Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Implementacao de Parcerias Publico-Pri PDF
A Implementacao de Parcerias Publico-Pri PDF
Leonardo Grilo (1); Silvio Melhado (2); Sergio Alfredo Rosa Silva (3); Cliff Hardcastle (4);
Ariovaldo Barbosa Pires J unior (5)
(1) Doutorando, Departamento de Engenharia de Construção Civil e Urbana da EPUSP - leonardo.grilo@poli.usp.br
(2) Professor, Departamento de Engenharia de Construção Civil e Urbana da EPUSP - silvio.melhado@poli.usp.br
(3) Doutor em Engenharia - sergio.alfredo@attglobal.net
(4) Professor, School of Built and Natural Environment (GCal) – C.Hardcastle@gcal.ac.uk
(5) Advogado, Albino Advogados Associados – abp@albino.com.br
RESUMO
A crise fiscal e as dificuldades financeiras induziram mudanças profundas no modelo de desenvolvimento
brasileiro nos anos 80. O processo foi acelerado após o lançamento do programa de privatizações no início
da década de 90. A partir de então, a demanda por modelos inovadores para a prestação de serviços
públicos conduziu ao programa de concessões e, recentemente, às Parcerias Público-Privadas (PPP), que
ainda não foram utilizadas em virtude da carência de formas jurídicas e institucionais.
Muitos países estão lançando programas de PPP para viabilizar investimentos em projetos de infra-
estrutura. Estes programas devem concorrer entre si pelos recursos privados, reconhecidamente limitados.
Neste contexto, o êxito do programa de parcerias demanda cenários políticos e econômicos estáveis,
formas jurídicas e institucionais adequadas, garantias para os investidores e rentabilidades compatíveis
com o padrão de riscos transferido pelo setor público.
A concorrência de uma PPP pode envolver investimentos vultosos, devido ao longo prazo de maturação e
do nível de diligência do projeto. Desta forma, o projeto deve ser gerenciado de forma eficiente, a fim de
agilizar a execução do investimento. Este artigo discute a emergência do setor privado na prestação de
serviços públicos no Brasil e analisa a implementação da PFI no Reino Unido, que pode fundamentar a
formulação de metodologias e acentuar a curva de aprendizagem no programa brasileiro de PPP.
Palavras-chaves: Parcerias Público-Privadas; gestão de projetos; riscos; valor agregado; contrato.
1 Ambrózio (2002) relaciona o custo do capital no Brasil com a perda de credibilidade devido a quebras de contrato
por parte do governo e subseqüentes prejuízos para os portadores de títulos da dívida pública.
Partido dos Trabalhadores nas pesquisas de opinião abalou a confiança do mercado quanto ao pagamento
da dívida, à condução das reformas e ao ajuste fiscal, conduzindo a cotação do dólar, os índices de risco
país e as taxas de juros a níveis muito elevados.
25
20
20
18
14,3
US$ bilhões
15
10
6,6
0
2000 2001 2002 2003
2
De 26,5% para 16% a.a. Mesmo assim trata-se de uma das maiores taxas básicas de juros do mundo.
3
Estima-se que somente o setor elétrico necessite de investimentos de R$ 20,1 bilhões por ano para um crescimento
da ordem de 3,4% a.a. Espera-se que o setor privado participe com cerca de R$ 10 bilhões a.a. (Oliveira, 2004).
Público-Privadas, que ainda não foram utilizadas devido à ausência de uma fôrma jurídica e instituc ional
adequada4 (MPOG, 2002).
As PPP são contratos entre o governo e os agentes da iniciativa privada com o objetivo de prover
equipamentos, infra-estrutura e serviços públicos. As parcerias podem se beneficiar do emprego das
competências públicas e privadas no estabelecimento de relações nas quais os riscos, investimentos,
responsabilidades e resultados são compartilhados. Além disso, as PPP têm como propósito a execução de
uma obra ou serviço tradicionalmente provido pelo ente público. Pressupõe-se que tanto o parceiro
público quanto o privado dispõem de características que possam conferir vantagens para a obra ou o
serviço executado. As PPP tipicamente envolvem o financiamento, o projeto, a construção, a operação e a
manutenção das facilidades empregadas na prestação do serviço.
