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ROSANE ALBUQUERQUE COSTA
CRISTIANE GUIMARÃES
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial sergio augusto cabral, roberto paes e paola gil de almeida
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-404-9
Prefácio 7
4. Motivação 75
7
na sua qualidade de vida e também na qualidade do trabalho que o profissional
oferece aos pacientes sob seus cuidados.
É necessário que o profissional de saúde tenha cuidado para que não seja
ele mesmo mais um dos elementos invasivos que agridem o processo de adoe-
cimento.
Ter claro os limites entre o cuidado e a intervenção que invade a privacidade
e os direitos dos pacientes é fundamental para oferecermos um atendimento
de qualidade, profissional e que possibilite a recuperação mais rapidamente
possível dos nossos pacientes.
Bons estudos!
1
Instituições de
saúde: o trabalho
com a doença
e a morte
1. Instituições de saúde: o trabalho com a
doença e a morte
“Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida
sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define
biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da
beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo
se transforma numa casca de cigarra vazia.”.
Rubensm Alves
10 • capítulo 1
1.1 O conceito de instituição
Temos muitos conceitos que se abrigam sob o nome de instituição. Quando ou-
vimos a palavra instituição parece claro a que se refere, mas não é bem assim.
O conceito de instituição necessita ser contextualizado e problematizado para
que possamos compreender o seu sentido teórico. Vamos nos valer do conceito
de Instituição das abordagens dos institucionalistas que produzem uma dis-
cussão muito rica sobre o tema.
Segundo Baremblitt (2011) as instituições são lógicas, são leis ou normas, que
regulam os comportamentos humanos. Essas lógicas regulam a atividade hu-
mana e permitem que o humano se organize e mantenha funcionando nossa
vida cotidiana. Um exemplo de regulação de nossa vida são as instituições que
regulam as relações de parentesco, que definem os lugares como: pai, mãe,
filho, nora, sogra, genro. Esses lugares não existem de forma natural, ao con-
trário, são construções humanas que organizam, estipulam lugares e funções
diferenciadas para quem ocupa essa ou aquela posição. Você já pensou como
seria se estes lugares não estivessem estabelecidos? O que chamamos de famí-
lia seria muito diferente. A família como conhecemos só existe por causa dessa
classificação de lugares e funções.
Outras lógicas são as instituições de justiça, da linguagem e da religião.
Você pode observar que todas essas instituições dão um sentido e uma organi-
zação em nossas vidas.
Baremblitt (2011) afirma que essas instituições, para cumprirem suas ta-
refas, necessitam materializar-se. Elas se materializam em organizações, que
tem formas variadas que vão desde grandes organizações como os variados
Ministérios até um pequeno estabelecimento. Os estabelecimentos variam
desde um pequeno banco, uma escola ou um convento.
Os estabelecimentos para funcionarem necessitam de equipamentos.
Máquinas, cadeiras, mesas, armários, entre outros.
Assim, anda de acordo com Baremblitt (2011) temos o seguinte modelo:
capítulo 1 • 11
Nas organizações quem faz acontecer as atividades são os agentes. Agentes
são os seres humanos que atuam nas organizações. Esses agentes produzem
práticas, ou seja, as ações dentro das organizações. Essas práticas podem ser
verbais ou não verbais.
Ainda segundo Baremblitt (2011) em uma organização temos duas verten-
tes: o instituído e o instituinte.
O instituído, são práticas que compõem a instituição, já estão colocadas,
fazem parte do modo como a instituição funciona. Já o instituinte são práticas
que aparecem como novas que desorganizam o que já está instituído, que pro-
põe formas diferenciadas de funcionamento da instituição.
Sabemos que práticas instituintes, em geral, em momentos posteriores po-
dem se tornar instituídas. Esse jogo de forças entre o instituinte e o instituído
permite que a organização mantenha sua dinâmica e força.
“O nome Hospital vem do latim hospes, que significa convidado. Daí deriva hospitalis
(hospitaleiro) e “hospitium”, uma casa de hóspedes ou quarto de hóspedes. Origi-
nalmente, o termo hospital significava um lugar onde estrangeiro ou visitante eram
recebidos e, no decorrer do tempo, o uso desse termo ficou restrito a instituições
destinadas ao cuidado dos doentes.” Foucault (2005).
A transformação pela qual passou o hospital foi sendo feita ao longo do tem-
po, influenciada por condições políticas sociais e econômicas.
12 • capítulo 1
1.1.1.1.1 Primeiras Instituições no Brasil
No Brasil Colônia, segundo Jorge (2006) não existiam hospitais como conhece-
mos hoje. Quando alguém adoecia o tratamento era realizado pelos pajés ou Je-
suítas que se dedicavam a atender os doentes e esse atendimento era realizado
em geral com ervas e muitas rezas. Não havia recursos para diagnóstico e nem
se conhecia a maioria das doenças. Até o século XVIII era comum a instalação
de boticas (farmácias) e hospitais nos colégios da Companhia de Jesus, onde
seus integrantes, mesclando os conhecimentos médicos europeus com os dos
indígenas sobre plantas, tornaram-se médicos e enfermeiros da colônia.
Ainda segundo Jorge (2006), com a chegada de Dom João VI é criada a
Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia essa é a es-
cola de medicina mais antiga do Brasil, foi fundada em 18 de fevereiro de 1808
por influência do médico pernambucano Correia Picanço. Com a criação da
Faculdade de Medicina surgiram os primeiros hospitais, no Brasil, surgiu vin-
culados à igreja católica com a abertura das Santas Casas de Misericórdia, mo-
delo trazido de Portugal.
capítulo 1 • 13
©© WIKIMEDIA.ORG
Jorge (2006) mostra ainda que até o início do século XIX, eram os físicos,
barbeiros, boticários e cirurgiões que aplicavam seus conhecimentos no com-
bate às doenças. Os físicos eram formados por universidades europeias, mas
não praticavam a cirurgia que era exclusiva dos cirurgiões. Estes aprendiam o
seu ofício de um cirurgião já habilitado, mas antes de exercerem a medicina
eram submetidos a exames perante a autoridade sanitária competente, obten-
do a “carta de examinação”
Para conhecer um pouco da história da saúde pública, aproveitamos a revisão
de Costa Junior e Costa (2014), que nos informa que somente em 1892, foram
criados os primeiros laboratórios Bacteriológicos que tinham o intuito de gerar
melhores condições sanitárias para as cidades urbanas. Logo o então Presidente
da República, Rodrigues Alves, nomeia como Diretor do Departamento Federal
de Saúde Pública o Sr. Oswaldo Cruz, que implantou medidas de desinfecção
sanitária e de vacinação obrigatória antivaríola que desagradou à população,
gerando um movimento que ficou conhecido como a Revolta da Vacina. No ano
de 1920, foram criados órgãos especializados no combate a doenças como tu-
berculose, lepra e Doenças Sexualmente Transmissíveis.
No início do século XX, surgem as Caixas beneficentes, que funcionavam
com uma contribuição mensal dos trabalhadores e uma parte doe emprega-
dores. Com o avanço do processo de industrialização foi preciso melhorar o
cuidado com a saúde da população para garantir que houvesse mão de obra
14 • capítulo 1
disponível para o trabalho. Foi realizada a implementação de programas e
serviços auxiliares de assistência médica realizados através de práticas clien-
telistas, típicas do regime populista que caracterizou o governo do presidente
Getúlio Vargas.
Em maio de 1953 foi criado o Ministério da Saúde - MS, que contou com
verbas irrisórias, confirmando com isso o descaso para com a saúde da popu-
lação. No ano de 1956 foi criado o Departamento Nacional de Endemias Rurais
- DNERU, com o intuito de promover a educação sanitária da população rural.
Em 1966, foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social - INPS que
originou um sistema previdenciário para todos os brasileiros que estivessem
inseridos no mercado de trabalho.
O Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS foi criado em 1974
com o objetivo de controlar os pagamentos ilegais, frutos da corrupção e de
serviços médicos fantasmas e garantir a saúde da população segurada. Sendo
criada na mesma época a Empresa de Processamento de Dados da Previdência
Social – DATAPREV. O INPS foi transformado no Instituto Nacional da
Assistência Médica da Previdência Social - INAMPS, onde a saúde e a previdên-
cia passaram a ser tratadas juntas.
No final da década de 1970, surgiu o Movimento pela Reforma Sanitarista,
que buscou encontrar respostas para o dilema da política de saúde nacional.
O Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde - PREV-SAÚDE, o Conselho
Nacional de Administração da Saúde Previdenciária - CONASP e as Ações
Integradas de Saúde - AIS foram criados na década de 1980 e buscavam evitar as
fraudes e lutar contra o monopólio das empresas particulares de saúde.
O Brasil desenvolveu diferentes modelos de atendimento à sua população
no aspecto saúde. Mas somente em 1988, com a chamada Constituição Cidadã
é que foi criado um sistema que abrange todo o Brasil, que atende toda a sua
população integralmente da criança ao idoso. Esse sistema recebe o nome de
Sistema Único de Saúde (SUS).
Na legislação que cria o SUS são aprovados os princípios básicos que irão reger
o funcionamento da saúde no Brasil.
capítulo 1 • 15
Nesse sentido, o SUS é um projeto que assume e consagra os princípios da
Universalidade, Equidade e Integralidade da atenção à saúde da população bra-
sileira, capaz de garantir o acesso universal da população a bens e serviços que
garantam sua saúde e bem-estar, de forma equitativa e integral. Outros princí-
pios fundamentais são a Descentralização, a Regionalização, a Hierarquização
e a Participação social. Esses princípios organizam o fluxo do atendimento à
saúde da população no Brasil.
16 • capítulo 1
Exige adoção de linhas de atuação que promovam a homogeneização e con-
tinuidade nos diversos níveis.
1.2.1.1.2 NASF I e II
capítulo 1 • 17
São constituídos por equipes compostas por profissionais de diferentes
áreas de conhecimento, que devem atuar de maneira integrada e apoiando os
profissionais das Equipes Saúde da Família e da atenção básica para ações de
prevenção e cuidados em saúde, compartilhando as práticas e saberes em saú-
de nos territórios sob responsabilidade destas equipes, atuando diretamente
no apoio matricial .
18 • capítulo 1
ampliar o acesso da população de rua aos serviços de saúde, ofertando, de ma-
neira mais oportuna, atenção integral à saúde para esse grupo populacional, o
qual se encontra em condições de vulnerabilidade e com os vínculos familiares
interrompidos ou fragilizados.
Ressalta-se que a responsabilidade pela atenção à saúde da população de
rua é de todo e qualquer profissional do Sistema Único de Saúde, mesmo que
ele não seja componente de uma equipe de Consultório na Rua (eCR). Desta
forma, em municípios ou áreas em que não haja eCR, a atenção deverá ser pres-
tada pela Atenção Básica, incluindo os profissionais de Saúde Bucal e os Nasf
do território onde essas pessoas estão concentradas.
capítulo 1 • 19
a criação de equipes de referência em saúde mental nas unidades de Atenção
Primária à Saúde, da atenção secundária – que são os CAPS e ambulatórios; e da
atenção terciária – como os hospitais onde são feitas as internações.
O modelo de assistência em rede é o mais eficaz neste tipo de tratamento,
ao contrário das internações, sobretudo de pacientes dependentes de álcool e
outras drogas, que representam uma nova e importante demanda.
Familiares de pacientes com dependência química devem procurar a
Unidade de Saúde mais próxima de sua residência, Pronto-Atendimento
Municipal ou um dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas para
orientação. Se houver necessidade de internação, o paciente será encaminhado
para um hospital de referência.
Se o uso de droga apresentar quadros de agressividade, agitação psicomo-
tora ou quadros de alteração de percepção típicos dos transtornos mentais, a
família deve buscar atendimento de urgência psiquiátrica nos hospitais de re-
ferência na rede pública.
20 • capítulo 1
1.4 Nível de atenção terciária
capítulo 1 • 21
19. Genética clínica;
20. Terapia nutricional;
21. Distrofia muscular progressiva;
22. Osteogênese imperfecta;
23. Fibrose cística e reprodução assistida.
1.6 O hospital
22 • capítulo 1
Suas principais funções são:
PRESTAÇÃO DE
ATENDIMENTO Aos doentes em regime de internação;
MÉDICO E
COMPLEMENTARES
Sempre que possível, de atividades de natureza
DESENVOLVIMENTO preventiva.
capítulo 1 • 23
1.6.1.2 Quanto ao financiamento os hospitais podem ser:
24 • capítulo 1
1.7 O trabalho com doença e morte
Cada pessoa tem um modo próprio e pessoal de lidar com a dor e o sofrimento.
