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MONTE APRAZIVEL
2010
MARIA JOSÉ BOMBARDA CAMPANHA
MONTE APRAZÍVEL
2010
MARIA JOSÉ BOMBARDA CAMPANHA
COMISSÃO EXAMINADORA
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Paulo Freire
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido a partir do Estudo de Caso de uma criança de 10 anos
que cursava a 2ª série do ensino fundamental, tendo como queixa principal a dificuldade
de leitura. Baseado na anamnese e na avaliação do caso, foram mapeadas as
dificuldades que a aluna apresentava com relação à leitura, construção de texto e escrita.
Após essa etapa, a intervenção foi realizada tendo como objetivo estimular a leitura e
escrita. Foi enfatizada a aprendizagem dos dígrafos, os encontros vocálicos e o aumento
do vocabulário. Para isso, foram utilizados recursos como: alfabeto silábico, livros de
estória com variados graus de dificuldade, provas operatórias e diversos jogos didáticos.
A conclusão do estudo sugere que a falta de estímulo e incentivo por parte da família e
da escola, pode ter contribuído para o atraso no desenvolvimento cultural e cognitivo
apresentado pela criança em questão.
This work was developed from the Case Study of a 10 year old who was attending the
second grade of elementary school, with the main complaint of difficulty reading. Based
on history and evaluation of the case, that mapped the difficulties the student had about
reading, writing and construction of text. After this stage, the intervention was carried
out to encourage reading and writing. It emphasized the learning of digraphs, vowel
clusters and the increase in vocabulary. For this, resources were used as syllabic
alphabet, story books, with varying degrees of difficulty, operational tests and several
educational games. The study's conclusion suggests that the lack of stimulation and
encouragement from family and school, may have contributed to the delay in cognitive
and cultural development presented by the child in question.
1. INTRODUÇÃO
4. CONCLUSÃO
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1. INTRODUÇÃO
AVALIAÇÃO CLÍNICA
2.1 Queixa:
Dificuldade com a aquisição da leitura e escrita; baixo rendimento escolar.
2.2 Anamnese:
A anamnese foi realizada em uma das salas da escola em que a menor estuda, no
dia 23 de Setembro de 2009, apenas com a mãe de G.
Após esclarecimentos à mãe sobre a indicação da G. pela escola devido ao seu
baixo rendimento escolar (dificuldade com a aquisição da leitura e escrita), esta
concordou com o atendimento, aparentando preocupar-se com essa dificuldade da filha.
Relacionou o comportamento da menor com sua história familiar: com as doenças
sofridas pela mãe e dificuldades financeiras, pois, G. vem de uma família simples,
sendo o pai trabalhador braçal, e a mãe doméstica.
A mãe inicia sua história relatando sobre um relacionamento amoroso que teve
com uma pessoa por três anos; separou-se dele, grávida de sete meses, e iniciou em
seguida o namoro com o pai de G. A criança nasceu ( um menino), sendo criado por ela
e pela avó materna. O relacionamento com o pai de G. já durava cinco anos, quando
engravidou de G. A mãe alega ter tido uma gravidez conturbada, pois a família do pai
interferiu negativamente, alegando que a criança poderia não ser dele. O casal se
separou, ela entrou em desespero, por ter dois filhos e continuar solteira. Durante os
quatro primeiros meses de gravidez de G. a mãe entrou em depressão, tentou várias
vezes o aborto, ficando hospitalizada alguns dias; ao sair desse quadro, assumiu a
gravidez sozinha, sem o apoio do pai de G.
Durante quatro anos, o pai pouco se envolveu com a criança: apenas a registrou
em seu nome e pagou pensão alimentícia. Após esse tempo, se envolveram novamente,
reiniciando o namoro. Um ano depois, engravidou do terceiro filho (irmão de G.),
casaram-se e foram morar todos juntos.
Durante dois anos tiveram vários problemas de relacionamento entre as
famílias: G. diz não gostar da avó paterna (a ignora totalmente), e o pai pouco se
relaciona com esta filha (mostra-se ausente, indiferente), a mãe teve um aborto clínico
espontâneo, entrou em depressão profunda, teve queda de cabelo total. G. com oito
anos de idade, percebeu tudo, acompanhou a mãe passo a passo no tratamento, indo
inclusive às consultas médicas com a mãe e várias vezes faltou à escola.