A alocação de risco entre os parceiros é central nas parcerias, na medida em que influencia investimentos,
resultados e responsabilidades. A transferência de riscos para o setor privado tem como finalidade reduzir
os custos de construção e operação, incrementar a qualidade dos serviços e, por conseguinte, o valor
agregado para o usuário. Contudo, não se restringe o papel do Estado, que permanece responsável pelo
processo decisório e de contratação como um todo, bem como pela prestação do serviço, de modo a
preservar o interesse público (MPOG, 2002).
4
Somente os estados de São Paulo e Minas Gerais aprovaram leis específicas sobre o tema. O projeto de lei federal
foi aprovado na Câmara e encaminhado ao Senado.
§ eficiência, aperfeiçoamento e qualidade na prestação do serviço público, tendo em vista o emprego
das competências do setor privado e a vinculação da sua remuneração ao seu respectivo desempenho;
§ otimização da construção em termos de prazo e custo devido à ausência de descontinuidades;
§ integração do projeto, da construção e da operação permite ponderações (trade-offs) entre
investimentos e custos de manutenção, operação e modernização e atualização das facilidades;
§ garantia na prestação do serviço, pois a remuneração está vinculada à disponibilidade de uma utilidade
ou à prestação de um serviço, não a uma atividade isolada (projeto, execução, manutenção, etc.)
§ possibilidade de antecipação de investimentos, com amortização ao longo do tempo por meio da
exploração econômica do serviço ou pela remuneração paga pela administração;
§ aumento da carteira de projetos economicamente viáveis, tendo em vista a possibilidade de execução
de projetos sem auto-sustentação financeira com contraprestação do Estado;
§ confiabilidade para o setor privado, em virtude da estabilidade e das garantias no contrato;
§ flexibilidade do contrato, uma vez que o contratado assume não somente obrigações de meio como
também de resultado e dispõe de certa liberdade para a execução do serviço;
§ possibilidade de um investimento contínuo do ente privado durante todo o contrato;
§ prazo limite de execução (35 anos) superior ao fixado na legislação atual (05 anos), possibilitando o
desenvolvimento de projetos de infra-estrutura de grande porte;
§ possibilidade de partilha de ganhos de refinanciamento ou aumento de eficiência entre o setor privado
e a Administração Pública.
5
O governo britânico assegura o pagamento das obrigações contratuais por meio de garantias (comfort letter),
mesmo em um ambiente de contingenciamento dos gastos públicos, transmitindo segurança ao investidor privado.
autoridades públicas para participar em contratos de PPP, remover tributos que possam dificultar a
implementação das parcerias, e refinar os regimes de controles de gastos públicos para acomodar as PPP;
iii) identificação e comprometimento com um programa de projetos-piloto: estabelecer parcerias ao invés
de modelos teóricos para ampliar a confiança de administradores públicos e investidores privados
(UNITED NATIONS, 2002).