Quando trabalhamos em hospitais vemos várias formas diferentes de receber a
notícia de uma doença grave, crônica, ou mesmo de um prognóstico de desfa-
vorável. Veremos agora um caso clínico que nos ajuda a entender a complexida-
de que enfrentamos na lida cotidiana com nossos pacientes. Observe:
“João foi internado, após ter sofrido um acidente de moto, na emergência
de um grande hospital, especializado em trauma. Ele chegou trazido pela am-
bulância inconsciente. Foi levado para a sala vermelha (trauma) onde foi es-
tabilizado, em seguida foi conduzido a sala 3 de cirurgia. Teve a perna direita
amputada. Foi conduzido para a enfermaria e alguns dias após o ocorrido foi
informado da amputação de sua perna.”.
Por mais incrível que possa parecer, sua reação imediata foi dizer que não
havia problemas. Que a perda da perna não iria atrapalhar em nada sua vida.
A reação de João deixou toda a equipe muito incomodada pela reação que
ele teve e que foi muito incomum. O serviço de psicologia foi chamado para
esclarecer o caso. E verificou-se que essa reação é uma negação da realidade e
muito comum em situações de trauma. Iniciou-se o atendimento do serviço de
psicologia para que o paciente pudesse lidar melhor com sua perda.
capítulo 1 • 25
Vemos por esse caso que os pacientes sempre nos surpreendem e podem
ter as reações emocionais mais inesperadas. Portanto o profissional de saúde
precisa se preparar para lidar com situações que fogem ao seu controle
Quando precisamos falar sobre a morte não podemos deixar de pensar no tra-
balho de uma mulher absolutamente fantástica que nos ajudou a compreender
o processo de morrer: Elisabeth Kübler-Ross, nasceu na Suíça em 8 de julho de
1926 e faleceu em 24 de agosto de 2004. Formou-se em medicina e especializou-
se em psiquiatra.
A publicação de seu livro mais famoso, em 1969, On Death and Dying (Sobre
a morte e o processo de morrer) marcou os rumos de seu trabalho, enriqueci-
do posteriormente com contribuições de especialistas de uma área específica
da profissão médica, a tanatologia, essa área estuda a morte e o morrer. Nesse
livro, Elisabeth identifica fases nos períodos que antecedem a morte e cria mé-
todos para médicos, enfermeiros e familiares acompanharem e ajudarem um
paciente terminal.
O morrer quando acontece na instituição hospitalar e exige dos profissio-
nais de saúde capacidade de suportar frustrações e dor na relação constante
entre o paciente que sofre e sua família. É um dos trabalhos mais difíceis para
médicos, psicológicos, enfermeiros ou assistentes sociais.
A morte está presente cotidianamente em nossas vidas, quer tenhamos
consciência disso ou não. Precisamos refletir sobre o impacto que ela causa du-
rante toda a nossa vida. Cada vez mais a morte torna-se um espetáculo (enterros
caros, filmados, com recepções) ao mesmo tempo em que a circunscrevemos
no ambiente hospitalar e nos afastamos de quem esta morrendo. Kübler-Ross
(2013) nos ajuda a entender:
“As mudanças ocorridas nas últimas décadas são responsáveis pelo crescente medo
de morrer, pelo aumento dos problemas emocionais e pela grande necessidade de
compreender e lidar com os problemas da morte e do morrer. Em nosso inconsciente,
a morte nunca é possível quando se trata de nós mesmos. É inconcebível morrer de
causa natural ou idade avançada. A morte está ligada a uma ação má, a um aconteci-
mento medonho.”.
26 • capítulo 1
Lidamos com a morte como se ela acontecesse em um dado momento, com-
pletamente distanciado da nossa experiência cotidiana. E não é assim: enquan-
to vivemos vamos, ao mesmo tempo, morrendo.
O hospital caracteriza-se como um dos ambientes mais agressivos, tensos
e traumatizantes, é um local onde vida e morte estão em constante luta. Os
profissionais de saúde podem ficar profundamente mobilizados pela morte de
seus pacientes, podendo até vivenciá-las como fracasso pessoal, fruto de sua in-
competência. Esses sentimentos podem ter impactos na qualidade dos cuida-
dos prestados aos pacientes e na relação desses profissionais com os familiares
dos pacientes e até na qualidade de vida do profissional
O morrer pode ser um processo longo e doloroso que colocará em xeque as
convicções religiosas, filosóficas e existenciais dos profissionais, que atendem
aquele caso. Precisamos estar preparados para ajudar o paciente no processo
de adoecer e morrer. Kübler-Ross (2013) novamente nos ajuda a entender quais
as fases do adoecer e morrer:
capítulo 1 • 27
Terceiro estágio - Barganha
O terceiro estágio é a barganha. É o momento em que o paciente começa a
ter algumas reações com esperança de receber o que quer de Deus, uma pos-
sibilidade de cura. A barganha, na realidade, é uma tentativa de adiantamen-
to. Em geral o paciente faz promessas tentando obter a cura ou ganhar tempo
de vida.
28 • capítulo 1
morte. Sabemos o quanto é difícil ouvir tanto sofrimento, e das consequências
para o psiquismo de quem lida com tanta dor.
Nesse capítulo conhecemos as diferenças entre Instituição, organização
como também os conceitos de instituinte e instituído. Esses conceitos são
importantes porque os profissionais de saúde devem ter em conta que somos
profissionais que visam produzir novos processos institucionais. Apostamos
sempre na mudança no compromisso como nossos pacientes/usuários.
Conhecemos mais de perto o sistema de saúde do Brasil (SUS) e avançando vi-
mos o que é um hospital, como ele funciona e como é lidar com o adoecimento
e o morrer. Espero que vocês tenham aproveitado bem esse capítulo.
Recomentdo que vocês entrem no site do ministério da saúde e conheçam
mais aprofundadamente fundo a legislação da saúde e também os, os livros do
Baremblitt e, sem dúvida, o texto sobre a Morte e o morrer. O que apresentamos
aqui foi um pequeno resumo. O texto é muito mais amplo e interessante.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAREMBLITT, G. Compêndio de Análise Institucional e Outras Correntes. Editora Rosa dos
Ventos. Rio de Janeiro, 2011.
COSTA JUNIOR, A.G. & COSTA, C.E.M. Um (Re)pensar sobre a saúde pública no Brasil:
a importância da Humanização no ambiente de trabalho. P@rtes, São Paulo, 2014. Disponível
em: <http://www.partes.com.br/2014/02/11/um-repensar-sobre-a-saude-publica-no-brasil-a-
importancia-da-humanizacao-no-ambiente-de-trabalho/#.VzjIdfkrLIU> . Acesso em: 15 mai.2016
FOUCAULT, M. O Nascimento da Clinica. Forense Universitária. Rio de Janeiro. 2005.
JORGE. C, K. Urbanismo no Brasil Império: A Saúde Pública na Cidade de São Paulo no século XIX
(Hospitais, Lazaretos e Cemitérios). PUC- Campinas. 2006. Disponível em: <http://www.bv.fapesp.br/
pt/bolsas/99217/urbanismo-no-brasil-imperio-a-saude-publica-na-cidade-de-sao-paulo-no-seculo-
xix-hospitais-lazare/> <http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_consultorio_rua.php>. Acesso em: 15
mar. 16
KUBLER-ROSS. E. Sobre a morte e o morrer. Martins Fontes. São Paulo, 2013.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/
WHO). Genebra: Gráfica Brasil, 2001.
capítulo 1 • 29
30 • capítulo 1
2
Alterações
psicopatológicas
em situações de
internação
2. Alterações psicopatológicas em situações
de internação
Para o corpo doente é necessário o médico, para a alma, o amigo: a palavra afetuosa
sabe curar a dor.
Menandro
32 • capítulo 2
tratamento como também um local onde ocorre uma disciplinação dos corpos
e mentes que trabalham ou se tratam nessa instituição.
Foucault (2005) afirma que “em qualquer sociedade, o corpo está preso no
interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições
ou obrigações”. O que o autor nos mostra é que, muitas vezes, os sujeitos sub-
metidos ao poder nas instituições, nem percebem o peso das leis, normas, que
os aprisionam.
Foucault (2005) mostra que pequenos poderes, que ele nomeia de micropo-
deres, perpassam todo o corpo social e vão provocando transformações e modi-
ficações de condutas nos indivíduos.
O corpo submetido aos micropoderes se consolida como algo fabricado,
influenciado por uma coação calculada, esquadrinhado em cada função corpó-
rea, com fins de automatização.
O homem é o principal alvo e objeto do poder, que tem como objetivo a ta-
refa de transformar os corpos em corpos dóceis. Foucault (2005) explica corpo
dócil é “um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode
ser transformado e aperfeiçoado”. Veja que nossos corpos vão sendo moldados
para aceitarem bem, as ordens e normas do poder.
Assim “a disciplina” que, existente nas instituições, modela os corpos,
ordena os seus funcionamentos, cria falas, discursos sobre os sujeitos, e, os
apreende numa rede de “verdades criadas” sobre aqueles que estão sujeitos
às instituições.
capítulo 2 • 33
Mandel (1986) mostra que as instituições de saúde possuem três núcleos
básicos de poder: a hierarquia (subordinação inferior-superior); a ordem (fixa-
ção do lugar, das normas e das regras); a disciplina (prática de obediência à
hierarquia das relações sociais instituídas).
Na disciplina, a regra mais importante das instituições que Goffman (1997)
chamou de totais (os quartéis, hospitais e os conventos), é a submissão à disci-
plina. Nessa perspectiva, instituições totais são aquelas que, por seu caráter de
internação abrangem toda a existência dos indivíduos. Bom, adoecer já não é
uma experiência necessariamente boa, e se pensarmos que em geral somos tra-
tados dentro de uma unidade hospitalar, podemos intuir que ficar internado,
pelos motivos expostos pode ser uma experiência difícil.
34 • capítulo 2
Angerami-Camon (2001) afirma que essas características que notamos em
grande parte das rotinas hospitalares têm contribuído muito para ausentar a
pessoa de seu processo de tratamento. Toda a responsabilidade do tratamen-
to fica com a equipe, com os técnicos. Essa desresponsabilização do pacien-
te sobre o seu tratamento é prejudicial para o paciente, para a equipe e para
o tratamento.
Ao longo da história da medicina houve um crescente aumento das espe-
cialidades médicas. No século XX, nota-se uma tendência para a progressiva
fragmentação do conhecimento médico numa vasta gama de áreas de dife-
renciação. Atualmente o Conselho Federal de Medicina (CFP) na Resolução
nº 2.005/2012, reconhece a existência de cinquenta e três especialidades mé-
dicas. Isso parece refletir um processo que tem relação com a fragmentação e
a ultra especialização da medicina. São tantos os especialistas que tem algo a
dizer com relação ao corpo que fica difícil para o paciente acompanhar o seu
tratamento. Os diagnósticos são cada vez mais específicos.
A especialização clínica deixa de levar em conta, até mesmo as implica-
ções da patologia em outros órgãos e membros do paciente. Angerami-Camon
(2001) mostra que até mesmo o psicólogo, se não tomar cuidados éticos e téc-
nicos, poderá ser mais um dos estímulos aversivos e invasivos, existentes no
contexto hospitalar.
O processo de despersonalização do doente que ao sentir sua desquali-
ficação existencial, muitas vezes abandona o tratamento, ou se abandona no
tratamento.
Nos hospitais podem surgir alguns quadros que não necessariamente estão
relacionadas ao quadro clínico do paciente, são quadros como: ansiedade, de-
pressão, alterações do pensamento e da sensopercepção são relativamente co-
muns, como mostra Angerami-Camon (2001). Nesse capítulo iremos conhecer
quais alterações são essas e como elas se manifestam.
2.1.1.1.1 A ansiedade
capítulo 2 • 35
Devemos estabelecer uma diferença entre o Transtorno de Ansiedade
Generalizada (TAG) para a ansiedade presente no hospital, entendendo que a
própria hospitalização pode causar a ansiedade, seja pela demora no estabele-
cimento do diagnóstico, seja pelos processos e práticas instituídas, ou mesmo
pelo próprio afastamento do doente de suas atividades diárias, cotidianas.
