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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 9 106

20/02/2018 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 851.874 RIO DE


JANEIRO

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


AGTE.(S) : VINÍCIUS DA SILVA MACIEL REPRESENTADO POR
CRISTIANO DA SILVA FRANCELINO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
AGDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO. CIRURGIA. FILA DE ESPERA. PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
SÚMULA 279/STF.
1. A solução da controvérsia demanda o reexame do conjunto
fático-probatório dos autos, procedimento vedado neste momento
processual.
2. Nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, fica majorado em
25% o valor da verba honorária fixada anteriormente, observados os
limites legais do art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC/2015. Tal verba, contudo, fica
com sua exigibilidade suspensa em razão do deferimento da assistência
judiciária gratuita ao agravante, nos termos do art. 98, § 3º, do CPC/2015.
3. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação
da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da


Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual, na
conformidade da ata de julgamento, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao agravo interno, com aplicação de multa, majorados os
honorários fixados anteriormente, nos termos do voto do Relator.

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ARE 851874 AGR / RJ

Brasília, 9 a 19 de fevereiro de 2018.

MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - RELATOR

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20/02/2018 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 851.874 RIO DE


JANEIRO

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


AGTE.(S) : VINÍCIUS DA SILVA MACIEL REPRESENTADO POR
CRISTIANO DA SILVA FRANCELINO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
AGDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. Trata-se de agravo interno interposto em 23.12.2016, cujo


objeto é decisão monocrática que negou seguimento ao recurso, pelos
seguintes fundamentos:

“Trata-se de agravo cujo objeto é decisão que negou


seguimento a recurso extraordinário interposto contra acórdão
do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, assim ementado:

‘CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO. APELAÇÃO E
REMESSA NECESSÁRIA. CIRURGIA. FILA DE ESPERA.
OBSERVÂNCIA DOS PROCEDIMENTOS
ADMINISTRATIVOS. PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
REALIZAÇÃO EM HOSPITAL DA REDE PARTICULAR.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Não deve ser conhecido o agravo de instrumento
convolado em agravo retido, tendo em vista que a União
Federal não atendeu ao disposto no art. 523 do Código de
Processo Civil, bem como a impropriedade da modalidade
retida para atacar decisões liminares.
2. Eventual satisfatividade no plano fático, com a

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ARE 851874 AGR / RJ

realização da cirurgia pretendida, por força de provimento


de urgência, confirmado na sentença, não torna sem objeto
a remessa necessária. É imprescindível que se analise o
acerto da tutela jurisdicional, sob pena de consolidar como
definitivas as deliberações de primeiro grau de jurisdição,
além da necessidade de se deliberar acerca do ônus de
sucumbência, em observância do princípio da
causalidade.
3. Justifica-se a legitimação da União Federal, e,
portanto, a competência desta Corte Federal, diante dos
termos do pedido formulado, de internação,
preferencialmente no Hospital Miguel Couto, com a
realização da respectiva cirurgia, ou, subsidiariamente, em
qualquer hospital da rede pública (o que inclui hospitais
federais) ou privada.
4. O direito à saúde implica para o Poder Público o
dever inescusável de adotar providências necessárias e
indispensáveis para a sua promoção, estabelecidas de
forma universal e igualitária. Nesse contexto jurídico, se o
Poder Público negligencia no atendimento de seu dever,
cumpre ao Poder Judiciário intervir, num verdadeiro
controle judicial de política pública, para conferir
efetividade ao correspondente preceito constitucional.
5. Todavia, o acesso ao referido direito deve ser
compatibilizado com o princípio da isonomia, de forma a
não garantir privilégios àqueles que procuram o Judiciário
em detrimento dos que aguardam por tratamentos e
cirurgias de acordo com a fila administrativamente
estabelecida. Assim, não cabe ao Judiciário administrar
hospitais, estabelecendo prioridades de natureza médica.
Precedentes.
6. É inviável, em um quadro insatisfatório, socializar
o custeio de internação em rede hospitalar privada. O
deferimento do pedido, nesta hipótese, também
representaria verdadeira preterição aos pacientes que
aguardam na fila de espera.

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7. Não é possível que o Judiciário trate a


Administração Pública como uma farmácia com estoque
ilimitado, que atenda a interesses individuais em
detrimento das necessidades coletivas, descabendo a
condenação genérica. Precedentes.
8. Eventual pretensão de regresso em face do Estado
e do Município deve ser objeto de ação própria.
9. Agravo retido não conhecido. Apelação e remessa
necessária conhecidas e providas.’