De uma forma geral, o setor privado busca institucionalidade legal e regulatória, segurança jurídica,
retorno econômico e liquidez, riscos enquadrados e adequadamente distribuídos. Assim, os principais
desafios para a implementação do programa brasileiro de Parceria Público-Privada envolvem:
§ austeridade fiscal: consonância com a Lei de Responsabilidade Fiscal, aspecto fundamental para a
manutenção de um ambiente macroeconômico favorável;
§ estrutura legal: inflexibilidade dos contratos demanda um arcabouço legal que proporcione clareza e
segurança jurídica aos contratos de parcerias, harmonizando-os com as leis existentes. Em paralelo,
conscientizar o poder judiciário sobre mudanças nas leis;
§ avanço institucional: redução da discricionariedade do poder executivo e da captura política das
agências reguladoras. Definir um novo modelo para as agências reguladoras. Estimular a cooperação
entre agentes reguladores e o setor privado. Coordenar ações para simplificar o trâmite dos projetos
para obtenção de aprovação ambiental;
§ políticas: transferência da discricionariedade do Poder Executivo, a fim de evitar a captura política das
agências reguladoras;
§ garantias: pagamento pela Administração Pública diretamente ao agente financiador, criação de
fundos garantidores constituídos por ativos não-financeiros sob a custódia de bancos; e possibilidade
de solução de conflitos por meio de arbitragem;
§ marcos regulatórios: estabelecer um marco regulatório e legal que defina a PPP e as regras a serem
seguidas para viabilizar a sua implementação, com o intuito de evitar a transferência de atribuições
das agências para o Poder Executivo, reduzir a discricionariedade do administrador público e
disciplinar a competência das agências e dos órgãos de defesa da concorrência em questões ligadas à
concorrência ;
§ modelos setoriais: os modelos setoriais devem ser aprimorados para oferecer maior segurança aos
investidores em longo prazo, conciliando interesses dos administradores, usuários e investidores;
§ governança, transparência e clareza de regras: o programa de PPP deve apresentar sólida governança,
a fim de gerar credibilidade. Os conselhos gestores, as unidades PPP, os coordenadores dos fundos
garantidores e os bancos de desenvolvimento devem contribuir para ampliar a visibilidade do
programa. As unidades de PPP, por sua vez, devem se tornar centros de conhecimento, consolidar e
disseminar metodologias, e coordenar os trabalhos técnicos na implementação da PPP;
§ fontes de crédito: financiamento facilitado por organismos multilaterais, bancos de desenvolvimento,
fundos de pensão, agentes financeiros e ao mercado de capitais;
§ planejamento de longo prazo: priorização dos projetos por benefícios sociais e econômicos, criação do
conselho gestor (diretrizes, procedimentos de contratação, priorização), estabelecimento de estruturas
de apoio (Unidade PPP) no âmbito federal e estadual para apoiar órgãos públicos na adoção da PPP;
§ processo licitatório: a licitação para a contratação das PPP apresenta algumas inovações em relação ao
modelo tradicional tratado na Lei 8.666/93, sem, todavia deixar a aplicação e os princípios encerrados
por esta Lei. Dentre essas inovações, destaca-se o procedimento em etapas definidas, permitindo a
negociação das propostas econômicas entre a Administração Pública e os licitantes posteriormente à
fase de qualificação (AAA, 2004);
§ avaliação dos projetos: a avaliação dos projetos deve considerar aspectos como a transferência de
riscos para as partes, a responsabilidade fiscal e o valor agregado pela parceria. Passos importantes
envolvem (ATHAYDE, 2004): seleção de projetos bancáveis e com definição precisa dos serviços;
avaliação econômica adequada; consultas públicas com vistas ao intercâmbio de informações e a um
processo licitatório competitivo; convencimento dos beneficiários sobre o valor agregado pelos
projetos; e consolidação do programa de PPP por meio da implementação de projetos-piloto;
§ gestão dos contratos: estabelecimento de objetivos claros e mecanismos de recompensa ou sanção dos
contratantes e contratados especificados e efetivamente aplicados;
§ mercado de capitais: o mercado de capitais, o mercado secundário (provedor de liquidez) e o mercado
securitário, pouco populares e com custos elevados, podem estimular a adoção de novos produtos
financeiros no financiamento de projetos de infra-estrutura (Fundos de Investimento Imobiliário - FII,
Securitização de Recebíveis Imobiliários - SRI, Fundos de Investimentos em Participações – FIP,
Fundos de Investimento em Direitos Creditórios – FIDC, e Fundos Mezanino);
§ fundos de pensão6 : os fundos de pensão são candidatos naturais aos investimentos em PPP. Contudo,
as garantias do governo são insuficientes para garantir, isoladamente, o envolvimento dos fundos em
empreendimentos de longo prazo. O project finance possibilita que os fundos se comprometam com
os projetos de infra-estrutura. No entanto, os fundos buscarão projetos com condições de retorno,
prazo e risco compatíve is com sua carteira e com seu cálculo atuarial.
