A disparidade racial no Brasil é uma realidade muito preocupante, e que,
em seus diversos moldes nos mostra que a sociedade contemporânea reproduz e convive com a naturalização do preconceito de maneira patológica e estrutural. No presente texto iremos analisar e debater sobre o preconceito em relação a população indígena, o maior de todos na esfera brasileira. Quando falo que o preconceito em relação a população indígena é o maior de todos no Brasil não tenho nenhuma intenção de comparar graus de racismo pois soa perverso e desmerece a luta contra o preconceito de outros grupos étnicos, além de ser éticamente inadimissível. A presente frase é para se questionar e atiçar reflexões acerca de um grupo étnico que sofre com um massacre genocida há mais de 500 anos onde a sociedade taxa com naturalidade a população indígena de “primitivos”, mesmo com esses constituindo uma parte relevante da sociedade inclusive no âmbito populacional, principalmente após a constituição federal de 1988, mostrando assim tua patologia em relação a determinados grupos étnicos. Mas com a constituição e algumas demarcações de terra a população indígena começa a ser reconhecida como população atuante na sociedade? Não, pois a maiorida das pessoas que compõe essa sociedade reproduz o que chamamos de racismo estrutural. O que é o racismo estrutural? De acordo com o professor Silvio Almeida, o racismo estrutural está além da patologia social, além da anormalidade. O racismo estrutural vai além da anormalidade, nesta estrutura o racismo se torna algo normal, e não normal no sentido de que é normal ser racista e sim no sentido de que o racismo constitui as ações conscientes e inconscientes da sociedade, ou seja, o racismo estrutural é uma espécie de funcionamento normal da vida cotidiana que envolvem três dimensões fora da patologia: a economia, a política e a subjetividade. Dentro destes três conceitos é possível observar como o índio é massacrado até os dias de hoje, no viés econômico a população indígena é massacrada pelo sistema capitalista, pelo colonialismo da pecuária e do agronegócio; Pelo viés político não se tem representatividade indígena no legislativo, executivo ou judiciário e muito menos na esfera política com deputados, vereadores ou senadores, visto que em 2016 dos 475.351 candidatos as eleições somente 0,34% destes candidatos eram indígenas; E fica difícil falar sobre a subjetividade sendo que o preconceito acerca desta população é crescente e toma moldes catastróficos ao passar do tempo. Sim, lidamos com o retrocessos e não com avanços quando falamos da população indígena brasileira. A falta de representatividade na esfera política e o viés econômico cada vez mais colonialista corrobam essa subjetividade a transformando em juízo de valor que a população reproduz no que diz respeito à essa estrutura racista e preconceituosa brasileira. A situação consegue ficar mais alarmante quando apontamos dados em que envolvem a o direito a vida e a subsistência desta população, de 2003 a 2015 foram contabilizados 891 homicídios de indígenas de acordo com o relatório “Violência contra os povos indígenas no Brasil”, e os dados chamam atenção para o crescente número de homicídios nos últimos anos, onde em 2013 foram contabilizados 53 e em 2014 foram contabilizados 138 mortes, onde a principal razão destes número alarmantes em relação as vítimas são os conflitos por terras. O relatório ainda afirma que: A fragilidade destes dados dificulta uma clara percepção da autoria dos homicídios, se eles tiveram como pano de fundo a disputa pela terra ou, nesse sentido, se são consequência do fato de os indígenas não estarem vivendo em seus territórios tradicionais.
O cenário contemporâneo de empoderamento dos grupos identitários
também mostram algumas calamidades em relação ao empoderamento da população indígena, segundo César Sanson enquanto alguns movimentos conseguiram capitalizar suas demandas e transformar-se em forças políticas de peso e inserindo suas demandas no meio político como por exemplo o movimento LGBT, movimento negro e o movimento feminista, os índios sofrem grande silêncio institucional em relação as suas mobilizações e suas demandas. Neste quesito também entram as controversas demandas que alguns políticos propõe para a população indígena sempre com falas retrógradas com intuito de transformar o indígena em um ser humano que compõe a sociedade com modus operandi padrão, incluí-lo no mercado de trabalho e fazer com que ele reproduza a modo de vida da sociedade ocidental, nos mostrando o despreparo e desrespeito perante a população indígena, só reforçando o quanto a sociedade os taxa de seres “primitivos” somente por esta população se encontrar fora na redoma de vidro consumista, excessiva, patológica e estrutural da sociedade contemporânea. César Sanon ainda pontua de forma clara que: Por isso, a diferença do racismo com os índios em relação a outras modalidades hoje em dia é essa: os índios são o único grupo social a quem se pode dirigir na esfera pública propondo o extermínio da sua condição especial. Talvez não o único, mas o mais atacado, isso não importa: a questão aqui não é de quantidades, mas de um modelo insuportável de racismo que sobrevive e justifica a ofensiva anti-indígena mais intensa desde a época da Ditadura Militar que vivemos hoje em dia.
Portanto é mais que necessário, é urgente que os debates, estudos e
análises acerca da população indígena tomem força, tomem corpo, pois assim conseguiremos combater e desmistificar as diversas refrações de preconceito que essa população enfrenta diariamente. O presente texto discorreu sobre as determinantes sociais correlacionadas com a população indígena brasileira, com intuito de levar cada leitor diversas reflexões sobre inúmeros pontos em que essa população está desfavorecida em relação ao modus operandi da sociedade, e que a situação dos índios no Brasil deve ser analisada em sua totalidade, pois a falta de representatividade, de meios para subsistência, o exacerbado preconceito cometido contra eles nos mostram o quão crítica está a situação, e cabe a cada um de nós rever diversos conceitos e estigmas que fazem com que essas desigualdades perpetuem no cenário indígena, sem juízo de valor, senso comum ou soberba, e o mais importante no momento, não nos calarmos diante de nenhuma situação de desigualdade e nem deixar que o silêncio institucional continue a reprodução da ordem vigente no cenário contemporâneo. REFERÊNCIAS
César Sanson - Por que o racismo contra indígenas é o maior de todos
no Brasil? http://www.ihu.unisinos.br/noticias/532997-por-que-o-racismo-contra-indigena s-e-o-maior-de-todos-no-brasil