Angerami-Camon (2001) apresenta uma excelente definição de ansiedade:
36 • capítulo 2
Esse paciente correndo o risco de amputação de sua perna, criticava e recla-
mava da comida. Entendemos que falar da comida era uma forma de deslocar
sua ansiedade da amputação para outro aspecto que ele supunha que podia
controlar. Essa distorção, negação e deslocamento dos sintomas físicos pode
fazer, num primeiro momento, o paciente sentir-se melhor, mas em longo pra-
zo isso pode alterar o curso da doença. Somente após uma intervenção para
fazer um realinhamento da ansiedade com o curso de sua patologia e que pode
ajudar no processo de cura.
Devemos ter claro que cada paciente constrói sua própria forma de lidar
com a doença e essa construção se dá em função da própria história de vida do
paciente.
Angerami-Camon (2001) mostra que a “ansiedade do paciente tem bases
em sua própria história”. Isso explicaria que após um diagnóstico é possível
ver eclodir um pânico inexplicável do paciente em respostas a uma enfermi-
dade ou procedimento pequeno ou pouco invasivo. Assim, às vezes, o paciente
associa uma experiência anterior àquele procedimento atual. Veja esse caso,
atendido em Hospital público da rede estadual do Rio de Janeiro:
Vera, uma senhora de cinquenta anos, necessitou fazer uma coleta de san-
gue para a realização de um exame. Ela recebeu o pedido de exame do seu
médico e se dirigiu ao posto de coleta. Chegando lá começou a suar, suas per-
nas tremiam, ela não conseguia falar. Sentou-se na cadeira de coleta e chorou
copiosamente”.
Ao ser interrogada, Vera conta que desde que sua mãe morreu ela nunca
mais tomou injeção. Ela conta que acredita que sua mãe morreu após tomar
uma injeção errada. Você, claro, já reparou que tomar injeção não é o mesmo
que coletar sangue. São dois procedimentos absolutamente diferentes. Que
mal entendido é esse? Vera associou ser “furada” com morte, mesmo que ra-
cionalmente sejam processos diferentes. Para ela era impossível separar e en-
tender a diferença entre os processos.
A ansiedade está sempre presente no hospital. Mesmo na equipe profis-
sional vários comportamentos podem se manifestar por estarem diretamente
associados à ansiedade. Trocas de medicações, perda do acesso venoso dos pa-
cientes, esquecimentos variados, falta aos plantões, agressividade da equipe
para os pacientes. Todos esses fatores são graves e não se resolvem sozinhos.
Mas melhorando a gestão dos serviços e dando voz aos membros da equipe po-
demos melhorar as relações internas.
capítulo 2 • 37
2.1.1.1.2 A depressão no hospital
©© PIXABAY.COM
38 • capítulo 2
A família contou que não tinha recursos financeiros para arcar com o custo
das visitas frequentes. A equipe mobilizou-se e em parceria com a prefeitura do
local de moradia dos familiares, combinaram que todas as vezes que o carro da
prefeitura viesse próximo ao hospital eles dariam uma carona para os familia-
res. Acordo feito, acordo cumprido e fim do problema com o paciente.
O paciente depressivo no hospital pode sentir-se desestimulado, falan-
do pouco, responsivo e distraído. O diagnóstico diferencial é fundamen-
tal para poder avaliar o quadro e pensarmos na possibilidade de o medicar
especificamente.
capítulo 2 • 39
orientam os profissionais na hora de formular o diagnóstico dos transtornos,
são eles: o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V -
2015) que vigora nos Estados Unidos, enquanto, na Europa, utiliza-se a décima
revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
Nesses manuais de transtornos mentais é possível conhecer vários transtor-
nos, os subtipos e os critérios diagnósticos.
O profissional de saúde deve ser capaz de estabelecer um diagnóstico para,
a partir daí, oferecer um tratamento mais preciso, específico e correto.
Nosso guia nessa trajetória sobre as alterações da consciência será o texto pu-
blicado por Dalgalarrolo em 2008. Fizemos um resumo das principais altera-
ções psicopatológicas, levando em conta que não pretendemos falar de toda a
psicopatologia, mas somente as que têm relação direta com o hospital.
40 • capítulo 2
• Alterações da Consciência = Consciência é definida como o estado de vi-
gília e capacidade de entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer
os objetos.
• Alterações normais da consciência: sono e sonhos.
capítulo 2 • 41
ele se encontra não sabe informar, confunde-se sobre os dados da realidade
(não sabe que dia estamos, nem o ano). Solicita a presença de parentes que já
faleceram.
Observação: você precisa ter cuidado para não confundir a síndrome con-
funsional com delírio que é a alteração do juízo de realidade, comum na esqui-
zofrenia. Uma diferença que pode ajudar é que na síndrome confunsional as
ideias são confusas e ilógicas, mas não delirantes.
42 • capítulo 2
Exemplo: Paciente masculino, 23 anos. Trazido à emergência após uma ten-
tativa de suicídio que não logrou êxito. O paciente atentou contra a própria vida
fazendo uso de comprimidos analgésicos em quantidade não letal. Foi trazido
à emergência pelos bombeiros, com sinais de rebaixamento da consciência e
dizendo não lembrar do que havia acontecido, mas que estava muito bem. Que
não tentará se matar, que tudo não passara de um equívoco. Confrontando com
o fato dos bombeiros terem achado grande quantidade de envelopes vazios de
comprimidos o paciente dizia ser impossível isso ter acontecido. Somente após
algumas horas o paciente conseguiu lembrar e relatar o motivo da tentativa.
Ele contou que após o rompimento do namoro com seu parceiro, não viu outra
alternativa que não fosse colocar fim a própria vida.
capítulo 2 • 43
As variadas formas de sentir são causadas por estímulos sensoriais diferen-
tes, que podem ser: visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos, propriocep-
tivos e cenestésicos.
Percepção é a tomada de consciência pelo sujeito do estímulo sensorial, ou
seja, perceber é tomar consciência de determinado estímulo.
44 • capítulo 2
Exemplo: “O Jorge está indo ao banheiro. Agora ele vai comer”.
Esses tipos de alucinações são frequentes nas psicoses esquizofrênicas,
mas não são exclusivas delas. Também ocorrem em depressões muito graves,
com conteúdo negativo, de ruína, de culpa, de doença. Também nos quadros
maníacos, podem ocorrer com conteúdo de grandeza, de poder, místico.
Exemplo: Paciente feminina, 54 anos como quadro maníaco, internada na
enfermaria de Cirúrgica, após ter sido submetida a cirurgia para retirada de cál-
culo renal. Ela conta a todos que é muito rica, que está num hospital público
porque sua cirurgia foi de emergência, diz que logo saíra dali para o melhor
hospital da cidade. Conta que seu médico é “fulano de tal”, o melhor médico do
país! Diz receber ligações de pronto restabelecimento de políticos importantes,
religiosos e empresários. Mesmo que nunca ninguém da equipe tenha sido tes-
temunha do recebimento de uma visita sequer.
capítulo 2 • 45
• Liliputianas: o paciente vê pessoas, personagens ou animais diminutos,
minúsculas, em geral nas paredes ou em objetos de sua residência.
46 • capítulo 2
• Alucinações cinestésicas: sensações alteradas de movimentos do corpo –
sentir o corpo afundando, as pernas encolhendo, um braço se elevando.
Exemplo: Paciente relata que vê seu corpo flutuando sobre ele próprio
toda noite.
capítulo 2 • 47
5. Desordens autoimunes
6. Tumores do Cérebro
7. Desordens dos eletrólitos tais como níveis baixos ou elevados de cálcio,
de sódio, de potássio, de magnésio ou de fosfatos
48 • capítulo 2
Através das Redes de Atenção à Saúde (RAS) essas redes são arranjos organi-
zativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas que,
integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam
garantir a integralidade do cuidado (Ministério da Saúde, 2010 – portaria nº
4.279, de 30/12/2010).
No Brasil a atenção básica (AB) tem como princípios: a descentralização, da
universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da
integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade
e da participação social. A proposta é que o paciente tenha uma atenção total
que visem principalmente à prevenção de doenças e a melhoria da qualidade
de vida.
As Unidades Básicas de Saúde instaladas perto de onde as pessoas moram,
trabalham, estudam e vivem, desempenham um papel central na garantia
à população de acesso a uma atenção à saúde de qualidade. O Ministério da
Saúde (MS) oferece a população vários programas para a prevenção das doen-
ças crônicas, o nome oficial é: Plano de Ação Estratégica para o Enfrentamento
da Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) no Brasil - 2011-2022. Nesse
plano a política Nacional de Promoção da Saúde: prioriza ações de alimentação
saudável, atividade física, prevenção ao uso do tabaco e álcool.
O Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas
Não Transmissíveis (DCNT) aborda as quatro principais doenças (doenças do
aparelho circulatório, câncer, respiratórias crônicas e diabetes) e os fatores de
risco (tabagismo, consumo nocivo de álcool, inatividade física, alimentação
inadequada e obesidade).
As principais metas desse plano são: 1. reduzir a taxa de mortalidade prema-
tura (<70 anos) por DCNT em 2% ao ano; 2. reduzir a prevalência de obesidade
em crianças; 3. reduzir a prevalência de obesidade em adolescentes; 4. deter o
crescimento da obesidade em adultos; 5. reduzir as prevalências de consumo
nocivo de álcool; 6. aumentar a prevalência de atividade física no lazer; 7.au-
mentar o consumo de frutas e hortaliças; 8. reduzir o consumo médio de sal; 9.
reduzir a prevalência de tabagismo; 10. aumentar a cobertura de mamografia
em mulheres entre 50 e 69 anos; 11. aumentar a cobertura de exame preventivo
de câncer de colo uterino em mulheres de 25 a 64 anos; 12. tratar 100% das mu-
lheres com diagnóstico de lesões precursoras de câncer.
capítulo 2 • 49
2.5.1 O doente crônico
O diagnóstico de uma doença crônica muda tudo na vida de uma pessoa. Geral-
mente causa um impacto muito grande e altera a forma da pessoa ver o mundo
e a si própria.
A vida é colocada sob uma nova perspectiva. Isso implica necessariamente
numa mudança do estilo de vida. Os cuidados precisam ser mais intensos: os
horários das medicações precisam ser respeitados, cuidados no asseio e higie-
ne, alimentação e mobilização o máximo possível, dependendo das condições
de cada paciente. Quando o paciente consegue entender e aceitar essas restri-
ções que sua nova condição impõe, a relação com a doença tende a ficar me-
lhor, mais fácil. A família tem um papel importante de apoiar e assessorar o
paciente deste o diagnóstico até o fim da vida.
Quando o paciente já falhou na prevenção e não consegue compreender a
importância do tratamento ele acaba indo para no hospital.
O paciente com doenças crônicas no hospital geralmente foi internado por ter
algum comprometimento no quadro clínico que impossibilite o seu tratamen-
to a nível ambulatorial. Como exemplo podemos citar a descompensação do
diabetes mellitus, infecção respiratória descompensando portador de doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), Acidente Vascular Encefálico (AVE) den-
tre outras.
Vieira e Marcon (2008) escrevem que com o paciente portador de doença crô-
nica a tarefa principal é resgatar seu modo de vida que foi interrompido pela
ocorrência do fenômeno doença.
Com esses pacientes o profissional de saúde deve procurar entender o so-
frimento, escutar, e aproximar-se do drama humano que é doença. A tarefa é
propiciar que o paciente reencontre o sentido da vida, mesmo estando doente
e com a vida debilitada. Vieiral e Marconll (2012) mostra ainda que nossos pa-
cientes, além da doença tem que enfrentar alguns lutos: 1. Pelo corpo saudável;
50 • capítulo 2
2. Pela posição que tinha na família e que em algumas situações perde; 3.
Pelo salário que pode ser diminuído; 4. Pela mudança no seu estilo de vida.
Precisamos dar suporte para que o paciente enfrente seus lutos, ajudá-lo no en-
tendimento de sua condição e facilitar a adesão ao tratamento que será longo e
em muitas vezes doloroso.
capítulo 2 • 51
2.5.1.1.1 O doente terminal
Uma doença terminal muda tudo. Na maioria dos casos, cuidar de alguém que
sofre de uma doença terminal torna-se mais assustador do que o diagnóstico
inicial. Não existe uma cura, mas também não há certezas relativamente aos
meses ou até anos que podem separar o diagnóstico da morte. Como lidar com
um doente terminal? No fundo, é muito simples – essas pessoas necessitam
dos mesmos cuidados físicos, emocionais e espirituais que todos nós. E a ver-
dade é que estamos todos a morrer, mas, até ao último suspiro, estamos todos
vivos, por isso, há que aproveitar cada dia ao máximo.
