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2003 3482 1 PB PDF
2003 3482 1 PB PDF
E COMUNICA AO
Peter Burke
"w cIIé esl!Dl espace d'/njonnatkm Ou les Manuel Castells, por o.'Cmplo, aUlOr de
bablUlnls s'orga,,1senJ pour mle,V( saoolr, um eslUdo = te de sociologi:l wbana,
pou,. défalre le secrel /enu par te rol
fuIa da "ddade irúonnadonal" da déclda
el la IOOnarcble.
de 1980.2
"
(Fargc 1992,289)
CasleUs comrasla dramalicamenle
presen te e passad o. Mas nio devemos
esquecei que, na primeira (1SC da im
ornou-se hoje lu�<ornum afirmar prensa, aproximadamente de 1450 a
.
que VIvemos em uma "sociedad e da 1800, de GUlenberg ao surgimenlO da
irúonnaÇio" ou em uma sociedade pós-in imprulS3 a Y.lpor, as cidades já eram
duslrial cuja Insc se deslocou, gr.tÇlS ao imporranles no processo de comunica
surgimenlO da romunic:tÇio eletrônica, do ção. Inve=mente, as aLividades relacio
"modo de produção" para o "modo de nadas com a comunicação (para nio cha
irúonnação".1 Talvez seja de alguma utili má-las de "indúslCia da comunicação")
dade, nesta sociedade, eslUdar em peno foram fundamenrais para o crescimento
dos mais remolOS a irúonnação, suarolera, e a prosperidade de algumas cidades.
regislro, recuperação, disseminação e Nos primórdios da Europa moderna,
ocuh:unenlO. Talvez seja útil até mesmo os principais cenlrOS de infollllação e c0-
ver o pa=do, romo furem alguns soci6Io municação eram um punhado de grandes
gos, em termos de surgimenlO, predomi cidades, noradameme VenC2!l. Roma,
nância e declínio de difClCllleS sistem1S de Amsterdã, Paris e Londres. Por "grandes"
. .
comunlC::açao, OraJS, escnlOS ou unpressos. cidades entendo aquebs com popubção
. - .
E quando se aborda o paSSldo dessa ma de cem mil habiL-m1eS ou m'lÍS, um grupo
neira, há muilO que dizer sobre as cidades. que se expandiu de no máximo cinco na
que, mesmo sendo verdadeira, esta afir Paris (Versalhes inclusive), Mact,i, Viena
mação nâo é histodcamenle relevanle, elC. - as infOl1l1aÇÕ<S políticas passavam a
no sentido de que boatos e fofocas são serca.na1jzadas para as cidades com major
impermeáveis à história, pois podem ser rapidez do que no paSS-1do .
encontrados em todos os lugares e em Esta foi tahez a razão da importância
todos os lempos, enquanto os historia dos upânicos morais", nos quais temores
dores se interessam pela mudança ao coletivos se cristalizavam sob a forma de
longo do tempo em sociedades especifi boalOS, como o da "conspiração papal"
cas. Mas o ponto que eu gOSL'lria para assassinar O rei Carlos n (1678) ou
enfuizar é que os boatos e as fofocas de que se raptavam crianças em Paris
mudam ao longo do lempo em rarlo das (1750). É provável que histórias desse
A OOADE Pi!·INDUST1Lll 195
tipO aenham sido contldas com úeqüên do Oriente Médio e, mais imediatamen
da, mas raramente foramamplificadas de te, da IonJa, que foi o pon to de encontro
maneira tão r.ípida como eram �
ora, de mercadores no final da idade Méd"
pelas redes de uma grande cidade. na Espanha.
Uma mud10ça mais visível neste pe Outro fenômeno importante do pe
riodo foi o aparecimento de v.irios espe .
riodo foi o to dos cafés. Não
cialistlS em tipos pactio11aIe; de comuni. se tratava, evidentemente, de uma in\lCO"
cação oral. EnIlC eles se incluíam OS cor ção européia, mas da adaptação ao modo
retores de bolsas de wlores; os guias de vida ocidental de uma instituição que
profissionais ou cIceron/, que mostra se difundiu no Oriente Médio no século
Y.UD Roma, VeoeZ1I ou Paris aos visitan tes; XV1.9 Essa adaptação parece ter-se inicia
os cantores de baladas (e vendedores de do em VeneM, mas logo espalhou-se pela
baladas) que perambulavam pela cidade Europa inteira. O primeiro café de que se
ou se concentravam em dete rminados teu. noúeia em londres abriu em 1651,
locais, como o Poot-Neuf em Paris; e os e o primeiro de Paris em 1672. Em 1700,
"mensageiros" das ruas que anundav.un porém, o número desses estabelecimen
serviços dandestinos de casamento na tos em Londres já beirava OS três mil.
