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Bacon, a experiência e a ciência

moderna
Texto-Base: BACON, Francis. Novum Organum, ou,
Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza
(1620). Livro I. São Paulo: Abril Cultural, 1984 (Os Pensadores)
 Págs. 1 a 23 (Até aforismo LXII).

Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa


SOCIOLOGIA
Bacon, a experiência e a ciência moderna

 Clareza científica se opondo à fantasia

“Procuramos cercar nossas reflexões dos maiores


cuidados, não apenas para que fossem
verdadeiras, mas também para que não se
apresentassem de forma incômoda e árida ao
espírito dos homens, usualmente tão atulhado de
múltiplas formas de fantasia” (p. 5)

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Bacon, a experiência e a ciência moderna

Crítica à ciência como mero exercício da mente

“Nosso método, contudo, é tão fácil de ser


apresentado quanto difícil de se aplicar. Consiste no
estabelecer os graus de certeza, determinar o
alcance exato dos sentidos e rejeitar, na maior
mente, calcado muito de
parte dos casos, o labor da mente,
perto sobre aqueles, abrindo e promovendo, assim, a
nova e certa via da mente, que, de resto, provém das
próprias percepções sensíveis.” (p. 2)
 Não deixar que a mente se guie por si mesma
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Bacon, a experiência e a ciência moderna

Crítica aos gregos e à sua filosofia

“Os gregos, com efeito, possuem o que é próprio das


crianças: estão sempre prontos para tagarelar, mas
são incapazes de gerar, pois, a sua sabedoria é farta
em palavras, mas estéril de obras (p. 34)
“de toda essa filosofia dos gregos e todas as ciências
particulares dela derivadas, durante o espaço de
tantos anos, não há um único experimento de que se
possa dizer que tenha contribuído para aliviar e
melhorar a condição humana” (p. 35)
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Bacon, a experiência e a ciência moderna

 Filosofia tradicional não serve ao bem-


bem-estar do
homem

“os homens não cessam de fazer abstrações


sobre a natureza, ate atingir a matéria
potencial e informe; nem cessam de dissecá-
la até chegar ao átomo. Tudo isso, ainda que
correspondesse à verdade, pouco serviria ao
bem-estar do homem.” (p. 29)
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Bacon, a experiência e a ciência moderna

 NOVO MÉTODO = CURA DA MENTE ?


[regulação da mente por mecanismos da experiência]
“Resta, como única salvação, reempreender
reempreender--se inteiramente a
cura da mente. E, nessa via, não seja ela, desde o início,
entregue a si mesma, mas permanentemente regulada, como
que por mecanismos. Se os homens tivessem empreendido os
trabalhos mecânicos unicamente com as mãos, sem o arrimo e
a força dos instrumentos, do mesmo modo que sem vacilação
atacaram as empresas do intelecto, com quase apenas as
forças nativas da mente, por certo muito pouco se teria
alcançado (...)” (p. 2)
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Bacon, a experiência e a ciência moderna
Proposição de dois métodos para a ciência

1. CULTIVO DAS CIÊNCIAS


Idéia de conhecimento contemplativo, próprio da
filosofia tradicional [antecipação
[antecipação da mente]
mente]

2. DESCOBERTA CIENTÍFICA
Busca do conhecimento novo por meio da
exploração e experimentação sem limites
[interpretação da natureza]
natureza]
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Bacon, a experiência e a ciência moderna

“Na primeira das vias o intelecto deixado a


si mesmo acompanha e se fia nas forças da
dialética. Pois a mente anseia por ascender
aos princípios mais gerais para aí então se
deter. A seguir, desdenha a experiência. E
tais males são incrementados pela dialética,
na pompa de suas disputas”” (p. 9)

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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 Antecipações da mente são base para o SENSO
COMUM [baseiam
[baseiam--se em eventos familiares, daí
sua fácil aceitação pelo senso comum]

“as antecipações são de muito mais valia para


lograr o nosso assentimento, que as
interpretações; pois, sendo coligidas a partir de
poucas instâncias e destas as que mais
familiarmente ocorrem, desde logo empolgam o
intelecto e enfunam a fantasia” (p. 11).
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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 Para Bacon existe uma lacuna entre a idealização
da mente humana e a “intenção divina”

“Não é pequena a diferença existente entre os


ídolos da mente humana e as idéias da mente
divina, ou seja, entre opiniões inúteis e as
verdadeiras marcas e impressões gravadas por
Deus nas criaturas. tais como de fato se
encontram” (p. 10).

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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 VERDADEIRA CIÊNCIA atua como representação
das reais intenções divinas

“Saibam os homens como já antes dissemos a


imensa distância que separa os ídolos da mente
humana das idéias da mente divina. Aqueles, de
fato, nada mais são que abstrações arbitrárias;
estas, ao contrário, são as verdadeiras marcas do
Criador sobre as criaturas, gravadas e
determinadas sobre a matéria, através de linhas
exatas e delicadas” (p. 77). 11
Bacon, a experiência e a ciência moderna
 CIÊNCIA: representação do mundo

“Mas fundamos no intelecto humano um


templo santo à imagem do mundo. E por ele
nos pautamos. Pois tudo o que é digno de
existir é digno de ciência, que é a imagem da
realidade” (p. 73).