Uma das maiores preocupações de um doente terminal é o controle da dor
aguda ou crônica que debilita a pessoa até esta já não conseguir executar as
suas tarefas diárias. Muitas vezes, o doente pode estar a sofrer desnecessaria-
mente, o que pode ter um efeito negativo na sua luta pela vida. Ter qualidade de
vida até ao final de uma doença terminal é fundamental, por isso, é necessário
averiguar e experimentar quais os medicamentos e ou tratamentos que possam
controlar essa dor.
Kubler-Ross (1985) nos ensina que as pessoas que enfrentam uma doen-
ça terminal sentem uma dor e uma solidão enorme, muitas vezes associada à
depressão e a um sentimento de “vazio”. Para além de serem cuidadas, estas
pessoas precisam ser acarinhadas, principalmente porque estão a viver um pe-
ríodo na sua vida marcado por emoções negativas como a tristeza, a ansiedade,
a revolta e o medo.
Devemos ter condições psíquicas para falar sincera e abertamente sobre a
morte e o morrer. Devemos ter paciência, ouvir, apoiar e caso o paciente queira
oferecer um abraço, um toque, um carinho.
O paciente terminal pode sentir-se preocupado em saber como ficarão as
suas coisas após sua partida. Se o paciente pedir, ajude-o a delegar para alguém
de suas relações que possam resolver assuntos pendentes. Preparar ou alterar
o seu testamento, ou deixar indicações para o seu funeral. Pode ainda ser de
a sua vontade organizar as suas finanças ou entregar, a familiares ou amigos,
alguns dos seus bens pessoais. Fazer as pazes com alguém ou esclarecer um
mal entendido do passado, serão outras questões que essa pessoa poderá ter
necessidade de resolver.
É fundamental que ajude o doente terminal a concretizar os seus desejos
finais, mesmo que seja um assunto simples como visitar um velho amigo,
52 • capítulo 2
realizar uma viagem a um local especial ou fazer uma coisa que sempre quis,
mas nunca teve a oportunidade. Nossa tarefa é ajudá-lo a partir da melhor for-
ma possível, sem pendências afetivas, econômicas ou sociais.
RESUMO
Nesse capitulo tivemos a oportunidade de conhecer como funciona a estrutura de uma ins-
tituição total, sua política disciplinadora e controladora dos corpos, suas tentativas de tornar
os corpos dóceis ao trato. Vimos como a ansiedade e a depressão podem ser causadas pelo
processo de adoecer e também pela hospitalização. Aprendemos sobre a Atenção Primária e
vimos que existe uma preocupação das instâncias governamentais na prevenção de doenças
crônicas. Pudemos conhecer as principais alterações psicopatológicas que podem ocorrer
durante a internação. Entendemos a dinâmica do adoecer crônico e finalmente compreende-
mos o processo de morrer.
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VIEIRA, M.C.U. & MARCON, S.S. Significados do processo de adoecer: o que pensam
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54 • capítulo 2
3
Instituições de
saúde: um campo
de trabalho
transdisciplinar
3. Instituições de saúde: um campo de
trabalho transdisciplinar
©© PIXABAY.COM
56 • capítulo 3
Esse paradigma foi superado por outras formas de pensar o fazer científico
e por novas formas de intervenção nas instituições. O paradigma que sucedeu
ao antigo foi perfeitamente definido por Feriotti (2009).
capítulo 3 • 57
As de equipes compostas por diversos profissionais sempre existiram nas
unidades de saúde, e pelo simples fato de termos vários profissionais traba-
lhando na mesma unidade não caracteriza uma equipe multiprofissional. O
que caracteriza o trabalho multiprofissional é uma troca constante, onde os
saberes de cada profissional se somam, se ligam e se transformam nas discus-
sões de caso que as equipes realizam. Portanto essa forma de entender a prática
profissional torna o trabalho mais produtivo.
Na atenção básica o trabalho transdisciplinar é definido como:
58 • capítulo 3
acomodação que protege o grupo e a estrutura institucional do enfrentamento
de mudanças necessárias.
7. A divisão social do trabalho ainda mantém as cisões teoria-prática, sa-
ber-fazer, gerenciar-executar, diminuindo as possibilidades de participação
dos técnicos nas questões administrativas que definem e organizam processos
de trabalho e desenvolvimento de projetos.
8. Excesso de trabalho, demandas burocráticas, baixas remunerações,
setorização e fragmentação das ações levam profissionais a realizarem tare-
fas isoladamente e absorverem individualmente, ou em pequenos grupos,
as impotências e insatisfações, sem visibilidade da dinâmica institucional
e sem poder identificar o quanto suas próprias relações com o trabalho es-
tão institucionalizadas.
capítulo 3 • 59
prontificou a identificar o paciente através do serviço de datiloscopia do Detran.
A fisioterapia prontificou-se a, de forma gradual, levar o paciente para passear
pelos jardins do hospital a fim de que ele possa se acostumar com a luz do dia e
a reaprender a andar sem ajuda. A enfermagem sugeriu que poderíamos fazer
cartazes com a foto do paciente e colocá-los na entrada da emergência. Assim
alguém poderia reconhecê-lo.
Todos os profissionais cumpriram as suas tarefas e o resultado foi que a fa-
mília do paciente foi encontrada e foi buscá-lo no hospital. Eles contaram que o
estavam procurando há muito tempo sem conseguir achá-lo. Contaram que ele
tem quatro filhos, é casado e que sempre trabalhou muito. Provavelmente ele vi-
nha do trabalho quando foi assaltado ou atropelado. Caso resolvido com suces-
so, por causa da participação de todos com olhares profissionais diferenciados.
60 • capítulo 3
Em 1939 Lewin, interessava-se pelos processos de decisão na liderança e
principalmente nas questões relativas a tomada de decisão. Ele estabeleceu,
basicamente, três tipos de liderança.
O líder fixa as diretrizes sem participação do grupo. É o líder que define o que
deve ser feito e como deve ser feito. Determina quais as providências e as téc-
nicas a utilizar para a execução das tarefas, cada uma por vez, a medida que se
tornam necessárias e de modo imprevisível para o grupo. Exerce a liderança
sustentando o seu poder no cargo, posição hierárquica ou estatuto que ocupa
no grupo.
capítulo 3 • 61
©© PIXABAY.COM
Acredita que a união faz a força e que não é perfeito nem tem de ser crê que
todos possuem condições de agir com autonomia e responsabilidade.
A sua atenção está voltada principalmente para as relações interpessoais e
vê o seu poder baseado na credibilidade que o grupo lhe atribui.
62 • capítulo 3
O gerenciamento produz ordem e consistência através do desenvolvimento do
planejamento em curto prazo, organização, controle e resolução de problemas; já a
liderança produz mudança e movimento nas organizações através da criação de uma
visão, desenvolvimento de estratégias, alinhamento das pessoas, bem como a respon-
sabilidade de inspirar e motivar o grupo.
capítulo 3 • 63
grupos estão filiados. Essas contradições entre interesses pessoais e os interes-
ses organizacionais criam tensões e podem causar diversos tipos de mal estar.
Mas o fundamental é que os conflitos que surgem dessas tensões não devam
ser sufocados, ao contrário, o líder deve fazer eclodir os conflitos para que eles
possam ser tratados e resolvidos. O conflito, nas organizações, quando é colo-
cado para debaixo do tapete, é negado ou rejeitado tende a causar patologias na
instituição e também nas pessoas. O líder permite e incentiva que se verbalize o
que incomoda na organização, e assim previne possíveis transtornos.
64 • capítulo 3
seja frequentemente inoperante, quanto a seu conteúdo, por meio dela é que os
participantes em geral passam a se conhecer.”
Na fase de Controle, com o grupo já formado, começam os duelos por po-
der, liderança e influência. Aqui, o maior questionamento a ser respondido por
cada um é: quero ser líder ou liderado? Cada participante busca estabelecer no
grupo o grau de influência e poder – ou de obediência e dependência – que as-
sumirá segundo a sua conveniência. De acordo com Schutz (1989) “durante o
estágio do controle, o comportamento grupal característico inclui a luta pela
liderança e também a competição.” Enquanto membro do grupo, neste mo-
mento minhas ansiedades básicas centralizam-se em ter responsabilidade de
mais ou de menos, e em ter muita ou pouca influência. Tento me estabelecer
no grupo de tal modo que venha a ter a quantidade de poder e de dependência
que me for mais conveniente.
Já na última fase – Abertura – os relacionamentos já estão definidos, com
base nas trocas afetivas que surgiram da interação vivenciada pelos partici-
pantes. Nesse estágio, a pergunta de maior importância a ser respondida é: até
onde desejo ser próximo ou estar distante dos outros indivíduos do meu grupo.
Os movimentos de entrada nos grupos são cheios de desejos, afetos, emoções.
São esses sentimentos que constroem os laços que vão configurar o funciona-
mento grupal. São os laços afetivos que permitem que dentro das instituições
as pessoas se sintam participantes, aceitas e confortáveis. É o laço que faz a
amarração entre os sujeitos, o grupo e a instituição. Outra tarefa fundamental
do líder é saber equilibrar emoção com a cognição (capacidade de reflexão do
grupo). Assim sentir e pensar fazem parte e constituem os processos grupais. O
líder faz a mediação entre as expressões das emoções e as reflexões, para man-
ter o grupo funcionando de forma eficaz.
capítulo 3 • 65
No plano da atuação diária, o médico ocupa um lugar de destaque e sua função não
se limita à execução de procedimentos médicos, mas envolve ações administrativas
sobre as quais ele tem autonomia, dado à natureza de sua função. Este profissional
está exposto a situações em que não são possíveis processos de consultas e autori-
zações. Por outro lado, a profissionalização administrativa dos hospitais estabeleceu
uma linha paralela de condução das relações interpessoais, fazendo com que funções
administrativas, antes limitadas à execução de procedimentos de controle, assumam
um papel de mediador das relações.
o poder nas organizações de saúde, dizendo que este é compartilhado por vários
núcleos de profissionais, reforçando a necessidade de aprimoramento constante na
comunicação e na capacidade de negociação das lideranças.
66 • capítulo 3
3.3 Comunicação nas instituições
capítulo 3 • 67
3.3.1 Comunicação de notícias difíceis
Nesse texto o ministério apresenta um roteiro inicial que pode ser adaptado
a diferentes realidades institucionais.
1. Prepare-se para comunicar = descubra o quanto o paciente sabe ou o
quanto aguenta saber.
2. Compartilhe as informações
68 • capítulo 3
Estratégia de atuação
1. Escolha um local reservado, fresco, com boa iluminação e que possam
ficar sentados.
2. Cuidado com a privacidade (o sigilo é fundamental).
3. Tenha tempo para dar a notícia e depois acolher o sofrimento – Não
fique olhando para o relógio. Ofereça seu tempo.
4. Utilize perguntas abertas: o que você sabe sobre sua doença? O que
mais te preocupa nessa situação?
5. Atente aos sinais não verbais do paciente durante as respostas.
6. Identifique sinais de ansiedade extrema ou sofrimento exacerbado,
avaliando as condições emocionais do paciente.
7. Informe com tom de voz suave, porém firme, utilizando vocabulário
adequado à compreensão do outro.
8. Seja claro e faça pausas para que o paciente tenha oportunidade de fa-
lar e você possa saber o que ele está pensando ou sentido da situação.
9. Valide a compreensão, fazendo perguntas curtas.
10. Só toque no paciente caso ele tome a iniciativa – Tocá-lo sem permissão
pode ser invasivo.
11. Verbalize compaixão e solidariedade ao sofrimento do outro
12. Acolha os sentimentos.
13. Permaneça junto do paciente.
14. Permita e estimule a expressão de sentimentos (de modo verbal e/ou
não verbal).
15. Verbalize disponibilidade para ouvi-lo.
16. Fale concisamente sobre sintomas, possibilidades de tratamento
e prognóstico.
17. Estabeleça, junto com o paciente, metas a curto e médio prazos e ações
para atingi-las.
18. Verbalize a disponibilidade para o cuidado e o não abandono.
19. Deixe claro como e onde encontrá-lo, se necessário.
Ouvir, escutar, acolher, são habilidades que podem ser treinadas e desen-
volvidas, nas instituições de saúde. Essas habilidades são fundamentais para
podermos oferecer aos pacientes um atendimento de qualidade e podermos
ajudá-los num momento da vida onde estão mais vulneráveis. Dar notícias
ruins, difíceis é sempre complicado tanto para quem recebe quanto para quem
capítulo 3 • 69
é responsável em comunicar a notícia, por isso o profissional de saúde necessi-
ta estar bem consigo mesmo para poder oferecer ajuda ao seu paciente.