Londres do século XVIII 7
O café de Covent Garden, freqüenta
A emergência desses grupos profissio
do pelo poeta inglês John Oryden e seus
nais eSI:í associada ao surgimento de vá
colcgns intelectuais (os w/ts, como se
rias novas instituições de comunicação
chamavam na época), era uma espécie de
oral. Os historiadores da cultura pensa
rão naturalmente no surgimento de aca
salão para homens, e observação St'iIle·
Ihante cal><! em relação a alguns dos du
demias, circulas literários e salens. Algu
bes londrinos do século XVIII, como o
mas dessas reuniões (ea1iz;Jvarn-se eUl
que uniu o Or. Johnson com Reynolds,
tavemas - na Paris do século xvn, por
Goldsmith, Sheridan e outros. Esses gru
exemplo, Saint-Aman e outros poetas
pos proporcionavam um uespaço" ou
boêmios encontravam--se na "Pomme de
uesfera" para discussões políticas, rumo
Pin". Outras aconteciam em casas parti
foi sugerido por Jürgen Habermas num
culares, como os famosos salens pari
estudo dás<ico sobre O tema e, no con
sienses olg;1nizados por grandes dames,
texto da Paris do século XVIII, por Arleue
como a ntarquesa de RambouilJet, cujo
Farge, que atribui mais ênfuse que Haber-
circu lo incluía o poeta Malherbe, o dra . - Ií' 10
mas à partlCipaçao po loca popuI ar.
.
ve alguns de Paris e Amsterdã, e podiam seu filho com um balão de fala em que se
ficar com aré cinco exemplares do lon !.ia: "Pouco impona, desde que eu conli
don Gamtte. Foi extre mamente apro nue engordando, eu e meu filho Loieo
priado que o jornal do iluminismo mila zo." Na Itália, OS grafites políticos eram
nês, iniciado em 1764 e associad o aos lão comuns nas grandes cidades (e tão
nomes de Beccaria e dos innão s Vem. Íteqüentemente registrados em periódi
tivesse se chamado 11 Caffo . . cos e cronirns) que se poderia >'irtual
Apc5'lr do problema óbvio de medição, J6
mente b asear umabis ria política dessas
é difieil resistir à impressão de que a quan cidades nessa foo te!
tidade de mensagens escritaS ou imp,es Ou tras cidad es tinham os seus equiw
sas nas ck1ad es aumentou no período, lentes da Pi3la Pasquino. E m Paris pelo
,
tomando o ambiente UIDanO ainda mais menos por um curto periodo, o pedestal
'inóspito para os analE1he tos que antes. da estátua de Luís XIV na Place des Vic
(Um ocidental perdido em Tóquio talvez lOires foi o lugar preferido dos grafiteiros
esteja em condição de imagin ar OS efeitos subversivos, até que as autoridad es cer
da consciência de que mensagens impo r casse m a eslitua com uma gude. Em
tantes estão sendo comunkad3s, combi Londres, a porta de SI. Paul foi o local
nada com a total incapacidade de deco<li favorito para a aftx'3çi.o de "denúncias",
ficá-Ias.) As nOlÍcias 06ciais mullÍplicavam notldamente critirns à Igreja, desde a
se nas esquinas cIas n!3S ou nas portaS cIas época dos lolardos até a Reforma; em
igrejas. Em Londres, a partir de cerca de 1555, por exemplo, um contemporâneo
1600, cart.1?eS coJOCldos nas n13sanuncia descrevia IIdenúncias... vituperando ... o
vam peças teatrais. Os nomes cIas ruas sacramento". Comenlirios políticos, Cl)
passaram a ser escritos com freqüência mo ataques ao cardeal Wolsey, eram pre
cada vez maior nas pared es. Os números gados no mesmo locaI.15 Boletins infor
das casas tomaram.se Clda vez mais c0- malhos manuscritos, mais diretoS em
muns em Paris, Londres e em outros luga seus comen tários que os impressos,
res, especia1men te no século XVIII. 13 eram veodidos em determin ados locais,
como certos cafés de Paris no século
As cidades podiam cootar ainda com
XVIII E, registre-se uma vez mais, nas
locais particulares tradicionalmente, em
grandes cidades bavia locais onde era
bora não oficialmente, associados à c0-
possível encontrar livros proibidos.