O êxito na implementação das parcerias demanda ainda um conjunto de ações por parte do setor público,
agentes do setor privado e das agências multilaterais (ATHAYDE, 2004):
§ setor público: estabelecimento do marco jurídico e regulatório; incentivo à participação do setor
privado; apropriação de capital intelectual; revisão de experiências, legislação e práticas em uso;
formação de capital institucional; definição da governança do processo para gerar transparência e
credibilidade; definição da carteira de projetos; e desenvolvimento de projetos -piloto;
§ promotores, operadores e financiadores: participação na oferta de estudos de viabilidade; capacidade
de implementação; e inovação no financiamento;
§ agências multilaterais: apoio na transferência de capital intelectual; apoio financeiro ao setor privado e
criação de novas formas de financiar os inve stimentos, preferencialmente em moeda local; apoio aos
governos para melhorar a percepção de risco junto ao setor privado, operadores e financiadores.
6
Os fundos de pensão atualmente gerenciam uma carteira de R$ 241,5 bilhões no Brasil (GARCIA, 2004).
complementa os textos da Lei 8.666 e 8.987 nos seguintes aspectos: i) possibilidade de contraprestação do
setor público quando a receita não suprir o custo do serviço; ii) ganhos de produtividade e refinanciamento
podem ser compartilhados entre o setor público e privado; iii) arbitragens poderão ser utilizadas para
solucionar conflitos; iv) demonstração de consonância com os planos orçamentários anuais; v) agências
reguladoras coordenarão atividades operacionais e fornecerão suporte à implementação das parcerias; vi)
os concorrentes poderão apresentar projetos alternativos durante a concorrência. A tabela 2 compara a PPP
com outros contratos administrativos (AAA, 2004).
Tabela 2 – Quadro comparativo entre PPP e correlatos (AAA, 2004).
Tipo de Forma de Duração Remuneração do Término do contrato
serviço contratação particular
PPP Públicos ou Licitação e Prazo determinado (até Tarifas e contraprestação Reversão dos bens
privados contrato de 35 anos) (remuneração somente necessários à prestação
parceria depois de disponibilizada a do serviço e em caso de
obra ou serviço e obra, há a transferência
contraprestação somente da propriedade para a
quando tarifa não suprir o Administração Pública
custo da obra ou do serviço)
Concessão Públicos ou Licitação e Prazo determinado Tarifas, contraprestação Reversão dos bens
privados contrato de (em média, 05 anos) (desde a contratação da indispensáveis à
desde que de concessão concessão) prestação do serviço
utilidade
pública
Permissão Públicos ou Licitação e Indeterminado (caráter Tarifas, contraprestação A qualquer momento e
privados ato precário, podendo ser (desde a expedição do ato) não há direito algum
unilateral do revogado pelo ente garantido ao particular
poder estatal a qualquer (salvo na permissão
público momento, exceção condicionada)
feita à permissão
condicionada)
Autorização Públicos ou Direta e ato Indeterminado (caráter Consoante o serviço prestado A qualquer momento e
privados unilateral do precário, podendo ser (se público, pela tarifa não há direito algum
poder revogado pelo ente gerada ou contraprestação da garantido ao particular
público estatal a qualquer Administração Pública; se
momento) privado, não há remuneração
por parte da Administração
Pública)
Não se deve confundir a PPP com a privatização. Em um contrato de PPP, o setor público transfere a
prestação do serviço ao parceiro privado, não a titularidade. Por outro lado, os riscos são compartilhados
entre o ente privado e a Administração Pública, enquanto na privatização os riscos são absorvidos pelo
setor privado. Na privatização há a desvinculação máxima entre o ente privado e a Administração Pública,
permanecendo somente a relação entre o serviço e o prestador do serviço, isso somente para os casos em
que o serviço privatizado for um serviço público.
