Você está na página 1de 4

12 FACES DO PRECONCEITO: POPULAÇÃO INDÍGENA

DADOS E ANÁLISES
Arthur Cândido Lima

A disparidade racial no Brasil é uma realidade muito preocupante, e que,


em seus diversos moldes nos mostra que a sociedade contemporânea
reproduz e convive com a naturalização do preconceito de maneira
patológica e estrutural. No presente texto iremos analisar e debater sobre o
preconceito em relação a população indígena, o maior de todos na esfera
brasileira.
Quando falo que o preconceito em relação a população indígena é o
maior de todos no Brasil não tenho nenhuma intenção de comparar graus de
racismo pois soa perverso e desmerece a luta contra o preconceito de outros
grupos étnicos, além de ser éticamente inadimissível. A presente frase é para
se questionar e atiçar reflexões acerca de um grupo étnico que sofre com um
massacre genocida há mais de 500 anos onde a sociedade taxa com
naturalidade a população indígena de “primitivos”, mesmo com esses
constituindo uma parte relevante da sociedade inclusive no âmbito
populacional, principalmente após a constituição federal de 1988, mostrando
assim tua patologia em relação a determinados grupos étnicos.
Mas com a constituição e algumas demarcações de terra a população
indígena começa a ser reconhecida como população atuante na sociedade?
Não, pois a maiorida das pessoas que compõe essa sociedade reproduz o
que chamamos de racismo estrutural. O que é o racismo estrutural? De
acordo com o professor Silvio Almeida, o racismo estrutural está além da
patologia social, além da anormalidade. O racismo estrutural vai além da
anormalidade, nesta estrutura o racismo se torna algo normal, e não normal
no sentido de que é normal ser racista e sim no sentido de que o racismo
constitui as ações conscientes e inconscientes da sociedade, ou seja, o
racismo estrutural é uma espécie de funcionamento normal da vida cotidiana
que envolvem três dimensões fora da patologia: a economia, a política e a
subjetividade. Dentro destes três conceitos é possível observar como o índio
é massacrado até os dias de hoje, no viés econômico a população indígena é
massacrada pelo sistema capitalista, pelo colonialismo da pecuária e do
agronegócio; Pelo viés político não se tem representatividade indígena no
legislativo, executivo ou judiciário e muito menos na esfera política com
deputados, vereadores ou senadores, visto que em 2016 dos 475.351
candidatos as eleições somente 0,34% destes candidatos eram indígenas; E
fica difícil falar sobre a subjetividade sendo que o preconceito acerca desta
população é crescente e toma moldes catastróficos ao passar do tempo. Sim,
lidamos com o retrocessos e não com avanços quando falamos da população
indígena brasileira. A falta de representatividade na esfera política e o viés
econômico cada vez mais colonialista corrobam essa subjetividade a
transformando em juízo de valor que a população reproduz no que diz
respeito à essa estrutura racista e preconceituosa brasileira.
A situação consegue ficar mais alarmante quando apontamos dados em
que envolvem a o direito a vida e a subsistência desta população, de 2003 a
2015 foram contabilizados 891 homicídios de indígenas de acordo com o
relatório “Violência contra os povos indígenas no Brasil”, e os dados chamam
atenção para o crescente número de homicídios nos últimos anos, onde em
2013 foram contabilizados 53 e em 2014 foram contabilizados 138 mortes,
onde a principal razão destes número alarmantes em relação as vítimas são
os conflitos por terras. O relatório ainda afirma que:
A fragilidade destes dados dificulta uma clara percepção da autoria dos homicídios,
se eles tiveram como pano de fundo a disputa pela terra ou, nesse sentido, se são
consequência do fato de os indígenas não estarem vivendo em seus territórios
tradicionais.

O cenário contemporâneo de empoderamento dos grupos identitários


também mostram algumas calamidades em relação ao empoderamento da
população indígena, segundo César Sanson enquanto alguns movimentos
conseguiram capitalizar suas demandas e transformar-se em forças políticas
de peso e inserindo suas demandas no meio político como por exemplo o
movimento LGBT, movimento negro e o movimento feminista, os índios
sofrem grande silêncio institucional em relação as suas mobilizações e suas
demandas. Neste quesito também entram as controversas demandas que
alguns políticos propõe para a população indígena sempre com falas
retrógradas com intuito de transformar o indígena em um ser humano que
compõe a sociedade com modus operandi padrão, incluí-lo no mercado de
trabalho e fazer com que ele reproduza a modo de vida da sociedade
ocidental, nos mostrando o despreparo e desrespeito perante a população
indígena, só reforçando o quanto a sociedade os taxa de seres “primitivos”
somente por esta população se encontrar fora na redoma de vidro
consumista, excessiva, patológica e estrutural da sociedade contemporânea.
César Sanon ainda pontua de forma clara que:
Por isso, a diferença do racismo com os índios em relação a outras modalidades
hoje em dia é essa: os índios são o único grupo social a quem se pode dirigir na
esfera pública propondo o extermínio da sua condição especial. Talvez não o único,
mas o mais atacado, isso não importa: a questão aqui não é de quantidades, mas
de um modelo insuportável de racismo que sobrevive e justifica a ofensiva
anti-indígena mais intensa desde a época da Ditadura Militar que vivemos hoje em
dia.

Portanto é mais que necessário, é urgente que os debates, estudos e


análises acerca da população indígena tomem força, tomem corpo, pois
assim conseguiremos combater e desmistificar as diversas refrações de
preconceito que essa população enfrenta diariamente. O presente texto
discorreu sobre as determinantes sociais correlacionadas com a população
indígena brasileira, com intuito de levar cada leitor diversas reflexões sobre
inúmeros pontos em que essa população está desfavorecida em relação ao
modus operandi da sociedade, e que a situação dos índios no Brasil deve ser
analisada em sua totalidade, pois a falta de representatividade, de meios
para subsistência, o exacerbado preconceito cometido contra eles nos
mostram o quão crítica está a situação, e cabe a cada um de nós rever
diversos conceitos e estigmas que fazem com que essas desigualdades
perpetuem no cenário indígena, sem juízo de valor, senso comum ou
soberba, e o mais importante no momento, não nos calarmos diante de
nenhuma situação de desigualdade e nem deixar que o silêncio institucional
continue a reprodução da ordem vigente no cenário contemporâneo.
REFERÊNCIAS

César Sanson - Por que o racismo contra indígenas é o maior de todos


no Brasil?
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/532997-por-que-o-racismo-contra-indigena
s-e-o-maior-de-todos-no-brasil

O Brasil indígena - IBGE/FUNAI


http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/o-brasil-indigena-ibge

Relatório “Violência contra os povos indígenas no Brasil - dados de 2016”


https://www.cimi.org.br/pub/relatorio/Relatorio-violencia-contra-povos-indigen
as_2016-Cimi.pdf

Silvio Almeida - O que é racismo estrutural


https://www.youtube.com/watch?v=PD4Ew5DIGrU&t=393s

Você também pode gostar