municação clandestina. Em Londres, por
exemplo, um dos locais preferidos para
convers.1S confidenciais era o "Paul's
WaIk", ou seja, a nave lateral da antiga 2. A cidade como sujeito
caledral de St Paul. l'-.llõl comunicaçõe s da comunlca�ão
escritaS, o local mais famoso foi segura
mente a praça de Roma boje conhecida Na descrição do "surgimento". da "di
como phWJ Pasquino, onde comentá fusão" e do "aumento" dos diferentes
rios mordaze s contra o governo eram tipos de informoção. é muito fícll adow
colados em uma eslitua clássica mutila O que se pode chamar de 10m "triunfuljs.
da. Mas essas "pasquinadas" tinham seus la" e passar a impressão de que tudo
paralelos em oulras cidades. Ri:úto. o caminh ou da melhor forma possível e de
centro comercial de VeJôeza. era o lugar que a comuoIClÇ30 se tomou semp re
. -
Alé mesmo os nativos das grandes ci são de conhecimen10 sobre IOdos os as
dades sentiam a necessidade cada vez sunlOS.20 Um eslrangeiro como I-1arllib
maior de orientação e informação sobre tinha r:IZÔeS para ser particul:umenle
div ersas fo rmas de b:rer ou sobre onde conscienle da necessid:!de de oricotaç:ío
enconuar cenos bens e serviços. Para em uma grande cidade. Seu projelO,
alender a estl necessid"lde, Théophrasle como o de Renaudol, leve vida CUrt.1,
l ODlDE PR!.IMOWllll. 199
mas, também como Renaudo� """ imi bém deveríam ser vistos como pane da
tadores. São exemplos oOffrce ofPubl1ck tendência de comercedização da infor-
Advice em Londres (1657), que manti maçao.
-
complele gulde lo ali persons wbo bave res do periodo espalhavam boatos exata
any /rode or concem w/lb lhe c{ly of mente com este propósito.24
London (1740); New complete gulde, de Quando chegam a meados do século
Baldwin (1768); 1be Landon register of XV, com a entrada de Gutcnberg em cena,
mercbants and Iraders (1775); Mer OS hislOri�dores da cultura geralmente
cbanls and Irodesman 'sgeneral d/recla desviam seu interesse do manuscrito para
ry, de Wakefleld (1789). O direlÓrio co o impresso. No entlnto, é óbvio que a
mecci.l.l foi adaptado para o mundo soci:tl leitura e a escrita de manuscritos não de
por P. Boyle, com Tbefasbiorulble courl saparece ram com a in"""ção da imprensa.
galde, or lhe loum v/slt direclory (1792). Seria mais exalO aflnnar que os manuscri
Esses diretórios há muito vêm sendo es lOS perderam algumas de suas funções. No
tudarlos pelos especiali!;tas em história início da era moderna, as cidades eram
econômica e social da cidade, mas 1:101- cenuos de romun.iclção manuscrita, em
-
200 mUDOS HISTÓ�(OS -lm/16
particular de leirura e escrita de cartas. Boa 15-17 mil ediif>cs, e o grande número de
parte do comércio intemaáonal estava Iipogtafi.'1S (cerca de 500) era uma d-.s
nas mãos de uma di.1spora de funílias de alr.lÇÕeS da cidade para Arelino e outros
mercadores, rom seus escritórios princi escritores profissionais da época (que in
pais em .f1olcnça, Gênova, Lucca ou Nu· ?",
uodllziam uma nova prof15S.io: oSfXJli �
remberg, e fiIbis em Anruérpia, Londres, fi, que não dependirun de patrões).2 Os
Lyon, Sevilha, Istambul etc. Uma das ativi livros eram impressos para exportação e
dades mais importantes das filiais era en para o rnelCldo in temo, muitas li.KS em
viar noticias para as sedes, possibilitando línguas que não o baBano, como grego.
assim a criação de um tipo de ''ba.nro de hebrnjco, árabe, aoota e armênio, o que
d1dos" disponível para a matriz d� firma era possível graças às subculturas de imi
fumiliar.25 grantes estlbelecidos na cidade.