7
No Reino Unido, o uso dos dois termos – PFI e PPP – como referência às relações entre o Governo e o setor
privado pode gerar confusões. No entanto, o PFI designa um processo de contratação e a PPP, a estrutura de
titularidade. Esta diferença é particularmente importante em relatórios financeiros. Na maioria dos contratos de
PFI o governo é responsável por um fluxo de pagamentos em longo prazo. Em contraste, no contrato de PPP o
governo detém parte da titularidade de um ativo ou companhia, o que é bastante diferente de um contrato de PFI.
8
O termo começa a ser empregado em português como substituição para facilities no inglês.
criação de empregos e proporciona uma resposta efetiva para a competição global, além de propiciar
relações desafiadoras e produtivas para as partes (FORSHAW, 1999; CELESTE, 1996 apud AKINTOYE
et al. , 2002).
O relatório do National Audit Office (2003) indica que o PFI incentiva o consórcio a: adotar uma
abordagem de longo prazo para o projeto e construção; executar o empreendimento no custo e no prazo;
encorajar uma maior integração entre o projeto e a construção; entregar a facilidade pontualmente; e
incentivar a qualidade no projeto e na construção. O NAO aponta que o PFI tem proporcionado certeza do
preço aos departamentos, visto que 29 projetos, dentro de uma amostra de 37 ao todo, não reportaram
aumentos de custos após a assinatura do contrato (NAO, 2003).
De acordo com o relatório, os órgãos contratantes devem ressaltar a importância da qualidade do projeto
no edital de concorrência, a fim de esclarecer que não se busca somente o menor preço. Além disso,
órgãos como a Commission of Architecture and Build Environment (CABE) estão envolvidos nos aspectos
relativos a projetos nas concorrências. Os construtores reportaram que, na maioria dos casos, houve
liberdade para inovar nos contratos de PFI. Contudo, eles enfatizam as restrições inerentes a alguns tipos
de empreendimento, tais como rodovias, prisões e hospitais. As inovações são ainda restritas durante a
concorrência, devido ao desejo de que os proponentes concorram exatamente sobre as mesmas condições.
Tabela 2 – Melhoria do desempenho da construção com o PFI (NAO, 2003).
Experiência prévia Experiência como o PFI
(Pesquisa do Governo em (Censo do NAO em 2002)
1999)
Empreendimentos nos quais o 73% 22%
preço acordado no contrato
foi superado
Empreendimentos entregues 70% 24%
após a data acordada
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos, o ajuste fiscal comprometeu as despesas públicas e os investimentos em infra-estrutura
e serviços. Em paralelo, a transição de governo comprovou a estabilidade institucional brasileira e os
fundamentos macroeconômicos (controle da inflação, superávit primário e balança comercial positiva)
para a retomada do crescimento foram restabelecidos. Contudo, o crescimento econômico esperado poderá
ser prejudicado pela escassez de investimentos em infra-estrutura. Neste contexto, a Parceria Público-
Privada constitui uma alternativa para prover os investimentos necessários, estimular o envolvimento do
setor privado e reduzir os custos de construção e operação das facilidades. Embora o Brasil possa se
beneficiar da experiência de outros países, o êxito do programa de PPP demanda a suplantação de diversos
desafios, tais como o estabelecimento de uma forma jurídica para oferecer segurança ao setor privado, o
desenvolvimento dos marcos regulatórios setoriais e o lançamento dos projetos-piloto, mesmo que a um
custo inicialmente elevado e parcialmente alavancados por recursos de bancos de desenvolvimento.