Qualquer um pode ficar zangado. Isto é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na
intensidade correta, no momento adequado, pelos motivos justos e da maneira mais
apropriada, isto não é fácil.
Aristóteles.
70 • capítulo 3
Elas modulam adequadamente a forma de falar, considerando a escolha
das palavras, o volume e o tom de voz, além de manter o contato visual com
seus interlocutores.
A pessoa assertiva não se omite, mas também não agride ninguém.
O desenvolvimento de comportamentos assertivos proporciona uma me-
lhora muito significativa das interações sociais. Porque permite que se consiga
falar sobre tudo de forma respeitosa ao outro.
Essa é uma das habilidades mais fundamentais, que precisam ser desenvolvi-
das dentro das instituições. Del Prette e Del Prette (1999) organizam, de forma
clara, alguns itens que precisam ser respeitados e envolvem os elementos bási-
cos da comunicação nas instituições, são elas:
1. Fazer e responder a perguntas, ( de forma objetiva, clara e direta);
2. Gratificar e elogiar (elogiar não custa nada e ajuda a melhorar o nosso
dia, mas nunca minta, seja sempre sincero nos elogios);
3. Pedir e dar feedback nas relações sociais (saber o que pensam da gente
é fundamental para melhorarmos o nosso desempenho);
4. Dizer por favor, agradecer, apresentar-se, cumprimentar, despedir-se
(esses itens são essenciais para a convivência e faz toda a diferença nas relações
sociais. Nada funciona melhor que um belo bom dia!).
5. Dê sua opinião de forma sincera, respeitosa e amigável;
6. Peça desculpas e admita suas falhas;
7. Aceite as críticas e procure mudar de comportamento;
8. Trate todos, do gerente ao faxineiro, do mesmo modo respeitoso;
capítulo 3 • 71
acontece na relação entre o artista e o espectador que projeta a si mesmo na
obra de arte.
Para Hoffman (2000), empatia é a resposta afetiva vicária a outras pessoas,
ou seja, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à
própria situação.
Jaspers (1997) afirma que o psiquiatra, ao invés de interpretar, deve:
Del Prette e Del Prette, (1999) define empatia como a “capacidade de reco-
nhecer sentimentos e identificar-se com a perspectiva do outro, manifestando
reações que expressem essa compreensão e esse sentimento”
Sintetizando, a empatia seria a capacidade de perceber e entender o ponto
de vista do outro, entender suas razões, sentimentos e motivos, em outras pala-
vras, colocar-se no lugar do outro. Acolher seu sofrimento e ajudá-lo a lidar da
melhor maneira possível. É importante chamar a atenção para o fato de que
colocar-se no lugar do outro não é ser o outro. É entender a dor do outro, saben-
do que a dor é do outro. Se não temos claro essa distinção podemos confundir
nossa atuação e não iremos conseguir ajudar o nosso paciente.
RESUMO
Caminhamos nesse capítulo conhecendo mais sobre os trabalhos nas instituições de saú-
de, vimos a importância da transdisciplinaridade como método de atuação, vimos como os
grupos se formam, se consolidam e formam laços sociais, conhecemos os diversos tipos de
liderança e tivemos a oportunidade de entender a comunicação nas instituições, como dar
notícias difíceis, a questão da empatia e da ajuda aos nossos pacientes. Espero que vocês
tenham aproveitado bem esse capítulo.
72 • capítulo 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Editora: edu –
unb.2015
capítulo 3 • 73
74 • capítulo 3
4
Motivação
4. Motivação
Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida.
Confúcio.
76 • capítulo 4
trabalho, por sua vez, a motivação faz com que o indivíduo torne-se mais res-
ponsável com seu trabalho, repercutindo consequentemente em um aumento
da produtividade e da qualidade do trabalho. Concluindo, nas instituições de
saúde a satisfação e a motivação precisam andar juntas.
Motivar é um verbo que exige complemento. Isso porque não existe motiva-
ção sem objeto. Estamos sempre motivados por alguma coisa. Ou seja, sempre
tem um objeto, ou objetivo a nossa motivação.
Nas Instituições o tema motivação vem se destacando cada vez mais, mas
temos várias definições, conceituações e aplicações para motivação. Veremos
algumas abaixo:
Chiavenato (1982) afirma que:
COMENTÁRIO
Motivo é aquilo que move o sujeito que impulsiona para a ação, portanto a motivação estará
sempre associada a um objetivo. Não existe motivação no geral, ela é sempre específica.
COMENTÁRIO
Somos insatisfeitos sempre, e é justamente essa insatisfação que nos move em direção às
mudanças, às conquistas.
capítulo 4 • 77
Para Bergamini (1997) “A motivação humana é caracterizada por um con-
junto de fatores dinâmicos existentes na personalidade, que determinam a
conduta de cada um”.
COMENTÁRIO
Esses fatores dinâmicos ordenam nossa personalidade, e permite que o sujeito use todos os
seus recursos: psíquicos, cognitivos e sociais para buscar aquilo que ele precisa e deseja.
COMENTÁRIO
Montana faz referência a motivação que é externa (extrínseca) ao sujeito e pode ser acessa-
da para motivar internamente.
COMENTÁRIO
O autor afirma que a palavra motivação é usada com significados variados. Fala-se em moti-
vação para estudar, ganhar dinheiro, viajar e até mesmo para não fazer nada.
78 • capítulo 4
Maximiniano, (2004) explica que o sentido da palavra motivação provém
do latim:
A palavra motivação deriva do latim motivus, movere, que significa mover. O seu
sentido original fundamenta-se no processo no qual o comportamento é incentivado,
estimulado ou energizado por algum motivo ou razão.
COMENTÁRIO
Maximiniano reafirma a necessidade de um motivo que possa energizar e impulsionar o com-
portamento dos sujeitos
A motivação é pessoal, mas pode ser influenciada por objetivos e interesses coletivos
as pessoas a irem em busca de algo que possa satisfazer suas vontades e que con-
tribua de alguma forma para a realização de seus desejos, fica difícil motivar pessoas,
até porque o ser motivado supera limites como se a pessoa estivesse sob efeito de
algo superior, isso se dá quando a pessoa está centrada em seu objetivo maior levan-
do a uma integração em busca de sua autorrealização.
capítulo 4 • 79
Megginson (1998) mostra que a motivação:
COMENTÁRIO
O estudo da motivação deve levar em conta as motivações individuais, mas também como as
instituições contribuem para o aumento ou diminuição da motivação de seus empregados.
COMENTÁRIO
O ser humano está em uma busca constante e nesse ato de buscar envolve toda a sua
potencialidade. O que o completa agora, provavelmente não o completará daqui a pouco ou
amanhã, pois perderá o sentido, a força, a constância.
80 • capítulo 4
Kwasnicka (2007) ressalta que a motivação “refere-se a desejos, aspirações e
necessidades que influenciam a escolha de alternativas, determinando o com-
portamento do indivíduo”.
COMENTÁRIO
Como podemos depreender do texto, para essa autora, a motivação é um processo de mobi-
lização de energia, que ocorre com cada indivíduo, internamente.
Nas instituições de saúde é comum que corte nos custos, demissões e aumen-
to do número de atendimentos - sem que haja um real aumento de profissio-
nais de saúde - sejam justificados pela busca por eficiência. Isso significa um
constante aumento de trabalho, sem a recompensa salarial correspondente.
Segundo Pinto (2000) no início dos anos 2000, aprofundou-se o processo de ter-
ceirização da gestão das unidades de saúde. Criaram-se O.S. (Organizações So-
ciais) e Fundações de Saúde que vieram substituir a gestão, até então, feita pelo
capítulo 4 • 81
Governo Federal, governos estaduais e municipais. As O.S. e Fundações têm
um regime de contratação de pessoal, que se caracteriza por certa precarização
nos vínculos funcionais de trabalho. Pois o trabalhador em saúde que presta-
va concurso público tinha seu vínculo de trabalho como estatutário, o que ga-
rantia estabilidade no emprego e principalmente um cargo público. O cargo
era a garantia de poder exercer suas funções sem pressões, com mais liberdade
e com maior capacidade de decisão, o que garantia autonomia funcional e de
certa forma permitia uma ligação mais efetiva entre o técnico e a população a
ser atendida. Com a mudança inibiu-se a realização de concursos públicos e
modificou profundamente as relações de trabalho, Falcão (2015). Atualmente
o profissional de saúde não tem estabilidade no emprego e muito menos na
função. Portanto a relação entre profissional de saúde – unidade de saúde – po-
pulação atendida ficou fragilizada, já que o profissional não tem certeza de por
quanto tempo continuará naquela unidade. Além disso, as contratações para a
O.S. puderam passar a ser feitas por indicações políticas, sem a prévia e neces-
sária comprovação de competência profissional. Essa troca de gestão foi feita,
em alguns casos, sem transparência e principalmente sem preparação para as
equipes de funcionários estatutários. A inclusão dos profissionais das O.S. ter
sido realizada de forma abrupta e com poucas discussões na sociedade e entre
os profissionais de saúde transformou-se num fator de influente na diminui-
ção da motivação desse profissionais.
Essas novas formas de gerir a saúde conseguiram, por um lado, organizar os
processos internos de fluxo de materiais, equipamentos e insumos, mas, por
outro lado, aumentou a cobrança do pessoal e a quantidade de trabalho, lá na
ponta, que é o cuidado como o paciente, sem não, entanto, ter havido uma revi-
são na forma como a gestão dirige as equipes de trabalho e como a gestão ofere-
ce oportunidade para que as equipes de saúde possam sentir-se motivados nas
novas condições de trabalho.
Gonçalves (2006) mostra que diante da pressão da eficiência, a antiga estru-
tura foi ainda mais enrijecida, e a qualidade, sacrificada. O resultado desse cír-
culo vicioso aparece claramente no diagnóstico da Norma Operacional Básica
de Recursos Humanos (NOB/RH), elaborada no âmbito do Sistema Único de
Saúde(SUS), referindo-se a organização pública e privada. Gonçalves (2006)
ainda afirma que é comum a falta de estímulo profissional, os desvios de fun-
ções, as duplas ou triplas jornadas de trabalho, a submissão a formas improvi-
sadas e arcaicas de vinculação e gestão, cuja regra é a transgressão à lei e ainda,
82 • capítulo 4
com poucos ou inexistentes espaços de negociação, com seus empregadores.
Gonçalves ainda afirma que nas instituições privadas (filantrópicas e lucrati-
vas) prestadoras de serviço de saúde, as distorções são de outra ordem. Nesses
casos, a ênfase da desregulamentação se dá, principalmente, pela tentativa das
entidades de se desonerarem das obrigações fiscais e pelo descumprimento
das normas regulamentares de contratação de pessoal.
As instituições de saúde passam pelos mais variados problemas desde a li-
mitação de recursos humanos, à falta de capital para se manterem funcionan-
do adequadamente. Como nos dizem Fernades et al (2013), os profissionais
se submetem a jornadas de trabalhos excessivas em duas ou mais instituições
para conseguir um padrão de vida mediano, o que contribui diretamente para
seu cansaço, desgaste físico, absenteísmo. Tudo isso reflete nas relações traba-
lhistas e por extensão na satisfação dos colaboradores.
Para Gonçalves (2006), as formas precárias de contratação, o descontenta-
mento profissional, as diferentes formas de vínculo empregatício no mesmo
ambiente de trabalho e todos os fatores que geram insatisfação ou tensão di-
ficultam a coesão e atinge negativamente o cerne da atividade hospitalar, seu
principal insumo: as pessoas que nele trabalham.
Os administradores hospitalares se veem às voltas com a necessidade de
ter que encontrar respostas para esses problemas, porém o que fazem é com-
bater os sintomas da crise. Tentam controlar os grupos, a falta de unidade na
instituição, o absenteísmo, a baixa produtividade e a dificuldade de mobili-
zação para mudanças. As soluções propostas são ineficazes, porque não me-
xem nas estruturas que provocam os problemas e muitas delas não chegam a
ser implantadas.
O desafio que se apresenta é romper com as amarras existentes nas corpora-
ções hospitalares, iniciando um ciclo de modernização, a partir da valorização
dos profissionais, com modelos organizacionais voltados para a motivação, a
qualidade no atendimento, a humanização, conseguindo com isso a elevação
do grau de satisfação dos clientes e colaboradores e consequentemente o au-
mento da produtividade da organização no contexto geral.
capítulo 4 • 83
pacientes, especialmente porque as instituições percebem que o diferencial
decorre principalmente das pessoas que trabalham nela. O profissional moti-
vado que reconhece a função social de sua tarefa, que entende que por menor
que seja a sua tarefa ela é fundamental para garantir a saúde da população.
