para o patrimônio de Sarandi originalmente esta seria segmentada pelas vias, no
seguia o esquema básico das cidades projetadas por entanto esta foi construída sem tais interrupções.
esta companhia: “diante da estação se estabelecia
uma praça, dela nascia ortogonalmente o eixo
Mapa 03: Projeto original do núcleo urbano de Sarandi projetado pela CMNP em 1947.
Fonte: Acervo Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (2009).
Organização: Autora.
Segundo Rozeira (1999:33), em 1951, o legalmente, uma cidade. Contudo, ressalta-se que
município de Sarandi transformou-se em Distrito 58% dos seus loteamentos foram aprovados antes
Administrativo do município de Marialva. Apenas mesmo de Sarandi “tornar-se uma cidade”, quando
em 1981, houve a emancipação, tornando-se, esta ainda pertencia a Marialva, conforme
demonstrado no Mapa 04, elaborada com base nos implantação de lavouras mecanizadas, que
dados do cadastro imobiliário municipal (SARANDI, acelerou o processo de êxodo rural no país; uma
2008). forte geada que atingiu a região norte do Paraná –
O maior crescimento, em termos de expansão destruindo grande parte dos cafezais – bem como,
territorial, na cidade de Sarandi aconteceu a abertura da rodovia 376, facilitando o acesso
principalmente a partir de 1975 (Mapa 04). Alguns regional à cidade.
dos fatores que contribuíram para tal são: a
Mapa 04: Mapa de evolução dos loteamentos urbanos de Sarandi até 1980, sobreposto ao parcelamento fundiário rural
original.
Fonte: Informações do Cadastro Imobiliário – PMS (2008), sobrepostas à base cartográfica do parcelamento rural da CMNP
(1954).
Organização: Autora.
Até 1975, a ocupação ocorreu polarizada pelo substituição progressiva de propriedades rurais
núcleo urbano projetado pela CMNP: expandiram-se inteiras por loteamentos urbanos. As áreas ocupadas
pequenas porções nas suas proximidades, bem até metade da década de 1970 representam hoje a
como ao norte para além da BR-376 recém- centralidade urbana de Sarandi.6
inaugurada (Mapa 04). A expansão urbana foi Entre 1975 e 1980, a expansão avançou em
claramente condicionada pelo parcelamento rural, diversos sentidos, orientada principalmente
resultante da substituição de pequenas pelas duas principais estruturas regionais – a
propriedades rurais (chácaras) inseridas dentro da ferrovia e a rodovia – e condicionada pelo
Gleba Patrimônio por novos parcelamentos urbanos
parcelamento rural. Cabe destacar, contudo,
– como pode ser constatado por meio do mapa
abaixo, no qual se sobrepõem à estrutura fundiária
original a evolução dos loteamentos urbanos até 6
Observa-se que a Vila Vera Cruz permanece ainda hoje isolada,
1980. Com poucas exceções, a grande maioria dos bem como, que a antiga estrada que ligava os núcleos de Maringá
loteamentos em Sarandi resultou deste processo de e Marialva (atual Av.Maringá) perdeu sua importância na
estruturação urbana com a abertura da rodovia.
Mapa 05: Mapa evidenciando as loteadoras responsáveis por cada loteamento existente em Sarandi.
Fonte: Cadastro Imobiliário Municipal – PMS, 2008 apud Plano de Habitação de Interesse Social (PHLIS) – PMS (2008).
Organização: Autora.
Figura 11: Mapa de evolução urbana de Sarandi, sobreposto ao parcelamento fundiário rural original. Fonte: Informações do
Cadastro Imobiliário – PMS (2008), sobrepostas à base cartográfica do parcelamento rural da CMNP (1954).
Organização: Autora.
Na década de 1980, foram aprovados dois que a expansão urbana se caracterizava até então:
grandes loteamentos (Mapa 06), de autoria da trata-se de um loteamento aprovado a sudeste, o
Construtora Vicky, ao norte, dando continuidade a Jardim Monterrey, que não segue o desenho do
lógica de expansão ramificada iniciada no final do parcelamento rural. Este é formado por parcelas
período anterior, condicionada pelas parcelas rurais irregulares de três propriedades rurais diferentes,
em forma de sítios e sem articulação com o traçado como é possível notar ao observar o traçado rural
viário existente. O dimensionamento do original (Mapa 06). Nesta década os lotes tiveram
parcelamento segue o padrão da década anterior, seu dimensionamento consideravelmente diminuído,
com lotes e quadras regulares retangulares, com com lotes de variação de 200 a 300m²,
área dos lotes entre 300 a 370m². predominando terrenos com 250m².
Durante a década de 1990, o território de Sarandi Durante os anos de 2000, foram aprovados mais
sofreu um segundo momento de grande expansão – sete loteamentos, sendo dois destes localizados
quanto ao número de loteamentos aprovados – com descontinuamente em relação à malha urbana
o surgimento de mais de 28% dos loteamentos existente, um a sudeste e outro a sudoeste. Um
existentes hoje. De acordo com Ivo Caleffi (2007), destes não possui correspondência com o
atual presidente da Coordenadoria Metropolitana de parcelamento rural, o Jardim das Torres, que é
Maringá, um dos motivos dessa intensa ocupação na constituído por porções irregulares de duas
década de 1990, esteve relacionado a um aumento propriedades do parcelamento rural original –
expressivo no valor do IPTU, em Maringá, “e pela remanescentes rurais resultantes do parcelamento
especulação imobiliária engendrada com objetivos do Jardim Monterrey (Mapa 06). Nesse período os
bem claros de mandar os pobres da cidade, cantar lotes possuem uma variação maior em seu
em outra freguesia (CALEFFI, 2007)”. dimensionamento, com lotes entre 250 a 420m².
A expansão na década de 1990 ocorreu tanto no Na década de 1990, as principais loteadoras
sentido de ocupação de vazios entre regiões já foram a Construtora Vicky, a Empresa Design
ocupadas – remanescentes da Gleba Patrimônio –, Incorporadora e Construção Civil e a Wegg
quanto em direção a áreas novas a noroeste e Empreendimentos, já nos anos 2000, são a Wegg
sudoeste, com o parcelamento de sítios rurais. Nesse Empreendimentos e a VY Incorporadora (PMS,
período, ocorreu uma exceção à tendência da forma 2008).