O recurso busca fundamento no art. 102, III, a, da


Constituição Federal. A parte recorrente sustenta a ocorrência
de violação aos arts. 30, VII; 196, 197 e 198, todos da
Constituição.
A decisão agravada negou seguimento ao recurso
extraordinário sob o fundamento de que a hipótese atrai a
incidência da Súmula 279/STF.
O recurso não deve ser admitido. No caso, o Tribunal de
origem entendeu que o recorrente não demonstrou possuir
condição especial que o diferencie dos demais pacientes que se
encontram na fila para o procedimento cirúrgico a ser custeado
pelo Poder Público. Dissentir de tal conclusão exigiria um novo
exame dos fatos e das provas constantes dos autos,
procedimento vedado nesta sede recursal (Súmula 279/STF).
Nessa linha, vejam-se:

‘DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIÇO PÚBLICO


DE SAÚDE. TRATAMENTO MÉDICO. ORDEM DE
ATENDIMENTO. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO
VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR.
ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 11.6.2014. A
controvérsia, a teor do que já asseverado na decisão
guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há
falar, nesse compasso, em afronta aos preceitos
constitucionais indicados nas razões recursais, porquanto

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ARE 851874 AGR / RJ

compreender de modo diverso exigiria análise da


legislação infraconstitucional encampada na decisão
prolatada pela Corte de origem, o que torna oblíqua e
reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de
viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.
Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior,
nos termos da remansosa jurisprudência desta Corte. As
razões do agravo regimental não se mostram aptas a
infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão
agravada, mormente no que se refere à ausência de ofensa
direta e literal a preceito da Constituição da República.
Agravo regimental conhecido e não provido.’ (ARE
865.118-AgR, Rel. Min.ª Rosa Weber)

‘RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA


FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio
próprio ao revolvimento da prova, também não servindo à
interpretação de normas estritamente legais.’(RE 772.735-
AgR. Rel. Min. Marco Aurélio)

Diante do exposto, com base no art. 21, § 1º, do RI/STF,


nego seguimento ao recurso.”

2. A parte agravante afasta o fundamento da decisão


agravada, e reafirma as razões do recurso extraordinário.

3. É o relatório.

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20/02/2018 PRIMEIRA TURMA

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JANEIRO

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. De início, deixo de abrir prazo para contrarrazões, na


medida em que está sendo mantida a decisão que aproveita à parte
agravada. Passo à análise do recurso.

2. O agravo não pode ser provido, tendo em vista que a parte


recorrente não traz argumentos suficientes para modificar a decisão ora
agravada.

3. O Tribunal de origem assim entendeu a controvérsia:

“Os laudos médicos acostados aos autos comprovam a


necessidade de realização do procedimento cirúrgico requerido
pelo autor.
No entanto, o acesso ao referido direito deve ser
compatibilizado com o princípio da isonomia, de forma a não
garantir privilégios àqueles que procuram o Judiciário em
detrimento dos que aguardam pela cirurgia de acordo com a
fila administrativamente estabelecida.”

4. Tal como assentou a decisão agravada, para divergir dessa


conclusão, seria necessária a reapreciação dos fatos e do material
probatório constantes dos autos, providência que não tem lugar neste
momento processual (incidência da Súmula 279/STF).

5. Diante do exposto, nego provimento ao agravo interno.


Ante seu caráter manifestamente protelatório, aplico à parte agravante
multa de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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ARE 851874 AGR / RJ

do art. 1.021, § 4º, do CPC/2015, em caso de unanimidade da decisão. Fica


a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito da
respectiva quantia, ressalvados os casos previstos no art. 1.021, § 5º, do
CPC/2015. Nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, fica majorado em
25% o valor da verba honorária fixada anteriormente, observados os
limites legais do art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC/2015. Tal verba, contudo, fica
com sua exigibilidade suspensa em razão do deferimento da assistência
judiciária gratuita ao agravante, nos termos do art. 98, § 3º, do CPC/2015.

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Extrato de Ata - 20/02/2018

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PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 851.874


PROCED. : RIO DE JANEIRO
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
AGTE.(S) : VINÍCIUS DA SILVA MACIEL REPRESENTADO POR CRISTIANO DA
SILVA FRANCELINO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
AGDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo


interno, com aplicação de multa, majorados os honorários fixados
anteriormente, nos termos do voto do Relator. Primeira Turma,
Sessão Virtual de 9.2.2018 a 19.2.2018.

Composição: Ministros Alexandre de Moraes (Presidente), Marco


Aurélio, Luiz Fux, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Secretária da Primeira Turma

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