Cerca de 50 países possuem programas formais de PPP. As PPP não estão sendo utilizadas somente como
uma solução para a restrição fiscal, mas como um meio para melhorar a qualidade e a eficiência dos
serviços públicos. Os novos programas têm se beneficiado claramente dos pioneiros. Onde os programas
estão mais maduros, como no Reino Unido, verifica-se uma busca crescente pelo aumento da eficiência
dos modelos de PPP/PFI. Nestes países, novos desafios têm sido apresentados, tais como a redução dos
custos e prazos no processo licitatório, a padronização dos contratos, a disseminação de boas práticas e o
estabelecimento de competências em gestão de projetos no setor público.
A construção civil tem participado com cerca de 60% na Formação Bruta de Capital Fixo nos últimos dez
anos (BCB, 2003). Logo, o programa de PPP pode exercer uma influência significativa no nível de
atividade do setor, tanto em termos sócio-econômicos quanto tecnológicos e gerenciais. A transferência
dos riscos de projeto, construção e operação para o setor privado pode induzir a integração da cadeia
produtiva, a introdução de inovações tecnológicas e ponderações (trade-offs) entre investime nto e custo de
manutenção, operação, atualização e modernização ao longo do ciclo de vida da facilidade. No entanto, as
licitações demandam estudos vultosos, o que por um lado inibe a apresentação de propostas inadequadas
e, por outro, pode restringir a participação das pequenas empresas nas concorrências.
Finalmente, destaca-se que a PPP não deve ser entendida como a única alternativa para a provisão de
infra-estrutura e serviços públicos, devendo ser utilizada quando demonstrar valor agregado em relação
ao financiamento público convencional. Adicionalmente, não se deve atribuir à parceria com o setor
privado a provisão de todos os investimentos de que o país precisa, visto que, mesmo no Reino Unido,
onde o programa foi implementado com êxito, apenas 11% dos investimentos foram conduzidos por meio
do PFI.
Desta forma, constata -se que a importância da PPP justifica a proposição de uma linha de pesquisa sobre o
tema, a exemplo de outros países. O intercâmbio com países nos quais o programa de PPP está maduro
pode propiciar a aceleração da curva de aprendizagem na implementação das parcerias. Recentemente,
pesquisadores do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Universidade de São Paulo
propuseram um projeto de pesquisa focando o processo de contrata ção e gestão de contratos em projetos
de PPP em cooperação com pesquisadores da Escola de Ambiente Natural e Construído da Glasgow
Caledonian University. A cooperação tem como intuito proporcionar o intercâmbio de informações sobre
o processo de contratação dos projetos de parcerias no Brasil e na Escócia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AKINTOYE, A; Beck, M; HARDCASTLE, C; CHINYIO, E; ASENOVA, D. Framework for risk
assessment and management of private finance initiative projects. Glasgow: EPSRC/DTI, Glasgow
Caledonian University, 2002. Final Report.
ALBINO ADVOGADOS ASSOCIADOS. PPP: Parcerias público-privadas . São Paulo, 2004.
AMBRÓZIO, D. Risk Brazil or risk Malan? Why Brazil’s risk indexes are so high? Disponível em:
<http://www.decioambrozio.com.br/docs/Janeiro%202003%20Carta%20a%20Imprensa%20Mundial.
doc>. Acesso em: may. 2004.
ARTHUR ANDERSEN/LSE. Value for money drivers in the private finance initiative. Disponível em:
<http://kenniscentrumpps.econom-i.com/nl/pps/pdf/value.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2004.
ATHAYDE, L. A. Parcerias público-privadas: riscos e governança. São Paulo, SP. 2004. 9p. In:
FÓRUM INTERNACIONAL IIR - PPP EM INFRA ESTRUTURA, 2º, ABR. 2004, São Paulo.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório Focus de 30 de janeiro de 2003. 5 p. Disponível em:
<http://www4.bcb.gov.br/pec/GCI/PORT/focus/P20030130-
Forma%C3%A7%C3%A3o%20Bruta%20de% 20Capital%20no%20Brasil.pdf>. Acesso em: mai. 2004.