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Bacon, a experiência e a ciência moderna

 ÍDOLOS: falsas percepções do mundo

• ídolos da tribo:
tribo: vinculam-
vinculam-se às distorções
provocadas pela mente humana (p. 13).

Interferência das paixões


Incompetência dos sentidos
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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 ÍDOLOS: falsas percepções do mundo

• ídolos da caverna:
caverna: vinculam-
vinculam-se às relações
estabelecidas pelo homem com o mundo à sua
volta (pp. 13-14).

Formação do indivíduo
Leituras
Educação
14
Bacon, a experiência e a ciência moderna
 ÍDOLOS: falsas percepções do mundo

• ídolos do foro (ou da feira):


feira): referem-
referem-se ao
indivíduo e a influência de suas associações (pp.
13-14).

Comércio Distorções engendram


falsas teorias
Relações pessoais/sociais
“Nem as definições, nem as explicações com que os
homens doutos se munem e se defendem, em certos
domínios, restituem as coisas ao seu lugar” (p. 14) 15
Bacon, a experiência e a ciência moderna
 ÍDOLOS: falsas percepções do mundo

• ídolos do teatro:
teatro: vinculam-
vinculam-se às representações
teatralizadas e impregnadas de equívocos e
superstições (pp. 14-15).

Sistemas filosóficos
Astrologia
Magia

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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 Busca de uma ciência útil na luta contra a
natureza [dinâmica de inovação permanente]

“Mas aqueles dentre os mortais, mais animados e


interessados, não no uso presente das descobertas
já feitas, mas em ir mais além;
além; que estejam
preocupados, não com a vitória sobre os
adversários por meio de argumentos, mas na
vitória sobre a natureza, pela ação;
ação; não em emitir
opiniões elegantes e prováveis, mas em conhecer a
verdade de forma clara e manifesta” (p. 5)
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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 Ciência e seu método podem antecipar o acaso

“Desse modo, é de se esperar que há ainda


recônditas, no seio da natureza, muitas coisas de
grande utilidade, que não guardam qualquer
espécie de relação ou paralelismo com as já
conhecidas, mas que estão fora das rotas da
imaginação. Até agora não foram descobertas...

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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 Ciência e seu método podem antecipar o acaso

...
...Mas não há dúvida de que no transcurso do
tempo e no decorrer dos séculos virão à luz, do
mesmo modo que as antes referidas. Mas,
seguindo o caminho que estamos apontando, elas
podem ser mostradas muito antes do tempo
usual, podem ser antecipadas, de forma rápida,
repentina e simultaneamente” (p. 65).

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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 SABER É PODER

“Ciência e poder do homem coincidem, uma vez


que, sendo a causa ignorada, frustra-
frustra-se o efeito.
Pois a natureza não se vence, se não quando se lhe
obedece ” (p. 6)

 A exploração da natureza constitui a única


forma de compreendê-
compreendê-la, interpretá-
interpretá-la e vencê-
vencê-la

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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 IDÉIA DE INOVAÇÃO ESTÁ NO CERNE DA CIÊNCIA
MODERNA
“Com efeito, as ciências que ora possuímos nada mais
são que combinações de descobertas anteriores. Não
constituem novos métodos de descoberta nem
esquemas para novas operações.
(...) Tal como as ciências, de que ora dispomos, são
inúteis para a invenção de novas obras, do mesmo
modo, a nossa lógica atual é inútil para o incremento
das ciências”. (p. 7)
“A verdadeira e legítima meta das ciências é a de dotar
a vida humana de novos inventos e recursos (p. 42) 21
Bacon, a experiência e a ciência moderna
 Idéia de infinito como base para outros avanços

“O intelecto humano se agita sempre, não se pode


deter ou repousar, sempre procura ir adiante.
Mas sem resultado. Daí ser impensável,
inconcebível que haja um limite extremo e último
do mundo. Antes, sempre ocorre como necessária
a existência de mais algo além” (pp. 16-
16-17)

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Bacon, a experiência e a ciência moderna
 Falácia dos sentidos é o maior obstáculo ao
avanço da Ciência
Necessidade de se buscar a observação do que é
invisível aos olhos, imperceptível aos sentidos

“a observação não ultrapassa os aspectos visíveis das


coisas, sendo exígua ou nula a observação das invisíveis.
Também escapam aos homens todas as operações dos
espíritos latentes nos corpos sensíveis. (...) Até que fatos,
como os dois que indicamos, não sejam investigados e
esclarecidos, nenhuma grande obra poderá ser
empreendida na natureza”.(pp.
(pp. 17-
17-18)
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Bacon, a experiência e a ciência moderna
Ciência só pode avançar se alcançar a compreensão
das matérias invisíveis aos sentidos
 Descoberta da célula por Robert Hooke em 1665 a partir
de um microscópio com duas lentes sobrepostas
 Descoberta dos padrões fundamentais de
hereditariedade por Gregor Mendel em 1866 (teoria
cromossomômica))
cromossomômica
 Descoberta do núcleo da célula em 1833, por Robert
Brown
 Descoberta da estrutura do DNA por Francis Crick e
James Watson em 1953
 Descoberta das células-
células-tronco em 1988: estas podem se
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transformar em qualquer tipo de tecido
Bacon, a experiência e a ciência moderna

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Bacon, a experiência e a ciência moderna

A ciência como
mercadoria

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