A mãe começou a apresentar melhoras após um ano de tratamento. Relatou
que, nesse mesmo período, uma prima muito ligada à G. teve leucemia e
conseqüentemente, queda de cabelo. G. comparou os sintomas com os que a mãe vinha
apresentando e mostrou-se sempre muito angustiada e preocupada com a mãe. Quando
mãe já havia superado a depressão, no início do ano de 2009, a mesma passou por
graves problemas pulmonares, devido ao excesso de cigarro, e submeteu-se a duas
cirurgias, G. presenciou mais uma vez a mãe em estado de saúde muito grave. A mãe
alega que o rendimento escolar da menor sempre se altera quando a mãe adoece.
A Sra. E. faz uma comparação com os anos escolares anteriores e cita que a
menor não apresentou dificuldades na idade pré escolar nem durante a primeira série,
mas que a partir desses acontecimentos, G. já cursando a 2ª série (em 2008), começou a
apresentar dificuldades de aprendizagem. A escola encaminhou-a para avaliação
psicológica e fonoaudiológica. Foi diagnosticada como uma criança limítrofe.
Em 2009 a menor freqüentou uma classe de 3° ano, que corresponde a 2ª série,
e continuou apresentando dificuldades de aprendizagem em leitura e escrita.
A mãe dá muitas responsabilidades para a filha com relação às tarefas
domésticas, e ela as cumpre com perfeição. Segundo a mãe, G. gosta do irmão, é
responsável pelos seus afazeres, não volta atrás nas suas decisões, relaciona-se bem com
as amigas. Acha que a filha não tem medo de nada, mas nunca conversou com a mesma
sobre a morte. É uma criança que não mostra interesse em assistir programas na
televisão, e nem em ler revistas, para buscar as informações do dia-a-dia.
Segundo a mãe, ainda hoje, aos 10 anos, há um distanciamento entre pai e filha.
Esta cobra do pai “o erro do passado”, por não tê-la reconhecido integralmente como
sua filha desde seu nascimento, cobra-o pelo tempo que negou sua paternidade e por ter
se afastado dela e da mãe no passado e quando a mãe cobra do pai, mais atenção para
com a filha, o pai alega ter vergonha de se aproximar dela.
Com a atual gravidez da mãe, o 4º filho, G. não apresentou rejeição ao novo
irmão, mas a professora alegou ter percebido que a menor regrediu no desempenho em
sala de aula quanto ao comportamento, apresentando certa euforia e inquietação.
Finalizando a anamnese, vejo a necessidade de conceituar a importância dos
vínculos familiares no desenvolvimento cognitivo da criança. Embasada na teoria de
Weiss (2004), mais precisamente no aspecto emocional, remetendo aos aspectos
inconscientes envolvidos no ato de aprender. O não-aprender pode justificar-se na
dificuldade de relação da criança com sua família. É um sintoma que pode levar ao
diagnóstico, de que algo vai mal nessa dinâmica.
Ainda segundo a autora, a história do paciente tem início no momento da
concepção: foi filho desejado? Ou perturbador da vida do casal e indesejado? Esse
aspecto determina a formação de vida do sujeito, que define a situação afetiva dos pais
em relação ao filho. No histórico da família, é importante considerar a perspectiva
socioeconômica e cultural; se houve mudança e crescimento, e como transcorreram as
relações afetivas nas diferentes etapas vividas pelo paciente. Cita também, que é
fundamental investigar as situações negativas vividas pela criança através de alterações
familiares (nascimento de irmãos, mudanças, mortes, desemprego, separações etc.), e
também as influencias passadas e presentes, das famílias materna e paterna, sobre os
pais e o paciente.
Compreendida a vida do paciente e sua família, devemos integrar esses dados no
processo de levantamento de hipóteses e de definição de instrumentos.
Aqui seria possível comentar algo sobre família na psicopedagogia...
2.3 Observações de avaliação
O período de avaliação deu-se a partir de Outubro de 2009 encerrando em Abril
de 2010. Tivemos vinte e duas sessões.
No primeiro contacto com G., perguntei se ela sabia o porquê do nosso encontro.
Respondendo muito timidamente, “porque eu não sei ler”. Este diagnóstico foi também
apresentado pela escola e pela mãe, durante a anamnese. Verificando a queixa, constatei
que ela não conseguia “juntar as sílabas”, não formava palavras, apenas soletrava. Por
ex.: Para ler casa, soletra “c mais a”, e perguntava “é o <k>”?
Troca o m pelo n, e muitas vezes o r pelo n; demonstra grande dificuldade nos encontros
consonantais, am, ch, nh, lh, an e na pronuncia de rr, ss e z. Não reconhece os sinais e
pontuações, não consegue pronunciar com maior intensidade a sílaba tônica das
palavras. Não mostrou dificuldade com as famílias silábicas, quando usado o alfabeto
silábico como material de trabalho (para manuseio e visualização).