Urna .cz mais,
na esfera da ciência Poder-se-ia di7ff que era lógico que
havia redes que atendiam aos interesses Veneza se tomasse um centro de impres.
dos eruditos, como as de Marin Mersen são, pois já era um centro para outrOs
ne em l'dris, de Samuel Hartlib e Henry tipos de comunicação, por ser u m porto
Oldenburg em Londres etc., redes essas inlemacional e a capital do que ainda era
que depen diam das funções dessas cida em parte um império marí timo. Como
des como centros do crescente sistema uma espécie de corretor entre o Oriente
postal. Na área politiea, VeneZ:l tomou-se e o Ocidente, Veneza constituía-se em
um centro importante de informações, um cen tro de informações sobre o Orien
por lcr sido uma das primeir.ls potências te, especialmenle o lmpério Otom:m o.
a adotar o sistema de embaixadores resi Os venezianos vi.'ljav.un para AlexandcL'l,
dentes. A principal função desses embai
•
velha capiL'II., Kyoto; o centro comercial Mas que outras explicações restam?
Osaka; e a nova capiL'II. Edo, depois Tó
quio. Ao mesmo tempo, essas cidades
desenvolveram novas formas de cultura
e comunicaçío. Entre elas, uma das mais
impOrt:lntes foi o kana·zosbl, o equiva
lente das brochuras populares ociden Notas
tais. Esses livros eram impressos, não em
ClJ"3.cteres chineses. mas em cursivo silá 1. M:Irk Posta, 1be mode of /nfonnaJ/on
(G:unbridge, 1990).
bico, mais simples e acessível a um nú
mero muito maior de pessoas. Pode� 2. Manuel Cas",Us, 1be Informal/on alc/Jy
a valiar o êxilO comercial dessa lileratura (Londres, 1989).
popular pelo frito de que em 1626 exis 3. MicbCle Fogel, Les cénlmonfes de I'In
liam pelo menos 50 livrarias em Osw. fonnaJ/on dans la Frana du 100 au 18e
Os guias dessas !rés cidades prolifera sfede (Paris, 1989).
vam, incluindo os espeÜ,li?;ldos em tem 4. Milbr M3c1we, Tbe PauJ's Oms ser�
12. Pictro Redondi, GaJ/Jeo berelle (1983; 27. Claudia Di Filippo Bareggj n "",slle,.
tr.ld. ingl. Princeton 1987), p. 80-6. di saivere: laooro Intellellllnle e merca'o
IIbralo a Venezia nel '500 (Roma, 1988).
13. F>Jgc (1992), p. 98s; Foge! (1989), p.
102.; Doniele M:uchcsini, n blsogno de se,{. 28. Paul Grendlcr, 1be RDman lnqulslJ/on
vere (Roma. 1992). and lhe Venel/on press, 154()'1605 (prim:".
tOR, 1977); Lucro Bély, Esplons el ambas_
14. Peu:r Burke, "1be uses of literacy in deUTS (Paris. 1990), p. 98, 2535.
=Iy modali Il:lIy" , em Paer Burlre e Roy
29. Femand BraudeJ, 1.e temps <lu monde
Porrer (OIllS.), 1be social blslory ollanguage
(Cambridgc, 1987), p. 2 1·42.
(Paris. 1979).
30. IS"bclla H. van Eegben, De Amster·
15. Susan Bridgen, London and lhe &Ior. damscbe boekbantkl, 16&J·1 725 (Amsterdã
mallon (Oxford, 1989) p. 47, 129, 153-4, 166.
1960-78, 5 v. de 6); Folkf: Doh� "Arnsrerdam:
16. J. c. NemeilZ, SejoUT de Paris (l..eiden, earliest newspaper centre of WeslUlI Euc�
"
1727, 2' ed. 2 v.). pc , Hei &Jek, v. 25 (1939).