Quando o gestor consegue fazer que seu subordinado compreenda a função
social do trabalho na saúde, ele pode mobilizar, incentivar e garantir que cada
um saiba da importância de sua atuação. Infelizmente alguns gestores adotam
programas motivacionais com o único objetivo de moldar ou modelar o com-
portamento de seus subordinados. Muitos gestores acreditam que motivação
é um traço pessoal, ou seja, alguns subordinados possuem e outros não. Por
causa dessa perspectiva sobre a motivação alguns gestores acreditam que seus
subordinados são desmotivados. O que esses gestores não percebem é que a
motivação é produzida na interação do sujeito, com suas tarefas no trabalho,
com seus companheiros e com o ambiente na instituição.
Herzberg (1923) foi o autor da "Teoria dos dois fatores" que aborda a situa-
ção de motivação e satisfação nas pessoas. Herzberg evidenciou dois fatores
diferentes e que devem ser considerados na avaliação da satisfação nos cargos.
São eles: os Fatores Higiênicos e os Motivacionais.
84 • capítulo 4
Os fatores que aumentam a motivação, são denominados de fatores moti-
vacionais e referem-se à tarefa e a sua execução: a liberdade de criar, de inovar,
de procurar formas próprias e únicas de atingir os resultados de uma tarefa,
envolvem ainda sentimentos de crescimento individual ou até mesmo de re-
conhecimento profissional. São fatores relacionados com a autorrealização
dos sujeitos.
Para Herzberg a motivação do subordinado reside no exercício de tarefas e
atividades que ofereçam suficientes desafios e significados para o trabalhador,
produzem sentindo para o trabalho realizado. No entanto, nas instituições de
saúde nem sempre essas condições estão presentes.
Bezerra (2010) nos mostra que:
A abordagem humanística apresenta uma nova teoria na metade dos anos 50, a
Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow (2001).
A teoria de hierarquia das necessidades de Maslow (2001) é uma das mais
importantes no campo motivacional. Essa teoria procura explicar o que mo-
tiva os humanos. Maslow faz uma análise das necessidades, físicas, sociais
e psicológicas dos seres humanos, e criou uma teoria para explicar a força
capítulo 4 • 85
dessas necessidades na motivação dos huma-
©© WIKIPEDIA.ORG
Maslow (2001) mostra que, as necessidades dos seres humanos seguem uma
escala de prioridades, uma hierarquia. Ele explica ainda que a motivação seja
explicada pelas necessidades humanas, sendo que os estímulos levam os indi-
víduos à ação. Ou seja, a busca por novas motivações. Esse ciclo: necessidade =
motivação, motivação = necessidade constitui o ciclo motivacional.
No ciclo motivacional pode ocorrer a frustração do indivíduo, quando al-
guma necessidade não é satisfeita. Mas isso não significa que o indivíduo per-
manecerá eternamente frustrado. Como a motivação é um estado cíclico e
constante na vida pessoal de cada um, a necessidade será transferida ou com-
pensada, de outra forma.
Os teóricos da escola humanista defendiam que todo comportamento hu-
mano é motivado. E a motivação seria uma tensão que levaria o indivíduo a
se comportar de forma a satisfazer uma ou mais necessidades. Como sempre
ocorrem necessidades, sempre se teria mudanças comportamentais, daí surge
o conceito de ciclo motivacional (Chiavenato, 2000).
86 • capítulo 4
O comportamento das pessoas pode ser explicado pelo ciclo motivacio-
nal, que é um processo pelo qual as necessidades influenciam determina-
do comportamento.
Uma necessidade ao surgir desequilibra a motivação já existente nos sujei-
tos, provocando um estado de tensão, insatisfação ou desconforto. Isso leva a
um comportamento ou ação para aliviar esse estágio de desajustamento.
No ciclo motivacional, a necessidade é satisfeita. À medida que o ciclo se re-
pete com a aprendizagem e a repetição (reforço), os comportamentos tornam-
se gradativamente mais eficazes na satisfação de certas necessidades. Uma vez
satisfeita, a necessidade deixa de ser motivadora do comportamento, já que
não causa tensão ou desconforto.
Maslow (2001) organizou seus estudos na forma de uma pirâmide, que tempos
depois ficou conhecida como a Pirâmide de Maslow. Na base dessa pirâmide
estão as necessidades mais urgentes (necessidades fisiológicas sendo as mais
importantes: oxigênio, líquido, alimento e descanso) A satisfação dessas neces-
sidades é condição indispensável à satisfação das necessidades colocadas ao
alto da pirâmide, que são as necessidades mais elevadas como, por exemplo:
necessidades de autorrealização.
Após as necessidades de ordem fisiológicas, temos as necessidades de segu-
rança, manifestada pelo comportamento de evitar o perigo diante de situações
estranhas e não familiares. É essa necessidade que leva o organismo a agir rapi-
damente em situações de emergência.
Seguidas a estas, temos a necessidade de amor e participação, expressa
pelo desejo que todos tem de se relacionarem afetivamente com os outros,
de pertencerem a um grupo. A vida social é fundamental para moldar os nos-
sos comportamentos
Depois aparece a necessidade de estima que nos leva a procurar a valoriza-
ção e o reconhecimento por parte dos outros. Quando essa necessidade é satis-
feita, sentimos confiança em nossas realizações. O sucesso de nossos compor-
tamentos reforça nossa estima e nos estimulam a seguirmos em frente.
A necessidade de realização expressa os objetivos e projetos que sem-
pre temos. E tem muito haver com a nossa capacidade de transformá-los em
realidade.
capítulo 4 • 87
As necessidades de conhecimento e compreensão abrangem a curiosidade,
a exploração e o desejo de conhecer novas coisas.
E temos ainda a necessidade estética que está presente em muitos sujeitos
que buscam incessantemente a beleza.
Na pirâmide de Maslow, as necessidades mais básicas até as mais com-
plexas estão numa hierarquia composta por cinco níveis e diferentes tipos
de necessidades.
Maslow (2001) fala sobre as necessidades instintivas e faz uma distinção entre
necessidades “deficitárias” (fisiológicas, de segurança, de filiação, de reconhe-
cimento) e as de “autorrealização”. A diferença existente entre uma e outra é
que as “deficitárias” se referem a uma falta, enquanto as de ”autorrealização”
se referem às tarefas e ao autoconceito do indivíduo.
A necessidade de “autorrealização” é importante para o crescimento pes-
soal, e está relacionada com o desejo de crescer como pessoa, e não com a falta
de alguma coisa.
1. Necessidades Fisiológicas
1. Necessidades de Segurança
88 • capítulo 4
3. Necessidade de Filiação
4. Necessidade de Reconhecimento
5. Necessidades de Autorealização
capítulo 4 • 89
A necessidade de autorrealização (desejo de conhecer, compreender, de
produzir, de estudar, de avançar) são as mais elevadas, de cada pessoa realizar
o seu próprio potencial e de auto desenvolver-se continuamente.
moralidade,
criatividade,
espontaneidade,
solução de problemas,
ausência de preconceito,
Realização Pessoal aceitação dos fatos.
autoestima,
confiança, conquista,
Estima respeito dos outros, respeito aos outros.
A principal crítica feita a Maslow, por vários autores afirma que o contrário do
que diz a teoria de Maslow, as necessidades de autorreconhecimento e autor-
realização estão presentes, mesmo que as necessidades mais básicas não este-
jam totalmente satisfeitas. Em estudo publicado em 2011, pesquisadores da
Universidade de Illinois descobriram que, ao contrário do que diz a teoria de
Maslow, as necessidades de autorreconhecimento e autorrealização também
são importantes, mesmo que as necessidades mais básicas não estejam total-
mente satisfeitas (Tay e Diener, 2011).
90 • capítulo 4
biente de trabalho. As teorias do engenheiro Frederick W. Taylor (1856-1915)
tinham como objetivo proporcionar fundamentação científica às atividades
exercidas no trabalho, substituindo a improvisação e o empirismo. Chiavenato
(2003) mostra que:
capítulo 4 • 91
4.5.1 Gestão de Pessoas em Instituições de Saúde
92 • capítulo 4
Um dos aspectos que, ainda hoje, tem pouca visibilidade nas gestões de ins-
tituições de saúde é a questão da saúde mental dos trabalhadores. Esse item
necessita ser pensado, levado em conta nas prioridades das instituições. Os
profissionais de saúde enfrentam muitas dificuldades em suas práticas profis-
sionais cotidianas, o que gera alto nível de estresse. Portanto, pensar na saúde
de quem cuida é essencial para manter a continuidade do cuidado.
capítulo 4 • 93
saúde tanto as questões burocráticas quantos as questões relacionadas a clí-
nica, ao cuidado estão num mesmo patamar, sendo dessa forma as decisões
devem passar por toda a equipe. Mas o que é uma equipe? Com certeza várias
pessoas trabalhando num mesmo espaço não temos caracterizada uma equipe.
Para se formar uma equipe de trabalho é necessário que haja um diálogo fran-
co e aberto, que as pessoas possam se expressar, mas o que constitui de fato a
equipe é que todos devem estar voltados para a realização da tarefa.
O trabalho na área da saúde exige muito de seus funcionários. Há, muitas vezes,
problemas com o excesso de carga horária, baixos salários e condições precá-
rias de trabalho. Mas a especificidade do trabalho dá-se no encontro entre o
profissional e o usuário. Relação delicada e complicada, já que o usuário quan-
do procura os serviços, em geral está em situação de vulnerabilidade, geral-
mente ele está doente ou necessitando de cuidados.
Merhy (2007) nos fala que a gestão “constrói-se em uma relação e não pode
ser limitada à divisão entre os que produzem e os que consomem, pois a produ-
ção e o consumo são simultâneos e acontecem do encontro entre o trabalhador
e o usuário”.
Assim, na saúde a produção de trabalho e ao mesmo tempo a produção
subjetiva dá-se no encontro entre trabalhador e usuário, nesse fazer produze-
se uma rede de relações de inter-relações que produzem cuidado e significado
para a prática profissional. Todo o trabalho de cuidado, de assistência é neces-
sariamente político, porque ao realizá-lo produzimos significado para a nossa
prática profissional.
Sulti & colaboradores (2015) afirma que:
94 • capítulo 4
Essa fala articula-se corretamente com a ideia de que o trabalho, na saúde, e
a constituição subjetiva se articulam na produção do cuidado, na assistência e
permitem que o sujeito se realize realizando.
Gestão e subjetividade se entrelaçam e, em especial, na área da saúde, é ne-
cessário o conhecimento de suas relações para que o trabalho ocorra da melhor
maneira possível.
capítulo 4 • 95
Uma técnica de enfermagem foi colocada de plantão permanente nessa sala.
Instituiu-se uma rotina para que os familiares pudessem saber o que esperar
durante a fase de crise. Pela manhã a equipe médica trazia as últimas notícias,
em seguida eram feitas reuniões para tirar dúvidas. Em seguida era disponibi-
lizado o atendimento individual da psicologia para aqueles que necessitavam,
o serviço social atendia individualmente para verificar atestados de licença
para o trabalho entre outros procedimentos necessários. À tarde os parentes
eram acompanhados as visitas no CTI (Centro de Tratamento Intensivo), que
eram sempre muito tensas pela gravidade dos quadros clínicos. Após as visitas
eram necessárias novas rodadas de conversas e de atendimentos individuais.
Esses procedimentos duraram em torno de um mês porque algumas crianças
vieram a óbito e outras puderam sair do CTI para as enfermarias. E pouco a
pouco foi sendo desmontada a sala de crise. Esse trabalho só foi possível pelo
envolvimento de todas as equipes do hospital desde a direção até o pessoal en-
carregado da limpeza. Criou-se uma sinergia que possibilitou um atendimento
integral, democrático, eficiente e resolutivo para as famílias.
RESUMO
Nesse capítulo tivemos a oportunidade de conhecer o conceito de motivação, com muito
cuidado e aprofundamento. Conhecemos também as consequências da motivação nos am-
bientes de trabalho e finalmente pudemos saber sobre os processos de gestão nas institui-
ções de saúde, e conhecemos um caso de atendimento multiprofissional. Espero que vocês
tenham feito bom proveito desse texto.