BRASIL. Lei nº 8666, de 21 de junho de 1993 e Leis nº 8883, de 8 de junho de 1994 e 9648, de 27 de
maio de 1998. Brasília: Ministério da Administração e Reforma do Estado, 1998.
BRASIL. Lei n. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995 - Dispõe sobre o regime de concessão e permissão
de prestação de serviços públicos previsto no artigo 175 da Constituição Federal, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br>. Acesso em: 29 out. 1999.
BRASIL. Projeto de Lei da Câmara nº 10/2004. Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br>.
Acesso em: 14 mai. 2004.
BRASIL. Plano Brasil de Todos: participação e inclusão. Brasília: Governo federal, 2003. Disponível
em: <http://www.sigplan. gov.br/arquivos/portalppa/15_(PlanoBrasildeTodos).pdf>. Acesso em: mai.
2004.
CELESTE, R. F. Strategic alliances for innovation: Emerging models of technology-based twenty-
first century economic development. In: Economic Development Review, ano 14, n.1, p. 4-12, 1996.
ENGEL, E; FISCHER, R; GALETOVIC, A. Privatizing highways in Latin America: is it possible to
fix what went wrong? Disponível em: <http://www.econ.yale.edu/~egcenter/research.htm>. Acesso em:
dec. 2003.
FIOCCA, D. Parcerias público-privadas (PPP) e investimentos diretos estrangeiros. São Paulo, SP.
2004. 18p. In: FÓRUM INTERNACIONAL IIR - PPP EM INFRA ESTRUTURA, 2º, ABR. 2004, São
Paulo.
FORSHAW, A. The U.K. revolution in public procurement and the value of project finance. In:
Journal of Project Finance , v. 5, n. 1, p. 49-54, 1999.
GARCIA, R. P. L. Fundos de pensão e parceria público-privada. São Paulo, SP. 2004. 11p. In:
FÓRUM INTERNACIONAL IIR - PPP EM INFRA-ESTRUTURA, 2º, ABR. 2004, São Paulo.
HM TREASURY. PFI: meeting the investment challenge . Disponível em: <www.hm-treasury.gov.uk>.
Acesso em: 10 nov. 2003.
MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO. Modelos alternativos de
financiamento com ênfase em infra-estrutura: Parcerias público-privadas, uma abordagem
metodológica. Brasília, nov. 2002, 30 p. Disponível em: <http://www.ppp.mg.gov.br/Modelos
%20alternativos%20com%20enfase%20na%20infra%20-%20SPI.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2004.
NATIONAL AUDIT OFFICE. PFI: construction performance. Report by the Controller and Auditor
General. London: NAO, 2003. 21 p.
____ Redevelopment of MOD Main Building. Report by the Controller and Auditor General. London:
NAO, 2002.
OLIVEIRA, G. Vantagens e salvaguardas para as PPP: Como evitar os principais riscos de
desvirtuamento das PPP? São Paulo, SP. 2004. 18p. In: FÓRUM INTERNACIONAL IIR - PPP EM
INFRA-ESTRUTURA , 2º, ABR. 2004, São Paulo.
PRICEWATERHOUSECOOPERS. Value for money in public private partnerships: a briefing for
local authorities. Birmingham: PriceWaterhouseCoopers, 2001.
UNITED NATIONS. A review of Public-private partnerships for infrastructure development in
Europe . mar. 2002. 13 p. Disponível em: <http://www.unece.org/operact/wp5/docs/trade.wp5.2002.
13e.pdf>. Acesso em: 02 may 2004.
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos especiais a Albino Advogados Associados, CAPES, IBEF-RJ, International Institute for
Research (IIR), InterNews, KPMG e Sundfeld Advogados.