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98 • capítulo 4
5
O stress no
cotidiano de
trabalho das
instituições de
saúde
5. O stress no cotidiano de trabalho das
instituições de saúde
100 • capítulo 5
falta um treinamento adequado em técnicas de enfrentamento do problema
(M.S 2014).
Entre executivos brasileiros, o estresse aumentou dramaticamente. “Há 10
anos, o percentual de executivos brasileiros com estresse era de aproximada-
mente 45%. Agora é de 49%”. Dos profissionais que trabalham em escritórios
sem exercer cargos de chefia, 35% têm sinais de estresse. “A pressa se tornou
uma constante, e ela estressa”, segundo Lipp (2012).
O governo federal, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública
(SENASP), tem subsidiado programas antiestresse e de valorização do policial
e demais servidores da Segurança Pública. Mas segundo Lipp (2012), ainda são
poucas as empresas que assumem a responsabilidade sobre o nível de estresse
de seus empregados e possuem programas efetivos de prevenção.
O stress é um assunto sério e preocupante para os trabalhadores brasileiros
e o não tratamento tem consequências para o empregado, a empresa e ao país
pelos custos que gera por causa do absenteísmo (falta ao trabalho), causado
pelas doenças provocadas pelo stress.
CONEXÃO
Visitem o site Instituto de Psicologia e Controle do Stress.
http://www.estresse.com.br/publicacoes.
Segundo Zuardi (2010) o termo estresse foi utilizado pela primeira vez na área
da saúde, em 1926, por Hans Selye (1907-1982) para designar um conjunto de
reações específicas que ele havia observado em pacientes que sofriam das mais
diversas patologias. Seyle o qualificou como sendo o grau de desgaste total cau-
sado pela vida. Atualmente esse termo adquiriu outro significado, e está mais
relacionado a um desequilíbrio entre as solicitações da vida cotidiana e a res-
posta que nosso organismo dá a essas solicitações. A mudança de significado
aconteceu porque o termo estresse migrou da física para a medicina e a psico-
logia. No dicionário Médico on-line a definição de estresse é: “Conjunto de rea-
capítulo 5 • 101
ções do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa e outras,
capazes de perturbar-lhe a homeostase; estresse; estrição”. O estresse é enten-
dido como a forma que nosso organismo reage às agressões do meio, sejam
essas agressões físicas ou psíquicas.
No dicionário Aurélio online, há outra definição: “Conjunto das perturba-
ções orgânicas e psíquicas provocadas por vários estímulos ou agentes agres-
sores, como o frio, uma doença infecciosa, uma emoção, um choque cirúrgi-
co, condições de vida muito ativa e trepidante etc.”. Para Souza et al. (2002),
o estresse é um mecanismo bioquímico antigo de sobrevivência do homem,
aperfeiçoado ao longo de sua própria evolução biofisiológica, que envolve o hi-
potálamo, glândulas (hipófise, tireóide e suprarenal), órgãos (coração, fígado e
estômago), músculos entre outros.
102 • capítulo 5
©© WIKIMEDIA.ORG
Bauer (2002) nos ensina que o Hipotálamo, aumenta a produção de
Dopamina, Norepinefrina e do Fator Liberador da Corticotrofina no estresse.
A hipófise também faz sua parte, aumentando a produção de outros hormô-
nios, tais como a Vasopressina, a Prolactina, o Hormônio Somatotrófico (do
Crescimento ou GH), o Hormônio Estimulador da Tireóide (TSH).
Bauer (2002) continua mostrando que o hipotálamo é o responsável pelas
respostas orgânicas ao stress. A hipófise, por sua vez, tem como uma das prin-
cipais ações estimular as glândulas supra renais.
Para Bauer (2002) a partir da produção do Fator Liberador da Corticotrofina,
o hipotálamo estimula a hipófise para aumentar a produção da própria cortico-
trofina, chamada também de Hormônio Adreno Córtico Trófico (ACTH), que,
por sua vez, agirá em outra glândula bem distante do Sistema Nervoso Central,
as suprarrenais. Ali, nas glândulas suprarrenais, ocorre um aumento na libe-
ração de seus hormônios: os corticóides e as catecolaminas. Esses últimos são
de fundamental importância na resposta fisiológica ao estresse. O aumento na
produção destes hormônios pelas suprarrenais são os principais indicadores
biológicos da resposta ao estresse.
Bauer (2002) continua mostrando que as glândulas suprarrenais secretam,
além das catecolaminas, o cortisol (uma espécie de corticóide). Os níveis au-
mentados de corticóides influenciam o sistema imunológico diminuindo a res-
posta inflamatória, afetando essencialmente a função das células temporaria-
mente. Esta inibição imunológica parece ser benéfica, tendo em vista diminuir
a intensidade das reações inflamatórias aos agentes de stress.
capítulo 5 • 103
No stress, além da secreção do hormônio corticotrófico (ACTH) a hipófise aumenta
também a produção de outros hormônios, tais como a Vasopressina, a Prolactina, o
Hormônio Somatotrófico (do Crescimento ou GH), o Hormônio Estimulador da Tireói-
de (TSH). BAUER (2002)
A Síndrome Geral de Adaptação descrita por Selye (1976) consiste em três fa-
ses sucessivas: Reação de Alarme, Fase de adaptação ou Resistência e Fase de
Exaustão. Quando nos sentimos ameaçados por alguém ou alguma situação
nova ou potencialmente agressiva ao nosso corpo ou ao nosso psiquismo, nos-
so organismo reage, em todo o seu conjunto com a Síndrome Geral de Adapta-
ção ao Stress. É uma tentativa de proteção do organismo contra o ataque.
França e Rodrigues (1997) nos mostram que na primeira fase ocorre uma
Reação de Alarme, onde todas as partes do corpo entram em estado de pron-
tidão. Todo o organismo é mobilizado para dar uma resposta ao ataque. É um
estado de alerta geral.
Caso a situação persista e o estresse continue por um período maior, apare-
ce a segunda fase, denominada de Fase de Adaptação ou Resistência. Isso acon-
tece porque a tensão se acumula e o organismo vai criando novas formas de li-
dar com o estresse acumulado. Os referidos autores informam que nessa etapa
o corpo começa a acostumar-se aos estímulos causadores do estresse. Durante
este estágio, o organismo adapta suas reações e seu metabolismo para lidar
com o stress por um período de tempo mais longo. O organismo para conseguir
se adaptar a esse excesso de estresse por canalizar sua reação para um órgão
ou sistema específico, como o coração ou o aparelho digestivo. E caso o estres-
se continue, o corpo entra em uma terceira etapa, o Estado de Esgotamento,
nessa fase pode haver “uma redução de nossa capacidade adaptativa” França e
Rodrigues (1997).
104 • capítulo 5
5.3.1 Tipo de Reação
ALTERAÇÕES OBJETIVOS
A) AUMENTO DA FREQUÊNCIA O sangue circulando mais rápido melhora a atividade muscular
CARDÍACA E PRESSÃO ARTERIAL. esquelética e cerebral, facilitando a ação e o movimento.
capítulo 5 • 105
Caso a situação estressante continue e se torne crônica, a resposta do or-
ganismo diminui de intensidade, podendo haver uma antecipação das respos-
tas. É como se a pessoa começasse a se acostumar com os estressores. Martins
(2010) nos oferece um excelente exemplo do que acorrerá com o organismo:
Vamos imaginar, hipoteticamente, uma pessoa que se deparasse com uma cobra
no meio de sua sala, quase todas as vezes que entrasse em casa. Com o tempo sua
reação ao ver a (mesma) cobra tende a diminuir, embora ainda continue tomando
muito cuidado. Vai chegar um momento em que, ainda que não veja cobra ao chegar
em casa, mesmo assim ficará estressado. Talvez tenha grande ansiedade ao imagi-
nar onde poderia estar hoje a tal cobra. Diz um ditado que a diferença entre medo e
ansiedade é exatamente essa; medo é ver uma cobra dentro do quarto, e ansiedade é
saber que tem uma cobra dentro do quarto, mas não vermos ela.
106 • capítulo 5
França e Rodrigues (1997) nos mostram que:
Na realidade, toda essa revolução fisiológica produzida pelo estresse visa colocar todo o or-
ganismo à disposição da adaptação, e não apenas através da adequação do desempenho
físico e visceral do organismo, mas, sobretudo, fornecendo uma quantidade suficiente
de ansiedade como requisito psicológico para a manutenção do estado de alerta.
Dessa forma ficam melhor viabilizadas as possibilidades de ataque ou de fuga.
A ansiedade é fundamental para nos manter alerta, ela coloca nosso organismo
em posição de atenção. Certa dose de ansiedade é normal diante de uma pro-
va, ou quando necessitamos tomar uma decisão importante. Assim, quando,
fisiologicamente temos uma resposta eficiente frente ao fator estressante a an-
siedade é normal.
A ansiedade se torna patológica quando as alterações fisiológicas são mais
intensas e requerem mais energia do organismo do que o fator estressor. Assim
ficar um pouco ansioso para fazer uma prova é normal e desejável, mas se o
estudante ficar tão ansioso que isso o impeça de conseguir fazer a prova temos
um quadro patológico.
capítulo 5 • 107
No Brasil os profissionais de saúde utilizam de dois códigos internacionais
para diagnosticar e tratar os transtornos de ansiedade.
O primeiro que apresentaremos é o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM V) publicado pela American Psychiatric Association.
Essa é a versão mais recente.
Nesse manual os transtornos de ansiedade incluem transtornos que com-
partilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações com-
portamentais relacionados. No DSMV aprendemos a distinção entre medo e
ansiedade e assim vemos que: medo é a resposta emocional a ameaça iminen-
te real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura.
Esses dois estados se sobrepõem, mas também se diferenciam, com o medo
sendo com mais frequência associado a períodos de excitabilidade autonômica
aumentada, necessária para luta ou fuga, pensamentos de perigo imediato e
comportamentos de fuga, e a ansiedade sendo mais frequentemente associada
a tensão muscular e vigilância em preparação para perigo futuro e comporta-
mentos de cautela ou esquiva.
No DSM V notamos que os transtornos de ansiedade se diferenciam do
medo ou da ansiedade adaptativos (normais) por serem excessivos ou persis-
tirem além do período apropriado ao nível de desenvolvimento. Os indivíduos
com transtornos de ansiedade em geral superestimam o perigo nas situações
que temem ou evitam, a determinação primária do quanto o medo ou a ansie-
dade são excessivos ou fora de proporção é feita pelo clínico, levando em conta
fatores contextuais culturais.
No DSM V vemos que as mulheres são mais vulneráveis do que os homens
(proporção de aproximadamente 2:1).
Transtornos de Ansiedade mais comuns são: 309.21 Transtorno de
Ansiedade de Separação, Mutismo Seletivo 313.23, Fobia Específica 300.29,
Fobia Social 300.23, Transtorno de Pânico 300.01, Agorafobia 300.22,
Transtorno de Ansiedade Generalizada 300.02.
O segundo manual que apresentaremos é o Código Internacional de
Transtornos Mentais e de comportamento edição número 10, comumente cha-
mado de CID10 apresenta a descrição da Reação aguda a estresse (F.43.0). O
sujeito apresenta um transtorno transitório de gravidade significativa, e uma
resposta excepcional a estresse físico e ou mental e que diminui dentro de al-
gumas horas ou dias.
108 • capítulo 5
Vemos no CID10 que os fatores estressores podem ser uma experiência
traumática esmagadora envolvendo séria ameaça à segurança ou integralidade
do paciente ou de pessoa amada. O CID 10 mostra ainda, que uma mudança
súbita e ameaçadora tais como perdas, catástrofes, acidente, assalto ou estupro
podem contribuir para o surgimento da Reação aguda ao estresse. O risco desse
transtorno se desenvolver pode ser aumentado se a exaustão física ou fatores
orgânicos (idoso, doente crônico) estiverem presentes.
No CID10 entendemos que a vulnerabilidade individual e a capacidade de
adaptação desempenham um papel na ocorrência ou não das reações agudas
ao estresse. Os principais sintomas iniciais principais são: 1. Certo atordoa-
mento com algum estreitamento do campo da consciência; 2. Diminuição da
atenção; 3. Incapacidade de compreender estímulos e desorientação.
Em seguida, após o retraimento da situação, de acordo com o CID10, pode
aparecer estupor dissociativo. Agitação e hiperatividade (reação de escape e
fuga), taquicardia, sudorese e rubor, amnésia parcial ou completa. Em geral
esses sintomas desaparecem em 2 ou 3 dias e mais frequentemente em horas.
Vemos no CID10 alguns transtornos associados ao estresse: F.40 Transtornos
fóbicos-ansiosos; F41.0 Transtorno de pânico; F.41.1 Transtorno de ansie-
dade generalizada; F41.2 Transtorno misto de ansiedade e depressão; F42
Transtorno obsessivo compulsivo.
É ampla a classificação dos transtornos emocionais decorrentes da
Ansiedade Patológica, mas aqui veremos os quadros emocionais mais frequen-
tes. No CID.10 esses transtornos surgem no capítulo intitulado Transtornos
Relacionados ao Estresse e Somatoformes. Nesse capítulo estão incluídos a
Síndrome do Pânico, os Transtornos Fóbicos, sendo atualmente o mais impor-
tante deles a Fobia Social e os Transtornos Somatoformes, nesse quadros pode-
mos observar que há um componente físico decorrente de fatores emocionais.
capítulo 5 • 109
de preocupação sobre a possibilidade de morte iminente e/ou de passar mal, e/
ou de perder o controle.
Essas crises de ansiedade do Transtorno do Pânico duram minutos e cos-
tumam ser inesperadas, ou seja, não seguem situações especiais, podendo
surpreender o paciente em ocasiões variadas. Alguns pacientes desenvolvem
o episódio de pânico diante de determinadas situações pré-conhecidas, como
por exemplo, dirigindo automóveis, diante de grande multidão, dentro de
bancos etc. Neste caso dizemos que o quadro é de Agorafobia com Transtorno
do Pânico.
Depois do primeiro Ataque de Pânico, normalmente a pessoa experimen-
ta importante ansiedade e medo de vir a apresentar um segundo episódio. É
como se ficasse ansiosa diante da possibilidade de ficar ansiosa. Por causa
disso os pacientes passam a evitar situações facilitadoras da crise, prejudican-
do-se socialmente e/ou ocupacionalmente em graus variados. São pessoas que
deixam de dirigir, não entram em supermercados cheios, evitam aventurar-se
pelas ruas desacompanhadas, não conseguem dormir, não entram em avião,
não frequentam shows, evitam edifícios altos, não utilizam elevadores e assim
por diante.
O Transtorno do Pânico se inicia depois dos 20 anos de idade e é igualmente
prevalente entre homens e mulheres quando desacompanhado da Agorafobia,
mas é duplamente mais frequente em mulheres quando associado a este esta-
do fóbico.
Como vemos no CID10, as características de um Ataque de Pânico é que
tem um período de intenso, porém curto, de medo ou desconforto acompanha-
do por pelo menos três dos trezes sintomas somáticos ou cognitivos abaixo:
1. Palpitações ou ritmo cardíaco acelerado;
2. Sudorese;
3. Tremores ou abalos;
4. Sensações de falta de ar ou sufocamento;
5. Sensações de asfixia;
6. Dor ou desconforto torácico;
7. Náusea ou desconforto abdominal;
8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio;
9. Desrealização ou despersonalização (sentir-se outro);
10. Medo de perder o controle ou enlouquecer;
11. Medo de morrer;
110 • capítulo 5
12. Parestesias (formigamentos) ou anestesia;
13. Calafrios ou ondas de calor.
O Trabalho é uma atividade central na vida das pessoas. Passamos grande parte
de nossas vidas no trabalho. E nem sempre a atividade laboral pode contribui
para o bem-estar dos profissionais. Dejours, em 1992, afirmava que o trabalho
nem sempre possibilita realização pessoal. Ao contrário, podem causar proble-
mas desde insatisfação, exaustão, problemas físicos e psicológicos.
Os profissionais de saúde são uma categoria profissional bastante sujeita ao
estresse, a violência e, em consequência, aos quadros de ansiedade e depressão.
Campos (2006) nos ensina que o profissional de saúde é por essência um
cuidador. Cuida dos outros como missão e como opção de vida. E parece evi-
dente que o cuidar pode levar o cuidador ao estresse. Especialmente se o cuida-
do constitui, como deve ser, não um ato esporádico, mas uma atitude perma-
nente e consciente.
Boff (2012) chama a atenção para o fato de que “Somos limitados, su-
jeitos ao cansaço e à vivência de pequenos fracassos e decepções. Sentimo-
nos sós. Precisamos ser cuidados, caso contrário, nossa vontade de cuidar
se enfraquece”.
Como bem coloca o Boff (2012) a questão central que surge é: que tipo de
cuidado é oferecido ao profissional de saúde para que ele não fique doente?
Médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais e técnicos em
geral são pessoas submetidas, muitas vezes, a condições de trabalho extenuan-
tes, sem segurança, com salários aviltantes, autoritarismo dos chefes, descon-
fiança (das chefias e dos pacientes), pressões e cobranças de toda ordem, re-
petição monótona das rotinas de trabalho, falta de perspectiva e de plano de
capítulo 5 • 111
carreira e ascensão profissional. Essas condições propiciam ao aparecimento
de doenças como os quadros de ansiedade e depressão.
Abaixo os resultados de duas pesquisas recentes sobre ansiedade
e depressão.
Gomes e Oliveira (2013) entrevistaram 39 profissionais de enfermagem,
técnicos e auxiliares de hospital geral particular, de porte médio, da cidade de
São Paulo, trabalhando em diversos setores do hospital: clínica médica, pronto
atendimento, unidade de terapia intensiva (UTI) e centro cirúrgico.
Elas utilizaram os vários instrumentos, mas aqui apresentaremos ape-
nas os resultados das Escalas de Beck de Depressão e Ansiedade (Inventário
de Depressão - BDI (Beck Depression Inventory) e encontraram os seguintes
resultados:
• Ansiedade: Apesar do nível leve/moderado registrado, seu montante, 15%,
está acima do esperado pela literatura (Kaplan et al., 1997). De acordo com a pre-
valência relatada no DSM-IV (American Psychiatric Association, 1995), o trans-
torno de ansiedade generalizada em uma amostra comunitária, em um ano, foi
de aproximadamente de 3% e a taxa de prevalência durante a vida de 5%.
• Depressão: Os níveis de sintomas apresentados, apesar de a maioria ser
de intensidade leve, denotam que os profissionais de saúde são suscetíveis aos
problemas de saúde mental, com possível sofrimento psíquico inerente ao tra-
balho no ambiente.
• Conclusão do estudo: 18% da amostra encontram-se no nível leve das
Escalas Beck de Depressão - BDI, e 8% acima. Quanto à ansiedade, os dados
revelaram que 13% encontram-se no nível leve e 2% no moderado das Escalas
Beck de Ansiedade, dados em parte acima do esperado pela literatura, onde a
prevalência do transtorno na população geral é de até 10%.
Já Schmidt & colaboradores (2011) entrevistaram 211 trabalhadores de en-
fermagem de 16 hospitais de Londrina. A população do estudo foi composta
pelos profissionais da equipe de Enfermagem do Centro Cirúrgico (CC) e/ou
Central de Materiais e Esterilização (CME).
• Instrumentos usados: Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão, em
sua versão traduzida e validada para a língua portuguesa. Neste estudo utili-
zaram a sigla do nome da escala em inglês (Hospital Anxiety and Depression
Scale – HADS)
• Resultados: Nesse estudo, apesar de apresentar grande preocupação com
a frequência de sinais de ansiedade e de depressão entre os trabalhadores, pon-
deramos que a maioria dos profissionais de enfermagem apresentou escore
112 • capítulo 5
para a medida da HADS-A e para a HADS-D inferior a oito, não classificados
como casos possíveis para a ansiedade e depressão.
• Conclusão do estudo: Considerando as elevadas estimativas feitas pela
Organização Mundial da Saúde sobre a ocorrência de depressão como causa
de adoecimento nas próximas décadas, os resultados desse estudo são de ex-
trema importância para a elaboração de medidas preventivas para o ambiente
de trabalho hospitalar, evidenciado como um ambiente estressante e repleto
de fatores predisponentes à depressão e à ansiedade entre seus trabalhadores.
Nos dois estudos os achados, apesar de os resultados apresentarem escore
de leve e moderado para ansiedade e depressão, estão acima da população ge-
ral. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) aco-
lhem esses dados como indicativos para a tomada de medidas preventivas para
os trabalhadores em hospitais. O cuidar como atividade profissional é conside-
rado como potencialmente causadora de stress no ambiente de trabalho.
capítulo 5 • 113
stress grave e a transtornos de ajustamento. Ajustamento às condições de tra-
balho, daí porque o Ministério da Saúde o coloca na lista de doenças relaciona-
das ao trabalho.
O outro importante fonte de classificação dos transtornos mentais, mui-
to utilizado no Brasil, é o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders). Atualmente estamos em sua versão V.
Na versão do DSM IV, Burnout aparece como uma "condição adicional que
pode ser foco de atenção clínica", subitem "Problema Ocupacional" (código
V62.2).
Na quinta e mais atualizada versão do DSM, não cita o Burnout como doen-
ça, não tendo nem um código próprio para sua caracterização. O Burnout apa-
rece como questão diagnóstica cultural fazendo parte de um tipo (maior de ca-
tegoria) de desordem somática ou somatoforme (código 300.82).
No DSM V em que nos transtornos somatoformes os sintomas somáticos,
aqueles que correspondem a sintomas de condição clínica real, estão presentes
mesmo sem a existência de doença física alguma e, além disso, há preocupação
excessiva, desproporcional, com esses sintomas, mesmo que repetidos exames
mostrem a não existência da doença.
Assim podemos verificar que o sujeito acometido por essa condição tem
como sintoma justamente exagerar o sintoma de uma doença orgânica que, de
fato, não existe, mas que mesmo assim a pessoa sente como se existisse, so-
fre como se existisse, e para ela de fato existe. Assim a síndrome de Burnout,
no DSM V, está relacionada à presença de doença depressiva ou ansieda-
de generalizada.
Trigo e Colaboradores (2007) mostra que o termo Burnout é definido, se-
gundo um jargão inglês, como “aquilo que deixou de funcionar por absoluta
falta de energia”.
Significa dizer que o profissional, o técnico o funcionário apresenta um es-
gotamento físico/mental configurando uma desistência no exercício de suas
funções laborais.
A síndrome de Burnout está associada ao stress prolongado no ambiente
de trabalho, que traz consequências para a saúde física e emocional. Cherniss,
1980; World Health Organization,1998 aput em Trigo e Colaboradores (2007)
mostra que a exaustão emocional abrange:
114 • capítulo 5
(...) sentimentos de desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade,
tensão, diminuição de empatia; sensação de baixa energia, fraqueza, preocupação;
aumento da suscetibilidade para doenças, cefaleias, náuseas, tensão muscular, dor
lombar ou cervical, distúrbios do sono.
Prestar atenção em si, no que acontece consigo e à sua volta. Não se devem des-
valorizar determinados sintomas. Aquela situação de acordar mais cansado do que
deitou, a sensação de grande alívio porque o dia acabou, a dificuldade de lidar com o
outro e de ter menos paciência são sinais de que os problemas estão se acumulando
e de que o sintoma físico é o parasita da síndrome. É muito comum que as pessoas
com síndrome apresentem problemas de pele, de estômago, hipertensão e se tornem
dependentes de medicamentos. No começo do desenvolvimento da síndrome, ainda
se preserva um pouco da sociabilidade. Aos poucos, a pessoa começa a se sentir can-
sada, não quer sair de casa, evita os amigos e usa isso como mecanismo de defesa.
Há uma contaminação e esse problema sai do trabalho e chega a casa.
capítulo 5 • 115
como por exemplo, melhorar as gestões com a qualificação profissional dos
gestores, oferecimento de planos de saúde, e, em muitos casos planos de as-
censão profissional. Mesmo que reconheçamos haver um avanço nas relações
e condições de trabalho, sabemos que muito ainda necessita ser feito para que
o trabalhador em instituições de saúde possa ter garantido a qualidade em saú-
de. O trabalhador em saúde é antes de tudo um cuidador, isso significa que sua
atividade profissional esta relacionada diretamente a utilização de seus recur-
sos, técnicos, teóricos e pessoais no atendimento a quem necessita de cuida-
dos. Essa atividade requer um envolvimento pessoal intenso, e, talvez por isso
os profissionais de saúde estejam mais vulneráveis ao sofrimento psíquico no
trabalho. Portanto a questão que comparece de forma clara é precisamos criar
formas de garantir que o profissional de saúde receba os cuidados necessários
para que ele possa continuar fazendo o que melhor sabe fazer: cuidar.
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